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8 - RELIGIÕES MUNDIAIS

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MATERIAL DIDÁTICO 
 
 
RELIGIÕES MUNDIAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA 
PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 
 
0800 283 8380 
 
www.ucamprominas.com.br 
 
Impressão 
e 
Editoração 
 
 2 
 
SUMÁRIO 
 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ................................................................................ 3 
UNIDADE 2 – RELIGIÃO ....................................................................................... 5 
2.1 O QUE É E PORQUE ESTUDAR RELIGIÃO ............................................................. 5 
2.2 VÁRIOS OLHARES PARA A RELIGIÃO: DA SOCIOLOGIA À TEOLOGIA, DO PSICOLÓGICO 
AO ANTROPOLÓGICO .............................................................................................. 7 
UNIDADE 3 – RELIGIÃO NO MUNDO ANTIGO ................................................. 14 
3.1 O CRISTIANISMO NA ANTIGUIDADE ................................................................... 18 
3.2 CULTURAS PAGÃS – A PLURALIDADE DESDE O TEMPO ANTIGO ............................ 23 
UNIDADE 4 – RELIGIÕES COM BERÇO NO ORIENTE EXTREMO ................. 31 
4.1 BUDISMO ...................................................................................................... 31 
4.2 HINDUÍSMO ................................................................................................... 31 
4.3 TAOÍSMO ...................................................................................................... 32 
4.4 XINTOÍSMO.................................................................................................... 33 
4.5 CONFUCIONISMO ........................................................................................... 34 
UNIDADE 5 – RELIGIÕES COM BERÇO NO ORIENTE MÉDIO ....................... 36 
5.1 A REGIÃO ...................................................................................................... 36 
5.2 O JUDAISMO ................................................................................................. 36 
5.3 O CRISTIANISMO ........................................................................................... 37 
5.4 O ISLAMISMO ................................................................................................ 39 
UNIDADE 6 – RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS E AFRO-BRASILEIRAS
 ............................................................................................................................. 41 
UNIDADE 7 – OUTRAS RELIGIÕES .................................................................. 46 
7.1 MEDIUNISMO E ANIMISMO ............................................................................... 46 
7.2 ZOROASTRISMO ............................................................................................ 47 
UNIDADE 8 – HIERARQUIA ECLESIÁSTICA .................................................... 49 
UNIDADE 9 – O MUNDO É PLURAL .................................................................. 63 
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 66 
 
 
 
 3 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO 
 
Sabemos que a religiosidade é uma das nossas características 
peculiares. Até mesmo aqueles que se consideram ateus e agnósticos também 
tem suas justificativas e defesas para o serem, portanto, a religião nos lhes passa 
desapercebida. 
Dos primeiros símbolos que nos colocavam em contato com o ser 
supremo até os dias atuais muita coisa mudou e hoje desenvolvemos uma 
capacidade mais racional de analisar, refletir e respeitar as diversas crenças que 
existem ao longo do Planeta Terra. 
Segundo Domezi (2011), as tradições religiosas antigas estão muito vivas 
em nosso quotidiano. Basta que pousemos um olhar mais minucioso e analítico 
sobre a nossa sociedade para que elementos peculiares das religiões possam ser 
identificados. 
Uma primeira destas características é facilmente notada no culto aos 
mortos, pois o mistério inerente ao fim da vida é sem dúvida uma das maiores 
realidades que causam até hoje perplexidade nas pessoas. É em outras palavras 
o limite intransponível do ser humano nessa questão que o impulsiona a encontrar 
sentido para isso no “além”. 
Outra característica é o animismo que se resume em uma forma antiga de 
religião que acredita em uma força maior, uma energia sobrenatural que parte de 
alguém ou de algo que não o próprio crente. Algo que extrapola a realidade 
visível, mas que está presente em tudo e em todos. 
Não se pode também deixar de citar aqui, a crença em um “pai” comum e 
criador, a qual é observada em muitas culturas, e que na qual o ser humano 
sempre tem um tratamento especial no momento da criação, por meio do qual o 
criador modela o ser humano lhe conferindo alma, vida e pensamento. 
É interessante perceber por meio das narrativas de diversos povos que as 
ideias de justiça e bondade são inerentes ao criador sendo ele incorruptível, e 
desse modo, o mal só poderia surgir das criaturas. O que claramente pode ser 
visto em nossa sociedade de maioria cristã. 
 4 
O xamanismo, vindo dos povos siberianos da Ásia Setentrional (portanto, 
muito antiga) é outra das características mais presentes em nossa sociedade. É 
uma filosofia de vida e visa o reencontro do homem com os ensinamentos e 
fluxos da natureza e com seu próprio mundo interior. 
Apesar de sermos um país multicultural, habitado praticamente desde a 
descoberta por povos vindos da África, pouco sabemos das religiões tribais que 
são de origem primitiva, nas quais suas tradições são transmitidas de maneira 
oral por meio de contos, mitos, rituais, festas e fábulas; todas contendo uma visão 
de mundo, linguagem e organização próprias. O que também pode de certa forma 
englobar quase que todas as outras religiões por estarem fundadas sobre o 
mesmo terreno. 
Enfim, são religiões que mantém certos princípios que norteiam muitas de 
nossas mais basilares leis como, por exemplo, o senso de comunidade e 
solidariedade, apreciação dos valores e critérios tradicionais, visão holística do 
mundo e das pessoas, inclusão de todos, harmonia entre tradição e progresso 
(DOMEZI, 2011). 
Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha 
como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, 
fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os 
temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos 
científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação 
das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não 
se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o caráter didático 
da obra, não serão expressas opiniões pessoais. 
Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se 
outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de todo 
modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo 
dos estudos. 
 
 5 
UNIDADE 2 – RELIGIÃO 
 
2.1 O que é e porque estudar religião 
Segundo Chiavenato (2002), foram os romanos os primeiros a usarem a 
palavra religião significando dever de fidelidade ao Estado ou religio, isto é, o 
cidadão romano devia comportar-se religiosamente – com lealdade ao Estado e 
às autoridades – e como no Império Romano, o Estado era religioso, a relação 
entre Estado e Religião aconteceu naturalmente. 
Cícero (106-46 a.C.) dizia que religião vem de relégere, voltar a ler, 
recordar. Para alguns teólogos, ele queria dizer que os homens diligentes 
“voltavam a ler” o que se referia ao culto aos deuses. 
Três séculos depois o escritor cristão Lactâncio (240-320) desenvolveu a 
ideia de religião como a identificação sentimental entre o homem e Deus, já 
pensando no Deus cristão, criador do mundo e de tudo que nele havia. 
Religio, como os romanos entenderam originariamente ou na 
interpretação de Lactâncio, passou a exprimir tanto a lealdade ao Estado – peloacatamento das leis, códigos morais, entre outros – como a identidade 
sentimental, a crença em um só Deus; nesse caso, cristão. 
Com mais frequência, afirma-se que a palavra religião vem do latim 
religare, que significa amarrar. Os cristãos geralmente preferem essa explicação. 
Lactâncio usou religare para afirmar que o homem “voltava a atar seus vínculos 
com Deus”. Mas é interessante observar que mesmo no contexto religioso, 
religare pode ter outro significado: “Religare religionibus bona alicujus”, pode ser 
traduzido como “Consagrar a alguma divindade os bens de outros” - o que é muito 
característico na luta entre o cristianismo e o paganismo a partir dos séculos III e 
IV. No entanto, Santo Agostinho (354-430) preferia como origem da palavra 
religião o reeligere, reeleger – os homens, depois da mensagem de Jesus Cristo, 
reelegeram o Deus cristão. 
Enfim, a palavra religio-religião sofreu variações de significado à medida 
que o Estado e a igreja cresciam e enfrentavam os acontecimentos históricos. 
Mas vamos tentar entender o que é religião? 
 6 
Assim como a explicação para a origem da palavra religião muda de 
acordo com certos interesses, o conceito de religião também se modifica pelos 
tempos. A religião não pode ser entendida da mesma forma quando se trata das 
sociedades tribais, dos gregos, dos romanos, entre outros (CHIAVENATO, 2002). 
A pergunta o que é religião? tem de ser respondida levando-se em conta 
as características e as categorias religiosas de cada época. Esta pergunta não 
permite resposta genérica. Porque a religião não é a mesma em diferentes 
épocas e sociedades. 
Para os primeiros cristãos romanos, por exemplo, a religião era a fuga da 
vida real, o “ópio” que as livrava espiritualmente das coisas deste mundo. O 
cristianismo primitivo não continha em si nenhum componente filosófico, mas uma 
alienação específica, conformando o homem a sofrer resignadamente neste 
mundo, sem vontade política de modificá-lo. 
Na Idade Média, a religião adquiriu um conteúdo filosófico e teológico 
muito forte. Nesse período de quase mil anos, a religião ocupou o espaço político: 
a vida se fez em torno ou em relação aos conceitos religiosos. Os reis eram 
consagradas pela Igreja; os papas ditavam a moral e os costumes – quase 
sempre com exemplos nada dignificantes. A teologia condicionava a ciência, 
permitindo-lhe o progresso ou sufocando-a em dogmas e proibições absurdas. 
O cristianismo do Império Romano e o da Idade Média pouco tinham em 
comum. Se as características religiosas diferem em cada época, são diferentes 
também as suas formas de relação com o poder político e econômico. Se 
recuarmos à Palestina do tempo de Jesus, veremos que a religião representava 
as tendências políticas de cada classe, sem que isso implicasse participação ativa 
dentro do organismo do Estado. 
Nessas sociedades e nessas épocas, a religião é diferente em cada 
circunstância e em cada momento – e para cada classe. É preciso observar as 
diferenças para não incidir no erro de uma resposta genérica. Também é preciso 
cuidado para não tornar a crítica da religião um simples reducionismo. Destacar 
as condições socioeconômicas nas quais as religiões se desenvolveram – e o 
cristianismo em particular – não significa explicar o fenômeno religioso apenas 
 7 
pela estrutura econômica. A religião não é só um meio que os grupos de poder 
usam para preservar sistemas políticos ou econômicos. 
Porém, a pergunta o que é religião?, apesar de complexa, pode ser 
respondida objetivamente em uma frase. Se cada momento exige uma 
interpretação e um entendimento específico, objetivamente, pode-se chegar a 
uma velha e tradicional resposta básica, que tem causado horror e satisfação há 
mais de cem anos: “religião é o ópio do povo”. Ao contrário do que parece, a 
afirmação de Marx não reduz a religião a nada: abre um leque espantoso de 
análise radical, em que a raiz é o próprio homem. Mas existem características 
radicalmente diversas de ser esse ópio do povo. 
 
2.2 Vários olhares para a religião: da sociologia à Teologia, do psicológico 
ao antropológico 
 
Segundo Teixeira (2014), a peculiaridade do olhar sociológico sobre o 
fenômeno religioso consiste em trazer a questão para suas formas concretas de 
inserção no tempo. O fenômeno está aí, acontecendo em expressões efetivas. 
São representações e crenças, são ritos específicos que traduzem, como indica 
Emile Durkheim (sociólogo francês,1858-1917), um sistema de forças bem vivo. 
Esse sentimento não pode ser ilusório, pois esteve sempre acompanhando a 
dinâmica da humanidade: tem correspondência com algo no real. Trata-se de um 
sentimento demasiado geral e que traduz a presença no humano de uma força 
dinamogênica inusitada, que o ajuda a suportar as dificuldades da existência e 
também superá-las. 
Como pontua Durkheim, a religião tem como função ajudar a viver, 
suscitar um agir, tudo isso animado por um sentimento peculiar de poder que 
eleva o ser humano acima de suas potencialidades, auxiliando-o a fazer frente às 
provas do dia a dia. Ela é mais um sistema de forças que de ideias. 
Perceber e classificar as coisas como sagradas ou profanas faz com que 
as crenças religiosas sejam quase uma irmandade. Vejamos pela ótica de 
Durkheim: as coisas sagradas envolveriam um círculo de objetos de extensão 
infinitamente variável, tendo como peculiaridade uma percepção de dignidade 
 8 
singular – e superioridade – com respeito às coisas profanas. O caráter sagrado, 
por sua vez, não é algo intrínseco a uma coisa reconhecida como sagrada, mas é 
um dado acrescentado. Quando se fala em força religiosa, o que está em jogo é 
um sentimento inspirado pela coletividade em seus membros e que vem projetado 
e objetivado. 
Resumindo: para Durkheim, a religião é parte essencial da vida social e 
como as representações religiosas são representações coletivas (Ritos) nesse 
sentido a religião é um produto do coletivo. 
Georg Simmel (sociólogo alemão, 1858-1918) também dá sua 
contribuição ao estudo, diferenciando de imediato em sua obra os conceitos de 
religiosidade e religião, postulando que se diferem pelo fato de que a Religião é 
criada pela Religiosidade e não o contrário. A Religiosidade seria uma “disposição 
de ânimo interior”, e a religião uma fase mais avançada, uma objetivação da fé. 
Karl Rahner (1904-1984), citado por Teixeira (2014), foi um dos grandes 
teólogos do século XX, dedicando-se a compreender os traços dessa “experiência 
transcendental” que, a seu ver, opera em todos os seres humanos, tendo também 
um papel fundamental no incentivo à abertura da igreja católica-romana às 
diversas tradições religiosas. 
Para ele, não há como desvencilhar-se desse dinamismo que atua na 
consciência subjetiva, como traço necessário e insuprimível, mesmo que ocorra 
de forma anônima ou atemática. Cada consciência subjetiva estaria assim 
animada por esse “caráter ilimitado de abertura”. Enquanto ser de transcendência, 
o ser humano está sempre, e antes de qualquer ato de liberdade, situado e 
orientado na atmosfera de um “mistério santo e absolutamente real”. É esse 
mistério, simultaneamente transcendente e familiar, o que existe “de mais 
evidente”, colocado sempre à disposição do humano. 
Segundo Rahner, esta experiência transcendental do sujeito vem 
marcada por universalidade, podendo ocorrer de forma atemática e mesmo 
“arreligiosa”, independente de uma experiência religiosa explícita. É uma 
experiência original, ontologicamente fundada. Ela acontece de fato onde quer 
que o sujeito atue de forma livre e profunda a sua existência. É algo que se 
disponibiliza para todos, e que pode ocorrer “até mesmo em formas e 
 9 
conceituação que aparentemente nada têm de religioso” (RAHNER, 1989, p. 164). 
Ocorre quando o sujeito se vê defrontado, no âmbito de suas atividades 
cotidianas, com o “abismo de sua existência”, com a profundidade que escapaao 
burburinho tranquilo das coisas familiares (TEIXEIRA, 2014). 
Em discussões sobre perspectivas psicológicas sobre religião, 
enfrentamento e cura, Paiva (2007) pontua que o comportamento religioso é 
variado em sua significação. Em outras palavras, como as formas religiosas são 
históricas, a psicologia só se aplicará com competência a uma modalidade 
religiosa se apreender seu sentido. Numa cultura, por exemplo, em que saúde e 
doença são consideradas holisticamente extensões da relação com a divindade, 
como na antiguidade organizada ao redor da religião (VERGOTE, 2001), a cura 
só pode ser religiosa, pela definição dos termos. 
Por outro lado, numa cultura moderna, em que se reconhece a autonomia 
dos diversos segmentos da vida individual e social, a saúde e a doença não têm 
de passar pela definição religiosa ou, se o fazem, é num sentido bastante 
peculiar. Se tomarmos o caso do cristianismo, encontraremos entendimentos 
diversos dessa relação na antiguidade e na modernidade. O interessante é que 
subsistem em geral nas pessoas dimensões antigas e modernas, de modo que 
idealmente às vezes nos comportamos como pré-modernos, vendo por exemplo 
na saúde a bênção de Deus e na doença sua punição, e às vezes como 
modernos, vendo na saúde o resultado de feliz disposição genética, de recursos 
econômicos e de conhecimento para cuidar da higiene e da alimentação (PAIVA, 
2007). 
Num viés mais metodológico, diz Teixeira (2014) que a abordagem 
psicológica da religião busca uma aproximação do fenômeno tendo em conta 
suas tensões e polarizações constitutivas. O objetivo proposto é o de observar a 
conduta dos sujeitos e das instituições, com particular atenção aos aspectos 
subjetivos. 
Como indicou com acerto Edênio Valle (1998 apud TEIXEIRA, 2014), 
ainda que reconhecendo os inúmeros desacordos que dividem os praticantes 
dessa disciplina, a aproximação psicológica ao fenômeno religioso guarda alguns 
traços importantes: 
 10 
As definições deixam claro que as religiões reais – com seu peso 
institucional e sócio-histórico – e a religiosidade, sua face subjetiva, 
acontecem no jogo das múltiplas relações que se estabelecem entre o 
sujeito religioso, o grupo religioso ao qual se afilia e o universo das 
crenças e valores vigentes naquela dada sociedade, grupo ou época, 
considerados, inclusive, seus respectivos modelos civilizatórios e 
respectivos estágios de desenvolvimento tecnológico-científico e político-
organizativo. Neste contexto de extraordinária complexidade, o psicólogo 
tenta chegar à opção vivencial e à realidade psicológica e humana dos 
indivíduos, assim como essa aparece em seu comportamento religioso 
(VALLE, 1998, p. 260 apud TEIXEIRA, 2014). 
 
O olhar psicológico, aninhado num ramo específico das ciências da 
religião, busca examinar os fenômenos e manifestações religiosas tendo em vista 
a polifonia de suas dimensões comportamentais. É, porém, um olhar que se 
encontra ainda em estágio de construção, mesmo com uma história que já soma 
quase cento e cinquenta anos. Esse caminho veio recentemente traçado por 
Jacob Belzen, da Universidade de Amsterdã, que sintetiza de forma muito feliz os 
passos até agora percorridos pela Psicologia da Religião. A forma como se 
concebeu ou se exerceu esse campo temático foi muito diversificada: ora se 
firmou a serviço do religioso, ou então a serviço da crítica à religião ou do 
conhecimento científico. Perspectivas que se vinculam a um dos três caminhos 
são recorrentes. Mas uma outra perspectiva, sublinhada por Belzen, vem também 
se firmando, e é bem sugestiva. Trata-se do caminho nomeado como 
“Parecerista” (do alemão Rezensentin). 
Para usar uma metáfora do mundo da música, esta perspectiva tem como 
foco principal a atenção desperta para os que praticam a música, no caso, os 
executantes da religião. E o autor justifica esta posição: “Os psicólogos da religião 
que exercem sua profissão como Pareceristas sobre uma religião ou 
comportamento religioso não se sentem chamados a escrever sobre religião em 
geral, mas sim sobre um comportamento religioso concreto” (BELZEN, 2013, p. 
326-7). 
Esse modo de procedimento é distinto de certa concepção exteriorista ou 
neutra, bem vigente neste campo, que destaca o pesquisador do objeto de seu 
estudo em vista de uma maior cientificidade. Ao contrário, os que seguem a nova 
orientação estão bem cientes da importância de uma maior aproximação da 
religiosidade particular para uma interpretação correta das manifestações 
 11 
subjetivas do exercício da religiosidade. Esta nova ocular vem assim recuperar a 
dimensão hermenêutica da Psicologia da Religião, instrumentando-a com novos 
atributos para conhecer o sujeito religioso tanto a partir de fora como de dentro de 
sua prática religiosa (TEIXEIRA, 2014). 
Por fim, no viés antropológico, ao iniciar estudos sobre a Antropologia da 
Religião, Oliveira (2012) nos apresenta dois textos que revelam o quanto as 
religiões significam para a humanidade. 
Vejamos: 
1) À primeira vista, pode-se pensar que todos saibam o que significa a 
palavra religião e religioso. Talvez tal pressuposição esteja certa enquanto se 
refere às manifestações mais ostensivas. Mas quando se trata de precisar a 
essência da religião logo surgem dificuldades sem fim. Quem poderá fixar os 
limites entre o verdadeiramente religioso e o puramente cultural, folclórico ou 
social? [...]. Se compararmos o fenômeno religioso com o fenômeno social ou 
similar, podemos dizer que designamos a estrutura especial do homem definida 
por sistema de relações com os outros homens [...]. No fundo de toda a situação 
verdadeiramente religiosa, encontra-se a referência aos fundamentos últimos do 
homem: quanto à origem, quanto ao fim e quanto à profundidade. O problema 
religioso toca o homem em sua raiz ontológica. Não se trata de fenômeno 
superficial, mas implica a pessoa como um todo. Pode caracterizar-se o religioso 
como zona do sentido da pessoa. Em outras palavras, a religião tem a ver com o 
sentido último da pessoa, da história e do mundo (ZILLES, 2004, p. 5-6). 
2) Para entender a condição humana nos seus aspectos mais profundos e 
misteriosos, nós certamente devemos levar em conta a religião. Esta ajuda a 
formar estruturas imaginativas e elementares sobre como nos orientamos ou 
deveríamos nos orientar no cosmos. A religião dá forma e ensaia no ritual nossos 
mais importantes laços, uns com os outros e com a natureza, e provê a lógica 
tanto ao porque destes laços serem importantes como ao o que significa estar 
comprometido com eles (NEVILLE, 2005, p. 37). 
Sendo uma realidade que toca o ser humano na essência de seu ser e de 
sua existência, ela não pode deixar de ser analisada no âmbito acadêmico como 
veremos adiante. Além disso, a religião tem uma relação toda especial com o ser 
 12 
humano, bem diferente de outros fenômenos antropológicos. Ela, por exemplo, 
está na raiz de muitas normas e valores da nossa sociedade; influi na 
compreensão que os seres humanos têm de si mesmos e na identidade de muitos 
povos e nações. 
Para um número muito grande de pessoas, a religião oferece motivação 
para viver, ajuda a resolver problemas humanos sérios e dá respostas para 
muitas questões (LEMOS, p. 129-142). 
Somente por essa condição já poderíamos encerrar nossas 
considerações acerca de suas relações com a Antropologia, mas vamos caminhar 
só um pouco mais. 
Concordamos com Silva Junior (2005) ao inferir que ter um olhar 
antropológico para as relações humanas – dentre elas a religião – é mergulhar 
nestas relações como elas se dão nas suas diferenças culturais, históricas, 
econômicas, políticas e psicológicas e o fundamentalismo, “enquanto atitude 
daquele que confere caráter absoluto ao seu ponto e vista” (BOFF, 2002) que 
vem crescendo sobremaneira desde meados do século XX, nos faz atentar para a 
necessidade de buscar explicações da realidade mais concretas e pluralistase 
fugir um pouco a esse sentimento de saber dominante, característico do 
fundamentalismo. 
Nesse sentido, a Antropologia da Religião nos ajuda a compreender como 
o ser humano foi e continua sendo visto por ele mesmo e por uma das suas mais 
significativas e originais manifestações, a religião. Não se trata de fazer uma 
análise de cada uma das religiões, mesmo aquelas mais conhecidas. Na 
Antropologia da Religião, faz-se uma análise científica do fenômeno religioso, 
enquanto experiência antropológica, isto é, do ser humano (OLIVEIRA, 2012). 
Na análise das diversas visões antropológicas advindas das diferentes 
culturas e religiões há um esforço para se perceber a riqueza de cada uma delas, 
desfazendo preconceitos, reconstruindo nosso pensar, mesmo sem renunciar à 
necessária crítica. 
Pode-se, então, dizer que a Antropologia da Religião é uma antropologia 
da transcendência, no sentido que produz significados para além daquilo que se 
 13 
dá no cotidiano. Não é apenas um retorno às tradições religiosas, mas a 
interpretação dessas, visando a percepção de novas realidades que vão surgindo 
dentro delas, a partir do seu contato com a modernidade e a pós-modernidade. O 
que se quer com a Antropologia da Religião não é tanto conhecer as causas e dar 
explicações para o fenômeno religioso, mas estudar e conhecer o sentido que a 
experiência religiosa confere às ações e situações do cotidiano. 
 
 14 
UNIDADE 3 – RELIGIÃO NO MUNDO ANTIGO 
 
Voltando à nossa história da Teologia, entre os pré-socráticos, já surgiu 
um distanciamento da teologia mitológico-religiosa, voltando-se para uma teologia 
racional-filosófica: 
 Xenófanes (século VI, a.C.) critica, duramente, o antropomorfismo da 
concepção de Deus. Em grandes linhas, podemos dizer que os pré-
socráticos substituem o deus mítico pelo “deus dos filósofos” que é eterno, 
imutável e rege o mundo transcendente na imanência, como ser racional e 
espiritual; 
 Platão (428-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.) distanciam-se dos mitos 
da religião grega e dos poetas para inaugurar um enfoque verdadeiramente 
racional na questão de Deus; 
 para Platão, a teologia é o discurso filosófico, purificado dos elementos 
míticos, sobre Deus; 
 Aristóteles cita a filosofia teológica como filosofia primeira, entre as três 
ciências teóricas, ao lado da matemática e da física. Segundo ele, trata da 
causa primeira, do motor imóvel que tudo move sem ser movido e dos 
primeiros princípios não empíricos do ser e do pensamento (ZILLES, 
2013). 
Mas, essa concepção de teologia cedo também encontrou objeções 
críticas por parte do ceticismo, sobretudo contra as provas da existência de Deus 
(deuses) e de seus atributos. Os epicureus rejeitam a teologia por razões 
pragmáticas e morais, pois veem nela o perigo do medo diante dos deuses, o qual 
conduz a uma vida inquieta e insegura, dificultando a ataraxia e a autarquia. A 
origem grega da palavra teologia pesa sobre seu destino histórico até hoje. Tanto 
a palavra quanto o conceito são, pois, uma criação típica do gênio filosófico grego 
em sua reflexão sobre o princípio último (arché) de todas as coisas, através do 
logos. A sua associação com a mitologia pagã explica a reserva inicial do 
cristianismo de apropriar-se do termo. 
 15 
O cristianismo, baseando-se em São Paulo e em São João, primeiro 
tende a rejeitar e depois desenvolve, com os meios da própria filosofia grega, uma 
apologética (século II). Orígenes, invocando o cânon dos livros sagrados, 
entretanto já fixado, coloca os fundamentos de uma teologia cristã autônoma, 
indicando, como base de legitimação, a Escritura, a doutrina da Igreja e a razão. 
Foi, pois, entre os padres gregos, com Orígenes e Eusébio de Cesareia, que a 
palavra teologia passou a designar o discurso sobre o Deus de Jesus Cristo. 
Para Eusébio, os profetas do Antigo Testamento e os apóstolos do Novo 
Testamento são os verdadeiros teólogos. Clemente e Orígenes, pensadores da 
Escola de Alexandria, referem-se aos “antigos teólogos dos gregos” e aos 
“teólogos dos persas”, mas reclamam o título de “verdadeira teologia” para o 
discurso cristão. Para Clemente, Orfeu é teólogo, mas Moisés também. Com o 
historiador Eusébio de Cesareia (263-339), surge a teologia eclesiástica, sem 
associação com a religiosidade pagã. A palavra adquire sua acepção clássica na 
obra de Dionísio Areopagita (século V-VI), que distingue entre teologia apofática 
(negativa), catafática (afirmativa) e mística. 
Santo Agostinho (354-431) ainda prefere falar de “doutrina cristã” para 
referir-se ao conjunto dos mistérios cristãos, pois o uso do termo teologia, no 
Ocidente, demorou mais para ser introduzido. Os latinos preferiam outros termos 
como doctrina sacra, sacra scriptura, sacra pagina, entre outros. A teologia nasce 
no interior da fé. Por sua própria natureza, a fé aspira a ver, a compreender. 
No período do século IV ao VII, os padres assumiram as ideias 
fundamentais de Platão, do neoplatonismo, do estoicismo e da gnose, enquanto 
não contradizem a revelação. Assim, desenvolveu-se a doutrina da graça 
(Agostinho), da Trindade e da Cristologia. Depois de um longo intervalo de 
silêncio, Anselmo de Cantuária (1033-1109), a Escola de São Victor e Pedro 
Abelardo (1079-1142) desenvolveram uma teologia crítica da Igreja e da fé. Pedro 
Lombardo (1100-1160) reuniu seus resultados no Comentário das Sentenças, que 
se tornou o manual de teologia dogmática até a alta escolástica. A teologia chega 
a um ponto alto com os franciscanos Boaventura (1217-1274) e J. Duns Scotus 
(1266-1308) e com o aristotelismo assumido pelos dominicanos Alberto Magno 
(1193-1280) e Tomás de Aquino (1224-1274). 
 16 
Continuando com as sábias e explicativas palavras de Zilles, na patrística, 
a catequese em preparação à iniciação cristã exigia que se interpretassem e 
comentassem os textos canônicos (como testemunhos normativos) às pessoas 
ainda não iniciadas na fé cristã. Por isso, cedo surgiu a questão dos sentidos da 
Escritura. E quando pagãos atacam o cristianismo, os padres saem em sua 
defesa (apologética). Defendem sua moralidade e, a partir de Justino, teólogo 
leigo, também sua racionalidade passa a ocupar, cada vez mais, um lugar central, 
como já é o caso do Contra Celso, de Orígenes (185-253). À teologia atribui-se a 
função de defender a coerência e a credibilidade do cristianismo perante as 
razões religiosas e filosóficas do paganismo. Para isso, a fé cristã é traduzida 
para dentro da cultura e linguagem filosóficas do helenismo. 
A exegese e a catequese expressam-se em linguagem, elaborando 
conceitos, buscando as razões do cristianismo, como exigências internas da 
própria fé. Passa a distinguir-se entre fé e conhecimento (gnosis), entre sabedoria 
e conhecimento, para responder às exigências intelectuais do próprio crente. 
Assim, aos poucos, a teologia se organiza como esforço da inteligência 
especulativa. Dependendo das fontes escriturísticas, tratadas pela exegese, surge 
uma nova organização, uma nova armadura intelectual (a teologia), em busca de 
uma autocompreensão especulativa da fé, forjando uma linguagem oficial da 
Igreja. Desse modo, ao introduzir termos não bíblicos (consubstancial) na 
profissão de fé pública, o Concílio de Niceia (325) já provou que o trabalho 
teológico é importante na Igreja. 
Tornou-se clássica a formulação condensada de Santo Anselmo de 
Cantuária com a qual quis intitular a obra que, mais tarde, chamaria Proslogion: 
fides quaerens intellectum. Anselmo propõe-se a tarefa de “crer para 
compreender” e “compreender para amar”. 
Segundo essa definição, a teologia vive do esforço do crente por pensar e 
exprimir a própria fé, com todos os recursos da razão. Segundo Anselmo, é a fé 
que procura, é a fé que busca a inteligência. A fé é o ponto de partida da pesquisa 
filosófica na teologia. Para os medievais, a teologia é, pois, a interpretação 
racionalda revelação de Deus, aceita na fé. Quem crê, ou seja, aceita a 
revelação de Deus, é um ser racional e, por isso, a fé já implica atividade racional 
 17 
e o crente naturalmente procura compreender e penetrar o significado da palavra 
divina. Esse intellectus fidei, na sua modalidade mais elaborada, é a teologia. A 
ligação da teologia à fé e à revelação divina distingue-a de qualquer filosofia e 
ciência da religião. Ela emerge do “mundo da fé”, embora este seja mais amplo e 
mais rico que o “mundo da teologia”. A teologia não dispensa nem supera a fé e, 
muito menos, elimina os mistérios. A ciência da religião reflete sobre o fenômeno 
cultural da religião em geral ou duma religião particular, sem ter, 
necessariamente, um compromisso com a fé. 
O ponto de partida da teologia cristã é a revelação que Deus fez de si 
mesmo, ao longo da história de Israel, história que culmina em Jesus Cristo, a 
palavra feita carne (Jo 1,14. São João diz: “E o Verbo se fez carne e armou tenda 
entre nós; vimos a sua glória, a glória de Unigênito do Pai, cheio de graça e 
verdade”.). A revelação judaico-cristã tem a caraterística específica de ser, ao 
mesmo tempo e de maneira inseparável, palavra e história. Deus não se limita a 
escrever um livro, pois também se manifesta nos acontecimentos da história. Por 
isso, equivocam-se aqueles que consideram a revelação um simples “corpo de 
verdades doutrinais”, pois ela é, antes de tudo, a “automanifestação” de Deus, na 
história da salvação, que se consuma em Jesus Cristo. Ora, a revelação, 
enquanto Palavra de Deus na palavra humana, é inseparável de um testemunho 
humano e, portanto, não há revelação sem teologia. A linguagem da revelação já 
é um meio interpretativo, baseado no diálogo vivo de Deus com o homem. 
Por outro lado, a teologia não é apenas uma exigência da revelação, mas 
já se encontra, potencialmente, na fé de todo o crente. A fé, como resposta à 
Palavra de Deus, é também conhecimento, de acordo com as exigências próprias 
de um espírito humano, historicamente condicionado. A fé busca uma 
compreensão sempre mais completa da Palavra de Deus. Todo crente que reflete 
sobre sua fé, em função da cultura de uma época, já é um teólogo, ao menos em 
sentido amplo. 
A teologia, certamente, não é ciência no sentido moderno. Entretanto, não 
se lhe pode negar certa categoria científica, sobretudo, quando se trata de 
disciplinas como exegese, história das doutrinas e das instituições, história 
eclesiástica, entre outras. Também a teologia especulativa, que pretende mostrar 
 18 
a lógica interna da fé e proporcionar uma compreensão mais perfeita dos 
mistérios cristãos, utiliza todos os recursos da razão filosófica. Quando Tomás de 
Aquino e muitos outros medievais afirmam o caráter científico da teologia, este 
tem um significado histórico mais restrito, resultante da aplicação do conceito 
aristotélico de ciência, o que encerra o risco, evitado pelo Aquinate mas não por 
muitos de seus seguidores, de reduzir a teologia a uma teologia de conclusões. A 
teologia é elaborada pela razão do crente – credo ut intelligam, pois o teólogo é 
um crente que reflete, criticamente, sobre sua fé. 
Enfim, a teologia é o esforço humano por compreender melhor a 
Revelação, que é histórica e é transmitida pela Igreja em atos históricos. Ela se 
realiza em sucessão histórica, implicando sempre, e essencialmente, um 
momento transcendental. Ela compromete o testemunho de seu autor enquanto 
se apresenta como apelo e tarefa, e não simplesmente como doutrina a conhecer 
(ZILLES, 2013). 
 
3.1 O cristianismo na antiguidade 
De maneira geral, por cristianismo antigo entende-se o cristianismo dos 
quatro primeiros séculos da Era Cristã, cujo período vai desde o nascimento da 
Igreja, no evento Pentecostes (cf. At 2), em que os discípulos de Jesus Cristo 
receberam o Espírito Santo para anunciar o seu Evangelho (c. 30 d.C.) até a 
queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.). Esse período de quatro 
séculos e meio é dividido, por sua vez, em duas grandes etapas: da pregação 
apostólica (c. 30 d.C.) à “guinada constantiniana” (313 d.C.) ou até o Concílio de 
Niceia (325) e daí até a queda de Roma (476 d.C.) (OSA, 2014). 
A maioria dos discípulos e discípulas de Jesus era constituída de judeus. 
A primeira expansão do cristianismo deu-se nesse ambiente, a língua, costumes, 
tradições, práticas judaicas foram reinterpretadas à luz da mensagem de Jesus. 
Desde o século II a.C., os judeus encontravam-se espalhados pelo mundo 
helenizado (diáspora). Em Antioquia, capital da província da Síria, os seguidores 
de Cristo foram, pela primeira vez, chamados “cristãos” (cf. At 11, 26). A partir das 
sinagogas e comunidades judaicas helenizadas, expandiu-se o cristianismo fora 
do contexto judaico tradicional. Por fim, o cristianismo expandiu-se até Roma, 
 19 
alcançando as fronteiras do Império Romano, no contexto do mundo gentio ou 
pagão. 
O mundo no qual o cristianismo antigo se expandiu, apesar de sinais de 
decadência, era um mundo vigoroso. No século I da era cristã, a civilização 
romana, herdeira da civilização helenística, tinha alcançado sua plena expansão. 
É o período do império de Augusto (30 a.C.) e Tibério (14-37d.C.). Roma estende 
seu domínio civilizador, com a pax augusta, uma paz militarizada, aos confins do 
Oriente. No século II, com os imperadores Antoninos, ainda temos a ordem, o 
direito e uma administração eficaz, dentro de um Estado relativamente liberal. 
Mesmo com a grande crise do século III, sob Diocleciano (284-305), sua história 
ganha um novo impulso: em seu governo instaura-se uma monarquia absoluta, 
apoiada em um poderoso aparelho administrativo (OSA, 2014). 
Muitas culturas, muitos povos, muitos deuses. O Império romano tinha 
grande tolerância pela religião dos povos dominados. Tinham até em Roma um 
“panteão”, um templo para todas as divindades do Império. Os romanos exigiam 
apenas que se observasse o culto imperial, de caráter cívico, com suas 
cerimônias públicas, das quais todos os cidadãos do Império deveriam participar, 
para oferecer sacrifícios e rezar pelo Imperador: dominus ac divus (senhor e 
deus). A religião oficial era a base da unidade imperial. Atentar contra ela era 
crime. Os cristãos, ao afirmarem que seu único Senhor era o Cristo, passaram a 
ser considerados suspeitos, estranhos e inimigos do Estado. 
Num mundo marcado por muitas inseguranças, miséria, opressão e 
escravidão, proliferavam muitas religiões vindas do Oriente e que se tornaram 
muito populares. Eram os cultos de Hórus, Ísis e Osíris (Egito); Mitra (Pérsia); 
Asclépio e Esculápio estavam entre os deuses “salvadores” mais populares. 
Essas religiões tinham um caráter iniciático: exigiam conversão ou uma 
passagem, um novo nascimento, um período de iniciação nos “mistérios” e uma 
cerimônia de iniciação. Os “iniciados” ingressavam na “fraternidade”, tornavam-se 
irmãos, associados à divindade, sua vida ganhava um novo sentido, era-lhes 
prometida a eternidade. O Império tratava-as como superstitio, religio nova, e 
considerava-as ilícitas. O cristianismo foi classificado como uma dessas religiões. 
 20 
Os filósofos consideravam o politeísmo uma “alegoria” das realidades 
superiores, que eles tinham superado através do exercício da ascese e da razão, 
em busca da verdadeira doutrina ou filosofia. Muitos sistemas filosóficos 
procuravam responder às grandes questões das origens e finalidade do universo, 
de todas as coisas, dos problemas ligados ao homem e suas relações na polis e 
com o mundo divino, do significado da justiça, da felicidade, da imortalidade. 
Normalmente postulavam a existência de um Deus, princípio ou causa 
transcendente, com um mundo superior, imaterial. Não poucas pessoas vindas 
desse universo cultural buscarão a “verdadeira filosofia”, que encontrarão no 
cristianismo. 
Nesse universo plural, despertou no século I um movimentode caráter 
sincrético, que amalgamou elementos de muitas tradições culturais, religiosas e 
filosóficas. Era o gnosticismo: através da gnose, um conhecimento superior, 
revelado aos capazes desse conhecimento, os gnósticos, o homem podia 
conhecer os mistérios do mundo divino e salvar-se. No século II e III há uma 
explosão de seitas e grupos gnósticos, existentes tanto entre os pagãos, como 
entre os judeus e cristãos. 
Jesus anunciou e inaugurou a Boa Nova do Reino num contexto plural. 
Sua mensagem difundiu-se num mundo plural. Sua mensagem e sua pessoa, sua 
vida foram transmitidas, primeiramente, numa mentalidade semítica, tendo depois 
de buscar uma linguagem helenizada para se fazer compreender e daí, 
sucessivamente, germânica, céltica, entre outras. É natural que houvesse 
diferentes interpretações de sua pessoa e sua obra. Já no Novo Testamento 
encontramos várias “teologias” e advertências contra os anticristos, falsos 
profetas. Dentre as primeiras “escolhas” parciais (“heresias”), que não davam 
conta de compreender corretamente Jesus Cristo e sua mensagem ou que 
extrapolavam seu conteúdo, encontramos os docetas (Jesus tinha “aparência” de 
homem, negavam portanto sua “humanidade”) e os ebionitas (era o Messias, um 
homem vindo de Deus, mas não o Filho de Deus, negavam sua “divindade”). Em 
torno dessas duas verdades proclamadas e da maneira de viver e praticar a 
mensagem de Jesus, surgiram, nos três primeiros séculos, muitas heresias e 
dissensões ou cismas: gnosticismo (vários ramos), montanismo, milenarismo, 
 21 
subordinacionismo, adocionismo, modalismo, maniqueísmo, entre tantas outras 
(OSA, 2014). 
Para enfrentar esses desafios, já no final do século II e durante todo o 
século III, as Igrejas realizam reuniões com seus dirigentes para buscar resolver 
os problemas e encontrar a unidade nas coisas essenciais. São os sínodos ou 
concílios. Nesse sentido, o encontro ocorrido em Jerusalém, por volta do ano 49 
d.C., é considerado, simbolicamente, o primeiro concílio do cristianismo. Esses 
concílios tratavam de questões doutrinais e questões da vida prática. No final, 
davam determinações sobre os aspectos tratados, através dos cânones 
dogmáticos e disciplinares, com uma “carta sinodal” a ser enviada às Igrejas 
irmãs. Baseado nessa feliz experiência, o Imperador Constantino convocou, em 
325, o 1º Concílio Ecumênico, para enfrentar o problema do Arianismo. 
Na busca de compreender o Cristo e sua mensagem, a salvação, o 
significado da Igreja, dando respostas às heresias e dissensões, aprofundando a 
fé cristã, desenvolve-se a teologia cristã. Nesse sentido, o processo de 
elaboração da doutrina cristã usou dos recursos culturais da civilização greco-
romana: a língua grega e latina, a retórica, a filosofia, o direito, práticas, 
costumes, instituições. A esse apropriar-se da cultura, utilizando o que ela tem de 
melhor para expressar a mensagem de Cristo, desde dentro, comumente chama-
se inculturação. Esse fenômeno foi uma característica constante da expansão 
cristã. A próxima etapa dar-se-á no mundo germânico. 
Durante os três primeiros séculos da era cristã, o cristianismo foi 
perseguido, primeiro pelos judeus e depois pelos romanos. Até o incêndio de 
Roma, sob o governo de Nero (c. 64), os cristãos praticamente passaram 
despercebidos, confundidos com uma seita do judaísmo, que gozava de certa 
liberdade e alguns privilégios. Possivelmente tenham sido os judeus a 
denunciarem a Nero os cristãos como causadores do incêndio. 
Somaram-se a isso os preconceitos populares, que viam os cristãos como 
gente que odiava o gênero humano, ateus, ímpios, sacrílegos e acusados de 
praticarem abominações e infâmias. Na verdade, os cristãos não eram 
“separatistas”, mas não seguiam os costumes idolátricos e pagãos, como certas 
 22 
festas públicas, a frequência ao teatro, não aprovavam a luta de gladiadores, a 
prostituição, adoração de estátuas ou a divinização do imperador. 
Corriam no meio do povo boatos de que, em suas reuniões secretas, os 
cristãos adorariam a cabeça de um asno, com sacrifício de crianças, seguido de 
canibalismo, com uniões incestuosas e orgias (todos se chamavam “irmãos” e 
praticavam o “ósculo da paz”!) (OSA, 2014). 
Os intelectuais e as autoridades classificavam a religião dos cristãos 
como superstitio, sendo posteriormente condenada pelo Estado como 
associatioillicita, religio nova ereligioillicita, por atentar contra a unidade e a 
sacralidade do Império. A legislação evoluiu, no primeiro século, de certa 
tolerância com o fato de ser cristão até a condenação pelo simples fato de ser 
cristão. Ser cristão acabava sendo um crime de lesa majestade. 
As perseguições dos dois primeiros séculos foram esporádicas, locais ou 
regionais, intermitentes, motivadas por denúncias ou ações pontuais. Já as 
perseguições do terceiro século e início do quarto foram desencadeadas pela 
autoridade imperial, através de decretos, de caráter geral, com o objetivo de 
exterminar o cristianismo. 
Na primeira fase aconteciam por incitamento popular, submetidas 
posteriormente à apreciação dos magistrados. As autoridades visavam controlar a 
fúria popular e as desordens públicas. No entanto, o cristianismo já era 
considerado ilegal. Mas ainda são de caráter intermitente, seguindo-se longos 
períodos de tolerância e de paz. 
Com Sétimo Severo, em 202, inicia-se uma nova prática: em certas 
ocasiões, a própria autoridade promove as perseguições. Neste momento, o alvo 
são os catecúmenos (os que se preparavam para o batismo), os neófitos (os 
recém-batizados) e os catequistas (que os preparavam). O objetivo era impedir 
que alguém se tornasse cristão (OSA, 2014). 
Em meados do século III, iniciam-se as perseguições sistemáticas, com o 
objetivo de exterminar efetivamente o cristianismo. Décio foi o primeiro a decretar 
uma perseguição geral (250-251). Apesar de curta, atingiu tal intensidade e 
extensão nunca dantes vistas. O objetivo, mais do que fazer mártires, era fazer 
 23 
apóstatas. De fato, muitos sucumbiram e traíram sua fé ou comunidade (os lapsi), 
abrindo-se um problema no interior da Igreja. Em 257, Valeriano desencadeou 
nova perseguição: visava principalmente o clero e as propriedades da Igreja, mas 
também afetava o povo, com uma série de interdições que colocavam em risco 
sua segurança, confisco de bens, exílio, prisões. A última perseguição violenta foi 
a de Diocleciano (303-313). 
Calcula-se que o número de mártires variasse entre cem e duzentos mil. 
De toda forma, ao longo de todo este período, os cristãos viveram em permanente 
insegurança e sofreram hostilidades por parte do povo. 
Em 313, os imperadores Licínio e Constantino assinaram conjuntamente 
um documento, o Edito de Milão, que concedeu liberdade de culto aos cristãos e 
a outras religiões. Chegava ao fim a era da perseguição aos cristãos. Iniciava-se 
uma nova etapa, denominada por alguns historiadores como a guinada ou virada 
constantiniana (MATOS, 1997; PIERINI, 1998; MONDONI, 2014). 
Constantino concedeu aos cristãos, além da liberdade de culto, uma série 
de isenções e privilégios, dando terras, propriedades, prestígio e poder à Igreja 
Católica. Em 380, o imperador Teodósio transforma o cristianismo em religião 
oficial do Império Romano: é a fase da “Igreja Imperial” ou “Era de Ouro da 
Patrística”. 
Nessa nova etapa, reformula-se o catecumenato; desenvolve-se a liturgia 
e a disciplina eclesiástica; a teologia patrística chega ao seu ápice; é também o 
período de grandes cismas e heresias; os dogmas cristológicos e trinitários 
alcançam sua formulação mais plena; aprimora-se a organização da Igreja no 
território do Império, com as dioceses, paróquias e patriarcados; surge a vida 
religiosa, com o monacato; há um novo surto missionário em direção aos povos 
“bárbaros”. É a época dos concílios ecumênicos: Niceia (325), Constantinopla I 
(381); Éfeso (431) e Calcedônia(451) (OSA, 2014). 
 
3.2 Culturas pagãs – a pluralidade desde o tempo antigo 
Mesmo que em poucas linhas, precisamos falar das culturas pagãs, afinal 
de contas, como poderemos concluir ao final do tópico, desde os tempos antigos, 
 24 
a pluralidade já se fazia presente e, digamos, coerente e aceita por aqueles 
povos. 
Quem nos conta essa parte da história são os doutores Packer, Tenney e 
White Jr (2002), cujo livro intitulado “O mundo do Antigo Testamento” encontra-se 
disponível para download em site que colocamos nas referências. 
Os israelitas dos tempos do Antigo Testamento entraram em contato com 
cananeus, egípcios, babilônios e outros povos que adoravam deuses falsos. Deus 
advertiu o seu povo a que não imitasse seus vizinhos pagãos, mas os israelitas 
lhe desobedeceram. Repetidas vezes descambaram para o paganismo. 
Estudar as culturas pagãs nos leva a compreender que houve um tempo 
em que o homem tentou responder às perguntas supremas da vida antes de 
encontrar a luz da verdade divina. Também, chegamos a entender o mundo em 
que Israel vivia — um mundo do qual a nação foi chamada para ser radicalmente 
diferente, tanto no terreno étnico como no ideológico. 
Os autores advertem algumas precações ao proceder a esta leitura e 
estudo por alguns motivos como estarmos a mais de dois mil anos daquela 
cultura e ainda não termos evidências suficientes para comprovar cientificamente 
e totalmente a sua história. 
Outro motivo é o reconhecimento de que vivemos, cada dia mais, numa 
sociedade pluralista na qual cada pessoa é livre para crer ou descrer, conforme 
preferir. No entanto, os povos antigos achavam necessário ter algum tipo de 
religião. Um agnóstico ou “livre-pensador” teria passado por maus momentos 
entre os egípcios, os gregos e os romanos. A religião estava por toda a parte. Era 
o âmago da sociedade antiga. O indivíduo adorava as divindades de seu vilarejo, 
cidade ou civilização. Se ele se mudava para uma nova casa ou viajava por um 
país estrangeiro, o dever obrigava-o a mostrar respeito pelas divindades do lugar. 
Alguns aspectos eram comuns entre as religiões pagãs, como, por 
exemplo, todas elas participavam da mesma visão do mundo, que se centrava na 
localidade e seu prestígio. As diferenças entre as religiões dos sumérios e dos 
assírio-babilônios ou entre as religiões dos gregos e dos romanos eram muito 
pequenas. 
 25 
Eram muitos os deuses! Em sua maioria, essas religiões eram politeístas, 
o que significa que reconheciam muitos deuses e demônios. Uma vez admitido ao 
panteão (coleção de divindades de uma cultura), o deus não poderia ser dele 
eliminado. Ele havia ganho “estatura divina”. 
Cada cultura herdava ideias religiosas de seus predecessores ou as 
adquiria na guerra. Por exemplo, o que Nanna (deus da Lua) era para os 
sumérios, Sin era para os babilônios. O que Inanna (deusa da fertilidade e rainha 
do céu) era para os sumérios, Ishtar era para os babilônios. Os romanos 
simplesmente assumiram os deuses gregos e lhes deram nomes romanos. Assim, 
para os romanos, Júpiter era igual a Zeus, deus do firmamento; Minerva equivalia 
à Atena como deusa da sabedoria: Netuno correspondia a Posêidon como deus 
do mar; e assim por diante. Em outras palavras, a ideia que se tinha do deus era 
a mesma; apenas o invólucro cultural era diferente. Assim, uma cultura antiga 
podia absorver a religião de outra sem mudar a marcha nem interromper o passo. 
Cada cultura não só reivindicava os deuses de uma civilização anterior, 
reclamava como seus os mitos da outra, introduzindo apenas mudanças 
insignificantes. 
Os principais deuses, muitas vezes estavam associados a algum 
fenômeno natural. Assim. Utu/Shamash é a um tempo o Sol e o deus do Sol; 
Enki/Ea é tanto o mar como o deus do mar; Nanna/Sin é a Lua e também o deus 
da Lua. As culturas pagãs não faziam distinção alguma entre um elemento da 
natureza e a força por trás desse elemento. O homem antigo lutava contra as 
forças naturais que ele não podia controlar, forças que poderiam ser ou benéficas 
ou malévolas. Chuva em quantidade suficiente garantia uma safra abundante, 
mas chuva em demasia destruiria essa colheita. A vida era de todo imprevisível, 
especialmente levando-se em conta que os deuses eram considerados como 
caprichosos e excêntricos, capazes de fazer o bem ou o mal. Os seres humanos 
e os deuses participavam do mesmo tipo de vida; os deuses tinham a mesma 
sorte de problemas e frustrações que os seres humanos. Este conceito chama-se 
marasmo. 
Desse modo, quando o Salmo 19:1 diz: “Os céus proclamam a glória de 
Deus e o armamento anuncia as obras das suas mãos”, ele zomba das crenças 
 26 
dos egípcios e dos babilônios. Esses povos pagãos não podiam imaginar que o 
Universo cumprisse um plano divino total. 
Os egípcios também associavam seus deuses a fenômenos da natureza: 
Shu (ar), Rê/Hórus (Sol), Khonsu (Lua), Nut (firmamento), e assim por diante. A 
mesma tendência aparece na adoração hitita de Wurusemu (deusa do Sol), Taru 
(tempestade), Telipinu (vegetação), e diversos deuses de montanha. Entre os 
cananeus, El era o sumo deus do céu, Baal era o deus da tempestade, Yam era o 
deus do mar, e Shemesh e Yareah eram os deuses do Sol e da Lua 
respectivamente. Por causa dessa desnorteante linha de divindades da natureza, 
o pagão jamais poderia falar de um “universo”. Ele não fazia ideia de uma força 
central que a tudo une, e pela qual todas as coisas existem. O pagão acreditava 
viver num “multiverso”. 
Outro traço comum da religião pagã era a iconografia religiosa ou 
adoração de imagens (fabricação de imagens ou totens para adoração). Todas 
essas religiões adoravam ídolos: só Israel era oficialmente anicônica (isto é, não 
tinha imagens, não tinha nenhuma representação pictórica de Deus). O segundo 
mandamento proibia imagens de Jeová, como os bezerros de Arão e de Jeroboão 
(Êxodo 32: 1 Reis 12:26ss.). 
Mas religião anicônica nem sempre era a história toda. Os israelitas 
adoraram ídolos pagãos enquanto na escravidão do Egito (Josué 24:14), e muito 
embora Deus banisse seus ídolos (Êxodo 20:1-5), os moabitas induziram-nos de 
novo à idolatria (Números 25:1-2). Idolatria foi a mina dos diligentes de Israel em 
diferentes períodos de sua história, e Deus finalmente permitiu que a nação fosse 
denotada “por causa dos seus sacrifícios” a ídolos pagãos (Oséias 4:19). 
A maioria das religiões pagãs retratava seus deuses de maneira 
antropomórfica (isto é, como seres humanos). Na verdade, só um perito pode 
olhar para um retrato de deuses e de mortais babilônios e dizer quem é quem. Os 
altistas egípcios comumente representavam seus deuses como homens ou 
mulheres com cabeças de animais. Horus era um homem com cabeça de falcão: 
Sekhmet era uma mulher com cabeça de leoa; Anúbis era um chacal. Hator uma 
vaca e assim por diante. Os deuses hititas podem ser reconhecidos por algum 
outro objeto distintivo, como um capacete com um par de chifres. Os deuses 
 27 
gregos também eram retratados como humanos, mas sem as berrantes 
características das divindades semíticas. 
Outra característica desses povos pagãos passava pelo sentimento de 
autossalvação. E a explicação da importância da representação dos deuses como 
seres humanos vem de Gênesis. 
Os capítulos iniciais do Gênesis dizem que Deus criou o homem à sua 
imagem (Gênesis 1:27), mas os pagãos tentaram fazer deuses à sua própria 
imagem. Quer dizer, os deuses pagãos eram meramente seres humanos 
ampliados. Os mitos do mundo antigo diziam que os deuses tinham as mesmas 
necessidades que os seres humanos, as mesmas fraquezas e as mesmas 
imperfeições. Se houvesse diferença entre os deuses pagãos e os homens, era 
só de grau. Os deuses eram seres humanos feitos “maiores do que a vida”. Com 
frequência eram projeções da cidade ou da comuna. 
Por fim, a característica do sacrifício! A maioria das religiões pagãs 
sacrificava animaispara acalmar seus deuses, e algumas até sacrificavam seres 
humanos. Visto como os adoradores pagãos criam que seus deuses possuíam 
desejos humanos, eles também ofereciam aos deuses ofertas de alimento e de 
bebida (cf. Isaías 57:5-6: Jeremias 7:18). 
Os cananeus acreditavam que os sacrifícios possuíam poderes mágicos 
que levavam o adorador a cair nas graças e no ritmo do mundo físico. Contudo, 
os deuses eram caprichosos, e por isso os adoradores às vezes ofereciam 
sacrifícios para garantir vitória sobre os inimigos (cf. 2 Reis 3:26-27). Talvez seja 
por isso que os reis decadentes de Israel e de Judá consentiam nos sacrifícios 
pagãos (cf. 1 Reis 21:25-26; 2 Reis 16:13). Desejavam obter ajuda mágica no 
combate aos babilônios e aos assírios — de preferência a ajuda dos mesmos 
deuses que haviam dado vitória aos seus inimigos. 
As religiões politeístas antigas operavam em dois níveis: a religião oficial 
do estado religioso arcaico e a religião popular, pouco mais que superstição. 
Vale saber que cada sistema religioso antigo tinha um deus principal, 
mais poderoso do que os restantes. Para os egípcios, este podia ser Rê (ou Rá), 
Horus ou Osíris; para os sumários e acadianos, podia ser Enlil, Enki/Ea, ou 
 28 
Marduque; para os cananeus, seria El; para os gregos, Zeus. Na maioria dos 
casos, os pagãos edificavam templos e elaboravam liturgias que eram recitadas 
em honra desses sumos deuses. Em geral, o rei presidia a essa adoração, 
atuando como representante do deus numa refeição ritual, num casamento ou 
num combate. Essa era a religião oficial. 
Os deuses da religião oficial estavam por demais afastados do homem 
local para que tivessem algum valor prático. 
O Egito antigo dividia-se em distritos chamados nomes. Nos primeiros 
tempos do Egito havia 22 destes no Alto Egito (a região Sul) e vinte na área do 
delta ao Norte. Cada nome tinha uma cidade-chave ou capital e um deus local 
que era cultuado nesse território. Igualmente na Mesopotâmia, cada cidade era 
consagrada a um deus ou deusa. 
No Oriente Próximo antigo, a religião oficial era orientada para o estado, 
enquanto a religião popular era orientada para a localidade geográfica. O homem 
antigo não via incompatibilidade entre crer em deuses “lá do alto” e “cá de baixo” 
— todos competindo por sua atenção e sujeição ou prestação de serviços. Este 
era o reconhecimento parcial do problema último da imanência e da 
transcendência. 
Eis que os antigos começaram a afastar-se da superstição pura e 
deificaram vários ideais abstratos sob os nomes de deuses antigos. 
Na Mesopotâmia, “Justiça” e “Retidão” aparecem como divindades 
menores no cortejo de Utu/Shamash, o deus do Sol; eram chamadas Nig-gina e 
Nig-sisa, respectivamente. O “chefe” delas era Shamash, o deus mesopotâmio da 
lei. Os pensadores antigos imaginavam essas ideias abstratas como deuses, de 
preferência a tratar com as próprias ideias. 
Os egípcios, mais do que ninguém, fizeram isso. Alguns dos principais 
deuses egípcios enquadram-se nesta categoria, como por exemplo Atum, que 
expressa o conceito de universalidade. O nome Amon significa “escondido” — os 
egípcios pensavam que ele era um deus sem forma, invisível, que podia estar em 
qualquer parte e qualquer pessoa podia adorá-lo. Por esse motivo, mais tarde 
eles enxertaram a ideia de Amon em Rê, e o deus passou a ser Amen-Rê, “o rei 
 29 
da eternidade e guarda dos mortos”. Os templos mais maciços da história egípcia 
foram construídos em honra de Amen-Rê em Camaque. A deusa Maat era outra 
ideia que se tornou deus entre os egípcios. Supunha-se que ela personificava a 
verdade e a justiça e era a força cósmica da harmonia e da estabilidade. 
Os cananeus representavam a verdade e a justiça mediante os deuses 
Sedeque e Mishor, que deviam estar sob as ordens do deus She-mesh. Todavia, 
muito embora os pensadores pagãos pudessem lidar mais facilmente desse modo 
com essas ideias, poucos dos deuses estiveram à altura dos ideais dos 
pensadores, segundo a lenda. A religião dos cananeus deu continuação ao antigo 
desejo de harmonia sexual com a natureza, o que estimulava especialmente os 
rituais obscenos. 
A verdade é que na antiguidade, as religiões pagãs da Mesopotâmia 
nunca saíram de seu molde politeísta. W. W. Hallo (1971 apud PACKER, 
TENNEY e WHITE Jr, 2002), estudioso das religiões antigas, fala da “antipatia 
intransponível com relação a um monoteísmo exclusivo” da parte dos 
mesopotâmios. A mesma coisa pode se dizer de outros povos da antiguidade: 
persas, cananeus, gregos e romanos. 
O Egito, também politeísta, foi exceção em sua décima oitava dinastia. O 
faraó Amenotepe (Amenófis) IV (1387-1366 a.C.) proscreveu a adoração de todos 
os deuses, exceto Aton (o “disco solar”), e depois mudou seu próprio nome para 
Akhnaton. Antes de Akhinaton, as divindades egípcias muitas vezes se haviam 
fundido ou ligado com um único deus-conceito (geralmente Rê): isto, porém, não 
é monoteísmo. Mas os egípcios chamavam o deus Aton de “único deus, que não 
tem outro igual”. Isso tinha efeitos políticos de longo alcance e não poderia ter 
sido realizado sem o apoio do exército e dos sacerdotes. Mas a religião de 
Akhinaton estava longe de dizer: “Ouve. Israel, o Senhor nosso Deus é o único 
Senhor” (Deuteronômio 6:4). A “reforma” de Aklinaton foi, contudo, de curta 
duração, e seus sucessores purgaram o Egito dessa “heresia”. O antigo 
sacerdócio político voltou ao poder e deu apoio ao seu próprio faraó. 
No mundo antigo, só Israel era totalmente monoteísta. Mas asseguremo-
nos de entender o que isso significa. Monoteísmo não é simplesmente uma 
questão de número. Talvez a declaração mais sucinta seja a de W. F. Albright, 
 30 
que diz que o monoteísmo é “a crença na existência de um único Deus, que é o 
Criador do mundo e o doador de toda vida... [é] tão superior a todos os seres 
criados... que permanece absolutamente único”. Isso fazia que Israel fosse 
radicalmente diferente de seus vizinhos pagãos (PACKER; TENNEY; WHITE JR., 
2002). 
 
Guarde... 
É chamada de politeísmo, a crença na existência de diversos deuses, 
comum no Egito, Grécia e Roma Antigas e outras civilizações. As principais 
divindades são geralmente ligadas às forças da natureza, são antropomórficas e 
imortais. 
O politeísmo foi deixado de lado com o avanço do cristianismo, religião 
monoteísta (crença em um único deus), e atualmente é encontrado em religiões 
ou cultos de origem africana. 
No entanto, existe uma discussão em relação ao monoteísmo do 
cristianismo. Para alguns estudiosos, o cristianismo é politeísta, pois prega a 
crença na Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) (PACIEVITCH, 2015). 
 
 31 
UNIDADE 4 – RELIGIÕES COM BERÇO NO ORIENTE 
EXTREMO 
 
4.1 Budismo 
O Budismo originou-se na Índia, mas ao longo os séculos rapidamente 
migrou e se expandiu por grande parte do oriente extremo, sendo uma das mais 
antigas e maiores religiões do mundo. Nasceu de ensinamentos dados há 
aproximadamente 2.500 anos atrás por Gautama Buda, “O Despertado” ao norte 
da Índia. 
Um dos fundamentos principais do Budismo foi definido pelo Buda como 
as Quatro Verdades Nobres. Isto é, a vida é sofrimento. O sofrimento é causado 
por afeições e aversões, embora haja uma maneira de escaparmos deste 
sofrimento. O fim do sofrimento é a Iluminação que pode ser alcançada através 
da prática do Budismo (AMCBR, 2015; SILVA, 1999). 
Desde o tempo de Buda, esta religião cresceu e se desenvolveu em três 
ramos principais. Os ramos Mahayana e Hinayana dão enfoque ao Budismo como 
religião e código moral da mesma maneira que o Cristianismo é adotado no 
ocidente. O terceiro ramo principal do Budismo é o Vajrayana, bastante parecido 
com o Budismo Zen Japonês, conhecido como o “caminho curto”. Em Zen e 
Vajrayana, o Budismo não é visto como religião per se, mas como um estilo de 
vida. 
As práticas gêmeas de meditação e consciência plenasão utilizadas para 
o alcance da Iluminação com extrema rapidez. O praticante usa todos os 
aspectos de sua vida diária como instrumentos para progredir no caminho da 
Iluminação. A Iluminação é um estado através do qual o ciclo de nascimento e 
morte é quebrado, por onde se obtém completa compreensão da vida. Na prática 
Vajrayana e Zen, reconhece-se que a Iluminação pode ser alcançada nesta vida 
atual! (AMCBR, 2015). 
 
4.2 Hinduísmo 
O hinduísmo é a mais antiga de todas as maiores religiões do mundo. 
Algumas tradições do hinduísmo remontam a mais de 3 mil anos. Ao longo dos 
 32 
séculos, no entanto, seus seguidores – chamados hinduístas – vêm aceitando 
muitas ideias novas e acrescentando-as às antigas. Mais de 800 milhões de 
pessoas praticam o hinduísmo em todo o mundo. A maioria delas vive na Índia, 
onde essa religião começou. 
Segundo a Enciclopédia Escolar Britannica (2015), o hinduísmo não teve 
um fundador e não possui uma organização central. Ninguém criou uma relação 
de crenças que todos os hinduístas devam seguir. Mas todos os hinduístas 
respeitam os Vedas, um conjunto antigo de textos sagrados. 
Os hinduístas acreditam num poder espiritual chamado brāman. Brāman 
é a fonte de toda existência e está presente em tudo e em todos os lugares. A 
alma humana, chamada atman, faz parte do brāman universal. Em geral, os 
hinduístas acreditam que quando alguém morre, a atman renasce em outro corpo. 
Para eles, uma alma pode voltar muitas vezes na forma humana, animal ou até 
vegetal. Essa ideia é conhecida como reencarnação. O ciclo de renascimento 
continua até que se aceite que a atman e o brāman são a mesma coisa. A maioria 
dos hinduístas acha que libertar-se desse ciclo é o objetivo mais elevado da 
pessoa. 
Os hinduístas devem agir de acordo com o princípio da ahimsa, que quer 
dizer “não violência”. Isso significa que nunca se deve desejar causar dano a 
alguém ou a alguma coisa. Eles acham que muitos animais são sagrados, em 
especial a vaca. Os hinduístas piedosos são vegetarianos. 
Os hinduístas adoram muitos deuses. O deus Vishnu é considerado 
protetor e preservador da vida. O deus Shiva representa as forças que a criam e 
também a destroem. A deusa suprema é chamada mais comumente de Shakti. 
Como Shiva, ela pode ser bondosa ou feroz, dependendo da sua forma. Os três 
principais ramos do hinduísmo moderno distinguem-se pela devoção a Vishnu, 
Shiva e Shakti. (ENCICLOPÉDIA ESCOLAR BRITANNICA, 2015). 
 
4.3 Taoísmo 
Tao é, ao mesmo tempo, o caminho, o caminhante e o ato de caminhar. 
Filosoficamente, pode ser interpretado como o Absoluto. 
 33 
O Taoísmo é uma tradição espiritual que propõe o retorno do homem a 
um estado de consciência e vida plena, ao Tao. 
Os meios para o retorno ao Tao englobam as artes (Su), a lei (Fa) e o 
caminho (Tao). As artes procuram restaurar o equilíbrio das energias da pessoa 
através de conhecimentos de saúde, de oráculos, de destino, de leitura da 
natureza ou do homem. O Fa é o conjunto de métodos místicos que restauram a 
ordem, a organização, a lei interior e exterior através da força espiritual. E o Tao, 
como meio, tem na meditação o caminho espiritual por excelência. 
O Taoísmo é uma tradição espiritual milenar de origem chinesa. O 
ensinamento filosófico e a prática espiritual (meditação, alquimia e rituais), são 
praticados na Sociedade Taoísta do Brasil, oficialmente ligada e reconhecida pela 
Sociedade Taoísta da China. Fundada em 1990 pelo sacerdote Wu Jyh Cherng, 
que trouxe o puro conhecimento da tradição, adquirido com os mais 
representativos mestres iluminados vivos. 
 
4.4 Xintoísmo 
Segundo apontamentos de Machado (2015), Xintoísmo é a única religião 
que pode ser considerada genuinamente japonesa, tendo origens mesclando-se 
com a do próprio povo japonês. Há dois milênios percebe-se sua predominância 
no misticismo do país. A denominação adaptada do chinês xin-tao, que 
significa “via dos deuses”, só foi aceita por volta do século XI, embora muitos 
utilizem o termo kami-no-michi, com a mesma significação. 
Ao contrário do Budismo, de origem indiana e influência chinesa, o 
Xintoísmo é dominante apenas no Japão, embora sua prática não exija o 
abandono ou recusa de outras formas de manifestação de crença religiosa. Não 
se trata de uma crença exclusivista, pois convive pacificamente e até 
complementa-se com outras religiões. 
Muitos estudiosos nem consideram o Xintoísmo uma religião, devido ao 
fato de não terem sido criados códigos de leis explícitas, filosofia escrita e 
definida, profetas ou um livro sagrado, que contivesse os dogmas para quem a 
segue. Entretanto, a forma ostensiva com que o xintoísmo comanda a vida de 
 34 
seus praticantes, é perceptível não só em seus rituais, mas nos demais aspectos 
da vida, o que garante a posição de uma das grandes religiões do mundo. 
Xinto, ou Kami-no-michi, pode ser traduzido como o Caminho para os 
Deuses, mas o significado é bem mais amplo. Seria o estudo filosófico do espírito, 
da essência e da divindade. No caso, divindade pode ter uma forma humana, 
animal ou qualquer elemento da natureza, como montanhas, rios, trovões, vento, 
ondas, árvores e pedras. Pode-se dizer que o xintoísmo está bastante ligado à 
natureza, no sentido de que se propaga a proteção ao meio ambiente, através do 
culto aos elementos da natureza (TEMPLO XINTOÍSTA DO BRASIL). 
Os textos mais antigos que falam do Japão estão nos livros “Kojiki” e 
“Nihon Shoki”, escritos nos séculos VII e VIII. Ambos falam do xintoísmo e de 
seus deuses, explicando a origem do Japão, misturando folclore, lendas e 
história. 
Muitas festividades tradicionais japonesas são do xintoísmo. Por exemplo. 
Tanabata Matsuri, Hanami, Seijin Shiki e Shichi-go-san. 
Calcula-se que haja 119 milhões de praticantes do xintoísmo no Japão. O 
número é elevado porque os japoneses praticam alguns rituais do budismo em 
algumas ocasiões (culto aos antepassados, por exemplo), e também praticam 
determininados rituais do xintoísmo no seu dia-a-dia (HANDA, 2015). 
 
4.5 Confucionismo 
O princípio básico do confucionismo é conhecido pelos chineses como 
junchaio (ensinamentos dos sábios) e define a busca de um caminho superior 
(Tao) como forma de viver bem e em equilíbrio entre as vontades da terra e as do 
céu. Confúcio é mais um filósofo do que um pregador religioso. Suas ideias sobre 
como as pessoas devem comportar-se e conduzir sua espiritualidade se fundem 
aos cultos religiosos mais antigos da China, que incluem centenas de imortais, 
considerados deuses, criando um sincretismo religioso. O Confucionismo foi a 
doutrina oficial na China durante quase 2 mil anos, do século II até o início do 
século XX. Fora da China, a maioria dos confucionistas está na Ásia, 
principalmente no Japão, na Coréia do Sul e em Cingapura (SILVA, 1999). 
 35 
Na doutrina do Confucionismo não existe um deus criador do mundo, nem 
uma igreja organizada ou sacerdotes. O alicerce místico de sua doutrina é a 
busca do Tao, conceito herdado de pensadores religiosos anteriores a Confúcio. 
O Tao é a fonte de toda a vida, a harmonia do mundo. No confucionismo, a base 
da felicidade dos seres humanos é a família e uma sociedade harmônica. A 
família e a sociedade devem ser regidas pelos mesmos princípios: os 
governantes precisam ter amor e autoridade como os pais; os súditos devem 
cultivar a reverência, a humildade e a obediência de filhos. 
Confúcio, nascido em meados do século VI a.C. ensina que o ser humano 
deve cultuar seus antepassados mortos, de forma a perpetuar o mesmo respeito 
e amor que tem por seus pais vivos. De acordo com a doutrina, o ser humano é 
composto de quatro dimensões: o eu, a comunidade, a natureza e o céu – fonte 
da autorrealização definitiva. As cinco virtudes essenciais do ser humano são 
amar o próximo, ser justo, comportar-se adequadamente, conscientizar-se da 
vontade do céu, cultivar a sabedoria ea sinceridade desinteressadas. Somente 
aquele que respeita o próximo é capaz de desempenhar seus deveres sociais. O 
único sacrilégio é desobedecer à regra da piedade (SILVA, 1999). 
 
 36 
UNIDADE 5 – RELIGIÕES COM BERÇO NO ORIENTE 
MÉDIO 
 
O Oriente Médio é o berço das três religiões monoteístas: Judaísmo, 
Cristianismo e Islamismo. Em qualquer documento, artigo, pesquisa que seja, 
iremos encontrar exatamente essa informação. 
Evidentemente que cada uma destas religiões reivindica para si a certeza, 
a maneira correta de praticar, adorar e respeitar a Deus e seus mandamentos. 
Como diz Santos (2002), praticamente as regras de convivência 
propostas por Deus são as mesmas nas três religiões, porém sabemos que até o 
presente momento tem sido muito difícil a situação dessa convivência no Oriente 
Médio. 
 
5.1 A região 
O Oriente Médio é a região conhecida por ser o berço das três maiores 
religiões monoteístas, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo (predominante por 
lá nos dias atuais) e também região de intensos conflitos religiosos, políticos e 
militares. 
 
5.2 O Judaismo 
O Judaísmo, historicamente a mais antiga das religiões, está relacionado, 
em sua origem e segundo a Bíblia, com a revelação de Deus a Moisés e a 
passagem, para suas mãos, do Decálogo ou Tábuas da Lei, documento 
normativo de costumes e das relações do Homem com Deus e com seus 
semelhantes. A entrega teria sido no Monte Sinai, na península do mesmo nome. 
O local da entrega logo tornou-se sagrado. Foi sob essa legislação que os 
hebreus edificaram seus costumes e organizaram administrativamente o território 
que Deus lhes concedera – a Terra Santa (1850 a.C). Esta versão se reporta ao 
tempo em que os hebreus deixaram o Egito, depois de séculos de escravidão. 
Depois da segunda destruição do Templo de Jerusalém pelos romanos 
(70 d.C), construíram-se as Sinagogas e um novo código de comportamento é 
criado para os judeus: o TALMUD. Esse Iivro-código de comportamento é 
constituído pelo Documento-Base (representado pelas Tábuas da Lei) e pelo 
 37 
acréscimo de novas normas elaboradas pelo rabino lehudah MANASSI (200 d.C.) 
e que consistem na compilação das leis orais vigentes no grupo e, ainda, as “leis 
ou ensinamentos” (“Torah”), contidos nos cinco primeiros livros da Bíblia: 
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. 
 
5.3 O Cristianismo 
O segundo monoteísmo do ponto de vista cronológico, o Cristianismo – 
surge com o anúncio e confirmação da vinda do enviado de Deus, o Messias que, 
para os Cristãos, é Jesus. Entretanto, para os judeus, este enviado de Deus ainda 
não chegou; e para os muçulmanos, quem foi trazido à terra para falar a verdade 
divina (a quem se denominaria MESSIAS), não foi Jesus, mas Maomé. 
O Cristianismo difundiu-se a partir do Oriente Médio, estendendo-se pela 
Europa, Américas, África e Ásia, acompanhando todas as epopeias de conquistas 
ocorridas na Antiguidade, Idades Média, Moderna e Contemporânea. 
Nos primeiros tempos, passou uma imagem de desconfiança, ao fazer 
concorrência aos direitos do Imperador de Roma, quando separou poderes: 
“... a César, o que é de César; a Deus o que é de Deus.” 
Depois de cerca de três séculos de perseguições, os cristãos têm 
reconhecida a sua fé, oficialmente, cm 313 d.C, pelo Édito de Milão. 
Concomitantemente à conversão do imperador Constantino ao 
Cristianismo, segue-se uma era de afirmação filosófica, territorial, econômica e 
política. Vejamos: 
 Agostinho, Jerônimo, Tomás de Aquino afirmam-se pela Idade Média, 
balizando a doutrina; 
 os invasores vindos do Leste são convertidos; 
 crescem os espaços reservados à entidade social Igreja; 
 aliam-se forças para combater os mouros e retomar o Santo Sepulcro; 
 impõem-se pactos entre o Estado e a Igreja; 
 combatem-se os adversários da Igreja como os do Estado, usando-se 
como suporte a Inquisição; 
 38 
 conquistam-se territórios coloniais, com a espada dos reis e a cruz de 
Cristo; e, 
 concedem-se indulgências, a troco de aumento do poder e do prestígio e 
do espaço territorial da Igreja. 
Até hoje, a influência política do Cristianismo pode ser encontrada na 
introdução de algumas Constituições de países republicanos ocidentais. Muito 
embora correspondendo a poderes separados, Igreja e Estado ainda guardam 
grandes vínculos e respeito entre si. Nos planos internacional e supranacional, o 
Papa ainda assume uma figura de grande mediador e conselheiro de decisões 
sociais e políticas que envolvem sociedades de diversos países (SANTOS, 2002). 
Discordâncias histórico-religiosas marcam também divergências no 
comportamento da sociedade, segundo os ensinamentos e as proposições de 
vida ditadas pelos livros sagrados para os seguidores de cada uma das três 
religiões. As diferenças partem do próprio contexto do Velho e do Novo 
Testamentos. A primeira grande divergência é entre judeus e cristãos. O texto do 
Velho Testamento, em grande parte reconhecido também pelos muçulmanos, 
está muito presente nos cultos e nas tradições judaicas. A proposta 
comportamental básica passa pelo binômio crime-castigo, preconizado pelo 
Código de Hamurabi (“Fez, paga”; “olho por olho, dente por dente”; ao ladrão, 
corta-se-lhe a mão”, entre outros). 
Opondo-se a essa proposta, o Novo Testamento revela as “Boas Novas” 
trazidas por Jesus e seus Apóstolos (novidades boas, notícias boas, nova visão 
da vida, da existência e das relações do homem com seu semelhante e com 
Deus). Entre estas boas novidades está a substituição do castigo – uma 
constante no Velho Testamento – pelo arrependimento e pelo perdão – a tônica 
do Novo. 
Em relação, ainda, ao Velho Testamento, os muçulmanos consideram 
que Moisés é o “Pai dos Profetas” e admitem que Jesus é mais um dos antigos 
profetas, tanto quanto Isaías, Jeremias e Ezequiel, chamados “Grandes Profetas”. 
Mas não o Messias, aquele que seria o enviado de Deus e que traria a verdadeira 
vontade do Todo-Poderoso (SANTOS, 2002). 
 39 
5.4 O Islamismo 
A religião dos Muçulmanos tem início com Maomé, um pastor da tribo 
Koreichita que, segundo se conta, recebeu em sonho ou em transe, o Arcanjo 
Gabriel que, de 610 (quando Maomé tinha 40 anos), até 22 anos mais adiante, 
repassou a Maomé a palavra de Deus. Esta ocorrência tem certa semelhança 
com a entrega das Tábuas da Lei a Moisés. 
Os intérpretes dos preceitos religiosos muçulmanos enfatizam que, na 
verdade: 
 
Deus havia revelado sua vontade aos Judeus e aos Cristãos pela voz de 
seus Mensageiros. Mas eles desobedeceram às ordens de Deus e 
dividiram-se em seitas cismáticas. O Alcorão acusa os Judeus de terem 
corrompido as Escrituras, e os Cristãos, de adorarem Jesus como o filho 
de Deus, quando Deus nunca teve filho e quer ser adorado com absoluta 
exclusividade. Tendo assim desencaminhado, judeus e cristãos devem 
ser chamados de novo para a senda da retidão, a religião verídica 
fundada por Abraão e que Maomé, o último dos profetas, veio pregar 
(CHALITA, s.d). 
 
A origem da proposta de “evangelização” muçulmana, montada sobre 
uma fácies agressiva e celebrada na frase “a fé, a ferro e fogo”, tem seus 
fundamentos nos dogmas da religião de Maomé, em particular os de número 3 e 
5. São os seguintes: 
1. Deus é único e onipotente. 
2. Outros elementos da religião muçulmana são a ressurreição dos 
mortos, o juízo final (sic), a Geena (Inferno) e o Paraíso. 
3. Maomé é o mensageiro de Deus encarregado de transmitir Sua palavra 
aos homens. 
“[...] Crentes são aqueles que creem em Deus e em Seu Mensageiro” 
(Alcorão, 24:62).1 
“[...] Para aqueles que não creem em Deus e em Seu Mensageiro, 
preparamos um fogo flamejante'' (Alcorão, 48:13). 
 
1
 O Alcorão divide-se em 114 suras ou capítulos, divididos em versículos, no total de 6.236. 
 40 
4. O Alcorão não classifica os homens conforme sua raça, cor, 
nacionalidade, cultura, posses

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