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O Fenômeno Religioso e sua Presença na Cultura Humana

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O FENÔMENO E A 
EXPERIÊNCIA RELIGIOSA
Prof. Thomas Heimann
 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs002/t001?authuser=0
Nesta unidade temática, você vai aprender
A compreender o fenômeno religioso, reconhecendo sua presença nas mais diversas áreas
da cultura humana, em uma perspectiva da integralidade do ser;
A analisar os principais elementos constitutivos de religiões e manifestações religiosas do
mundo e da realidade brasileira;
A avaliar a influência das diferentes religiões no estabelecimento de relações sociais,
políticas, econômicas e culturais.
 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs002/t001?authuser=0
 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs002/t001?authuser=0
Introdução
O estudo de uma disciplina com o nome de Cultura Religiosa pode causar certa estranheza a
alguns universitários. A pergunta que surge é: afinal, a religião, um assunto de foro tão íntimo e
pessoal, pode ser objeto de estudo científico e acadêmico? Qual a relevância ou aplicabilidade
disso para uma formação acadêmica e profissional, em um mundo cada vez mais tecnicista,
racional e agnóstico, que se torna, a cada dia, mais indiferente ao campo religioso?
Do ponto de vista científico, não importa se todos os alunos da disciplina sejam completos
ateus, agnósticos ou até mesmo críticos da religião, vendo-a como um pensamento primitivo,
uma prática supersticiosa ou até um entrave ao avanço da ciência. O fato é que,
independentemente da nossa atitude pessoal frente às crenças religiosas, o fenômeno
religioso é um dos principais fundamentos da sociedade, estando presente em diferentes
representações culturais dos diferentes povos e civilizações, desde os tempos mais remotos da
humanidade.
A estrutura deste capítulo passa pela definição de conceitos básicos no campo da religião, pela
demonstração concreta de sua presença nas diferentes representações culturais, pela
dialogicidade com outros campos do conhecimento humano e também por algumas reflexões
acerca da experiência religiosa.
Portanto, reconhecer que o fenômeno religioso se inscreve e demarca o processo civilizatório
humano é um dos grandes desafios a que se propõe este capítulo introdutório.
Como afirma um dos grandes pesquisadores das ciências da religião, se “Deus não é objeto de
investigação estritamente científica, porém, toda vivência religiosa envolve um ser humano e,
como experiência humana, pode ser objeto de investigação científica” (BENKÖ, 1981, p. 14).
 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs002/t001?authuser=0
O “homo religiosus”: a universalidade da 
religião
O ser humano é um ser multidimensional, composto por elementos físicos, intelectivos,
afetivos, volitivos, lúdicos, sociorrelacionais e, também, por elementos religiosos. O “homo
religiosus”, como afirma a antropologia, “desenvolveu uma atividade religiosa desde a sua
primeira aparição na cena da história [...] todas as tribos e todas as populações de qualquer
nível cultural cultivaram alguma forma de religião” (MONDIN, 1980, p. 218).
A universalidade religiosa precisa ser compreendida em toda a sua diversidade. Há muitas
formas e expressões religiosas, como o monoteísmo (crença em um só deus), politeísmo
(crença em vários deuses), panteísmo (Deus e o universo são idênticos), dualismo (duas forças
opostas que regem o universo), deísmo (há um ser supremo, mas que não interage com a
criação), teísmo (um ser divino e pessoal que interage com a natureza e com as pessoas),
esoterismo (a busca de conhecimentos ocultos através do espiritual, místico ou sobrenatural –
feng shui, astrologia, numerologia etc.) entre outras, podendo haver pequenas variações
conceituais em cada uma delas.
Em uma abordagem histórica, além das já conhecidas tradições religiosas, como as mitologias
grega e romana, as religiões clássicas como Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, Budismo,
Hinduísmo, as religiões antigas dos egípcios, incas, maias e astecas, há também formas mais
primitivas de expressões religiosas. Uma das principais é o animismo. Nessas antigas crenças,
o ser humano atribuía aos animais, às plantas, aos rios, às montanhas, às estrelas etc., uma
conotação espiritual. Ou seja, nos fenômenos e elementos da natureza habitavam e se
expressavam espíritos e forças divinas, que deveriam ser venerados e apaziguados,
especialmente diante de fenômenos climáticos, celestes e geofísicos, como secas, terremotos,
furacões, erupções de vulcões, eclipses entre outros. Muitas oferendas e sacrifícios, inclusive de
humanos, foram realizados ao longo dos séculos na busca de agradar aos deuses ou de aplacar
a sua suposta fúria contra algo ou alguém.
Do animismo, derivou-se outra prática religiosa, o fetichismo, que consistia em atribuir a
objetos, animados ou inanimados, um poder mágico ou sobrenatural. Esses objetos poderiam
ser tanto produzidos pelos indivíduos como encontrados na natureza, tais como pedras,
dentes, ossos, bonecos, estatuetas, correntes e pingentes, passando a servir como amuletos
protetores individuais. Podemos relacionar o rico mundo das superstições, ainda tão presente
na sociedade de hoje, como um exemplo atual de crença fetichista.
 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs002/t001?authuser=0
 
https://drive.google.com/file/d/1ZyZuX4QjSOH-NWQavBl6WMqeWudeRbND/view?usp=sharing
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs002/t001?authuser=0
Em suma, mesmo que estejamos hoje vivendo um processo crescente de secularização,
marcado pelo enfraquecimento do sagrado, pela perda de interesse na vivência religiosa
comunitária, a religiosidade tem permanecido como uma constante do ser humano, mesmo
que não seja mais cultivada por todos os indivíduos da espécie (MONDIN, 1980, p. 218).
 
https://drive.google.com/file/d/1ZyZuX4QjSOH-NWQavBl6WMqeWudeRbND/view?usp=sharing
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs002/t001?authuser=0
Definindo conceitos: religião, fé e 
espiritualidade
Religiosidade é um conceito complexo, subjetivo e multifacetado. Ele pode significar desde um
conjunto de crenças, regras e ritos compartilhados por uma comunidade, até um sentimento
misterioso de interioridade, envolvendo algo místico e pessoal.
No sentido etimológico, o termo latino religio pode advir de dois verbos. O primeiro seria
religere, cujo sentido denota a atitude de estar atento, refletir e observar, dando a ideia de que
a religião está ligada a um fenômeno que exige cuidado, zelo e dedicação por parte daqueles
que a praticam. O segundo verbo seria religare, ou seja, religar, unir novamente, sinalizando
para o retorno ou reparação de uma situação que foi rompida, na tentativa de se ligar
novamente a Deus. (ROOS, 2008, p. 859-861). Ambas fazem sentido analisando-se o que
acontece na vivência religiosa dos crentes. A título de exemplo, citamos o relato judaico-cristão
que descreve a queda do ser humano em pecado. Ali se rompia a relação perfeita entre Deus e
o ser humano, que justifica o conceito de reparação através da criação da religião, ou seja, uma
mediação concreta para religar-se novamente com o Criador.
Avançando no conceito, “qualquer definição de ‘religião’ que não inclua como uma variável-
chave a crença em seres (...) sobre-humanos que possuem poder de auxiliar ou causar dano ao
ser humano é contraintuitiva” (SPIRO, In: WIEBE, 1998, p. 19). Já outras definições dizem que “a
religião é um sentimento ou sensação de absoluta dependência” ou que “significa a relação
entre o homem e o poder sobre-humano no qual ele acredita ou do qual se sente dependente.
Essa relação se expressa em emoções especiais (confiança, medo), conceitos (crença) e ações
(culto e ética)” (GAARDER, 2000, p. 17).
Essa última definição se aproxima de critérios mais objetivos ao caracterizar a religião como: a)
um conjunto de crenças ou doutrinas; b) um conjunto de ritos ou cerimônias; c) um código de
comportamento ético e moral a ser seguido; d) uma experiência relacional com um ser
transcendente vivenciada em dimensão comunitária.
 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs002/t001?authuser=0Infográfico
 
https://drive.google.com/file/d/1UCLu0KzgCk2AkJde7VbqcKJ6BbCPhWLJ/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1UCLu0KzgCk2AkJde7VbqcKJ6BbCPhWLJ/view?usp=sharing
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs002/t001?authuser=0
 
https://drive.google.com/file/d/1UCLu0KzgCk2AkJde7VbqcKJ6BbCPhWLJ/view?usp=sharing
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs002/t001?authuser=0
Reforça-se que religião implica uma relação em pelo menos dois sentidos: vertical, em direção
ao ser transcendente; e horizontal, em direção a outras pessoas, que compartilham das
mesmas crenças. Não há, portanto, religião de um indivíduo só. Daí surge a diferenciação entre
o conceito de religião e espiritualidade. A espiritualidade diz respeito a uma característica
humana que designa toda vivência que pode produzir mudança no interior do ser humano e
redimensiona a sua forma de se relacionar consigo, com os outros e com o cosmos. Está
relacionada com valores, significados e busca de sentido, que podem ser encontrados em
diferentes lugares, inclusive em si mesmo (GIOVANETTI, 2005, p. 136).
A forma mais usual de manifestação da espiritualidade é através da religiosidade, ou seja, ela
se concretiza quando um indivíduo encontra em uma religião um conjunto de elementos que
dão sentido para sua existência. Nesse caminho, surge o conceito de fé religiosa, entendido
pela experiência de se sentir chamado e confiar em algo ou alguém de cunho sagrado, se
relacionando com esse ser em uma postura de reverência, confiança, dependência e
reciprocidade.
A religião também ocupa funções importantes. Ela procura dar respostas para as grandes
questões existenciais, elaborando explicações para a origem, sentido e destino de todos os
seres vivos. A religião também oferece consolo em momentos de sofrimento e alimenta a
esperança de uma vida além morte, aplacando a angústia humana diante da incômoda
consciência de sua finitude. Além de também ser um meio de preencher o vazio existencial, a
religião auxilia na construção de uma identidade pessoal e coletiva, dando ao ser humano um
sentimento de pertença a um grupo, fator importante para a coesão social e saúde mental.
O fenômeno religioso e suas representações 
na cultura
Retomando o que já afirmamos neste capítulo, mesmo que não tenhamos qualquer crença
religiosa, o fato é de que ela está fortemente presente em diferentes dimensões da cultura e
sociedade.
Quem gosta de olhar filmes e seriados, independentemente do gênero, irá se deparar com
enredos permeados de religiosidade. Muitos clássicos do cinema trazem a marca do religioso,
do sobrenatural e do místico. Filmes épicos como Tróia, Cruzadas, Ben-Hur, A Paixão de Cristo,
Maria Madalena; filmes de ação e aventura como a trilogia de Indiana Jones, Senhor dos Anéis,
Crônicas de Nárnia, A Múmia, Harry Potter, 2012, Thor, etc.; filmes policiais, de terror e de
suspense como O Exorcista, O Chamado, Ouija - O Jogo dos Espíritos, Seven - Os Sete Pecados
Capitais; dramas como Ghost, Amor Além da Vida, Cidade dos Anjos, até mesmo grandes
comédias como Mudança de Hábito, O Todo Poderoso, Ghostbusters; a lista é enorme. Das
séries, podemos citar Supernatural, Lúcifer, Ghost Hunters etc. Também muitas telenovelas
abordaram temas religiosos, como Roque Santeiro, A Padroeira, Porto dos Milagres, Almas
Gêmeas, Babel, Eterna Magia entre outras.
 
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Já quem gosta da literatura, além da Bíblia ser o maior best-seller mundial, vamos encontrar
clássicos como Código da Vinci, Anjos e Demônios e Inferno, de Dan Brown, O Monge e o
Executivo, A Cabana, ‘Comer, Rezar, Amar’, além de muitos livros esotéricos e de linha
espiritualista, um dos poucos segmentos que ainda crescem no mundo editorial. Já no campo
das artes, nomes como Leonardo Da Vinci, Rafael, Michelângelo e Aleijadinho são reconhecidos
por suas obras com temática religiosa. Na própria música, desde autores sacros como Bach,
Mozart e Beethoven, como inúmeras bandas de rock, passando por cantores e compositores
nacionais, além de todo movimento de música Gospel, trazem conteúdos religiosos em suas
letras e composições.
O campo do turismo é outro elemento importante que se relaciona com a religião. Países e
cidades têm como fonte de renda o elemento da fé e religiosidade. A Capela Sistina no
Vaticano, as pirâmides do Egito e de Cuzco no Peru, o Monte Olimpo na Grécia e a cidade
suspensa de Machu Picchu, o monumento de Stonehenge na Inglaterra, a estátua do Cristo
Redentor no Rio de Janeiro, as peregrinações a cidades santas como Jerusalém e Meca, os
santuários de Aparecida do Norte, os templos budistas espalhados pelo mundo são apenas
alguns dos exemplos de lugares turísticos. Já no contexto econômico e financeiro, além do
turismo, a religião movimenta a economia em diversos setores. Festas como o Natal, Páscoa,
São João, Sírio de Nazaré, Navegantes, além de promoverem feriados em nosso calendário,
também movimentam a economia, gerando empregos e renda. A venda de produtos religiosos
e esotéricos, contratos comerciais em que questões religiosas precisam ser observadas (ex.:
abate de animais para exportação a países islâmicos) e até mesmo frases religiosas nas notas
de dólar e real mostram essa íntima relação entre religião e a economia. A própria indústria
alimentar tem se preocupado com questões religiosas, visto que muitas religiões possuem
regras e restrições alimentares que são impostas a seus fiéis.
No esporte, talvez até muitos dos leitores possam dar-se conta de que praticam ritos religiosos:
surfistas fazem o sinal da cruz antes de entrar no mar, jogadores entram em campo com o pé
direito, atletas apontam para o alto e agradecem a Deus diante de conquistas, treinadores
usam a mesma roupa com que obtiveram um título etc. Crenças, superstições e trabalhos
religiosos são comuns no meio esportivo.
O campo educacional também sofreu e ainda sofre influência das religiões. Muitas instituições
de ensino privadas estão ligadas a grupos religiosos tradicionais como católicos, metodistas,
presbiterianos, luteranos, batistas e adventistas. Entre as dez mais importantes universidades
do mundo, seis delas tiveram mantenedoras religiosas em sua origem, tais como Harvard,
Cambridge, Oxford, Princeton, Yale e Columbia. No Brasil, os grupos religiosos também estão
vinculados a universidades como ULBRA, UMESP, Mackenzie, UNISINOS, PUC etc.
No campo da linguagem, o uso de expressões religiosas é comum, mesmo por quem não é
religioso, tais como: “Deus me livre”, “cruz-credo”, “meu Deus do céu”, “graças a Deus”. A
linguagem religiosa também é expressa em nomes próprios como: João, José, Maria, Ângelo etc.
Estados brasileiros como Espírito Santo, São Paulo, Santa Catarina além de centenas de
municípios pelo mundo possuem nomes religiosos: São Francisco, San Diego, Los Angeles, San
Petersburgo, Salvador, Bom Jesus, Santa Maria, Aparecida do Norte, Santa Cruz, Santa Rosa etc.
Por último dentro dessa perspectiva da relação da religião com elementos culturais o campo
 
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Por último, dentro dessa perspectiva da relação da religião com elementos culturais, o campo
político não pode ficar de fora, com ambos, por vezes, fundindo-se em um poder unificado. Nos
antigos impérios egípcio, romano, maia, japonês, só a título de exemplo, os governantes eram
quase todos divinizados, o que legitimava o seu poder absoluto sobre o povo. Por toda a Idade
Média, a religião cristã esteve muito atrelada às questões políticas, sendo o papado romano um
importante centro de poder, assim como foram – e continuam sendo – os Estados Islâmicos no
Oriente Médio. Até mesmo guerras foram travadas sob um suposto pretexto religioso, tais
como as inúmeras Cruzadas em prol da conquista da Terra Santa ou as guerras entre hindus e
muçulmanos na região da Kashemira (conflitos entre Índia e Paquistão). Nos dias atuais, é
comum vermos gruposreligiosos buscando espaços e fazendo lobby em decisões políticas que
envolvem a sociedade civil, além de continuarem as tensões político-religiosas em diversas
partes do mundo, incluindo perseguições a determinados grupos minoritários.
Esses e outros exemplos demonstram o quanto o fenômeno religioso é parte constitutiva da
sociedade e está profundamente imbricado em diferentes dimensões da cultura humana. Tal
como afirmam Reblin e Sinner, “não é possível entender a experiência religiosa distante da vida
social, como se esta independesse daquela, assim como não é possível conceber uma
sociedade sem uma vida religiosa. Religião e sociedade se interconectam, se emaranham e, por
vezes, se fundem e se confundem na própria amálgama que é a vida humana” (2012, Prefácio).
O fenômeno religioso e suas inter-relações 
com as ciências
Um outro importante elemento no estudo do fenômeno religioso é a sua interrelação com as
diferentes ciências. Talvez por perceberem a relevância histórica e cultural da religião e sua
enorme influência no comportamento individual e social da humanidade, diversos campos do
conhecimento foram reunidos em uma área chamada de Ciências da Religião. Fazem parte
dela a Filosofia da Religião, Psicologia da Religião, Sociologia da Religião, Antropologia da
Religião, Direito Religioso e História das Religiões, para citarmos apenas algumas, além do
crescente interesse pelo campo da Espiritualidade e Saúde.
Temas de cunho existencial, como a origem do mal ou do sofrimento, o sentido da vida e da
morte, a metafísica, a autotranscendência e espiritualidade humana, o campo da moralidade e
da ética, a discussão entre fé e razão são alguns dos eixos da Filosofia da Religião, auxiliando os
indivíduos a promoverem uma reflexão crítica sobre o campo religioso. Já a Antropologia da
Religião procura demonstrar que as diferentes expressões religiosas são criação do próprio ser
humano. Busca estudar e analisar as estruturas sociais, enfocando temas como mitos, ritos,
tabus, xamanismo e outras formas de representações religiosas inscritas nos diferentes povos.
A Psicologia da Religião, por sua vez, vai analisar os fenômenos religiosos a partir das funções
psíquicas e afetivo-emocionais dos indivíduos e grupos. Sigmund Freud, pai da Psicanálise,
debruçou-se sobre as estruturas e crenças religiosas, considerando a religião como uma grande
produtora de neuroses, em uma tensão constante entre os conceitos de desejo e culpa. Já Carl
Gustav Jung outro importante teórico da Psicologia é autor de livros como Psicologia e Religião
 
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Gustav Jung, outro importante teórico da Psicologia, é autor de livros como Psicologia e Religião,
Resposta a Jó, Psicologia e Religião Oriental entre outros, vendo a religião como uma dimensão
importante para obtenção do equilíbrio mental. Pelo viés da psicologia da religião, fenômenos
religiosos como visões, incorporações, obsessões ou até possessões são interpretados como
sintomas de possíveis transtornos mentais, tais como alucinações e dissociações de
personalidade. Também o fanatismo religioso é objeto de estudo da psicologia da religião, na
busca de compreender que processos mentais atuam quando fiéis comportam-se de forma
irracional, a exemplo do suicídio coletivo incitado pelo Reverendo Jim Jones nas Guianas, em
1978, ou dos seguidores de David Koresh, em Waco, Texas, no ano de 1993.
A Sociologia da Religião é outra área que cresce em interesse acadêmico. Émile Durkheim, a
partir da clássica obra As formas elementares de vida religiosa (1912), cria um modelo
interpretativo que divide o mundo em duas categorias, denominadas de sagrado e profano.
Para Durkheim, a religião é eminentemente coletiva e possui a função precípua de manter a
coesão social. Já Max Weber procurou explicar a origem da racionalidade ocidental, escrevendo
a obra A ética protestante e o espírito do capitalismo (1904-05), um dos maiores clássicos da
sociologia até hoje. Por fim, o sociólogo contemporâneo Peter Berger procura demonstrar que
a “religião representa o ponto máximo no processo coletivo de elaboração de um sentido para
a vida no mundo”, além de identificar as raízes do processo de secularização e
desencantamento do mundo, no qual mostra o porquê as religiões tradicionais vêm perdendo
seu poder e monopólio na sociedade. (FERREIRA, 2008, p. 859-861).
Um outro campo de crescente interesse na relação entre ciência e religião é a área da
espiritualidade e saúde. É fato histórico a íntima associação existente entre medicina e religião
nas origens da maioria dos povos e culturas. Deuses ou o mundo sagrado atuando em curas é
um elemento presente desde a antiguidade. Esculápio era o deus da cura na mitologia grega.
Imhotept o deus médico egípcio. Nas escrituras judaicas e cristãs lemos: “Eu sou o Deus que te
cura” (Êxodo 16.26). Jesus Cristo também ganhou notoriedade histórica por curar muitos
doentes, conforme relatos dos evangelhos bíblicos.
Para o médico Alex Botsaris, a medicina, antes de ser ciência, é um produto da cultura humana.
Como a arte de curar, ela está presente desde as civilizações mais rudimentares, no momento
em que surgiu a necessidade de alguém assumir a tarefa de curar as pessoas, auxiliando-as a
lidar com a dor, com a incapacidade física, bem como frente à angústia, suscitadas pela doença
e morte. Dessa forma, criaram-se os primeiros “sistemas médicos” que, nas culturas mais
antigas, estavam ligados aos sacerdotes e líderes religiosos, como xamãs, pajés, druidas,
feiticeiros e curandeiros, que exerciam tanto as funções de religiosos como as de
médico/curandeiro. (BOTSARIS, 2001, p. 57). Os fenômenos da doença e da cura, portanto,
foram monopólio, por muitos séculos, de religiosos e sacerdotes. Isso é chamado de Teurgia,
literalmente traduzido como “trabalho de Deus”. A Teurgia envolvia cânticos, ritos, preces e
outras formas de ligação com as forças divinas, sagradas e sobrenaturais, que operariam
diretamente por esses meios na cura dos indivíduos.
Em uma correlação com a contemporaneidade, para Landmann, o carisma e o poder quase
divinizado dos médicos na atualidade têm seu nascedouro justamente em uma concepção
religiosa ou mágica (LANDMANN, 1984, p. 14-15). Porém, a descoberta de técnicas
experimentais de pesquisa no século XVII encaminhou uma aproximação aos fenômenos do
 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs002/t001?authuser=0
mundo físico e biológico, distinguindo as novas práticas médicas da visão religiosa e teológica
(PAIVA, 2000, p. 13). Aos poucos, as novas descobertas levaram à desapropriação da religião
como lugar de cura e cuidado físico, passando a ser quase uma exclusividade da ciência
médica.
Gadamer afirma que o médico faz questão de se afastar da figura de curandeiro de tantas
culturas, revestido pelo segredo das forças mágicas, arrogando ser um homem da ciência, isto
é, que conhece o motivo pelo qual uma determinada técnica de cura tem êxito, bem como
entendendo a relação de causa e efeito. Porém, isso não significa que os seus pacientes se
satisfaçam com essa explicação, ou seja, a esperança de cura quase mágica associada ao poder
do conhecimento que o médico detém é uma fantasia constante a circular na relação médico-
paciente, mesmo que os médicos procurem evitá-la a qualquer custo (GADAMER, 2006, p. 40).
Na perspectiva dos benefícios da espiritualidade para a saúde integral do ser humano, Dal
Farra refere-se a um conjunto de estudos que têm demonstrado o impacto da espiritualidade
sobre diversos parâmetros de saúde que podem ser, inclusive, mensurados de forma
metodologicamente eficiente. Diversas publicações científicas têm mostrado evidências “de que
o envolvimento religioso está favoravelmente associado a indicadores de bem-estar psicológico,
incluindo a satisfação na vida, a felicidade, menor frequência de depressão e de utilização de
drogas de abuso” etc. (DAL FARRA, 2010, p. 589).
Elementosda fé e espiritualidade representam um ponto importante a ser considerado nas
questões de saúde coletiva, como podemos observar nos dados analisados por Jeff Levin, do
National Institute for Healthcare Research, dos Estados Unidos, que resumem os resultados
obtidos nas pesquisas sobre espiritualidade e fé em relação à saúde em um amplo conjunto de
aspectos, conforme descreve Dal Farra (2010, p. 591-2):
Princípio 1
A a�liação religiosa e a participação como membro de uma congregação religiosa bene�ciam a
saúde ao promover comportamentos e estilos de vida saudáveis.
Princípio 2
A frequência regular a uma congregação religiosa bene�cia a saúde ao oferecer um apoio que
ameniza os efeitos do estresse e do isolamento.
 
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Princípio 3
A participação no culto e na prece bene�cia a saúde graças aos efeitos �siológicos das emoções
positivas.
Princípio 4
As crenças religiosas bene�ciam a saúde pela sua semelhança com as crenças e com estilos de
personalidade que promovem a saúde.
Princípio 5
A fé, pura e simples, bene�cia a saúde ao inspirar pensamentos de esperança e de otimismo e
expectativas positivas. [...] Pesquisa realizada com pacientes terminais demonstrou que o
conforto espiritual não apenas aumenta a esperança de vida dos pacientes como diminui os
índices de depressão, de ideias suicidas e de desejo de morte breve. (DAL FARRA, 2010, p. 591-
2)
Posto esses elementos que colocam a religião como um objeto da ciência, passível de ser
descrito e analisado sob a perspectiva acadêmico-científico, passamos agora a analisar o
conceito de experiência religiosa.
A experiência religiosa
Você já teve alguma experiência religiosa? Curiosamente, muitos alunos respondem
negativamente a esse questionamento. Talvez porque a ideia implícita seja de que uma
experiência religiosa precise ser um evento, algo grandioso, tais como revelações proféticas,
aparições de seres divinos ou angelicais, falar em línguas, sonhos premonitórios, presenciar
espíritos atuando em sessões mediúnicas, ver demônios sendo expulsos em cultos de
libertação, ter recebido uma cura espiritual ou ter vivido uma experiência miraculosa.
Dentro da subjetividade que caracteriza as experiências religiosas, podemos afirmar que elas
podem ser muito mais simples do que as listadas acima. Meditar ou fazer uma prece em
momentos de angústia e em seguida entrar em um estado de paz e tranquilidade, sentindo a
presença de Deus, ou ainda experiências de conversão, onde o fiel acredita que Deus o chamou
para viver uma nova vida, em uma mudança visível de sua forma de pensar, sentir e agir,
 
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p , ç p , g ,
também são experiências espirituais/religiosas.
Tais experiências são interpretadas como mediações da esfera do sagrado ou do mundo
sobrenatural somente a partir da fé, pois a ciência procura sempre encontrar razões lógicas,
humanas e científicas para todas elas. Portanto, a interpretação das experiências religiosas
sempre varia de sentido, dependendo das ideologias, convicções, argumentos e crenças
pessoais de quem as vivencia, estuda e analisa.
Vamos dar um exemplo dessa variação interpretativa: para algumas religiões neopentecostais,
demônios podem possuir pessoas; para os cultos afro-brasileiros, entidades espirituais
“ocupam” ou “incorporam” nos fiéis; para religiões espiritualistas, espíritos desencarnados
podem orientar, obsediar ou subjugar indivíduos; para a psiquiatria, tais fenômenos podem ser
transtornos dissociativos; para a psicologia, podem advir de um elemento de indução e
sugestionabilidade de líderes religiosos. O fato é que não há como negar a existência da
experiência ou do fenômeno, mesmo que suas interpretações sejam tão distintas.
Por essa pluralidade de sentidos, precisamos desenvolver uma atitude de respeito para com as
diferentes experiências religiosas. Para quem as vivencia, elas são reais, modificando, muitas
vezes, sua maneira de enxergar o mundo, de se relacionar consigo mesmo, com Deus e com as
outras pessoas.
Nas experiências religiosas, portanto, as dimensões intelectuais, emocionais, espirituais, sócio-
relacionais e até físicas se inter-relacionam. Elas se mostram no cumprimento de regras morais,
na realização de ritos tradicionais como batismos, casamentos, crismas, funerais, preces e
rezas, nas expressões cúlticas como músicas, cantos e danças, no uso de símbolos ou gestos
religiosos. O certo é que todas as experiências podem variar em intensidade, indo de um mero
formalismo religioso motivado pela tradição, até uma experiência interior profunda, autêntica e
mística, onde se sente a presença do sagrado e do divino na própria vida.
Finalizando esse capítulo, o estudo da Antropologia parece confirmar, sem negar as
reconhecidas diferenças entre as religiões, que há uma tendência na busca do ser humano pelo
sagrado e transcendente, ou seja, a ideia de Deus parece estar presente no inconsciente
coletivo da humanidade. Podem mudar as formas de expressão, a linguagem utilizada, os
relatos dos mitos, os tipos de ritos, mas o que não vai se alterar é que por trás de todas essas
diferenças existe o estabelecimento de uma estrutura religiosa comum com a qual a
humanidade se relaciona.
A verdade é que, independentemente do que cremos, em que ou quem cremos ou como
cremos, nós humanos efetivamente cremos em algo. Nem mesmo ateus e agnósticos escapam
disso, pois como diz o filósofo Max Scheler, os que não são religiosos podem substituir os
deuses por outras formas de ídolos, seja a ciência ou diferentes formas de ideologias.
 
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Referências
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metodológicas. Revista Brasileira de Educação Médica. 34 (4): 587-597; 2010.
DICIONÁRIO BRASILEIRO DE TEOLOGIA. BORTOLLETO FILHO, Fernando (Org.). São Paulo:
ASTE, 2008. FERREIRA, Valdinei Aparecido. Verbete Sociologia da Religião. p. 859-861; ROOS,
Jonas. Verbete Religião. p.859-861.
GAARDER, Jostein. O livro das religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
GADAMER, Hans-Georg. O caráter oculto da saúde. Petrópolis: Vozes, 2006.
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MONDIN, Battista. O homem, quem é ele?: elementos de antropologia filosófica. São Paulo:
Edições Paulinas, 1980.
PAIVA, Geraldo José de. A religião dos cientistas: uma leitura psicológica. São Paulo: Edições
Loyola, 2000.
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Leopoldo: Sinodal/EST, 2012. Prefácio.
WIEBE, Donald. Religião e Verdade: rumo a um paradigma alternativo para o estudo da
religião. São Leopoldo: Sinodal, 1998.
 
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Créditos
Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado
Design Instrucional: Luiz Specht
Diagramação: Marcelo Ferreira
Ilustrações: Rogério Lopes
Revisão ortográfica: Igor Campos Dutra
Produzido por Núcleo de Audiovisual e Tecnologias Educacionais (NATE) - ULBRA EAD
Universidade Luterana do Brasil
Todos os direitos reservados.
 
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ESPIRITUALIDADE E 
CONTEMPORANEIDADE
Prof. Thomas Heimann
 
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Nesta unidade temática, você vai aprender
A avaliar a influência das diferentes religiões no estabelecimento de relaçõessociais,
políticas, econômicas e culturais;
A participar da reflexão a respeito dos valores humanos, sociais, éticos e espirituais;
A construir, a partir de valores éticos e religiosos, princípios norteadores de sustentabilidade
e cidadania;
A atuar eticamente frente a diferentes situações no campo pessoal, social e profissional;
A mediar conflitos no campo da ética e religiosidade a partir dos princípios de respeito,
diálogo e tolerância.
 
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Introdução
Nesse segundo capítulo teremos duas abordagens temáticas que vão transversalizar o campo
da religião e espiritualidade em sua relação com a sociedade contemporânea.
A primeira parte do capítulo irá abordar alguns conceitos importantes para compreendermos
diversos fenômenos atuais no campo religioso e relacional. Conceitos como globalização,
fundamentalismo, tolerância e secularização são tratados a partir do fenômeno da
Globalização, ao passo que os conceitos de trânsito, sincretismo e mercado religioso estarão
mais relacionados à religiosidade latino-americana e brasileira.
A segunda abordagem temática do capítulo parte para um assunto que transcende
especificidades culturais, enfocando um fenômeno de cunho mais ontológico e existencial, que
diz respeito a cada ser humano na relação intra e interpessoal: a culpa e o perdão. A
abordagem dessa temática é interdisciplinar, pois envolve elementos não apenas da
religiosidade, mas também elementos filosóficos, antropológicos, psicológicos e teológicos, com
diferentes possibilidades interpretativas.
Que esses temas nos auxiliem a refletir sobre nossos pensamentos, valores, crenças e posturas
cotidianas, nos diferentes âmbitos da convivência humana.
Fundamentalismos, tolerância e fenômenos 
religiosos no contexto da Globalização
Um dos conceitos marcantes do século XXI é o da Globalização. O mundo globalizado, através
dos meios de comunicação, em especial a internet, permite a interação e conexão entre
pessoas em quaisquer partes do mundo. De certa forma, tornaram-se tênues as linhas que
demarcam nações, territórios, culturas e jurisdições. Vivemos todos em uma espécie de “aldeia
global”. A Globalização não é, portanto, um fenômeno apenas da área da comunicação, mas
mundial, das relações sociais, econômicas, culturais, religiosas, enfim, das relações humanas.
Hall (2011) descreve que o processo de Globalização, ao interconectar as pessoas em diversas
partes do mundo, cria um novo modelo de identidade, no qual se deve levar em conta não mais
os modelos de uma sociedade organizada entre fronteiras, mas uma sociedade híbrida,
multifacetada, transcultural em seus usos, costumes, tradições e concepções da realidade.
Afirma Hall: “as identidades nacionais estão em declínio, mas novas identidades – híbridas
estão tomando o seu lugar” (2011, p. 69).
Na relação com a religiosidade, esse hibridismo retrata uma realidade muito presente em
nosso país, o sincretismo religioso. Nele se constrói uma identidade religiosa híbrida,
resultado da fusão ou interpenetração de diferentes religiões, seitas, filosofias, personagens,
crenças e visões de mundo, numa mescla harmonizada de diferenças. Para Araújo, “o
sincretismo ocorre quando dois ou mais sistemas religiosos se combinam de modo que ambos
 
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sincretismo ocorre quando dois ou mais sistemas religiosos se combinam, de modo que ambos
deixam de existir como tais e produzem um sistema religioso original” (2008, p.930).
A Umbanda, que combina elementos das religiões africanas, indígenas, kardecistas e também
elementos do catolicismo popular é um claro exemplo de sincretismo. Além disso, indivíduos
que alternam idas a missas ou cultos, frequentam esporadicamente centros espíritas, tomam
passes em um terreiro, meditam num centro budista, fazem terapia de Reiki, consultam
cartomantes etc, com idas e vindas nesses diferentes contextos, também demonstram uma
atitude religiosa sincrética, fruto de uma globalização e indiferenciação religiosa, marcas da
religiosidade brasileira.
O próprio trânsito religioso, outra característica marcante de nossa religiosidade, demonstra a
diluição gradativa de referências identitárias que vivemos na contemporaneidade. Isso é
enfatizado pela socióloga da religião, Hervieu-Léger, que chama esse movimento de
“religiosidade à la carte”, marcada pela mudança, fluidez e mobilidade de indivíduos entre as
diversas opções religiosas existentes no seu contexto social. (HERVIEU-LÉGER, 2005, p. 28). Esse
“trânsito” pode ser contínuo, implicando novas experimentações religiosas motivadas por
curiosidade, modismos ou por necessidades pessoais, com a possibilidade de sucessivos
retornos à religião de origem. Almeida e Montero acrescentam outra explicação para o trânsito
religioso, relacionando-o com o processo de mercantilização dos bens de salvação pelas
diferentes instituições, que oferecem cura, sucesso e prosperidade aos adeptos, numa espécie
de “mercado religioso”. (2001, p.92).
Diferentemente da Europa, onde o movimento de secularização é cada vez mais visível, com a
religião perdendo sua força, poder e relevância, tanto para indivíduos quanto grupos,
implicando a diminuição significativa do envolvimento religioso, no Brasil a força da religião
ainda se faz muito presente na sociedade. Apesar das mudanças nas formas de expressão
religiosa, ainda há forte influência da religiosidade na vida da maioria das pessoas. No Brasil,
ainda consegue se encher estádios em cerimônias religiosas e cruzadas pela fé. Vamos ver esse
paradoxo, a partir das imagens abaixo.
 
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https://www.youtube.com/watch?v=6kO1Rl9SGWs
https://sites.google.com/ulbra.br/g000001gs002/t001?authuser=0
Assista ao vídeo sobre a secularização crescente na Europa: templos religiosos se transformam
em bares, livrarias e outros estabelecimentos comerciais.
Acaban con las Iglesias en HolandaAcaban con las Iglesias en Holanda
Já na relação com os Fundamentalismos, a Globalização introduz algumas questões para
reflexão: é possível afirmar que a formação de uma identidade híbrida realmente está em
processo na sociedade atual? Em pleno século XXI, pode-se afirmar que as diversas culturas,
com seus princípios, com suas normas e valores, com suas tradições, com sua religiosidade,
estão convivendo harmonicamente? O que dizer, então, das frequentes notícias que veiculam
intolerâncias, preconceitos, radicalismos, seja em relação à etnicidade, a grupos minoritários,
os indígenas, por exemplo, a gênero, ou mesmo em questões ligadas à religiosidade?
As questões da intolerância e do preconceito estão ligadas essencialmente ao
Fundamentalismo que, embora não seja algo novo, reaparece ou “globaliza-se” no século XXI.
Pode-se afirmar que atitudes fundamentalistas muitas vezes têm corroborado práticas e
atitudes discriminatórias para com aqueles que, por assim dizer, não se adequam a um padrão
estabelecido pela sociedade ou por determinado grupo social. O teólogo Leonardo Boff assim
conceitua o Fundamentalismo:
 
https://www.youtube.com/watch?v=6kO1Rl9SGWs
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Não é uma doutrina. Mas uma forma de interpretar e viver a doutrina. É assumir a letra das
doutrinas e normas sem cuidar do seu espírito e de sua inserção no processo sempre
cambiante da história, que obriga a contínuas interpretações e atualizações, exatamente para
manter sua verdade essencial. O fundamentalismo representa a atitude daquele que confere
caráter absoluto ao seu ponto de vista. (BOFF, 2002, p. 25)
 
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O Fundamentalismo, portanto, se caracteriza basicamente pela ideia de que existe apenas uma
verdade, expressa na opinião do próprio fundamentalista, e que outras ideias nãopodem ser
consideradas, respeitadas, sequer devendo existir (BOFF, 2002). Nesse sentido, precisamos
admitir que os “fundamentalismos nossos de cada dia” estão muito mais perto de cada um de
nós do que supomos. Convivemos e até compactuamos com posturas fundamentalistas em
diferentes áreas da vida. A polarização crescente das discussões nas redes sociais, por
exemplo, seja no campo das ideologias políticas, religiosas, morais, científicas e até
futebolísticas revelam o quanto os indivíduos estão imersos na onda dos radicalismos e
fundamentalismos na sociedade atual, marcados pela intolerância e agressividade das relações
cotidianas.
Num olhar histórico-social, identificamos exemplos clássicos de fundamentalismo. Na Idade
Média, os tribunais da Santa Inquisição assumiram posições radicais, condenando todos os que
se posicionavam contra os preceitos da Igreja. Também ideologias políticas como o Fascismo e
Nazismo são reputadas como exemplos de fundamentalismos, com efeitos nocivos à
sociedade.
O Nazismo de Adolf Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial, ao afirmar a existência de uma
“raça superior” às demais, e a necessidade de extermínio das ditas “raças inferiores”, numa
posição de eugenismo extremo, fez a humanidade presenciar os horrores dos campos de
concentração, onde milhares de judeus e outros grupos minoritários foram exterminados pelos
nazistas. De forma mais recente, o atentado do grupo fundamentalista islâmico al-Qaeda em 11
de setembro de 2001, às Torres Gêmeas do World Trade Center, matando cerca de três mil
pessoas, mostra a relação entre o fundamentalismo e a violência.
Como vai dizer Odalia, muitas vezes, atitudes violentas são justificadas sob o argumento do
“pensar diferente”. O uso da violência se torna algo corriqueiro, banal, assumindo contornos de
normalidade ao dizer que “o ato violento se insinua [...] como um ato natural cuja essência
passa desapercebida” (ODALIA, 2004, p. 23).
Com relação ao fundamentalismo religioso, nele os indivíduos e grupos se apresentam como
únicos detentores da verdade, não permitindo outras compreensões do Sagrado e do Divino
que não seja aquela considerada pelo fiel. Esse pensamento pode levar à discriminação, à
intolerância, ao desrespeito ao semelhante e, em muitos casos, até mesmo a atos de violência,
como já aconteceu no cenário social e religioso brasileiro.
É óbvio e claro que cada ser humano pode e deve eleger as suas ideias a respeito do Divino e
do Transcendental. O que está em discussão é o respeito à diversidade de pensamento, seja ele
religioso, ideológico ou moral.
Aqui se mostra a importância de conhecermos o conceito de tolerância, tal como propugnado
por Gaarder:
 
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Tolerância, ou seja, respeito pelas pessoas que têm pontos de vista diferentes do nosso, é uma
palavra-chave no estudo das religiões. Não significa, necessariamente, o desaparecimento das
diferenças e das contradições. [...] Uma atitude tolerante pode perfeitamente coexistir com
uma sólida fé e com a tentativa de converter os outros. Porém, a tolerância não é compatível
com atitudes como zombar das opi niões alheias ou se utilizar da força e de ameaças. A
tolerância não limita o direito de fazer propa ganda, mas exige que esta seja feita com respeito
pela opinião dos outros. (GAARDER, 2004, p. 14-5)
 
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Assista ao vídeo de Karen Armstrong sobre a intolerância e fundamentalismo religioso.
Karen Armstrong: 2008 TED Prize wish: Charter forKaren Armstrong: 2008 TED Prize wish: Charter for……
Cabe ao ser humano, no respeito ao seu semelhante, perceber as diversas religiões e culturas
existentes, compreender as diversas formas de religiosidade e de pensamento numa sociedade
plural e caminhar para uma convivência ética, onde possa dar testemunho do que crê sem
desrespeitar quem pensa diferente.
Passamos agora a uma outra questão contemporânea, que também está vinculada à promoção
de uma cultura de paz e de resgate de relacionamentos mais saudáveis: o tema da culpa e
perdão.
Culpa e perdão: uma questão existencial
Numa reportagem de capa da revista Veja (2002), intitulada "Culpa: por que esse sentimento se
tornou um dos tormentos da vida moderna" a revista aborda um tema de grande relevância,
não só para o campo da religião mas para toda vida relacional: o sentimento de culpa. A
reportagem procura apontar para "as culpas cotidianas de cada um", que parecem não ser uma
questão de escolha pessoal, mas sim uma realidade inexorável aos indivíduos que vivem na
sociedade moderna: competição no emprego, optar por filhos ou carreira, o desempenho
sexual, comer demais, a ditadura da beleza, o insucesso financeiro são apenas algumas dentre
as diversas culpas listadas.
Poderíamos perguntar se é possível um sujeito saudável psiquicamente olhar para o seu
passado e dizer que nunca sentiu algum tipo de culpa. Estudiosos do comportamento humano
 
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confirmam que a ausência completa de culpa é um dos indicativos para um possível
diagnóstico de psicopatia e sociopatia. Visto sob esse ângulo, a culpa parece fazer parte da
dimensão humana, sendo uma questão inclusive civilizatória, que nos permite viver em
coletividade, abarcando a dimensão da alteridade, ou seja, a capacidade de nos colocar no
lugar do outro na relação interpessoal.
O fato de ser universal não tira da culpa o seu caráter pessoal, particular e subjetivo. Há
elementos familiares, religiosos, sociais e culturais na sua constituição, ou seja, o que para
determinados indivíduos, grupos, sociedades ou culturas poderia ser considerado um ato
culposo, para outros poderá ser um costume normal ou uma prática natural.
Com relação às fontes da culpa, ela pode ser de origem interna ou externa. As culpas externas
são atribuídas ou impostas aos indivíduos pelos costumes, tradições, regras e leis dos mais
diferentes âmbitos: civis, religiosos, sociais, profissionais e mesmo pessoais. Quando uma regra
ou lei é violada, o transgressor se torna culpado perante ela, mesmo que ele não se sinta
culpado internamente, o que denominamos de culpa objetiva (COLLINS, 2004, p.158). Já a culpa
subjetiva é o sentimento pouco confortável de pesar, remorso, vergonha e autocondenação que
surge, com frequência, quando fazemos e pensamos algo que sentimos estar errado, ou
quando deixamos de fazer algo que julgamos que deveria ter sido feito (2004, p. 158).
A culpa subjetiva, portanto, está intimamente associada aos sentimentos humanos, no sentido
de provocar algum tipo de sofrimento psíquico, remetendo-nos à segunda fonte da culpa, essa
de caráter interno: a nossa própria consciência. É possível afirmar que o ser humano é dotado
de uma capacidade inata, uma voz interior que lhe dá uma intuição íntima e pessoal do que é
certo ou errado. O curioso é que a culpa subjetiva pode brotar no indivíduo mesmo quando
não há uma culpa objetiva ou exterior imposta a ele, ou seja, posso me sentir culpado por algo
que objetivamente não foi provocado por mim (exemplo: a culpa de ter sido o único
sobrevivente de uma tragédia ou acidente).
Isso nos leva a uma outra reflexão. Afinal, o sentimento de culpa é um aspecto positivo ou
negativo na vida das pessoas e da própria sociedade?
Por mais paradoxal que possa parecer, a culpa pode cumprir funções positivas e construtivas
para a vida relacional. Ela nos auxilia na prevenção de atos ilícitos ou prejudiciais, pois antes
mesmo de violar uma regra a culpa antecipatória já pode se fazer presente no indivíduo. Uma
segunda função é o ato da reflexão, pois após cometer um ato que a sua consciência apontou
como má, a culpa surge e pode levar o indivíduo a uma autoanálise crítica das suas próprias
ações. Areparação, no sentido de pedir perdão e restituir concretamente a quem lesamos
também é um aspecto positivo da culpa. Por último, a culpa pode levar o indivíduo a não mais
cometer um ato que sua consciência julgou ilícito e o fez sofrer, gerando uma mudança
positiva de comportamento.
Olhando para as funções positivas elencadas, pode-se afirmar que um indivíduo que não sinta
nenhuma culpa diante de algumas atitudes e decisões pessoais, pode tornar-se uma ameaça
para si e para a sociedade. A ausência da culpa, que parece indicar a inoperância da consciência
moral, faz com que o indivíduo perca a noção dos limites e da liberdade do outro, tornando-o
um indivíduo "perigoso" socialmente.
 
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Quanto aos aspectos negativos da culpa, esses são mais fáceis de serem percebidos. A culpa
pode cobrar um alto preço do indivíduo, como provocar crises de ansiedade, angústia,
preocupação, insônia, mau humor, baixa autoestima, melancolia, depressão e, inclusive, levar
um indivíduo a cometer o suicídio. Doenças como úlceras, gastrites, impotência, frigidez,
enxaquecas, entre outras, também podem ter um forte componente emocional ligado às culpas
individuais. Culpas reprimidas e não resolvidas se tornam, potencialmente, sintomas
neuróticos. A culpa também pode ser utilizada negativamente como forma de manipular e
chantagear pessoas. Relacionamentos pautados sobre o sentimento de culpa são nocivos, pois
geram sentimentos como pena, comiseração, rancor, indiferença, criando um ambiente não
saudável e de sofrimento aos envolvidos.
 
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Infográfico
G000001GS001 - T002 - Infográfico - Elementos da Culpa
 
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Um outro elemento que merece destaque nesse assunto que estamos tratando é a relação
existente entre a culpa e pagamento. Para o psiquiatra suíço Paul Tournier, a culpa traz como
consequência quase inevitável uma ideia de pagamento, como se houvesse uma atitude
psicológica enraizada no coração humano que nos diz que "Tudo deve ser pago". (1985, p.200).
Esse sentimento de dívida constante está presente em muitos atos religiosos. Como diz
Tournier (1985, p. 201), basta lembrar as multidões inumeráveis de fiéis hindus que mergulham
nas águas do rio Ganges a fim de serem lavados de suas culpas e até nas ofertas votivas e no
ouro que cobrem as estátuas de Buda. Igualmente, são inúmeros os penitentes e peregrinos de
todas as religiões que impõem a si mesmos sacrifícios, práticas ascéticas (privar-se de qualquer
forma de prazer) ou duras jornadas como formas de pagamento, seja por culpas cometidas ou
até por graças alcançadas. Tais pessoas parecem ter uma necessidade interna de pagar, de
expiar as suas culpas.
Porém, essa ideia de pagamento não fica circunscrita ao mundo religioso. O ser humano
também busca pagar suas culpas do cotidiano. Uma falha leve com a namorada, por exemplo,
pode ser paga com um buquê de flores e um convite para jantar. Um castigo imposto
injustamente a um filho pode ser compensado com um presente; e assim por diante.
A típica frase "Essa ele me paga!", muitas vezes repetida por nós em inúmeros e variados
contextos e situações, expressa o que estamos aqui afirmando. Todas as faltas, erros, delitos e
pecados parecem exigir um pagamento, cujo preço geralmente será proporcional ao tamanho
do erro. Na prática da confissão católica, por exemplo, a penitência que é atribuída pelo
sacerdote ao fiel normalmente será proporcional à gravidade do seu pecado.
Os pagamentos podem ser, inclusive, inconscientes. A psicanálise afirma que muitas doenças
nervosas e físicas, e até mesmo acidentes, bem como frustrações na vida profissional, podem
ser tentativas de expiação da culpa que é totalmente inconsciente. Seriam formas de punição
que o sofredor administra a si mesmo e continua repetindo indefinidamente como uma espécie
de fatalidade inexorável (TOURNIER, 1985, p. 201).
 
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Culpa e religião
Já vimos que muitas religiões também têm na culpa um de seus aspectos fundantes sendo, por
vezes, até utilizada como instrumento de domínio das igrejas sobre os fiéis. Como diz Tournier
(1985, p. 202), para apagar o passado de culpas e pecados, uma expiação (pagamento) deve ser
feita, sendo esse o sentido de quase todos os ritos e sacrifícios praticados nas diferentes
religiões. Espera-se que eles garantam a libertação da culpa descartando o débito que deu
origem a ela.
Isso pode ser percebido desde as práticas primitivas de aplacar a ira dos deuses por oferendas
e sacrifícios, quando acreditava-se que alguém havia cometido um delito grave contra os
deuses. Nas religiões orientais o conceito da transmigração das almas e da lei do carma trazem
implícita a ideia de que para evoluir espiritualmente o indivíduo precisa “pagar” as suas faltas
através de ações positivas, negação de determinadas práticas ou realização de diferentes
rituais.
Em religiões espiritualistas, afro-brasileiras e mesmo em muitas denominações cristãs, também
está presente o conceito da teologia retributiva, ou seja, de que dificuldades, doenças,
sofrimentos e tragédias seriam uma forma de pagamento por erros, más ações ou pecados
cometidos, doutrina também conhecida como “lei do retorno”.
Por um longo tempo, o cristianismo também se estruturou sobre a prática do pagamento por
culpas e pecados cometidos. Na Idade Média, era comum a venda de indulgências, que nada
mais eram do que uma compra do perdão e da salvação eternas. Além disso, havia a veneração
de relíquias sagradas, encomendas de missas pagas, realização de votos e promessas, práticas
de autoflagelo, tudo como forma de expiar as suas culpas, pagar as dívidas com Deus e ganhar
algum mérito pessoal diante Dele.
Não é essa proposta, porém, que um cristianismo comprometido com os evangelhos bíblicos e
com o ensino e obra de Jesus Cristo oferece aos seres humanos. A igreja cristã tem o
compromisso de proclamar a salvação, a graça e o perdão de Deus à humanidade oprimida
pela culpa: a salvação conquistada em Cristo, por Cristo e através de Cristo. Essa salvação não
tem preço, não pode ser comprada por ninguém, até porque, para o cristianismo, sacrifícios
expiatórios ou esforço moral não são suficientes para pagar a dívida com Deus. Na realidade, o
cristão não precisa pagar nada, pois Cristo já pagou em seu lugar. Como lembra Tournier:
 
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[...] é Deus mesmo quem paga, Deus mesmo pagou o preço de uma vez por todas, o preço mais
caro que ele poderia pagar: a sua própria morte, em Jesus Cristo, na cruz. A obliteração
(destruição/eliminação) de nossa culpa é livre para nós porque Deus pagou o preço. Jesus Cristo
veio "para salvar o que estava perdido" (Mt 18:11). (TOURNIER, 1985, p. 212-3)
Em síntese, a libertação total da culpa, a salvação, não é mais uma ideia remota de perfeição
para sempre inacessível; mas passa a ser personificada numa pessoa - Jesus Cristo - que veio
como presente de amor e misericórdia dado por Deus à humanidade. (TOURNIER, 1985, p. 214).
Essa é uma possibilidade que, racionalmente, é vista como “loucura para aqueles que não
creem”, tal como diz o apóstolo Paulo em 1 Coríntios 1.18.
O perdão como ato libertador
 
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O perdão como ato libertador
O grande ápice do nosso capítulo é a palavra "perdão". De nada adianta falar de culpas se não
abrimos a possibilidade de refletir sobre o perdão. Numa dimensão humana, das relações
interpessoais, poderíamos afirmar que o perdão é umadas mais importantes ferramentas
terapêuticas existentes nesta vida.
Numa sociedade cada vez mais pautada pela violência, intolerância, orgulho e individualismo, a
arte de perdoar se torna um dos grandes desafios humanos, a ponto de esse ser um dos
pedidos que Jesus inseriu na oração do Pai Nosso, ensinando aos seus discípulos: “[...] perdoa
as nossas dívidas (ofensas), assim como nós perdoamos aos nossos devedores (a quem nos
tem ofendido)” (Mateus 6.12). Jesus ensina e encarna o perdão, intercedendo até mesmo em
favor daqueles que o açoitaram, crucificaram e o conduziram à morte, dizendo: “Pai, perdoa-
lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23.34).
O psicólogo americano Dr. Frederic Luskin, autor do livro O poder do perdão, criador do Projeto
do Perdão da Universidade de Stanford, faz uma relação entre o bem-estar trazido pelo perdão
e a saúde do ser humano. Luskin afirma que guardar ressentimentos, culpar os outros ou
apegar-se às mágoas estimulam o organismo a liberar na corrente sanguínea as mesmas
substâncias químicas associadas ao stress, que prejudicam o corpo. Outro estudo de Luskin
indicou que as pessoas mais inclinadas ao perdão sofriam menos enfermidades e tinham
menos doenças crônicas diagnosticadas (TARANTINO, 2003).
Portanto, perdoar e pedir perdão são ações promotoras da saúde, na dimensão emocional,
física e espiritual. Sabemos, porém, que isso não é fácil. Mais do que ações, o ato de perdoar e
pedir perdão acabam sendo um longo processo que precisa ser buscado e aprimorado em
nossa vida. Numa perspectiva psicológica, o perdão sempre acontece no interior do indivíduo,
sendo uma decisão íntima e pessoal. Por isso é que perdoar e reconciliar são conceitos
diferentes. O perdoar é uma relação consigo mesmo, já o reconciliar envolve a relação com o
outro, que nos feriu. Podemos perdoar mesmo quando não houver reconciliação, até porque,
por vezes, ela é impossível de ser efetivada concretamente.
Porém, quem não consegue perdoar acaba por fazer um pacto com o agressor, no qual só vai
aumentar sua própria dor e sofrimento, ficando prisioneiro dela. Por isso é que se diz que
perdoar é libertar-se, pois quem perdoa rompe os laços com o mal feito a si, eliminando o
poder e domínio daquele que cometeu a ofensa.
Já numa perspectiva religiosa cristã, o primeiro passo para aprendermos a perdoar e a
recebermos o perdão é confiar que as nossas culpas e os nossos erros já foram todos pagos
por Deus através da morte de Jesus Cristo.
O reconhecimento dos nossos erros, que leve a um verdadeiro e sincero arrependimento, que
nos motive a viver de forma correta e a ter uma disposição interna constante em perdoar aos
outros, num compartilhamento mútuo e recíproco do perdão que nos é oferecido por Deus em
Cristo Jesus, é aquilo que o próprio Jesus ensina nos evangelhos. Nada mais de auto sacrifícios,
penitências ou sofrimentos auto impingidos.
Culpa e perdão! Questões existenciais que permanecerão atuando afligindo e ressoando nos
 
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Culpa e perdão! Questões existenciais que permanecerão atuando, afligindo e ressoando nos
corações humanos enquanto o indivíduo viver, mas cuja resolução está mais próxima do nosso
alcance do que podemos imaginar. Dentre tantas possibilidades, na visão cristã, a resposta está
na pessoa que se tornou a encarnação viva do amor, da paz, do consolo e do perdão, chamada
Jesus Cristo. Crer e apoderar-se desse perdão é a ferramenta terapêutica por excelência, fonte
de vida e alegria, da qual todos, sem exceção, podem fazer uso.
 
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Referências
ARAÚJO, João Dias. Sincretismo. In: Dicionário Brasileiro de Teologia. (Fernando Bortolleto
Filho – Org.). São Paulo, ASTE, 2008, p.930-1.
BOFF, Leonardo. Fundamentalismo: a globalização e o futuro da humanidade. Rio de Janeiro:
Sextante, 2002.
COLLINS, Gary R. Aconselhamento cristão. Edição Século 21. São Paulo: Vida Nova, 2004.
GAARDER, Jostein; HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry. O livro das religiões. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000.
HERVIEU-LÉGER, D. O peregrino e o convertido: a religião em movimento. Lisboa: Gradiva,
2005.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2011.
ODALIA, Nilo. O que é violência? 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 2004.
TARANTINO, Mônica. Perdoar é humano. Revista Isto É, 8 de janeiro de 2003, edição n.1736.
TOURNIER, Paul. Culpa e graça: uma análise do sentimento de culpa e o ensino do evangelho.
São Paulo: ABU, 1985.
Créditos
Produzido por Núcleo de Audiovisual e Tecnologias Educacionais (NATE) - ULBRA EAD
Universidade Luterana do Brasil
Todos os direitos reservados.
 
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A RELIGIÃO NO MUNDO
Prof. Mario Rafael Yudi Fukue
 
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Nesta unidade temática, você vai aprender
A compreender o fenômeno religioso como uma dimensão antropológica, constituinte
das civilizações;
A conhecer as principais formas religiosas e as principais religiões do mundo ocidental e
oriental;
A reconhecer os principais fatos da história das religiões, bem como suas consequências;
A demonstrar consciência da diversidade, respeitando o ser humano em suas diferenças
geracionais, religiosas, de acesso, credo, gênero, classes sociais, escolhas sexuais e das
pessoas com deficiência;
A analisar a importância dos valores éticos, morais e espirituais na formação integral do
ser humano.
 
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Introdução
Quem sou eu? Como foi que tudo veio a existir? Por que existe tanto sofrimento? Existe um
propósito no Universo? Se Deus existe, como faço para ser salvo? O que acontece depois da
morte? - essas são algumas questões presentes em todas as culturas humanas. São
questões existenciais, pois lidam com a existência humana. Elas formam a base de todas as
religiões e, por conseguinte, de toda a cultura humana. Conforme Gaardner, “não existe
nenhuma raça ou tribo de que haja registro que não tenha tido algum tipo de religião”
(2013, p. 11).
As culturas dos povos foram moldadas conforme as respostas que suas religiões ofereciam
às questões existenciais. Por exemplo, o conceito de Direitos Humanos tem profundas
raízes na tradição bíblica, especialmente no visão do ser humano como “criado à imagem de
Deus”.
Outro exemplo é a preferência de hindus pela culinária vegetariana por razões religiosas,
pois acreditam que todos os animais carregam um atman, grosso modo, uma alma imortal.
Além da capacidade de moldar culturas, os conceitos religiosos de um povo também
influenciam a forma como indivíduos fazem suas escolhas cotidianas. Por exemplo, um
judeu ou adventista não trabalham depois do pôr do sol da sexta-feira, que, para eles,
marca o início do sábado, dia de santificar a Deus e se dedicar ao descanso. Outro exemplo
é o pastor Dietrich Bonhoeffer que, por razões religiosas, se opôs ao regime nazista e
chegou a afirmar: “Jesus Cristo, e não homem algum ou o Estado, é o nosso único Salvador”
(Declaração de Bremen).
Em um mundo cada vez mais interconectado, você certamente trabalhará com pessoas de
diversas etnias e de variadas tradições religiosas. Mesmo aqueles que não professam
nenhuma crença específica são filhos e filhas de culturas marcadamente religiosas. Por
todas essas razões, conhecer as grandes religiões do mundo é útil para desenvolver
competências que ajudarão você a melhor se relacionar com todas as pessoas,
especialmente com aquelas que agem, creem e pensam diferentemente de você. Além
disso, esse conhecimento ajudará você a compreender melhor suas próprias questões
existenciais. Neste capítulo, começaremos nossa jornada no Oriente e conheceremos a
tradição dos hindus na Índia, os ensinos de Sidarta (Buda) e a pregação da simplicidadee da
ordem por parte de Confúcio e Lao Tsé. Depois, iremos ao Oriente Médio e estudaremos as
religiões abraâmicas que moldaram a sociedade ocidental: o Judaísmo e o Islamismo.
Para saber mais:
Direitos humanos: o que a igreja tem a ver com isso?
Dietrich Bonhoeffer: uma biografia.
 
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fwww.ultimato.com.br%2Fconteudo%2Fdireitos-humanos-o-que-a-igreja-tem-a-ver-com-isso&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNHbSuiVYVjmYD_sTOFfYRspyzGqow
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.ihu.unisinos.br%2F169-noticias%2Fnoticias-2015%2F541537-dietrich-bonhoeffer-uma-biografia&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNFVPX-fFVXOkk9HbTgsfc9gdP_nTA
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Religiões do oriente
Vamos encontrar, nesta seção, quatro grandes religiões: Hinduísmo, Budismo,
Confucionismo e Taoísmo. De cada uma podemos tirar lições transmitidas por séculos e
vividas por seguidores que buscavam sentido para a vida entre essas religiões e filosofias.
 
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G000001VD001T001.mp4
Hinduísmo
O Hinduísmo não tem fundador, nem credo fixo. Na verdade, o Hinduísmo é o conjunto de
religiões que se originam das interações entre o povo nativo do vale do rio Indo e os povos
indo-europeus, que chegaram na região 4 mil anos atrás.
A religião que surge dessas interações de povos sustenta uma visão cíclica da história. A
cada final de ciclo, o Deus Shiva dança sobre o mundo até reduzi-lo a pedaços. Depois, o
deus Brahman recria o mundo novamente.
Um hindu crê que, depois da morte, sua alma renasce numa nova criatura, humana ou
animal. O que determina a próxima existência é o carma, que aponta para o movimento de
“ação e reação”: o que você faz nesta vida determinaria sua próxima existência. Veja que a
visão cíclica também está presente na forma como o Hinduísmo explica o sofrimento e a
libertação dele. A esse ciclo de nascimento, morte e renascimento dá-se o nome de
Samsara, a roda da vida. Para se libertar da Samsara, o hindu deve dedicar-se a ações
nobres. O que determina a próxima existência é o carma, que aponta para o movimento de
ação e reação: o que você faz nesta vida determinaria sua próxima existência. Também há
no conceito de carma a ideia de ordem natural das coisas, da existência que deve ser aceita
para que o indivíduo aprenda e evolua.
 
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As Castas
Desde tempos imemoriais, sempre houve quatro varnas (cor em sânscrito). De acordo com o
RigVeda (textos sagrados hindus), as varnas se originam do sacrifício do deus Purusha: da
boca, nasceram os brâmanes (classe sacerdotal); de seus braços, vieram os guerreiros; de
suas pernas, surgiram os agricultores e artesãos; e de seus pés, os servos. Havia também os
dalits (intocáveis), que teriam nascido do pó das unhas de Purusha.
A base religiosa desse sistema é a noção de impureza e pureza. Castas baixas ocupam
trabalhos impuros para ajudar as castas altas a se manterem puras, que por sua vez
realizam rituais religiosos em favor de todas as castas. Para reencarnar em uma casta
superior, o indivíduo deve usar suas existências para melhorar seu carma.
Apesar de abolido pela Constituição indiana de 1947, o sistema de castas continua tendo um
papel importante na sociedade indiana.
Preconceito? Não é bem assim que os indianos pensam. Quer saber mais sobre as castas?
Clique aqui.
Da vaca ao conceito de ahimsa (resistência pela não-violência)
A vaca é um animal sagrado na Índia, e é considerada mais pura do que um brâmane. Para
os hindus, a vaca e todos os outros animais possuem atman (alma) e, por essa razão, não
podem ser mortos. Isso transformou muitos hindus em vegetarianos e, conforme Gaarder
(2013, p. 48) “abriu caminho para o ideal da não violência, que ficou mais tarde conhecido
com a luta de Gandhi pela independência da Índia."
Mahatma Gandhi ensina a ahimsa - a resistência pela não violência. Conheça mais de suas
ideias neste link.
 
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fsuper.abril.com.br%2Fhistoria%2Fdivisao-ancestral%2F&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNET_gbA-azarnBDP41Qw369RAvObA
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fdharmalog.com%2F2012%2F08%2F02%2Fgandhi-explica-porque-e-como-realizar-o-principio-da-nao-agressao-ahimsa-parte-indissociavel-da-verdade%2F&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNGrql1DHouMniw5VFajvC5HP5IEow
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Como se libertar do carma? Três vias de Salvação
No Hinduísmo védico, o ciclo do carma e reencarnação era visto como positivo. Mais tarde, a
reencarnação foi vista como um círculo vicioso, do qual seria necessário se libertar. No
período védico tardio, de 1000 a.C. a 500 a.C., os escritos Upanishads introduziram a noção
de Brahman, a força divina que permeia todo o universo.
Assim, três novas formas de se libertar do carma foram sendo gradualmente formados: Via
do sacrifício - o hindu deve realizar corretamente os rituais religiosos, além de seguir o
caminho do ascetismo; Via do Conhecimento - conforme os Upanishads o ser humano
alcança a libertação por meio da compreensão plena da unidade entre o atman (alma) e
Brahman; Via da Devoção - nesta via ensina-se que a libertação por meio do bhakti, isto é, a
fé e devoção a Deus, realizando os rituais sem pensar em recompensas.
O hindu empenha-se em se libertar do carma e da reencarnação e atingir o moksha, que é a
união final do atman (alma) com o Brahman. No moksha não haverá mais individualidade,
pois todos estarão dissolvidos no Brahman.
Três deuses
Até o momento, você já ouvir falar sobre Shiva, o deus destruidor, e Brahman, o deus
criador, que permeia todo o universo, mas o Hinduísmo também tem um terceiro grande
deus: Vishnu, o deus sustentador.
 
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Brahman
conhecido como o Deus criador, Senhor da Sabedoria, cultuado pelos sacerdotes. Todos
nascem dele.
 
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Vishnu
o deus mantenedor da criação.
 
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Shiva
deus renovador, senhor da vida e da morte, o deus dos iogues, retratado como um asceta,
traz a doença e a morte, mas também a cura.
 
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O hindu comum não dirige suas orações aos três grandes deuses, mas aos milhares de
divindades locais. Quase todas as aldeias têm a sua própria divindade local. Além disso, há
uma infinidade de deusas. Segundo Gaarder (2013, p. 48): “Alguns adotam a teoria de que
essa abundância de deusas não passa da expressão de uma grande e poderosa divindade
feminina, a “Rainha do Universo” ou “Deusa-Mãe””. A importância das deusas na religião
indiana é visível pela escolha da “Mãe Índia” (Bhárata Mata ou Bharthamata) como a
divindade nacional do atual Estado da Índia.
 
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Budismo
O Budismo teve início com o príncipe Siddartha que cresceu em meio à fortuna e ao luxo.
Aos 29 anos, ele teria tido o primeiro contato com um velho, um doente e um cadáver. Ao
mesmo tempo, ele teria visto um alegre asceta. Dessa comparação, ele concluiu que a vida
de conforto não concede plenitude à existência.
Siddatha renuncia à vida do palácio e parte para uma vida de ascetismo, que não lhe traz
resultados. Tendo experimentado os dois extremos, conforto e ascetismo, Siddartha conclui
que nenhum deles levavam ao nirvana. Por isso, propôs o “caminho do meio”, da meditação,
pelo qual chegou à iluminação (bodhi). Pela meditação, ele percebe que todo o sofrimento
do mundo é causado pelo desejo. Assim, é apenas suprimindo o desejo que se pode escapar
de outras encarnações.
No “Sermão de Benares”, Siddartha apresenta as quatro verdades que guiam o ser humano
na superação do sofrimento:
Tudo é sofrimento. O apego aos elementosdessa existência nos leva ao
sofrimento, tudo aquilo que amamos não dura para sempre. Tudo é maya (ilusão).
Desejo é a causa do sofrimento. Se tudo é ilusão, não há razão para se apegar ao
que quer que seja, pois sofremos sempre que perdemos o ser ou o objeto a que
somos apegados;
Quando o desejo cessa, começa o nirvana. Abandonar o desejo e conhecer a
transitoriedade da vida é a saída do carma e o início do Nirvana;
Uma pessoa alcança o Nirvana pelo caminho das oito vias:
1. entendimento justo: conhecer o caminho que conduz à cessação do
sofrimento;
2. resolução justa: não prejudicar ou matar qualquer ser vivo;
3. palavra justa: abster-se da mentira, calúnia e injúria;
4. conduta justa: abster-se de tirar a vida, de roubar e praticar a luxúria;
5. sustento de vida justo: abster-se das armas, álcool, tóxicos e de qualquer
atividade ilícita;
6. esforço justo: a vontade necessária para estancar as más qualidades que
afloram à mente;
7. pensamento justo: ter consciência do seu próprio corpo, dos sentimentos e
das atividades da mente;
8. meditação justa: a serenidade interna é desenvolvida através da prática de
meditação que, em última análise, conduz ao nirvana.
 
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Tipos de Budismo
Depois da morte de Siddartha, o Budismo se dividiu em duas tendências: o Theravada (“a
escola dos antigos”), predominante no sul da Ásia e o Mahayana (“grande veículo”),
predominante na China, Coréias e Japão.
O Budismo Theravada enfatiza a salvação por meio de ascetismo e meditação. Não há
deuses. E nem mesmo Buda seria capaz de iluminar alguém. Cada indivíduo deve imitar o
exemplo de buda até atingir o Nirvana. Nessa linha de Budismo, o nirvana só é possível para
monges.
Conheça mais do Budismo Theravada e Mahayana, assistindo o vídeo:
 
https://www.youtube.com/watch?v=HVfaZx6RtbA
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Theravada e Mahayana - Duas Principais Escolas de BudismoTheravada e Mahayana - Duas Principais Escolas de Budismo
O Budismo Mahayana, por seu turno, ensina que todas as pessoas podem alcançar o
nirvana. A famosa escola Zen Budista, por exemplo, enfatiza a “visão direta” de Buda por
meio de um estudo e contemplação de si mesmo. Na prática zen, a iluminação também
pode ocorrer nas atividades rotineiras. Por esse motivo, no Japão, atividades como fazer
arranjo de flores (ikebana), tomar chá, poesia (haicai) e lutar (bushidô) passaram a ter
importância ritualística.
Assista A esse vídeo e compreenda a diferença entre as escolas budistas:
 
https://www.youtube.com/watch?v=HVfaZx6RtbA
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https://www.youtube.com/watch?v=VdP33BFaopA
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O que diferencia o Zen das outras tradições budistas? - Monja Coen - Série SERO que diferencia o Zen das outras tradições budistas? - Monja Coen - Série SER
Confucionismo e Taoísmo
Com seu PIB de 12,7 trilhões de dólares (2017), a China é segunda maior potência
econômica. Provavelmente, hoje ou no futuro próximo, seu trabalho e relações terão algum
ponto de contato com o maior país da Ásia. Por isso, conhecer as religiões que formaram a
cultura e religiosidade chinesa são importantes.
Confucionismo
Confúcio nasceu em 551 a.C em uma China devastada pelas guerras civis. Depois de tentar
reformar o país pela via política, se estabelece como professor particular. A filosofia de
Confúcio não dedica muita atenção às grandes perguntas existenciais, mas à vida diária e a
busca por harmonia. Ele está mais preocupado com uma visão política pragmática do que
com o destino da alma após a morte. Ele teria dito: “quando não se compreende nem
sequer a vida, como se pode compreender a morte?”.
 
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Ensinos
Confúcio buscava o tao, a harmonia predominante do Universo, que só pode ser alcançada
com conhecimento e compreensão. Nesse ponto, o estudo da tradição era capaz de ensinar
ao ser humano as regras éticas corretas, as celebrações rituais corretas e seu lugar correto
na sociedade. Para Confúcio, os conceitos de uma atitude correta em todas as esferas são
piedade filial, respeito e reverência.
Outro ponto do ensino de Confúcio é a simplicidade como base da harmonia. Por isso, um
mundo em paz começa com honra do indivíduo. Para ele, se um indivíduo possui honra, terá
caráter. Se tem caráter, seu lar terá harmonia. Se há harmonia na família, o país estará em
paz. E países em paz produzem um mundo harmonioso. Quer mudar o mundo? Comece
com seu quarto.
O Confucionismo conquistou as classes dominantes, tornando-se praticamente uma religião
estatal, que influencia a forma chinesa de pensar até hoje. O coração do povo simples não
foi conquistado por Confúcio, mas por Lao Tsé, fundador do Taoísmo.
Taoísmo
A origem do taoísmo é apresentada com o nome de um homem chamado Lao-Tsé, o grande
e velho mestre. Teria sido contemporâneo de Confúcio.
O Livro Sagrado e seus conceitos
Uma boa ideia do início do taoísmo, como conta a tradição, é o que lemos no texto de
Huston Smith (2001, p. 194), que assim coloca:
 
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Lao-tsé (...) recolheu-se durante três dias e retornou com um magro volume de 5.000
caracteres intitulado Tao Te King, ou O Caminho e o seu Poder. (...) Um livrinho de apenas 25
páginas e 81 capítulos.
No Tao Te King, tudo gira em torno do Tao, que literalmente significa “caminho”. Esse
caminho pode ser entendido de três maneiras: 1- Tao é o caminho da realidade última; 2-
Tao é o caminho do Universo, o poder propulsor de toda a natureza, o princípio ordenador
por trás da vida; 3- O Tao refere-se ao caminho da vida humana, quando ela se harmoniza
com o Tao do Universo.
 
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Yin/yang
Uma das principais características do taoísmo é a sua noção da relatividade de todos os
valores e, como ideia correlata, a identidade dos opostos. Nesse aspecto, o taoísmo está
ligado ao tradicional símbolo chinês do yin/yang.
 
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Essa polaridade resume todas as oposições básicas da vida: bem/mal, ativo/passivo, etc.
Mas as metades, embora estejam em tensão, se contemplam e se equilibram com a outra.
“A vida não se dobra sobre si mesma, e chega, completando o círculo, à percepção de que
tudo é um e tudo está bem” (SMITH, 2001, p. 210).
O conceito de Tao e Ying/Yang está presente na realidade brasileira, especialmente em
práticas vindas da China, tais como terapias chinesas do Do-In, Acupuntura e Reiki, Feng-
Shui (harmonização de ambientes), artes marciais como Kung Fu.
Quer conhecer mais desse conceito? Leia neste link e assista esse vídeo.
Religiões Abraâmicas
O que Cristianismo, Judaísmo e Islamismo têm em comum? Seus seguidores adoram
somente um Deus, Senhor e Criador de tudo. As três religiões possuem origem no patriarca
Abraão, por isso também são chamadas de religiões abraâmicas. Neste capítulo,
estudaremos o Judaísmo e o Islamismo.
 
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.revistahcsm.coc.fiocruz.br%2Fyin-e-yang-a-harmonia-vital-na-cosmologia-chinesa%2F&sa=D&sntz=1&usg=AFQjCNHuPgSRSItsb_VekUTV0sXFSAkSQg
https://www.youtube.com/watch?v=cqj3i_6YDSM
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G000001VD001T002.mp4
 
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Judaísmo
O Judaísmo possui muitas narrativas que são compartilhadas pelo Cristianismo e Islamismo.
O Monoteísmo das religiões abraâmicas reconhece “Elohim” como o Deus único, o criador
do mundo e de suas criaturas. Toda vida depende dele e tudo o que é bom flui dele. É um
deus

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