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Educação Física no Ensino Médio W B A 0 2 18 _ v1 _ 0 2/238 Educação Física no Ensino Médio Autoria: Harian Pires Braga Como citar este documento: BRAGA, Harian. Educação Física no Ensino Médio. Valinhos, 2017. Sumário Apresentação da Disciplina 04 Unidade 1: As principais tendências pedagógicas para o ensino da Educação Física no ensino médio 06 Assista a suas aulas 27 Unidade 2: As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Física no ensino médio 38 Assista a suas aulas 57 Unidade 3: A Educação Física e os conteúdos programáticos no ensino médio 67 Assista a suas aulas 88 Unidade 4: Cultural corporal do movimento e a Educação Física no ensino médio 95 Assista a suas aulas 111 2/238 3/2383 Unidade 5: O ensino do conteúdo luta no ensino médio: críticas e possibilidades 120 Assista a suas aulas 138 Unidade 6: O ensino do conteúdo esporte no ensino médio: críticas e possibilidades 148 Assista a suas aulas 169 Unidade 7: Aspectos didáticos e metodológicos da prática pedagógica da Educação Física no en- sino médio 179 Assista a suas aulas 199 Unidade 8: Reflexões sobre corpo, saúde e beleza no ensino médio 210 Assista a suas aulas 228 Sumário Educação Física no Ensino Médio Autoria: Harian Pires Braga Como citar este documento: BRAGA, Harian. Educação Física no Ensino Médio. Valinhos, 2017. 4/238 Apresentação da Disciplina A reestruturação do sistema de ensino no Brasil a partir dos anos de 1980 – e prin- cipalmente com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB – Lei nº 9394/96) – conferiu ao Ensino Médio (EM), antigo 2º grau, agora etapa fi- nal da educação básica, a função de possi- bilitar ao educando “vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social” (Art.1º § 2º da Lei nº 9.394/96) (BRASIL, 1996). Como direito social, o EM deve possibilitar o diálo- go múltiplo com as tecnologias, com uma formação cidadã e de protagonismo dos sujeitos no mundo do trabalho. Estas nuances foram melhor definidas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio de 1999. Nesse documento é explic- itado o local da Educação Física (EF) na es- trutura pedagógica, alocada na área de Lin- guagem, Códigos e suas Tecnologias, desta- cando “as atividades físicas e desportivas como domínio do corpo e como forma de expressão e comunicação” (BRASIL, 1999), ou seja, dentro das linguagens o corpo pos- sui papel fundamental e é na EF que se con- strói seu espaço de reflexões e de debates. Nesta disciplina, você estudará como a EF insere-se no EM, não só do ponto de vista dos conteúdos a serem trabalhados, mas como um componente curricular dotado de especificidades, que tem no corpo sua cen- tralidade, com significados culturais. Nesse sentido, não se pode perder de vista que a EF deve ser pensada como parte da formação integral dos educandos, expandindo a per- cepção de que a fase final do ensino básico seja apenas um preparatório para o ensino 5/238 superior ou simples aprofundamento dos conhecimentos trabalhados no ensino fun- damental. O EM possui objetivos e carac- terísticas próprias. 6/238 Unidade 1 As principais tendências pedagógicas para o ensino da Educação Física no ensino médio Objetivos 1. Compreender a construção histórica da Educação Física escolar a partir das grandes tendências pedagógicas vi- venciadas no Brasil. 2. Conhecer as principais tendências pe- dagógicas da Educação Física escolar, pensando-as para o ensino médio. 3. Compreender as limitações e as pos- sibilidades que cada uma das princi- pais tendências pedagógicas oferece ao trabalho docente. Unidade 1 • As principais tendências pedagógicas para o ensino da Educação Física no ensino médio7/238 Introdução Quando se pensa em tendências pedagó- gicas, incorre-se no erro de apenas carac- terizá-las, sem de fato compreendê-las. Nesse sentido, grandes quadros esque- máticos tendem a ganhar forma. Estas sis- tematizações podem auxiliar na melhor compreensão das particularidades de cada tendência pedagógica, contudo, é preciso pensar como cada uma delas é constituída no sentido epistemológico, como suas pos- sibilidades e limitações contribuem para o trabalho docente e compreender que estas tendências não são estanques, mas dinâmi- cas e possíveis de ressignificação. O docente, ao trabalhar com as tendências pedagógicas, deve vislumbrar ações em sua prática cotidiana, respeitando as bases te- órica em que estão fundadas e manter sin- tonia com as dinâmicas escolares. Por mais que uma tendência possa chamar atenção, não se deve apropriá-la como uma receita pronta, pois ela deve estar relacionada aos objetivos gerais da rede de ensino em que está inserida a escola, bem como – e mais importante – com o Projeto Político Peda- gógico que a unidade possui. Essa combi- nação é que possibilita sentido à aplicação das tendências e que confere, a partir das percepções e vivências do docente, singu- laridade dentro do ambiente escolar. Como já descrito, deve-se respeitar as ba- ses epistemológicas nas quais estão assen- tadas tais tendências, sob pena de perder a coerência de cada uma delas, caso con- trário. Desse modo, por mais que o docen- te possa dialogar e transitar entre duas ou Unidade 1 • As principais tendências pedagógicas para o ensino da Educação Física no ensino médio8/238 mais tendências, não será possível que o trânsito ocorra sem embasamento prévio, com a leitura dos autores relevantes. Tam- bém é preciso dizer que esse intercâmbio tem limitações práticas: tendências base- adas em áreas distintas do conhecimento, como a saúde renovada – embasada nas ci- ências da saúde – e a crítico-superadora – embasada nas humanidades – não conse- guem estar totalmente alinhadas em uma mesma aula. Tentar essa amálgama entre visões epistemológicas distintas pode fra- cassar pedagogicamente, não alcançado os objetivos proposto para o trabalho. Por isso, mais do que sincretismo, é preciso coerên- cia na proposta. 1. Tendências históricas: higie- nismo e esportivização Ainda que não houvesse a denominação Educação Física, muito menos a ideia de en- sino médio, no final do século XIX, a ativida- Link Depois de compreender as principais tendências, é interessante buscar referências práticas. Nesse sentido, o Ministério da Educação organizou um fórum, no qual professores de todo o país podem postar e discutir planos de aula. Disponível em: <http://portaldoprofessor. mec.gov.br/buscarAulas.html>. Acesso em: 28 jan. 2017. http://portaldoprofessor.mec.gov.br/buscarAulas.html http://portaldoprofessor.mec.gov.br/buscarAulas.html Unidade 1 • As principais tendências pedagógicas para o ensino da Educação Física no ensino médio9/238 de física – por vezes chamada de ginástica – estava presente no currículo das escolas com a finalidade de promover a higiene, o aprimoramento do corpo e certo progresso coletivo em nome da nação (SOARES, 1994). Eram os tempos do higienismo. O discur- so higienista não estava apenas na EF, mas nela encontrou meios de ecoar nas escolas e atuar nas gerações futuras (GOES; SOARES; MELLO, 2015). Com o caminhar do conheci- mento em EF e as transformações sociais do século XX, o discurso higienista perdeu sua força hegemônica. Compreender a dimensão do higienismo na EF contribui para perceber como, em seu surgimento na escola, a disciplina estava menos focada em objetivos pedagógicos e conteúdos programáticos e mais em ser- vir de base a um projeto maior. A limitação dessa visão, assentada nas Ciências Bioló- Para saber mais O higienismo é uma doutrina que surgiu na Euro- pa no século XIX, num momento de forte cresci- mento das cidades e de atenção à saúde dos seus moradores. Reformas urbanas e sanitárias foram executadas (Paris, Viena, Rio de Janeiro) e um for- te aporte teórico (nas escolas, pelas ginásticas) empregado na busca por corpos saudáveis. Unidade 1 • As principais tendências pedagógicas para o ensino da Educação Física no ensino médio10/238 gicas, consiste em desconsiderara dimen- são sociocultural dos indivíduos, bem como não conferir à EF um conhecimento próprio, sendo apenas uma prática corporal, sem re- flexões pedagógicas. A partir da década de 1950, essa vertente perdeu espaço e, nos anos da Ditadura Civil Militar (1964-1985), assistiu ao protagonismo de outra concep- ção biológica da EF: o treinamento esportivo. Dialogando com um momento de intenso nacionalismo e com a ideia de construção de uma nação melhor, o treinamento esportivo adentrou à escola e fez da EF sinônimo de esporte. Sua força no ambiente escolar foi tão intensa, que apesar de produções aca- dêmicas contrárias a essa concepção terem surgido a partir dos anos 1970, ela ainda está presente nos ambientes escolares. Seu cerne é justamente reproduzir as lógicas do treinamento esportivo, focando, espe- cialmente, em esportes coletivos. Assim, a escola era vista como celeiro para possíveis atletas (BRACHT, 1999). No EM a ideia pode ser ainda mais fecunda, pois ao tratar de jo- vens, na maioria entre 14 e 17 anos, tem-se a possibilidade de afinar processos de re- produção do alto rendimento, como a me- lhoria física e a periodização do treino. O treinamento esportivo na escola supri- miu também a dimensão sociocultural do corpo e, por vezes, criou pontos de segrega- ção. Como uma das diversas manifestações corporais, o esporte está entre aquelas de maior destaque. Seu emprego ainda é per- cebido por uma junção entre as familiarida- des de vivências e a subordinação da EF ao Unidade 1 • As principais tendências pedagógicas para o ensino da Educação Física no ensino médio11/238 caráter meramente recreativo. Sua limita- ção consiste justamente em deslocar parte dos sentidos do esporte (cultura, identida- de, lazer, trabalho) para uma zona delinea- da apenas pela dimensão física e pelo ren- dimento. 2. Principais tendências con- temporâneas Traçar as principais tendências contem- porâneas da EF é uma escolha. Ao abordar algumas delas, outras ficarão em segundo plano. O critério de escolha adotado para esta disciplina perpassa a relevância de tais tendências para o EM, a produção acadê- mica que cada uma suscitou desde os anos 1990 e, por fim, a recorrência nos estudos clássicos sobre o tema. Para este trabalho foram utilizados os artigos de Soares (1996); Bracht (1999); Darido (2001) e a dissertação de Souza Júnior (1999). Esses são trabalhos clássicos e que delimitaram as bases do que se entende atualmente como tendências pedagógicas na EF. Link O Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte realiza bianualmente o Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte (CONBRACE), um dos eventos mais im- portantes de discussão da Educação Física esco- lar no Brasil. Disponível em: <http://www.cbce. org.br/anais.php>. Acesso em: 28 jan. 2017. http://www.cbce.org.br/anais.php http://www.cbce.org.br/anais.php Unidade 1 • As principais tendências pedagógicas para o ensino da Educação Física no ensino médio12/238 Há uma divisão recorrente em tendências propositivas e não propositivas, ou seja, aquelas que se propõe a uma nova EF esco- lar sistematizada e com parâmetros e aque- las sem grande rigor na delimitação meto- dológica (CASTELANI FILHO, 1993). Mesmo tendo como foco o EM, não se pode descartar que duas tendências utilizadas intensamente no ensino infantil e no ensino fundamental ecoam na formação do pro- fissional de EF. Ainda que não centrais, suas ideias-chave podem contribuir para a práti- ca docente. Baseada em estudos de Jean LeBouch, a par- tir dos anos de 1970, a psicomotricidade uti- lizou-se de preceitos da psicopedagogia para construir aulas nas quais a aprendizagem e o desenvolvimento psíquico e motor fossem centrais, assim, a EF assessoraria o ensino de outros componentes curriculares (SOARES, 1996). No EM, tem-se como pressuposto, que muito dessa aprendizagem do movimento já foi ou deveria ter sido trabalhada, o que limi- ta esta tendência pedagógica. Para saber mais Nas referências bibliográficas encontra-se a in- dicação de um artigo que apresenta um quadro esquemático sintetizando essa classificação (pá- ginas 06-08). O artigo é de Azevedo e Shigunov (2000) e serve como resumo para aprofundar os estudos. Contudo, aqui, não será empregada a ideia de divisão em categorias. Unidade 1 • As principais tendências pedagógicas para o ensino da Educação Física no ensino médio13/238 Mais tarde, a partir dos trabalhos de Freire (1989), a psicologia também ganhou força em outra tendência pedagógica, a constru- tivista. Para os autores que trabalham nes- ta perspectiva, os saberes prévios dos edu- candos devem ser valorizados e, a partir de- les, devem ser construídos novos saberes. Para a EF, trabalhando a cultura corporal, o brinquedo e o brincar, os jogos e as ma- nifestações populares ganham força. Ain- da que no EM o trabalho seja desenvolvido com adolescentes e que haja uma resistên- cia ao brincar, o resgate dos conhecimentos prévios e dessa cultura popular parecem adequados. Para saber mais A ideia de cultura popular tem concepções diver- sas, mas pode ser sintetizada como aquela cultu- ra praticada pelo povo (danças, culinárias, jogos, artes cênicas, músicas, festas) e que se perpe- tua pela tradição oral. Sua maior horizontalida- de opõe-se à cultura das elites ou erudita, muito mais rígida em seus códigos escritos. Também fundamentada na Psicologia, a abordagem desenvolvimentista foi traba- lhada, principalmente, pelo grupo de pro- fessores da Universidade Estadual de São Paulo (USP), Go Tani e Edson Jesus Manuel. As ideias-chave estão em Tani et al (1988) e focam na aquisição de habilidades loco- motoras (andar), manipulativas (arremes- Unidade 1 • As principais tendências pedagógicas para o ensino da Educação Física no ensino médio14/238 sar) e de estabilização (flexionar), divididas por faixas etárias. O movimento torna-se protagonista no processo de aprendizagem motora, partindo das habilidades mais sim- ples até as mais específicas. Sua distinção em relação à psicomotrici- dade está justamente em manter a especi- ficidade da área, sendo que o processo de aprendizagem motora é fim em si mesmo e não mera base para outros aprendizados. Nesse sentido, cada idade tem movimentos e aprendizagens esperados, fazendo uso do esporte, da dança, dos jogos como estraté- gia para alcançá-los. As críticas feitas a esta abordagem recaem justamente na preocupação com as habili- dades e na descontextualização do movi- mento. Sendo o corpo produtor de lingua- gem, subtrair seus sentidos socioculturais, sua historicidade e relação com o entorno pode ser limitante. Ainda que sua poten- cialidade esteja no ensino fundamental, no qual o processo de aprendizagem motora é mais intenso, a proposta de movimentos complexos de acordo com a idade permite seu uso no EM como forma de aumentar o repertório motor destes alunos. Vale frisar novamente que, diferente da psi- comotricidade, na qual a EF ajuda no desen- volvimento do educando – especialmente das crianças – e é coadjuvante junto aos outros componentes, a concepção desen- volvimentista faz uma defesa do conteúdo da área – o movimento humano – e busca um aprendizado específico, sistematizado e etário. Unidade 1 • As principais tendências pedagógicas para o ensino da Educação Física no ensino médio15/238 Contemporânea à abordagem desenvolvimentista, mas fazendo uso da Sociologia e da História, especialmente, por um viés marxista, a tendência crítico-superadora possui grande apelo nos meios acadêmicos (DARIDO, 2001) e na atuação escolar. A obra clássica do Coletivo de autores (1992) propôs uma abordagem que despertasse a criticidade dos educandos, sem perder de vis- ta a diversidade das manifestações da cultura corporal. Para saber mais Marxismo – doutrina filosófica elaborada por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) com base no materialismo dialético, ou seja, na crença de que o desenvolvimento humano se deuatravés da relação entre o capital e o trabalho, que aborda, especialmente, as lutas de classes; possui grande influ- ência nas Ciências Humanas contemporâneas, tendo sofrido diferentes abordagens e releituras ao longo do século XX. Alinhada aos movimentos oriundos da redemocratização dos anos de 1980 no Brasil, a perspec- tiva trouxe um olhar das humanidades para a Educação Física. Assim, os saberes próprios da área – jogo, esporte, dança, capoeira, ginástica, lutas – passaram a ser tratados não apenas como movimentos simples, mas como linguagens com sentidos sociais, que cada educando carrega. A Unidade 1 • As principais tendências pedagógicas para o ensino da Educação Física no ensino médio16/238 compreensão crítica dessa realidade, ques- tionando o mundo em que se está inserido é a chave da abordagem crítico-superadora. A cultura corporal desenha-se como força transformadora da realidade. As críticas aplicadas a esta abordagem ver- sam principalmente sobre a falta de pro- postas práticas e os objetivos demasiado abstratos que compõem as sugestões de aula (DARIDO, 1988). Também é possível pensar no foco excessivo na ideia de clas- se, desconsiderando aspectos individuais e culturais. Ainda na perspectiva das humanidades, te- mos a abordagem crítico-emancipatória, expressa por Kunz (1994). Baseada nas lei- turas da Teoria Crítica da Escola de Frank- furt, há a ideia de cultura de movimento, tendo no esporte seu principal foco. Essa preponderância no esporte, diminuindo a diversidade das manifestações trabalha- das, é raiz de críticas sofridas pela aborda- gem, contudo, tem-se que ponderar como o esporte é proposto. Para saber mais A Escola de Frankfurt refere-se a um grupo im- portante de pensadores alemães que, a partir dos anos de 1920, propuseram novas leituras para te- mas marxistas, tais como: o papel do materialis- mo histórico, o conceito de história, a tomada da consciência de classe, a cultura, a arte, a literatu- ra, a indústria cultural. Adorno, Benjamin, Haber- mas, Horkheimer e Marcuse são alguns de seus expoentes mais ilustres. Unidade 1 • As principais tendências pedagógicas para o ensino da Educação Física no ensino médio17/238 Diferentemente de um ensino técnico do es- porte, este autor propõe atividades que te- nham o esporte como palco de observação da realidade, fugindo da mera reprodução do alto rendimento. Através de uma trans- formação didático-pedagógica, o esporte combateria falsas ilusões da realidade, des- pertaria uma criticidade emancipatória nas crianças e nos jovens que poderiam, assim, reconstruir a realidade e libertar-se de suas limitações (DARIDO, 2001). Kunz (1994) dialogou com as propostas da tendência crítico-superadora, contestando sua ação pouco prática no trabalho dos con- teúdos, bem como sua reprodução do mo- delo tradicional de esporte. Nesse diálogo, recebeu críticas de Tafarrel e Morschbacker (2013) de que sua visão de emancipação po- deria incidir numa passividade e que a trans- formação social proposta não pode excluir o conflito, especialmente o de classes. Continuando dentro da área de humani- dades, temos também a abordagem sistê- mica de Betti (1991). Em seu escopo está a interpretação de que a EF compõe um sis- tema de hierarquias abertas que é influen- ciado e influencia a sociedade no entorno. Assim, os educandos não devem apenas saber correr e jogar basquete, mas enquan- to atividades motoras importantes, devem compreendê-las. Nas aulas, são centrais a diversidade e a não exclusão, permitindo aos educandos torna- rem-se cidadãos que vivenciam ativamen- te as formas culturais das atividades (BET- TI,1992). Se nos dias atuais os princípios da Unidade 1 • As principais tendências pedagógicas para o ensino da Educação Física no ensino médio18/238 diversidade e da não exclusão parecem câ- nones, a abordagem de Mauro Betti foi uma das pioneiras ao articulá-los com a prática docente. Ainda que muito influente nas pesquisas e com significativo número de seguidores, tanto no ensino superior quanto no ensino básico, a abordagem deste autor sofre crí- ticas por possíveis limitações propositivas, ou seja, haveria dificuldades de aplicar esta abordagem na prática. No campo teórico haveria uma menor preocupação com as condições da sociedade e uma maior aten- ção às relações simbólicas. Por fim, deve-se falar da saúde renovada ou aptidão física. Tendo em Nahas (1997), Guedes e Guedes (1996) seus autores mais relevantes, esta tendência assenta-se nas Ciências Biológicas. Seu foco é a promoção da saúde, incorporando ao ambiente esco- lar noções de boa alimentação, atividade fí- sica, higiene, qualidade de vida e saúde co- letiva. Assim procura-se combater os males ligados ao sedentarismo e ao sobrepeso, garantindo-lhes condições de serem cida- dãos saudáveis. O tema saúde é parte dos Parâmetros Curri- culares Nacionais, não apenas na Educação Física, mas também como tema transversal e é fundamental dentro de um projeto de formação cidadã. As críticas a esses auto- res baseiam-se na ideia de que a aborda- gem pode incidir num novo higienismo ou mesmo na preponderância da aptidão fí- sica. A réplica é justamente alinhar-se aos Unidade 1 • As principais tendências pedagógicas para o ensino da Educação Física no ensino médio19/238 preceitos pedagógicos e ter na saúde uma dimensão que também contemple aspectos sociais. Outras tendências também podem ser es- tudadas e têm muito a contribuir ao traba- lho docente, tais como: as aulas abertas de Hildebrandt e Laging (1986), que propõe a construção coletiva das aulas; a Educação Física plural de Daolio (1993) com bases na Antropologia Social e que busca compreen- der o movimento como construção cultu- ral; a Educação Física humanista de Olivei- ra (1985) com a promoção do crescimento pessoal do aluno e a interação afetiva do docente no ambiente escolar. A ideia de uti- lizar jogos cooperativos como meio de en- sino e promover a cooperação em sentido amplo também é uma tendência, ainda que incipiente (BROTTO, 1995). Além disso, não se pode desconsiderar também o peso da esportivização, ainda muito presente nos ambientes escolares. Link Para conhecer mais produções sobre as demais tendências pedagógicas ou mesmo aprofundar seus estudos sobre aquelas abordadas, é possível utilizar o banco de dados do Centro Esportivo Vir- tual, com textos acadêmicos de Educação Física e áreas correlatas de todo o Brasil e contribuições estrangeiras. Disponível em: <http://cev.org. br/>. Acesso em: 28 jan. 2017. http://cev.org.br http://cev.org.br Unidade 1 • As principais tendências pedagógicas para o ensino da Educação Física no ensino médio20/238 Glossário Cidadania: conjunto de deveres e direitos que caracterizam um sujeito em vida coletiva; são va- lores mutáveis e construídos historicamente dentro das realidades sociais abordadas. Epistemológico: refere-se às bases em que um conhecimento humano é produzido, buscan- do compreender suas origens, naturezas e referências. A Epistemologia é também conhecida como Ciência do Conhecimento. Humanidades: conjunto de conhecimentos sistematizados com método e objeto e que tem nas relações humanas seu centro. Ex.: Antropologia, História, Sociologia. Pedagógico: relacionado à pedagogia, que é conjunto de teorias e de práticas de ensino e de aprendizagem, sistematizadas com métodos, objetivos e referenciais teóricos. Questão reflexão ? para 21/238 Foram apresentadas algumas das tendências pedagógicas da Educação Física escolar. A apresentação sintética des- sas tendências não exclui a leitura dos textos originais dos autores que trazem propostas de atuação docente. Trans- formar essas tendências numa aula pode ser muito com- plexo, no entanto, é o caminho para que o sucesso ocorra. Escolha uma das abordagens, pesquise artigos acadêmi- cos sobre sua aplicação na escola e prepare uma aula que dialogue com a tendência. 22/238 Considerações Finais• Pensar nas tendências pedagógicas inclui compreender as bases epistemo- lógicas, as ideias centrais dos autores e seus objetivos. • O higienismo e o treinamento esportivo foram duas das tendências mais contundentes na Educação Física escolar até os anos de 1980. • Psicomotricidade, construtivismo e desenvolvimentismo focam-se em as- pectos psicológicos e motores e na aprendizagem dos movimentos. • Teorias críticas (superadora e emancipatória) e a sistêmica possuem aspec- tos das humanidades e buscam no movimento formas de entender a realida- de social e até mesmo transformá-la. • Na saúde renovada é na promoção da saúde, dialogando com as Ciências Biológicas, que está o foco das aulas. Unidade 1 • As principais tendências pedagógicas para o ensino da Educação Física no ensino médio23/238 Referências AZEVEDO, E.; SHIGUNOV, V. Reflexões sobre as abordagens pedagógicas em educação física. Ki- nein - Revista de Estudos do Movimento Humano, Florianópolis, v.1, n.1, jul-dez. 2000. Dispo- nível em: <http://kinein.sites.ufsc.br/edit01/artigo2.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2017. BETTI, M. Educação física e sociedade. São Paulo: Movimento, 1991. ______. Ensino de primeiro e segundo graus: educação física para que? Revista Brasileira de Ci- ências do Esporte, v. 13, n. 2, p. 282-287,1992. BRACHT, V. A constituição das teorias pedagógicas da educação física. Cadernos do CEDES (UNI- CAMP), Campinas, v. 19, n.48, p. 69-88, 1999. BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. LDB - Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília : MEC, 1996. ________. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. 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Educação física escolar: seleção, organização e sistematização de conteúdos de ensino. In: Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, X. Anais. v. 1, p. 138, 1997. ______. O saber e o fazer pedagógicos: a educação física como componente curricular...? Isso é história? Recife: EDUPE, 1999. TAFFAREL, C. N. Z.; MORSCHBACKER, M. Crítica à teoria crítico-emancipatória: um diálogo com Elenor Kunz a partir do conceito de emancipação humana. Corpus et Scientia, v. 9, p. 45-64, 2013. TANI, G. et al. Educação física escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: EPU, 1988. http://lattes.cnpq.br/5691238604320892 27/238 Assista a suas aulas Aula 1 - Tema: As Principais Tendências Peda- gógicas para o Ensino da Educação Física no Ensino Médio. Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- 1d/25ad6038868a2b5656d656cf45fe231f>. Aula 1 - Tema: As Principais Tendências Peda- gógicas para o Ensino da Educação Física no Ensino Médio. Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ b3e27846e6350999ffa028917c9a0fe0>. http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/25ad6038868a2b5656d656cf45fe231f http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/25ad6038868a2b5656d656cf45fe231f http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/25ad6038868a2b5656d656cf45fe231f http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/b3e27846e6350999ffa028917c9a0fe0 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/b3e27846e6350999ffa028917c9a0fe0 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/b3e27846e6350999ffa028917c9a0fe0 28/238 1. Tendo em vista que as tendências pedagógicas são reflexões de diferentes autores, a partir de suas leituras e vivências, e que possuem dinamismos ao serem utilizadas no trabalho docente, assinale a resposta que melhor ex- pressa a utilização prática de uma dessas tendências: a) A aplicação de uma tendência pedagógica deve levar em consideração sua dimensão teórica e coerência interna e o plano de aula do docente, mas, nesse caso, desconsidera-se o Pro- grama Político Pedagógico da unidade de ensino, que é um documento de bases gerais e não reflete o universo escolar. b) Todas as tendências podem ser trabalhadas em conjunto, independentemente das bases epistemológicas nas quais estão fundadas, bastando uma leitura crítica por parte do docen- te. O que se tem na verdade é uma visão diferente e complementar de Educação Física por cada uma das tendências pedagógicas, sendo possível o diálogo entre Ciências Biológicas e humanidades. c) O Projeto Político Pedagógico da unidade de ensino é decisivo na escolha da abordagem, devendo o docente apenas adaptar-se àquilo que o documento prevê. Nesse sentido, o do- Questão 1 29/238 Questão 1 cente deve ter uma formação plural para adaptar-se melhor ao que o coletivo demanda e a escolha da tendência pedagógica deve estar em sintonia com os objetivos traçados coleti- vamente. d) A tendência pedagógica deve ser aplicada pensando na dimensão teórica em que foi con- cebida, respeitandoas bases epistemológicas e os possíveis pontos de convergência e di- vergência com outras tendências e articular desde a formação do docente até o Programa Político Pedagógico da unidade de ensino. e) A aplicação prática não é algo que as tendências pedagógicas preconizam, devendo essa atuação do cotidiano estar a cargo do docente, que tem total autonomia intelectual para delimitar as práticas que serão trabalhadas. As tendências servem, assim, como instrumen- tos guias de caráter apenas teórico. 30/238 2. Do final do século XIX até a década de 1980, formar uma nação for- te, saudável e ordeira foi tema dominante na Educação Física. Sobre esse tema, leia e analise as afirmativas e classifique V para as verdadeiras ou F para as falsas: ( ) O higienismo estava vinculado a uma ideia de construção nacional ampla, no qual o corpo saudável seria fundamental para a criação de uma nação saudável. ( ) No higienismo, a dimensão pedagógica não possuía tanta relevância quanto a dimensão bio- lógica, mesmo que houvesse uma tentativa de ensino do corpo são e saudável. ( ) No treinamento esportivo, tanto o esporte de alto rendimento quanto o esporte inclusivo es- tavam alinhados com os objetivos pedagógicos da escola. ( ) O treinamento esportivo resumiu, por vezes, a Educação Física ao esporte em sua concepção de atividade e preparo físico. ( ) Tanto o higienismo, como o treinamento esportivo estavam alinhados à ideia de construção de uma grande nação. Questão 2 31/238 Questão 2 Em seguida, assinale a alternativa que traz a sequência correta: a) V – V – F – V – V. b) V – F – F – V – V. c) V – V – F – V – F. d) F – V – F – V – V. e) F – V – F – V – V. 32/238 3. A tendência pedagógica crítica emancipatória, elaborada por Kunz (1994), possui grande relevância na Educação Física escolar. Sua base teó- rica vem de outras áreas do conhecimento, característica que é comum à Educação Física: interdisciplinaridade. Tendo em vista as principais carac- terísticas desta tendência pedagógica, leia e analise as afirmações: I – Falta de proposições práticas para aulas na escola, usando demais de ideias baseadas na luta de classes. II – Baseada nas Ciências Biológicas, promove a saúde e a aptidão física para os educandos. III – A Escola de Frankfurt é a base da teoria, elegendo temáticas como a “indústria cultural” para trabalhar a EF. IV – O uso do esporte como conteúdo principal é uma das características fundamentais mais evi- dentes a esta tendência. V – Grande valor nos aspectos simbólicos, procurando a emancipação social dos educandos. Questão 3 33/238 Questão 3 Estão corretas somente as afirmações: a) III e IV. b) I, III e V. c) III e V. d) II, III e V. e) III e IV. 34/238 4. “A perspectiva da Educação Física escolar, que tem como objeto de estudo o desenvolvimento da aptidão física do homem, tem contribuído historica- mente para a defesa dos interesses da classe no poder, mantendo a estrutura da sociedade capitalista” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 37). Assinale a alternativa que explicita o objetivo principal da tendência crítico-superadora: a) Melhorar a saúde dos indivíduos para que eles possam ser menos dependentes e tenham melhor qualidade de vida. b) Possibilitar ao educando ampla compreensão do ambiente social em que está inserido como forma de transformá-lo, pressionando apenas o poder público. c) Promover a cultura popular e valorizar os jogos clássicos do passado. d) Possibilitar ao educando ampla compreensão do ambiente social em que está inserido e a possibilidade de transformá-lo ativamente. e) Promover a ampliação do repertório motor, o que garante uma educação integral aos edu- candos, mudando suas vidas sociais. Questão 4 35/238 5. Leia o trecho que se segue e responda ao que se pede: “A vista desses resultados, parece razoável admitir que a idade cronológica apresentou nível de participação na variação dos resultados dos testes motores mais acentuados entre os rapazes do que entre as moças, e com maior ênfase nos itens correspondentes à aptidão física relacionada às habilidades motoras” (GUEDES; GUEDES, 1996, p. 102). À qual tendência pedagógica se refere o trecho e como ela pode ser explicada? a) Saúde renovada – propõe estimular a aprendizagem motora, através de exercícios físico como o saltar, o andar e o arremessar. b) Desenvolvimentista – tem no ensino e na promoção de saúde sua principal característica, apenas a prática esportiva para melhoria da saúde. c) Saúde renovada – reinterpretando o higienismo, com fortes bases biológicas, não deixou de pensar a dimensão cultural dos alunos. d) Desenvolvimentista – busca o desenvolvimento afetivo dos alunos, usando das atividades motoras como forma de integração social. e) Saúde renovada – com bases biológicas, pensa na promoção da saúde, vendo na atividade física respostas aos males do sedentarismo. Questão 5 36/238 Gabarito 1. Resposta: D. Além da dimensão teórica, quando se usa uma determinada abordagem pedagógica, esta deve estar relacionada com o Projeto Político Pedagógico da unidade de ensino, uma vez que a Educação Física é um dos componentes curriculares e deve estar ar- ticulada com os conhecimentos escolares. Ainda que seja papel de protagonismo do docente, seu trabalho não deve ser isolado, bem como há limitações ao fazer aproxima- ções entre diferentes tendências, correndo o risco de ser incoerente. 2. Resposta: A. O higienismo estava assentado em bases biológicas, na melhoria do corpo e na bus- ca por corpos saudáveis e fortes que garan- tissem uma grande nação. Logo, a dimen- são pedagógica era menos evidente. Já no treinamento esportivo também há o foco na formação de uma grande nação, o que ocorreria apenas pelo esporte de alto ren- dimento reproduzido na escola, destacando a atividade e o preparo físico e não as rela- ções pedagógicas. 3. Resposta: C. A tendência crítica emancipadora é basea- da na Escola de Frankfurt, sofre críticas pela grande atenção que despende ao espor- te, ainda que proponha atividades práticas com outros componentes da cultura corpo- ral. A dimensão simbólica acaba sendo mais 37/238 Gabarito evidente que as de lutas de classe na busca da emancipação dos educandos. 4. Resposta: D. Com sua base marxista, a Teoria crítico-su- peradora foca atenção no conflito de clas- ses, nas desigualdades sociais e na busca por uma educação que promova transfor- mações sociais. 5. Resposta: E. A saúde renovada está assetada em bases biológicas e tem como características prin- cipais a promoção da saúde, com noções de aptidão física, combate a males vinculados ao sedentarismo e higiene. Já o desenvolvi- mentismo está baseado na ideia de apren- dizagem motora, atentando-se à idade do aluno, e partindo dos gestos mais simples aos mais complexos; o movimento é o cen- tro da tendência, que teria menor atenção aos aspectos culturais. 38/238 Unidade 2 As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Física no ensino médio Objetivos 1. Conhecer o que são os documentos curri- culares nacionais (Parâmetros Curriculares Nacionais, Diretrizes Curriculares Nacionais e Orientações Curriculares do Ensino Médio). 2. Compreender a noção de currículo no ensino básico. 3. Perceber o local da Educação Física como componente curricular. 4. Conhecer as principais críticas aos docu- mentos nacionais, especialmente os Parâ- metros Curriculares Nacionais (PCN). Unidade 2 • As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Física no ensino médio 39/238 Introdução A redemocratização iniciada nos anos de 1980 trouxe várias mudanças legislativas no Brasil. A Constituição de 1988 é o do- cumento mais importante e emblemático, contudo, não foi o único. No caso específico da educação, a LDB (Lei nº 9394/96) mol- dou o novo sistema de ensino brasileiro. Do ordenamento administrativo burocrático até as concepções pedagógicas, planos es- tratégicos de política pública, a educação no Brasil experimentouuma série de mu- danças que avançou pelas duas décadas seguintes. Neste contexto de debates legislativos, en- trou em voga a concepção de currículo para a educação básica (ensinos infantil, fun- damental e médio). Concepções de ensino, metodologias de trabalho e um arcabouço mínimo de conteúdos e objetivos estavam em disputa, num campo extremamente complicado de interesses e visões de mun- do. Compreender o que ensinar, para quem ensinar e como ensinar são as bases das Link A extensa Constituição Federal precisa ser mi- nimamente conhecida. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constitui- cao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 19 fev. 2017. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm Unidade 2 • As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Física no ensino médio 40/238 discussões que levaram à feitura de docu- mentos como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), as Orientações Curricula- res (OC) e as Diretrizes Curriculares Nacio- nais (DCN). Esses documentos possuem objetivos pró- prios e passaram por intensas críticas de especialistas em educação. Num primeiro momento, as atenções estavam no ensino fundamental, mas com a expansão do en- sino médio (EM) ao longo dos anos de 1990 a etapa final do ensino básico também ga- nhou atenção. A LDB, nos parágrafos do artigo 35, lista os objetivos do EM, que podem ser resumidos como: consolidação e aprofundamento dos saberes do ensino fundamental; formação para o mundo do trabalho e para a cida- dania; formação ética, autônoma e crítica; e compreensão do mundo tecnológico (BRA- SIL, 1996). Diante disso, o EM passa a ser de suma importância para a formação básica, com especificidades e não apenas um mo- mento transitório para o trabalho/ensino superior. Para saber mais Mundo do trabalho – em contraposição à ideia de mercado de trabalho – restrita por vezes à merito- cracia e ao qualificar-se – tem-se a ideia de com- preender e transformar as relações de trabalho e neste ambiente desempenhar papel de protago- nismo social. Unidade 2 • As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Física no ensino médio 41/238 No contexto específico da Educação Física (EF), as concepções pedagógicas que sur- giram a partir dos anos de 1980 são deci- sivas. Não se estava mais diante de um en- sino meramente biológico, tecnicista, e sim de sentidos múltiplos, tendo no corpo um meio de comunicação. Mais do que o saber fazer – ou repetir o que estava a ser feito – a EF passa a ser um espaço de diálogo do cor- po com o mundo e do mundo com o corpo. Sentidos são criados não para formar cor- pos higienizados ou atletas potenciais, mas sim cidadãos, em sentido amplo. 1. Construindo currículo A discussão sobre currículo deve ser pensa- da em termos de conteúdo programáticos (dimensão mais de sugestões do cotidiano) e de diretrizes e concepções de ensino (di- mensão teórica mais ampla). O debate co- meça nos objetivos que se busca com um currículo, no caso aqui, um sistema nacional com bases comuns mínimas e complemen- tado por especificidades locais. O segundo ponto é quem são os agentes que tencio- nam e constroem o currículo. Cronologicamente, os PCN são os primei- ros documentos a serem confeccionados na discussão de currículo, com a produção em 1997 dos documentos relativos aos ciclos 1º e 2º do ensino fundamental (1ª a 4ª sé- rie, naquele momento). Dois anos mais tar- de, em 1999, são publicados os documentos do EM. Ao todo os PCN do EM somam qua- tro partes (I – Bases Legais, II – Linguagens, Unidade 2 • As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Física no ensino médio 42/238 Códigos e suas Tecnologias, III – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias, IV – Ciências Humanas e suas Tecnologias). A EF ficou alocada na grande área das Lin- guagens, Códigos e suas Tecnologias. Ocu- par esse lugar significa demonstrar a di- versidade que a EF possui, não podendo ser pensada apenas como Ciência Natural – contrariando ideias pretéritas de corpo biológico – bem como não é em sua consti- tuição epistemológica, uma Ciência Huma- na – Anatomia, Fisiologia, Biomecânica, en- tre outros conhecimentos constituem a EF e não são de base das humanidades. Ao atestar a diversidade há também que se compreender a especificidade de ser uma linguagem, para que a EF não pareça estar alocada nessa grande área apenas por falta de opção melhor. O corpo expressa e recebe informações. As marcas construídas social- mente nos corpos são as marcas de lingua- gem não escrita e não verbal que uma so- ciedade desenvolve e que atesta seus senti- dos enquanto cultura (NUNES, 2016) Ora, se são competências e habilidades da área, “representação e comunicação; a in- vestigação e a compreensão; e a contex- tualização sociocultural” (BRASIL, 2000b, p. 14) e tendo em vista um conceito plural de linguagem, é totalmente coerente que a EF esteja na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Os objetivos pensados estão alinhados com mínimo de coesão e coerência internos. É esclarecedor o que o próprio documento traz no Parte I, no subi- tem A reforma curricular e a organização do Ensino Médio: Unidade 2 • As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Física no ensino médio 43/238 A linguagem é considerada aqui como capacidade humana de articular significados coletivos em sistemas arbitrários de representação, que são compartilhados e que variam de acordo com as necessidades e experiên- cias da vida em sociedade. A principal razão de qualquer ato de linguagem é a produção de sentido (BRASIL, 2000a, p. 18). Por outro lado, ao estar na mesma grande área que a Língua Portuguesa, a visão diminuta da linguagem como código escrito pode levar à maior atenção à língua materna em detrimento dos outros componentes curriculares. Os próprios PCN-EM, em sua Parte II, ao apresentarem O sen- tido do Aprendizado na área, focam demais na linguagem escrita e na preponderância da Língua Portuguesa (BRASIL, 2000b). Temos, então, o primeiro embate de agentes na composição do currículo: as próprias áreas do conhecimento. A força de um componente diante do outro é uma tensão que se reproduz no ambiente inter- pessoal. A EF possui uma fragilidade maior nesse sentido, uma vez que historicamente pode ser taxada como forma de repressão e não de libertação, possui uma construção teórica muito mais diversa e, portanto, sujeita a apropriações diversas e a paradigmas mais tênues, além dis- so – como consequências das duas primeiras – ficou fora dos instrumentos de avaliação exter- Unidade 2 • As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Física no ensino médio 44/238 nos (como Prova Brasil), o que, numa visão pragmática, significa menor atenção. Outra tensão é que qualquer currículo é composto por vários agentes. O Esta- do como regulador, em suas diversas ins- tâncias; os intelectuais e profissionais das universidades e dos centros de pesquisas, como detentores de capital simbólico; a mídia como local de memória e de deman- das sociais; a escola com suas disputas in- ternas e concepções plurais de educação; a família e os próprios educandos, com suas aspirações nem sempre bem delineadas e de influências por outros agentes – religião, por exemplo – também estão na disputa pelo currículo. Com tantas disputas em foco, questiona-se até que ponto é possível um currículo co- mum. No Brasil essa dúvida torna-se ainda mais intensa, uma vez que se fala num país geograficamente gigantesco e de matrizes culturais variadas. Adotar um currículo na- Para saber mais Capital simbólico é um conceito-chave do soció- logo francês Pierre Bourdie, que ampliou o con- ceito marxista de capital, definindo que não ape- nas mensurações econômicas causam desigual- dades. Um amplo leque de valoresde poder e de recursos causam distinções sociais. Esse capital flui e é específico naquele contexto social, poden- do ser reconvertido para novas gradações em ou- tros espaços sociais. Unidade 2 • As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Física no ensino médio 45/238 cional poderia significar impor sentidos de uma parcela da população, singularizando o que na verdade é múltiplo e diverso. Esse processo fere, inclusive, a autonomia que a escola e a sala de aula possuem como cons- trutores de conhecimento e causa espanto, ao poder ser utilizado como fomentador de uma identidade nacional (SOUSA; VAGO; MENDES, 1997). Compreender as tensões é de extrema im- portância porque o docente carregará essas marcas. O currículo na educação básica é uma linha tênue do que se tem como signi- ficativo numa sociedade ao longo da histó- ria. A formação nas licenciaturas estampa esse leque de conhecimentos significativos e que pode ser uma perigosa via reduzida, se houver apenas a reprodução desse co- nhecimento. Fazer um currículo é também construir conhecimento sobre o tema, com escolhas que não são neutras, pelas visões de mundo e pelas fundamentações teóricas. O que se ensina na EF é proposital, emba- sado na formação docente e também no ambiente escolar em que se leciona. Um dos grandes ganhos para a EF com a LDB foi ser definida como um componente da edu- cação básica e que deve estar inserida nas discussões pedagógicas da unidade escolar. Outro fato importante a destacar é que o do- cente da educação básica está muito mais suscetível às pressões do cotidiano. No caso da EF essa pressão reside na concepção ex- terna do que ensinar, visto que o senso co- mum traz o esporte – por vezes o espetacu- larizado – como sinônimo da EF. Nesse jogo Unidade 2 • As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Física no ensino médio 46/238 de força, o docente somente conseguirá resistir se possuir uma sólida formação que lhe permita definir o que é e o que não é a prática pedagógica em EF. 2. Parâmetros Curriculares Na- cionais: indicativos e críticas Os primeiros textos dos PCN, ainda em 1997, denotam que esse documento deve servir como um guia na construção de cur- rículos paras as redes públicas de ensino (BRASIL, 1998). O documento foi baseado nas experiências espanholas, especialmen- te da Universidade de Barcelona e contou com a participação de especialistas e pro- fessores da rede básica em sua confecção. Apesar dessa pluralidade de construção – ao menos expressa na introdução do pró- prio documento –, especialistas em educa- ção foram contundentes em afirmar que o documento não era um guia, mas sim uma proposta fechada e uniformizantes, opinião que fez coro na Educação Física através do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE), especialmente pelo livro Educação física escolar frente à LDB e aos PCN: profis- sionais analisam renovações, modismos e in- teresses1. O livro teceu contundentes críticas, pela força de proposta curricular e não de parâ- metros norteadores, pela falta de diálogo com a produção acadêmica e os grupos de referência na EF escolar, pelo uso superficial 1 O livro está citado através dos capítulos utilizados na elabo- ração deste texto. Unidade 2 • As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Física no ensino médio 47/238 de conceitos e o embasamento esquálido de teorias, muitas vezes unindo de modo valho concepções díspares. Contudo, os pa- reces de especialistas contidos na publica- ção versaram sobre o ensino fundamental. A incorporação de suas críticas e a força de sua argumentação, contudo, continuaram fortes quando da análise do PCN-EM. Analisando o documento específico da EF (BRASIL, 2000b), percebe-se alguns avan- ços quanto ao documento anterior. A ideia de uma EF integrada ao EM, com teor ao mesmo tempo lúdico, educativo e constru- tivo, buscou sustentar uma concepção me- nos tecnicista do componente curricular. Há também a ideia do corpo como espaço de comunicação e a relação corpo-mundo so- cial. Dá-se assim um protagonismo ao cor- po como produtor de linguagem que faz o indivíduo inserir-se no contexto social que lhe cerca, numa relação dialógica. Não bastaria apenas saber jogar futebol, por exemplo, mas pensar a partir do futebol o corpo em movimento e as construções sim- bólicas que ele proporciona; compreender a técnica, mas não descolada de um contexto que tem dimensões como a tática e o im- pacto social; questionar o som retumbante do futebol frente a tantos outros silêncios, como atividades rítmicas ou jogos popula- res, ou seja, perceber a prática de forma in- tegral e com códigos culturais. No aspecto metodológico, distanciando-se da crítica o engessamento como currículo, o PCN-EM reforçou a ideia de se conhecer o perfil dos educandos com quem se está tra- Unidade 2 • As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Física no ensino médio 48/238 balhando; de planejar coletivamente, sem, no entanto, perder o protagonismo da prática docente. Por fim, não encarar o planejamen- to como algo estanque, mas vivo e dinâmico, cabendo adaptações ao longo das práticas. Contudo ainda há críticas e três delas serão brevemente apresentadas. A primeira é de ordem teórica, pois é perceptível dois mo- mentos distintos no texto. No começo da seção Conhecimentos de Educação Física a concepção da saúde renovada predomina, destacando a importância de fomentar nos educandos noções e hábitos saudáveis de vida, higiene e atividade física. É a percep- ção profilática dos males da saúde, desta- cando, inclusive, problemas cada vez mais recorrentes em jovens, como o sobrepeso e a hipertensão (BRASIL, 2000b). Mais à frente no texto, há uma dimensão sociocultural presente, com o resgate de jogos populares, atividades rítmicas, acei- tação à heterogeneidade das turmas e o corpo como produto de significados cons- truídos historicamente. Na verdade, esses dois momentos têm nuanças de contato ao longo da seção, o que ocorre, no entanto, é que não é evidente esse contato. Não se tem uma imagem de complementação, mas sim polos distintos e não explicitados. Esse vazio entre as duas concepções e mes- mo o uso de termos não conceitualizados impactam na segunda crítica ao documento, especialmente por não conseguirem vislum- brar quais são os referenciais teóricos que guiaram sua construção. Sem citações no corpo do texto e com poucas referências da Unidade 2 • As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Física no ensino médio 49/238 área, torna-se quase impossível estabelecer debate e saber com que está dialogando. Por fim, há a perigosa noção de uma EF que revigora e prepara para o trabalho. Essa vi- são reduz as possibilidades de atuação pe- dagógica, descola da realidade escolar os temas trabalhados na aula de EF e, mais gra- ve, pode gerar uma divisão social do corpo. Se o objetivo da EF no EM for apenas revigo- rar para o trabalho, dar condições de des- canso ou for um sinônimo de atividade físi- ca, poder-se criar um abismo entre aqueles que têm acesso à cultura corporal em outros ambientes e aqueles em que a sala de aula é praticamente o único espaço de aproxima- ção com a diversidade. Mais ainda, o tra- balhador no EM tem que ser pensado como educando que tem uma jornada exaustiva, mas que o conhecimento da EF não é ape- nas prático que permita ser preterido. 3. Diretrizes Curriculares Nacio- nais: um salto qualitativo O debate feito até aqui, especialmente so- bre a construção de um currículo e as li- mitações dos PCN permite chegar às atu- ais Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN). Que pese a mudança do EM deflagradas pela MP746/2016, pontos centrais ainda estão em uso e merecem uma atenção. O primeiro deles é a força de diversidade, es- tampada nas DCN. O que antes estava colo- cado de modo genérico, como “respeitar a diversidade”, é aprofundado. Comunidades rurais, quilombolas, indígenas, trabalhado- Unidade 2• As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Física no ensino médio 50/238 res, educação especial têm capítulos pró- prios no texto. Evidente que a EF tem papel de destaque nessa percepção, pois a cultura corporal é distinta e múltipla para diferentes grupos. Trazer esse conjunto cultural do campo, dos quilombolas e dos indígenas – danças, jo- gos, lutas – é marcar um patrimônio ima- terial de suma importância para a percep- Link A íntegra da polêmica Medida Provisória que al- terou o ensino médio. Disponível em: <http:// www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fi- chadetramitacao?idProposicao=2112490>. Acesso em: 18 fev. 2017 ção desses sujeitos como agentes de seu tempo. Da mesma forma, ao se levar essa cultura a outros grupos externos, tem-se o importante intercâmbio de práticas que fa- cilitam o convívio e o respeito, por meio da alteridade. Link Para compreender a ideia de patrimônio imate- rial e ver alguns exemplos, há o site do Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional (IPHAN). Disponível em: <http://portal.iphan. gov.br/pagina/detalhes/234>. Acesso em: 19 fev. 2017. Nesse sentido, é mister que o processo de planejamento observe o local social em que está inserido, o perfil dos educandos, suas http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2112490 http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2112490 http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2112490 http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/234 http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/234 Unidade 2 • As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Física no ensino médio 51/238 aspirações e concepções de mundo. Uma escola que se descola da realidade, que con- cebe conteúdos programáticos longe da re- alidade social é uma escola que tem fracas- sos e abandonos. Para tal, é inegável que o esporte será um dos protagonistas nas au- las de EF, afinal ele está presente nas mídias que cercam o cotidiano dos educandos, mas não se pode limitar apenas a ele. É preciso que se parta do conhecido, do próximo para que outras manifestações da cultura corpo- ral possam ser requisitadas, rememorada e revividas. Quando se fala do trabalho como “prin- cípio educativo” (BRASIL, 2013, p. 162), a marca não poderá ser a de uma EF que pre- pare corpos para o trabalho, disciplinando ou aprimorando capacidades físicas, mas sim que o corpo trabalha, tem explorações e limitações e que elas devem ser compre- endidas para que cada educando seja uma agente no mundo do trabalho. As próprias profissionalizações por que passam práti- cas como o esporte e o lazer podem ser de- batidas. O caminho não pode ser vertical, deve ser permeado pelo princípio pedagógico da pesquisa e pelo princípio norteador dos di- reitos humanos. O que significa uma EF na qual o educando também seja construtor de conhecimento, que busque informações e que não se contente apenas com as práti- cas já conhecidas. Se a escola apenas repro- duzir o que esses jovens e adultos já conhe- cem, ela perde o sentido. E se nas aulas da EF assumir-se uma postura de competição Unidade 2 • As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Física no ensino médio 52/238 exacerbada, o princípio de aceitação será vilipendiado e em vez de cidadãos que se norteiam pelos direitos humanos, teremos competidores simplesmente. Unidade 2 • As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Física no ensino médio 53/238 Glossário Alteridade: conceito das humanidades que se refere ao outro, demonstrando tanto uma rela- ção de compreensão como de interpendência entre grupos distintos. Dialógica: processo de interação entre as partes de uma mensagem, estabelecendo diálogo re- cíproco; via de mão dupla na feitura do discurso ou dos textos. Estanque: imóvel, pouco dinâmico, estagnado. Paradigmas: um modelo para uma concepção de ciência ou de visão de mundo. Pragmática: voltado para objetivos práticos, bem delineados e imediatos. Profilática: aquilo que é preventivo. Retumbante: aquilo que provoca grande som. Vilipendiado: subtraído, roubado. Questão reflexão ? para 54/238 Tendo em vista a discussão sobre currículo, fica evidente que as escolhas do docente não podem ser neutras. Há, sim, uma base legal para se guiar, mas ela não pode ser encarada como uma obrigatoriedade, mas uma diretriz. A realidade da escola e a própria formação do docente são importantes. Dessa forma, baseado nos documentos oficiais e na realidade de atuação profissional, construa um currículo justificando não apenas quais temáticas devem ser abordadas, mas também o porquê não se abordar outras manifestações da cultura corporal. 55/238 Considerações Finais • O currículo é algo vivo, dinâmico, portanto não pode ser pensado ape- nas sob a luz de ordenamentos oficias gerais, mas também levando em consideração o ambiente escolar em que se está inserido. • Os documentos oficiais são guias e não obrigatoriedades. Bases nor- teadoras são bem-vindas, mas é na autonomia docente que se cons- trói o que deve ou não ser abordado nas aulas. • A concepção de Educação Física não poder estar restrita a uma ideia biológica, tão pouco resumir-se às discussões teóricas de humanida- des, sob pena de perder sua especificidade não trabalhar em conso- nância com as diretrizes e objetivos gerais e locais do ensino médio. • Além de seu conteúdo próprio, a Educação Física deve trabalhar os temas transversais, especialmente pensando no projeto pedagógico da escola, afinal, é um dos componentes curriculares da unidade de ensino. Unidade 2 • As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Física no ensino médio 56/238 Referências BRASIL. Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: MEC, 1996. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília, DF: MEC, 1998. BRASIL. Parâmetro Curriculares Nacionais (Ensino Médio) - Parte I Bases Legais. Brasília, DF: MEC, 2000a. BRASIL. Parâmetro Curriculares Nacionais (Ensino Médio) - Parte II Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Brasília, DF: MEC, 2000b. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presi- dência da República, 1988. BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais. Brasília, DF: MEC, 2013. NUNES, M. L. F.. Educação física na área de códigos e linguagens. In: NEIRA, M. G.; NUNES, M. L. F. (Org.). Educação física cultural: escritas sobre a prática. Curitiba: CRV, 2016, v. 12, p. 51-72. SOUSA, E. S. S.; VAGO, T. M.; MENDES, C.L. Parecer sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais. IN: Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (Org.). Educação física escolar frente à LDB e aos PCN: profissionais analisam renovações, modismos e interesses. Ijuí: Sedigraf, 1997. p. 63-74. http://lattes.cnpq.br/7343706723909071 57/238 Assista a suas aulas Aula 2 - Tema: As Diretrizes Curriculares Na- cionais para Educação Física No Ensino Médio. Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 6f64226eff2ae0f272bc7b53f061c45b>. Aula 2 - Tema: As Diretrizes Curriculares Na- cionais para Educação Física No Ensino Médio. Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ b92972170f58e06336b260667c0c0265>. http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/6f64226eff2ae0f272bc7b53f061c45b http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/6f64226eff2ae0f272bc7b53f061c45b http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/6f64226eff2ae0f272bc7b53f061c45b http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/b92972170f58e06336b260667c0c0265 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/b92972170f58e06336b260667c0c0265 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/b92972170f58e06336b260667c0c026558/238 1. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB – Lei nº 9394/96) garantiu que o ensino médio fosse parte do ensino básico e promoveu a ideia de universali- zação. Assim, os anos finais da educação básica podem ser observados como direito público. A partir também da LDB o olhar sobre o ensino médio muda, tendo objetivos e característica próprios. Dessa forma, assinale a opção que melhor explicita a relação entre os objetivos gerais do ensino médio e o ensi- no de Educação Física: a) A Educação Física colabora com a formação de um indivíduo saudável que poderá desem- penhar papel de protagonismo no mercado de trabalho, o que possibilitará uma substancial mudança na qualidade de vida. b) A Educação Física, tendo no corpo uma forma de linguagem, permite aos educandos conhe- cer e vivenciar múltiplas expressões da cultura corporal, que irão contribuir para a formação para a cidadania. c) Não sendo um componente obrigatório, a Educação Física fica mais livre para traçar seus próprios objetivos no ensino médio e assim contribuir na diversidade e na formação de um cidadão consciente do mundo do trabalho. Questão 1 59/238 Questão 1 d) A Educação Física deve possibilitar múltiplos objetivos ao educando no ensino médio, des- de a formação cidadã, conhecendo as diversidades da cultura corporal até mesmo preparar atletas para o alto rendimento através do esporte. e) A Educação Física pode contribuir nos objetivos gerais do ensino médio, pois ao estar aloca- da na área das Ciências Naturais, ajudará o educado a compreender melhor as relações entre o corpo e a natureza e entre a natureza e o corpo. 60/238 2. Sobre a construção do currículo, leia as afirmações sobre as tensões pre- sentes nesse processo: Questão 2 I – O que ensinar é elaborado apenas pela rede, devendo ser aplicado em completo acordo. II – Além dos agentes da escola, como professores, gestores e educandos, o currículo sofre ten- sões externas, como da religião e da mídia. III – Dentro da área do conhecimento Linguagens, Códigos e suas Tecnologias há um embate in- tenso, uma vez que a Língua Portuguesa pode suprimir as outras expressões da linguagem, como as não verbais presentes na Educação Física. IV – Diferente de outros componentes, a Educação Física sofre menores pressões externas, pois a noção de esporte simplifica o seu conhecimento. V – Escolher temáticas que aumentem o arcabouço teórico e prático dos educandos é funda- mental, para tal, o conhecimento prévio deles deve estar contemplado. 61/238 Questão 2 Estão corretas somente as afirmações: a) I, II, III e V. b) II, III, IV e V c) II, III e V. d) I, III, IV e V. e) II, III e IV. 62/238 3. A Educação Física está alocada na área das Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, pois: Questão 3 a) O aprimoramento motor que a Educação Física provoca permite que a comunicação seja aprimorada e complexificada. b) O corpo é um espaço de sentidos e de textos, como não seria possível resumir a uma única grande área do conhecimento, ele está alocado na área interdisciplinar. c) Ao se preponderar a dimensão de códigos da Educação Física, impede-se a perda da especi- ficidade da área e que ela seja subtraída pelas humanidades. d) Como a Educação Física contribuiu para a alfabetização nos anos iniciais, não faria sentido ela estar afastada da disciplina de Língua Portuguesa. e) O corpo produz sentidos e significados de comunicação e, portanto, é produtor de lingua- gens, no caso, em sua maioria não verbais. 63/238 4. Sobre as críticas relativas aos PCN-EM, assinale a alternativa correta: Questão 4 a) Problemas no uso de conceitos; não explicitação dos referenciais teóricos; visão de EF volta- da às melhorias físicas no trabalho. b) Problemas no uso de conceitos; ausência de propostas práticas; visão de EF voltada às me- lhorias na condição de saúde. c) Uniformidade teórica; ausência de propostas práticas; visão de EF voltada às melhorias no trabalho fabril. d) Diversidade teórica; supremacia do esporte em detrimento das outras manifestações; visão de EF restrita às humanidades. e) Pluralidade teórica; simplificação nas relações com o corpo; visão de EF voltada às melhorias na condição de trabalho. 64/238 5. Pensando as Diretrizes Curriculares Nacionais, analise as afirmativas, em seguida, assinale a alternativa que apresenta as afirmativas corretas: Questão 5 I – A pesquisa deve permear o conhecimento dos educandos. II – O trabalho é princípio educativo. III – O respeito aos direitos humanos é norteador dos debates. IV – A pluralidade cultural deve ser vivenciada. a) I, II e III. b) I, II, III e IV. c) I, II e IV. d) II, III e IV. e) II e IV. 65/238 Gabarito 1. Resposta: B. A Educação Física no ensino médio deve es- tar alinhada com os objetivos gerais dessa fase do ensino básico, para possibilitar au- tonomia crítica e formação cidadã. Para tal, a não deve estar limitada a conteúdos úni- cos da cultura corporal, mas sim ampliá-los e questionar a reprodução de modelos do mercado de trabalho – como o esporte de alto rendimento. Como componente obri- gatório do ensino básico, a Educação Física é entendia como um linguagem, portanto está na grande área da Linguagem, Código e suas Tecnologias. 2. Resposta: C. O docente também constrói o currículo, não apenas o reproduz. Nesse contexto, está imerso em disputas que têm razão não só pelos agentes interno à escola, como tam- bém por aqueles externos. No caso da Edu- cação Física essas tensões aumentam, pois o conhecimento do esporte pode reduz a Educação Física a apenas uma manifesta- ção, bem como há uma tensão na grande área em que está alocada pela preponde- rância da linguagem escrita. 3. Resposta: E. Pensar a Educação Física nas Linguagens Códigos e suas Tecnologias não pode ser uma reflexão ao acaso, ou de que não hou- 66/238 Gabarito ve melhor lugar para alocá-la ou de que essa escolha é apenas uma negativa a outra possível alocação. Da mesma forma, não se pode pensar a Educação Física como aces- sória ou meio para se melhorar a alfabeti- zação. O corpo possui códigos não verbais próprios e que estampam a comunicação. 4. Resposta: A. Os PCN-EM sofreram duras críticas por não utilizar, dentro de uma boa definição, con- ceitos que podem ser variados e nem sem- pre sinônimos (ex.: jogo e esporte). Também não se percebe ao longo do texto os referen- ciais teóricos que o embasam e por fim, há uma visão de Educação Física que direciona à melhoria nas condições para o trabalho. 5. Resposta: B. As Diretrizes Curriculares Nacionais preve- em o trabalho como princípio educativo, a pesquisa como princípio pedagógico e os direitos humanos como eixo norteador, o que levará a um respeito às vivências possí- veis da pluralidade. 67/238 Unidade 3 A Educação Física e os conteúdos programáticos no ensino médio Objetivos 1. Debater a ideia de conteúdo na esco- lha do que ensinar em Educação Físi- ca. 2. Refletir sobre objetivos e conteúdos programáticos. 3. Compreender os saberes próprios da Educação Física. 4. Compreender o que são os temas transversais e como trabalhá-los nas aulas de Educação Física. Unidade 3 • A Educação Física e os conteúdos programáticos no ensino médio 68/238 Introdução É evidente que nenhum currículo é neutro. Sua composição é forjada por embates de poder, concepções de educação e de mun- do estão postas na elaboração de um cur- rículo. Essas disputas de poder, longe de demonstrarem uma fragilidade teórica, são notas da multiplicidade de referenciais que existem no ato de ensinar. Assim, quando se escolhe um tema, um conteúdo, preteriu-se outros tantos e se construiu um documento – nem sempre escrito – do que é tido como importante para aqueles sujeitos sociais. Sendo impossível abarcar todos os possí- veis conteúdos e temáticas de uma área do conhecimento, é de suma importância transparecer como as escolhas são feitas e por que são feitas. No caso brasileiro, o ensino médio configu-ra-se como uma etapa própria da educação básica e, para tal, possui ditames legais que norteiam o que se deve ensinar. Abertos às especificidades das localidades, constrói uma expectativa de nação que a educação pode formar. Nessa unidade nacional, com grandes temas geradores, tem também es- paço às especificidades das localidades. As- sim, ao longo da primeira década do século XX, cada unidade federativa elaborou seu próprio currículo, elencando o que deveria ser ensinado, como deveria ser ensinado e em que momento. Unidade 3 • A Educação Física e os conteúdos programáticos no ensino médio 69/238 Para saber mais A nação é o conjunto de códigos sociais imersos num espaço delimitado e com instituições pró- prias de governança ou com aspirações de gover- no. Não há apenas uma delimitação jurídica, mas também o pertencimento cultural que garante certa unidade e distinção quando comparada a outras nações. Essa força normativa não pode ser tama- nha que impeça ao docente elaborar seu currículo, olhando as especificidades de sua localidade. O primeiro passo para pen- sar o que se deve ensinar é conhecer onde se está a ensinar. Os conhecimentos prévios dos educandos devem ser respeitados, pois deles é que se tem o início da caminhada. Também não se pode desconsiderar que de- terminados temas possuem sentidos e lógi- cas para uma comunidade, conferindo rele- vância cultural (NEIRA; NUNES, 2008). Ao se pensar o que ensinar, é preciso saber para quem está ensinando, daí a importância da avaliação diagnóstica, do diálogo entre o que é saber prévio e o que a escola poderá trazer de novo. Esse momento de “prospecção” dos conhe- cimentos prévios deve estar intimamente ligado ao que se tem como conhecimentos da área do conhecimento transposta para o ambiente escolar. Além de saber para quem se está ensinando, é preciso saber o que se ensina dentro do seu componente, no caso, o que deve ser o arcabouço de conhecimen- to da Educação Física (EF). Neste contexto, Unidade 3 • A Educação Física e os conteúdos programáticos no ensino médio 70/238 cinco eixos de conteúdos foram escolhidos para nortear o ensino de EF no ensino mé- dio: jogos, esportes, lutas, danças (ou ativi- dades rítmicas e expressivas) e ginásticas. Ao referir-se no plural, legitima-se as múlti- plas manifestações que cada um deles pode apresentar. Dentro de uma mesma socieda- de os sentidos atribuídos a cada um deles é variado e dinâmico. Ao ser retratado na plu- ralidade, cada eixo corrobora com a ideia de que a EF trabalha, em síntese, com o movi- mento humano, não apenas numa dimen- são biológica, mas como ele relaciona-se com as estruturas sociais e os significados culturais de seu entorno. A escolha advém da conceituação elabo- rada pelas tendências críticas (COLETIVO, 1992; KUNZ, 1994) e é recorrente na litera- tura da Educação Física escolar. Essa força acadêmica reverberou no próprio currículo da formação inicial nos cursos de gradua- ção, com os cinco eixos permeando as prin- cipais licenciaturas do país. O poder público também elegeu esses cinco eixos protago- nista, uma vez que as propostas curriculares dos estados são constituídas por esses eixos (BAHIA, 2015; CEARÁ, 2009; GOIÁIS, 2009; MINAS GERAIS, S/D; PARANÁ, 2010 PER- NAMBUCO, 2013; RIO DE JANEIRO, 2012; RIO GRANDE DO SUL, 2009; SÃO PAULO, 2010). Alguns estados aprofundaram-se no debate, outros têm propostas mais pon- tuais, elencando o que e quando trabalhar. Nesse sentido, é recomendado conhecer a proposta do estado em que se trabalha. Unidade 3 • A Educação Física e os conteúdos programáticos no ensino médio 71/238 Vale lembrar que a maior parte das ma- trículas do ensino médio encontra-se nas redes estaduais (BRASIL, 2008), sobrando uma pequena fração para redes munici- pais e outra, em expansão, composta pe- los institutos federais. As redes privadas de ensino desenvolveram também propostas de currículo, contudo, com a maior autôni- ma na constituição de seus currículos, por vezes os documentos de são pulverizados e pontuais. Para além dos eixos, deve-se ter em mente os objetivos que se busca ensinar. Desde os mais amplos, como a formação para a cida- dania, até os específicos, como vivenciar as variadas expressões da cultura corporal ou debater o corpo e a beleza nas mídias. A for- mação autônoma, em sentido amplo, deriva justamente dessa articulação dos eixos com os objetivos, dimensão que varia de acordo com o norte do currículo da rede em que se está inserido. 1. Conteúdos próprios da Edu- cação Física Ao se elencar os eixos temáticos, tem-se que cada um deles pode iniciar e ser disposto de forma interdependente, podendo começar no primeiro ano do ensino médio com os jo- gos e terminar, ao final do terceiro ano, com os esportes, ou o oposto. É preciso então compreender que os eixos estão dispostos dentro de uma lógica, quando o documento oficial assim sugerir. Se a proposta for se- guida como norte, é interessante manter a Unidade 3 • A Educação Física e os conteúdos programáticos no ensino médio 72/238 sequência delimitada pelo autor. Em muitos casos, há uma espiralidade, ou seja, volta- -se a um eixo mais de uma vez durante os três anos. O que há de diferente são os ob- jetivos. Mais do que cobrar melhorias físicas de desempenho, essa progressão deve estar sedimentada na maior complexidade das análises, das reflexões e das comparações socioculturais feitas. Neste momento não serão apresentadas sugestões sobre lutas e esportes, pois es- ses dois eixos serão tratados em momento oportuno, com maior atenção às suas pos- sibilidades pedagógicas no ensino médio. Assim, o foco incidirá sobre o conceito e as possibilidades pedagógicas dos outros três eixos: jogos, ginásticas e danças. Evidente que é uma sugestão, cabendo a cada do- cente pesquisar e aprofundar as propostas de atividades. O primeiro eixo a ser apresentado são os jo- gos. Em muitos currículos eles apareceram já no primeiro ano do EM devido às discus- sões que podem suscitar, mas também por- que são umas das primeiras manifestações da cultura corporal. Permitem uma ampla rememoração do que se teve de vivências corporais, o que possibilita um passo inte- ressante em direção à avaliação diagnósti- ca dos educandos. Retomar jogos – ou brin- cadeiras – que eram praticados na infância é ter contado com o que cada indivíduo en- tende como significativo e como a cultura corporal manifesta-se naquela sociedade. É preciso ter em mente o conceito de jogo, no que Huizinga (1980) e Callois (1990) são Unidade 3 • A Educação Física e os conteúdos programáticos no ensino médio 73/238 duas obras fundamentais. Os jogos são li- vres, baseados na desobrigação; joga-se porque se tem vontade, não por uma obri- gação prévia ou por uma noção de produti- vidade. Com fim em si mesmo, oposto a uma ideia de formação para o trabalho, os jogos têm um espaço delimitado e regras acer- tadas em consonância pelos participantes. Sua incerteza no decorrer da atividade co- munga com o elemento fictício e a ludicida- de da atividade. Uma possibilidade de trabalho, indepen- dentemente da série em que o conteúdo está inserido, é resgatar quais os jogos que as localidades possuem como tradicionais. Esse resgaste deve ser feito através de pes- quisas, o que impulsiona o papel dos edu- candos como construtores do conhecimen- to. Ao fazer esse resgate, mais do que uma encenação anedotária, é preciso trazer à tona a historicidade do jogo em questão e como ele é portador de significados cultu- rais que permitem debater como essa so- ciedade enxerga-se e como produz imagens sobre si. No senso comum, as ginásticas podem apresentar-se como sinônimo de exercício físico, desprovido, em muitos casos, de um sentido cultural. Contudo, as ginásticas são uma série de movimentos físicos sistema- tizados que englobam capacidades como força, coordenação, flexibilidade e resistên- cia. Com a ideia de um aprimoramento do
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