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Fundamentos de Economia e Finanças Educação Continuada ANBIMA Data: 01/03/2017 Controle D.04.63.00 Data da Elaboração 01/03/2017 Data da Revisão – Elaborado por Educação Continuada Aprovado por Equipe de Certificação Continuada 1 FUNDAMENTOS DE ECONOMIA E FINANÇAS Fundamentos de Economia Principais Indicadores Econômicos Para se medir o pulso de uma economia, utiliza-se comumente uma série de indicadores que nos ajudam a compreender e avaliar as condições econômicas vigentes. Esses indicadores são calculados tanto por órgãos governamentais (institutos de estatística e bancos centrais, entre outros) como por entidades privadas (por exemplo, instituições educacionais e empresas participantes do mercado financeiro). Nos itens a seguir, veremos alguns dos principais indicadores utilizados no Brasil, em quatro grupos distintos: taxa de juros, inflação, produto e câmbio. Indicadores de taxas de juros No Brasil, há duas taxas de juros bastante conhecidas. Uma delas é a taxa overnight do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC), mais conhecida como Taxa SELIC Over. Essa taxa, dada em forma anual, é a taxa média das operações de financiamento de um dia (compromissadas), lastreadas em títulos públicos federais, realizadas no SELIC, ponderadas pelo volume das operações. É divulgada todos os dias, aproximadamente às 9 horas da manhã, sempre no dia seguinte ao dia de referência. É importante não confundir a Taxa SELIC Over com a meta para a Taxa SELIC. Ao passo que a Taxa SELIC Over é uma média calculada com base em operações de mercado, a meta para essa taxa é determinada pelo Comitê de Política Monetária (Copom). O Copom é formado pela diretoria do Banco Central do Brasil (BCB) e costuma se reunir a cada seis semanas, divulgando a meta da Taxa SELIC ao final da reunião. A determinação da meta para a Taxa SELIC, como veremos mais adiante, é um dos instrumentos de política monetária à disposição do BCB. A outra taxa de juros bastante conhecida de investidores e de participantes do mercado é a Taxa DI, cujo nome completo é Taxa DI-Cetip Over (Extra Grupo). Essa taxa é calculada pela Cetip S.A. – Mercados Organizados e reflete as taxas de juros cobradas entre instituições do mercado interbancário nas operações de emissão de Depósitos Interfinanceiros (DI) prefixados, com prazo de um dia útil, registradas e liquidadas pelo sistema Cetip. É uma das principais taxas de referência do mercado brasileiro (por exemplo, 92% do estoque de debêntures no Brasil tem remuneração referenciada na Taxa DI). Há ainda a Taxa Referencial (TR), calculada pelo BCB com base na média das taxas dos certificados de depósito bancários (CDBs) emitidos pelas 30 maiores instituições financeiras do Brasil, à qual é aplicada um fator redutor. Essa taxa é primordialmente utilizada no cálculo do saldo devedor de financiamentos imobiliários e da remuneração da poupança. Índices de Inflação: IPCA e IGP-M Indicadores de inflação são constantemente observados por participantes do mercado e utilizados em diversos cálculos de correção de valores, inclusive para títulos públicos e privados. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um órgão governamental. Como o nome indica, esse indicador 2 buscar medir a variação de preços de forma bastante ampla, contemplando os gastos de famílias cujo rendimento mensal seja de 1 a 40 salários-mínimos e residentes em áreas urbanas. Quando se fala na meta de inflação determinada pelo Conselho Monetário Nacional (que veremos mais adiante), é justamente o IPCA o indicador de inflação utilizado para determinar o sucesso ou não da política monetária do BCB. Outro indicador de inflação amplamente utilizado no mercado é o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Esse índice é, na verdade, uma média ponderada de outros três índices (todos calculados pela FGV): o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA, com peso de 60%), o Índice de Preços ao Consumidor (IPC, com peso de 30%) e o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC, com peso de 10%). Por sua composição, esse indicador engloba diferentes etapas do processo produtivo, sendo bastante utilizado como indexador de contratos (por exemplo, de aluguel de imóveis). Produto Interno Bruto (PIB) O Produto Interno Bruto (PIB) é a soma de todas os bens e serviços finais produzidos em uma determinada região durante certo período de tempo. Dizemos que esses bens e serviços são “finais” para eliminar os valores dos bens intermediários utilizados no seu processo de produção. Além disso, normalmente, para fins de comparação internacional, o período considerado é de um ano. Uma das maneiras de se calcular o PIB de uma economia é pela chamada ótica da despesa. Para uma economia aberta (isto é, que importa e exporta bens), o PIB é dado pela seguinte identidade macroeconômica: 𝑌 = 𝐶 + 𝐼 + 𝐺 + (𝑋 − 𝑀) Na fórmula acima, Y é o produto da economia, C é o consumo das famílias, I é o investimento, G é a despesa do governo, X são as exportações (bens produzidos no país, e que, portanto, devem ser considerados no cálculo do PIB) e M são as importações (bens produzidos no exterior, e que, portanto, não devem ser considerados no cálculo do PIB). Para se ter uma ideia, estes são os 10 países com maior PIB no mundo em 2015 e sua participação respectiva no PIB mundial: Ranking País PIB (USD bilhões) % do PIB Mundial 1 Estados Unidos 17.947 24,5% 2 China 10.983 22,2% 3 Japão 4.123 15,0% 4 Alemanha 3.358 5,6% 5 Reino Unido 2.849 4,6% 6 França 2.422 3,9% 7 Índia 2.091 3,3% 8 Itália 1.816 2,9% 9 Brasil 1.773 2,5% 10 Canadá 1.522 2,4% Fonte: Fundo Monetário Internacional, World Economic Outlook Database. Acessado em abril de 2016. 3 Taxa de Câmbio (spot e PTAX) Uma taxa de câmbio nada mais é do que o preço de uma moeda em relação a outra moeda. Comumente, utiliza-se a nomenclatura ABCXYZ para indicar o par de moedas observado, onde ABC é a moeda de base e XYZ é a moeda de contagem. No Brasil, a taxa de câmbio mais observada é a USDBRL, ou seja, a taxa de câmbio entre o dólar norte-americano e o real brasileiro. Essa taxa indica a quantidade de reais necessária para se comprar um dólar. Assim, por exemplo, se USDBRL = 3,50, isso significa que são necessárias três unidades e meia de real (a moeda de contagem) para se obter uma unidade de dólar (a moeda de base). Em outras palavras, cada dólar vale três reais e cinquenta centavos, neste exemplo. A taxa spot é a taxa para compra e venda imediata de dólares. Também conhecida no Brasil como “dólar pronto”, é a taxa à qual os participantes do mercado de câmbio estão dispostos a comprar e vender a moeda estrangeira em um determinado momento da sessão de negociação. A taxa PTAX, por sua vez, é uma média das cotações do dólar no mercado, calculada pelo Banco Central do Brasil por meio de uma metodologia própria, com base em quatro janelas de consulta ao longo de cada dia. O nome PTAX é um apelido que vem do código de transação utilizado no Sisbacen (Sistema do Banco Central) para obter essa taxa – o código é PTAX800. Essa taxa é utilizada como referência para diversos contratos no mercado financeiro, incluindo derivativos. Política Monetária Em uma economia saudável, os agentes econômicos (famílias, empresas e governos) atuam em um ambiente de inflação controlada, taxas de câmbio estáveis e confiança na moeda utilizada para as transações em território nacional. A política monetária conduzida pelo governo central visa a controlar a oferta de moeda em uma economia, com o objetivo justamente de promover a estabilidade dos preços, a confiança na moeda e em alguns casos o próprio crescimento da economia como um todo. No Brasil, a política monetária é conduzida pelo Banco Centraldo Brasil, e mais especificamente pelo Comitê de Política Monetária, formado pelos membros da Diretoria Colegiada do BCB (atualmente, oito diretores). Criado em 1996 e espelhado no Federal Open Market Committee (FOMC) do Federal Reserve System (o banco central norte-americano), o Copom tem como objetivos oficiais "implementar a política monetária, definir a meta da Taxa Selic e seu eventual viés, e analisar o Relatório de Inflação". O Banco Central do Brasil, assim como outros bancos centrais de outros países, tem à sua disposição algumas ferramentas para atingir os seus objetivos em relação ao estoque de moeda e algumas condições gerais da economia. Essas ferramentas, conhecidas como instrumentos de política monetária, são utilizadas continuamente pelo Banco Central para fazer ajustes nas condições de crédito da economia, ou seja, para buscar “aquecer” ou “desaquecer” a economia conforme a sua leitura da situação econômica e de acordo com os indicadores econômicos que são diariamente monitorados pela equipe técnica da autoridade monetária. Quais são esses instrumentos de política monetária? Existem principalmente quatro instrumentos utilizados por bancos centrais: 1. Taxa de Juros. Talvez o instrumento de política monetária mais eficaz e mais amplamente conhecido pelos participantes do mercado e pelo público em geral seja a determinação da meta da taxa de juros básica da economia. O Copom, em suas reuniões 4 periódicas (a cada seis semanas, aproximadamente) define a meta da Taxa SELIC e, desta maneira, influencia as demais taxas de juros observadas na economia – rendimento dos títulos públicos, taxa de empréstimos interbancários e taxas de juros cobradas de empresas e consumidores em geral, entre outras. Por conta do impacto significativo e imediato na economia, as decisões do Copom são amplamente aguardadas e as atas das reuniões são minuciosamente analisadas pelos participantes do mercado, em busca de indicações sobre os rumos da política monetária no futuro próximo. E que impactos são esses? Juros mais altos significam crédito mais caro, o que diminui a propensão das empresas e consumidores a tomar empréstimos (para investir, para adquirir bens de consumo, etc.). Isso faz com que a economia se desaqueça (e talvez essa seja um objetivo do Copom ao aumentar juros, por exemplo, para fazer frente a uma taxa de inflação relativamente alta) e não cresça tanto ou tão rapidamente. Por outro lado, juros mais baixos tornam o crédito mais acessível para empresas e consumidores, o que aquece a economia e permite o crescimento econômico. Alterações na meta para a taxa de juros, portanto, afetam condições gerais de crédito da economia, além de influir sobre as expectativas das empresas e dos consumidores, as decisões de investimento e os preços dos ativos. 2. Operações de Mercado Aberto. Quando as condições de crédito oferecidas por bancos comerciais estão restritivas e há a necessidade de se aumentar a oferta de moeda na economia, um banco central pode ir a mercado e adquirir títulos públicos em poder de banco comerciais, criando assim mais “liquidez”. Os bancos comerciais, por sua vez, utilizam o valor obtido com a venda dos títulos para fazer empréstimos ao público. Por outro lado, se a economia estiver muito aquecida e houver fácil acesso a crédito, o banco central pode entender que é o momento de “enxugar” a liquidez do mercado, fazendo o movimento contrário: vendendo títulos públicos para os bancos comerciais, que assim se veem com menos recursos disponíveis para realizar empréstimos ao público. As operações de compra e venda de títulos públicos junto a bancos comerciais, com a finalidade de aumentar ou reduzir a oferta de moeda e a liquidez da economia, são justamente denominadas operações de mercado aberto. No Brasil, essas operações são executadas pelo Departamento de Operações do Mercado Aberto (DEMAB) do Banco Central, localizado no Rio de Janeiro. 3. Depósitos Compulsórios. Por determinação do Banco Central, parte dos depósitos captados por bancos comerciais junto ao público deve ser mantida em reserva junto ao próprio BC. Tal reserva não fica à disposição dos bancos comerciais para fazer empréstimos a indivíduos ou empresas. Quanto maior o percentual dos depósitos que deverá ser mantido em reserva, menor a disponibilidade de moeda para que os bancos comerciais emprestem dinheiro. Essa reserva obrigatória, denominada depósito compulsório, é um instrumento de política monetária eficaz à disposição do Banco Central. O aumento ou redução do percentual dos depósitos que deverá ser compulsoriamente mantido junto ao BC afeta de maneira imediata a oferta de moeda na economia. 4. Redesconto. As operações de redesconto são executadas pelo Banco Central e consistem em empréstimos de curtíssimo prazo realizados pelo BC a instituições financeiras que encontrem dificuldades momentâneas de liquidez. Quando uma instituição financeira passa por um problema de liquidez e não consegue obter empréstimos juntos a outras instituições no mercado, o Banco Central pode conceder empréstimo, na qualidade de emprestador de última instância (lender of last resort). Tal empréstimo é discricionário, 5 e assim o redesconto é outro instrumento por meio do qual o Banco Central pode regular a oferta de moeda, apesar de não ser tão eficaz quanto as operações de mercado aberto. Outra atividade importante de política monetária desenvolvida por alguns bancos centrais, inclusive o Banco Central do Brasil, é a busca por uma determinada taxa de inflação anual na economia. Essa atividade, também conhecida como regime de metas de inflação (inflation targeting), visa manter a estabilidade dos preços na moeda local para assim permitir e promover o crescimento da economia no médio e longo prazos. No Brasil, a meta de inflação é determinada por meio de resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) e está fixada atualmente em 4,5%, com um limite de dois pontos percentuais para cima e para baixo, para o ano de 2016, e um ponto percentual e meio para cima e para baixo, para o ano de 2017. Ou seja, o Banco Central deve atuar para que a taxa de inflação anual fique entre 2,5% e 6,5% em 2016 e entre 3,0% e 6,0% em 2017. O Copom, ao aumentar ou reduzir a meta para a Taxa SELIC, busca influenciar a atividade econômica (pelo mecanismo de transmissão da política monetária indicado anteriormente) e atingir a meta de inflação estabelecida pelo CMN. Política Fiscal Na administração de um país, os governos utilizam diversas políticas para influenciar a atividade econômica. Uma delas é a política monetária, discutida no item anterior. Outro conjunto de atividades exercidas pelos governos tem a ver com os impostos pagos pelas empresas e pelos indivíduos (isto é, receitas do governo) e os gastos realizados com o dinheiro arrecadado com impostos (ou seja, despesas do governo). O uso dessas receitas e despesas por parte do governo é denominado política fiscal, que desempenha um papel importante na condução da economia e na mitigação de efeitos negativos advindos dos ciclos econômicos de expansão e contração da economia. Uma política fiscal expansionista é colocada em prática quando o governo acredita que a atividade econômica necessita de estímulos. Para implementar tal política, o governo pode aumentar os gastos (utilizando suas reservas, caso haja, ou aumentando o endividamento público) ou reduzir os impostos cobrados dos agentes econômicos (fazendo com que estes tenham mais dinheiro à sua disposição para despesas correntes e investimentos). Já uma política fiscal contracionista busca exatamente o oposto: reduzir a atividade econômica. Para tanto, o governo reduz os seus gastos correntes e com investimentos, diminui os valores das transferências (gastos com programas sociais e com subsídios, por exemplo) e/ou aumenta impostos, a fim de reduzir o montante de moeda disponível para os gastos e investimentos das empresase dos indivíduos. Para financiar os seus gastos, além de utilizar a receita com impostos, governos comumente recorrem a tomar dívida junto aos residentes (dívida interna, normalmente denominada na moeda local do país) e aos não-residentes (dívida externa, normalmente denominada em moeda estrangeira, como o dólar ou o euro) do país. Quanto maior for o desejo de gastar de um governo, maior deverá ser o tamanho de sua dívida (tanto de maneira absoluta como em relação ao PIB), maiores deverão ser os impostos, ou alguma combinação entre essas duas possibilidades. A necessidade de financiamento do setor público (NFSP) é o resultado nominal fiscal do setor público em seu sentido mais amplo, e pode ser entendida basicamente como a diferença entre as receitas e as despesas nominais (incluindo as financeiras) durante um determinado período (normalmente, um ano). Ou seja, é o montante que precisa ser financiado junto aos poupadores 6 privados para que as contas do governo “fechem” naquele ano. Já o resultado primário do setor público é a NFSP desconsiderando-se os juros nominais que incidem sobre a dívida pública (tanto interna como externa). É justamente esse número que costuma ser bastante divulgado quando se fala em déficit ou superávit primário, e reflete o esforço fiscal feito pelo governo (uma espécie de “poupança”) para o pagamento dos juros sobre a dívida pública. Política Cambial Além de influenciar as condições de crédito da economia e as taxas de juros vigentes, determinar a carga tributária e promover ou reduzir gastos para regular o nível de atividade econômica, os governos podem também atuar para influir sobre outra variável importante: a taxa de câmbio entre a moeda local e uma moeda estrangeira, normalmente o dólar norte-americano ou o euro. As decisões sobre o regime cambial a ser adotado e a atuação de entes públicos para mover o mercado de câmbio no sentido de apreciar ou depreciar a moeda local fazem parte da chamada política cambial do governo. Tal política está intimamente associada à política monetária, na medida em que ambas lidam com a moeda do país e dependem de fatores similares. Por que os governos se interessam em monitorar os movimentos das taxas de câmbio e eventualmente optam por interferir, em maior ou menor grau, no valor da moeda perante as moedas de outros países? A cotação da moeda de um país, e sua apreciação ou depreciação perante outras moedas ao longo do tempo, serve como indicação do estado daquela economia e do interesse de estrangeiros em buscar oportunidades de negócio e de investimento em território nacional. Além disso, a taxa de câmbio é fator determinante para os movimentos de importação e exportação de bens e serviços. Em geral, quanto mais depreciada estiver uma moeda de um país em relação a moedas de outros países, mais baratos serão os seus bens e serviços para os não- residentes, e maiores as exportações (e menores as importações). Inversamente, quanto mais apreciada estiver a moeda, mais caros estarão os seus bens e serviços para os não-residentes, e menores serão as exportações (e maiores as importações). Em todo o mundo, há várias modalidades de regimes de câmbio sendo aplicadas e praticadas pelos governos dos diferentes países. Pode-se concentrar essas modalidades em cinco grandes tipos de regime cambial: 1. Arranjos sem moeda distinta. Nessa categoria, os países abrem mão de sua própria moeda em favor de outra moeda, já existente ou criada. Há dois tipos de arranjo que podem ser assim caracterizados. O primeiro é a dolarização de uma economia, situação em que o dólar passa a ser a moeda corrente do país, em detrimento da moeda nacional, que assume um papel pouco relevante. O dólar, na verdade, é apenas um dos casos possíveis – um país fora da Zona do Euro, por exemplo, pode escolher o euro como sua moeda corrente. O segundo tipo de arranjo é a união monetária, como no caso do euro, em que um grupo de países abre mão de ter a sua própria moeda em favor de compartilharem uma moeda única, criada especificamente para esse fim. Em ambos os casos, os países abrem mão de sua política monetária, tendo em vista que a oferta de moeda é controlada pela autoridade monetária de outro país ou, no caso da Zona do Euro, por uma autoridade monetária central, o que não permite que cada país tenha a sua própria política monetária. 2. Câmbio Fixo. Em um regime de câmbio fixo, a autoridade monetária (o Banco Central) determina que a taxa de conversão entre a moeda local e uma determinada moeda estrangeira (ou uma cesta de moedas estrangeiras) seja constante, e atua no mercado de câmbio para garantir que tal paridade se verifique. Esse regime pode ser aplicado pela 7 orientação da equipe econômica do governo ou por força de lei. De qualquer maneira, nesse regime a autoridade monetária deve estar preparada para comprar e vender lotes de moeda estrangeira que fazem parte de suas reservas internacionais, a fim de “zerar” o mercado e fazer com que a paridade estabelecida seja efetivamente atingida. 3. Bandas cambiais. Quando a autoridade monetária permite que a taxa de câmbio flutue dentro de uma faixa (ou “banda”) com limites inferior e superior, diz-se que o regime é de bandas cambiais. Nesse caso, a política cambial implementada pelo governo permite certa flutuação da taxa de câmbio, mas sempre dentro de parâmetros estabelecidos previamente e observados pelo banco central. Em alguns casos, o regime de bandas cambiais pode servir como uma política gradual de movimento em direção a um regime de câmbio flutuante. 4. Câmbio flutuante administrado. Em um regime cambial administrado, a taxa de câmbio se torna função de outros objetivos de política econômica (e até de política externa) de um país, como por exemplo, um superávit na balança comercial ou a aquisição de vantagem comercial perante outros países que competem por fatias maiores do comércio internacional. Este regime é o que melhor caracteriza a política cambial adotada no Brasil no século XXI, com intervenções do Banco Central do Brasil por meio da mesa de câmbio do Departamento das Reservas Internacionais (DEPIN), localizado na sede do BCB em Brasília. 5. Câmbio flutuante. No regime de câmbio flutuante puro, não há qualquer intervenção da autoridade monetária. A taxa de câmbio é definida pelas forças de mercado e pelo mecanismo de determinação de preço via oferta e demanda, e a autoridade monetária volta os seus esforços para outros objetivos macroeconômicos como a estabilidade dos preços e o crescimento econômico à taxa de crescimento potencial. Na prática, entretanto, é comum encontrar exemplos de intervenção governamental na taxa de câmbio, mesmo em países que declaradamente adotam um regime de câmbio flutuante. Na condução da política cambial, como mencionado antes, os bancos centrais podem (entre outras ações) aumentar ou reduzir os seus estoques de moeda estrangeira, comprando e vendendo moeda no mercado a fim de influenciar a taxa de câmbio. Tais estoques de moeda compõem as reservas internacionais geridas pelo Banco Central, que incluem também ativos como ouro e Direitos Especiais de Saque junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI). A função primordial das reservas internacionais é o financiamento de eventuais desequilíbrios no Balanço de Pagamentos (que veremos em detalhe no item a seguir) ou a regulação da extensão desses desequilíbrios pelo ajuste da taxa de câmbio (via intervenções do Banco Central no mercado). No Brasil, um instrumento do mercado financeiro que está bastante ligado à cotação do real frente ao dólar é o cupom cambial. Utilizandoo cupom cambial, agentes do mercado local negociam uma taxa de juros em dólar, por meio da negociação do diferencial entre a taxa de juros interna (isto é, aplicável para empréstimos em reais) e a variação cambial durante um determinado período. Para se visualizar o cálculo e as variáveis envolvidas, o cupom cambial é dadopela seguinte expressão: 𝑐𝑐𝑡,𝑇 = [ (1 + 𝑟𝐷𝐼) 𝑑𝑢 252 𝐷𝑜𝑙𝑇 𝑃𝑇𝐴𝑋𝑡−1⁄ − 1] 360 𝑑𝑐 8 onde: cct,T; cupom cambial para o período entre t e T rDI: futuro da Taxa DI DolT: futuro de dólar PTAXt-1: taxa de câmbio PTAX de t-1 du: dias úteis dc: dias corridos Ou seja, o cupom cambial é efetivamente uma taxa de juros em dólar, mas negociada no Brasil entre agentes que tenham uma visão a respeito tanto do comportamento das taxas de juros locais (por conta da presença do futuro da Taxa DI no cálculo), como da taxa de câmbio que será verificada em um certo período. Contas Externas Uma economia aberta necessita de um sistema para contabilizar os fluxos de produção e renda, bem como as entradas e saídas de capitais e o comércio de bens e serviços com o exterior. Em outras palavras, é necessário um sistema para monitorar a produção econômica, a renda dos residentes e, ainda, as relações comerciais e financeiras mantidas entre os residentes e os não- residentes de um país. Esse sistema, chamado de contabilidade nacional ou de contas nacionais (national accounts, conforme a nomenclatura adotada internacionalmente), permite que governos e a sociedade conheçam a situação macroeconômica do país e possam fazer comparações consistentes de dados relevantes ao longo do tempo. Parte integral das contas nacionais é o Balanço de Pagamentos, sistema de contabilização que resume as transações econômicas de um país com o resto do mundo durante um determinado período de tempo. É no Balanço de Pagamentos que se registram as relações comerciais e financeiras de um país com o exterior, as transferências feitas e recebidas, as compras e vendas de ativos e os valores gastos com serviços, tanto aqueles feitos no exterior por residentes como aqueles feitos no país por não-residentes. Vamos conhecer um pouco mais sobre esse sistema. O Balanço de Pagamentos é dividido em três grandes contas: Conta Corrente, Conta de Capitais e Conta Financeira. Elas são compostas da seguinte maneira: 1. Conta Corrente. Registra fluxos de bens, serviços, renda primária e renda secundária entre residentes e não residentes. Nesta conta estão três sub-contas: a. Bens e Serviços. Mostra as transações em itens que são resultado da atividade produtiva. Os bens são itens físicos e produzidos, sobre os quais o direito de propriedade pode ser transferido. Os serviços são o resultado de atividade produtiva que altera as condições das unidades consumidoras ou facilita a troca de produtos ou ativos financeiros. b. Renda Primária. Registra fluxos de renda entre residentes e não-residentes. A renda primária representa o retorno acumulado para agentes econômicos pelas suas contribuições ao processo produtivo ou pelo fornecimento de ativos financeiros e aluguel de recursos naturais a outros agentes. 9 c. Renda Secundária. Registra transferências correntes entre residentes e não- residentes. Inclui transferências pessoais, contribuições sociais, cooperação internacional e outras. 2. Conta de Capitais. Mostra as entradas de crédito e débito relacionadas a ativos não- financeiros não-produzidos, assim como transferências de capital entre residentes e não- residentes. Há duas sub-contas nesta conta: a. Compra e Venda de Ativos Não-Financeiros Não-Produzidos. Refere-se aos direitos a recursos naturais e às transações com ativos intangíveis, como patentes, copyrights, marcas registradas e franquias. b. Transferências de Capital. Engloba a transferência de propriedade de ativos entre residentes e não-residentes, bem como a transferência de recursos para a aquisição de ativos fixos, impostos sobre heranças e dívidas perdoadas. 3. Conta Financeira. A Conta Financeira registra transações que envolvem ativos e passivos financeiros e que ocorrem entre residentes e não-residentes de uma economia. Há cinco sub-contas nesta conta: a. Investimento Direto. Categoria de investimento associada ao controle ou alto grau de influência, por parte de um não-residente, sobre a gestão de uma empresa residente (considerando a participação societária em empresas controladas ou coligadas). b. Investimento em Carteira. Transações e posições internacionais envolvendo valores mobiliários (dívida ou ações) que não estejam incluídos em investimento direto ou ativos de reserva. c. Derivativos Financeiros. Instrumentos financeiros ligados a outros instrumentos financeiros, indicadores ou commodities, por meio dos quais riscos financeiros específicos podem ser negociados. d. Outros Investimentos. Categoria residual que inclui posições e transações que não foram capturadas nas demais categorias. e. Reservas. Ativos externos que estão prontamente disponíveis e controlados pela autoridade monetária, para fins de financiamento de necessidades do Balanço de Pagamentos, intervenção no mercado de câmbio e outros fins relacionados. 2.2. Fundamentos de Finanças Valor Presente, Valor Futuro, Taxa de Desconto e Diagrama de Fluxo de Caixa Se alguém lhe oferecer a escolha entre receber R$ 100,00 hoje e receber os mesmos R$ 100,00 daqui a um ano, o que você preferiria? Provavelmente você escolheria ficar com os R$ 100,00 hoje – afinal, para que esperar? Você já poderia utilizar esse dinheiro hoje e comprar bens e serviços 10 que gerarão benefícios imediatos, e não apenas daqui a um ano. Outra forma de ver o mesmo problema é pensar que os R$ 100,00 recebidos hoje podem ser investidos e oferecer algum rendimento, de maneira que, em um ano, o montante será superior aos R$ 100,00 iniciais. E se a escolha for entre R$ 90,00 hoje e R$ 100,00 daqui a um ano? Parando para pensar um pouco, a resposta deve ser: “depende”. Talvez os R$ 90,00 de agora valham mais para você do que os R$ 100,00 de daqui a um ano, ou talvez seja o contrário e você prefira esperar um ano para receber um valor nominal mais alto. Mas essa decisão depende do quê, exatamente? O que liga esses dois valores, distantes doze meses um do outro? A relação intrínseca que existe entre os R$ 90,00 e os R$ 100,00 é conhecida como o valor do dinheiro no tempo. No primeiro exemplo, o valor de R$ 100,00 agora é preferível ao mesmo valor no futuro, pois entre o momento atual e aquele ponto no futuro, o dinheiro pode ser investido ou pode ser utilizado para gerar benefícios que farão com que os R$ 100,00 valham mais em um ano. Já no segundo exemplo, não se pode imediatamente escolher entre um e outro, pois é preciso primeiramente conhecer esse valor do dinheiro no tempo. E esse valor é dado pela taxa de desconto ou taxa de juros implícita entre os dois valores, ou seja, a taxa que responde a pergunta: “qual deve ser a taxa de rendimento da minha aplicação de R$ 90,00 para que, ao final de um ano, eu tenha exatamente R$ 100,00?”. Uma conta simples utilizando a fórmula VF = VP (1+i)n, que será explicada na seção 2.2.3, onde VF = valor futuro, VP = valor presente, n = número de períodos e i = taxa de juros no período, nos mostra qual é a taxa de desconto implícita nesse exemplo: 𝑖 = ( 100 90 − 1) ∗ 100 = 11,1% Assim, conseguimos entender a relação entre um montante agora e um montante no futuro, bem como quantificar o valor do dinheiro no tempo. Se a taxa de 11,1% refletir as condições de mercado, temos que um montante de R$ 90,00 hoje corresponde a um valor futuro de R$ 100,00. Inversamente, se pensamos que temos como objetivo um montante de R$ 100,00 em um ano, o montante de R$ 90,00 hoje representa o seu valor presente à mesma taxa de desconto de 11,1%. Desta forma, vemos que a taxa de desconto nada mais é do que a relação entre o valor presente e o valor futuro. Em resumo: Valor Presente, Valor Futuro, Taxa de Desconto Valor Presente: é o valor de um ou mais fluxos futuros, descontados a uma determinada taxa de desconto. Valor Futuro: é o valor, em um dado ponto futuro no tempo, correspondente a um montante hoje, calculadocom base em uma taxa de retorno. Taxa de desconto: relação quantitativa entre o valor presente e o valor futuro. Comumente, mostramos a relação entre um valor presente e um valor futuro (ou múltiplos valores no futuro) por meio de um diagrama de fluxo de caixa, como nos exemplos abaixo: 11 No caso de múltiplos valores futuros, cada um deles é trazido a valor presente (podemos usar a mesma taxa de desconto ou taxas diferentes, em função do tempo), e o somatório desses resultados (valores presentes dos valores futuros individuais) é justamente o valor presente do fluxo de caixa. Regime de Capitalização Simples Como vimos, o valor do dinheiro no tempo está intimamente ligado à existência de uma taxa de juros (ou de desconto) que relaciona valores em momentos distintos. Mas como aplicamos essa taxa de juros sobre, digamos, o montante de um empréstimo? Veremos aqui os três regimes de capitalização utilizados para se calcular os juros devidos: simples, composto e contínuo. No regime de capitalização simples, o montante inicial serve como referência para os cálculos dos juros ao longo de toda a vida do empréstimo. Não há, portanto, alteração na base de cálculo dos juros. Assim, no caso de empréstimos a juros simples, não há a inclusão dos juros de períodos anteriores na base de cálculo dos juros dos períodos seguintes. Apenas o montante principal é responsável pela geração de juros sobre o empréstimo. Nesse regime, os juros são dados pela equação 𝐽 = 𝑉𝑃 × 𝑖 × 𝑛 e o valor futuro de um montante é dado por 𝑉𝐹 = 𝑉𝑃 × (1 + 𝑖 × 𝑛) onde: J: juros calculados para o período VP: valor presente (ou o montante inicial) i: taxa de juros periódica n: número de períodos VF: valor futuro Por exemplo, um empréstimo de R$ 1.000,00 com taxa de juros simples de 24,0% ao ano (isto é, 2,0% ao mês) e prazo de seis meses terá juros de R$ 1.000,00 x 2% x 6 = R$ 120,00 e valor futuro de R$ 1.000,00 x (1 + 2% x 6) = R$ 1.120,00 ao final desse período. 12 Regime de Capitalização Composto Se no regime de capitalização simples os juros de períodos anteriores não são levados em consideração na base de cálculo dos juros de períodos posteriores, no regime de capitalização composto ocorre o oposto. Aqui, a base de cálculo dos juros de períodos posteriores cresce à medida que o tempo passa e os juros vão se acumulando para pagamento em data futura. Esse regime é o mais comumente observado nos mercados financeiros em geral e no Brasil em particular. Nesse regime, os juros são dados pela equação 𝐽 = 𝑉𝑃 × [(1 + 𝑖)𝑛 − 1] e o valor futuro de um montante é dado por 𝑉𝐹 = 𝑉𝑃 × (1 + 𝑖)𝑛 onde: J: juros calculados para o período VP: valor presente (ou o montante inicial) i: taxa de juros periódica n: número de períodos VF: valor futuro Seguindo o mesmo exemplo do item anterior, um empréstimo de R$ 1.000,00 com taxa de juros de 24,0% ao ano, composta mensalmente (isto é, 2,0% ao mês) e prazo de seis meses terá juros de R$ 1.000,00 x [(1+2%)6-1] = R$ 126,16 e valor futuro de R$ 1.000,00 x (1 + 2%)6 = R$ 1.126,16 ao final desse período. Como se pode observar, no regime de capitalização composto, o valor dos juros é maior do que aquele calculado sob o regime de juros simples. Esse resultado já era esperado, tendo em vista que a base de cálculo no regime de capitalização composto é atualizada a cada período de capitalização dos juros (comumente chamado de juros sobre juros). Por exemplo, os juros do segundo mês são calculados não sobre uma base de R$ 1.000,00, que é o montante inicial, mas sobre o valor de R$ 1.000,00 x (1 + 2%)1 = R$ 1.020,00, que é o montante atualizado ao final do primeiro mês. Da mesma forma, os juros do terceiro mês são calculados não sobre uma base de R$ 1.000,00 (montante inicial) ou R$ 1.020,00 (montante atualizado ao final do primeiro mês), mas sim sobre o montante de R$ 1.000,00 x (1 + 2%)2 = R$ 1.040,40, que corresponde ao montante atualizado ao final do segundo mês. E assim por diante, até se chegar ao valor final de R$ 1.126,16. Quando se trata de um título bancário ou comercial que pode ser quitado antecipadamente, a prática no mercado é calcular o chamado desconto comercial (ou desconto por fora). Tal desconto é calculado sobre o valor nominal do título e leva em consideração (i) uma taxa de desconto por período considerado e (ii) o número de períodos de desconto. O valor presente de um título descontado “por fora” é 𝑉𝑃 = 𝑉𝐹 (1 − 𝑑 × 𝑛) onde: VP: valor presente (ou, neste caso, valor presente após desconto) 13 VF: valor do título no vencimento d: taxa de desconto comercial (“por fora”) no período n: número de períodos Por exemplo, se um título com valor final de R$ 100.000,00 vence em quatro meses e ao devedor for oferecida uma taxa de desconto comercial de 1,0% ao mês, o título poderá ser quitado por R$ 100.000,00 x (1 – 1,0/100 x 4) = R$ 96.000,00. O desconto comercial é, portanto, de R$ 4.000,00 ou seja, é a diferença entre o valor futuro de R$ 100.000,00 e o valor presente de R$ 96.000,00. Também é possível chegar ao mesmo valor do desconto por meio da fórmula 𝐷 = 𝑁 × 𝑑 × 𝑛 onde: D: valor do desconto “por fora” d: taxa de desconto comercial (“por fora”), no período n: número de períodos Assim, temos que o desconto é igual a R$ 100.000,00 x 1,0/100 x 4 = R$ 4.000,00, o que é idêntico ao resultado obtido anteriormente. Regime de Capitalização Contínuo No item anterior, mostramos como uma mesma taxa de juros anual, de 24,0% a.a., produz resultados diferentes caso estejamos utilizando um regime de capitalização simples ou composto. Continuando um pouco mais com o mesmo exemplo, o que aconteceria com o valor dos juros caso a mesma taxa de juros de 24,0% fosse composta apenas trimestralmente (e não mensalmente)? Teríamos juros de R$ 1.000,00 x [(1+6%)2-1] = R$ 123,60, ou seja, menos do que os R$ 126,16 calculados com a composição mensal. Esse resultado pode ser estendido da seguinte maneira: dada uma mesma taxa nominal de juros, quanto menor a frequência de capitalização, menor o valor dos juros; quanto maior a frequência de capitalização, maior o valor dos juros. No regime de capitalização contínuo, levamos esse argumento ao extremo: o que aconteceria com os juros se a capitalização fosse diária? E se fosse por hora? Ou por minuto? Ou por segundo? No limite, qual o valor dos juros se a capitalização for instantânea (ou seja, ocorrer em intervalos infinitesimais de tempo)? Aqui, a base de cálculo para os juros dos próximos períodos é atualizada com máxima frequência. Nesse regime, os juros são dados pela equação 𝐽 = 𝑉𝑃 × (𝑒𝑖𝑛 − 1) e o valor futuro de um montante é dado por 𝑉𝐹 = 𝑉𝑃 × 𝑒𝑖𝑛 onde: J: juros calculados para o período VP: valor presente (ou o montante inicial) i: taxa de juros contínua n: período de tempo aplicável VF: valor futuro 14 e: constante matemática igual a aproximadamente 2,71828 Ainda continuando com o mesmo exemplo, um empréstimo de R$ 1.000,00 com taxa de juros continuamente composta de 24,0% ao ano e prazo de seis meses terá juros de R$ 1.000,00 x [e24%x0,5-1] = R$ 127,50 e valor futuro de R$ 1.000,00 x e24%x0,5 = R$ 1.127,50 ao final desse período. Perceba que o valor calculado para os juros no regime de capitalização contínua é superior aos demais, na comparação com os cálculos anteriores. De fato, o valor dos juros com frequência contínua é o valor máximo que pode ser obtido com base nos mesmos parâmetros – qualquer outra frequência de capitalização gerará juros menores. Taxa de Juros Nominal e Taxa de Juros Real Em sua grande maioria, as taxas de juros utilizadas no mercado financeiro são taxas que incluem o efeito da elevação dos níveis de preço em uma economia, ou seja, que contêm um componente referente à inflação. Em outras palavras, são taxas “brutas”, que não representamefetivamente o aumento no poder de compra de um montante inicial, pois, não são corrigidas ou ajustadas pela taxa de inflação. Qualquer taxa de juros que contenha tal componente é considerada uma taxa de juros nominal. Quando se exclui da taxa nominal a variação dos preços, chega-se a uma taxa que reflete o verdadeiro aumento no poder de compra do montante inicialmente investido. Essa taxa é denominada taxa de juros real do investimento. A taxa de juros nominal, portanto, compreende dois componentes: a taxa de juros real e a taxa de inflação. Para se calcular a taxa de juros real de um determinado período, basta utilizar a seguinte fórmula: 𝑅 = (1 + 𝑖) (1 + 𝜋) − 1 onde: R: taxa de juros real i: taxa de juros nominal π: taxa de inflação Exemplo: em 2015, a taxa de inflação no Brasil, conforme medida pelo IPCA, foi de 10,67%. Um investidor que tenha obtido um retorno líquido (após impostos) de 12,09% no mesmo período obteve um retorno real de (1+ 12,09%)/(1+10,67%) - 1 = 1,28%. Ou seja, apesar de o investidor possivelmente ter aplicado seus recursos a uma taxa de juros nominal relativamente alta (próxima de 15,0% ao ano), a alta inflação fez com que sua riqueza aumentasse efetivamente apenas pouco mais de 1% ao longo de um ano inteiro. No mercado brasileiro de dívida, há um grande número de papéis atrelados à variação do IPCA ou do IGP-M. Quando se diz, por exemplo, que uma debênture “remunera a IPCA + 7%”, o que ocorre de fato é que o valor nominal da debênture é atualizado anualmente pela variação do IPCA, e os juros de 7% são calculados sobre o valor nominal atualizado. Assim, o chamado “spread” sobre o IPCA é, na verdade, a taxa de juros real oferecida pelo papel, já que essa é a taxa que o investidor recebe acima e além do efeito da inflação. 15 Uma maneira aproximada, porém mais simples, de calcular a taxa de juros real é por meio da utilização da Fórmula de Fisher. Essa fórmula indica simplesmente que a taxa de juros real é dada pela diferença entre a taxa de juros nominal e a taxa de inflação, ou seja, 𝑅 = 𝑖 − 𝜋 No exemplo acima, utilizando-se a Fórmula de Fisher para encontrar a taxa de juros real aproximada, temos que R = 12,09% - 10,67% = 1,42%. Esse número parece distante do 1,28% que calculamos corretamente acima – e está mesmo distante. Quando utilizamos uma aproximação linear como a proposta por Fisher, introduzimos um erro no cálculo. Entretanto, a Fórmula de Fisher tem o seu valor por ser de simples utilização. Além disso, quanto menores forem as taxas de juros e de inflação com as quais estivermos lidando, menor será o erro no cálculo (isto é, menor será a discrepância entre a taxa real aproximada e a taxa real calculada pelo método descrito no início deste tópico). Séries Uniformes de Pagamentos As séries uniformes são aquelas em que os fluxos de pagamentos ou de recebimentos são compostos por valores nominais idênticos, espaçados ao longo do tempo em intervalos constantes. Um financiamento imobiliário, por exemplo, pode ser uma série uniforme de pagamentos (dependendo da tabela de cálculo das prestações mensais). A compra de um veículo de maneira financiada também é um bom exemplo de série uniforme de pagamento. Em uma série postecipada de pagamentos, o primeiro fluxo acontece no momento 1, ou seja, ao final do primeiro período. Isto é, se o momento atual é o momento 0 (zero), o primeiro fluxo ocorre daqui a exatamente um período de tempo (uma semana, um mês, um ano etc). O valor presente de uma série postecipada é 𝑉𝑃 = 𝑎 × [ (1 + 𝑖)𝑛 − 1 (1 + 𝑖)𝑛 × 𝑖 ] e o seu valor futuro é 𝑉𝐹 = 𝑎 × [ (1 + 𝑖)𝑛 − 1 𝑖 ] onde: VP: valor presente da série VF: valor futuro da série a: valor do pagamento ou prestação i: taxa de juros ao período n: número de períodos 16 Por exemplo, considere uma série postecipada de cinco pagamentos mensais no valor de R$ 100.000,00 e uma taxa de juros mensal de 1,2%. O valor presente dessa série, isto é, o seu valor no momento atual (momento zero), é de R$ 100.000,00 x [(1+1,2%)5-1]/ [(1+1,2%)5 x 1,2%] = R$ 482.492,16. Já o seu valor futuro no momento 5 (isto é, o momento do último pagamento) é R$ 100.000,00 x [(1+1,2%)5-1]/(1,2%) = R$ 512.144,87. Utilizando as fórmulas acima conseguimos transportar todos os valores da série para uma mesma data, de maneira consistente, seja a data atual ou a data de término da série de pagamentos. PMT = Prestação ou pagamento mensal Já em uma série antecipada de pagamentos, o primeiro fluxo ocorre na própria data atual (ou momento zero). Na verdade, o pagamento realizado no momento atual pode ser entendido como uma entrada, desde que ele seja no mesmo valor dos demais pagamentos da série. O valor presente de uma série antecipada é 𝑉𝑃 = 𝑎 × [ (1 + 𝑖)𝑛 − 1 (1 + 𝑖)𝑛−1 × 𝑖 ] e o seu valor futuro é 𝑉𝐹 = 𝑎 × [ (1 + 𝑖)𝑛 − 1 𝑖 ] × (1 + 𝑖) onde: VP: valor presente da série VF: valor futuro da série a: valor do pagamento ou prestação i: taxa de juros ao período n: número de períodos Por exemplo, considere novamente uma série de cinco pagamentos mensais no valor de R$ 100.000,00 e uma taxa de juros mensal de 1,2%, mas desta vez assuma que os pagamentos são antecipados. O valor presente dessa série, isto é, o seu valor no momento atual (momento zero), é de R$ 100.000,00 x [(1+1,2%)5-1]/ [(1+1,2%)4 x 1,2%] = R$ 488.282,07. Já o seu valor futuro no momento 4 (isto é, o momento do último pagamento) é R$ 100.000,00 x [(1+1,2%)5-1]/(1,2%) x (1+1,2%) = R$ 518.290,60. Os valores são mais altos do que aqueles verificados na série postecipada, tendo em vista que (i) não há desconto sobre o primeiro pagamento, que é realizado na data zero, e (ii) o último fluxo a ser descontado encontra-se na data 4, e não na data 5 como no caso anterior, o que significa um valor presente maior. 17 No caso de uma série perpétua (também conhecida como perpetuidade), os cálculos são ainda mais simples. Como não há uma data específica de vencimento, não cabe falar em valor futuro da série. O valor presente da perpetuidade é 𝑉𝑃 = 𝑎 𝑖 onde: VP: valor presente da série a: valor do pagamento ou prestação i: taxa de juros ao período Porque falar em perpetuidade? Vamos supor uma pessoa que deseja se aposentar com uma renda mensal de R$ 100.000,00. Utilizando uma taxa de juros de 1,2% ao mês (do exemplo anterior), essa pessoa deve acumular R$ 8.333.333,33 para ter a renda de R$ 100.000,00 pela vida toda (os planejadores financeiros, de forma geral, consideram 100 anos). Também consideramos a premissa da taxa de juros sem alteração ao longo do tempo (no valor de 1,2% ao mês). Assim, o valor presente de uma perpetuidade que paga R$ 100.000,00 por mês, considerando uma taxa de juros de 1,2% ao mês, é de R$ 100.000,00 / 1,2% = R$ 8.333.333,33. Métodos de Análise de Investimentos A análise de um investimento ou projeto envolve diversos aspectos qualitativos. Por exemplo, ao se considerar a compra de um imóvel comercial para locação, é preciso levar em conta a sua localização, o padrão de acabamento do imóvel e as facilidades existentes ao redor do edifício, entre outros aspectos. Entretanto, parte importantíssima do processo decisório de um investimento é a análise quantitativa do investimento. Qual o ganho líquido que se pode obter? Qual a taxa de retorno a ser alcançada? Há outras alternativas de investimento mais interessantes do ponto de vista financeiro? Um primeiro elemento a ser considerado na análise de um projeto ou investimento é a Taxa Mínima de Atratividade. Esta é a taxa de retorno mais baixa que terá de ser obtida com o projeto para que os tomadores de decisão possam minimamente considerar a realização do investimento. Cada empresa e cada indivíduo, dependendo de suas condições específicas, terá uma taxa mínima de atratividade em mente ao considerarum investimento. Em todo caso, essa taxa mínima será função de três importantes variáveis: 1. O risco total inerente ao projeto a ser realizado, que inclui elementos como risco de construção, risco de performance, risco de crédito, risco de mercado e outros; 18 2. A liquidez do investimento, que pode ser medida pela maior ou menor facilidade com que o investidor pode obter de volta o seu capital investido (ao transferir a propriedade do investimento, por exemplo); 3. A maior taxa de retorno oferecida por outros investimentos possíveis (que não o próprio projeto sob consideração). Essa taxa de retorno, conhecida como custo de oportunidade, representa o retorno do qual o investidor deve abrir mão para poder investir seus recursos em um determinado projeto (e, assim, deixar de receber a remuneração advinda de uma outra alternativa de investimento). Outra taxa importante a ser considerada é aquela que remunera as fontes de recursos de uma empresa. Há dois principais tipos de fontes de capital para uma empresa: o capital próprio (fornecido por acionistas e sócios da empresa) e o capital de terceiros (fornecido por investidores, bancos comerciais, agências de desenvolvimento, etc.). Como o risco a que estão sujeitos os acionistas de uma empresa é maior do que o risco incorrido pelos seus credores, a remuneração ao capital próprio deve ser superior à remuneração ao capital de terceiros. Conhecendo o custo ao qual a empresa consegue captar recursos junto a terceiros e também o custo do capital dos acionistas, bem como a alíquota de imposto de renda a que a empresa está sujeita, podemos calcular um custo médio do capital da empresa. O Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) é dado por: 𝐶𝑃𝑀𝐶 = 𝑤𝐸𝑘𝐸 + 𝑤𝐷𝑘𝐷(1 − 𝑡) onde: wE: proporção do capital próprio no capital total da empresa wD: proporção do capital de terceiros no capital total da empresa kE: custo do capital próprio kD: custo do capital de terceiros t: alíquota de imposto de renda O cálculo do CMPC é bastante fácil, desde que se tenha os parâmetros necessários. No caso do custo do capital próprio (kE), é comum utilizar-se a taxa obtida por meio do Capital Asset Pricing Model (CAPM), que veremos no Módulo 3 desde curso. O custo de capital de terceiros (kD) pode ser estimado pela taxa de juros que a empresa deve pagar caso deseje levantar mais dívida, seja com bancos, seja no mercado de capitais. Interessante notar que o custo da dívida é reduzido por um fator 1-t, que é função da alíquota de imposto de renda paga pela empresa. Isso se dá por conta do desconto dos juros pagos pela empresa no cálculo da base tributável. Ou seja, o valor pago em juros pela empresa é abatido do lucro da empresa para fins de incidência do imposto de renda, o que na prática faz com que o custo de capital de terceiros seja reduzido pela mesma medida da alíquota aplicável. Por exemplo, uma empresa que paga 35% de imposto de renda e cuja estrutura de capital é composta 60% por dívida, a um custo de 15% a.a., e 40% por capital próprio, a um custo de 25% a.a., terá um CMPC igual a 40% x 25% + 60% x 15% x (1 – 35%) = 15,85% a.a. O custo efetivo da dívida, que nominalmente é de 15% a.a., fica em 9,75% em razão do abatimento dos juros para fins de cálculo da base tributável. O CMPC é, portanto, a taxa de retorno mínima que deverá ser obtida por qualquer investimento que a empresa realizar. Qualquer investimento que proporcione um retorno superior ao custo de 19 capital da empresa gerará valor para os acionistas. Inversamente, qualquer projeto que gere um retorno inferior ao CMPC destruirá valor para os acionistas, e, portanto não deve ser realizado. Na análise de investimentos, o primeiro passo é estimar o fluxo de caixa futuro que advirá (entrada de caixa) por conta da decisão de investir em um projeto hoje (saída de caixa). O segundo passo é calcular uma taxa de desconto para esse fluxo, que, como vimos, deve ser no mínimo igual ao CMPC no caso de uma empresa. O terceiro passo é juntar esses elementos e calcular o valor desse projeto na data atual. Esse montante, que pode ser positivo ou negativo, é o Valor Presente Líquido (VPL) do projeto. Ele representa o valor que é gerado para a empresa pela aceitação do projeto (ou destruído por conta da aceitação do projeto, caso o VPL seja negativo). Pensando em fluxos de caixa anuais para simplificar, o VPL de um projeto é calculado da seguinte maneira: 𝑉𝑃𝐿 = 𝐹𝐶0 + 𝐹𝐶1 (1 + 𝐶𝑃𝑀𝐶)1 + 𝐹𝐶2 (1 + 𝐶𝑃𝑀𝐶)2 + ⋯ + 𝐹𝐶𝑛 (1 + 𝐶𝑃𝑀𝐶)𝑛 onde: VPL: valor presente líquido do projeto FCi: fluxo de caixa no ano i, com i variando de 0 até n CMPC: custo médio ponderado de capital n: número de períodos Um exemplo nos ajudará a entender esse cálculo. Suponha que a mesma empresa acima, com CPMC de 15,85%, tenha a oportunidade de investir em um projeto com duração de cinco anos, investimento inicial de R$ 240.000,00 e fluxo de caixa conforme a tabela abaixo. Ano Fluxo de Caixa (R$) 0 -240.000 1 50.000 2 65.000 3 85.000 4 100.000 5 115.000 Utilizando a fórmula acima, encontramos um VPL positivo de R$ 16.881,80 para esse projeto. A empresa deve realizá-lo, pois o valor positivo indica que o projeto criará valor para os acionistas. Outra maneira de olhar para o projeto e verificar se vale a pena ou não realizar o investimento, é calculando a taxa à qual o VPL do projeto seria igual a zero. Ou seja, buscamos descobrir a taxa de desconto para os fluxos de caixa que faz com que, a soma do valor presente dos fluxos de caixa futuros, seja idêntica ao valor do investimento inicial. Essa taxa de desconto pode então ser comparada ao CMPC ou a outra taxa, como a Taxa Mínima de Atratividade, para a tomada de decisão em relação ao investimento. A taxa de desconto que zera o VPL é denominada Taxa Interna de Retorno (TIR), e é a taxa que faz a seguinte expressão ser verdadeira: 𝑉𝑃𝐿 = 𝐹𝐶0 + 𝐹𝐶1 (1 + 𝑇𝐼𝑅)1 + 𝐹𝐶2 (1 + 𝑇𝐼𝑅)2 + ⋯ + 𝐹𝐶𝑛 (1 + 𝑇𝐼𝑅)𝑛 = 0 20 Não há solução analítica para a TIR, ou seja, não existe uma fórmula para o cálculo da TIR que possa isolar essa variável quando estamos lidando com mais do que um fluxo de caixa além do fluxo inicial (o que normalmente é o caso). Utilizando uma planilha eletrônica, encontramos que a TIR do projeto apresentado no exemplo acima é igual a 18,42% a.a. Assim, outra maneira de perceber que o projeto proposto trará valor para os acionistas é a comparação entre taxas: o projeto retornará 18,42% a.a. em comparação com um CMPC de 15,85% a.a. Novamente, isso indica que este projeto deve ser realizado (assumindo-se que não haja outro projeto similar com retorno superior). Existem dois aspectos técnicos importantes no cálculo da TIR que valem a pena ser mencionados aqui. 1. Por trás da afirmação de que o retorno anual será de 18,42%, conforme o exemplo acima, está a hipótese de que os fluxos de caixa serão reinvestidos a essa mesma taxa. Ou seja, ao final de cinco anos, a taxa de retorno do investimento somente será 18,42% a.a. se os fluxos intermediários forem todos reinvestidos à mesma taxa. No mundo real, o reinvestimento a exatamente a mesma taxa não se verifica, o que gera um problema conhecido como risco de reinvestimento. Comumente, estima-se que os fluxos de caixa de um projeto serão reinvestidos à mesma taxa do CMPC, o que é uma abordagem mais conservadora para se calcular o retorno esperado sobre um investimento. 2. É possível que nem todos os períodos futuros apresentem fluxos de caixa positivos (por exemplo, caso haja a necessidade de uma segunda porção de investimento no projeto alguns anos após o investimento inicial). Quando há mais do que uma troca de sinal no fluxo de caixa (ou seja, quando, por exemplo, o fluxo inicial é negativo, depois positivo, depois negativo novamente, e em seguida positivo novamente), encontraremos o problema de múltiplas TIRs, o quetorna a análise do investimento mais difícil. Para dirimir esses problemas, utiliza-se uma Taxa Interna de Retorno Modificada (TIRM). Por esse método, calculamos primeiramente o valor presente de todos os fluxos de caixa negativos, utilizando uma taxa igual ao custo de financiamento da empresa (ou seja, assume-se que a empresa tomará recursos emprestados para fazer os investimentos). Em seguida, calculamos o valor futuro de todos os fluxos de caixa positivos, levados para a data do último fluxo de caixa do projeto, utilizando como taxa de reinvestimento o CMPC da empresa. Por fim, calculamos a TIRM, comparando o valor futuro e o valor presente. A fórmula da TIRM é 𝑇𝐼𝑅𝑀 = √ 𝐹𝑉+ 𝑃𝑉− − 1 𝑛 onde: TIRM: taxa interna de retorno modificada FV+: valor futuro dos fluxos de caixa positivos, utilizando o CMPC da empresa PV-: valor presente dos fluxos de caixa negativos, utilizando o custo de financiamento da empresa n: número de períodos 21 Continuando com o exemplo acima, qual seria a TIRM do projeto? Ela seria maior ou menor do que a TIR calculada anteriormente? Como temos de levar os fluxos de caixa positivos a valor futuro utilizando o CMPC, que é menor do que a TIR, podemos perceber imediatamente que a TIRM será menor do que a TIR, o que torna a TIRM uma medida mais realista e conservadora do retorno do projeto. Novamente utilizando uma planilha eletrônica, encontramos uma TIRM de 17,44% a.a. para o projeto, abaixo dos 18,42% a.a. originalmente encontrados com o cálculo da TIR. Agora que abordarmos com algum detalhamento as taxas de desconto possíveis de serem utilizadas no cálculo do VPL (isto é, as taxas que podem ser utilizadas no denominador das frações mostradas nas fórmulas), vamos voltar brevemente nossa atenção para a estimativa dos fluxos de caixa (ou seja, os números que vão no numerador das frações mostradas). Em finanças corporativas, é comum que analistas busquem entender a capacidade de uma determinada empresa de gerar fluxo de caixa. Uma medida bastante utilizada por analistas para estimar o fluxo de caixa gerado pelas empresas é o Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (LAJIDA), ou a expressão equivalente em inglês Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation, and Amortization, que forma a conhecida sigla EBITDA. O EBITDA é calculado pela adição da depreciação e da amortização (caso haja) ao Lucro Operacional da empresa (em inglês, EBIT), informações que podem ser encontradas na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). E qual o motivo da adição da depreciação e da amortização? A razão é que essas despesas são apenas contábeis e não geram uma real saída de caixa. Assim, o EBITDA mede a geração de caixa a partir do lucro operacional da empresa e das despesas não-caixa que aparecem na DRE. Esse fluxo de caixa é então o que a empresa tem disponível para pagar juros e impostos. O EBITDA é bastante empregado em métricas de cobertura de juros, a fim de determinar a capacidade da empresa de pagar a remuneração do capital de terceiros. A tabela abaixo mostra um exemplo de DRE resumida. DRE Valores (R$) Receita com vendas 100.000 Salários (12.000) Despesas Gerais (10.000) Depreciação (6.000) Lucro Operacional (EBIT) 72.000 Despesa com Juros (4.000) Lucro Antes de Juros (EBT) 68.000 Impostos (9.000) Lucro Líquido 59.000 No exemplo acima, o EBITDA é igual a 72.000 + 6.000 = R$ 78.000, já que não há indicação de despesa com amortização. 22 Copyright © 2016 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização da ANBIMA. Redação Mauro Monteiro de Miranda Luís Fernando D. S. Affonso Gerência de Certificação e Educação Continuada Ricardo Nardini Superintendência de Educação Ana Claudia Leoni Superintendência Geral José Carlos Doherty ANBIMA - Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais Av. República do Chile, 230 - 13° andar CEP: 20031-919 - Rio de Janeiro - RJ Tel: (21) 3814-3800 / Fax: (21) 3814-3960 Av. das Nações Unidas, 8.501 -21º andar CEP: 05425-070 - São Paulo - SP Tel: (11) 3471-4200 / Fax: (11) 3471- 4240 www.anbima.com.br
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