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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E MELHORAMENTO 
DE PLANTAS 
 
 
 
 
 
MIRIAN DA SILVA ALMICI 
 
 
 
 
 
CARACTERIZAÇÃO DE ISOLADOS DO FUNGO Colletotrichum 
lindemuthianum E IDENTIFICAÇÃO DE FONTES DE 
RESISTÊNCIA PARA A ANTRACNOSE NO ESTADO DE MATO 
GROSSO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CÁCERES 
MATO GROSSO - BRASIL 
NOVEMBRO – 2019
 
 
 
1. Introdução 
 
O feijão tem um papel importante na dieta alimentar da população e também na 
geração de receitas dos pequenos produtores que se utilizam da força de trabalho 
familiar. A produção desse grão é bastante difundida em todo o território nacional e 
distribuída em três safras ao longo do ano. 
O Brasil destaca-se como sendo o terceiro maior produtor de feijão comum 
(Phaseolusvulgaris L.) do mundo, apresentando uma produção de 3,1 milhões de 
toneladas anuais, se destaca como o maior produtor e consumidor, com participação 
superior a 90% na produção e no consumo (Conab, 2018). 
O feijão está entre os principais alimentos básicos de vários povos, principalmente 
do brasileiro, constituindo como a principal fonte de proteína vegetal, sendo uma das 
culturas mais produzidas no Brasil e no mundo, sua importância extrapola o aspecto 
econômico, por sua relevância como fator de segurança alimentar e nutricional (Barboza 
e Gonzaga, 2012). 
O feijão (Phaseolusvulgaris L.) é um dos mais importantes grãos para a alimentação 
humana, devido ser fonte de proteínas e de aminoácidos essenciais (Tsutsumi et al. 
2015), sobretudo para as classes de renda mais baixa (Vieira et al., 1983; Borém e 
Carneiro, 1998). O seu consumo também está sendo associado à diminuição no 
desenvolvimento de doenças como o diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares 
(Ciat, 2008). 
Mesmo se destacando entre os principais produtores mundiais, a produtividade 
brasileira ainda é considerada baixa, devido a vários fatores, dentre eles a ocorrência de 
doenças destaca-se entre os mais importantes, sendo a antracnose, cujo agente causal é o 
fungo Colletotrichum lindemuthianum (Sacc.e Magnus) Briosi e Cavara, uma das 
doenças de maior importância desta cultura (Melotto e Kelly, 2001), sendo que grande 
parte delas podem ter seus agentes causais transmitidos por sementes (Richardson, 
1979). 
Sob condições favoráveis pode apresentar alta severidade sendo capaz de reduzir 
significativamente o rendimento da cultura, principalmente se o estabelecimento da 
doença ocorrer ainda na fase vegetativa (Rey et al., 2005). As perdas podem chegar até 
100% quando se utilizam sementes infectadas pelo patógeno (CHAVES, 1980; 
GUZMAN et al. 1979). 
 
 
 
Seus sintomas ocorrem nas folhas, principalmente na face inferior, e caracterizam-se 
por manchas escuras que acompanham as nervuras, e nos caules e pecíolos essas 
manchas podem causar um estrangulamento. Nas vagens, as lesões iniciam-se a partir 
de pequenas manchas pardas, as quais dão origem a cancros deprimidos, delimitados 
por um anel preto. Essas lesões podem atingir as sementes, que atuam como veículo de 
transmissão do patógeno de uma safra para outra e para outras regiões (EMBRAPA, 
2004) 
De acordo com Rey et al (2205), o controle da antracnose pode ser atingido 
através de um conjunto de medidas culturais, químicas e genéticas, executadas de forma 
integrada e com caráter preventivo. A obtenção de cultivares resistentes caracteriza-se 
por uma medida importante para o sistema de produção de feijoeiro 
A resistência genética é um importante componente, pois além de ser de fácil 
adoção pelos agricultores, reduz a poluição do meio ambiente causada pelo uso 
indiscriminado de defensivos agrícolas (CANDIDA et al., 2009). O uso de cultivares 
resistentes constitui-se no método mais eficiente no controle da antracnose do feijão 
comum (Phaseolusvulgaris L.), cujo agente causador é o fungo Colletotrichum 
lindemuthianum. Diante disso, faz-se necessário a caracterização de novas fontes de 
resistência como forma de viabilizar o desenvolvimento de novas cultivares com 
espectro de resistência mais amplo. 
Com o avanço das modernas técnicas de biologia molecular, vários métodos de 
detecção de polimorfismo em nível de DNA foram empregados em populações de C. 
lindemuthianum. Uma das formas de se detectar a variabilidade genética do fungo é 
através da amplificação da região ITS (“internaltranscribedspacer”) do DNA 
ribossômico (rDNA) via PCR. A região ITS está localizada entre os genes 18S rDNA e 
28S rDNA e pode ser amplificada por primers específicos. A região ITS é dividida em 
ITS1, entre os genes 18S e 5,8S, e o ITS2, entre os genes 5,8S e 28S (Menezes et al., 
2010). 
As regiões ITS dispõem de características interessantes para a identificação dos 
fungos em nível molecular. Uma delas é que, nos fungos, esta região, que compreende 
entre 600 e 800 pares de bases, é amplificada, utilizando os primers universais, os quais 
são complementares às seqüências altamente conservadas dos genes que codificam o 
Rrna (Córdoba et al., 2002). 
 
 
 
Uma característica importante da região ITS deve-se à natureza repetitiva do rDNA, que 
torna esta região fácil de amplificar a partir de amostras pequenas, diluídas e altamente 
degradadas (Gardes e Bruns, 1993 apud Córdoba et al., 2002) 
Desta forma este projeto tem como objetivo identificar as fontes de resistência 
á antracnose do Feijão Comum, através da avaliação dos genótipos disponíveis no 
germoplasma da instituição, visando o melhoramento da leguminosa no Estado de Mato 
Grosso, através da identificação e caracterização genética da variabilidade de isolados 
de C. lindemuthianum por meio da identificação das raças do patógeno e por técnicas de 
inoculação, a fim de auxiliar o programa de melhoramento da Unemat, na indicação e 
geração de cultivares resistente a doença. 
 
2. Justificativa 
 
A cultura do feijoeiro Comum pode ser afetada por um grande número de 
doenças, destacando-se o fungo patogênico C. lindemuthianum, que causam perdas 
variáveis na produção, podendo chegar a 100% e/ou depreciar a qualidade do produto 
tornando-o menos atrativo ao comércio. Dentre as inúmeras alternativas de controle, a 
utilização de cultivares resistentes pode ser considerada a mais eficiente, além de ser 
mais econômica e não causar prejuízos ao meio ambiente. 
Embora os programas de melhoramento genético já tenham colocado à 
disposição dos produtores várias cultivares resistentes, o desenvolvimento de linhagens 
visando resistência a essa doença, tem sido um processo contínuo, devido à grande 
variabilidade que o fungo apresenta, refletida em um grande número de raças 
fisiológicas. 
A alta variabilidade do patógeno é o principal fator limite ao controle da 
antracnose do feijoeiro comum, uma vez que novos genes de virulência no patógeno 
quebram a resistência genética de importantes genes de resistência a antracnose no 
hospedeiro. 
Portanto, a identificação e caracterização de genes de resistência a antracnose 
são fundamentais em programas de melhoramento que visem resistência genética mais 
duradoura. Assim, uma medida de controle ideal seria a obtenção de novas cultivares 
com resistência aos patótipos mais frequentes na região. 
 
 
 
 
 
3. Objetivo geral 
 
Este projeto tem como objetivo identificar fontes de resistência à antracnose 
através da avaliação dos genótipos disponíveis no germoplasma da instituição, além dos 
genótipos resistentes coletados nas regiões produtoras do Estado, a fim de auxiliar o 
programa de melhoramento da Unemat, na indicação e geração de cultivares resistente a 
doença. 
4. Objetivos específicos 
 
- Identificação de fontes de resistência à antracnose do feijão comum a partir dos 
genótipos resistentes coletados nas áreas produtoras do Estado de Mato Grosso e 
disponíveis no banco de germoplasma da Unemat. 
- Indicação de cultivares resistente ao C. lindemuthianum parao programa de 
melhoramento de feijão comum da UNEMAT. 
 
5. Metodologia 
 
As cultivares estudadas serão obtidas através do banco de germoplasma da 
Unemat. A origem dessas cultivares foram lavouras de feijão comuns afetadas com 
antracnose no Estado de Mato Grosso. As amostras foram devidamente identificadas e 
levadas até o Laboratório de Recursos Genéticos & Biotecnologia da UNEMAT, onde 
estão adequadamente armazenadas. 
De acordo com Mathur et al. (1950) o isolamento do patógeno será feito a partir 
das lesões com sintomas de antracnose..Esses materiais serão previamente desinfetados 
(imersão em hipoclorito de sódio comercial e álcool 70% ). Em seguida será feita a 
lavagem pela imersão em água esterilizada por um minuto e secagem do material em 
papel toalha. As amostras serão transferidas para tubos de ensaios previamente 
umedecidos, onde permanecerão por 48 horas em câmara de crescimento (BOD), sem 
luz e a uma temperatura de 22 ± 2oC, formando uma câmara úmida para induzir a 
esporulação do patógeno. 
Os conídios provenientes da esporulação serão transferidos para placas de Petrí 
com meio de cultura BDA + antibiótico (batata-dextrose-ágar + estreptomicina), em 
 
 
 
câmara de fluxo contínuo. As placas serão transferidas para câmara BOD para 
desenvolvimento do fungo. Após o período de incubação, cerca de 10 dias, serão 
retirados pequenos discos do micélio formado e transferidos as novas placa de Petrí, as 
quais serão novamente mantidas em câmara de BOD, a 22 ± 2oC. 
O preparo do inóculo seguirá a metodologia proposta por Cárdenas et al. (1964), 
onde será feita multiplicação dos esporos de cada isolado do C. lindemuthianum em 
tubos de ensaio contendo vagens (8 a 10 cm), parcialmente imersas (1 a 2 cm) em meio 
ágar-água esterilizadas. Após a repicagem do isolado para as vagens, as mesmas serão 
incubadas por 15 dias a 22 ± 2oC, em BOD, para esporulação do patógeno. 
Após 14 dias, as vagens serão colocadas em um becker contendo água destilada 
esterilizada, dando origem a uma suspensão de esporos, que será filtrada através de uma 
dupla camada de gaze, obtendo-se assim uma suspensão de esporos. Na determinação 
da concentração de esporos de cada isolado do patógeno serão efetuadas cinco 
contagens em microscópio, com o auxílio do hematocitômetro (câmara de Neubauer-
Preciss). 
Após a contagem, a suspensão de esporos será ajustada à concentração 
aproximada de 1,2 × 106 esporos mL-1 de água destilada esterilizada. Os isolados 
monospóricos serão inoculados nas 12 cultivares diferenciadoras do C. lindemuthianum, 
a fim de se obter os fenótipos de virulência dos isolados (Pastor-Corrales, 1988; 
Mahuku e Riascos, 2004). Após a inoculação, as plântulas serão mantidas em uma 
câmara de nebulização por 72 horas, controlando-se a luminosidade e com 
aproximadamente 100% de umidade relativa. Em seguida, as plantas serão avaliadas (7 
dias). A avaliação visual dos sintomas em cada plântula será realizada utilizando-se a 
escala de severidade proposta por Pastor-Corrales (1991). 
Para determinação das raças do C. lindemuthianum, será utilizada a escala de 
valores binários de acordo com Pastor-Corrales (1991). 
Para a identificação de fontes de resistência para as raças encontradas na etapa 
anterior e as raças já existentes na literatura serão utilizadas cultivares comerciais 
coletadas pelas regiões produtoras de feijão comum de Mato Grosso e adicionalmente 
serão utilizadas as cultivares provenientes do banco de germoplasma do Laboratório de 
Recursos Genéicos da Unemat. 
As raças previamente identificadas serão inoculadas nas cultivares comerciais 
disponíveis e também nos acessos de Feijão Comum do banco de germoplasma, 
 
 
 
seguindo o mesmo protocolo anterior, Mathur et al. (1950), Cárdenas et al. (1964) e 
Pastor-Corrales (1991). 
 
6. Atividades 
 
1. Isolamento e manutenção dos isolados 
2. Produção de micélio/esporos 
3. Semeadura das cultivares diferenciadoras, comerciais e dos acessos do banco de 
germoplasma; 
4. Inoculação das raças identificadas nas cultivares comeciais e nos acessos do banco de 
germoplasma; 
5. Identificação de novas raças do fungo C. lindemuthianum para o estado do Mato 
Grosso; 
6. Identificação de fontes de resistência para o fungo C. lindemuthianum para o estado 
do Mato Grosso 
7. Tabulação e organização dos dados 
8. Confecção da dissertação e artigo científico. 
 
 
6. Bibliografia 
 
BARBOSA, F.R.; GONZAGA, A.C.O. Informações técnicas para o cultivo do 
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