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CRIMINOLOGIA E APOLOGÉTICA: C.S. LEWIS COMO SÍNTESE ENTRE A ESCOLA CLÁSSICA E A ESCOLA POSITIVA NO CRISTIANISMO PURO E SIMPLES

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO - UFMA 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, SAÚDE E TECNOLOGIA – CCSST 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
JOSÉ DOMINGOS MARTINS DA TRINDADE 
 
 
 
CRIMINLOGIA E APOLOGÉTICA: C.S. LEWIS COMO SÍNTESE ENTRE A 
ESCOLA CLÁSSICA E A ESCOLA POSITIVA NO CRISTIANISMO PURO E 
SIMPLES 
 
 
 
 
 
 
 
IMPERATRIZ - MA 
2019 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO - UFMA 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, SAÚDE E TECNOLOGIA – CCSST 
CURSO DE DIREITO 
 
 
JOSÉ DOMINGOS MARTINS DA TRINDADE 
 
 
 
CRIMINOLOGIA E APOLOGÉTICA: C.S. LEWIS COMO SÍNTESE ENTRE A 
ESCOLA CLÁSSICA E A ESCOLA POSITIVA NO CRISTIANISMO PURO E 
SIMPLES 
Monografia apresentada ao Curso de Direito da 
Universidade Federal do Maranhão – Centro de 
Ciências Sociais, Saúde e Tecnologia de Imperatriz –, 
como requisito parcial para a obtenção do grau de 
Bacharel em Direito. 
Área de concentração: Criminologia; Direito Penal. 
Orientador: Profº.: Gabriel Araújo Leite 
 
 
 
IMPERATRIZ/MA 
2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FICHA BIBLIOGRÁFICA* 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
JOSÉ DOMINGOS MARTINS DA TRINDADE 
 
CRIMINOLOGIA E APOLOGÉTICA: C.S. LEWIS COMO SÍNTESE ENTRE A 
ESCOLA CLÁSSICA E A ESCOLA POSITIVA NO CRISTIANISMO PURO E 
SIMPLES 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade Federal do 
Maranhão – Centro de Ciências Sociais, Saúde e Tecnologia de Imperatriz –, como 
requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. 
 
 
Aprovado em: ____/____/____. 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
______________________________________________ 
 (Orientador) 
Universidade Federal do Maranhão 
 
 
 
______________________________________________ 
1ª Examinador 
 
 
 
______________________________________________ 
2º Examinador 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este trabalho à minha família, pelo amor e 
carinho. À minha amada esposa, Ivone, pela 
dedicação e cumplicidade. Aos meus filhos, 
Isabella e Israel fonte de inspiração e 
motivação. 
AGRADECIMENTOS 
 
Aos meus pais, José Vieira e Luecí, pela paciência e dedicação que tiveram ao 
me ensinar o verdadeiro sentido de dignidade e amor. 
Aos meus irmãos, Rosane, Fábio, Fredson e Célia, que sempre me apoiaram 
nessa longa jornada, com incentivos e aspirações de sucesso. 
À minha amada e adorável esposa, Ivone, aos meus amados filhos Isabella e 
Israel, aos meus amigos e demais familiares por estarem sempre ao meu lado 
compartilhando meus anseios e conquistas. 
E acima de tudo, a Deus, por me ensinar a cada dia a ser grato por todas as 
coisas. 
A gratidão sempre será uma das mais belas virtudes do homem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
A Escola Clássica Criminológica e a Escola Positiva Criminológica divergiram em 
alguns temas que também são caros à Apologética. O presente trabalho tem por 
objetivo analisar o suposto processo de superação da Escola Clássica pela Escola 
Positiva, criando uma síntese entre as duas correntes se utilizando de outra ciência, 
a saber: a Teologia. Para tanto, busca identificar os principais argumentos das Escolas 
que giram em torno dos temas: Lei Natural, Livre Arbítrio e Método Científico, 
balizando com o pensamento do grande Apologista irlandês C.S.Lewis que também 
escreveu sobre os mesmos temas no seu mais famoso livro: Cristianismo Puro e 
Simples. Ao longo do Trabalho, a Escola Clássica é analisada em torno do seu 
principal expoente, o famoso iluminista italiano Marques de Beccaria, já a Escola 
Positiva é representada pelo sociólogo italiano Enrico Ferri que junto com os também 
italianos Cesare Lombroso e Raffaele Garofalo são considerados os fundadores desta 
Escola. 
 
Palavras-chaves: Escola Clássica, Escola Positiva, Direito Natural, Livre Arbítrio, C.S 
Lewis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
 
The Criminological Classical School and the Positive Criminological School have 
diverged on some issues that are also dear to apologetics. This paper aims to analyze 
the supposed process of overcoming the Classical School by the Positive School, 
creating a synthesis between the two currents using another science, namely: 
Theology. To this end, it seeks to identify the main arguments of the Schools that 
revolve around the themes: Natural Law, Free Will and Scientific Method, underlining 
the thinking of the great Irish Apologist C.S Lewis, who also wrote about the same 
themes in his most famous book: Christianity Pure and simple. Throughout the Work, 
the Classical School is analyzed around its main exponent, the famous Italian illuminist 
Marquess of Beccaria, while the Positive School is represented by the Italian 
sociologist Enrico Ferri who together with the Italians Cesare Lombroso and Raffaele 
Garofalo are considered the founders of this school. 
 
Keywords: Classical School, Positive School, Natural Law, Free Will, C.S Lewis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 09 
2. CRIMINOLOGIA ......................................................................................... 11 
3. A ESCOLA CLÁSSICA CRIMINOLÓGICA ............................................... 13 
3.1 Direito Natural........................................................................................... 15 
3.2 O Contrato Social..................................................................................... 21 
3.3 O Método Dedutivo................................................................................... 23 
3.4 O Livre Arbítrio ......................................................................................... 25 
4. ESCOLA POSITIVA CRIMINOLOGICA ..................................................... 28 
4.1 - O Positivismo Filosófico........................................................................ 29 
4.2 Positivismo Jurídico ................................................................................ 30 
4.3 - Críticas de Ferri à Escola Clássica....................................................... 31 
5 - C.S LEWIS COMO SÍNTESE ENTRE AS DUAS ESCOLAS..................... 38 
5.1 C.S Lewis e a Lei Natural ........................................................................ 39 
5.1.1 Algumas objeções à Lei Natural.......................................................... 43 
5.2. C.S. Lewis e o Livre Arbítrio ................................................................. 45 
5.3 C.S Lewis a Ciência e o Método Indutivo ............................................. 47 
6. CONSIDERAÇÕE FINAIS.......................................................................... 50 
 REFERÊNCIAS.......................................................................................... 52 
 
9 
 
1. INTRODUÇÃO 
O Conflito entre a Escola Clássica Criminológica e a Escola Positiva 
Criminológica que é apresentado na Disciplina de Criminologia no Curso de 
Direito, inicia-se logicamente com o próprio surgimento da Escola Positiva. 
Aliás foi o principal representante da Escola Positiva, o Escritor Enrico Ferri, 
que cunhou o nome de Escola Clássica àquela tendência de pensamento 
evidenciada principalmente nos escritos do Marques de Beccaria. 
De forma geral, essas “disputas”, acontecem na história do Pensamento 
Humano, principalmente na Filosofia, e que foi tão bem observado por Hegel, 
no que é chamado de Dialética Hegeliana, que se resume em Tese, Antítese e 
Síntese. Neste Trabalho Monográfico, a Escola Clássica será a Tese, a Escola 
Positiva a Antítese e o pensamento de C.S. Lewis a Síntese. 
Diante do avanço do Positivismo de Augusto Conte no século XVIII, um 
forte grau de cientificismo e porque não dizer de ateísmo também, tomaram 
conta das Disciplinas Acadêmicas do Pensamento Ocidental, sendo essa 
cientificidade, a proposta principal do que é conhecido na Filosofia como 
Positivismo.No Direito, essa tendência cientificista evidenciou - se numa 
tentativa de superação do pensamento da Escola Clássica pelo pensamento da 
Escola Positiva. 
A grande questão que será enfrentada ao longo deste Trabalho 
Monográfico, será a de defender alguns conceitos utilizados pela Escola 
Clássica Criminológica, considerados ultrapassados pela Escola Positiva e 
reafirmar conceitos da própria Escola Positiva, gerando uma a síntese entre as 
duas Escolas. Como parâmetro ou balizamento para esta empreitada, 
utilizaremos um pensador mais atual, que apesar de não ser da área jurídica, 
escreveu sobre os mesmos temas que geraram desacordos entre as duas 
escolas abordadas já citadas, a saber: C.S.Lewis. 
Para chegarmos a uma Conclusão, será necessário, primeiramente, 
perquirir os principais temas que norteiam ou dão fundamentação para as duas 
Escolas Criminológicas, a saber: Lei natural, Livre arbítrio e Método Científico, 
como cada Escola trata dos referidos temas e como C.S Lewis em sua obra 
10 
 
Cristianismo Puro e Simples abordou os mesmos, trazendo fatos novos ou 
corroborando com o pensamento já posto pelas Escolas. 
C.S Lewis (já falecido) foi um escritor considerado Apologeta, ou seja, 
um defensor da fé cristã, a utilização do mesmo neste trabalho não pode ser 
considerada esdrúxula, pois a História do Direito e a própria História da 
Filosofia estão mescladas ou até mesmo entrelaçadas com a Religiosidade, 
maIs especificamente com o cristianismo no Ocidente, achamos então 
pertinente essa síntese, pois os três pensadores tratam dos mesmos temas. 
Esta Pesquisa pretende ainda aprofundar no estudo de um suposto 
processo de superação da Escola Clássica pela Escola Positiva Criminológica 
apresentando argumentação a favor de uma ou outra Escola nos principais 
temas que entraram em disputa, a saber novamente: Direito Natural, Livre 
Arbítrio e Método científico à Luz do apologista de C.S. Lewis. 
O tema escolhido nasceu da possibilidade de contribuição ao Meio 
Acadêmico e também aos futuros leitores da defesa do Direito Natural que 
muitas vezes parece um termo obsoleto no Direito, até mesmo que sofre pré-
conceitos no ramo jurídico. Nesta empreitada escolhemos a disputa entre 
Escola Clássica x Escola Positiva na Criminologia que é onde podemos 
perceber na prática toda essa querela com a não chance de resposta da 
Escola Clássica e alguns resultados da supremacia científica que se mostrou 
inepta diante dos horrores das duas Grandes Guerras. Decorrente disso, ainda 
temos um CPP altamente influenciado pela Escola Positiva Criminológica. Com 
base nesse tema, e recorrendo a pesquisas bibliográficas, vimos a 
necessidade de levantar hipóteses, além de mostrar ao leitor que a Escola 
Clássica não estava errada em alguns de seus pressupostos, no entanto, não é 
objetivo nosso especular como seria um direito penal brasileiro totalmente 
influenciado pela Escola Clássica do Direito. 
 
 
 
11 
 
2. CRIMINOLOGIA 
A Criminologia faz parte das denominadas “Ciências Criminais” junto 
com outras disciplinas como o Direito Penal, o Direito Processual Penal e a 
Política Criminal, dentre estas, a Criminologia parece ser a mais esquecida ou 
deixada de lado pela Literatura jurídica, pela Academia e pela Prática Forense, 
no entanto, assuntos que envolvem a Criminologia são discutidos diariamente 
pela população em geral, sem a noção que pertencem a esta matéria do 
Direito. 
O Conceito de Criminologia pode variar bastante dependendo da ótica e 
da influência filosófica de cada autor, e autores de viés Positivista são os que 
mais simplificam esse conceito, simplificação que segundo Nilo Batista é um 
equívoco, pois esses autores enxergam a Criminologia como um simples 
exame causal-explicativo do crime e do criminoso. 
Nilo Batista também lamenta que os Cursos de Direito apresentem o 
Conceito de Criminologia com o Viés Positivista, para o referido autor, o melhor 
conceito de Criminologia seria o de Lola Aniyar de Castro: 
 
É a atividade intelectual que estuda os processos de criação das 
normas penais e das normas sociais que estão relacionadas com o 
comportamento desviante; os processos de infração e de desvio 
destas normas; e a reação social, formalizada ou não, que aquelas 
infrações ou desvios tenham provocado: o seu processo de criação, a 
sua forma e conteúdo e os seus efeitos. (CASTRO, 1983, p. 52 apud 
BATISTA, 2011, p. 27). 
Dentro da Criminologia é que encontramos o estudo das Escolas Penais, 
no debate sobre essas Escolas é que procuramos entender e explicar muitos 
assuntos relacionados ao Direito Penal. O Conceito de Escola Penal nos dará 
melhor compreensão sobre a amplitude do debate, segundo ESTEFAM (2013, 
p. 56): “Escola Penal significa um conjunto de princípios e teorias que 
procuravam explicar o objetivo do Direito Penal, a finalidade da pena e 
compreender o autor da infração penal”. 
12 
 
De acordo com André Estefam, o embate na Criminologia, mais 
especificamente entre as Escolas Penais, está superado devido ao progresso 
da Ciência e da Sociedade que visam uma síntese do conhecimento e não 
mais um engessamento ortodoxo em uma ou outra Escola, para tanto utiliza o 
pensamento de Salgado Martins sobre o tema: 
 
Atualmente, com o progresso verificado nas ciências que estudam o 
homem e a sociedade e com a tendência predominante na 
inteligência moderna para a síntese do conhecimento, não seria 
sequer defensável uma posição ortodoxa ou rigidamente clássica ou 
positivista com relação aos problemas do Direito Penal. Não se 
compadece nem mesmo com a mentalidade contemporânea o 
sectarismo de princípios e o absolutismo de soluções apresentados 
por uma ou outra escola, naquilo que é essencial ou fundamental ao 
Direito repressivo: a noção do crime, do delinquente e da pena. 
(MARTINS, 1957, p. 83 apud ESTEFAM 2013, p. 61). 
Nilo Batista também enxerga uma evolução na Criminologia como um 
todo, no entanto, para este pensador, a superação que ocorreu foi a superação 
do próprio Positivismo que, segundo o autor, influenciou demasiadamente o 
Direito Penal brasileiro. 
A evolução que Nilo enxerga se dá com uma gama de tendências que 
ele prefere agrupar e denominar de Criminologia Crítica que seria contrária à 
Criminologia Tradicional de base Positivista. Para o autor, o erro jurídico do 
pensamento positivista se deu principalmente na tentativa de se isolar o ser e o 
dever-ser, fruto de uma corrente neokantista. O pensador também resume 
quais seriam outras falhas do positivismo: 
 
a) supor que na transcrição da objetividade cognoscível não se 
imprime a experiencia do sujeito cognoscente; b) reduzir a 
objetividade cognoscível ao que nele for empírica e sensível 
demonstrável; c) ter, portanto, na metodologia o centro e o limite 
inexorável de sua atividade científica; d) conceber de forma 
mecanicista os fatos sociais, produzindo explicações com base em 
relações causais (BATISTA, 2013, p.31). 
13 
 
A criminologia Crítica, como o próprio nome sugere, tenta questionar 
inclusive o próprio Código Penal, coisa que a Criminologia Tradicional não faz, 
indagações ônticas do “como”, “por quê” e “para quem” surgem na investigação 
da Elaboração do Código Penal. A tendência da Criminologia Crítica é a 
Investigação Social, verifiquemos o conceito e as explicações de Nilo Batista 
sobre o tema: 
 
A Criminologia Crítica, portanto, não se autodelimita pelas definições 
legais de crime (comportamentos delituosos), interessando-se 
igualmente por comportamentos que implicam forte desaprovação 
social(desviantes). A criminologia Critica procura verificar o 
desempenho prático do sistema penal, a missão que efetivamente lhe 
corresponde, em cotejo funcional e estrutural com outros 
instrumentos formais de controle social (hospícios, escolas, institutos 
de menores etc). A criminologia Crítica insere o sistema penal – e sua 
base normativa, o direitopenal – na disciplina de uma sociedade de 
classes historicamente determinada e trata de investigar, no discurso 
penal, as funções ideológicas de proclamar uma igualdade e 
neutralidade desmentidas pela prática. Como toda teoria crítica, cabe-
lhe a tarefa de “fazer aparece o invisível” (BATISTA, 2013, p. 32). 
De acordo com o penalista André Estefan, as principais correntes ou 
escolas Penais ao longo da história foram: A Escola Clássica; a Escola 
Positiva; a Terceira Escola e outras menores, nosso trabalho trata da Escola 
Clássica e da Escola Positiva. Diante do que já foi exposto, a Terceira Escola 
e as outras menores se encaixariam na chamada Criminologia Crítica, esta 
Pesquisa aborda principalmente Escola Clássica e Escola Positiva na tentativa 
de construir uma síntese entre as duas Escolas como também pontuou 
Estefan ao tratar do assunto. 
 
3. A ESCOLA CLÁSSICA CRIMINOLÓGICA 
Com inspiração no Iluminismo Italiano do século XVIII, a Escola Clássica 
se fundamenta. É válido lembrar que o Nome Escola Clássica foi dado por 
Enrico Ferri que foi principal nome da Escola Positiva, ou seja, um antagonista. 
14 
 
Antes, a Escola Clássica era vista como um movimento humanitário para 
suavizar o Direito de Punir Estatal da época. O maior expoente dessa Escola 
foi o Marques de Beccaria, através da sua principal obra intitulada “Dos Delitos 
e das Penas”, no qual fez diversas críticas ao Sistema Penal vigente. Os 
principais pensadores que influenciaram Beccaria foram Montesquieu, Hume e 
Rousseau, principalmente o Contratualismo de Rousseau. 
Rousseau terá um subtópico à parte neste Tópico quando tratarmos do 
Contrato Social, Hume entra na obra de Beccaria quando se trata de 
“Associação das ideias”, é o que nos preconiza Eduardo Gagliano: 
 
Quanto à ideia de associação, Beccaria baseou-se na teoria de 
“associação das ideias” do filosofo David Hume. Este dizia que 
fenômenos particulares e experiências se tornam ligadas no cérebro 
humano por que são rapidamente seguidas umas das outras. 
Consequentemente, o autor acreditava que a ideia de crime e pena 
só seriam associadas rapidamente na mente de todo o público se 
fossem necessariamente seguidas uma da outra. (YAR, M. 2010, p.5 
apud GAGLIANO, 2012, p 5-6) 
Quanto à influência de Montesquieu na obra de Beccaria continuamos 
com Eduardo Gaggliano citando o próprio mestre Italiano: 
 
Toda pena que não deriva de absoluta necessidade – diz o grande 
Montesquieu – é tirânica. Proposição que pode tornar-se mais geral 
da seguinte forma: todo o acto de autoridade de um homem sobre 
outro homem que não derive de absoluta necessidade é tirânico. 
(BECCARIA 2003, p.64 apud GAGLIANO, 2012, p. 3-4). 
Muitos princípios norteiam a Escola Clássica, para o nosso intuito, 
interessam os princípios de que: 
O Ser humano é dotado de Livre arbítrio; 
O Direito Penal é emanado da Lei Moral Racional; 
15 
 
Foram esses dois princípios os que mais sofreram críticas por parte da 
Escola Positiva, a outra ferrenha crítica recai sobre o abuso do método 
dedutivo pela Escola Clássica. 
Somando-se os dois princípios elencados e o método utilizado, temos 
que a Escola Clássica preconiza : 
 
O agente que opta pelo conduta delituosa baseou-se em seu 
"livre arbítrio" para realização do fato típico, ou seja, a Escola 
Clássica inspirada pela doutrina do "Direito Natural" se afasta 
da ciência social, valendo-se da critério de dedução a Escola não 
procura investigar o "motivo" que levou o agente a descumprir a 
norma” (JÚNIOR, 2011, p. 2). 
 
3.1 Direito Natural 
O Jusnaturalismo é visto dentro da Filosofia do Direito como uma gama 
de pensamentos que reúne pontos em comum em volta do Direito Natural. O 
Jusnaturalismo não se apresenta uniforme ao longo da História, mas o que une 
essa corrente de pensamento é a visão que além dos Códigos Escritos, há 
uma ordem de Direito Superior que é a expressão de um Direito ideal, ou seja, 
perfeito e justo. 
Para Paulo Nader a diferença no conceito de Direito Natural 
principalmente através dos tempos está na origem desse Direito: 
 
Para o estoicismo helênico, localizava-se na natureza cósmica. No 
pensamento teológico medieval, o Direito Natural seria a expressão 
da vontade divina. Para outros, se fundamenta apenas na razão. O 
pensamento predominante na atualidade é de que o Direito Natural 
se fundamenta na natureza humana (NADER, 2013, p. 374). 
Perquirindo as várias fontes sobre o tema, percebemos que o conceito 
jurídico/filosófico de Direito Natural não é tão simplório ou diminuto como à 
16 
 
primeira vista parece ser, seguindo com Nader conseguimos extrair e montar 
um conceito: 
O raciocínio que nos conduz à ideia do Direito Natural parte do 
pressuposto de que todo ser é dotado é dotado de uma natureza e de 
um fim. A natureza, ou seja, as propriedades que compõem o ser, 
define o fim a que este tende a realizar. (...) O adjetivo natural, 
agregado à palavra direito, indica que a ordem de princípios não é 
criada pelo homem e que se expressa algo espontâneo, revelado 
pela própria natureza. (NADER, 2013, p. 375) 
Já como um movimento rumo à Laicização característica da Cultura 
Moderna é que se insere o que é conhecido como Direito Natural, marcado 
pela ideia de que todo Universo segue uma razão baseada na Matemática e na 
Geometria inclusive as ações humanas. Hugo Grócio é tido como o principal 
fomentador do Direito Natural de cunho racional que elege a Reta razão como 
guia das ações humanas e não mais um Ser Sagrado. 
Ainda assim, mesmo dentro da Escola Clássica do Direito Natural, os 
diferentes autores não concordavam entre si quanto à fonte última do Direito 
Natural, autores como Leibniz e Wolf pregavam ainda que Deus seria a fonte 
última do Direito Natural, o que obviamente contrastava com Grócio, Pufendorf 
e Lock que elegeram a Reta razão. 
No entanto, como já mencionado, antes de Hugo Grócio, do qual 
voltaremos a tratar à parte, encontramos características do que é conhecido 
como Direito Natural ou Lei Natural em diversas culturas antigas e medievais, 
desde o Antigo Egito e Babilônia, passando por Grécia, Roma Clássica e os 
filósofos teólogos Medievais. Na Antiguidade, sobre o Egito Antigo, extraímos o 
que nos preconiza o Dicionário Jurídico Acquaviva: no Egito Antigo pg 318: 
 
Quanto à evolução histórica do Direito Natural, observa Bernadino 
Montejano que no antigo Egito, mais precisamente no Antigo Império 
(2895 a 2540 a.C), a deusa Maat se indentificava com a própria 
ordem estabelecida, autocrática; mais tarde, todavia, durante o 
Império tebano (1580 a 1100 a.C) a noção de um julgamento dos 
17 
 
mortos por Deus, se torna a última esperança dos justos oprimidos 
(ACQUAVIVA, 2013, p. 320) 
Sobre a Lei Natural na Babilônia, seguimos com Acquaviva (2013, p. 
320): 
 
 Na antiga Mesopotâmia, região onde se acha o atual Iraque, e assim 
denominada por se localizar entre dois rios (mesos + pótamos), quais 
sejam, o Tigre e o Eufrates, floresceram notáveis civilizações, como a 
assíria e a babilônica. Entre os anos 1728 a 1688 a.C,, a Babilônia foi 
governada por um rei, Hamurabi, que se tornaria célebre por ter 
consolidado a Legislação de seu país, gravando-a numa pedra de 
diorito negro, com 2,25 m de altura, a qual se encontra, hoje no 
Museu do Louvre. (...) Como se vê, Hamurabi se propõe não apenas 
regulamentar a vida civil, mas também realizar a Justiça ideal, numa 
ordem estabelecida pelos deuses, reflexo da harmonia de um mundo 
superior. 
Outra Civilização antiga importante no trato com o que chamamos de 
Direito Natural foi a Civilização Hebraica que sempre procurou se distanciar da 
Cultura politeísta das outras civilizações vizinhas. Independentemente se os 
fenômenos que aconteceram naquelas terras do Oriente Médio foram 
sobrenaturais ou não, o registro bíblico nos revela como a Civilização Hebreia 
deu um salto de qualidade nas questõesmorais que nas outras Civilizações 
não eram tão evidentes. 
O próprio Código de Hamurabi, já citado anteriormente, fica aquém da 
Lei Mosaica com relação à preceitos morais e mesmo que muitos escritores 
digam que a Lei Mosaica é um plágio do Código de Hamurabi, é observável a 
superioridade da Lei Hebreia com relação a Lei de Hamurabi, até por isso o 
Direito Hebreu é marco inicial quando se trata da História dos Direitos 
Humanos. Aqcuaviva (2013, p. 320) também nos destaca alguns preceitos da 
Lei Judaica: 
 
Em referência ao Direito hebraico, inúmeros preceitos revelam a 
intuição da existência de um Direito Natural, haja vista o que diz o 
18 
 
texto bíblico, mais precisamente o Exodo (23:7), quanto ao direito à 
vida: “ Não mates o inocente e o justo, porque não abolsvirei o 
culpado”. O dever moral de veracidade ainda no Exodo (23: 6 e 7) 
aparece, cristalino: “Não violes o direito do pobre em seu processo. 
Afasta-te de causas mentirosas”. O texto sugere notável semelhança 
com esta passagem do Livro dos Provérbios, do rei Salomão: Não 
armes demanda a homem algum sem causa, e quando te não fez 
algum mal” (Capitulo III, 27) 
Na Idade Média, tomando por base os escritos de Santo Agostinho e 
São Tomás de Aquino, que são dois dos maiores representantes do 
pensamento medieval, o primeiro relacionado à Patrística e o segundo à 
Escolástica, temos que a Lei superior ou divina emana de uma força 
sobrenatural que obviamente para eles é Deus. É o que nos explica Bittar e 
Almeida (2012, p. 282): 
 
 Essa concepção surge, de modo cristalino, nas concepções de Santo 
Agostinho e Santo Tomás de Aquino. A Cidade de Deus é o lugar 
regido pela lei divina que contrasta com a cidade dos homens, regida 
pela lei humana. A tarefa de incorporar a lei divina no âmbito da lei 
humana é o que deve ser realizado pelo Direito. Ressalta-se que se 
trata de uma tarefa dificílima. Na concepção tomista há uma lei 
eterna, uma lei natural e uma lei humana. A lei eterna regula toda a 
ordem cósmica (céu, estrelas, constelações etc) e a lei natural é 
decorrente desta lei eterna. Fica claro nas duas concepções, 
sinteticamente resenhadas anteriormente, que a lei superior (a divina, 
para Santo Agostinho, e a eterna, para Santo Tomás de Aquino) 
emana de uma força sobre-humana, qual seja: Deus. 
Com Hugo Grócio no século XVII, notamos uma mudança pontual no 
conceito de Lei Natural que agora passa a ser chamado de Direito natural, 
elegendo a reta razão como balizadora das ações humanas, essa mudança de 
prumo na Esfera do Direito é também comparada à Revolução Copernicana, 
pois indica um novo rumo a ser seguido pela Ciência jurídica de então. 
Grócio foi um jurista nascido na Holanda, filho de pai protestante e mãe 
católica, escreveu sobre Filologia, História, Teologia e também fez poesia, sua 
19 
 
principal obra, na qual expõe sua concepção do Direito Natural é De Jure Bellic 
ac Pacis de 1625. 
A Holanda em que Hugo Grócio nasceu e se formou, possuía uma 
característica marcante na época, que era a de ser altamente urbanizada 
mesmo ainda em um período de Feudalismo. Delft sua cidade natal era uma 
cidade fortemente comercial, esse ambiente influenciou grandemente seu 
pensamento é o que escreve Bittar e Almeida (2012, p. 284): 
 
 (...) A cidade é um elemento não feudal na estrutura social da época, 
e os mercadores e comerciantes, seus principais habitantes, 
constituíram um sistema administrativo e judiciário autônomo dos 
senhores feudais. As cidades holandesas se transformaram-se em 
communitas – uma comunidade estruturada em forma corporativa – e 
podiam fazer alianças, estabelecer relações comerciais e militares 
com outras cidades. Algumas vezes, a cidade colocava-se, 
expressamente, sob a proteção de um príncipe, declarando-lhe 
lealdade. Esta experiência de autonomia desenvolveu-se e se 
transformou no moderno conceito de soberania. 
Foi nesse ambiente que nasceu e se formou Hugo Grócio. Sua 
doutrina do Direito Natural reflete esse desejo de autonomia, que se 
manifesta, de modo inicial, em relação à Teocracia. Não é mais Deus 
ou a ordem divina o substrato do Direito, mas a natureza humana e a 
natureza das coisas. Não há possibilidade de uma sanção religiosa. 
O Direito Natural não mudaria seus ditames na hipótese da 
inexistência de Deus, nem poderia ser modificado por ele. 
Os diferentes autores da Escola Clássica do Direito Natural (Não 
confundir com a Escola Clássica Criminológica objeto de nossa Pesquisa) não 
tiveram unanimidade de pensamento, muitos ainda continuaram afirmando que 
Deus seria a fonte última do Direito Natural e é essa linha que Beccaria vai 
seguir já no século XVIII, mesmo com toda influência iluminista revolucionária, 
no entanto, Beccaria defendeu o que ficou conhecido na história como os 
“Déspotas Esclarecidos”. Sobre isso nos diz Reale e Antiseri (2005, p. 673): 
 
20 
 
O ideal jusnaturalista de um direito em conformidade com a razão 
precisa-se de modo sempre mais radical no século XVIII, inspirando 
projetos de reformas. Tais reformas muitas vezes são 
operacionalizadas pelos próprios soberanos, muitos dos quais 
gostam de ser chamados “iluminados”, embora permanecendo 
absolutistas, mas outras vezes também são propugnadas e 
realizadas contra eles.” 
Beccaria segue uma linha parecida com Pufendorf o jus filósofo alemão, 
discípulo de Grócio que diz: 
 
É muito evidente que os homens derivam o conhecimento de seu 
dever, e do que é adequado fazer, ou do que deve ser evitado nesta 
vida, por assim dizer, de três fontes, ou nascentes: da luz da 
natureza; das leis e constituições dos países; e da especial revelação 
de Deus Todo-Poderoso” (PUFENDORF, 2007, p 41). 
Pufendorf além de ter sido influenciado por Grócio, também recebeu 
fortes influencias de Hobbes e Descartes que ajudaram a formar a sua visão de 
Direito Natural. O Jurisconsulto alemão vivenciou a Guerra dos Trinta anos na 
Europa e viu nascer a Paz de Westfália, todos esses acontecimentos 
influenciaram a sua obra que é vista como sincrética por muitos pensadores 
famosos do Direito contemporâneo como Norberto Bobbio. 
À semelhança com o conceito de Direito Natural de Pufendorf, 
encontramos no Delito e das Penas: 
 
Os preceitos de moral e de política que têm aceitação entre os 
homens derivam, quase sempre, de três fontes: a revelação, a lei 
natural e as convenções sociais. Entre a primeira e as duas últimas 
não há comparação possível, considerados os seus fins principais, 
completam-se, contudo, quando tendem, de modo igual, a tornar os 
homens felizes na terra (BECCARIA, 2003, p. 8). 
No entanto, não podemos deixar de notar uma diferença entre os 
pensamentos de Grocio e Putendorf com relação ao pensamento de Beccaria, 
essa diferença fica na adesão ao método indutivo tanto por parte do Pensador 
21 
 
Holandês, quanto por parte do pensador Alemão, sobre o método indutivo na 
obra de Putendorf e Hugo Grócio, voltamos com Bittar e Almeida (2012, p. 
286): 
 
 Ao explicar seu método de reflexão, Pufendorf evidencia sua adesão 
ao método das ciências matemáticas e ao raciocínio indutivo, o que o 
aproxima de Hugo Grocio (...) Conforme aponta Pufendorf, usa-se o 
método dos matemáticos para a descoberta de um princípio imutável. 
Essa ideia, cara à Escola Clássica do Direito Natural, faz dele um 
Direito imutável, perene às transformações históricas e não suscetível 
aos diversos costumes e tradições dos diferentes povos. 
Já fizemos a Ressalva para não se confundir a Escola Clássica do 
Direito Natural com a própria Escola Clássica Criminológica, por isso, algumas 
diferenças entre os pensamentos de autores Clássicos que influenciaram 
Beccaria com o do mesmo, quanto à questão dos métodos matemáticos, são 
tópicos fundamentais no objetivo deste trabalho que é de mostrar a diferença 
entre as duas escolas e serão tratados em capítulos próprios. 
 
3.2 O ContratoSocial 
Às Vésperas da Revolução Francesa se desenvolve o pensamento de 
Jean – Jacques Rousseau (1712-1778), seu pensamento portanto é fruto da 
efervescência de um tempo de mudanças na estrutura do Medievalismo. A 
própria Revolução Francesa é vista como o desembocar prático da Teoria do 
filosofo Frances. 
No entanto, apesar daquele momento de extremado racionalismo, de 
desabrochar do individualismo, a Teoria de Rousseau nos traz um punhado de 
Nostalgia do passado, de bucolismo, da solitude evidenciados no bom 
Selvagem, sendo isso tudo, características do Romantismo do século XVIII. 
Para entendermos melhor a Tensão entre o pensamento de Rousseu e o 
Racionalismo da época acompanhamos Bittar e Almeida (2012, p. 294-295): 
22 
 
 
Se a bondade é intrínseca à natureza humana, o estado cívico só 
pode corresponder a um estado degenerado da convivência humana, 
em que o desgoverno, o destempero, a corrupção, a beligerância 
medram. Abdicarem os homens de suas liberdades individuais e 
naturais para imergirem no seio do convencionalismo contratual 
somente sob a condição de que o contrato social garanta a 
continuidade do estado de natureza, ou seja, do estado de liberdade; 
é isto que cumpre analisar por meio dessa investigação.” 
Rousseau foi um filósofo de grande influência no pensamento de 
Beccaria. Diferentemente de Hobbes, Rousseu preconiza que o homem tem 
uma natureza boa ou que é bom por natureza. Sem a organização política os 
homens exerciam livremente o direito natural, onde não havia corrupção nem a 
propriedade provida. A desarmonia nas relações entre os homens teria surgido 
quando alguns destes, usando a força, estabeleceram o domínio. É o que nos 
diz França e Rocha (2010, p. 182): 
 
A sociedade civil teria sido fundada por um individuo que, cercando 
um terreno, declarou: “Isto me pertence!”. Se naquele momento 
alguém houvesse gritado: “Guardai-vos de escutar este impostor!”, 
teria poupado à humanidade: crimes, guerras e assassinatos 
 No seu livro o Contrato Social de 1762, que é uma obra complementar 
ao Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdades entre os 
Homens, o filósofo faz uma análise da gênese do Estado, defende 
hipoteticamente que houve um pacto entre os homens, que ao se unirem, 
saíram do Estado de natureza formando assim o Estado organizado. Os 
homens teriam adquiridos direitos civis ao darem seus direitos naturais ao 
Estado. O objetivo das leis seria a promoção da liberdade e da igualdade entre 
os homens. O contrato seria uma união de forças particulares em prol de um 
bem maior, sobre o tema, evocamos novamente Bittar e Almeida (2012, p. 
297): 
 
23 
 
O contrato aparece como forma de proteção e de garantia de 
liberdade, e não o contrário. A união de forças destina-se à realização 
de uma utilidade geral, que não se confunde com a utilidade deste ou 
daquele membro. Que se busca é a concretização do que não seria 
possível ou acessível ao homem em seu estado de natureza, quando 
as forças particulares agiam desagregadamente.” 
A influência do Contrato Social de Rousseau sobre Beccaria, começa a 
aparecer mais nitidamente no Livro Dos Delitos e das Penas, a partir do 
Capitulo II, que tem como título Origem das Penas e do Direito de Punir. Nessa 
parte do livro, o autor Italiano prega que qualquer lei deve estar pautada em 
sentimentos do coração do homem e com isso a lei se legitima como punitiva. 
A partir daí, Beccaria discorre sobre suas ideias contratualistas: 
 
(...) os primeiros homens, até então em estado selvagem, foram 
forçados a se agrupar. Constituídas algumas sociedades, de pronto 
se formaram outras, pela necessidade surgida de se resistir às 
primeiras, e assim viveram esses bandos, com haviam feito 
indivíduos, em permanente estado de beligerância entre si. As leis 
foram as condições que agruparam os homens, no inicio 
independentes e isolados, à superfície da terra (BECCARIA, 2003, p. 
17-18). 
Prosseguindo com o Mestre Italiano e o Contrato: 
 
Assim sendo, somente a necessidade obriga os homens a ceder uma 
parcela de sua liberdade; disso advém que cada qual apenas 
concorda em pôr no depósito comum a menor porção possível dela, 
quer dizer, exatamente o necessário para empenhar os outros em 
mantê-lo na posse do restante. 
A reunião de todas essas pequenas parcelas de liberdade constitui o 
fundamento do direito de punir (BECCARIA, 2003, p. 19). 
 
3.3 O Método Dedutivo 
24 
 
O raciocínio de Beccaria focado na dedução tem origem na Lógica 
Aristotélica, como a matemática é certa, o Direito Natural também é, ou seja, 
não existe arbitrariedade nele, é assim que pensavam muitos jus naturalistas, 
que também se utilizaram do método indutivo mais aceito pela ciência e pelos 
próprios positivistas. Sobre isso seguimos com Bittar e Almeida (2012, p. 284): 
 
O método dedutivo, influência do raciocínio matemático e geométrico, 
é o que possibilita à reta razão alcançar as regras invariáveis da 
natureza humana . 
É essa ideia que está na raiz das modernas Declarações de Direitos 
Humanos. Declara-se não o que é oculto e imperceptível, mas o que 
é de fácil acesso à razão humana. 
A Dedução é um método de raciocínio que vai do Universal para o 
particular, o contrário do método indutivo que vai do particular para o Universal. 
O Silogismo clássico para mostrar como funciona a Dedução é o seguinte: 
Primeira premissa: Todo homem é mortal 
Segunda premissa: Sócrates é um homem 
Conclusão: Portanto, Sócrates é mortal. 
Sobre o silogismo acima, nos explica Sproul (2002, p. 83): 
 
“A primeira premissa é uma declaração afirmativa universal: todos os 
que fazem parte de uma classe (o homem ) têm o atributo ou 
predicado da mortalidade. A segunda premissa é uma afirmação 
particular: um individuo específico (Sócrates) faz parte da classe dos 
homens. A conclusão (uma afirmação particular) de que Sócrates é 
mortal é alcançada pela certeza. Pela lei da inferência imediata, se 
todos os membros de uma classe têm certo atributo, todo membro 
específico dessa classe também têm de ter esse atributo”. 
Explanando sobre a interpretação das leis, Beccaria diz que o Soberano 
é que é o legitimo interprete da Lei, e que o juiz tem apenas o dever de 
25 
 
examiná-la para saber se uma pessoa cometeu ou não algum delito. Nesse 
raciocínio entra a defesa do método dedutivo pelo criminologista italiano: 
 
O juiz deve fazer um silogismo perfeito. A maior deve ser a lei geral; a 
menor, a ação conforme ou não à lei; a consequência, a liberdade ou 
a pena. Se o juiz for obrigado a elaborar um raciocino a mais, ou se o 
fizer por sua conta, tudo se torna incerto e obscuro (BECCARIA, 
2003, p. 22). 
Segundo o renomado penalista André Stefam, o método dedutivo seria a 
principal característica da Escola Clássica, que adotou princípios absolutos que 
sobrepunham às leis em vigor, segundo esse autor o método aflorou para o 
combate de uma tendência da época em que: 
“Predominavam leis draconianas, excessivamente rigorosas, de penas 
desproporcionais de tipos penais vagos, enfim, de uma “situação de violência, 
opressão e iniqüidade” (ESTEFAM, 2013, p. 57). 
Para referendar seu ponto de vista, Estefam cita o seguinte trecho do 
prefácio da Obra de Beccária: 
 
[...] essas leis examinadas [referindo-se às normas vigentes na 
Europa], produto dos séculos bárbaros, sã examinadas neste livro no 
que diz interesse ao sistema criminal; e ousa-se expor-lhes as 
desordens aos responsáveis pela felicidade pública, por meio de um 
estilo que afasta o vulgo ilustrado e impaciente. E, mais adiante, 
arremata: “Seria, pois, um erro atribuir princípios contrários à lei 
natural [...] (BECCARIA 2001, p. 11 apud ESTEFAM, 2013, p. 57). 
 
3.4 O Livre Arbítrio 
O livre arbítrio é outro conceito que permeia todo o pensamento de 
Beccária, conceito esse que assim como a Lei Natural é extraído do tempo em 
que a Filosofia se mesclavacom a Teologia, assim como o próprio Direito, 
portanto interligados até o presente. Os chamados “Pais da Igreja” trataram 
26 
 
sobre o tema do Livre arbítrio, uns para defenderem, outros para atacarem, 
entre os que defendiam podemos citar Tertuliano e entre os que atacavam o 
conceito podemos citar Orígenes. 
Foi com Agostinho que o tema do Livre arbítrio se impôs decisivamente 
na reflexão filosófica, Gilson apud (REALE e ANTISERI, 2012, p. 457) resume 
o pensamento agostiniano sobre o Livre Arbítrio: 
 
Duas condições são (...) exigidas para fazer o bem: um dom de Deus, 
que é a graça, e o livre-arbítrio. Sem o livre-arbítrio, não haveria 
problemas; sem a graça, o livre-arbítrio (depois do pecado original) 
não iria querer o bem ou, se o quisesse, não poderia realizá-lo. A 
graça, portanto, não tem o efeito de suprimir a vontade, mas sim de 
torná-la boa, pois que se havia transformado e má. Esse poder de 
usar o livre-arbítrio é precisamente a liberdade. 
Para Agostinho o homem pode atuar tanto contra quanto a favor da Lei 
Divina e o responsável por essas opções é o Livre Arbítrio e por isso mesmo as 
más ações podem ser punidas, pois são praticadas pela vontade humana. 
Para o filósofo só a razão pode frear os instintos e impulsos que 
corrompem a alma, a razão seria o ponto de equilíbrio para o bem viver, 
retornamos com Bittar e Almeida (2012, p. 225) 
 
A vontade governa o homem, e pode faze-lo contra ou a favor do 
próprio homem. Deve-se, portanto, orientar no sentido de 
governabilidade da alma pela alma, onde a razão deve ser o princípio 
motor do comportamento, evitando-se que a alma sucumba sob os 
instintos ou impulsos dos quais não está isenta (concupiscência, ódio, 
homicídio, luxúria, lascívia etc). Há aqui um certo apelo a ideia de 
equilíbrio, de prudentia na atuação prática da vida’. 
O livre arbítrio continuou gerando debates após a Reforma protestante, 
Calvino é considerado o grande opositor da doutrina do Livre Arbítrio, e o 
grande defensor foi o teólogo Jacob Armínio, do qual o próprio Hugo Grocio foi 
seguidor, sendo ambos holandeses. Grócio chegou inclusive a ser preso por 
27 
 
estar ligado ao Arminianismo, tudo porque a disputa entre livre arbítrio e 
Calvinismo extrapolou a Filosofia e a Teologia mesclando-se na política da 
Holanda. 
A respeito do Livre Arbítrio, Jacobus Armínius escreveu: 
 
“A respeito da graça e do livre-arbítrio, ensino conforme as Escrituras 
e o consentimento ortodoxo: o livre arbítrio não tem a capacidade de 
fazer ou aperfeiçoar qualquer bem genuíno espiritual sem a graça. 
Para que não se diga que eu, assim como Pelágio cometo uma 
falácia em relação à palavra “graça”, esclareço que com ela me refiro 
à graça de Cristo que pertence à regeneração: afirmo, que a graça é 
simples e absolutamente necessária para a iluminação da mente, 
para o devido controle das emoções e para a inclinação da vontade 
ao que é bom. (ARMÍNIUS apud FERREIRA e MYATT, 2007, p. 436) 
Na obra de Beccaria Dos Delito e das Penas, observamos o conceito de 
Livre Arbítrio intricado ao conceito de Contrato Social, ou seja, a necessidade 
que os homens tiveram de ceder um pedaço de suas liberdades em prol do 
bem comum o que gerou o direito de punir, vejamos o que diz o mestre italiano: 
 
Assim sendo, somente a necessidade obriga os homens a ceder uma 
parcela de sua liberdade; disso advém que cada qual apenas 
concorda e pôr no depósito comum a menor porção possível dela, 
quer dizer, exatamente o necessário para empenhar os outros em 
mantê-lo na posse do restante. 
A Reunião de todas essas pequenas parcelas de liberdade constitui o 
fundamento do direito de punir. Todo exercício do poder que desse 
fundamento se afaste constitui abuso e não justiça; é um poder de 
fato e não de direito; constitui usurpação e jamais um poder legitimo. 
As penas que vão além da necessidade de manter o depósito da 
salvação pública são injustas por sua natureza; e tanto mais justas 
serão quão mais sagrada e inviolável for a segurança e maior a 
liberdade que o soberano propiciar aos súditos. (BECCARIA, 2003, 
p.19) 
28 
 
4. ESCOLA POSITIVA CRIMINOLOGICA 
É também na Itália que surge uma renovação do Direito Penal, os 
principais expoentes desse Movimento que ficou conhecido como Escola 
Positiva são: Lombroso (antropólogo), Ferri (Sociólogo) e Garofalo (jurista). 
Renovação motivada pelo aumento da criminalidade, mesmo com todos os 
esforços e teorização da Escola Clássica. 
Apesar de Garofolo ser o jurista dos citados, focaremos a nossa 
pesquisa em Ferri, o sociólogo que foi o principal crítico da Escola Clássica, 
como já referido neste trabalho monográfico. 
Além da criminalidade crescente, e do próprio positivismo de Augusto 
Conte, outros aspectos também contribuíram para o incremento da Escola 
Positiva nos fins do século XIX, como o avanço das ciências humanas e 
biológicas, é o que nos diz André Stefan: 
 
 O avanço das ciências humanas e biológicas operado no final do 
século XIX marcou a decadência da Escola Clássica. Além disso, 
cumpre lembrar que os anseios em face do Direito Penal eram 
outros. Já não se via mais o antigo absolutismo do Estado ou o 
antigo arbítrio, violência e injustiça penal da época da Idade 
Média. A maior preocupação na segunda metade do século XIX 
era a crescente criminalidade (ESTEFAM, 2013, p. 58) 
As principais diferenças entre as duas escolas giram em torno do que foi 
pontuado do pensamento de Beccaria neste trabalho, a saber: o Método, e as 
questões sobre livre arbítrio e determinismo, que desembocam no próprio 
antagonismo entre Direito Natural e Direito Positivo. Seguimos com Estefan 
(2013, p. 59): 
 
Com referência ao fundamento da pena, a Escola Clássica positivista 
discordava seriamente da Clássica. A questão do livre-arbítrio, 
defendida pelos clássicos, era completamente rejeitada em no de um 
verdadeiro determinismo. 
29 
 
Ou o homem nasce livre e deve ser punido conforme suas escolhas 
voluntárias ou, desde o nascimento, já está determinado a ser um 
criminoso, em função de sua raça, sua psicologia, sua fisionomia e 
demais fatores biológicos e sociais. 
 
 
4.1 - O Positivismo Filosófico 
A Escola Positiva Criminológica surge num momento em que a Filosofia 
positivista de Augusto Comte toma a primazia no pensamento ocidental. Dentro 
do pensamento de Comte já está incluído o cientificismo e o darwinismo que 
também influenciaram esta escola. 
Francesco Carnelutti diz que o Positivismo jurídico é projeção do 
positivismo filosófico no setor do Direito. O positivismo filosófico intensificou-se 
no século XIX, influenciado pelo método experimental empregado nas ciências 
da natureza. O positivismo pretendeu, assim, empregar o método no campo 
das ciências sociais. Segundo Paulo Nader (2013, p. 383): 
 
 O trabalho científico deveria ter por base a observação dos fatos 
capazes de serem comprovados. A mera dedução, o raciocínio 
abstrato, a especulação, não possuíam dignidade científica, devendo 
pois, ficar fora de cogitação. 
Augusto Comte (1798-1857), já mencionado, é considerado o fundador 
do positivismo filosófico, Comte foi influenciado pelo filósofo francês Saint-
Simon, do qual foi discípulo em Paris, a sua obra Curso de Filosofia Positiva é 
considerada como o marco do pensamento positivista. 
No entanto, o Positivismo não é um termo unívoco, podendo significar 
tanto a doutrina fundamentada por Comte quanto outras que se ligam ou se 
assemelham à mesma. Na Inglaterra Jonh Stuart Mill se destacou no 
Positivismo ligado ao Empirismo. No Brasil o Positivismo teve grande influência 
entre os primeiros líderes Republicanos como Luis Pereira Barreto, Miguel 
30 
 
Lemos, Benjamim Constant e outros. O Tema da Brasileira “Ordem e 
Progresso” é de inspiração Positivista. 
Já no século XX o Positivismo sofreu uma espécie de evolução ou 
adaptação e se tornou o Positivismo Lógico trabalhadoprincipalmente por 
pensadores do chamado Círculo de Viena. 
 
4.2 Positivismo Jurídico. 
Inspirado no Positivismo Filosófico, o Positivismo Jurídico nega todos os 
princípios abstratos do Direito, a iniciar pelo conceito de Direito Natural. O 
Positivismo jurídico preocupa-se com o estudo da norma vigente, nessa tarefa 
segundo Nader (2013, p. 385): “... O investigador deverá utilizar apenas juízos 
de constatação ou de realidade, não considerando os juízos de valor”. 
O método de pesquisa utilizado pelo Positivismo, que é o mesmo 
utilizado por Ferri e que será um tópico a parte neste trabalho monográfico é o 
método indutivo, que se norteia na experiência factual, diferente do método 
dedutivo utilizado pelos clássicos. 
Atualmente, o Positivismo Jurídico é uma teoria em decadência, 
principalmente pelo fato de abordar o homem apenas materialmente, como um 
produto da física, reduziu-se toda a complexidade humana ao princípio da 
causalidade. Ao igualar o direito à lei, o positivismo acabou sendo um caminho 
fértil para regimes totalitários como o comunista, fascista ou nazista. 
Na opinião de Nader (2013, p. 385): 
 
O Direito não se compõe exclusivamente de normas, como pretende 
essa corrente. As regras jurídicas têm sempre um significado, um 
sentido, um valor a realizar. Os positivistas não se sensibilizaram 
pelas diretrizes do Direito. Apegaram-se tão somente ao concreto ao 
materializado.” 
 
31 
 
4.3 - Críticas de Ferri à Escola Clássica 
Escolhemos Ferri e Beccária como os principais representantes de suas 
Escolas, e consequentemente como principais opositores nas suas linhas de 
pensamento, balizaremos às críticas de Ferri à Escola Clássica no livro 
Delinquente e Responsabilidade Penal, de sua autoria. 
Na página 16 do referido livro de Ferri, notamos a oposição de métodos 
entre uma escola e outra, a saber o método dedutivo da Escola Clássica x 
método indutivo do Positivismo, sobre o método dedutivo já nos referimos em 
tópico no capítulo relacionado à Escola Natural, quanto ao método indutivo 
teremos tópico à parte para também explicarmos sobre o referido método, por 
hora, vamos às críticas de Ferri que tratando da oposição entre os métodos, 
acabam também deixando expostas a oposição de como se deve balizar as 
sanções aos crimes nas duas Escolas. No tocante ao individualismo da Pena, 
Ferri (2006, p. 15) preceitua: 
 
“Resulta, desse modo, que a vida e a ciência impõem à justiça penal 
a missão de ver e regular o crime, não somente como relação jurídica 
de infração de uma norma penal com suas correspondentes 
consequências jurídicas, mas também, e sobretudo, como expressão 
da personalidade do delinquente. 
A análise da personalidade do delinquente e a conseguinte aplicação 
da pena e medidas socioeducativas é a principal inovação que a 
Escola Positiva se gaba em relação á Escola Clássica”. 
 Seguindo com Ferri sobre a sanção ao crime e sua aplicação: 
 
Dizemos que a sanção deve, mais que ser aplicada, ser adaptada, 
não ao crime, ainda que este seja a expressão sintomática de uma 
personalidade, mas ao delinquente, em razão do crime que 
cometeu... o crime não pode ser o ponto central da lei e da sentença, 
mas deve ser tão somente a condição preliminar do procedimento 
(referindo-se à punibilidade), e um dos elementos, o mais 
característico, para a individualizar a periculosidade do criminoso, 
32 
 
assim como a vida pregressa, a conduta ao ato, etc... (FERRI, 
2006, p. 16). 
Continuando com Ferri, agora pontuando sobre a inovação que a Escola 
Positiva trouxe: 
 
Nisso consiste a profunda inovação metodológica e funcional que a 
Escola Positiva Penal levou, e levará cada vez mais, à justiça 
punitiva, teórica e prática, realizando, desta forma, condições mais 
favoráveis para uma defesa eficaz da sociedade contra a 
criminalidade e para uma reeducação social do criminoso (FERRI, 
2006, p. 17). 
Avolumando cada vez mais suas críticas à Escola Clássica, Ferri muda o 
foco para se voltar ao livre arbítrio, conceito tão caro à Escola Clássica e que 
também já foi tópico nesse mesmo trabalho. Criticando o Livre arbítrio em favor 
do naturalismo, Ferri irá dizer que todo criminoso é um sujeito anormal, o que 
para a Escola Clássica nem sempre é verídico, já que uma pessoa normal 
usando de seu livre-arbítrio poderia cometer crimes. Vejamos o que o autor em 
comento diz sobre livre arbítrio e personalidade anormal: 
 
Admitindo-se o livre arbítrio, segundo o qual a ação do indivíduo não 
é mais que el fiat de uma vontade incondicionada, é possível afirmar 
logicamente que o delinquente pode ser um sujeito normal. Mas, 
negando-se o livre arbítrio ( determinismo), ou apenas o admitindo 
(como todos fazem agora) em sentido limitado e restrito, sob a 
influência das condições físico-psíquicas do individuo e das 
circunstâncias do ambiente, não é possível ignorar que o fato de 
reagir por meio de um crime indica que neste indivíduo há uma 
anormalidade psíquica (FERRI, 2006, p. 17-18). 
Continuando com suas críticas em relação à Escola Clássica no livro já 
citado, Ferri aborda uma questão que não é tema central deste trabalho, mas 
que é de importância para o Direito Penal, que é a questão da Associação 
Criminosa, que para o autor assume três formas ou graus de complexidade e 
que segundo ele, a Escola Clássica aborda apenas uma delas, sendo que as 
33 
 
outras formas são destacadas originalmente pela Escola Positiva. Vejamos sua 
abordagem sobre esses fatos: tema: 
 
No campo da criminalidade, o homem opera sozinho ou 
acompanhado de outros indivíduos. Neste caso, a associação 
criminosa assume três formas ou graus de complexidade crescentes: 
o casal criminoso, a associação para delinquir e a multidão criminosa. 
A Escola Clássica estudou apenas a segunda dessas formas: a 
primeira e a terceira foram destacadas pela primeira vez na justiça 
penal pela Escola Positiva e apresentam traços especiais e 
característicos em relação à periculosidade. 
O casal criminoso – não necessariamente formado por indivíduos de 
sexos diferentes – é integrado por um individuo de vontade forte 
(íncubo) que domina outro de vontade débil (súcubo); constitui o caso 
mais simples do crime coletivo e discorreremos dele a propósito das 
normas relativas à participação de várias pessoas no delito. 
A multidão delinquente assumiu na vida moderna grande importância 
por ser ocasião propícia ou causa de crimes coletivos (FERRI, 2006, 
p. 21). 
 Voltando ao tema do Livre arbítrio e a crítica da Escola Positiva ao 
mesmo, Ferri irá citar alguns códigos penais do então século XIX, que 
começam a tomar posturas intermediárias com relação à punibilidade, mas 
ainda tratam apenas da simples voluntariedade como condição básica da 
punibilidade, são os Códigos penais Italianos de 1890 e o Espanhol de 1870. 
Na época dos referidos códigos já não bastava descumprir a lei para a 
punição, era preciso que esse descumprimento estivesse acompanhado pela 
vontade de violar a lei. Seguindo com as análises de Ferri sobre o Livre arbítrio 
e as críticas da Escola Positiva: 
 
Como consequência das críticas da Escola Positiva, que revelou que 
a existência do livre arbítrio não pode ser demonstrada 
cientificamente e foi negada por insignes teológicos e filosóficos, que 
de modo algum pode a justiça penal estar condicionada à crença da 
34 
 
liberdade de querer do criminoso, as legislações penais mais 
modernas, a começar pelo Código Penal italiano de 1890, reduziram 
aquela distinção à voluntariedade do fato (FERRI, 2006, p. 32). 
Sobre o princípio da voluntariedade e teorias intermediárias o autor em 
comento discorre: 
 
Este principio da voluntariedade foi eleito então entre as diversas 
“teorias intermediárias” que examinei e critiquei (liberdade de 
inteligência, normalidade, a capacidade de intimidação, identidade 
pessoal, etc), também porque já estava estabelecido noCódigo da 
Hungria (parágrafo 75), citado no Relatório Ministerial sobre o Projeto 
(I-XLVIII), e antes ainda, no Projeto de Código Penal para o Reino da 
Itália (1804-1808), para o qual colaborou Romagnosi. O artigo 13 
deste Projeto dizia: “ Para que a violação da lei penal seja imputável 
ao sujeito, é preciso que esteja acompanhada pela vontade de violar 
a lei”; e o artigo 4º acrescentava: “ A vontade concorre diretamente 
(dolo) ou indiretamente (culpa)” (FERRI, 2006, p. 33). 
Entretanto, as teorias intermediárias, como o próprio nome supõe, 
acabaram por não abarcar acertadamente ou totalmente a ideia de crime 
culposo, pois os mesmos poderiam de forma precipitada ou errônea serem 
acolhidos pelo critério legal da voluntariedade já discorrido anteriormente. 
Sobre essa lacuna, Ferri (2006, p. 33) pontua: 
 
Mas foi fácil demonstrar que os crimes culposos, conhecidos 
popularmente como “involuntários”, poderiam, de modo equivocado, 
ser acolhidos pelo critério legal da voluntariedade. Existem, 
certamente, delinquentes culposos que, ainda que não desejem o 
resultado danoso, desejam o ato que a ele deu origem”. 
Ferri para exemplificar que existe um certo tipo de voluntariedade, 
mesmo nos crimes culposos, vai nos citar vários exemplos clássicos que 
constantemente são citados por autores atuais como o exemplo do caçador 
que dispara sua arma voluntariamente para matar um animal na floresta e 
acaba acertando e matando um homem que estava perto e não foi visto por 
35 
 
ele, mas que o caçador poderia ter previsto a possibilidade de que houvesse 
alguém ali. 
Outro exemplo que também já se tornou clássico que Ferri nos dá e que 
já está adaptado ao nosso tempo é do condutor de uma carruagem que 
voluntariamente coloca uma velocidade excessiva na mesma e sem querer 
acaba atropelando alguém. Há também o exemplo do indivíduo que solta fogos 
de artifícios, e sem querer, coloca fogo em um paiol. 
Com esses exemplos citados, Ferri nos mostra que a simetria formal de 
voluntariedade e crime não está correta, pois além da voluntariedade é preciso 
que o indivíduo deseje o resultado alcançado pela conduta imprudente, por isso 
mesmo a qualificação desse tipo de crime como culposo e não doloso. 
Ferri vai ainda mais longe em sua análise e diz que há certos tipos de 
crimes que o delinquente culposo não deseja sequer o ato inicial ilícito, 
ocorrendo esse tipo de crime principalmente na omissão de quem o pratica, 
como exemplos desse tipo de crime, escreve Ferri (2006, p. 34) 
 
Por exemplo o empregado do sistema ferroviário que, na cabine de 
comando, não move a alavanca para dar passagem ao trem que se 
anuncia, mas não porque intencionalmente tenha decidido não 
verificar a troca, nem tampouco, porque tenha de propósito, a fim de 
não cumprir o ato que seu dever lhe impõe, se embriagado por 
completo (caso em que seria um criminoso doloso, conforme artigo 
312 do Código Penal), nem porque se equivoque ao mover 
voluntariamente a alavanca (caso em que será um delinquente 
culposo segundo artigo 314 do Código Penal), mas porque,, em 
virtude do sono, do cansaço, das preocupações com as mazelas 
familiares, etc, não imagina sequer que o trem passará em algum 
momento, por isso, nem prensa em mover a alavanca, não tem 
vontade, nem intenção, nem realiza ato algum; mas de sua omissão 
involuntária (inobservância dos regulamentos) deriva o desastre.” 
Ferri conclui seu pensamento sobre a ação psíquica de um delinquente 
dizendo que é preciso a integração do trinômio: vontade, intenção e 
36 
 
consequência ou fim, e para explanar sua formula, o autor desenvolve 
gradativamente o seguinte caso: pg 36 
 
 Um homem tem a ideia de disparar uma arma; a ideia se transforma 
em vontade; a vontade determina a ação do disparo. Mas qual a 
intenção que acompanha a vontade e guia esta ação? Se o sujeito 
ativo teve somente a intenção de realizar uma demonstração de 
júbilo, disparando para cima sem causar dano de nenhuma espécie, e 
o faz e pleno campo, o ato é juridicamente indiferente; se dispara “ 
em lugar habitado ou em suas proximidades”, a ausência de intenção 
ofensiva indica que aquele homem não é um criminoso, ainda que 
possa ser – em virtude daquele ato – autor de uma contravenção 
(artigo 467 do Código Penal). 
Mas se o disparo causou morte ou lesão a alguém, a falta de atenção 
do sujeito ativo faz dele – além de ser autor de uma contravenção – 
um criminoso “involuntário” ou culposo ( artigos 375 e 371 do Código 
Penal). 
Mas se o sujeito atira contra um homem com a intenção de mata-lo, 
intervém o fim – meta final e concreta da propulsão volitiva e da 
direção intencional - , no objeto de decidir se é um homicida 
criminoso ou não. Será criminoso se quis o resultado e atirou com a 
intenção de matar o sujeito passivo com a finalidade (motivo 
determinante) de apoderar-se do que levava,, de se vingar, de 
cumprir uma ordem criminosa, etc. Não será criminoso se, querendo 
atirar e disparando de fato com a intenção de matar aquela pessoa, 
queria se defender de uma agressão injusta (FERRI, 2006, p. 36-37). 
Seguindo com suas críticas aos Escritores Clássicos e Neo Clássicos, e 
de acordo com alguns exemplos já narrados neste trabalho, Ferri adentra ao 
campo da avaliação psíquica dos delinquentes, e cita quatro tipos psicológicos 
de criminosos, a saber: Voluntários ou dolosos (vontade anormal); involuntários 
ou culposos (falha de atenção e previsão); conscientes, mas com vontade 
imatura (menoridade) ou enferma (loucura ou psicopatia lúcida, loucura moral, 
etc); inconscientes (crianças, idiotismo, automatismo psíquico, delírio etc). 
37 
 
A reprovação destes estados de ânimo e tipos psicológicos aumenta 
para os dolosos, cai nos culposos, quase desaparece nos de vontade imatura e 
não existe para os inconscientes. 
Ferri afirma que a Escola Clássica levou essa graduação ética até a 
justiça punitiva com o fim de realizar a avalição jurídica, o que é visto nos 
Códigos Penais de sua época com exceção dos projetos do Código Penal 
Russo de 1927 e no Cubano de 1926, mas que pela força da experiência, os 
criminalistas clássicos e neoclássicos acabaram cedendo e admitindo medidas 
de segurança para os tipos psicológicos de vontade doente ou inconsciente. 
Vejamos o que preceitua Ferri sobre este tema pg 46: 
 
A escola Penal Clássica, responsável pela continuação das tradições 
medievais, levou esta graduação ética até a justiça punitiva com o fim 
de realizar a avaliação jurídica. Por isso, diz-se e repete-se, também 
nos Códigos Penais (exceto em nosso Projeto, no novo Código Penal 
russo de 1927 e no Projeto cubano de 1926), que apenas os 
delinquentes voluntários, e excepcionalmente os involuntários, estão 
submetidos às normas penais, enquanto os conscientes de vontade 
enferma estão em parte submetidos e os inconscientes estão 
totalmente fora. No que diz respeito aos últimos tipos, afirmou-se 
primeiro, que não pertenciam à justiça penal, por ser absurdo e 
contraditório falar de loucos criminosos; mas, depois, cedendo à força 
da experiência, os criminalistas clássicos e neoclássicos, de acordo 
com os Códigos Penais mais recentes, admitiram que a autoridade 
judicial, e incluindo apenas a autoridade administrativa, possa se 
ocupar deles com medidas de segurança, já que de acordo com a lei 
inglesa em tais casos, o acusado é “culpado” (de fato), “mas louco” 
(guilty but insane) (FERRI, 2006, p. 46-47). 
Escola Positiva prega que o indivíduo sofrerá as consequências de suas 
condutas perante a lei qualquer que seja sua condição psíquica no instante do 
cometimento de um crime, que uma pretensa medição de culpa moral dos 
indivíduos, pertence aos campos da religião ou filosofia, mas não ao Direito. 
Seguindo com Ferri sobre moral, Religião e condição psíquica: 
 
38 
 
Por outro lado, a Escola Positiva sustenta que, não podendo a justiça 
humana, poisnão possui a onisciência de Deus, medir a culpa moral 
dos indivíduos ( que é problema que corresponde à religião e à 
filosofia, mas não ao Direito), devendo, ao revés, prover a defesa 
social contra todos os autores de crimes, estes serão submetidos às 
normas de tal defesa, sofrendo as consequências de suas condutas e 
respondendo ante a sociedade sobre seu modo de proceder, 
qualquer que seja a condição psíquica de sua pessoa no momento da 
realização do crime (FERRI, 2006, p. 47). 
Criticando novamente a doutrina do Livre arbítrio, Ferri segue tentando 
mostrar uma certa incoerência destra doutrina dentro do próprio campo 
teológico e para isso vai utilizar a doutrina da predestinação que rivaliza 
historicamente com a doutrina do Livre arbítrio na exegese bíblica. Para este 
fim, Ferri usará até mesmo Santo Agostinho que oscilou entre as duas 
doutrinas e que já foi citado neste mesmo trabalho monográfico. Seguindo com 
Ferri e a temática do Livre arbítrio: 
 
Até o ponto que, para os fiéis, não é possível no terreno lógico (ainda 
que seja no emocional e místico) conciliar esta livre-vontade e os 
dogmas de predestinação e da onisciência e onipotência divinas. 
Porque, segundo este, “não se move uma folha sem que seja vontade 
de Deus”, Deus sabe e permite que o filho que hoje premedita matar 
seu pai por afã de lucro, amanhã cumpra o nefando propósito... 
Assim, pelo menos, pensava Santo Agostinho que resistiu em 
reconhecer o livre-arbítrio por causa da degradação moral em que 
caíram e seguiram caindo os homens em função do pecado original. 
O fiel sincero praticamente resolve o problema, porque a teologia com 
profunda sapiência psicológica, ensina que a fé consiste em crer 
também no absurdo, no ilógico (FERRI, 2006, p. 50). 
 
5 - C.S LEWIS COMO SÍNTESE ENTRE AS DUAS ESCOLAS 
Os Códigos penais atuais dos países estão fundamentados na Teoria 
positivista, no entanto, já foi tratado neste Trabalho Monográfico que o próprio 
Positivismo Jurídico encontra-se em decadência. Esses Códigos já não são tão 
39 
 
novos assim, o Brasileiro é de 1930 e é evidente que a tendência de reforma 
nos códigos é por uma linha plural e minimalista do Direito Penal, sendo que a 
tendência é de não retornar ao embasamento filosófico da Escola Clássica, 
pelo menos em algumas bases, noutras sim, como é o caso do livre arbítrio 
que é aceito na sociedade pós-moderna. 
Mas como relacionar filosoficamente o livre-arbítrio com um novo modelo 
penal? Levando em consideração que o positivismo minimizou o livre-arbítrio 
da Teoria Criminológica?. 
Entretanto, encontramos na própria Teologia, já no século XX, um autor 
que partiu do livre arbítrio para se falar do homem delituoso, trata-se do autor 
cristão C.S Lewis. 
C.S LEWIS foi um escritor, professor e crítico literário britânico. Ficou 
conhecido por seu trabalho sobre literatura medieval, por suas palestras e 
escritos cristãos, como também pela série de sete livros de ficção e fantasia 
intitulada “As Crônicas de Nárnia”. C.S.Lewis é louvado na Teologia 
contemporânea como um dois maiores apologistas do cristianismo. Suas 
principais publicações foram: “O Problema do Sofrimento” (1940), “Cartas de 
Um Diabo ao Seu Aprendiz” (1942), “Milagre” (1947), “Cristianismo Puro e 
Simples” (1952) e “As Crônicas de Nárnia”, uma série de sete romances de 
ficção e fantasia: “O Leão, a Feiticeira e o Guarda Roupa” (1950), “Príncipe 
Caspian” (1951), “A Viagem do Peregrino da Alvorada” (1952), “A Cadeira de 
Prata” (1953), “O Cavalo e Seu Menino” (1954), “O Sobrinho do Mago” (1955) e 
“A Última Batalha” (1956). 
 
5.1 C.S Lewis e a Lei Natural 
Já defendemos neste trabalho monográfico que o Conceito de Direito 
Natural ou Lei Natural é a base que fundamenta a Escola Clássica do Direito, 
por conseguinte, a Escola Positiva não deu muito destaque a esse conceito. 
Para balizarmos o que C.S Lewis tem a falar sobre o referido conceito, 
utilizaremos o livro Cristianismo Puro e Simples de sua autoria. O livro 
Cristianismo Puro e Simples surgiu de uma série de palestras que o referido 
40 
 
autor proferiu em programas de Rádio na Inglaterra impressas com poucos 
acréscimos do que foi falado ao microfone, segundo o próprio autor. O 
Contexto dessas palestras se insere na II Guerra Mundial, como nos informa o 
Prefácio- Introdução do próprio livro : 
 
Ainda rapaz, C. S. Lewis serviu nas pavorosas trincheiras da Primeira 
Guerra Mundial e, em 1940, quando as bombas começaram a cair 
sobre a Inglaterra, se alistou como oficial da vigilância antiaérea e 
passou a dar palestras para os soldados da Royal Air Force, homens 
que sabiam, com quase toda a certeza, que seriam dados como 
mortos ou desaparecidos depois de apenas treze missões de 
bombardeio. A situação deles incitou Lewis a falar sobre os 
problemas do sofrimento, da dor e do mal. Estes trabalhos resultaram 
no convite da BBC para que ele fizesse uma série de programas de 
rádio sobre a fé crista. Ministradas de 1942 a 1944, estas 
conferências radiofónicas foram mais tarde reunidas no livro que 
conhecemos hoje como Cristianismo puro e simples (LEWIS, 2005, p. 
8) 
O Capitulo I do livro tem como título: “ A Lei da Natureza Humana”, em 
que o Autor discorre sobre a Lei Natural, a mesma da História do Direito e da 
Filosofia já abordadas neste trabalho. Lewis afirma que a Lei Natural, na 
verdade é a Lei da Natureza Humana, ou Lei do Certo e Errado, como 
afirmavam os pensadores do passado, e não as Leis naturais modernas como 
as leis da gravitação ou da biologia. Segundo Lewis: 
 
Hoje em dia, quando falamos das "leis naturais", quase sempre nos 
referimos a coisas como a gravitação, a hereditariedade ou as leis da 
química. Porém, quando os pensadores do passado chamavam a lei 
do certo e do errado de "Lei Natural", estava implícito que se tratava 
da Lei da Natureza Humana. A ideia era a seguinte: assim como os 
corpos são regidos pela lei da gravitação, e os organismos, pelas leis 
da biologia, assim também a criatura chamada "homem" possui uma 
lei própria - com a grande diferença de que os corpos não são livres 
para escolher se vão obedecer à lei da gravitação ou não, ao passo 
41 
 
que o homem pode escolher entre obedecer ou desobedecer à Lei da 
Natureza Humana (LEWIS, 2005, p. 10) 
De acordo com Lewis, sendo a Lei Natural a mesma Lei do Certo e do 
Errado, era uma Lei conhecida implicitamente por todas as pessoas, sendo que 
não se precisava o aprendizado da mesma, nas Palavras de Lewis (2005, p. 
10): 
 
Essa lei era chamada de Lei Natural porque as pessoas pensavam 
que todos a conheciam naturalmente e não precisavam que outros a 
ensinassem. Isso, evidentemente, não significava que não se 
pudesse encontrar, aqui e ali, um indivíduo que a ignorasse, assim 
como existem indivíduos daltônicos ou desafinados. Considerando a 
raça humana em geral, no entanto, as pessoas pensavam que a ideia 
humana de comportamento digno ou decente era óbvia para todos. 
Lewis, também não se furta de pautar às críticas ao seu pensamento, 
observamos isto durante toda essa obra, por isso, neste trabalho, citaremos 
também as objeções que o próprio autor levanta sobre o seu pensamento, 
começando pela crítica que diz que a Lei Natural não é intrínseca ao ser 
humano: 
 
Sei que certas pessoas afirmam que a ideia de uma Lei Natural ou lei 
de dignidade de comportamento, conhecida de todos os homens, não 
tem fundamento, porque as diversas civilizações e os povos das 
diversas épocas tiveram doutrinas morais muito diferentes Mas isso 
não é verdade. E certo que existem diferenças entre as doutrinas 
morais dos diversos povos, mas elas nunca chegaram a constituir 
algo que se assemelhasse a uma diferença total. Se alguém se der 
ao trabalho de comparar os ensinamentos morais dos antigos 
egípcios, dos babilónios, dos hindus, dos chineses, dos gregos e dos 
romanos, ficará surpreso, isto sim, com oimenso grau de semelhança 
que eles têm entre si e também com nossos próprios ensinamentos 
morais (...) Os povos discordaram a respeito de quem são as pessoas 
com quem você deve ser altruísta - sua família, seus compatriotas ou 
todo o género humano; mas sempre concordaram em que você não 
deve colocar a simesmo em primeiro lugar. O egoísmo nunca foi 
42 
 
admirado. Os homens divergiram quanto ao número de esposas que 
podiam ter, se uma ou quatro; mas sempre concordaram em que 
você não pode simplesmente ter qualquer mulher que lhe apetecer 
(LEWIS, 2005, p. 10) 
C.S Lewis prossegue com mais exemplos para mostrar que todos os 
humanos seguem a Lei Natural do Certo e do Errado, pois todos, algum dia 
falarão que algo não é justo, até mesmo os governos reconhecem que certos 
tratados não são justos, só que na verdade, nenhum ser humano segue à risca 
a Lei do Certo e do Errado, ou seja mais cedo ou mais tarde, todos acabam 
descumprindo a velha máxima moral de ‘não se fazer aos outros, aquilo que 
você não queria que os outros fizessem a você”, e quando isso acontece, as 
desculpas são muitas, é o que nos aponta Lewis (2005, p.11): 
 
Espero que vocês não se irritem com o que vou dizer. Não estou 
fazendo uma pregação, e Deus sabe que não pretendo ser melhor do 
que ninguém. Só estou tentando chamar a atenção para um fato: o de 
que, neste ano, neste mês ou, com maior probabilidade, hoje mesmo, 
todos nós deixamos de praticar a conduta que gostaríamos que os 
outros tivessem em relação a nós. Podemos apresentar mil e uma 
desculpas por termos agido assim. Você se impacientou com as 
crianças porque estava cansado; não foi muito correto naquela 
questão de dinheiro - questão que já quase fugiu da memória -porque 
estava com problemas financeiros; e aquilo que prometeu parafulano 
ou sicrano, ah!, nunca teria prometido se soubesse como estaria 
ocupado nos últimos dias. Quanto a seu modo de tratar a esposa (ou 
o marido), a irmã (ou o irmão) — se eu soubesse o quanto eles são 
irritantes, não me surpreenderia; e, afinal de contas, quem sou eu 
para me intrometer? Não sou diferente. 
C.S.Lews dirá que o próprio ato de buscarmos desculpas para uma 
conduta que consideramos errada, já são uma prova na profunda crença na Lei 
Natural do Certo e do Errado intrínseca no ser humano. Lewis também faz uma 
excelente observação de que são só para as más condutas que buscamos 
explicações ou justificativas, para as boas condutas ou qualidades assumimos 
os méritos, sobre isso, nos alerta: 
43 
 
 
A verdade é que acreditamos a tal ponto na decência e na dignidade, 
e sentimos com tanta força a pressão da Soberania da Lei, que não 
temos coragem de encarar o fato de que a transgredimos. Logo, 
tentamos transferir para os outros a responsabilidade pela 
transgressão. Perceba que é só para o mau comportamento que nos 
damos ao trabalho de encontrar tantas explicações. São somente as 
fraquezas que procuramos justificar pelo cansaço, pela preocupação 
ou pela fome. Nossas boas qualidades, atribuímo-las a nós mesmos 
(LEWIS, 2005, p. 11) 
C.S.LEWIS ainda na página 11 do referido livro, faz uma síntese do que 
quis transmitir sobre a Lei Natural, que em todo o mundo, as pessoas possuem 
a noção de um padrão de comportamento e que não conseguem se livrar 
desse padrão, por mais que tentem, por outro lado, ninguém consegue seguir 
esse padrão de comportamento fielmente, ou seja, todos transgridam a 
chamada “Lei Natural”, e que esses fatos são a base de todo o pensamento 
claro sobre nós mesmos e do universo em que habitamos. 
 
5.1.1 Algumas objeções à Lei Natural 
 Lewis em sua obra referida, não se furta em levantar objeções ao 
Conceito de Lei Natural, para na verdade, responde-las e embasar ainda mais 
o conceito. Obviamente essas objeções são fedebacks de pessoas para com o 
Escritor, pessoas essas que não acreditam no conceito de Lei Natural 
intrínseca ao ser humano como leciona Lewis. 
 A primeira objeção narrada por Lewis em sua obra é o 
questionamento de que a Lei Natural seria apenas o nosso instinto Gregário 
desenvolvido naturalmente como os outros nossos instintos. Vejamos o que 
escreve Lewis sobre essa dúvida e a sua própria resposta: 
 
(...) ‘Isso que você chama de Lei Moral não é simplesmente o nosso 
instinto gregário? Será que ele não se desenvolveu como todos os 
nossos outros instintos?" Não vou negar que possuímos esse instinto, 
44 
 
mas não é a ele que me refiro quando falo em Lei Moral. Todos nós 
sabemos o que é ser movido pelo instinto — pelo amor materno, o 
instinto sexual ou o instinto da alimentação: sentimos o forte desejo 
ou impulso de agir de determinada maneira. E é claro que, às vezes, 
sentimos o desejo intenso de ajudar outra pessoa. Isso se deve, sem 
dúvida, ao instinto gregário. No entanto, sentir o desejo intenso de 
ajudar é bem diferente de sentir a obrigação imperiosa de ajudar, 
quer o queiramos, quer não. Suponhamos que você ouça o grito de 
socorro de um homem em perigo. Provavelmente sentirá dois 
desejos: o de prestar socorro (que se deve ao instinto gregário) e o 
de fugir do perigo (que se deve ao instinto de auto-preservação). Mas 
você encontrará dentro de si, além desses dois impulsos, um terceiro 
elemento, que lhe mandará seguir o impulso da ajuda e suprimir o 
impulso da fuga. Esse elemento, que põe na balança os dois instintos 
e decide qual deles deve ser seguido, não pode ser nenhum dos dois 
(LEWIS, 2005, p. 12) 
Saindo da dúvida no campo biológico, as dúvidas sobre a existência da 
lei Natural também aparecem no campo sociológico, ou seja, seria a Lei Moral 
não apenas uma convenção social? Algo posto pela nossa cultura e educação? 
Seguimos com a resposta de C.S.Lewis a esse questionamento: pg 13: 
 
(...) quando você considera as diferenças morais entre um povo e 
outro, não pensa que a moral de um dos dois é sempre melhor ou 
pior que a do outro? Será que as mudanças que se constatam entre 
elas não foram mudanças para melhor? Caso a resposta seja 
negativa, então está claro que nunca houve um progresso moral. O 
progresso não significa apenas uma mudança, mas uma mudança 
para melhor. Se um conjunto de ideias morais não fosse melhor do 
que outro, não haveria sentido em preferir a moral civilizada à moral 
bárbara, ou a moral cristã à moral nazista. E ponto pacífico que a 
moralidade de alguns povos é melhor que a de outros. Acreditamos 
também que certas pessoas que tentaram mudar os conceitos morais 
de sua época foram o que chamaríamos de Reformadores ou 
Pioneiros - pessoas que entenderam melhor a moral do que seus 
contemporâneos (LEWIS, 2005, p. 13) 
 
45 
 
5.2. C.S. Lewis e o Livre Arbítrio 
Na dialética deste Trabalho Monográfico, outro termo ou conceito 
comparativo importante entre as duas escolas analisadas é o de Livre Arbítrio, 
já trouxemos o que ambas escolas criminológicas, a Clássica e a Positiva 
pensam sobre o mesmo, observamos que é o conceito que mais separa as 
duas escolas. 
Neste trabalho que visa uma síntese entre as duas escolas 
criminológicas abordadas, vislumbramos através da leitura de C.S. Lewis que o 
mesmo corrobora com a visão da Escola Clássica sobre o Livre Arbítrio, ou 
seja, defende o escritor que o ser humano é dotado de tal atributo. 
Continuando o proposto nesse tópico do Trabalho, de analisar os 
conceitos já citados, na obra de LEWIS, denominada Cristianismo Puro e 
Simples, seguimos nosso intento encontrando na página 23 do referido livro, as 
primeiras abordagens de Lewis sobre o Livre Arbítrio. 
Para LEWIS, Livre Arbítrio é uma decorrência lógica, ou mesmo a causa 
dos seres humanos conseguirem agir muitas vezes em desacordo com a Lei 
Natural. 
Para o escritor, Deus dotou o ser humano com o livre arbítrio e por isso 
o ser humano pode fazer tanto o bem quanto o mal e vai ainda mais longe 
nesse pensamento, para o Escritor a própria existência do mal é decorrência

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