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TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Registro: 2018.0000989880 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564, da Comarca de São Bernardo do Campo, em que é apelante/apelado P. M. S. G., é apelado/apelante H. P.. ACORDAM, em 6ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Recurso do varão parcialmente provido, para tanto, desprovido o da varoa. V.U Sustentaram oralmente os advogados Dr. Márcio Moura Moraes e Dr. Luís Antonio Matheus.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores PAULO ALCIDES (Presidente) e EDUARDO SÁ PINTO SANDEVILLE. São Paulo, 13 de dezembro de 2018 PERCIVAL NOGUEIRA RELATOR Assinatura Eletrônica TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT Voto nº 31.671 Apelação Cível nº 0014689-94.2009.8.26.0564 Comarca: São Bernardo do Campo Apelantes: P. M. S. G. e H. P. Apelados: OS MESMOS JUÍZA: Eduarda Maria Romeiro Corrêa SEPARAÇÃO JUDICIAL PARTILHA DE BENS Exclusão de bens adquiridos com produtos de sub-rogação – Pretendida anulação de aditamento Coação não provada não retira a fé pública do documento Construção em terreno próprio Divisão do valor da construção e das benfeitorias Imóvel adquirido em nome da mãe da parte Valor utilizado para aquisição que saiu da esfera patrimonial do casal e deve integrar a partilha Empresa familiar Transação que não caracteriza mera antecipação de legítima, mas importa em verdadeiro negócio jurídico Valor pago e investido que sofreu transformação com a atividade empresarial Devida a meação do valor das cotas sociais apurados em perícia técnica, na proporção societária do varão Necessidade de observar e respeitar participação societária de terceira pessoa que integra o quadro social Transferência de valores da empresa à genitora não contabilizada, a ser recomposta, observada a participação societária Dívida igualmente partilhável Veículos Prova da aquisição durante a convivência Transferência com o intuito de esvaziar patrimônio, a ser desconsiderada Devidas deduções da parte cabente à autora de multas e outras despesas decorrente do mau uso deles Indenização pela retenção de bens pessoais Estimativa da sentença que guarda razoabilidade Sentença que, no geral, deu correto desfecho à causa, comportando apenas pequenos reparos Recurso do varão parcialmente provido, para tanto, desprovido o da varoa. Trata-se de recursos de apelação tempestivamente interpostos por P.M.S.G. e H.P., respectivamente às fls. 2.392 e 2.473, contra a r. sentença de fls. 2.354/2.361, cujo relatório se adota, que julgou parcialmente procedente o pedido de dissolução do vínculo conjugal, para decidir a partilha nos seguintes termos: à requerente caberá: a) indenização pela meação da construção e mobiliário referente ao imóvel Parque dos Pássaros, TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT no valor de R$ 268.967,50, atualizados a partir de março de 2009; b) indenização pela meação da empresa Produtos Químicos e Lubrificantes Ltda., no valor de R$ 52.684,65, atualizado desde 31/05/2009; c) indenização pelo valor correspondente a 50% do valor de mercado dos veículos Land Rover Discovery V6 à data da separação judicial (11/05/2009) e valor de mercado do veículo VW Jetta, desde a data que foi entregue ao requerido, deduzindo-se os pagamentos de multas e licenciamento no período que teve início 11/05/2009, até a sua apreensão em 31/05/2012, tudo atualizado com juros de mora; d) indenização pela meação de transferência indevida da empresa para sua genitora, no valor de R$ 95.000,00, atualizado a partir da transferência (30/05/2018) e acrescido de juros de mora, partilhando-se também o patrimônio passivo na ordem de R$ 1.775,84, tudo a ser atualizado e acrescido de juros de mora de 1% a contar da sentença; e) indenização pela meação do valor de mercado do imóvel situado em Maresias, a ser apurado em liquidação de sentença; f) indenização pelos bens de uso pessoal não localizados na busca e apreensão, no valor de R$ 12.000,00, atualizado a partir da sentença, também incidindo juros de mora de 1%; tornou definitiva a cautelar de busca e apreensão, consolidando os bens indicados nos autos à propriedade da autora, à exceção de um par de brincos marca Tiffany de uso da filha do casal; e resolveu o mérito dos processos nº 128/09, 865/09, 3232/09, 1417/09 e 2631/09, condenando o requerido ao pagamento das custas, despesas processuais e honorários fixados em R$ 1.000,00. Embargos de declaração às fls. 2.383/2.388, decididos às fls. 2.389/2.390. Em suas razões, busca a apelante P.M.S.G. a reforma da sentença, postulando, de início, a aplicação da pena de litigância de má-fé, por tentativa do varão em frustrar a partilha. TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT Pede a desconsideração de qualquer sub-rogação na aquisição de bens. Assevera que sendo certo que os valores percebidos com a venda de imóveis doados foram gastos com futilidades (viagens, joias e roupas de marcas), não prospera a aquisição de bens por meio desses valores, afastando- se a sub-rogação, para efetivação da partilha de todo o patrimônio no percentual de 50% para cada parte. Ressalta que a decisão nada considerou sobre a edificação efetuada na dependência da empresa Royal Grease após 2005, aduzindo que o apelado adquiriu a sociedade do pai em terreno que lhe foi doado, mas construiu e edificou o prédio onde está instalada a empresa durante três anos na constância do casamento, sendo legítima a postulação de 50% do valor da edificação atualizado. Cita gastos com informatização e modernização do ambiente da empresa, que também devem ser objeto de indenização. Quanto ao imóvel de São Caetano do Sul, refere que foi comprado para servir de futuro lar do casal após o nascimento da filha, e que foi coagida por violência a assinar a escritura de aditamento, causando estranheza a cláusula de incomunicabilidade. Da mesma forma, afirma que o terreno da casa em São Bernardo do Campo foi comprado na constância do casamento, e referido aditamento foi realizado como preparação a uma separação, especialmente com o fito de prejudica-la na partilha. Assim, entende que deve ser indenizada em 50% da totalidade desses imóveis, adquiridos para moradia. Argumenta que os bens de uso pessoal a serem indenizados TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT totalizam valor muito superior àquele estipulado, os quais, estima em R$ 450.000,00, não se conformando com o arbitramento em R$ 12.000,00. Pede reconsideração da inclusão na partilha, do saldo negativo nas contas pessoais do apelado, bem como sobre os valores de multas de trânsito, alegando que pagou os débitos relativos quando da apreensão do veículo, e que não dispõe de meios para prover o próprio sustento, sobrevivendo dos alimentos prestados pelo apelado. Requer, a final, a nulidade processual a partir da sentença de fls. 62/63, devolvendo-se os autos para regular instrução, ou, a reforma da sentença para julgar totalmente procedente o pedido, determinando-se a indenização a seu favor em: 50% do valor total dos imóveis adquiridos para moradia e veículos, assim entendidos a casa de São Bernardo, apartamento de São Caetano do Sul, Casa de Maresias, os dois veículos, bem como em 50% do valor das benfeitorias realizadas na empresa, e indenização dos bens avaliados em R$ 450.000,00 (fls. 2.394/2.404). Por seu turno, busca o apelante réu H.P. a reforma da r. sentençaa seu entender, proferida em desatenção às provas dos autos. Insiste que o imóvel localizado na praia de Maresias, em São Sebastião, pertence à sua genitora e dessa forma deve ser excluído da partilha. Para tanto, após repisar toda a versão anteriormente exposta, alude a documento novo recuperado após a desocupação da requerida do TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT imóvel residencial, consistente em um “Instrumento particular de doação” firmado entre o ora apelante e sua mãe, no qual figura a apelada autora como interveniente anuente, devidamente assinado por testemunhas, cujo teor, aliado ao recolhimento do Imposto ITCMD em 4 de agosto de 2008 no valor correspondente a 4% da doação, não deixa dúvidas quanto a doação utilizada na aquisição do bem, de exclusiva propriedade de sua genitora. Assevera que o fato de ter presidido uma Assembleia no condomínio, ou mesmo figurar como responsável nos gastos, zelando pelo imóvel, são fatos que não podem ser interpretados em seu desfavor, uma vez que comprovado também restou que é ele quem gere e administra os negócios da mãe. Desqualifica a testemunha da autora, alegando animosidade com sua pessoa, trazendo documento para desconstituir sua declaração nos autos. Discorre, ainda, sobre os imóveis frutos de doação cujo produto alegadamente teria sido utilizado na compra deste bem em Maresias. Assim, porque comprovado que o imóvel foi adquirido por sua mãe, com produto de doação efetuada com a devida anuência da apelada, e não com patrimônio comum, irresigna-se com sua inclusão da partilha. No mais, injusta a sentença no ponto que o incluiu indevidamente na partilha mediante cálculo da indenização com valor atual de mercado, uma vez que separação ocorreu no ano de 2009. Requer subsidiariamente que eventual indenização tome por base os valores dos bens supostamente utilizados na compra do imóvel, ou da negociação de compra. Quanto a casa de morada no Parque dos Pássaros, em São Bernardo do Campo, salienta que todo o valor gasto na construção e imobiliário veio de seu patrimônio exclusivo, com recursos da venda de Fazendas em Mato Grosso do Sul que já lhe pertenciam antes do casamento, para esse fim. TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT Para tanto, sustenta que o documento acostado às fls. 466 atesta a origem patrimonial do bem vendido para edificação e mobiliário. Por tal razão, postula também a exclusão desse bem na integralidade da partilha, sob pena de enriquecimento ilícito da parte contrária. Em relação às cotas sociais da empresa Royal Grease, diferente do entendimento da MM. Juíza, argui que a transferência não configurou negócio jurídico de venda e compra. Aduz que sempre trabalhou ao lado do pai e a fim de garantir uma continuidade dos negócios, houve uma cessão e constituição de direitos para antecipação da legítima. Assim, o real escopo do documento de fls. 466/467 foi o de antecipação sucessória. Sequer existe valor atribuído à empresa no documento, o que, por si só, descaracteriza uma venda e compra, de forma que os valores depositados fazem parte de um contexto maior no acordo que acabou antecipando direitos hereditários, com o envolvimento de vários imóveis. Atesta que a empresa é consequência do árduo trabalho de pai e filho, iniciado muito antes do casamento. Nesse toar, a apelada não possui direito à partilha, nos termos do art. 2016 do CC/16. Ainda que assim não fosse, equivocou-se a r. sentença em determinar a meação dos exatos 50% do valor avaliado, desconsiderando a participação societária de sua genitora, que detém 12% das cotas sociais, restando 88% em nome do apelante, de modo que o hipotético direito da apelada seria de 44%. Aduz que o veículo da empresa Land Rover transferido para sua mãe antes da separação de corpos assim o foi por ajuste de contas da empresa, e também deve ser retirado do processo. TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT No tocante ao Veículo Jetta, adquirido pela empresa com o financiamento pago por esta para realização de viagens de visitas a clientes, sempre pertenceu ao espólio empresarial, nunca fez parte do patrimônio do casal, e era utilizado com autorização prévia, o que pode ser constatado na perícia contábil. Insurge-se, ainda, com o bloqueio de valores transferido da empresa para sua mãe e sócia, em 30 de maio de 2008, um ano antes da separação de corpos, rebatendo a alegação de esvaziamento de bens, posto que na época ao casal vivia em harmonia. Alega que a transferência se deu por questões administrativas, por decisão tomada pelos sócios e devidamente contabilizada. Salienta que o valor, posteriormente transferido à empresa, foi considerado na avaliação da perícia realizada, não integralizando o patrimônio do ex-casal. Logo, impertinente a indenização desse valor, especialmente sem considerar a participação societária da Sra. Francisca. Requer, a final, o acolhimento das razões, impondo-se o decreto de improcedência, com a condenação da apelada nas custas e honorários advocatícios (fls. 2.474/2.496). Cumprimento provisório de sentença requerido às fls. 2.405/2.412. Juntada de documento novo pelo réu, postulando a exclusão do imóvel objeto da questão da partilha (fls. 2.428/2.429, 2.441/2.442 e TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT 2.453/2.466). Recebidos os recursos em ambos os efeitos (fls. 2.526), em contrarrazões as partes reiteraram suas anteriores manifestações e postulações, desta feita o apelante réu pleiteando a pena de litigância de má- fé (fls. 2.528/2.3537 e 2.541/2.547). A recorrente autora apresentou incidente de falsidade documental, aduzindo que o documento apresentado após a sentença foi produzido com a intenção de fraudar a partilha, e suscitando a existência de processo criminal que responde o réu por falsidade documental. Postula exame pericial e a condenação do requerido ao final, bem como a extração de peças e encaminhamento para medidas criminais (fls. 2.567/5.585). Incidente não conhecido por manifestamente intempestivo (fls. 2.768). Oposição ao julgamento virtual (fls. 2.771). Designada audiência de mediação (fls. 2.811, 2.826 e 2.838/2.839), com redesignação para prosseguimento dos trabalhos (fls. 2.842), a apelante autora manifestou desinteresse na continuidade, e requereu o julgamento do feito (fls. 2.844). É o relatório. Inicialmente, busca a apelante a anulação da sentença, mas sequer aponta motivos que estariam a eivar de nulidade o feito, não merecendo acolhimento este pleito. TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT Resta afastada a arguição de litigância de má-fé suscitada por ambas as partes. Realmente, ambos os litigantes se excederam no comportamento processual e por reiteradas vezes, tumultuaram o processo. Inegável que houve reciprocidade de comportamento pelos ânimos exaltados. Frise-se que, doravante, eventuais excessos serão interpretados como ato atentatório à dignidade da Justiça. Cabe pontuar e lamentar o grau de beligerância instalado entre as partes, inclusive a intervir no andamento e julgamento do processo, à vista das várias ações movidas entre si e recursos interpostos (54 só entre as partes, dos quais 50 deles distribuídos a este Relator). Transpondo-se ao mérito, considerada anterior decretação da dissolução do vínculo matrimonial (fls. 262/263), segue restrita a discussão à partilha dos bens e direitos amealhados durante a constância do matrimônio realizado em 23/10/2002, peloregime da comunhão parcial de bens, delimitado com o decreto da separação de corpos do casal em 13/03/2009. A r. sentença, em seu introito, bem delimitou a questão concernente ao direito a reger a partilha, assim dispondo: “Ressalto que o Código Civil antigo é aplicável à espécie considerando a data do efetivo enlace (23/10/2002). Tal disposição é expressa no art. 2.039, do Código Civil vigente. De tal sorte, os bens adquiridos na constância do casamento merecem partilha na proporção de 50% para cada parte, sem a necessidade de se perquirir maior ou menor esforço próprio para a aquisição. Assim, pouco importa que a requerente não tivesse renda. O termo 'a quo' do regime de bens é o casamento e o termo 'ad quem' é a decretação de separação de corpos. (...) Assim, levam-se em conta os bens adquiridos por título oneroso no período de 23/20/2002 a TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT 13/03/2009” (g.n.). (fls. 2.355). Passa-se, doravante, à análise da peculiaridade de cada bem a compor o patrimônio em litígio, observado minunciosamente cada item à vista do embate das partes: 1. Imovéis: A) Imóvel situado na Rua Paraíba e seu respectivo terreno, em São Caetano do Sul, objeto da matrícula nº 11.570 do 2º CRI de São Caetano do Sul: A prova confirma que foi recebido pelo requerido em doação em data anterior ao casamento (fls. 444/445), e, portanto, não se comunica. B) Imóvel residencial no Parque dos Pássaros, em São Bernardo do Campo, objeto da matrícula nº 12.642, do 2º CRI de SCS: O bem foi adquirido na constância do casamento (data 04/05/2005). Contudo, consta aditamento da escritura pública e averbação de que a compra do terreno foi realizada com recursos próprios somente do varão, advindos de doação de bens móveis e imóveis, entre eles aquele objeto da matrícula nº 40.468, do CRI da cidade de Santo André e outros, além de doação em espécie de seu pai, a caracterizar sub-rogação, com cláusula de incomunicabilidade. Na oportunidade, consignou-se a anuência da cônjuge do outorgado comprador, a aceitar plenamente, e prometendo nunca reclamar, presente ou futuramente, de quem que seja e a qualquer título (fls. 97 e vº e 447/451). Ao pretender afastar a sub-rogação, tenta fazer crer a apelante varoa que foi agredida e ameaçada para comparecer em cartório e fazer a declaração. Todavia, não se desincumbiu da prova da coação como lhe TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT deveria, a retirar a fé pública da qual se reveste o documento. A par disso, atentou-se a r. sentença para o testemunho do vendedor, que, comparecendo conjuntamente ao cartório, observou que o Tabelião leu a escritura toda e presenciou harmonia entre o casal. Ora, bem anotou a r. sentença que a própria varoa, em datas diferentes e em relação a bens diferentes, declarou que a aquisição se deu em sub-rogação direta e indireta de bens particulares do varão. Exclui-se, pois, da comunhão, o valor do terreno, bem que não se comunica, a teor do art. 269, I, do CC/1916. Outrossim, de forma escorreita, observou ainda a r. sentença que a edificação sobre terreno alheio (o terreno constava em nome do pai do requerido), a ele se incorpora, nos termos da regra da acessão (art. 1.255 do CC/02), não podendo ser partilhado. Mas, uma vez provada suficientemente que as obras foram realizadas durante o matrimônio com destinação específica de servir de residência para a família, a questão passa a ser resolvida pela via da indenização. Assim também já restou decidido nos autos de Agravo de Instrumento nº 990.10.005733-2, com decisão transitada em julgado, a saber: “Dispõe a lei civil que compõe a comunhão, em razão do regime de comunhão parcial, os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges, assim como as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge percebido na constância do casamento (art. 1660 do CC). Por seu turno, o rol taxativo do art. 1659 do CC enumera os bens incomunicáveis, excluindo-se os bens que cada cônjuge possui ao casar, ou seja, o patrimônio particular do consorte, e os que lhe sobrevierem na constância do casamento por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar, bem como aqueles bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-rogação de bens particulares. Assim, devidamente comprovado que o terreno do bem objeto da matrícula nº 12.642 do 2º CRI da Comarca de São Bernardo do Campo foi adquirido TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT com produto de doação e sub-rogação de bem particular e incomunicável, conforme, aliás, se constata da averbação da matrícula, não deverá integrar os aquestos para fins de partilha. Contudo, pela disposição expressa no art. 1650, inciso IV, do Ordenamento Civil, comunicam-se as construções e benfeitorias erigidas em bens particulares de um dos cônjuges durante a vigência do matrimônio, na proporção de 50% para cada um dos consortes, de forma que integram a comunhão e partilha as edificações, por presumido o esforço comum durante o período de sociedade conjugal. Na hipótese dos autos, onde a construção de uma casa de alto padrão foi erigida durante o casamento sobre o terreno pertencente exclusivamente ao varão, é de ser resguardado o direito da varoa de obter a indenização, ou compensação na partilha, do correspondente à metade do valor da acessão, deduzindo-se do valor total do bem quantia referente ao custo atual do terreno e sua localização” (fls. 1.665/1.669). Nestes termos, caberá à varoa o pagamento correspondente a 50% da construção erigida, no valor de R$ 268.967,50 em março de 2009, conforme apurado em perícia técnica não impugnada, devidamente corrigido, nos termos impostos na r. sentença. C) Apartamento nº 61 do Edifício Torre Eiffel e boxes, situados na rua Espírito Santo, nº 471, em São Caetano do Sul, e respectivas vagas de garagem, objeto das matrículas nº 32.110, 32.111 e 32.113 do 2º CRI de SCS. Referido imóvel foi adquirido em 06/11/2007 (fls. 86), portanto, na constância do casamento. Contudo, patente a incomunicabilidade em razão da compra por sub-rogação de direitos, com anuência da varoa. Da matrícula do imóvel anexada às fls. 82/84vº, se constata declaração para ficar constando que a compra do objeto “está sendo realizado (sic) com recursos somente dele comprovador varão, advindos do “Contrato de Sessão de Direitos” firmado em 11/05/2005, registrado no 1º Oficial de Registro de Título e Documentos da Comarca de São Caetano do Sul, Estado de São Paulo, sob nº 351.762, em 06/06/2005, caracterizando, assim, a referida compra por sub- rogação, com cláusula de incomunicabilidade, com a qual o cônjuge do outorgado TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT comprador, aceita plenamente, prometendo nunca reclamar, presente ou futuramente, de quem quer que seja e a qualquer título.” (fls. 84 e 454). De igual forma que a escritura anterior, a declaração foi contestada, mas sem prova alguma que pudesse desconstituir o documento que possui fé pública: “E por assim terem deliberado, espontaneamente, pediram-me e lhes lavrei a escritura que, sendo-lhes lida, acharam tudo conforme, outorgaram, aceitaram e assinaram, do que dou fé”, assinado pelo Tabelião (fls. 84). Importa ressaltar o testemunho de Victório Giuzio Neto, vendedor do apartamento, o qual foi peremptório em afirmar que não hesitou em fazer o aditamento porque o casal aparentava perfeita harmonia. Disse que a varoa demonstrou ser pessoa centrada, consciente, preparada, cursando direito (fls. 1.314).Logo, a impugnação do aditamento não encontra ressonância para acolhimento. Este bem não se comunica, permanecendo excluído da partilha. D) Imóvel de São Sebastião- MARESIAS, objeto da matrícula nº 38.568 do CRI São Sebastião: Em relação a este imóvel, a situação apresenta-se um pouco mais complexa e intrincada. Consta que 08/08/2008 o bem foi adquirido em nome de Francisca Gabriche, mãe do réu, o qual figurou como procurador na negociação, pelo preço certo e ajustado de R$ 500.000,00 fls. 458/463 e 464/466vº. Ouvida em Juízo, a Sra. Francisca disse ter recebido uma doação em dinheiro do filho, que comprou o imóvel para ela. Mas não foi convincente de forma a afastar a possibilidade do bem integrar o Espólio do casal. Repetiu algumas vezes e de forma simplória que “recebeu o imóvel em TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT doação do filho”. Questionada como e porquê argumentou que “ele me deu uma doação e eu comprei e recebi o imóvel por doação”, concordando, posteriormente, que foi ele que comprou e que lhe doou o imóvel (fls. 1.784). Asseverou que é ela que se utiliza do imóvel e confirmou o preço de R$ 500.000,00, mas estranhamente não soube explicar em que circunstância recebeu a doação e como foi feita a compra, só deixando claro que o filho é quem administra suas contas. (fls. 1.783/1.789). Ora, se admite que houve doação, difícil concluir que H.P. comprou o imóvel como seu administrador. Tudo indica que ele comprou o imóvel com recursos próprios (que à época pertenciam ao casal), e registrou o bem em nome da mãe. Crucial para o deslinde da questão é o testemunho do Sr. Rubens Ferreira Catunda (fls. 1.661), que declarou ter construído no condomínio Arumã-Maresias, um empreendimento de casas na paria, e negociado em 2008 com o casal, do qual recebeu como parte do pagamento dois veículos, um Audi e um Land Rover, recebendo o restante diretamente da construtora. A propriedade desses veículos pelo casal na época restou comprovada (Placas DUP0502 - fls. 621/622 e EBC2233 - fls. 623). Noutro viés, há provas suficientes de que o negócio foi realizado por H.P., o qual presidiu Assembleia condominial (fls. 633/635), assim como de adquiriu materiais para reforma e decoração do imóvel (fls. 628/632,639 e 642), atos deliberados de proprietário. A par disso, há venda documentada de bem pertencente ao casal no mesmo ano da compra (fls. 625/626vº). É fato que após a sentença o apelante/varão trouxe aos autos “Instrumento Particular de Doação”, alegando não ter tido acesso ao documento que estava no imóvel que permaneceu em poder da parte contrária, no qual figura como doador da quantia de R$ 460.000,00 à sua TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT genitora, e a autora como interveniente anuente (fls. 2.441/2.442), acostando, ainda, comprovante de recolhimento do ITCMD datado de 04/08/2008, correspondente a 4% do valor da doação (fls. 2.445), bem como declaração da mãe à Receita Federal do ano de 2.008, onde se fez acostar a doação e aquisição do bem (fls. 2.446), tudo buscando comprovar o anteriormente alegado, de que a Sra. Francisca utilizou-se da doação para aquisição do bem. Outrossim, o documento apresentado após a prolação de sentença, sem observância do contraditório, foi impugnado pela parte contrária e não pode ser aceito. De toda sorte, a prova produzida nos autos demonstra à saciedade que, embora a titularidade registral se encontre em nome da mãe do apelante/autor, foi o casal quem adquiriu a casa de veraneio. O valor destinado à compra (seja para realização do negócio jurídico ou doação) saiu da esfera patrimonial do casal e deve recompor o capital para fins de partilha. Nesse toar, o valor utilizado na aquisição do bem se comunica. Atente-se que não houve nulidade da doação. O imóvel continua registrado em nome de terceira pessoa. Em sendo assim, é o valor utilizado para compra deve recompor o montante a ser partilhado. Permanecendo o imóvel registrado em nome de terceira pessoa, caberá à varoa o pagamento da indenização de 50% do valor do utilizado na compra do bem (R$ 500.000,00), assim como gastos com decoração, estes a ser apurado em liquidação. 1. Empresa: Empresa Royal Grease Produtos Químicos e Lubrificantes Ltda. Contrariam-se as versões sobre a aquisição. De um lado a autora alega ter havido transação comercial com o devido pagamento para aquisição das TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT cotas; de outro, o varão sustenta que o negócio entabulado com o pai tratou- se de mera antecipação de legítima, uma vez que os valores acordados para pagamento jamais foram repassados ao pai. Da análise do processado infere-se que: a empresa foi constituída em 13/04/1982 pelo Sr. Humberto Pó, pai do varão, com terceiras pessoas se revezando na sociedade. Em 09/06/2005 (portanto, na constância do matrimônio) houve alteração com a retirada de terceiro, permanecendo como sócio remanescente o Sr. Humberto e admitido o apelante/réu H.P. Dias após, retirou-se o sócio Sr. Humberto e foi admitida como sócia a mãe Sra. Francisca Gabriche, com redistribuição das cotas na proporção de 88% para H.P. e de 12% para a genitora, participação esta nunca antes questionada, até porque a empresa sempre teve tratamento de negócio familiar, fato inconteste (fls. 281). Posterior alteração societária com transferências de grande parte das cotas para a genitora foi desconstituída judicialmente. Destarte, permaneceram como sócio cotistas o Sr. H.P., com 88% das cotas sociais, e sua genitora, com 12%. Inegável que a empresa sempre esteve em mãos familiares. Desta feita, não há como admitir que a participação da Sra. Francisca Gabriche foi meramente participativa como se fez constar na r. sentença, merecendo reparo nesse ponto para observar e respeitar-se a participação societária da Sra. Francisca (12%). Questão tormentosa se tornou a verificação a que título se deu o ingresso do varão H.P. na empresa, se onerosamente, ou como antecipação de legítima, para fins de resguardar meação. Parte-se, pois, à detida análise do documento nomeado como “Contrato Particular de Cessão e Constituição de Direitos” (fls. 466/467). TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT Deste, extrai-se as seguintes conclusões: 1) A nua propriedade do Prédio onde foi instalada a firma foi doado ao Sr. H.P. pelo pai, que ficou com o usufruto, assim como outros imóveis rurais situados no Estado do Mato Grosso do Sul; 2) H.P. assumiu o compromisso de outorgar escritura de venda e compra dos imóveis rurais e, em troca, o genitor renunciou ao usufruto vitalício, de forma que passou sua participação na integralidade para o filho, assim como obrigou-se a alteração do contrato social, entregando a “posse” da empresa ao filho e sua genitora. Para tanto, o filho H.P. este assumiu o pagamento de 24 parcelas de R$ 20.000,00. Pois bem, logrou a autora comprovar parte dos pagamentos de R$ 20.000,00 acertados (fls. 1.015/1.016), bem como existência de litígio entre pai e filho para cobrança de diferença não paga em decorrência do negócio (fls. 611). É possível inferir, ainda, nas declarações de Imposto de Renda prestadas por H. à Receita Federal relativas ao ano de 2006, que as Fazendas declaradas até o ano anterior (fls. 687/688), não mais constam em seu poder; porém, houve acréscimo das cotas sociais da empresa Royal Grease, declaradas como “adquiridas de Humberto Pó” (fls. 690 e 692). O conjunto dos fatos consentâneos tornam inegável o caráter transacional do contrato, que passou a surtirseus efeitos, conforme alteração societária realizada, de forma que parte da empresa passou a integralizar o capital do casal, sendo, portanto, passível de partilha. Realizada a perícia técnica (fls. 2.159/2.198), não impugnada, a totalidade das cotas sociais da empresa foi avaliada em R$ 105.369,31, já consideradas as instalações, móveis e equipamentos, saldos bancários, ativo circulante e ativo imobilizado, passível circulante e exigível a longo tempo, na forma apurada pelo perito avaliador no Balanço Especial (fls. 2.176, 2.178 TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT e 2.180). Esse é o valor atual a ser distribuído aos sócios, a ser partilhado em razão do divórcio, na proporção de 50% da parte destinada a H., e não o montante pago como pretende a varoa. Pontue-se que o investimento empresarial implica na assunção de riscos inerentes ao mercado de atuação, podendo ser multiplicado ou reduzido. O valor das cotas apuradas levou em consideração o resultante da atividade desenvolvida, em exímia perícia que não foi impugnada, e, portanto, merece prevalecer. Aqui cabe um reparo à r. sentença. Embora se alegue que a participação da mãe do varão é apenas participativa, ela consta como sócia e aufere, ainda que indiretamente (provado que restou que é o filho quem administra suas cotas e bens, como também provê suas necessidades), proventos da empresa. Há comprovação de sua participação societária nos autos em empresa da família desde 2004 (fls. 142/143), e na Royal Grease desde 15/06/2005 (fls. 281) provavelmente pelo intuito familiar de não deixa- la desamparada. Portanto, sua participação societária de 12% (desconsiderada a alteração de 01/04/2009) não deve ser tida apenas como figurativa, mas é de ser respeitada. Assim, comunicáveis para efeito de partilha 88% das cotas da empresa, caberá à varoa o equivalente a 44% do valor apurado para 31/05/2.009 (R$ 105.369,31), devidamente corrigido, incidentes juros de mora de 1% a contar da sentença. 1. Diversos: A) Contas bancárias: necessidade de partilhar patrimônio passivo levantado no valor de R$ 1.775,84, também atualizado desde 01 de abril de 2009. Em que pese a irresignação da autora, da mesma forma que se comunicam os ativos, respondem os ex-cônjuges na mesma proporção pelos TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT passivos. B) Transferência de valores da conta da empresa à genitora do requerido: Também essa questão restou bem abordada pela sentença. O valor saiu do caixa da empresa não contabilizado como distribuição de lucros aos sócios. Portanto, o desvio deve ser recomposto para integralizar as contas da empresa. Mas, para fins de não interferir na contabilidade já realizada, determina-se pagamento da parte cabente à varoa, devidamente atualizado desde a transferência (30/05/2.008), aqui também com a ressalva de ser considerada a participação societária da genitora do varão, ou seja, caberá pagamento à autora do equivalente a 44% do valor apurado. 1. Veículos: A) Veículo Land Rover Discovery V6, ano 2007, placas DUL 3031: Consta que teria sido transferido do varão H.P. para sua mãe. A qual teria alienado fiduciariamente o veículo. Não se provou o intuito da transferência nem a lisura do procedimento. O cadastro do veículo informa constar como proprietário anterior o Sr. H.P. (fls. 502), assim como declarado ao Fisco às fls. 692 sua aquisição mediante financiamento durante a constância da união. Logo, irregular a transferência, denotando nitidamente que foi realizada com intenção de excluir o patrimônio da partilha. Bem por isso, adequada a verificação de valores do veículo pela tabela Fipe à data da separação, para a apuração da meação. TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT B) VW Jetta, 2008, placas DUL 5719: O documento acostado às fls. 202 consistente em comprovante de pagamento ao anterior proprietário do veículo (fls. 201), realizado pelo varão H.P. O financiamento da quantia restante em nome da empresa, só exterioriza mais uma vez a confusão entre o patrimônio do casal e da pessoa jurídica, já reconhecido no julgamento do Agravo de Instrumento nº 994.09.322418-0 (672.303-4/4-00): “Verifica-se dos elementos carreados aos autos que existem indícios veementes no sentido de que ele tem se valido dos recursos da empresa para fazer frente ao sustento da família, saldar dívidas e despesas pessoais. (...) A exemplificar temos o fato de que o veículo VW Jetta, de uso pessoal do casal, foi adquirido através de contrato de arrendamento pela empresa Royal Grease, que vem adimplindo o pagamento das parcelas. Consta que referido veículo foi cedido para uso temporário da agravada e, em outra oportunidade, houve manifestação do agravante sobre intenção de aliená-lo para quitar débito alimentar”. Noutro ângulo, restou inconteste que o veículo era utilizado pela varoa. E, no mais, não foi arrolado como pertença da empresa na perícia. Em sendo assim, não há como afastar a alegação de que foi adquirido pelo casal na constância do casamento, e de que deve ser partilhado na proporção de 50% do valor do mercado atualizado até a data da retomada do veículo. Da mesma forma, correta a dedução dos valores despendidos com os pagamentos de inúmeras multas, licenciamentos em atraso e outras despesas devido o mau uso do veículo referente ao período de 11/05/2009 até a apreensão do veículo (31/05/2012), bem como, dedução das despesas com a liberação do veículo, tudo atualizado pela Tabela Prática do Tribunal. 1. Bens pessoais arrolados na ação de depósito: Discorre a autora sobre diversos bens de uso pessoal que teriam permanecido na posse da parte adversa e não foram devolvidos, nem encontrados por ocasião da busca e apreensão, razão da postulação do valor de R$ 450.000,00. Outrossim, a existência de todos os bens elencados, bem TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT como a posse pelo varão, restou controversa. Na versão do marido, ela própria teria retirado seus pertences. Não há prova da existência de todos eles, ao que parece, adquiridos ao longo da vida em comum e podem ter sofrido o desgaste do consumo, como os alegados 164 perfumes importados, dos quais 11 lhe foram recuperados por ocasião da busca e apreensão; ou cosméticos importados em grande quantidade ainda embalados. Não há como se admitir o valor atribuído como real, mesmo porque se tratavam de peças usadas, litros de shampoo hipervalorizados. As notas datam de longos períodos, época bastantes esparsas; e os valores constante nem sempre condizem com aqueles pleiteados. Etiquetas e embalagem acumuladas não comprovam existência de roupas e acessórios. Aliás, causa estranheza, à medida que não é do senso comum acumular etiquetas e guardá-las longe dos pertences. Para quem disse ter perdido o acesso a todos os pertences, como explicar a posse de tantas “etiquetas” e embalagens? Destarte, reconhecida como devida a indenização de bens particulares que teriam sido detidos pelo ex-cônjuge, a estimativa da sentença se revela condizente e razoável, mantida a devolução de R$ 12.000,00, atualizado pela tabela prática do Tribunal de Justiça a partir da data da sentença. Nestes termos deve proceder-se à partilha. As demais ilações trazidas nos apelos não se revestem de força probante suficiente a alterar o TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação nº 0014689-94.2009.8.26.0564 - São Bernardo do Campo - VOTO Nº 31671 LT julgado nos demais pontos. Bem delineada a sucumbência, a reforma parcial da r. sentença restringe-se apenas a resguardar aparticipação societária da mãe do varão, incidindo a meação sobre 88% das cotas sociais da empresa Royal Grease e ao valor transferido indevidamente que deverá recompor o capital da empresa; bem como limitar a indenização do imóvel de Maresias pelo valor despendido, devidamente atualizado. Portanto, ante ao exposto, pelo meu voto dá-se parcial provimento ao recurso de apelação do varão, para as finalidades acima detalhadas; negando-se provimento ao apelo da varoa. JOSÉ PERCIVAL ALBANO NOGUEIRA JÚNIOR Relator (assinatura eletrônica) 2018-12-13T17:38:58+0000 Not specified
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