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1 Relatório Técnico Projeto 79.09.137 Agentes Ambientais na Moagem de Pedras de Mármore no Município de Cachoeiro de Itapemirim-ES e Região e seus Impactos na Saúde dos Trabalhadores Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho - FUNDACENTRO - Centro Estadual do Espírito Santo Vitória / ES Maio/2015 2 Maria Amélia Gomes de Souza Reis Presidente Renato Ludwig de Souza Diretor Executivo Substituto Robson Spinelli Gomes Diretor Técnico Maria Ângela Pizzani Cruz Chefe do Centro Estadual do Espírito Santo Antônio Carlos Garcia Júnior Chefe Técnico do Centro Estadual do Espírito Santo José Geraldo Aguiar Coordenador 3 Projeto 79.09.137 Agentes Ambientais na Moagem de Pedras de Mármore no Município de Cachoeiro de Itapemirim-ES e Região e seus Impactos na Saúde dos Trabalhadores Equipe Técnica Responsável pela Elaboração do Relatório: José Geraldo Aguiar (Coordenador) Centro Estadual do Espírito Santo (CEES) Elizabete Medina Coeli Mendonça Serviço de Ergonomia (SEr/CTN) Gilcemar Antonio Pereira Endlich Centro Estadual do Espírito Santo (CEES) Alcinéa Meigikos dos Anjos Santos Serviço de Agentes Químicos (SQi/CTN) FUNDACENTRO - Centro Estadual do Espírito Santo Vitória / ES Maio/2015 4 Projeto 79.09.137 - Agentes Ambientais na Moagem de Pedras de Mármore no Município de Cachoeiro de Itapemirim-ES e Região e seus Impactos na Saúde dos Trabalhadores Programa Nacional de Eliminação da Silicose 5 APRESENTAÇÃO O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de calcário. Sua produção anual é de mais de cem milhões de toneladas (calcário bruto e beneficiado), apresentando um crescimento de aproximadamente vinte por cento nos últimos cinco anos. O calcário apresenta uma grande variedade de usos, desde matéria prima para a fabricação de cal e cimento, como corretivo de solos ácidos, como carga em processos industriais, como ingrediente na indústria de papel, de plásticos, de borracha, de tintas, na indústria química, siderúrgica, de vidro, refratários e outras (SAMPAIO e ALMEIDA, 2008). O Estado do Espírito Santo é o maior exportador de rochas ornamentais do país, responsável pela exportação de 1,4 milhões de toneladas por ano de rocha (mármore e granito), correspondendo a aproximadamente 64% da exportação brasileira (CENTROROCHAS 2011). O Município de Cachoeiro de Itapemirim, principal centro econômico do sul do Espírito Santo, está situado a 139 quilômetros da capital do Espírito Santo, Vitória. É o segundo polo mais importante do Estado, depois da região metropolitana de Vitória. Neste contexto, Cachoeiro de Itapemirim é hoje um centro de extrativismo e beneficiamento mineral (mármores, granitos e moagem de calcário), sendo reconhecida como um centro internacional de rochas ornamentais. O setor de mármore abrange as seguintes atividades: trabalho de extração de blocos, realizado nas pedreiras; transformação dos blocos em chapas de mármore, nas serrarias; beneficiamento para a fabricação de produtos utilizados na construção civil, nas marmorarias e, finalmente, produção de calcário nas moageiras, a partir de pedras extraídas ou refugadas da extração de mármore. O número de empresas no setor de mineração de mármore e granito no Estado do Espírito Santo chega a um total de 2.787, a maioria delas pequenas e médias, classificadas como depósitos, marmorarias, moagens, pedreiras, serrarias ou serrarias/marmorarias, com uma mão de obra empregada de 14.110 trabalhadores filiados ao Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Mármore, Granito e Calcário do ES (SINDIMARMORE 2010). Dessas empresas, aproximadamente 1.200 estão localizadas no município de Cachoeiro de Itapemirim. A produção de calcário no Brasil, 6 no ano de 2009, foi em torno de 21 milhões de toneladas. O Estado do Espírito Santo produziu 317 mil toneladas de calcário (MAPA 2010), o que contribuiu para a produção de cerca de dois milhões de toneladas de produtos derivados da moagem de calcário por ano e para a geração de cerca de 5.600 empregos, sendo 1.100 diretos e 4.500 indiretos (SEDES-ES 2011). O projeto “Agentes Ambientais na Moagem de Pedras de Mármore no Município de Cachoeiro de Itapemirim-ES e Região e seus Impactos na Saúde dos Trabalhadores” contou com a parceria do Ministério Público do Trabalho de Cachoeiro de Itapemirim e do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador - CEREST Regional de Cachoeiro de Itapemirim. Com o estudo, acrescido da experiência acumulada pela FUNDACENTRO nas pesquisas em ramos de atividades correlatos, espera-se colaborar para a melhoria das condições de trabalho nesse processo produtivo. 7 RESUMO Trata-se de estudo realizado pela FUNDACENTRO para caracterizar o processo de moagem de pedras de mármore nos municípios de Cachoeiro de Itapemirim, Castelo e Vargem Alta (ES) e avaliar os efeitos respiratórios da exposição a poeiras geradas nos processos de moagem de rochas calcárias. Inicialmente, foram realizados levantamentos para localização e cadastro das empresas, obtenção das listagens de funcionários e amostragem dos trabalhadores das empresas cadastradas. Os indivíduos selecionados foram avaliados através da aplicação de questionário de sintomas respiratórios (incluindo histórico ocupacional), espirometria e radiografia de tórax. Foram avaliados 238 trabalhadores de vinte empresas, com média de idade de 35 anos (dp: 10,24), média de 8,47 anos (dp:7,03) de exposição a poeiras na moagem de calcário e média de 17 anos (dp:11,43) de exposição ocupacional a poeiras minerais. Os resultados mostraram que o sintoma respiratório mais prevalente foi o chiado (12,18%), seguido da dispneia (6,72%). A prevalência de bronquite crônica foi 6,03%. A espirometria revelou distúrbio ventilatório em 29,67% dos avaliados, sendo o distúrbio obstrutivo o mais frequente (20,59%). Dois casos de pneumoconiose foram diagnosticados entre os 221 trabalhadores submetidos à radiografia de tórax (0,9%). A avaliação qualitativa dos ambientes de trabalho, nas empresas cadastradas, foi realizada através de visitas técnicas com aplicação de questionário checklist, elaborado pelos pesquisadores. Os resultados mostraram, em mais de 60% das empresas, controle de poeira inexistente ou ruim nos setores de produção. Embora 53% das empresas fornecessem máscaras PFF2 ou PFF3 para os trabalhadores, em geral não havia medidas coletivas de controle de poeira, tais como ventilação local exaustora, enclausuramento de correias transportadoras e peneiras, filtros manga com jato pulsante, umidificação de processos e outras. Durante os trabalhos de campo, a equipe técnica localizou uma empresa de moagem de quartzo. A análise da poeira produzida revelou presença de sílica livre cristalizada numa concentração de 98%. Um caso de silicose subaguda foi diagnosticado entre os oito trabalhadores dessa empresa (12%). O achado alertou para a existência, na região, da atividade de moagem de sílica, que está relacionada a alto risco de desenvolver silicose ou outras doenças relacionadas à exposição à sílica. Esse estudo permitiu o mapeamento da operação de moagem de calcário no sul do Estado do Espírito Santo, contribuindo para a implementação de medidas de controle da exposição 8 a poeiras e outros agentes ambientais e para melhoria das condições de trabalho nessas indústrias. PALAVRAS-CHAVE: indústria da moagem, exposição ao calcário, doenças ocupacionais pulmonares, pneumoconiose, exposição à sílica, quartzo, silicose. 9 LISTA DE ABREVIATURAS MPT-CI Ministério Público do Trabalho de Cachoeiro de Itapemirim CEREST-CI Centro de Referência em Saúde do Trabalhador - Regionalde Cachoeiro de Itapemirim. MME Ministério das Minas e Energia CETEM Centro de Tecnologia Mineral MCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento SINDIMARMORE Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Mármore, Granito e Calcário do Estado do Espírito Santo TAC Termo de Ajuste de Conduta FUNDACENTRO/CEES FUNDACENTRO – Centro Estadual do Espírito Santo SRTE Superintendência Regional do Trabalho e Emprego FUNDACENTRO Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho NIOSH National Institute for Occupational Safety and Health ACGIH American Conference of Governmental Industrial Hygienists TLV Threshold Limit Value (limite de tolerância para exposição) NAP Nota de Alterações Pretendidas BEI Índices Biológicos de Exposição ABHO Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais PNOS Particles Not Otherwise Specified. - Partículas (insolúveis ou de baixa solubilidade) não Especificadas de Outra Maneira 10 WHO World Health Organization NHO Norma de Higiene Ocupacional PPRA Programa de Prevenção de Riscos Ambientais SINDIROCHAS Sindicato das Indústrias de Rochas Ornamentais, Cal e Calcário do Estado do Espírito Santo. DPOC Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica 11 TABELAS Tabela 1 - Total de funcionários por número de empresas. ........................................... 39 Tabela 2 - Número de funcionários registrados nas empresas estudadas, por setor e sexo. ................................................................................................................................ 40 Tabela 3 - Número de funcionários administrativos por número de empresas. ............ 40 Tabela 4 - Número de funcionários da produção por número de empresas. ................. 41 Tabela 5 – Presença de itens de higiene nas empresas avaliadas. ................................. 42 Tabela 6 - Controle de poeira nos ambientes de higiene por nº de empresas. ............... 43 Tabela 7 - Saúde e Segurança no Trabalho por número de empresas. .......................... 46 Tabela 8 - Tipos de avaliações de riscos ambientais aplicadas por nº de empresas. ..... 47 Tabela 9 - Profissionais de SESMT por nº de empresas. .............................................. 47 Tabela 10 - Equipamentos de Proteção Individual fornecidos por nº de empresas. ...... 48 Tabela 11 - Máscaras utilizadas por tipo de filtro e nº de empresas*. ........................... 49 Tabela 12 - Número de Acidentes de trabalho com afastamento, sem afastamento e fatais por número de empresas. ...................................................................................... 50 Tabela 13- Produção em toneladas no ano de 2010 por nº de empresas e representação em percentual. ................................................................................................................. 51 Tabela 14 - Características dos almoxarifados por nº de empresas*. ............................ 53 Tabela 15- Controle de poeira nos almoxarifados por nº de empresas*. ....................... 53 Tabela 16 - Condições de trabalho nos laboratórios químicos por itens avaliados e nº de empresas*. ...................................................................................................................... 55 Tabela 17- Controle de poeira nos laboratórios químicos por nº de empresas*. ........... 56 Tabela 18 - Intensidade do ruído nos laboratórios químicos por nº de empresas*. ....... 56 Tabela 19 - Condições de trabalho nos laboratórios físicos por itens avaliados e nº de empresas*. ...................................................................................................................... 57 Tabela 20 - Controle de poeira nos laboratórios físicos por nº de empresas*. .............. 58 12 Tabela 21- Intensidade do ruído nos laboratórios físicos por nº de empresas*. ............ 59 Tabela 22 - Controle de poeira nos pátios de pedras por nº de empresas. ..................... 60 Tabela 23 - Intensidade do ruído nos pátios de pedras por nº de empresas. .................. 61 Tabela 24 - Condições de trabalho e segurança nos pátios de pedras por nº de empresas. ........................................................................................................................................ 61 Tabela 25- Modelos e quantidade de britadores por nº de empresas*. .......................... 62 Tabela 26 - Condições de trabalho e segurança nos britadores, por nº de empresas.* .. 63 Tabela 27 - Controle de poeira nos britadores por nº de empresas*. ............................ 64 Tabela 28 - Intensidade do ruído nos britadores por nº de empresas*. ......................... 65 Tabela 29 - Quantidade de peneiras por nº de empresas*. ............................................ 65 Tabela 30 - Condições de trabalho e segurança nas peneiras por nº de empresas*. ...... 66 Tabela 31 - Controle de poeira nas peneiras por nº de empresas*. ............................... 67 Tabela 32 - Intensidade do ruído nas peneiras por nº de empresas*. ............................ 67 Tabela 33 - Modelos e quantidades de moinhos por nº de empresas. ........................... 68 Tabela 34 - Condições de trabalho e segurança nos moinhos por nº de empresas. ....... 68 Tabela 35- Controle de poeira nos moinhos por nº de empresas. .................................. 69 Tabela 36 - Intensidade do ruído nos moinhos por nº de empresas. .............................. 69 Tabela 37 - Condições de trabalhado e segurança nos silos por nº de empresas*. ........ 71 Tabela 38 - Controle de poeira nos silos por nº de empresas*. ..................................... 72 Tabela 39 - Intensidade do ruído nos silos por nº de empresas*. .................................. 73 Tabela 40 - Quantidade total de ensacadeiras por nº de empresas*. ............................. 74 Tabela 41 - Condições de trabalhado e segurança nas ensacadeiras por nº de empresas*. ........................................................................................................................................ 74 Tabela 42 - Controle de poeira nas ensacadeiras por nº de empresas*.......................... 76 Tabela 43 - Intensidade do ruído nas ensacadeiras por nº de empresas*. ..................... 76 13 Tabela 44 - Condições de trabalhado e segurança nas correias transportadoras por nº de empresas. ........................................................................................................................ 77 Tabela 45 - Controle de poeira nas correias transportadoras por nº de empresas. ........ 77 Tabela 46 - Intensidade do ruído nas correias transportadoras por nº de empresas. ..... 78 Tabela 47- Condições de trabalhado e segurança nas oficinas por nº de empresas*..... 81 Tabela 48 - Tipos de piso nas oficinas por nº de empresas*. ........................................ 82 Tabela 49 - Controle de poeira nas oficinas por nº de empresas. .................................. 82 Tabela 50 - Intensidade do ruído nas oficinas por nº de empresas*. ............................. 82 Tabela 51- Condições de trabalhado e segurança no setor de expedição por nº de empresas. ........................................................................................................................ 83 Tabela 52 - Tipos de piso no setor de expedição por nº de empresas. .......................... 84 Tabela 53 - Equipamentos e processos utilizados para carregamento e descarregamento de produtos por nº de empresas. ..................................................................................... 85 Tabela 54 - Controle de poeira no setor de expedição por nº de empresas. .................. 85 Tabela 55 - Intensidade do ruído no setor de expedição por nº de empresas. ............... 86 Tabela 56 - Característicasdas empresas estudadas. ..................................................... 97 Tabela 57 - Distribuição por função/atividade dos trabalhadores avaliados nas empresas de moagem de calcário e de quartzo. .............................................................................. 98 Tabela 58 - Características dos trabalhadores avaliados, por tipo de matéria prima utilizada na indústria. ...................................................................................................... 99 Tabela 59 - Prevalência de sintomas respiratórios nos trabalhadores avaliados, por tipo de matéria prima utilizada na indústria......................................................................... 100 Tabela 60 - Resultado da espirometria nos trabalhadores avaliados, por tipo de matéria prima utilizada na indústria. ......................................................................................... 100 Tabela 61 - Resultado da leitura da radiografia de tórax nos trabalhadores avaliados, por tipo de matéria prima utilizada na indústria. .......................................................... 101 Tabela 62 - Prevalência de pneumoconiose em diferentes grupos ocupacionais brasileiros (estudos transversais)...................................................................................101 14 LISTA DE ILUSTRAÇÕES GRÁFICOS Gráfico nº 1 - Controle de poeira nos diferentes setores por percentual de empresas. . 88 Gráfico n° 2 - Controle de poeira nos diferentes setores das empresas com certificação........................................................................................................89 Gráfico nº 3 - Controle de poeira nos diferentes setores das empresas sem certificação.....................................................................................................................90 Gráfico nº4 - Intensidade do ruído nos diferentes setores por percentual de empresas. 91 Gráfico nº5 - Histograma do índice de exposição a poeiras em trabalhadores na moagem de rochas (calcário ou quartzo) sem (acima) e com (abaixo) pequenas opacidades à radiografia de tórax (n=228). .................................................................. 102 15 FIGURAS Figura 1- Caracterização geológica e geoquímica das intrusões de rochas metamáficas e félsicas nos mármores do Sul do Estado do Espírito Santo. ........................................... 26 Figura 2 - Representação esquemática do trato respiratório humano (retirado de LIPPMANN M, 1989). ................................................................................................... 29 Figura 3 – Mapa de localização das 36 empresas pesquisadas. ..................................... 38 Figura 4 – Banheiros. ..................................................................................................... 43 Figura 5 – Vestiários. ..................................................................................................... 44 Figura 6 - Refeitório ....................................................................................................... 44 Figura 7 – Sanitários. ...................................................................................................... 45 Figura 8 - Almoxarifado ................................................................................................. 52 Figura 9 – Laboratório químico ...................................................................................... 54 Figura 10 – Laboratório físico. ....................................................................................... 58 Figura 11 - Pátio de pedras ............................................................................................. 60 Figura 12 - Britador de mandíbulas ................................................................................ 64 Figura 13 - Peneiras ........................................................................................................ 66 Figura 14 - Moinho ......................................................................................................... 70 Figura 15 - Silos ............................................................................................................. 72 Figura 16 – Ensacadeira. ................................................................................................ 75 Figura 17 - Correias transportadoras .............................................................................. 78 Figura 18 - Oficina ......................................................................................................... 80 Figura 19 - Expedição..................................................................................................... 84 Figura 20- Jazida de quartzo. .......................................................................................... 93 Figura 21- Empresa de moagem de quartzo. .................................................................. 93 Figura 22 - Silicose subaguda em trabalhador da moagem de quartzo. Evolução radiológica de abril de 2008 (acima, à esquerda) a junho de 2011 (acima, à direita), com file://srvfs/Tecnico/CST/Z_DPROF/moageiras/moageiras%2011%2002%202015.docm%23_Toc416187266 file://srvfs/Tecnico/CST/Z_DPROF/moageiras/moageiras%2011%2002%202015.docm%23_Toc416187266 file://srvfs/Tecnico/CST/Z_DPROF/moageiras/moageiras%2011%2002%202015.docm%23_Toc416187286 file://srvfs/Tecnico/CST/Z_DPROF/moageiras/moageiras%2011%2002%202015.docm%23_Toc416187286 16 aumento das grandes opacidades. Abaixo, tomografia computadorizada de tórax de abril de 2007. ........................................................................................................................ 103 17 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................20 2. OBJETIVOS.............................................................................................................23 2.1. Objetivo geral.....................................................................................................23 2.2. Objetivos específicos..........................................................................................23 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................24 3.1. Efeitos à saúde causados pelo carbonato de cálcio...........................................26 3.2. Alterações do limite de exposição ocupacional para o carbonato de cálcio......27 3.3. A sobrecarga pulmonar: o porquê do limite PNOS...........................................28 3.4. Avaliação ambiental da poeira de carbonato de cálcio......................................30 4. HISTÓRICO DO PROJETO....................................................................................31 5. DESCRIÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO.......................................................34 6. METODOLOGIA......................................................................................................35 6.1. Avaliação qualitativa do ambiente de trabalho..................................................35 6.2. Avaliação respiratória dos trabalhadores............................................................36 7. RESULTADOS.........................................................................................................38 7.1. Avaliação do ambiente de trabalho....................................................................38 7.1.1. Localização das empresas........................................................................38 7.1.2. Vias de acesso..........................................................................................39 7.1.3. Funcionários.............................................................................................39 7.1.4. Horário de trabalho..................................................................................417.1.5. Higiene.....................................................................................................42 7.1.6. Saúde e segurança no trabalho.................................................................46 7.1.7. Equipamentos de proteção individual......................................................48 7.1.8. Acidentes de trabalho...............................................................................50 7.1.9. Produção...................................................................................................51 7.1.10. Almoxarifado..........................................................................................52 7.1.11. Laboratório químico.................................................................................54 7.1.12. Laboratório físico.....................................................................................57 7.1.13. Pátio de pedras.........................................................................................59 7.1.14. Britadores.................................................................................................62 18 7.1.15. Peneiramento............................................................................................65 7.1.16. Moinhos...................................................................................................67 7.1.17. Silos..........................................................................................................71 7.1.18. Ensacadeiras............................................................................................73 7.1.19. Correias transportadoras..........................................................................76 7.1.20. Oficinas....................................................................................................97 7.1.21. Expedição.................................................................................................83 7.1.22. Balança.....................................................................................................86 7.1.23. Resultado comparativo entre os diferentes setores..................................87 7.1.24. Empresa de moagem de quartzo..............................................................92 7.2. Avaliação dos trabalhadores...............................................................................94 8. DISCUSSÃO...........................................................................................................104 9. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES...............................................................107 9.1. Ambiente de trabalho.......................................................................................107 9.2. Saúde ocupacional............................................................................................109 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................111 19 ANEXOS ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO............118 ANEXO B – QUESTIONÁRIO DE SINTOMAS RESPIRATÓRIOS, INCLUINDO HISTÓRICO OCUPACIONAL..................................................................................119 ANEXO C - CHECKLIST DE MOAGEIRAS...........................................................128 20 1. INTRODUÇÃO No Brasil, as reservas (lavráveis) de calcário estão distribuídas por vários estados e estima-se que sejam superiores a dois bilhões de toneladas, garantindo cerca de 400 anos de produção no ritmo atual. Em 2010, o Brasil produziu em torno de 24 milhões de toneladas de calcário beneficiado (calcário agrícola), com contribuição de 37,9% da Região Centro-Oeste, 27,8% da Região Sudeste, 5,5% da Região Norte e 4,7% da Região Nordeste (MME 2011). Apesar de o Brasil ser considerado um produtor de grande porte e as tendências de mercado apontarem para um crescimento da produção, em geral há pouco investimento em modernização, em aumento de eficiência e em inovações tecnológicas (MME 2009). Quanto à demanda por mão de obra nas minas e nas usinas de beneficiamento de calcário, as projeções realizadas com base nos valores da produção até o ano de 2030 apontam para um substancial aumento dos quase 12.000 empregados atuais para algo entre 22.000 a 33.000 trabalhadores, com pouco mais da metade deles ocupada nas minas. Grande parte dessa mão de obra é pouco qualificada. Nas minas, somente cerca de 10% da mão de obra possui nível superior e, nas usinas, apenas 5% (MME 2009). Embora não figure entre os principais produtores brasileiros de calcário, o Estado do Espírito Santo possui uma característica muito importante, que o diferencia dos demais estados produtores. Devido à grande quantidade de resíduos de rochas (granito e mármore) que o Estado gera no processo de extração, a possibilidade de aproveitamento desses materiais para empregos diversos torna a atividade de moagem especialmente importante (CETEM/MCT 2010). As maiores concentrações de jazidas brasileiras de mármore estão no Estado do Espírito Santo. Sua reserva de mármore possui vinte quilômetros de extensão por oito quilômetros de largura, localizada entre os Municípios de Cachoeiro de Itapemirim, Vargem Alta e Castelo. A região de Cachoeiro de Itapemirim é reconhecida como um dos principais produtores de mármores ornamentais do Brasil, contribuindo com uma produção bruta de quase 45.000 toneladas em 2010 (DNPM. 2010). A atividade extrativa do 21 mármore encontra-se instalada há várias décadas, alimentando também a indústria moageira e do cimento com os rejeitos grossos, provenientes da obtenção do bloco. O mármore é uma rocha metamórfica originada de calcário, exposto a alta temperatura e pressão. Por esse motivo, as maiores jazidas de mármore se encontram em regiões de rocha matriz calcária e atividade vulcânica em seu período de formação geológica, característica dessa parte do Estado do Espírito Santo. Em muitas pedreiras da região, o mármore é muito puro, com composição dolomítica e/ou calcítica. O mármore calcítico é menos utilizado como rocha ornamental, devido à sua menor dureza e menor resistência ao ataque por substâncias químicas. Além disso, as porções impuras, de coloração mais escura, que contém minerais silicatados, prejudicam o aproveitamento como rocha ornamental e são descartadas como rejeito. As pedras refugadas da extração vão para a produção de pó de calcário nas moageiras (EVANGELISTA, 2000). O Estado do Espírito Santo produziu 317 mil toneladas de calcário no ano de 2010 (MAPA 2010), contribuindo para a produção anual de cerca de dois milhões de toneladas de produtos derivados da moagem desse material e para a geração de cerca de 5.600 empregos, sendo 1.100 diretos e 4.500 indiretos (SEDES-ES 2011). Em Cachoeiro de Itapemirim e municípios vizinhos, a moagem de calcário é feita em empresas de grande, médio e pequeno porte. Na maioria destas, é visível a grande quantidade de poeira em suspensão nos ambientes de trabalho e liberada no meio ambiente, atingindo o entorno das fábricas. O Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Mármore, Granito e Calcário do Estado do Espírito Santo (SINDIMARMORE), em Cachoeiro de Itapemirim, vem alertando para a alta exposição à poeira nestes ambientes de trabalho, temendo os possíveis efeitos sobre a saúde dos trabalhadores. Populações vizinhas às empresas reclamam da poeira que atinge suas moradias, suspeitando-se de que haveria um excesso de doenças respiratórias entre os moradores destas áreas. No ano de 2009, o Ministério Público do Trabalho de Cachoeiro de Itapemirim (MPT-CI) iniciou um trabalho de investigação nas empresas de moagem de calcário dessa região. As ações foram constituídas de quatro etapas: levantamento das empresas do setor, fiscalização dos ambientes de trabalho, intimação das empresas para assinatura 22 de Termo deAjuste de Conduta (TAC), fixando prazos para implantação das medidas de controle necessárias e, finalmente, em caso de descumprimento do TAC ou não comparecimento dos representantes das empresas notificadas ao MPT, adoção de medidas punitivas. Considerando esse panorama, a FUNDACENTRO vem estudando, desde 2010, as condições de saúde, segurança e higiene ocupacional dos trabalhadores de moageiras do município de Cachoeiro de Itapemirim, por meio do projeto institucional SGPA 1 79.09.137: “Agentes Ambientais na Moagem de Pedras de Mármore no Município de Cachoeiro de Itapemirim-ES e Região e seus Impactos na Saúde dos Trabalhadores”. O projeto contou com ações conjuntas da FUNDACENTRO (Centro Estadual do Espírito Santo e Centro Técnico Nacional), Ministério Público do Trabalho (MPT- CI), Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de Cachoeiro de Itapemirim (CEREST-CI), Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) de Vitória e o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Mármore, Granito e Calcário do Estado do Espírito Santo (SINDIMARMORE). O projeto “Agentes Ambientais na Moagem de Pedras de Mármore no Município de Cachoeiro de Itapemirim-ES e Região e seus Impactos na Saúde dos Trabalhadores” foi delineado com o objetivo de responder às seguintes questões: Quais os fatores presentes no processo industrial que estão contribuindo para a produção de poeira nessas empresas? Quais os efeitos respiratórios da exposição à poeira nesses ambientes de trabalho? O que pode ser feito para reduzir a exposição? Com o estudo, acrescido da experiência acumulada pela FUNDACENTRO nas pesquisas em ramos de atividades correlatos, espera-se colaborar para a melhoria das condições de trabalho nesse processo produtivo. 1 Sistema de Gestão de Projetos e Atividades - FUNDACENTRO 23 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo Geral Caracterizar o processo de moagem de pedras de mármore no município de Cachoeiro de Itapemirim e região. 2.2. Objetivos Específicos Estimar a frequência de sintomas respiratórios, alterações da função pulmonar, anormalidades radiológicas de tórax e doenças ocupacionais pulmonares em trabalhadores expostos a poeiras geradas na moagem de rochas calcárias, visando à prevenção do adoecimento desses trabalhadores. Contribuir para a implantação e adequação de medidas de controle da exposição a poeiras e outros agentes ambientais em moageiras, visando à melhoria das condições de trabalho. 24 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Entre as rochas carbonatadas sedimentares mais comercializadas em todo o mundo destacam-se os calcários e os dolomitos. O principal constituinte mineralógico do calcário é a calcita (carbonato de cálcio - CaCO3), podendo conter menores quantidades de carbonato de magnésio, sílica, argila e outros minerais, incluindo a tremolita. Os dolomitos são compostos principalmente por dolomita (CaCO3.MgCO3). Já os mármores são rochas metamórficas provenientes do calcário com graus variados de recristalização. A maior parte das rochas carbonáticas tem origem biológica, formando-se em ambientes marinhos pela deposição de conchas e esqueletos de outros organismos (MME 2009). O Espírito Santo dispõe de grandes jazidas de calcários cristalinos puros e de calcários magnesianos, que abastecem praticamente todo o território capixaba, além dos estados circunvizinhos. As reservas localizadas no sul do estado, que representam mais de 99% do total, ocorrem no prolongamento e na direção nordeste das jazidas do estado do Rio de Janeiro, aflorando, principalmente, nos municípios de Cachoeiro de Itapemirim, São José do Calçado, Mimoso do Sul e Castelo (DADALTO; FULLIN, 2001). A moagem de pedras de calcário é uma atividade em expansão no sul do Estado do Espírito Santo. Por ser constituído principalmente de calcário, o mármore é totalmente aproveitado, ou seja, resíduos da extração do mármore como rocha ornamental são moídos para as aplicações comuns do calcário. Nas frentes de lavra (pedreiras de calcário a céu aberto) a rocha é extraída e depois destinada à moagem ou à produção de seixos rolados. Espalhadas na região de Itaoca, nas cercanias de Cachoeiro do Itapemirim, há muitas pedreiras de mármore, o qual é extraído como rocha ornamental ou para fins industriais (como na produção de fertilizantes, papel ou cimento). Estima-se em cerca de uma centena o número de pedreiras em atividade (EVANGELISTA e VIANA, 2000). Devido à sua importância econômica, a literatura mostra que a região já foi bastante estudada, e também mapeada por meio de levantamentos geológicos (CETEM 2008, DNPM 2010, EVANGELISTA, 2000; VIEIRA, 1997). Esses estudos, além de 25 contribuírem para o conhecimento geológico da região, também trazem informações sobre a presença de minerais que são motivo de preocupação em termos de exposição ocupacional, como, por exemplo, a sílica e o asbesto. O mármore do Estado do Espírito Santo está distribuído em uma área de 180.000 hectares, abrangendo os municípios de Cachoeiro de Itapemirim, Vargem Alta e Castelo (figura1). Em Cachoeiro de Itapemirim, está localizado um maciço rochoso que aflora continuamente com extensão de 20 x 8 km. O corpo carbonático do sul do Estado do Espírito Santo está inserido no conjunto de rochas denominado Complexo Paraíba do Sul, reconhecido pela presença de mármore e anfibolito, além de quartzito e calciossilicatos em menor proporção (ALMEIDA, 2012). Os dois tipos principais de mármore da região (calcítico e dolomítico) ocorrem como faixas espessas intercaladas entre si (figura1). Entre as bandas carbonáticas ocorrem níveis descontínuos de minerais silicáticos, que são constituídos por aglomerados de diopsídio ou tremolita ou pela associação desses dois minerais. Além disso, também são observados minerais asbestiformes como a tremolita fibrosa, a antofilita, a grunerita e a crocidolita (ALMEIDA, 2012). A impureza mais comum nas rochas carbonatadas é a argila. Argilominerais como a caulinita, a ilita, a clorita, a esmectita e outros tipos micaceos podem estar disseminados por toda a rocha ou concentrados em finos leitos em seu interior. A sílica pode ocorrer na forma de areia, fragmentos de quartzo ou em estado combinado, como feldspato, mica, talco e serpentinito (CETEM, 2008). Outras impurezas silicosas, que não argilominerais, comprometem o aproveitamento econômico do calcário. Assim, a sílica produz efeitos nocivos ao calcário. Basta lembrar que os calcários para fins metalúrgicos e químicos devem conter menos que 1% de alumina e 2% de sílica. 26 Figura 1- Caracterização geológica e geoquímica das intrusões de rochas metamáficas e félsicas nos mármores do Sul do Estado do Espírito Santo. 3.1. Efeitos à saúde causados pelo carbonato de cálcio Os efeitos da exposição ocupacional a poeiras respiráveis contendo sílica são bem conhecidos: pneumoconiose (silicose), câncer de pulmão e doenças de vias aéreas, como bronquite ocupacional e limitação crônica ao fluxo aéreo (ATS, 1997). Por outro lado, na literatura, o número de publicações a respeito da exposição à poeira na moagem de calcário e seus efeitos respiratórios é pequeno. A exposição ao carbonato de cálcio pode ocorrer através da inalação e do contato com olhos e pele. A poeira é irritante para os olhos, o nariz, as membranas mucosas e a pele. O contato da poeira com os olhos causa vermelhidão, dor e inflamação das pálpebras, enquanto o contato com a pele causa irritação local de grau moderado (NIOSH, 2005). A exposição a grandes quantidades de poeira pode causar corrimento nasal e tosse. 27 A exposição ao carbonato de cálcio (calcário) impuro, que geralmente contém de 3% a 20% de quartzo, pode representar risco de silicose. O risco é maior quando a proporção de quartzo no particulado suspenso no ar estáacima de 1%. 3.2. Alterações do limite de exposição ocupacional para o carbonato de cálcio Em 2006, a American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH) anunciou a retirada do limite de exposição específico para o carbonato de cálcio. Essa informação pode ser encontrada na seção: “Nota de Alterações Pretendidas (NAP) para 2006”, do livreto “2006 TLVs® e BEIs® baseados na Documentação dos Limites de Exposição Ocupacional (TLVs®) para Substâncias Químicas e Agentes Físicos & Índices Biológicos de Exposição (BEIs®)”, traduzido pela Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais (ABHO)”. O motivo alegado foi “retirada da documentação e dos TLVs® adotados devido à insuficiência de dados”. Em 2007, o carbonato de cálcio não constava mais da lista “valores adotados” da versão anual desse mesmo livreto, conforme Anexo G: “Substâncias cujos TLVs® adotados e respectivas documentações foram retiradas por diversas razões, inclusive insuficiência de dados, reagrupamento etc”. As substâncias cujos limites foram retirados da lista de TLVs® adotados permanecem nesse anexo por um período de 10 anos para eventual consulta (ACGIH, 2006; ACGIH, 2012). O fato do limite específico de exposição ter sido removido não quer dizer que não exista risco à saúde causado pela poeira de carbonato de cálcio. A inalação de partículas insolúveis (como é o caso do carbonato de cálcio), ou fracamente solúveis, mesmo que biologicamente inertes, pode causar efeitos adversos para à saúde. Por isso, a ACGIH recomenda que as concentrações ambientais dessas poeiras sejam mantidas abaixo de 3 mg/m³, para partículas respiráveis, e abaixo de 10 mg/m³, para partículas inaláveis (ACGIH, 2012). 28 Essa recomendação encontra-se no Anexo B (Partículas insolúveis ou de baixa solubilidade não Especificadas de Outra Maneira) do livreto da ACGIH. A classificação refere-se a poeiras designadas na AGCIH pela sigla PNOS, ou seja, Particles Not Otherwise Specified. As recomendações do Anexo B do livreto da ACGIH se aplicam somente a partículas que atendam aos seguintes pré-requisitos: Não tenham um limite de exposição específico aplicável. Sejam insolúveis ou fracamente solúveis em água (ou, preferencialmente nos fluidos aquosos do pulmão). Tenham baixa toxicidade (isto é, não sejam citotóxicas, genotóxicas, ou quimicamente reativas de outra forma com o tecido pulmonar e não emitam radiação ionizante, causem imunossensibilização ou outros efeitos tóxicos que não sejam a inflamação ou o mecanismo de “sobrecarga pulmonar”). É importante acrescentar que, além dos pré-requisitos citados anteriormente, o limite PNOS só pode ser aplicado se essas poeiras não contiverem sílica e nem asbesto em sua composição. Caso qualquer uma dessas substâncias esteja presente, o risco de exposição à sílica ou asbesto deve ser avaliado preferencialmente. Portanto, desde que a poeira de carbonato de cálcio não contenha essas substâncias, os limites designados como PNOS se aplicam perfeitamente. 3.3. A sobrecarga pulmonar: o porquê do limite PNOS Uma característica típica de muitas partículas minerais é a baixa solubilidade de seus componentes, facilitando sua acumulação nos pulmões (MORROW, 1992). Os mecanismos de penetração e deposição das partículas no trato respiratório são bem conhecidos e descritos na literatura. Das partículas que penetram nas vias aéreas superiores, as maiores se depositam na região traqueobrônquica e mais tarde podem ser eliminadas pelo mecanismo de limpeza mucociliar ou, se forem solúveis, podem passar para outras regiões do corpo através da corrente sanguínea. As partículas insolúveis, de menores dimensões, podem chegar até a região alveolar, conforme a Figura 2. Somente as partículas menores que 10µm são capazes de penetrar nessa região, sendo que a deposição máxima na região alveolar ocorre para partículas de cerca 29 de 2µm de diâmetro aerodinâmico. A maioria das partículas maiores do que estas são depositadas em outras regiões do pulmão. A traquéia, os brônquios e os bronquíolos são revestidos por células com cílios (epitélio ciliado) e cobertos por uma camada mucosa. Os cílios possuem movimento contínuo e sincronizado, capaz de levar as partículas ali depositadas para a epiglote, de onde podem ser engolidas ou cuspidas. Os movimentos ciliares nos brônquios, a tosse e os espirros podem impulsionar as partículas no revestimento mucoso em direção à laringe e dali para fora dela. Já a região alveolar é não ciliada. Daí, as partículas insolúveis menores que 10µm depositadas nessa área são “engolidas” por células chamadas de macrófagos, que podem viajar pelo epitélio ciliado e serem transportadas para fora do sistema respiratório, permanecer dentro dos pulmões ou entrar no sistema linfático (WHO 1999). Estudos mostram que os mecanismos de limpeza pulmonar têm sua atividade muito diminuída, podendo até cessar quase completamente, devido ao acúmulo de Figura 2 - Representação esquemática do trato respiratório humano (retirado de LIPPMANN M, 1989). 30 partículas insolúveis nos pulmões. Essa condição, chamada de “sobrecarga” pode ocorrer como resultado da exposição ocupacional prolongada, mesmo a concentrações de poeira relativamente baixas (MORROW, 1992). Poeiras que já foram consideradas benignas (inertes, incômodas) no passado mostraram-se capazes de produzir fibroses, idênticas às induzidas por poeiras altamente tóxicas, enquanto quantidades excessivas são persistentemente retidas nos pulmões. Como resultado da retenção persistente, ocorre uma resposta inflamatória crônica e um aumento da hiperplasia das células alveolares, com subsequente desenvolvimento de alveolite, granulomas, fibrose e tumores de pulmão, que aumentam com o tempo e a gravidade da condição de sobrecarga. Onde quer que as partículas sejam depositadas, nas vias áreas superiores ou nos pulmões, elas têm o potencial de causar dano no local do depósito ou em outro local. Partículas que permanecem retidas por um longo tempo têm um maior potencial de causar dano. O fenômeno da sobrecarga pulmonar é reconhecido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como o resultado de exposições prolongadas e excessivas a poeira. Daí, a importância da avaliação ambiental e do controle da exposição (WHO 1999). 3.4. Avaliação ambiental da poeira de carbonato de cálcio Conforme já mencionado, deve-se verificar a presença de sílica e/ou asbesto na composição da poeira de carbonato de cálcio para avaliar, prioritariamente, o risco de exposição, antes de aplicar os limites designados como PNOS. Para isso, é necessário coletar a fração adequada da poeira, conforme metodologias específicas para essa finalidade (NIOSH 7500; NIOSH 7601; SANTOS 1989). Neste momento, um alerta importante deve ser feito. A determinação de sílica como contaminante de poeiras em que o composto predominante é o carbonato de cálcio (calcita) deve ser realizada com cuidados especiais. O carbonato de cálcio é um limitante analítico em amostras de poeiras nas quais se deseja determinar o teor de sílica (NIOSH 7500; SANTOS 1989). Uma vez confirmada ausência de sílica, a determinação da concentração de poeira suspensa no ar contendo carbonato de cálcio como constituinte principal deve ser realizada conforme as recomendações da NHO-08 (SANTOS 2009). 31 A avaliação adequada das condições dos ambientes de trabalho com relação à exposição a poeiras e a aplicação do limite PNOS requer a coleta e análise obrigatoriamente de ambas as frações de poeira: inalável e respirável. Os efeitos à saúde dependem do local de deposição das partículas no trato respiratório, relacionado com os tamanhos dessas partículas. Além disso, a estratégia de amostragem estabelecida para a coleta das amostras de poeira deve levar em consideração a representatividade com relação à jornadade trabalho dos funcionários cuja exposição está sendo avaliada. 4. HISTÓRICO DO PROJETO O projeto “Agentes Ambientais na Moagem de Pedras de Mármore no Município de Cachoeiro de Itapemirim/ES e Região e seus Impactos na Saúde dos Trabalhadores”, coordenado pela FUNDACENTRO – Centro Estadual do Espírito Santo teve início em 2010, em virtude de demanda do Ministério Público do Trabalho de Cachoeiro do Itapemirim e do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Mármore, Granito e Calcário do Estado do Espírito Santo (SINDIMARMORE), sobre as péssimas condições de trabalho nas moageiras. Entre as prováveis consequências desta exposição, estariam o aumento na prevalência de sintomas respiratórios, alterações da função pulmonar e pneumoconiose. O projeto contou com a parceria do Ministério Público do Trabalho de Cachoeiro de Itapemirim e do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador – CEREST Regional de Cachoeiro de Itapemirim. A fase inicial do projeto foi constituída de: Levantamento, localização e cadastro das empresas moageiras da região - Nessa fase, as visitas partiram de um cadastro inicial de 33 empresas, com um total de 668 trabalhadores. O foco foi o reconhecimento do processo produtivo e a identificação dos possíveis impactos na saúde dos trabalhadores, decorrentes dos principais fatores de risco presentes nesse tipo de atividade. A partir desse cadastro, foram também colhidas informações iniciais para a definição do procedimento de seleção e amostragem dos trabalhadores do setor, para posterior avaliação. 32 Como medida de apoio para ações futuras, a FUNDACENTRO ministrou um curso sobre avaliação da exposição ocupacional a poeiras em moageiras, para capacitação de profissionais dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST/CI e CEREST/Colatina) e do MPT. O curso foi realizado em Cachoeiro de Itapemirim e aberto também aos profissionais da área de segurança e saúde no trabalho das empresas moageiras e aos prestadores de serviços em avaliações ambientais. Foram abordados aspectos do reconhecimento do risco, avaliação da exposição ocupacional a poeiras, utilizando a Norma de Higiene Ocupacional da FUNDACENTRO NHO-08: “Coleta de Material Particulado Sólido Suspenso no Ar de Ambientes de Trabalho”, além de aspectos do controle da exposição a poeiras e da avaliação de saúde dos trabalhadores no setor de moageiras. Na segunda fase do projeto, desenvolvida em 2011, foi dada continuidade ao levantamento de dados ambientais e médicos, à conscientização de profissionais e trabalhadores do setor e às ações conjuntas com parceiros. A atualização do cadastro de moageiras foi realizada por meio de busca ativa de empresas não constantes do cadastro inicial. Nessa fase, as visitas às moageiras visaram à coleta de subsídios para elaboração de uma lista de verificação (checklist) destinada à avaliação qualitativa de riscos e identificação de alternativas tecnológicas para prevenção e controle da exposição dos trabalhadores aos agentes ambientais. A aplicação do checklist ocorreu no período de setembro a dezembro de 2011, propiciando a caracterização do perfil do setor com relação aos aspectos de segurança e saúde dos trabalhadores. A avaliação das condições respiratórias de trabalhadores do setor consistiu da aplicação de questionário de sintomas respiratórios, levantamento do histórico ocupacional e realização de exames de espirometria e radiografia de tórax. Os dados obtidos nessa avaliação visaram à determinação da prevalência de sintomas respiratórios, anormalidades funcionais pulmonares e alterações radiográficas na população de trabalhadores. Em fevereiro de 2011 foi realizado em Vitória/ES mais um curso sobre a avaliação da exposição ocupacional a poeiras em moageiras, desta vez para capacitação de agentes fiscais da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Ministério 33 do Trabalho e Emprego (SRTE/MTE) no Estado do Espírito Santo, novos parceiros nas ações do projeto. O curso foi semelhante ao ministrado em Cachoeiro de Itapemirim, porém com ênfase nos aspectos a serem observados durante as ações de fiscalização nas moageiras. A FUNDACENTRO vem dando apoio técnico ao MPT/Cachoeiro, ministrando palestras, participando de audiências coletivas com as empresas e de reuniões e oficinas de trabalho, com o envolvimento também da SRTE/MTE-ES e do CEREST-CI, para discussão de tópicos relacionados às moageiras. A terceira fase do projeto, desenvolvida em 2012, consistiu na tabulação e análise dos seguintes dados: Informações coletadas quando da aplicação do “Checklist Moageiras”, registros fotográfico e de vídeo realizados durante visitas às empresas de moagem de pedras de mármore, para identificar as alternativas tecnológicas destinadas à prevenção e controle da exposição de trabalhadores aos agentes ambientais, com ênfase aos aspectos envolvendo poeiras. Informações sobre as condições respiratórias de trabalhadores do setor, coletadas por meio de questionário de sintomas respiratórios, histórico ocupacional, espirometria e radiografia de tórax. Os resultados obtidos durante o período de desenvolvimento do projeto, após tratamento estatístico dos dados, foram apresentados no seminário “Saúde e Segurança do Trabalho e Meio Ambiente em Moageiras de Rochas Calcárias”, realizado no dia 17/10/2012 em Cachoeiro de Itapemirim – ES. O seminário contou com a participação do MPT-CI e da SRTE/MTE-ES. O evento também recebeu o apoio do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST/CI), do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Mármore, Granito e Calcário do Estado do Espírito Santo (SINDIMARMORE) e do Sindicato das Indústrias de Rochas Ornamentais, Cal e Calcário do Estado do Espírito Santo (SINDIROCHAS). 34 5. DESCRIÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO Os passos do processo produtivo da moagem de calcário começam no pátio, onde ficam depositadas as pedras trazidas das pedreiras de extração por caminhões caçamba. As pedras são lavadas ou não e colocadas em uma calha sobre uma peneira vibratória, remetendo-as para as mandíbulas do britador, onde passam pelo primeiro processo de trituração, virando brita grossa. A brita é levada por correias transportadoras até os silos reguladores, que despejam as pedras britadas no moinho, para o segundo processo de trituração, transformando-as em pó. A seguir, o pó é levado por processo de insuflação (sopro) para os silos e, na sequência, para as ensacadeiras, que podem ser de sistema de rosca sem fim ou pneumáticas. O pó é ensacado por trabalhadores em sacos de cinquenta quilos, que são colocados sobre paletes e transportados por empilhadeiras até o depósito, ou diretamente aos caminhões de transporte de cargas. Algumas empresas contam também com um processo de envasamento que leva o material moído através de sistema de rosca sem fim ou ar comprimido, despejando o produto a granel diretamente em caminhões bulk, que passam então por uma balança rodoviária dentro do pátio da empresa, para serem pesados. O processo de moagem de calcário para corretivo agrícola é semelhante ao do pó industrial, com diferença na granulometria do produto, que é maior. O processo de moagem do calcário siderúrgico envolve cinco etapas: a do pátio de pedras; a do britador de mandíbula, onde as pedras são misturadas com um pouco de argila e uma pequena quantidade de água; a de um britador a martelo, que tritura o material tornando-o arenoso; a de transporte por correia transportadora que leva o material a um galpão coberto e aberto em suas laterais; a de lotação de caminhões caçamba de transporte a granel por pá carregadeira, ou outro meio de transporte. 35 6. METODOLOGIA A pesquisa da FUNDACENTRO foi iniciada em março de 2010 a partir da localização e cadastro das empresas moageiras da região e da realização de cursos parainformação e conscientização de agentes de saúde, empresários, técnicos de segurança do trabalho e demais funcionários das empresas. 6.1. Avaliação qualitativa do ambiente de trabalho No segundo semestre de 2011, foram realizadas visitas a trinta e seis empresas do setor, com aplicação de questionário checklist contendo dezessete quadros com duzentos e treze itens (ANEXO C), acompanhados de registros em vídeo e fotos de todos os processos de produção. Como primeiro passo para elaboração do checklist, foram realizadas visitas técnicas em algumas empresas moageiras. A partir das visitas, foram executados trabalhos internos na construção do instrumento de coleta de dados, contemplando administração, processos produtivos e de apoio. O checklist foi composto de: informações socioeconômicas, segurança e saúde no trabalho, pátio de recebimento de material, britagem, correias transportadoras, silos, peneiramento, moagem, ensacamento, laboratórios de análise física e química, expedição, oficinas e balanças. Posteriormente, o documento foi validado com aplicação em campo. As visitas técnicas para aplicação do checklist foram agendadas no período de setembro a dezembro de 2011, realizando em média visitas a duas empresas por dia. Chegando à empresa, os técnicos se identificavam e solicitavam que fossem dirigidos às pessoas indicadas para responder pela mesma. A partir daí, eram solicitados vistas aos programas PPRA e PCMSO para análise e considerações, em seguida era aplicado o checklist junto aos processos produtivos, com registros também em áudio e vídeo. A seguir, eram realizadas reuniões com os responsáveis pela empresa, com objetivo de orientar quanto às necessidades de adequações e melhorias no processo produtivo de acordo com a legislação, visando garantir uma melhor qualidade de saúde e segurança dos trabalhadores. 36 6.2. Avaliação respiratória dos trabalhadores A avaliação respiratória dos trabalhadores foi realizada de abril a dezembro de 2010 e fevereiro a julho de 2011. O universo foi 22 empresas, localizadas até abril/2010, com um total de 937 trabalhadores. Para o estudo, foi selecionada uma amostra da população de trabalhadores. A seleção foi através da amostragem proporcional, ou seja, por sorteio aleatório, conforme o peso da empresa (proporção de trabalhadores em relação ao total). Considerando-se o tamanho da população (n=937) e fixando-se o nível de confiança para a amostra igual a 95% e com um erro nas estimativas igual a 5%, obteve-se o tamanho da amostra igual a 242 trabalhadores. Por não estarem expostos ao processo produtivo, 81 indivíduos (funcionários administrativos, adolescentes aprendizes que faziam cursos técnicos fora das empresas, trabalhadores da cozinha, telefonistas, recepcionistas, vendedores e gerentes, exceto gerentes de produção) foram excluídos do processo de amostragem. Nas dez empresas com menos de doze empregados, adotou-se o procedimento de avaliar todos eles, o que acrescentou 52 trabalhadores aos 242 já amostrados. No total, 294 trabalhadores foram selecionados para avaliação. Antes da avaliação, os objetivos do estudo foram explicados a cada trabalhador, assim como sua participação e garantia de que os resultados somente seriam comunicados às empresas quando necessário, após autorização do paciente. Cada participante leu e assinou um termo de consentimento livre e esclarecido (ver ANEXO A). Os trabalhadores foram avaliados através de: Questionário de sintomas respiratórios e histórico ocupacional (ANEXO B), com cinco partes: 1) Identificação, dados pessoais, escolaridade e renda familiar. 2) Tabagismo 3) Questionário de sintomas respiratórios, incluindo questões sobre bronquite crônica, dispneia, chiado e asma. 4) Antecedentes Respiratórios 5) História Ocupacional Completa 37 Espirometria Radiografia de tórax em PA. As radiografias de tórax foram submetidas à leitura de acordo com a Classificação Radiológica das Pneumoconioses da OIT (INTERNATIONAL LABOUR OFFICE, 2011), por três leitores independentes, dos quais dois leitores B e um leitor experiente. O resultado final foi a mediana das três leituras. As espirometrias foram realizadas de acordo com as normas da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (PEREIRA e NEDER, eds, 2002), utilizando-se um espirômetro de fluxo (pneumotacógrafo) computadorizado marca “Koko”, da PDS. Os valores previstos foram os da população brasileira adulta (PEREIRA e COL, 2007). A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) foi definida de acordo com a Iniciativa Global para a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (GOLD) que usa um ponto de corte fixo (VEF1/CVF<0,70) (PAUWELS e COL, 2001). Não foi realizada espirometria após broncodilatador. Foram realizadas tomografias computadorizadas de tórax de alta resolução nos casos em que se considerou necessário para esclarecimento diagnóstico. Um “índice de exposição” foi desenvolvido pelos pesquisadores, com o objetivo de presumir a exposição ocupacional à poeira, a partir de uma classificação das ocupações no setor de moagem de rochas de mármore. Na classificação, foi considerada a experiência profissional dos pesquisadores em visitas técnicas a empresas moageiras. As ocupações foram classificadas de acordo com suas características e com a concentração de poeira, identificada de forma qualitativa no reconhecimento dos ambientes de trabalho pelos técnicos da FUNDACENTRO. Os resultados foram apresentados, discutidos e validados por diretores do sindicato dos trabalhadores. A exposição presumida às poeiras foi classificada em cinco categorias crescentes (1 a 5). O índice de exposição foi o resultado da soma dos produtos da classificação de cada ocupação pelo tempo nela trabalhado. 38 7. RESULTADOS 7.1. Avaliação do ambiente de trabalho 7.1.1. Localização das empresas pesquisadas As visitas às empresas foram iniciadas em setembro e terminaram em dezembro de 2011, sendo uma semana de visitas em cada mês. Foram localizadas 36 empresas: 22 haviam sido localizadas até a fase da avaliação dos trabalhadores; posteriormente, 14 outras foram localizadas no período de visitas às empresas. Constatou-se que 69% das empresas pesquisadas pela FUNDACENTRO (25 empresas) encontravam-se no município de Cachoeiro de Itapemirim, 17% (6 empresas) no município de Castelo e 14% (5 empresas) no município de Vargem Alta (figura 3). Figura 3 – Mapa de localização das 36 empresas pesquisadas. Das empresas situadas no município de Cachoeiro de Itapemirim, 72% (18 empresas) se localizavam no distrito de Itaoca Pedra, 12% (três empresas) na localidade de Gironda, 4% (uma empresa) na localidade de Vila Barbosa, 4% (uma empresa) na 39 localidade de Vargem Grande de Soturno, 4% (uma empresa) em Morro Grande e 4% (uma empresa) em Duas Barras. Destes totais, 72% (dezoito empresas) estavam em área urbana e 28% (sete empresas) em área rural. No município de Castelo, 33% (duas empresas) estavam localizadas em área urbana, na sede do município, e 67% (quatro empresas) em áreas rurais. No município de Vargem Alta, 60% (três empresas) localizavam-se em áreas urbanas e 40% (duas empresas) em áreas rurais. Uma dessas empresas trabalhava somente com moagem de quartzo. 7.1.2. Vias de Acesso Em relação aos tipos de vias de acesso às empresas moageiras, constatou-se que 75% (vinte e sete empresas) tinham acesso por estradas de terra, 16,67% (seis empresas) tinham acesso por ruas pavimentadas e/ou calçamento de pedras e apenas 8,33% (três empresas) tinham acesso por rodovia asfaltada. 7.1.3. Funcionários O número de funcionários registrados nas empresas está na tabela1. Das 36 empresas estudadas, 23 tinham no máximo 40 funcionários. Tabela 1 - Total de funcionários por número de empresas. Total de Funcionários Nº de Empresas % Até 20 16 44,44 De 21 a 40 7 19,44De 41 a 60 7 19,44 De 61 a 80 3 8,33 Acima de 80 3 8,33 Total 36 100,00 40 A tabela 2 mostra os funcionários das empresas estudadas, caracterizados por setor (administrativo ou de produção) e por sexo, nas datas das visitas. Ao todo, havia 1450 funcionários nas 36 empresas, dos quais 77,72% na área de produção. O predomínio de funcionários do sexo masculino foi quase absoluto no setor de produção. Tabela 2 - Número de funcionários registrados nas empresas estudadas, por setor e sexo. Sexo Administração % Produção % Masculino 184 57 1108 98 Feminino 139 43 19 2 Total 323 100% 1127 100% Os dados a seguir (tabela 3) demonstram o número de funcionários nas empresas pesquisadas, na área administrativa, classificados em três faixas. Tabela 3 - Número de funcionários administrativos por número de empresas. Funcionários na Administração Nº de empresas % Até 20 31 86,11 De 21 a 40 3 8,33 Acima de 40 2 5,55 Total 36 100,00 41 A tabela 4 apresenta o número de funcionários na área de produção por empresas, classificados em cinco faixas. Tabela 4 - Número de funcionários da produção por número de empresas. Funcionários na Produção Nº de Empresas % Até 20 17 47,22 De 21 a 40 12 33,33 De 41 a 60 3 8,33 De 61 a 80 2 5,55 Acima de 80 2 5,55 Total 36 100,00 7.1.4. Horário de Trabalho O horário de trabalho na administração das empresas ficava entre 7:00 e 17:00 na sua maioria (12 empresas); outras 6 empresas faziam horário de 7:00 às 17:00 de segunda a quinta e sexta 7:00 às 16:00; as demais tinham variações de horários de entrada entre 7:30 e 9:00 e de saída entre 17:00 e 18:00 horas. Já na área de produção, verificou-se uma grande variação de horários de funcionamento entre as empresas, com vários turnos diurnos e noturnos, comprovando-se que não existia nenhum acordo de horários de trabalho entre elas. Apenas sete empresas tinham horários de produção uniformizados entre 7:00 e 17:00 horas; somente 3 empresas tinham horário de 7:00 às 17:00 de segunda a quinta e 7:00 às 16:00 nas sextas feiras. 42 7.1.5. Higiene Na parte de higiene, foram observados os itens vestiário, armário individual duplo, refeitório, bebedouros e sanitários, e suas características (tabela 5). Constatou-se que, em 67% das empresas, os vestiários não eram adequados; 83% não possuíam armários individuais duplos, como recomendado, 56% dos refeitórios não estavam em condições adequadas, 22% não possuíam bebedouros em número suficiente (os bebedouros foram avaliados respeitando o critério de 1 para 50 empregados) e 22% também não possuíam sanitários em número suficiente (os sanitários foram avaliados respeitando o critério de 1 para 10 empregados). Foi observado que esses ambientes deveriam, mas não estavam isentos da presença do pó. Na maioria deles, foi detectada muita poeira em armários, mesas, bebedouros, sanitários, pisos, chuveiros e até sobre geladeiras, ventiladores de teto e fogões. Os resultados obtidos a respeito do controle de poeira nesses ambientes encontram-se na tabela 6. Tabela 5 – Presença de itens de higiene nas empresas avaliadas. Itens avaliados Possuíam % Não possuíam % Vestiários adequados 12 33% 24 67% Armários individuais duplos 6 17% 30 83% Refeitórios adequados 16 44% 20 56% Bebedouros (1x50 empregados) 28 78% 8 22% Sanitários (1x10 empregados) 28 78% 8 22% 43 Tabela 6 - Controle de poeira nos ambientes de higiene por nº de empresas. Critérios de avaliação Nº de empresas % Inexistente 2 5,55 Ruim 18 50,00 Regular 12 33,33 Bom 4 11,11 Total 36 100,00 As figuras 4, 5, 6 e 7 ilustram alguns dos ambientes encontrados. Figura 4 – Banheiros. 44 Figura 5 – Vestiários. Figura 6 - Refeitório 45 Figura 7 – Sanitários. 46 7.1.6. Saúde e Segurança no Trabalho Em relação à SST, verificou-se se as empresas possuíam PCMSO, PGR e PPRA, se fizeram algum tipo de avaliação de riscos ambientais, se tinham CIPA, se os membros receberam treinamento para CIPA, se os membros tinham tempo livre de uma hora semanal e se havia SESMT (tabela7). Embora um bom percentual de empresas (69%) tivesse PPRA, os resultados de avaliações de poeira e ruído verificados pela FUNDACENTRO não foram satisfatórios. As avaliações de poeira não estavam de acordo com a metodologia adequada para avaliação de sílica livre e carbonato de cálcio, conforme a NHO 08 da FUNDACENTRO. Tabela 7 - Saúde e Segurança no Trabalho por número de empresas. SST Possuíam % Não possuíam % PCMSO 25 69% 11 31% PGR 4 11% 32 89% PPRA 25 69% 11 31% Avaliação de riscos ambientais 24 67% 12 33% CIPA 15 42% 21 58% Membros treinados para CIPA 15 42% 21 58% 1 hora por semana para CIPA 5 14% 31 86% SESMT 10 28% 26 72% 47 Vinte e quatro empresas fizeram algum tipo de avaliação de riscos ambientais, como demonstra a tabela 8. Tabela 8 - Tipos de avaliações de riscos ambientais aplicadas por nº de empresas. Tipos de avaliações Nº de empresas* % Calor, ruído e poeira. 1 4% Só poeira 2 8% Poeira e ruído 17 72% Poeira inalável 1 4% Poeira respirável e inalável 2 8% Só ruído 1 4% Total 24 100,00 *12 empresas não fizeram nenhum tipo de avaliação. Ainda na parte de SST, verificou-se que duas empresas que possuíam SESMT contavam com engenheiro de segurança do trabalho, técnico de segurança do trabalho e médico do trabalho. Três empresas contavam com médico e técnico de segurança do trabalho e cinco empresas contavam apenas com o técnico de segurança do trabalho. Vinte e seis empresas não tinham nenhum profissional de SESMT contratado. Esses dados constam na tabela 9. Tabela 9 - Profissionais de SESMT por nº de empresas. Profissionais Nº de empresas* % Engenheiro, téc. de segurança e médico. 2 20% Médico e técnico de segurança 3 30% Só técnico de segurança 5 50% Total 10 100,00 *26 empresas não possuíam SESMT. 48 7.1.7. Equipamentos de Proteção Individual Outro item do checklist foi o uso de EPI. Os resultados obtidos estão na tabela 10. Todas as empresas visitadas declararam que forneciam algum tipo de EPI aos funcionários. Embora 94% das empresas fornecessem protetor auricular e máscara, nenhuma delas possuía PCA (programa de conservação auditiva) implantado, como também nenhuma possuía PPR (programa de proteção respiratória). Duas empresas não forneciam nenhum tipo de protetor auricular ou máscara. O que se observou na grande maioria das empresas, e que precisaria ser mudado com urgência, foi uma cultura de que, com EPI, tudo se resolve, pois, quando se perguntava sobre esses itens, percebia-se uma empolgação dos funcionários que acompanhavam a pesquisa em responder positivamente. É preciso se desfazer esse grande engano. Isso se consegue eliminando a poeira. Tabela 10 - Equipamentos de Proteção Individual fornecidos por nº de empresas. EPI Forneciam % Não forneciam % Roupas 33 92% 3 8% Calçado de segurança 36 100% 0 0% Luvas adequadas 29 81% 7 19% Óculos de segurança 30 83% 6 17% Máscara 34 94% 2 6% Protetor auricular 34 94% 2 6% Capacete 31 86% 5 14% 49 Quanto ao uso de máscaras de proteção, conforme sua classificação por filtros, os resultados observados estão demonstrados na tabela 11. 94% das empresas visitadas forneciam algum tipo de máscara, que variava de modelo. No entanto, verificou-se que os trabalhadores não recebiam nenhuma instrução para o uso correto desse equipamento. Tabela 11 - Máscaras utilizadas por tipo de filtro e nº de empresas*. Máscaras Nº de empresas % PFF1 16 47,06 PFF2 17 50,00 PFF3 1 2,94 Total 34 100,00 *2 empresas não forneciam nenhum tipo de máscara. 50 7.1.8. Acidentes de trabalho Foi também questionado o número de acidentes de trabalho, considerando os 12 meses retroativos ao mês da visita às empresas.Os resultados obtidos são apresentados na tabela 12. Dez empresas informaram que tiveram um acidente com afastamento cada, uma empresa informou que registrou dois acidentes com afastamento e outra registrou três acidentes com afastamento. Duas empresas informaram que registraram um acidente sem afastamento cada, e outra informou que registrou dois acidentes sem afastamento. Quanto à certificação das empresas, verificou-se que, dos dezenove acidentes de trabalho, dez foram registrados em empresas com alguma certificação, sendo seis com afastamento (três deles em uma única empresa). Tabela 12 - Número de Acidentes de trabalho com afastamento, sem afastamento e fatais por número de empresas. Tipos de Acidentes Nº de acidentes Nº de empresas Com afastamento 15 12 Sem afastamento 4 3 Fatais 0 0 Total 19 15 51 7.1.9. Produção Quanto à produção bruta anual, em toneladas dos diversos produtos: pó industrial, calcário agrícola, calcário siderúrgico, seixos rolados, cal, quartzo moído, argamassa e aditivos minerais, foram computados os dados em volume e percentual de produção. Observou-se que 47% de toda a produção ficava concentrada em apenas 4 empresas, sendo uma delas de calcário siderúrgico, ficando os 53% restantes distribuídos para 32 empresas. Os dados estão relatados na tabela 13. Tabela 13- Produção em toneladas no ano de 2010 por nº de empresas e representação em percentual. Classificação (t/ano) Nº de Empresas Produção (t/ano) (%) Produzida De 700 a 40.000 21 235.455 11,11 De 40.001 a 80.000 4 154.748 7,30 De 80.001 a 120.000 6 581.189 27,44 De 120.001 a 160.000 1 150.000 7,08 De 160.001 a 200.000 1 179.000 8,45 De 200.001 a 240.000 2 466.567 22,03 Acima de 240.000 1 350.710 16,56 Total 36 2.117.669 100% 52 7.1.10. Almoxarifado Tratando-se de espaço físico e equipamentos, observou-se que 23 empresas possuíam almoxarifado. Nas 13 empresas sem almoxarifado, os produtos, sacarias e peças de manutenção eram armazenados em algum cômodo, de forma desorganizada. Naquelas onde existiam almoxarifados, o que se viu foi muitos materiais de consumo, EPIs, peças de desmonte de equipamentos e manutenção, motores, sacarias e outros, depositados de forma totalmente desorganizada em prateleiras e pisos. A figura 8 ilustra um desses ambientes, com grande desordem e muita poeira depositada. Figura 8 - Almoxarifado 53 A tabela 14 mostra as características dos almoxarifados por número de empresas e a tabela 15 mostra o controle de poeira nos almoxarifados, seguindo os critérios de: inexistente, ruim, regular e bom. Constatou-se que 26,09% das empresas faziam um controle ruim, 65,21% regular e apenas 8,7% tinham um bom controle da poeira neste setor. Tabela 14 - Características dos almoxarifados por nº de empresas*. Características Possuíam % Não Possuíam % Pisos demarcados 0 0% 23 100% Ventilação adequada 6 26% 17 74% Procedimentos para manuseio dos produtos 10 43% 13 57% Símbolos de advertência 0 0% 23 100% Separação de produtos incompatíveis 19 83% 4 17% *13 empresas não possuíam almoxarifado Tabela 15- Controle de poeira nos almoxarifados por nº de empresas*. Critérios de avaliação Nº de Empresas % Inexistente 0 0 Ruim 6 26,09 Regular 15 65,22 Bom 2 9,00 Total 23 100,00 *13 empresas não possuíam almoxarifado 54 7.1.11. Laboratório Químico Foi constatado que 42% (quinze empresas) possuíam laboratório químico e 58% (vinte e uma empresas) não. Algumas empresas não possuíam laboratório por falta de estrutura, pois eram empresas pequenas, que terceirizavam esse serviço. Os grandes clientes das moageiras fazem a análise e controle de qualidade do material, exigindo adequação às suas necessidades. Observou-se que, daquelas empresas onde existia laboratório, 60% não possuíam chuveiro de segurança, 53% não possuíam lava olhos e 47% não tinham armários adequados para acondicionamento de produtos químicos. A figura 9 ilustra um laboratório químico. Os resultados das condições de trabalho e segurança nos laboratórios químicos estão demonstrados na tabela 16, enquanto os resultados de controle de poeira e ruído encontram-se nas tabelas 17 e 18. Figura 9 – Laboratório químico 55 Tabela 16 - Condições de trabalho nos laboratórios químicos por itens avaliados e nº de empresas*. Itens Avaliados Possuíam % Não Possuíam % Chuveiro de segurança 6 40% 9 60% Lava olhos 7 47% 8 53% Pisos regulares 15 100% 0 0% Piso em bom estado 15 100% 0 0% Níveis de iluminação apropriados 15 100% 0 0% Ventilação adequada 13 87% 2 13% Capela para prod. químicos 14 93% 1 7% Armários adequados para produtos químicos 8 53% 7 47% Aterramento elétrico 15 100% 0 0% Acionamentos elétricos isentos de riscos 15 100% 0 0% Partes energizadas protegidas 15 100% 0 0% *21 empresas não possuíam laboratório químico. 56 Tabela 17- Controle de poeira nos laboratórios químicos por nº de empresas*. Critérios de avaliação Nº de empresas % Inexistente 0 0% Ruim 1 7% Regular 3 20% Bom 11 73% Total 15 100% *21 empresas não possuíam laboratório químico. Tabela 18 - Intensidade do ruído nos laboratórios químicos por nº de empresas*. Critérios de avaliação Nº de empresas % Baixa 9 60% Média 6 40% Alta 0 0% Muito alta 0 0% Total 15 100% *21 empresas não possuíam laboratório químico. 57 7.1.12. Laboratório Físico A avaliação das condições de trabalho nos laboratórios físicos foi semelhante à dos químicos, com exceção do chuveiro de segurança e capela. Verificou-se que 53% (vinte empresas) possuíam laboratório físico e 47% (dezesseis empresas) não. Algumas delas não possuíam por falta de estrutura, pois eram empresas pequenas que terceirizavam esse serviço. Os grandes clientes das moageiras fazem a análise e controle de qualidade do material, exigindo adequação às suas necessidades. Os resultados das condições de trabalho e segurança nos laboratórios físicos estão na tabela 19 e os resultados de controle de poeira e intensidade do ruído na tabela 20. A figura 10 ilustra um laboratório físico. Tabela 19 - Condições de trabalho nos laboratórios físicos por itens avaliados e nº de empresas*. Itens avaliados Possuíam % Não possuíam % Lava olhos 3 15% 17 85% Pisos regulares 20 100% 0 0% Piso em bom estado 19 95% 1 5% Níveis de iluminação apropriados 20 100% 0 0% Ventilação adequada 13 65% 7 35% Armários adequados para utensílios 10 50% 10 50% Aterramento elétrico 19 95% 1 5% Partes energizadas protegidas 20 100% 0 0% * 16 empresas não possuíam laboratório físico. 58 Figura 10 – Laboratório físico. Tabela 20 - Controle de poeira nos laboratórios físicos por nº de empresas*. *16 empresas não possuíam laboratório físico. Critérios de avaliação Nº de empresas % Inexistente 0 0% Ruim 5 25% Regular 6 30% Bom 9 45% Total 20 100% 59 A intensidade de ruído nos laboratórios físicos foi avaliada pela FUNDACENTRO, também de forma qualitativa. Os resultados estão na tabela 21. Tabela 21- Intensidade do ruído nos laboratórios físicos por nº de empresas*. Critérios de avaliação Nº de empresas % Baixa 10 50% Média 9 45% Alta 1 5% Muito alta 0 0% Total 20 100% *16 empresas não possuíam laboratório físico. 7.1.13. Pátio de Pedras Na área de produção, os primeiros setores investigados foram os pátios de pedras, onde começa todo o processo de moagem das rochas calcárias. Verificou-se que, em cinco empresas (14%), os pátios ficavam muito próximos dos demais setores. Trinta e duas empresas (89%) não possuíam pavimentação dos pátios. Em todas as empresas (trinta e seis) os pátios eram descobertos, expondo os trabalhadores às intempéries. Vinte e quatro empresas (67%) não faziam umidificação dos pátios, contribuindo muito para o aumento da
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