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II © Copyright Tambara, Newton© Copyright Tambara, Newton Freire, ElizabethFreire, Elizabeth IIaa edição: 1999 edição: 1999 1500 exemplares1500 exemplares ATENÇÃO: evite fotocópias, em respeito aos direitos dos autoresATENÇÃO: evite fotocópias, em respeito aos direitos dos autores Este livro pode ser encomendado:Este livro pode ser encomendado: Humanas LivrariaHumanas Livraria Av. Cristóvão Colombo, 1634 - Porto AlegreAv. Cristóvão Colombo, 1634 - Porto Alegre Fone: (51) 222.5130 - Fax: 395.3739Fone: (51) 222.5130 - Fax: 395.3739 Editoração e diagramação:Editoração e diagramação: Norberto Coronel Garcia - Fone: (51) 983.9748Norberto Coronel Garcia - Fone: (51) 983.9748 Newton TambaraNewton Tambara Elizabeth FreireElizabeth Freire Participação Especial:Participação Especial: Jerold D. BozarthJerold D. Bozarth TERAPIA CENTRADA NO CLIENTETERAPIA CENTRADA NO CLIENTE Teoria e PráticaTeoria e Prática UM CAMINHO SEM VOLTA...UM CAMINHO SEM VOLTA... Edições:Edições: DD E LE L P HP H O SO S Porto Alegre - 1999Porto Alegre - 1999 AGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOS A meu A meu irmão irmão Ricardo, Ricardo, por tpor ter sempre er sempre acreditado acreditado em mim.em mim. A minha A minha filha Ana filha Ana Cristina, Cristina, a Fernando a Fernando e Júlia, e Júlia, que iluminaque iluminam minham minha vida com a sua presença.vida com a sua presença. Ao mestre e amigo Mau Ao mestre e amigo Mauro Amatuzzi ro Amatuzzi pelo incentivo, pelos questipelo incentivo, pelos questionaona mentos e por me orientar no caminho do pensamento científico.mentos e por me orientar no caminho do pensamento científico. Elizabeth Elizabeth FreireFreire A min A minha fha filha ilha Marina Marina Rolim Rolim Tambara e Tambara e a Sua Suzana Rolizana Rolim Tambara m Tambara comcom quem aprendi um caminho sem volta...quem aprendi um caminho sem volta... Agradeço Agradeço aos coaos colegas legas João João Carlos Carlos Karling, Karling, Lisandra Lisandra Oliveira, Oliveira, MarleneMarlene de Ávila, Verena Augustin Hoch, Angela Machado, Cátia de Ávila, Verena Augustin Hoch, Angela Machado, Cátia Stumpf, RoseStumpf, Rose Bertolin, Bertolin, Anísio Anísio Meinertz, Gilberto Meinertz, Gilberto Kronbauer, Kronbauer, Eva Eva Lúcia da Lúcia da Silva, Silva, TâniaTânia Reis, Jeferson Reis, Jeferson Irazoqui, Irazoqui, Sérgio Sérgio Gobbi, Gobbi, Aldo Meneghetti, Aldo Meneghetti, Silvia Silvia Wudarcki,Wudarcki, Lúcio Lúcio Schossler Schossler e a e a todos qtodos que cue compartilharam ompartilharam do do sonho de sonho de um Inum Institutostituto Humanista Humanista que hque hoje é oje é realidade.realidade. Newton Newton TambaraTambara A A Jerold Jerold D. D. Bozarth, Bozarth, pelo pelo apoio apoio e e estímulo estímulo recebidos. recebidos. Por Por suasua colaboração especial que a muito nos honra.colaboração especial que a muito nos honra. A João A João Carlos Karling, Carlos Karling, pela cuidadpela cuidadosa e osa e zelosa revisão zelosa revisão dos odos originais.riginais. A Marcos A Marcos Vinícius Vinícius Beccon pela Beccon pela tradução tradução do ado artigo rtigo de Bode Bozarth.zarth. Os autoresOs autores SUMÁRIO Apresentação 13 Prefácio 15 1. As origens e o desenvolvimento da terapia centrada-no-cliente 33 2 .0 nascimento da terapia centrada-no-cliente 35 3. Uma relação essencialmente não-diretiva 38 4. A aceitação como a essência do processo terapêutico 39 5. O cliente não é um paciente 42 6. O desenvolvimento pioneiro de pesquisas em psicoterapia 44 7. A confiança na capacidade do cliente 46 8. A tendência direcional formativa 53 9. A atitude centrada-no-cliente 56 10. As objeções ao diagnóstico psicológico 62 10.1. O psicodiagnóstico é desnecessário para o sucesso da psicoterapia 63. 10.2. O psicodiagnóstico é prejudicial para o indivíduo 64 11. A Teoria do Auto-conceito 66 12. A mudança terapêutica 75 13. As atitudes facilitadoras da mudança terapêutica 80 13.1. Consideração positiva incondicional 80 13.2. Compreensão empática 82 13.3. Congruência 86 13.4. Condições mais que necessárias: suficientes 87 13.5. As pesquisas sobre as atitudes facilitadoras 88 13. 6.0 conceito de experienciação 90 14. A abordagem centrada-na-pessoa 92 14.1. Grupos de Encontro 93 14.2. O ensino centrado no aluno 95 14.3. Workshops de comunidade 96 14.4. Relação entre a terapia centrada-no-cliente e a abordagem centrada-na-pessoa 99 14.5.Umjeitodeser 102 14. 6.0 desenvolvimento de uma comunidade centrada-na-pessoa... 103 14.7. Publicações atuais 105 15. Mitos, incompreensões e distorções 108 Além da Teoria. 123 "Você me tirou da lata do lixo" 125 16. A comunicação entre terapeuta e cliente 127 16.1. A reiteração 128 16 .2 .0 reflexo de sentimentos 131 16.3. A elucidação 199 16 .4 .0 desvelamento 141 16.5. Diferença entre atitudes e técnicas terapêuticas 145 16.6. A estruturação da relação terapêutica 146 17. O desenvolvimento do terapeuta 150 17.1 . As dificuldades para centrar-se no cliente 153 17.2. As atitudes diretivas 156 17.3. As atitudes tutelares 162 17.4. A racionalização 165 17. 5.0 silêncio 166 17.6. As perguntas do cliente 169 17.7. Falsificando a experiência do cliente: "o contrabando" 172 17.8. As etapas no desenvolvimento do terapeuta 173 Na Introdução confessa: "Às vezes fico espantado com asNa Introdução confessa: "Às vezes fico espantado com as mudanças ocorridas em minha vida e trabalho" (P. VII).mudanças ocorridas em minha vida e trabalho" (P. VII). Após se referir ao livro escrito em 1941 (publicado em 42):Após se referir ao livro escrito em 1941 (publicado em 42): "Psicoterapia e Consulta Psicológica"),"Psicoterapia e Consulta Psicológica"), 'deu-se conta de estar 'deu-se conta de estar pensando e trabalhando com pessoas de modo diverso de outrospensando e trabalhando com pessoas de modo diverso de outros profissionais'); em 1951 e 1961, confessa, o impacto causado porprofissionais'); em 1951 e 1961, confessa, o impacto causado por Tornar-se PessoaTornar-se Pessoa "obrigou-me a abandonar a estreita perspectiva, "obrigou-me a abandonar a estreita perspectiva, pensando interessar o que escrevia somente a terapeutas. pensando interessar o que escrevia somente a terapeutas. Essa reaçãoEssa reação alargou os horizontes da minha vidalargou os horizontes da minha vida e pensamento. Creio a e pensamento. Creio o que haviao que havia escrito até então era válido igualmente ao casal, à família, à escola, àescrito até então era válido igualmente ao casal, à família, à escola, à administração ou relações entre cultura e paísadministração ou relações entre cultura e país es" (P. VIII).es" (P. VIII). O leitor perceberá, agora, a razão da abertura do leque deO leitor perceberá, agora, a razão da abertura do leque de interesses de Rogers a partir dos anos interesses de Rogers a partir dos anos sessenta, abertura retratada emsessenta, abertura retratada em artigos e livros, como as publicações citadas acima de artigos e livros, como as publicações citadas acima de 1961969 e 9 e 19701970.. A expansão dos horizontes afetou, inclusive, a terminologia, espeA expansão dos horizontes afetou, inclusive, a terminologia, espe lhando os pontos de vista atuais:lhando os pontos de vista atuais: Assim, "o velho conceito anterior de 'terapia centrada noAssim, "o velho conceito anterior de 'terapia centrada no cliente' cedeu lugar à 'abordagem centrada na pessoa'. Em outrascliente' cedeu lugar à 'abordagem centrada na pessoa'. Em outras palavras, já não falo mais simplesmente em psicoterapia, mas empalavras, já não falo mais simplesmente em psicoterapia, mas em ponto de vista, numa filosofia, enfoque de vida, umponto de vista, numa filosofia, enfoque de vida, um jeito de ser, jeito de ser, com com aplicação a qualquer situação na qualaplicação a qualquer situação na qual crescimento crescimento — quer de uma — quer de uma pessoa, de um grupo ou comunidade - fapessoa, de um grupo ou comunidade - faz parte do objetivo" z parte do objetivo"(P IX).(P IX). Depositava Rogers inquebrantável confiança nas possibilidadesDepositava Rogers inquebrantável confiança nas possibilidades e na bondade 'fundamental' da pessoa. Até o fim.e na bondade 'fundamental' da pessoa. Até o fim. O jeito de ser O jeito de ser do do interlocutor pode despertar tais potencialidades, avivar a bondadeinterlocutor pode despertar tais potencialidades, avivar a bondade adormecida.adormecida. Após sair para atuar Após sair para atuar em arena maiorem arena maior, tão solicitado era , tão solicitado era queque somente podia aceitar uma de cada somente podia aceitar uma de cada vinte convites para conferências,vinte convites para conferências, entrevistas, debates ou grupos de crescimento.entrevistas, debates ou grupos de crescimento. Queda, com fratura óssea e complicações ulteriores, nãoQueda, com fratura óssea e complicações ulteriores, não somente o impediu de atender a segunda viagem agendada à Uniãosomente o impediu de atender a segunda viagem agendada à União Sul-Africana, mas no-lo arrebatou do convívio em 1987, aos 85Sul-Africana, mas no-lo arrebatou do convívio em 1987, aos 85 frutuosíssimos anos de vida.frutuosíssimos anos de vida.66 6. A tradução brasileiro de "Um Jeito de Ser" 6. A tradução brasileiro de "Um Jeito de Ser" contém 8 dos 15 capítulos do original. Os demais já haviam sidocontém 8 dos 15 capítulos do original. Os demais já haviam sido publicados em "A Pessoa como Centro" publicados em "A Pessoa como Centro" (Rogers/Rosemb(Rogers/Rosemberg, erg, 1977)1977). - A . - A tradução espanhola tampoucotradução espanhola tampouco reproduz integralmente o livro.reproduz integralmente o livro. Qual é esse "jeito de ser" rogeriano?Qual é esse "jeito de ser" rogeriano? Fundamentalmente consiste emFundamentalmente consiste em certas atitudes certas atitudes que, por sua que, por sua vez, emanam da adoção de certos valores, vez, emanam da adoção de certos valores, de certa visão da pessoa -de certa visão da pessoa - isto é, da visão de si isto é, da visão de si e dos outros. Do eu-tu.e dos outros. Do eu-tu. 77 Em 1957, expôs Rogers asEm 1957, expôs Rogers as condições necessárias e suficientes condições necessárias e suficientes para a psicoterapia.para a psicoterapia.88 São três as indispensáveis (e bastantes) quanto São três as indispensáveis (e bastantes) quanto ao terapeuta:ao terapeuta: IIaa Consideração positiva incondicional do cliente, Consideração positiva incondicional do cliente, atitude que atitude que resulta em aceitação (não significa necessariamente aprovação)resulta em aceitação (não significa necessariamente aprovação) incondicional do outro. Embora nincondicional do outro. Embora não 'ão ' aprove' aprove' a fratua fratura do paciente, ora do paciente, o médico o recebe, 'amédico o recebe, 'a ceita' ceita' o acidentado como eo acidentado como este lhe aparece, pondoste lhe aparece, pondo organismo em condições de reagir favoravelmente à situação. Oorganismo em condições de reagir favoravelmente à situação. O psicoterapeuta não põe condições. Por ex., se psicoterapeuta não põe condições. Por ex., se for genfor gentil, agradecido,til, agradecido, bem educado, se puder pagar integralmente os honorários... eu lhebem educado, se puder pagar integralmente os honorários... eu lhe terei consideração positiva. O terei consideração positiva. O fato de o indivíduo ser a maravilha defato de o indivíduo ser a maravilha de uma pessoa é que, naturalmente, o leva a essa valorização. O outrouma pessoa é que, naturalmente, o leva a essa valorização. O outro possui, como eu, possui, como eu, as mesmas necessidades fundamentaias mesmas necessidades fundamentais (entre s (entre elas,elas, a de ser valorizado), sentimentos idênticos, desejo de bem-estar ea de ser valorizado), sentimentos idênticos, desejo de bem-estar e felicidade, de felicidade, de crescer comcrescer como pessoa, etc. Afinal, colegas de viago pessoa, etc. Afinal, colegas de viagemem no trem (ou aeronave) da vida, sonhando ambos com bela e longano trem (ou aeronave) da vida, sonhando ambos com bela e longa jornada. M jornada. Minha presença poinha presença pode tornar o trajde tornar o trajeto mais agradável para oeto mais agradável para o outro desfrutar toda a riqueza possível de experiências satisfatóriasoutro desfrutar toda a riqueza possível de experiências satisfatórias desses 'dias', quer dizer, anos de existência.desses 'dias', quer dizer, anos de existência. Peretti, um dos grandes seguidores de Rogers e um dos meusPeretti, um dos grandes seguidores de Rogers e um dos meus significativos professores em Paris (1966-67), diz belamente: "Osignificativos professores em Paris (1966-67), diz belamente: "O terapeuta (o facilitterapeuta (o facilitador), apoiado em si mesmo e ador), apoiado em si mesmo e 'centrado no cliente'centrado no cliente ',', é é preciso que se distancie suficientemente de si mesmo a fim de cuidar preciso que se distancie suficientemente de si mesmo a fim de cuidar do outro".do outro".99 Rogers, por sua vez, Rogers, por sua vez, confessconfessa:a: "Eu escuto tão cuidadosa e atentamente, com toda a"Eu escuto tão cuidadosa e atentamente, com toda a sensibilidade de que sou capaz, cada pessoa que diz algo desensibilidade de que sou capaz, cada pessoa que diz algo de si. Quer a mensagem seja superficial ou significativa, eu escuto.si. Quer a mensagem seja superficial ou significativa, eu escuto. I I Cl Buber. Eu-Tu, s.d.Cl Buber. Eu-Tu, s.d. , e , e Tu indivTu individual ou idual ou comunitário, 1987.comunitário, 1987. 8. O 8. O leitor encontra o artigo no livro de Woleitor encontra o artigo no livro de Wood, 1995, p. od, 1995, p. 157-17157-179.9. 'i Peetti, 1997, p. 210.'i Peetti, 1997, p. 210. -- Para mim, a pessoa que fala é plena de valor (worthwhile),Para mim, a pessoa que fala é plena de valor (worthwhile), digna de ser compreendida [...] Colegas dizem que, nestedigna de ser compreendida [...] Colegas dizem que, neste sentido, sentido, 'valido' a 'valido' a pessoa." pessoa." ww 22aa Empatia Empatia - É decorrência da atitude anterior, de valorização - É decorrência da atitude anterior, de valorização incondicional, aliás, já anunciada na citação de Rogers. As duasincondicional, aliás, já anunciada na citação de Rogers. As duas atitudes se imbricam.atitudes se imbricam. O mundo interior de cada pessoa é único, como é única suaO mundo interior de cada pessoa é único, como é única sua fisionomia. Aliás, muito mais, pois as vivências são milhões.fisionomia. Aliás, muito mais, pois as vivências são milhões. "Somente o indivíduo vive"Somente o indivíduo vive suas suas experiências. O centro desse mundo experiências. O centro desse mundo é ela mesma. Esse mundo vivencial é 'realidade' é ela mesma. Esse mundo vivencial é 'realidade' para ela. A estímulospara ela. A estímulos idênticos, as pessoas reagem de idênticos, as pessoas reagem de modo distinto. Percebem significadosmodo distinto. Percebem significados diferentes, e sentem e agem, consequentemente, de forma diversa."diferentes, e sentem e agem, consequentemente, de forma diversa." (Tausch)."(Tausch)." O terapeuta se coloca na perspectiva da pessoa que escuta.O terapeuta se coloca na perspectiva da pessoa que escuta. Põe-se na sua pele, segundo a expressão de Cogswell (1993). ProcuraPõe-se na sua pele, segundo a expressão de Cogswell (1993). Procura entrar em seu horizonte de compreensão. Tenta apreender o signifientrar em seu horizonte de compreensão. Tenta apreender o signifi cado, cado, a importância do conteúdo da comunicação para o interlocutor.a importância do conteúdo da comunicação para o interlocutor. Diligencia por ser um pouco o outro, pois é impossível sê-loDiligencia por ser um pouco o outro, pois é impossível sê-lo inteiramente.inteiramente. Pesquisas revelam que o indivíduo percebe essa atitude dePesquisas revelam que o indivíduo percebe essa atitude de escuta: empática: escuta: empática: "Ele (terapeuta) aprecia minhas exp"Ele (terapeuta) aprecia minhas experiênciascomoeriências como eu as sinto." Capta igualmente a não-escuta: "Ele entende minhaseu as sinto." Capta igualmente a não-escuta: "Ele entende minhas palavras, mas não o modo como eu sinto."palavras, mas não o modo como eu sinto." Ao sentir-se valorizado e empaticamente compreendida, aAo sentir-se valorizado e empaticamente compreendida, a pessoa terá acréscimo de confiança no terapeuta. Caem defesas.pessoa terá acréscimo de confiança no terapeuta. Caem defesas. 10. Rogers, 1970, p. 47. - Wood, (1995, p. 274), colega de pesquisa de Rogers e colaborador seu em Grupos,10. Rogers, 1970, p. 47. - Wood, (1995, p. 274), colega de pesquisa de Rogers e colaborador seu em Grupos, (inclusive no de Arcozelo em 1976), durante mais de vinte anos, nos transmite o parecer (inclusive no de Arcozelo em 1976), durante mais de vinte anos, nos transmite o parecer do próprio Carldo próprio Carl sobre questão importante: "Falar de uma 'Abordagem Centrada-no-Cliente' ou uma 'Abordagem Centrada-sobre questão importante: "Falar de uma 'Abordagem Centrada-no-Cliente' ou uma 'Abordagem Centrada- na-Pessoa' como se fossem entidades opostas entre si é, na minha opinião, caminho certo para disputasna-Pessoa' como se fossem entidades opostas entre si é, na minha opinião, caminho certo para disputas fúteis e para o caos.[...] Espero que me permitam ser uma pessoa inteira, quer seja chamado para ajudarfúteis e para o caos.[...] Espero que me permitam ser uma pessoa inteira, quer seja chamado para ajudar num relacionamento destinado a ser centrado-no-cliente ou num que seja rotulado centrado-na-pessoa. Eunum relacionamento destinado a ser centrado-no-cliente ou num que seja rotulado centrado-na-pessoa. Eu trabalho do mesmo modo nos dois." - Comenta Wood (p. 275): "Ele (Rogers) se aproximava de cadatrabalho do mesmo modo nos dois." - Comenta Wood (p. 275): "Ele (Rogers) se aproximava de cada situação com o mesmo desejo de ouvir e compreender, as mesmas atitusituação com o mesmo desejo de ouvir e compreender, as mesmas atitu des, o mesmo bom humor, des, o mesmo bom humor, a mesmaa mesma humildade, a mesma genuinidade e aceitação não-julgadora do indivíduo ou do grupo, a mesma curiosidadehumildade, a mesma genuinidade e aceitação não-julgadora do indivíduo ou do grupo, a mesma curiosidade e abertura à descoberta, a mesma crença de que elee abertura à descoberta, a mesma crença de que ele poderia poderia ajudar e que isso era a coisa ajudar e que isso era a coisa mais mais importante importante do mundo a fazer naquele momento."do mundo a fazer naquele momento." 11. Tausch,11. Tausch, 1981, p. 187. 1981, p. 187. Aumentará também a confiança em si mesma, pois descobrirá,Aumentará também a confiança em si mesma, pois descobrirá, paulatinamente, o potencial de recursos armazenados e nãopaulatinamente, o potencial de recursos armazenados e não reconhecidos, até então, ou só parcialmente percebidos e utilizados..reconhecidos, até então, ou só parcialmente percebidos e utilizados.. O processo terapêutico fluirá mais fácil, rápido e frutuosamente.O processo terapêutico fluirá mais fácil, rápido e frutuosamente. Tornar-se-á o cliente, dia a dia, mais pessoa. Pessoa mais desabroTornar-se-á o cliente, dia a dia, mais pessoa. Pessoa mais desabro chada, mais autónoma.chada, mais autónoma. Atitude empática supõe alto grau de flexibilidade, de resiliên-Atitude empática supõe alto grau de flexibilidade, de resiliên- cia. Rogers "deplora a inautêntica, mecânica, rígida, dogmática terapiacia. Rogers "deplora a inautêntica, mecânica, rígida, dogmática terapia centrada no cliente".centrada no cliente".1212 São atitudes opostas às que São atitudes opostas às que ele pleiteia. Comele pleiteia. Com elas, haverá centração na pessoa do terapeuta, mas não do cliente.elas, haverá centração na pessoa do terapeuta, mas não do cliente. 3.3. Congruência ou genuinidade. Congruência ou genuinidade. "O terapeuta é profundamente "O terapeuta é profundamente ele mesmo, com sua experiência, precisamente representada em suaele mesmo, com sua experiência, precisamente representada em sua conscientização de si mesmo."conscientização de si mesmo." I3I3 Isto não implica - é pensamento de Rogers - que ele seja umIsto não implica - é pensamento de Rogers - que ele seja um modelo de perfeição. O consulente deve sentir (e sente) se está emmodelo de perfeição. O consulente deve sentir (e sente) se está em face de pessoa 'real', autêntica, ou de alguém cumprindo um 'papel',face de pessoa 'real', autêntica, ou de alguém cumprindo um 'papel', com atitudes e gestos estudados. O terapeuta deve poder sercom atitudes e gestos estudados. O terapeuta deve poder ser espontaneamente aquilo que é e não um 'artista' ensaiado.espontaneamente aquilo que é e não um 'artista' ensaiado. "O que diz, seu mod"O que diz, seu modo de se haver, harmoniza com seu mundoo de se haver, harmoniza com seu mundo interior, os sentimentos e ideias, seu self. Não se disfarça. Nãointerior, os sentimentos e ideias, seu self. Não se disfarça. Não nega parte de si. Disposto a ser e a agir como realmente é,nega parte de si. Disposto a ser e a agir como realmente é, sem máscaras, sem camuflagens, sem couraça, sem comportasem máscaras, sem camuflagens, sem couraça, sem comporta mentos profissionais ensaiados." ' mentos profissionais ensaiados." ' 44 O leitor perceberá que esta atitude requer transparência, coerênciaO leitor perceberá que esta atitude requer transparência, coerência entre pensar, sentir e agir; sintonia entre o processo interno e a palavra.entre pensar, sentir e agir; sintonia entre o processo interno e a palavra. Terapeuta centrado na pessoa será autêntico. Esta forma de Terapeuta centrado na pessoa será autêntico. Esta forma de ser atuaráser atuará direta ou subliminarmente no psiquismo do cliente. O direta ou subliminarmente no psiquismo do cliente. O mesmo se dará,mesmo se dará, infelizmente, também no caso de incongruência.infelizmente, também no caso de incongruência. A congruência não supõe, comunique o terapeuta ao cliente, oA congruência não supõe, comunique o terapeuta ao cliente, o que se passa nele. Não. Quer dizer que deve ser, primeiramente,que se passa nele. Não. Quer dizer que deve ser, primeiramente, transparente (tanto quanto possível) para si mesmo. Atento aostransparente (tanto quanto possível) para si mesmo. Atento aos 12. Rogers, 1987, p. 38.12. Rogers, 1987, p. 38. 13. Rogers, 1957, in Wood, p. 163.13. Rogers, 1957, in Wood, p. 163. 14. Tausch, 1990, p. 86).14. Tausch, 1990, p. 86). próprios processos psicológicos, mas, sobretudo, mais atento àspróprios processos psicológicos, mas, sobretudo, mais atento às comunicações do interlocutor. À medida em que avançar nacomunicações do interlocutor. À medida em que avançar na experiência profissional também ele "se tornará mais pessoa".experiência profissional também ele "se tornará mais pessoa". Chegará o dia em que, habitualmente, pequena réstia sobre si mesmoChegará o dia em que, habitualmente, pequena réstia sobre si mesmo será suficiente, sendo progressivamente mais disponível ao será suficiente, sendo progressivamente mais disponível ao cliente.cliente.1515 4. É postulada uma quarta condição:4. É postulada uma quarta condição: da parte do cliente, da parte do cliente, percepção percepção das das condições condições acima acima no no terapeuta,terapeuta, ao menos no grau ao menos no grau mínimo (que pode ser elevado!) exigido pela situação do interlocutormínimo (que pode ser elevado!) exigido pela situação do interlocutor à procura de solução de problema ou problemas: melhor - deà procura de solução de problema ou problemas: melhor - de crescimento como pessoa. Caso as crescimento como pessoa. Caso as condições não fossem percebidascondições não fossem percebidas é como se não existissem e, de fato, não existem para o consulente.é como se não existissem e, de fato, não existem para o consulente. De um lado, as condições devem ser de nível suficiente para seremDe um lado, as condições devem ser de nível suficientepara serem captadas pelo outro; e captadas pelo outro; e este não deve ser tão perturbado que este não deve ser tão perturbado que não consiganão consiga apreendê-las. Remédio não ingerido apreendê-las. Remédio não ingerido não pode curar. Surdo não ouvenão pode curar. Surdo não ouve vozes e ruídos.vozes e ruídos. "Desde que as atitudes não podem ser diretamente percebi"Desde que as atitudes não podem ser diretamente percebi das,das, seria mais correto estabelecer que os comportamentos doseria mais correto estabelecer que os comportamentos do terapeuta e suas palavras são percebidas pelo cliente comoterapeuta e suas palavras são percebidas pelo cliente como significando que, em algum grau, o terapeuta o aceita esignificando que, em algum grau, o terapeuta o aceita e compreende." ' compreende." ' 66 Daí a hipótese: se essas condições estiverem presentes na relaçãoDaí a hipótese: se essas condições estiverem presentes na relação terapêutica, ocorrerá alguma mudança na personalidade do cliente.terapêutica, ocorrerá alguma mudança na personalidade do cliente. Se uma delas faltar, não acontecerá o efeito esperado, pois se trata deSe uma delas faltar, não acontecerá o efeito esperado, pois se trata de condiçõescondições necessárias necessárias ee suficientes. suficientes. Quanto maior o grau de sua Quanto maior o grau de sua presença, tanto mais será a possibilidade de mudança da personapresença, tanto mais será a possibilidade de mudança da persona lidade, já que, neste clima, ela goza delidade, já que, neste clima, ela goza de liberdade experiencial, liberdade experiencial, isto é, isto é, sente que tudo o que exterioriza é levado em consideração, semsente que tudo o que exterioriza é levado em consideração, sem julgament julgamentos, sem avaliação. Nãos, sem avaliação. Não precisa, por o precisa, por isso, recorrer isso, recorrer a defesas.a defesas. Deixa cair eventuais máscaras. Pode reconhecer e reelaborar suasDeixa cair eventuais máscaras. Pode reconhecer e reelaborar suas vivêncivivênci as as sem sem negação ou negação ou deformdeform ação. O ação. O clima clima terapterap êuticoêutico 'permissivo' favorece essa elaboração.'permissivo' favorece essa elaboração. 15. C15. Cf. Kirschenbaum, 1979, p. 19f. Kirschenbaum, 1979, p. 19 7. - 7. - Rogers narra (1969a, p. 349 e ss) um caso com êxito limitado. Rogers narra (1969a, p. 349 e ss) um caso com êxito limitado. AA causa? "A pessoa era incapaz de aceitar meus sentimentos para com ela por não poder acreditar neles."causa? "A pessoa era incapaz de aceitar meus sentimentos para com ela por não poder acreditar neles." 16. 16. Rogers, in Wood, 1995, Rogers, in Wood, 1995, p. 169.p. 169. 5. O terapeuta tem5. O terapeuta tem confiança nas possibilidades, nos recursos confiança nas possibilidades, nos recursos do cliente.do cliente. Essa confiança ele a transmite através de Essa confiança ele a transmite através de atitudes, palavrasatitudes, palavras e mímica.e mímica. Um cliente com problema sério, melhorara com inesperadaUm cliente com problema sério, melhorara com inesperada rapidez, a ponto de ele mesmo se espantar, pois estivera consultandorapidez, a ponto de ele mesmo se espantar, pois estivera consultando outros profissionais durante anos, e só piorando seu estado. Certooutros profissionais durante anos, e só piorando seu estado. Certo dia, após meio ano de atendimento, perguntou ele:dia, após meio ano de atendimento, perguntou ele: - Doutor, a que se deve esta melhora rápida?- Doutor, a que se deve esta melhora rápida? - Voc- Você ê que acha?que acha? - Sabe, quando, na primeira entrevista, após haver exposto- Sabe, quando, na primeira entrevista, após haver exposto minha situação, perguntei: Meu estado tem cura? O senhorminha situação, perguntei: Meu estado tem cura? O senhor respondeu com muita espontaneidade e convicção: Meu Derespondeu com muita espontaneidade e convicção: Meu De us,us, por que não? - Esta sua reação reacendeu minha esperança.por que não? - Esta sua reação reacendeu minha esperança. Ademais, disse-me: Você não está doente. Portanto, não precisaAdemais, disse-me: Você não está doente. Portanto, não precisa de cura. O que tem é um problema, e todo problema temde cura. O que tem é um problema, e todo problema tem solução. Juntos procuraremos essa solução.solução. Juntos procuraremos essa solução. A confiança do terapeuta no cliente, este a percebe consciente ouA confiança do terapeuta no cliente, este a percebe consciente ou subrepticiamente, crescendo a confiança em si mesmo, alavanca parasubrepticiamente, crescendo a confiança em si mesmo, alavanca para a superação do problema. "Ousai, em primeiro lugar, ter fé em vósa superação do problema. "Ousai, em primeiro lugar, ter fé em vós próprios."próprios." nn Até prova em contrário, o Até prova em contrário, o terapeuta centrado no cliente apostaterapeuta centrado no cliente aposta na solução dos conflitos através da mobilização dos recursos dana solução dos conflitos através da mobilização dos recursos da pessoa, talvez menos preocupado na resolução de problemáticapessoa, talvez menos preocupado na resolução de problemática pontual do pontual do que no crescimento gque no crescimento global lobal do 'odo 'o rganismrganism o'. Ele (terapeuta)o'. Ele (terapeuta) é o catalisador, o facilitador do processo. Quem o dirige é o cliente.é o catalisador, o facilitador do processo. Quem o dirige é o cliente. 6.6. A essência da terapia centrada na A essência da terapia centrada na pessoa,pessoa, escreve Bozarth, escreve Bozarth, é o empenho do terapeuta em caminharé o empenho do terapeuta em caminhar ° ° com a com a direção do cliente,direção do cliente, 00 no ritmo no ritmo do clientedo cliente •• ee nn a modala modalidade idade única única de ser de ser do cliente.do cliente. I8I8 17. Nistzsche, 1988, p. 137.17. Nistzsche, 1988, p. 137. 18. Bozarth, 1998, p. 8.18. Bozarth, 1998, p. 8. Ouçamos o próprio Rogers: "A hipótese central do enfoque pode ser apresentado resumidamente (em 1959 encontra-se explanação mais completa): os indivíduos possuem dentro de si vastos recursos para auto-compreensão e para mudar, modificar o auto- conceito, atitudes básicas e formas de agir pessoais: esses recursos podem ser ativados se determinado clima de atitudes psicológicas facilitadoras lhes for propiciado. I9 No processo terapêutico centrado na pessoa, não há diagnóstico prévio realizado pelo terapeuta ou auxiliares, pois seria ferir o princípio central desse enfoque: centrar-se no cliente. O diagnóstico é efetivado, paulatinamente, ao longo de todo o processo. Por quem? Pelo cliente. O terapeuta procura facilitar-lhe a tarefa. Esse auto- diagnóstico culmina em mudança de percepção. Da mudança de percepção decorre mudança de comportamento, de atitude. Por isso escreve Brazier que o trabalho de Rogers centrou-se, principalmente, em ajudar-nos a entender o quadro de referência do outro.20 Estamos longe do modelo médico: 'profissional-paciente'. Encontramo-nos em presença de 'profissional-cliente/pessoa', sendo a atividade deste(a) o foco da nova orientação psicoterápica. O leitor terá notado ser a orientação rogeriana otimista com relação à pessoa. Por isso confia nela, embora com muitos problemas. Alerta importante de Mearns: "Trabalhar com o cliente 't odo' , quer dizer oferecer-lhe as condições básicas a todas as suas facetas, mesmo conflituadas entre elas e mutuamente excludentes." 2I Imagem de pessoa As condições e convicções mencionadas se baseiam sobre específica visão da personalidade, diferente de outras correntes em psicologia. Quais suas principais características? 19. Rogers, 1980, p. 115. 20. Brazier, 1997, p. 22. 21. Mearns, 1994, p. 16. Tendência à atualização ou auto-realização Lemos em Rogers dos últimos tempos de vida: "Quero destacar duas tendências correlatas que têm adquirido, gradativamente, maior importância em meu pensamento no decorrer dos anos. ° uma delas é a tendência à atualização, característica da vida orgânica. o outraé a tendência formativa no universo como um todo. ° Juntas constituem os blocos basilares do enfoque centrado na pessoa." 2 2 Várias vezes cita ele em livros e palestras (inclusive na União Soviética) o caso de batatas inglesas guardadas no chão curo do porão, na fazenda paterna, brotando em direção à luz: a vida procurando expandir-se, tanto quanto possível, apesar das condições adversas. A observação de animais e plantas levou Carl Rogers à convicção de que todo ser vivo tende a crescer, em direção a tornar-se indivíduo adulto realizado da espécie, caso as condições lhe forem suficientemente favoráveis. Demos a palavra ao mestre: "Todo organismo é animado por tendência inerente a desenvolver todas as potencialidades, e a desenvolvê-las de maneira afavorecer-lhe a conservação e enriquecimento. " 23 Em outra obra assegura: Este potencial será liberado quando o terapeuta puder criar clima psicológico caracterizado pela genuini dade, valorização incondicional e empatia. Então, "o cliente vai reorganizar-se tanto em nível consciente como em níveis mais profundos da personalidade". 24 Auto-imagem (self) Com a facilitação do terapeuta, o cliente procura desobstruir 22. Rogers, 1080, p. 114. 23. Rogers, 1966, p. 172. 24. Rogers, 1969 a p. 04. ou ampliar o fluxo da tendência à atualização. Repetimos: o papel do terapeuta não consiste em guiar o cliente pelo caminho 'certo' (na perspectiva do profissional), mas criar condições favoráveis ao processo de auto-exploração e desenvolvimento. 25 Objetivo: fazer desabrochar a pessoa no ser, como diz Levinas.26 Essa exploração, possibilitada graças ao clima formado pelas atitudes do psicoterapeuta, provocarão mudanças na auto-imagem, no 'self. E, por sua vez, essa mudança no self fará com que o cliente perceba a si e a situação de modo diferente. Encontrará 'saídas'. Rogers: "Sucesso na terapia é a percepção, da parte do cliente, de que o self tem a capacidade de reorganização. [...] Quando a pessoa consegue se ver como agente perceptivo, organizador, então se dá a reorganização da percepção bem como a consequente mudança nos padrões da reação. " 21 A partir de certo patamar da terapia, o cliente terá enveredado num "caminho sem volta". O self é outro; a percepção é outra; outra, melhor e desabrolhadora é a vida. Unamuno diria que a pessoa "sente- se viver em estado de criação contínua: cada momento oferece uma visão nova . A tendência à auto-realização e à auto-imagem (self) explicam todo procedimento do indivíduo (atitudes, ações e reações). A tendên cia ao crescimento é o elemento dinâmico do psiquismo; o self o orienta na direção de valores, objetivos que lhe interessam ou que, erroneamente ou não, lhe parecem vantajosos e alcançáveis. A auto- imagem joga papel decisivo na vida. Conforme se julgar apta ou não, a pessoa orientará a tendência para este ou aquele rumo, podendo subestimar ou superestimar suas possibilidades. Mas decidirá conforme se perceber. Por isso, a percepção que o indivíduo tiver de si, dos outros, do estudo, emprego, etc , é que lhe pilotará a vida. Eis a razão por que o self constitui o centro do processo terapêutico. Escreve Goldstein, a quem devemos o termo auto-realização: 25. Guioordani, 1997, p. 104. 26. Levinas, 1988, p. 115. 27. Rogers, in Wood, 1995, p. 49-50. 28. 1952, p. 52. "Existe estreita relação entre os modos preferidos do indivíduo e os motivos psicológicos de sua conduta, seu relacionamento com os demais, seus gostos e repulsas e suas atitudes ante a vida. " 29 Resumindo as principais conclusões sobre mudanças de personalidade na psicoterapia, Rogers enfatiza a correlação auto-imagem e vida mais congruente, mais realista do cliente para consigo mesmo e os demais.30 Outra observação importantíssima: o ambiente deve ser suficientemente propício a fim de possibilitar a auto-realização da pessoa, à semelhança de todo ser vivo: sem o mínimo de condições, em vez de crescer, estiola e morre. Na terapia, as atitudes do profissional, muito mais que sua cultura, fazem surgir esse ambiente favorável. Quanto mais elevado o grau de existência dessas atitudes no ambiente familiar e social - é bom repetir - tanto mais 'terapêutico' será esse ambiente. Todo bom relacionamento é terapêutico, isto é, favorece o crescimento, segundo Maslow. Há, contudo, pessoas que, embora vivam em ambiente assim, necessitam temporariamente da 'estufa' do gabinete psicoterapêutico para retomar o impulso do crescimento, quiçá dar-lhe outro rumo. Rumo à plenificação da pessoa Certa noite de fevereiro de 1977, durante as maravilhosas três semanas passadas com Rogers e equipe de La Jolla (San Diego, USA) em Arcozelo, RJ, John Wood entre eles, estávamos alguns sentados no alpendre da antiga fazenda transformada em local, rústico e s ingelo, de teatro, encontro de estudantes. Pois bem: o grande autor de "Tornar- se Pessoa" estava discorrendo sobre a plenificação gradativa da pessoa, quando surge, por entre o arvoredo, a lua cheia. Minutos depois, brilhava ela, dourada e silenciosa, por cima da floresta, prateando o panorama bucólico da suavemente ondulada serra carioca de Pati do Alferes. 29. 1961, p. 164. 30. 1969a, p.413ess. Vinculei o crescer da lua à auto-realização da pessoa. Quanto mais esta crescer, mais 'cheia', mais plena se tornará, dispondo de mais luz para si e irradiando-a mais abundantemente aos outros. E convicção de Fromm de que "a existência identifica-se com o desenvolvimento das potencialidades específicas de um organismo. Todo organismo possui uma tendência inerente para a atualização das suas potencialidades próprias." 31 Essa noção da tendência à auto-realização tomaram-na Rogers, Fromm, Maslow e muitos outros, dos minuciosos experimentos e cuidadosas observações de Kurt Goldstein. A pessoa em via de crescimento notabilizar-se-á por algumas características:32 Primeiramente é necessário observar não se tratar de 'es tado ', mas de um 'processo'. Vida em fluxo de plenificação é processo, não um estado de ser. Para Rogers, "vida em crescimento (good life) é o processo do movimento numa direção selecionada pelo indivíduo quando interiormente livre de se mover para qualquer rumo". Na opinião do autor, as características da seleção da direção tomada por tais pessoas têm certo grau de universalidade. Quais seriam os traços distintivos de tais indivíduos? ° Crescente abertura à experiência. ° Vida gradativamente mais existencial, isto é, de fluxo reno vador. ° Organismo digno de confiança, graças à abertura à expe riência. ° Vontade de ser processo. ° A pessoa é seu centro de avaliação. O crescimento não termina, por mais rápido e organizado que seja. Nunca atingirá o brilho de lua cheia.. Não deixa de ser constante lua 'crescente'. Escreve Paulo Freire: "Totalizando-se além de si mesma (a consciência humana) nunca chega a totalizar-se inteiramente, pois sempre se transcende a si mesma." 33 Pessoa em processo de auto- 31. Fromm, s.d., p. 38. 32. Rogers, 1961, cap. 9. [Cap. 7 da edição brasileira.] 33. Freire, 1987, p. 16. realização não estaciona: encontra-se ° a caminho de sempre mais plena auto-direção; ° a caminho de ser um processo mais rico e dinâmico; ° a caminho da complexidade; ° a caminho de maior abertura à experiência; ° de maior aceitação dos outros; ° de relacionamento mais profundo com os demais; ° de crescente confiança em si mesma; ° de progresso em congruência, em autenticidade. Como fecho dessas considerações, dois pensamentos que mostram a penetração de princípios da psicologia humanista na alta cúpula da Igreja Católica: "O homem não é verdadeiramente homem a não ser na medida em que, senhor de suas ações e juízos de valor, é autor do seu progresso, de acordo com a natureza que lhe deu o Criador, de que assume livremente as possibilidades e exigências." 34 O Papa atual não é menos enfático: "Somos, de certo modo, os nossos próprios pais ao criarmo- nos como queremos e, pela nossa escolha, dotarmo-nos da forma que queremos. "35 Se as orientações da psicologiarogeriana atingissem as altas esferas dos poderes políticos, em poucos anos, a terra adquiriria fisionomia bem mais humana... 34. Paulo VI, 1967,. n. 16. 35. João Paulo II, 1993, p. 92. 6. O desenvolvimento pioneiro de pesquisas em psicoterapia Em 1945, Rogers foi convidado a lecionar na Universidade de Chicago e a estabelecer, nesta universidade, um centro de aconselha mento baseado nos princípios da abordagem não-diretiva. Em Chi cago, junto com uma grande equipe de colaboradores, na maior par te, seus alunos, Rogers desenvolveu um trabalho pioneiro para a sua época: a pesquisa científica em psicoterapia. Rogers já inovara em Ohio ao ser o primeiro psicoterapeuta a registrar através de grava ções sonoras as sessões de terapia e a torná-las disponíveis para a comunidade profissional, contribuindo, desta maneira, para a "desmis tificação"9 da psicoterapia. Nat Raskin, um dos seus colaboradores mais próximos em Chicago afirmou que Rogers atravessou completa mente o labirinto de mistério que rodeava o trabalho dos psicotera- peutas em geral.w Entretanto, a busca deste conhecimento científico e objetivo sobre a psicoterapia representava, para Rogers, um grande conflito, pois a sua experiência como terapeuta possuía uma qualidade essen cialmente subjetiva que ele sabia que não poderia ser adequadamente traduzida ou simbolizada através da conceituação fria e rigorosa da ciência. Rogers sentia-se dividido entre o mundo da sua experiência subjetiva, "quase mística", de terapeuta e o mundo objetivo do seu trabalho como cientista." Assim, no prefácio do livro Terapia Centra da no Cliente, Rogers tenta esclarecer o significado que tinha, para ele e para sua equipe, a busca deste conhecimento científico: "Mas é também um livro sobre mim e os meus colegas, que empreendemos a análise científica desta experiência viva, 9. Bozarth (1998) afirma que "Rogers foi a principal figura na desmistificação da psicoterapia, principalmente através do uso de gravações sonoras e filmes. Rogers e seus colegas foram o primeiro grupo a usar gravações para examinar as sessões de terapia e torná-las disponíveis à comunidade profissional. De fato, eles começaram com o uso de gravadores de "rolo" e discos de vidro, que eram incómodos e desajeitados para o uso. Na verdade, Rogers foi um dos primeiros indivíduos a tornar suas próprias sessões de terapia disponíveis para averiguação pública em gravações sonoras e filmes." p . 14 10. Raskin, (1948). 11. Rogers escreveu um artigo "Pessoa ou Ciência:? Uma Questão Filosófica", onde descreve precisamente este seu conflito. Este artigo encontra-se publicad o no livro de John Wood, Abordagem Centrada na emocional. É sobre os nossos conflitos neste aspecto - a per cepção vigorosa de que o processo terapêutico é rico em nuances, complexidades e sutilezas, e a nossa crença, igual mente vigorosa, de que a descoberta científica, a generali zação, é fria, sem vida, destituída da plenitude da experiên cia. Mas o livro também expressa, confio eu, a nossa crescen te convicção de que, embora não possa formar terapeutas, a ciência pode auxiliar a terapia; de que, embora seja fria e abstraía, a descoberta científica pode nos assistir na libera ção de forças que são quentes, pessoais, complexas; e de que embora seja lenta e hesitante, a ciência representa o melhor caminho conhecido para a verdade, mesmo numa área tão delicadamente intricada como a das relações humanas. " n A concepção de ciência que Rogers tinha nesta época era estritamen te positivista. No meio cultural e académico em que vivia, esta era a única concepção de ciência aceita e reconhecida. Assim, as pesqui sas que Rogers e sua equipe desenvolveram na Universidade de Chi cago consistiam basicamente em "testes" ou "verificações" de hipó teses, seguindo um modelo rigorosamente experimental e estatístico. Contudo, estas hipóteses, que eram descritas de forma operacional e testadas com métodos estritamente quantitativos se originaram, primariamente, da sua experiência pessoal e subjetiva como terapeuta. Ou seja, Rogers utilizava inteiramente a sua subjetividade, na sua experiência pessoal com os clientes, como fonte e origem de suas hipóteses sobre a psicoterapia. No entanto, ele considerava que este conhecimento, obtido através da sua experiência subjetiva, não teria valor se não fosse "comprovado" ou verificado pelos métodos da ciência. No campo da pesquisa em psicoterapia, Rogers foi tremenda mente inovador. Até então, as hipóteses sobre a psicoterapia jamais haviam sido "postas à prova" por nenhuma outra abordagem. Rogers e sua equipe foram também extremamente criativos ao inventarem novos procedimentos para verificação de hipóteses, como a técnica <213 de Stephenson e o Relationship Inventory de Barret-Lennard. 12. Rogers, 1992, p. 4 13. No livro Terapia Centrada no Cliente, numa nota de rodapé à página 163, (na edição de 1992) Rogers descreve sucintamente a aplicação da técnica Q à pesquisa sobre a alteração da percepção do eu na Estas pesquisas eram realizadas no Centro de Aconselhamento da Universidade de Chicago, dirigido por Rogers, que atendia uma mé dia de 800 a mil pessoas por ano. Esta brilhante atividade de Rogers como pesquisador lhe pro piciou um enorme prestígio junto à comunidade científica e profis sional americana, tornando-se editor de duas prestigiadas revistas científicas de psicologia - o "Journal of Counsulting Psychology" e o "Aplied Psychology Monographs - e sendo eleito presidente da Associação Americana de Psicologia (American Psychological Association), em 1943. 7. A confiança na capacidade do cliente Desde a conferência proferida em Minnesota, em 1940, Rogers já con sid erava que uma das caracterí sti cas essenciais des sa nov a abordagem em psicoterapia era a confiança na tendência do indiví duo para o crescimento e para a maturidade. Com o passar dos anos, esta confiança foi se fortalecendo ainda mais. Rogers percebeu que quanto mais ele confiava na capacidade do seu cliente para superar autonomamen te suas dificuldades, mais o cli ente correspondia a essa confiança, liberando as forças internas de crescimento que até então tinham permanecido bloqueadas. Assim, num artigo publicado em 1946, chamado "Aspectos significativos da terapia centrada no cliente" 14 , Rogers dedicou uma especial atenção ao que ele denominou de " a descoberta da capaci dade do cliente": "Basicamente, a razão para a previsibilidade do processo terapêutico está na descoberta - e uso esta palavra intencional mente - de que no interior do cliente residem forças construti vas cujo poder e uniformidade não têm sido reconhecidos inteiramente, como também têm sido bastante subestimados. 14. Rogers, C. R. (1946). Significam Aspecls of Client-Centered Therapy. The American Psycholoeist, 10, 415-422. É a nítida e disciplinada confiança do terapeuta nessas forças internas do cliente que parece explicar a ordenação do processo terapêutico, bem como sua consistência de um cliente para outro. " i5 Neste pequeno trecho aparecem duas ideias muito importantes que foram progressivamente sendo desenvolvidas por Rogers e seus co laboradores tanto através de pesquisas como através de novas e mais completas elaborações teóricas. A primeira ideia é a descoberta de que existem, em todos os indivíduos, forças construtivas de cresci mento que até então não haviam sido reconhecidas por nenhuma abordagem psicoterapêutica. A segunda ideia presente aqui é a de que a confiança do terapeuta nestas forças internas do cliente, uma confiança nítida e disciplinada, é o que propicia o processo terapêutico. A descoberta da existência de poderosas forças internas de crescimento e a firme confiança do terapeuta nestas forças, represen tam, hoje, o aspecto mais revolucionário da terapia centrada no cli ente. Lendo o que Rogers escreveu em 1946 em referência aos mo delos psicoterapêuticos vigentes naquela época, podemos constatar que Rogers continua sendo tão revolucionário em relação aospa drões atuais do pensamento psicológico quanto fora há cinquenta anos atrás. Depois de analisar diversos estudos de caso publicados por psiquiatras e psicanalistas, Rogers concluiu que a confiança que estes terapeutas tinham em seus clientes era uma confiança muito limitada: "É uma confiança de que o cliente pode assumir responsa bilidade, se for guiado pelo especialista; uma confiança de que o cliente pode assimilar insight, se este lhe for propiciado primeiro pelo especialista; de que pode fazer escolhas, se nos pontos cruciais lhe for dada uma direção. E, em suma, o mes mo tipo de atitude que uma mãe tem para com seu filho adolescente, que ela acredita ser capaz de tomar decisões pró prias e guiar seu próprio caminho, contanto que ele tome a direção por ela aprovada. " w 15. Rogers, 1995a, p. 24 16. Roges, 1995a, p. 26. Esta confiança do terapeuta nas forças internas de crescimento do cliente tornou-se posteriormente o postulado fundamental da terapia centrada no cliente e a principal característica que a diferenciaria de todas as outras abordagens em psicoterapia. Em 1951, no livro "Te rapia Centrada no Cliente", Rogers formulou de uma maneira mais precisa o significado destas "forças de crescimento"'. A partir dos estudos de Snygg, Combs, Angyal, Goldstein e outros, Rogers consta tou que existe, em toda vida orgânica, uma. força direcional básica que se manifesta como uma tendência do organismo para preservar- se e para mover-se na direção da maturação e da auto-realização de suas potencialidades. Esta força direcional também se expressa como uma tendência do organismo para mover-se na direção de uma maior independência, autonomia e auto-regulação como também na direção de uma maior socialização. Esta tendência direcional está presente na vida de todo organismo individual "desde a concepção até a maturação, em qualquer nível de complexidade orgânica" 11. Rogers considerou, então, que a tendência para o crescimento, para a maturidade e para a autonomia que ele observara em todos os seus clientes quando era oferecida, na relação terapêutica, uma atmos fera de aceitação e liberdade, era, na realidade, a expressão desta força direcional básica originada no próprio funcionamento orgâni co (ou organísmico) do indivíduo: "Na terapia centrada no cliente, a pessoa é livre para esco lher qualquer direção, mas, na realidade, ela seleciona cami nhos positivos e construtivos. Eu só posso explicar isto em termos de uma tendência direcional inerente ao organismo humano - uma tendência para crescer, se desenvolver e reali zar plenamente seu potencial"\ 1S E a confiança do terapeuta nesta tendência do indivíduo para a auto- preservação, crescimento, maturação, independência e socialização que caracteriza a relação terapêutica centrada no cliente: "O terapeuta torna-se muito consciente de que a tendência de 17. Rogers, 1992, p. 555 18. Rogers. 1986, p. 127. movimento para frente do organismo humano é a base na qual ele se apoia de maneira mais firme e fundamental. " I9 No livro "Terapia Centrada no Cliente", Rogers apresentou a pri meira formulação da sua teoria da personalidade e do comp ortamen to, na forma de dezenove proposições. Na IV Proposição ele afirma que todo organ ismo possui uma tendênc ia básica à auto-realização, auto-manutenção e aperfeiçoamento. Posteriormente, em 1959, Rogers publicou a versão final da sua teoria da terapia e da persona lidade entitulada "Uma teoria da terapia, personalidade e relacio namentos interpessoais desenvolvida segundo a perspectiva centrada- no-cliente" 20 Nesta formulação de 1959, Rogers denomino u esta ten dência direcional de "actualizing tendency", que foi traduzida para o português como tendência atualizante. A tendência atualizante está presente em todas as ações do indivíduo pois ela representa o fluxo natural da vida. Ela é o movi mento, o processo direcional que caracteriza a própria natureza da vida. Isto é, a presença da tendência atualizante é o que nos permite distinguir um organismo vivo de um morto. Isto significa que a ten dência atualizante pode ser frustrada, impedida ou desvirtuada, mas não pode ser destruída sem que se destrua também o organismo21. Em 1977, no livro "Sobre o Poder Pessoal" 22 Rogers utilizou uma imagem originada de suas lembranças da infância, a imagem de uma caixa de batatas que brotaram mesmo na escuridão gelada do porão de sua casa, como uma metáfora da maneira como a tendência atualizante se manifesta mesmo sob as condições mais desfavorá veis. Esta metáfora tornou-se bastante conhecida devido à beleza, profundidade e sensibilidade como foi apresentada por Rogers: "Lembro-me de que, na minha infância, a lata na qual arma- 19. Rogers, 1992, p.556. 20. A theory of therapy, personality, and interpersonal relationships as developed in the client-centered framework. Publicado em S. Koch (ed) Psychology: A study of science: Vol. 3 Formulation of the person and the social context: New York: McGraw Hill. (este trabalho foi publicado no Brasil em 1977 no livro "Psicoterapia e Relações Humanas" - escrito em conjunto com Marian Kinget) 21. Rogers, 1983, p. 40. 22. Título original em inglês: Cari Rogers on Personal Power simboliza estas experiências. Ou seja, a negação e a distorção são as defesas utilizadas pelo indivíduo para preservar o seu eu da ameaça representada pela experiência da incongruência. Mas como uma pessoa pode reconhecer uma experiência como ameaçadora sem ainda ter tido consciência dela? Rogers e seus cola boradores ficaram intrigados com esta questão, que parecia envolver um processo de 'conhecer sem conhecer' ou de 'perceber sem per ceber'. Após realizarem algumas pesquisas sobre a relação entre percepção e consciência, eles puderam concluir que, de fato, um in divíduo é capaz de discriminar um estímulo como ameaçador e rea gir a ele mesmo sem ter reconhecido conscientemente o estímulo a que está reagindo62. Neste sentido, McCleary e Lazarus63 deram uma contribuição fundamental à teoria ao criarem o conceito de "subcepção" para se referir a este processo de "pré-percepção" no qual o indivíduo reage a um estímulo antes que este seja reconhecido na consciência. A subcepção é, assim, uma reação organísmica fisiológica avaliatória e discriminatória à experiência, que pode preceder a percepção cons ciente dessa experiência. O processo da subcepção explica, portan to, como um indivíduo pode negar experiências à consciência sem jamais ter estado consciente delas64. É importante salientar que as experiências que são negadas à consciência ou distorcidas na sua simbolização são aquelas incoe rentes com o auto-conceito, e que estas não são necessariamente experiências negativas ou depreciativas para o individuo. Assim, até mesmo as experiências valorizadoras e positivas podem ser excluí das do campo perceptual do indivíduo, se forem contraditórias com o seu auto-conceito. Entretanto, esta incongruência ou discrepância entre aquilo que o indivíduo experencia em nível sensorial e visceral e aquilo que ele simboliza na sua consciência gera uma tensão psicológica que pode ser experimentada como: 62. Rogers, 1992, p. 575. 63. McCleary, R. & Lazarus, R. (1949). Autonomic discrimination without awareness. Journal of Personality Change, 18, 171-179. Este estudo foi citado nas capítulo 11 do livro Terapia Centrada no Cliente. 64. Rogers, 1992, p. 576 ° angústia ou ansiedade; ° sentimento de insegurança; ° sentimento de não estar integrado (ou sentimento de dissociação); ° ausência de controle sobre o próprio comportamento. A falta de controle consciente sobre o comportamento ocorre porque o organismo da pessoa reage às experiências e luta para satisfazer as suas necessidades mesmo que elas não tenham sido admitidas na consciência. Neste caso, o indivíduo faz afirmações como65: o "Não sei por que faço isso. Eu não quero fazer, no entanto eu faço" o "Eu simplesmente não sou eu mesmo quando faço essas coisas " o "Eunão sabia o que estava fazendo " ° "Não tenho controle sobre essas reações" A incongruência entre o auto-conceito e a experiência organísmica (a experiência sensorial e visceral) também pode ser experimentada pelo indivíduo como um sentimento de não ter um eu ou de que o seu eu consiste apenas em procurar fazer o que os outros acreditam que ele deve fazer. Isto ocorre quando o indivíduo constrói o seu auto-conceito quase que inteiramente a partir das avaliações de ex periência emprestadas de outras pessoas, com um mínimo de apreci ação organísmica direta. O processo terapêutico: Como vimos nos capítulos 3 e 4 06, a relação terapêutica centrada no cliente caracteriza-se pela total liberdade oferecida ao cliente para explorar o mundo da sua experiência no ritmo e na direção que esco lher e na total aceitação do terapeuta em relação a tudo o que é ex- 65. Rogers, 1992, p. 579. 66. "Uma relação essencialmente não-diretiva" e "A aceitação como a essência do processo terapêutico" presso pelo cliente. Como consequência desta atitude do terapeuta de aceitação e acolhimento e diante da total liberdade de expressão, o cliente sente o seu eu livre de ameaças, sendo capaz, portanto, de considerar as percepções até então rejeitadas (por serem incoerentes com o seu auto-conceito) e modificar o seu auto-conceito a fim de incluir e integrar estas percepções. Rogers descreve este processo da seguinte maneira: "Aos poucos, o cliente experimenta uma sensação decidida mente nova de estar livre de ameaças. É a percepção de que cada aspecto que ele expõe do seu eu é igualmente aceito, igualmente valorizado. A afirmação quase beligerante de suas virtudes é tão aceita, porém não mais, quanto o desestimulante quadro de suas qualidades negativas. Sua certeza sobre al guns aspectos de si mesmo é aceita e valorizada, da mesma forma que sua incertezas, suas dúvidas, sua vaga percepção de contradições internas. Nessa atmosfera de segurança, pro- teção e aceitação os limites rígidos do autoconceito relaxam. (...) O cliente começa a explorar seu campo perceptivo cada vez mais completamente. (...) Descobre experiências das quais nunca fora consciente, experiências que contradizem profun damente a percepção que tem de si mesmo - e isto é de fato ameaçador. Ele se recolhe temporariamente para a confortá vel gestalt anterior, mas depois, lenta e cautelosamente, sai do refúgio e assimila a experiência contraditória num padrão novo e revisado. " A7 Rogers68 apresenta um exemplo de uma cliente que odiava a sua mãe e que tinha a justificat iva para esse ódio rigidame nte estruturada no seu auto-conceito. Ao longo do processo terapêutico, contudo, ela pôde reconhecer a existência de outros sentimentos e comport amen tos além do ódio - "Insisto em limpar minha casa quando ela vem me visitar, como se quisesse mostrar a ela como sou boa, como se tentasse obter as graças dela" -, conseg uindo, a seguir, admitir certas experiências diretamente contraditórias com o seu auto-con ceito - "Sinto um carinho real por ela, uma espécie saudável de 67. Rogers, 1992, p.222 68. Este exemplo encontra-se no livro Terapia Centrada no Cliente, à página 588 da edição de 1992. afeição" - que conduziram, finalmente, a uma modificação e ampli ação do seu auto-conceito: - "Eu me dou bem com ela. É uma coisa incrível a maneira como tirei a mamãe de meu sistema. Posso recebê- la ou despedir-me dela sem tanta tensão". A experiência que o cliente tem de ser aceito exatamente como ele é, e de que cada novo aspecto do seu ser que é descoberto e reve lado na terapia é igualmente aceito pelo terapeuta, leva ao reconheci mento de experiências profundamente negadas ou distorcidas por serem ameaçador as ao eu. Quando estas experiências se tornam cons cientes, o cliente, então, modifica o seu auto-conceito a fim de poder inclui-las como partes de um todo coerente. O processo terapêutico é, portanto, essencialmente, um processo de desorganização e reor ganização do eu, assim descrito por Rogers: "À medida que o processo avança, uma configuração nova ou revisada do eu está sendo construída, contendo percepções anteriormente negadas; envolvendo uma simbolização mais exata de uma gama muito mais ampla de experiências senso riais e viscerais; envolvendo uma reorganização de valores em que a experiência pessoal do organismo é claramente re conhecida como a fonte que proporciona as evidências para as valorações. Lentamente, começa a emergir um novo eu, muito mais próximo do verdadeiro, porque se baseia muito mais na experiência global do cliente, percebida sem distorção. " 69 O novo eu que surge a partir da desorganização do antigo auto-con ceito é muito mais congruente com a totalidade da experiência. Con sequentemente, as experiências tornam-se menos ameaçadoras e o indivíduo, sem precisar mais de tantas defesas, torna-se mais aberto à sua experiência direta, sensorial e visceral. Nesse novo eu há, por tanto, muito menos ansiedade e mais segurança. Rogers salienta que é devido à presença da tendência atualizante que o indivíduo em terapia, ao invés de seguir para uma desintegração, move-se na dire ção de uma reorganização promotora do crescimento e de uma reali zação mais completa das suas potencialidades. 69. Rogers, 1992, p.222 Como vimos anteriormente, o comportamento de um indiví duo se mantém sempre coerente com o auto-conceito70. Assim, quan do o cliente, ao longo do processo terapêutico, modifica o seu auto- conceito, o seu comportamento se modifica espontaneamente, acom panhando as mudanças no auto-conceito. Por este motivo, as mudan ças de comportamento são mais fáceis e menos dolorosas que as mudanças no auto-conceito. O aprimoramento das relações interpessoais Uma aluna de Rogers, Elizabeth Sheerer, em sua tese de dou torado defendida na Universidade de Chicago em 1949 71, compro vou cientificamente um fato que já havia sido largamente constatado por Rogers e sua equipe na prática clínica: que um indivíduo, ao aceitar a si próprio, aprimora suas relações interpessoais com os outros. Rogers considerou este fato como uma das mais surpreen dentes descobertas da terapia centrada no cliente, formulando-a na proposição XVIII da sua teoria da personalidade: "Quando o indivíduo percebe e aceita, num único sistema coe rente e integrado, todas as suas experiências sensoriais e viscerais, ele adquire necessariamente uma compreensão e uma aceitação maior dos outros como indivíduos diferenciados ". Quanto menos atitudes defensivas a pessoa utiliza para preservar o seu auto-conceito, mais realista ela se torna não somente em relação a si mesma como também em relação aos outros. A pessoa que vive de maneira integrada, congruente com a sua experiência sensorial e visceral, consegue perceber o outro como ele realmente é, com todas as suas diferenças, sem que estas diferenças sejam percebidas como ameaças. Desta forma, a auto-aceitação acaba promovendo também 70. Pag. 30: "O indivíduo sempre procura agir de uma maneira coerente com as suas percepções e valores. (...) à medida que o auto-conceiío muda, o comportamento também muda a fim de tornar-se coerente com esta nova organização do campo perceptual". 71. "An analysis of the relationship between acceptance of and respect for self and acceptance of and respect for others in seven couseling cases" uma maior aceitação do outro. No exemplo anterior, da mulher que odiava a sua mãe, vimos que quando ela conseguiu aceitar todos os seus sentimentos de afeto e de ódio, ela pôde perceber a mãe de uma maneira muito mais realista, compreendendo-a e aceitando-a pelo que de fato era, e construindo com ela um relacionamento real, ao invés de defensivo. Outra cliente de Rogers expressou esta experiência de aprimo ramento das suas relações interpessoais com as seguintes palavras: "Eu sou eu mesma e sou diferente dos outros. Estou me sen tindo mais feliz em ser eu mesma e percebo que, cada vez mais, estou deixando que as outras pessoas assumam a responsabi lidade por seremelas mesmas "7 2 12. A mudança terapêutica A teoria do auto-conceito, publicada em 1951 no livro Terapia Centrada no Cliente, já esboçara algumas considerações a respeito dos resultados de uma terapia bem-sucedida. Como vimos no capítulo anterior, o processo terapêutico conduziria o indivíduo a uma reorganização do seu auto-conceito promovendo uma maior integração entre o eu e a experiência organísmica. Como consequên cia desta reorganização do campo perceptual, o cliente viveria com menor tensão psicológica ou ansiedade, aprimoraria seus relaciona mentos interpessoais e desenvolveria seu próprio sistema de valores, baseado diretamente na sua experiência. Após a publicação de Tera pia Centrada no Cliente, Rogers prosseguiu suas investigações a res peito da natureza da mudança terapêutica e das suas condições facilita doras e, em 1952, escreveu um artigo entitulado "A pessoa em funci onamento pleno" onde procurou responder precisamente a esta ques tão: "Se fossemos tão bem sucedidos como terapeutas, que espécie de pessoa teria se desenvolvido em nossa terapia ? Qual o hipotético ponto final, o ponto máximo do processo terapêutico?". Entretanto, 72. In Rogers, 1992, p. 591 voltar voltar para aquela minha enfermaria e realmente viver, para aquela minha enfermaria e realmente viver, realreal mente ser amente ser alguém. lguém. Eu só... Saiu tudo de repente da minha caEu só... Saiu tudo de repente da minha ca beça. beça. Eu Eu imaginava se poderia voltar pimaginava se poderia voltar para lá ara lá e e fazer isso,fazer isso, realmente ser realmente ser alguém lá. alguém lá. (Breve (Breve pausa). pausa). Fico imaginando, Fico imaginando, ficofico pensando pensando nisso, nisso, e e se se um um dia dia eu eu serei... serei... apenas apenas voltar voltar diretodireto para para alguma alguma coisa coisa e fazer e fazer algo algo e e ser ser alguém alguém lá. lá. (Breve (Breve paupau sa). sa). Provavelmente me ajudaria a continuar Provavelmente me ajudaria a continuar sendo diferente,sendo diferente, um homem diferente, um homem diferente, uma uma pessoa diferente lá. Aqui neste conpessoa diferente lá. Aqui neste con sultório eu sultório eu geralmente saio geralmente saio com alguns pensamentos que com alguns pensamentos que fafa zem zem sentido sentido e e ideias, ideias, algo algo com com sensações sensações reais, reais, uma uma mentemente real, pensamento real. real, pensamento real. Ontem quando cheguei Ontem quando cheguei aqui estava viaqui estava vi vendo e... vou vendo e... vou estar estar hoje. hoje. Tenho certeza disso. Eu posso ser...Tenho certeza disso. Eu posso ser... eu não posseu não posso aguentar mo aguentar mais do que isso aqui, ais do que isso aqui, então eu., então eu., éé demais para mim.demais para mim. ""stfstf Um psicólogo que tentasse avaliá-lo ou diagnosticá-lo, pensaria Um psicólogo que tentasse avaliá-lo ou diagnosticá-lo, pensaria algoalgo como:como: "Seu pensamento é confuso e as expressões inarticuladas."Seu pensamento é confuso e as expressões inarticuladas. Parece haver senParece haver sentimentos de irrealidade. timentos de irrealidade. Possivelmente éPossivelmente é esquizofrénico. esquizofrénico. Seu self Seu self consciente está lutando para consciente está lutando para recuperecupe rar uma sensação de controle sobre o organismo. Ele reagerar uma sensação de controle sobre o organismo. Ele reage com algum pânico à ideia de viver e ser uma pessoa. "com algum pânico à ideia de viver e ser uma pessoa. " Ao passo que uma pessoa que tentasse compreendê-lo empaticamenteAo passo que uma pessoa que tentasse compreendê-lo empaticamente pensaria algo como:pensaria algo como: "Parece que "Parece que sentimentos e sentimentos e pensamentos pensamentos bloqueiam você bloqueiam você .. Existe uma dúvida quanto à possibilidade de ser Existe uma dúvida quanto à possibilidade de ser alguém. alguém. VocêVocê fica fica imaginando imaginando se se poderia poderia ser ser uma uma pessoa pessoa ao ao voltar voltar à à enferenfer maria. maria. Você sente que algumas Você sente que algumas de suas reações são reais ede suas reações são reais e sensatas e tem a impressão de que ali, na hora da terapia, estásensatas e tem a impressão de que ali, na hora da terapia, está realmente vivo. Mas este pensamento é forte demais para vocêrealmente vivo. Mas este pensamento é forte demais para você - é mais do que você pode encarar."- é mais do que você pode encarar." 86. Rogers, 1992, p. 5586. Rogers, 1992, p. 55 Como vimos no capítulo 10, Rogers percebeu que a compreensãoComo vimos no capítulo 10, Rogers percebeu que a compreensão diagnostica, no contexto da psicoterapia, é não somente desnecessádiagnostica, no contexto da psicoterapia, é não somente desnecessá ria como inclusive é prejudicial ao processo terapêutico. Já a comria como inclusive é prejudicial ao processo terapêutico. Já a com preensão empática, pelo contrário, é promotora das preensão empática, pelo contrário, é promotora das forçaforças de crescis de cresci mento do cliente. O caráter não avaliador e aceitador do climamento do cliente. O caráter não avaliador e aceitador do clima empático possibilita à pessoa assumir uma atitude de estima e inteempático possibilita à pessoa assumir uma atitude de estima e inte resse por si mesma. Sentindo-se compreendida, ela se torna capaz deresse por si mesma. Sentindo-se compreendida, ela se torna capaz de ouvir a si mesma de modo mais correto, com maior empatia em relaouvir a si mesma de modo mais correto, com maior empatia em rela ção às suas experiências organísmicas e aos seus significados queção às suas experiências organísmicas e aos seus significados que percebe apenas vagamente. A maior auto-compreensão e auto-esti-percebe apenas vagamente. A maior auto-compreensão e auto-esti- ma proporcionadas, dessa forma, pela atitude empática possibilita àma proporcionadas, dessa forma, pela atitude empática possibilita à pessoa integrar estes aspectos da experiência agora reconhecidos numpessoa integrar estes aspectos da experiência agora reconhecidos num novo conceitnovo conceit o de o de eu, mais congruenteu, mais congruent e com e com a totalidade da a totalidade da sua expesua expe riência.riência. Numa palestra proferida em 1964, Rogers descreveu, Numa palestra proferida em 1964, Rogers descreveu, para umpara um público leigo em psicologia, como a compreensão empática podepúblico leigo em psicologia, como a compreensão empática pode ajudar uma pessoa a despertar suas forças internas de crescimento,ajudar uma pessoa a despertar suas forças internas de crescimento, relatando a sua própria experiência pessoal de ser escutado dessarelatando a sua própria experiência pessoal de ser escutado dessa forma empática:forma empática: "Várias vezes em minha vida me senti explodindo diante de"Várias vezes em minha vida me senti explodindo diante de problemas problemas insolúveis insolúveis ou ou andando andando em em círculos círculos atormentadaatormentada mente, mente, ou ainda, ou ainda, em certos em certos períodos, períodos, subjugado subjugado por por sentimensentimen tos de desvalorização e desespero. Acho que tive mais sortetos de desvalorização e desespero. Acho que tive mais sorte do que a maioria, por ter encontrado, do que a maioria, por ter encontrado, nesses momentos, pesnesses momentos, pes soas que soas que foram capazes de foram capazes de me ouvir e assim me ouvir e assim resgatar-me doresgatar-me do caos de meus sentimentos. Pessoas que foram capazes de percaos de meus sentimentos. Pessoas que foram capazes de per ceber o significado do que eu dizia um pouco além do que euceber o significado do que eu dizia um pouco além do que eu era capaz de dizer. era capaz de dizer. Estas peEstas pessoas me ouviram sem julgar, dissoas me ouviram sem julgar, di agnosticar, apreciar, avaliar. Apenas me ouviram, esclarece-agnosticar, apreciar, avaliar. Apenas me ouviram, esclarece- ram-me, ram-me, responderam-me em todos os responderam-meem todos os níveis em que eu meníveis em que eu me comunicava. Posso testemunhar o fato de que quando estamoscomunicava. Posso testemunhar o fato de que quando estamos numa situação psicologicamente dolorosa e alguém nos ouvenuma situação psicologicamente dolorosa e alguém nos ouve sem nos sem nos julgar, julgar, sem sem tentar assumir tentar assumir a a responsabilidade por nós,responsabilidade por nós, sem tentar nos moldar, sem tentar nos moldar, sentimo-nos incrivelmente bem! Nessentimo-nos incrivelmente bem! Nes ses momentos, ses momentos, esta atitude relaxou minha tensão e me permiesta atitude relaxou minha tensão e me permi tiu pôr tiu pôr para para fora os fora os sentimentos que me sentimentos que me atemorizavam, atemorizavam, asas culpas, culpas, a angústia, a angústia, as confusões que tinham as confusões que tinham feito parte defeito parte de minha experiência. ... minha experiência. ... Quando sou ouviQuando sou ouvido, torno-me capaz dedo, torno-me capaz de rever meu mundo e continuar. É incrível como alguns aspecrever meu mundo e continuar. É incrível como alguns aspec tos tos que antes pareciam insolúveique antes pareciam insolúveis tornam-se passíveis de sos tornam-se passíveis de so lução quando alguém nos ouve. É incrível como as confusõeslução quando alguém nos ouve. É incrível como as confusões que pareciam irremediáveis transformam-se em correntes queque pareciam irremediáveis transformam-se em correntes que fluem com relativa facilidade quando somos ouvi fluem com relativa facilidade quando somos ouvidos. " dos. " S7S7 13.3. Congruência:13.3. Congruência: Desde o início da Desde o início da abordageabordagem centrada no cliente, m centrada no cliente, Rogers perRogers per cebera que a aceitação do terapeuta em relação ao cebera que a aceitação do terapeuta em relação ao cliente deveria sercliente deveria ser autêntica, genuína e não simplesmente uma "fachada". Não autêntica, genuína e não simplesmente uma "fachada". Não adiantaadianta ria ao terapeuta "fingir" que confiava nas forças de crescimento doria ao terapeuta "fingir" que confiava nas forças de crescimento do cliente, cliente, pois esta confiançpois esta confiança precisaria ser "real", a precisaria ser "real", ser verdadeirser verdadeira, paraa, para ser eficaz terapeuticamente. Isto é, uma aceitação e uma confiançaser eficaz terapeuticamente. Isto é, uma aceitação e uma confiança apenas aparente, apenas aparente, ou inautêntica, não promoveria a mudança terapêuou inautêntica, não promoveria a mudança terapêu tica. Por este motivo, a genuinidadetica. Por este motivo, a genuinidade (genuineness) (genuineness) ou autenticidade ou autenticidade foi considerada por Rogers como uma atitude essencial para umfoi considerada por Rogers como uma atitude essencial para um terapeuta centrado no cliente.terapeuta centrado no cliente. Entretanto, esta ideia de autenticidade, inadvertidamente, acaEntretanto, esta ideia de autenticidade, inadvertidamente, aca bou gerando uma grave distorção na prática da terapia centrada nobou gerando uma grave distorção na prática da terapia centrada no cliente. Muitos terapeutas entenderam que ser autêntico significavacliente. Muitos terapeutas entenderam que ser autêntico significava dizer ao cliente tudo o que estivesse pensando ou sentindo no modizer ao cliente tudo o que estivesse pensando ou sentindo no mo mento. Assim, terapeutas começaram a "despejar" os seus própriosmento. Assim, terapeutas começaram a "despejar" os seus próprios sentimentos sobre o cliente, justificando esta atitude como uma exsentimentos sobre o cliente, justificando esta atitude como uma ex pressão de "autentipressão de "autenti cidade". A cidade". A fim de evitar efim de evitar este mal-entendido e torste mal-entendido e tor nar mais claro o sentido da genuinidade enquanto atitude terapêutinar mais claro o sentido da genuinidade enquanto atitude terapêuti ca, Rogers passou a utilizar o conceito mais específico deca, Rogers passou a utilizar o conceito mais específico de "congruência"."congruência". Como vimos no capítulo 11, aComo vimos no capítulo 11, a congruência congruência é um estado de é um estado de acordo entre o auto-conceito de um indivíduo e as suas experiênciasacordo entre o auto-conceito de um indivíduo e as suas experiências organísmicas. Uma pessoa está congruente quando as organísmicas. Uma pessoa está congruente quando as suas experiên-suas experiên- 87. Rogers, 1983,pp. 7-887. Rogers, 1983,pp. 7-8 8686 cias podem ser acuradamente simbolizadas na consciência semcias podem ser acuradamente simbolizadas na consciência sem distorções ou negações, ou seja, a pessoa congruente é uma pessoadistorções ou negações, ou seja, a pessoa congruente é uma pessoa sem defesas, aberta à totalidade da sua experiência. Rogers percesem defesas, aberta à totalidade da sua experiência. Rogers perce beu, então, que para o processo terapêutico ser bem-sucedido é nebeu, então, que para o processo terapêutico ser bem-sucedido é ne cessário não apenas que o terapeuta seja genuíno e autêntico. Maiscessário não apenas que o terapeuta seja genuíno e autêntico. Mais do que isso, é necessário que ele estejado que isso, é necessário que ele esteja congruente congruente na relação com o na relação com o cliente. cliente. Se o terapeuta não estiver aberto à experiência de si mesmo,Se o terapeuta não estiver aberto à experiência de si mesmo, isto é, se ele estiver defensivo, se sentindo ameaçado, a suaisto é, se ele estiver defensivo, se sentindo ameaçado, a sua genuinidade não será terapêutica. Se genuinidade não será terapêutica. Se o terapeuta estiver incongrueno terapeuta estiver incongruen te e tentar ser autêntico, ele só vai conseguir expressar ao cliente ate e tentar ser autêntico, ele só vai conseguir expressar ao cliente a percepção de sua experiência distorcida por suas defesaspercepção de sua experiência distorcida por suas defesas 8888. Dessa. Dessa forma, Rogers percebeu que aforma, Rogers percebeu que a congruência congruência do terapeuta é um ele do terapeuta é um ele mento essencial para a promoção da mudança terapêutica no cliente.mento essencial para a promoção da mudança terapêutica no cliente. 13.413.4. Condiçõe. Condiçõe s mais que necessárias: s mais que necessárias: suficientessuficientes Devido ao seu incansável espírito Devido ao seu incansável espírito científico, Rogers procuroucientífico, Rogers procurou defindefinir, de forma mais precisa possível, as ir, de forma mais precisa possível, as condições que seriam necondições que seriam ne cessárias e suficientes para a promoção das mudanças construtivascessárias e suficientes para a promoção das mudanças construtivas da personalidade na relação terapêutica. A partir da sua experiênciada personalidade na relação terapêutica. A partir da sua experiência clínica com as atitudes facilitadoras, e baseado nas pesquisas realiclínica com as atitudes facilitadoras, e baseado nas pesquisas reali zadas por sua equipe na Universidade de Chicago, Rogerszadas por sua equipe na Universidade de Chicago, Rogers 8989 formu formu lou a seguinte hipótese acerca da mudança terapêutica:lou a seguinte hipótese acerca da mudança terapêutica: "Para que "Para que uma mudança construtiva de personalidade ocoruma mudança construtiva de personalidade ocor ra, ra, é necessário que as seguintes condições existam e persistam poré necessário que as seguintes condições existam e persistam por um período de tempo:um período de tempo: 1. Que duas 1. Que duas pessoas estejam em contato psicológico;pessoas estejam em contato psicológico; 2. Que a primeira, a quem chamaremos cliente, esteja num2. Que a primeira, a quem chamaremos cliente, esteja num estado de incongruência, estando vulnerável ou ansiosa;estado de incongruência, estando vulnerável ou ansiosa; 88. Sobre esta distorção no entendimento da genuinidade no contexto terapêutico, sugerimos a leitura do artigo88. Sobre esta distorção no entendimento da genuinidade no contexto
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