Buscar

Processo de liderança e maturidade

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1
PROCESSO DE LIDERANÇA E MATURIDADE EM PROCESSO 
 
Autoria: Vitor Hugo Klein Junior, Francisco Gabriel Heidemann 
 
Resumo 
 
Este artigo é resultado de um estudo de caso que teve por objetivo verificar se o processo de 
liderança promove relações maduras dentro do Grupo de Pesquisa em Práticas Integrativas e 
Complementares do Projeto Amanhecer da UFSC. Partindo da proposição teórica de Sievers 
(1994) sobre a ‘liderança como perpetuação da imaturidade’, foi realizado um levantamento 
sobre abordagens mais recentes, que estudam o fenômeno sob sua característica processual, 
distribuída e relacional (GRONN, 2006; UHL-BIEN, 2006; HOSKING, 2006). Dimensões 
analíticas do conceito de maturidade foram desenvolvidas e, de acordo com as novas 
abordagens de liderança, pressupostos orientadores para o estudo do ‘processo de liderança’. 
Verificou-se que o GPTIC atua como um micro processo imbricado a um macro processo. 
Enquanto o macro processo mantém o equilíbrio cíclico da realidade local, o micro processo 
assume a característica de um processo de liderança por inserir uma nova dinâmica, gerando 
estruturação e mudança. As características relacionais do processo de liderança tendem a 
nivelar as relações no GPTIC, proporcionando uma abertura ao outro impossibilitada por uma 
orientação de teor hierárquico. A relativização do poder e a maior horizontalidade assinalam 
tendência à maturidade, assim como outros indicadores relacionados às dimensões propostas. 
 
1. Introdução 
 
Em retrospectiva, o século XX permite visualizar uma série de transformações envolvendo a 
humanidade. Na teoria organizacional, um dos temas discutidos amplamente nesse século, e 
que não passa incólume perante as mudanças, é o da liderança. O interesse sobre o tema neste 
campo tem seu início em meados da década de 1930, e entre as principais correntes teóricas 
desenvolvidas desde essa época estão: a teoria do grande homem, os estilos de liderança, a 
liderança contingencial, a liderança situacional, a liderança transacional e a liderança 
transformacional. Estas teorias têm em comum a separação entre aqueles que lideram e 
aqueles que são liderados, ou seja, uma noção dual ou dicotômica de liderança (líder-
liderado), e grande parte das pesquisas sobre o assunto ocorrem sob a legitimidade dessa 
tradição. Quando se estuda a liderança, no entanto, há a necessidade de se identificar as 
tendências subjacentes, sutis, históricas e sociais, sob as quais ela opera. Para isso, deve-se 
olhar além da literatura de liderança e administração, que dá ênfase excessiva a quem está 
dentro, procurando olhar os pressupostos subjacentes e os aspectos estruturais que 
influenciam a vida na organização, e como a liderança atua neste cenário (WESTERN, 2008). 
 
Nesta linha, Sievers (1994) trouxe ao debate as questões sobre a maturidade, um conceito que, 
segundo ele, deve ser recuperado na teoria sobre liderança. Dentro das organizações existe um 
processo de perpetuação de imaturidade, processo que, segundo Sievers, ocorre sob a forma 
de um conluio inconsciente entre líderes e liderados, legitimado e perpetuado pelas teorias 
duais de liderança. A imaturidade, nesse caso, diz respeito tanto aos líderes quanto aos 
liderados, pois ambos estão submersos nesta dinâmica inconsciente de relações numa 
realidade social que é construída por ambos. Na versão dual de liderança, em que o líder é 
visto como herói, este acaba sendo continuamente deificado (transformado em deus), e sua 
contraparte – os seguidores – acabam sendo reificados (transformados em coisas), tornando-se 
objetos para consecução da visão daquele. Este processo ocorre por meio de mecanismos de 
introjeção e projeção de maneira mútua e interdependente. Daí o caráter conspirativo, pois a 
deificação de um acontece somente via reificação do outro, e vice e versa. Esta dinâmica 
possui um aspecto cíclico que os prende em uma mútua identificação projetiva, podendo 
 
 2
barrar o seu futuro crescimento e desenvolvimento (KETS DE VRIES, 1999). O resultado, 
conclui Sievers, é a respectiva infantilização da organização, pois na medida em que homens 
e mulheres não são maduros o suficiente, eles se sentem mais confortáveis em se fazerem 
dependentes, ensejando assim estruturas de liderança para suprir essa necessidade de 
dependência. 
 
Para expandir a visão do fenômeno para além da concepção dualista, novas abordagens têm 
sido trabalhadas. Surgem os conceitos de liderança distribuída (GRONN, 2000; GRONN, 
2006), de liderança relacional (UHL-BIEN, 2006) e da liderança como processo de 
construção social (HOSKING, 1999; HOSKING, 2006). Nessas, o fenômeno passa a ser visto 
como um processo assimétrico, ao invés de simétrico, unidirecional ou de sentido top-down 
(WESTERN, 2008). Isto ocorre, pois os membros envolvidos num processo de liderança 
estão num contexto que provê uma distribuição do entendimento, numa situação composta de 
outros atores, artefatos, documentos, símbolos e ferramentas, e da influência dos contextos 
histórico e cultural da organização. A liderança ocorre no trabalho interdependente, e nas 
relações recíprocas e mútuas entre os diversos atores e elementos do sistema. 
 
Esta distribuição pode estar relacionada a uma maior independência dos atores envolvidos no 
processo, os quais em tese demonstrariam maior iniciativa no desenvolver das atividades. 
Entretanto, ainda se faz necessário evidenciar até que ponto este entendimento rompe as 
estruturas de dependência, promovendo a maturidade, ou seja, como o processo de liderança 
pode promover padrões maduros de relações dentro das organizações? Com o objetivo de 
aplicar os novos conceitos de liderança, e contribuir na resposta a pergunta anterior, 
desenvolveu-se uma pesquisa com o Grupo de Pesquisa em Práticas Integrativas e 
Complementares do Projeto Amanhecer, projeto de extensão do Hospital Universitário da 
Universidade Federal de Santa Catarina. Nesse projeto foram abordadas as novas concepções 
de liderança e se verificou até que ponto elas contribuem para a promoção de relações 
maduras dentro do grupo. Isto auxiliou a compreender como os grupos constroem a realidade 
em que operam e como promovem a mudança através da participação dos seus membros, 
vislumbrando possibilidades de rompimento do círculo de imaturidade perpetuado pelos 
‘modelos de liderança’ que criam estruturas de dependência dentro das organizações, 
diminuindo, desse modo, os vieses dicotômicos perpetuadores da imaturidade. Este artigo está 
organizado da seguinte forma: além desta introdução, na seção 2 o conceito de maturidade é 
delimitado; na seção 3, as novas abordagens de liderança são apresentadas; na seção 4, refere-
se a metodologia utilizada; na seção 5, descreve-se a realidade local-história-cultural do 
Projeto Amanhecer; na seção 6; descreve-se o processo de liderança; na seção 7, as dimensões 
da maturidade no processo são descritas; e na seção 8, apresentam-se as conclusões deste 
trabalho. 
 
2. Dimensões da maturidade 
 
O conceito de maturidade tem uma abrangência tal que envolve as diversas capacidades de o 
indivíduo encarar sua realidade externa e interna, e sua capacidade de agir diante do mundo 
que o cerca. Na literatura psicanalítica, de acordo com a teoria de relações de objeto, 
desenvolvida por Melanie Klein (1969), a criança no começo da vida sofre ansiedades 
relacionadas com o instinto de morte e o medo de aniquilação. Durante esta fase, a criança 
opera sob o que ela chama de ‘posição esquizóide-paranóide’, e a este tipo de ansiedade ela 
denomina de ansiedade persecutória. Para suportar esta ansiedade, ela desenvolve 
‘mecanismos de defesa’, como: divisão de objetos em bons e maus, introjeção, projeção, 
idealização, negação onipotente etc. Outra posição identificada pela autora é a ‘depressiva’; 
 
 3
nesta, o objeto é amado apesar de suas partes ruins, enquanto que na ‘posição esquizóide-
paranóide’ a simples consciência das partes ruins transforma o objeto em um perseguidor. Há 
umprocesso de construção do ego que reflete a necessidade de se defender contra as 
ansiedades persecutórias. Tanto a posição esquizóide-paranóide quanto a depressiva 
continuam fazendo parte da psique na vida emocional dos adultos, apesar de Klein identificá-
las em momentos distintos do desenvolvimento da criança. Sievers (1994) relata que autores 
como Elliot Jacques e Isabel Menzies contribuíram na conexão entre os conceitos de Melanie 
Klein ao conceito de ‘mecanismos de defesa social’, para aplicação em contextos sociais mais 
amplos. Daí decorre a hipótese de que os membros da organização compartilham ansiedades 
em comum, criando um sistema de defesa que é internalizado pelos indivíduos. Logo, a 
maneira pela qual as organizações apóiam ou desgastam a capacidade de manter uma 
realidade psicológica de conexão entre pessoas e os eventos ao redor delas, influencia a 
habilidade das pessoas pensarem e colaborarem (KRANTZ, 1998). O estado caracterizado 
pela ‘posição esquizóide-paranóide’ leva a um modelo de pensamento e de experiência 
caracterizado pela culpa, sentimento de bode expiatório, idealização, perseguição e outras 
percepções distorcidas, que comprometem o relacionamento interpessoal e levam a um 
modelo de pensamento rígido e a perda de criatividade. Sob a ‘posição depressiva’, por outro 
lado, os indivíduos experimentam a si mesmos e aos outros como totalmente integrados, 
aumentando a habilidade de integrar experiências, em pensar e em colaborar 
significativamente que vai além da necessidade de sobrevivência e autoproteção. Há um 
‘espaço transicional’ mais considerável entre os membros, no qual novos aprendizados podem 
florescer e novas soluções para problemas podem ser descobertas, pois os atores não se acham 
presos a situações estáticas e novas permutações e combinações são possíveis, envolvendo-os 
num processo que leva ao crescimento e ao desenvolvimento. Esse espaço transicional refere-
se à área intermediária entre mundo interno e mundo externo, identificada por Winnicott 
(1975), a qual mantém a separação destes mundos, ainda que inter-relacionados. 
 
Na literatura organizacional, outros indicadores de tendência à maturidade são sugeridos por 
Argyris (1968) e dizem respeito a: a passagem de um estado mais passivo para ativo; de um 
estágio de dependência para relativa independência, que é a aptidão de manter-se por seus 
próprios meios, reconhecendo as dependências salutares; a capacidade de se conduzir de 
diversas maneiras, em comparação a poucas maneiras quando criança; tendência a eliminar 
interesses caprichosos, ocasionais, superficiais e passageiros; o desenvolvimento de 
perspectivas amplas; evoluir da posição de subordinado para a posição de igual ou 
predominante na relação com os semelhantes; e desenvolver senso de integridade, tendo 
conhecimento e controle de si próprio. Argyris ainda ressalta que estes indicadores não podem 
ser tomados de forma isolada, pois o critério operacional de maturidade não se restringe à 
“capacidade de expressar necessidades maduras, mas simultaneamente permitir que os outros 
façam o mesmo” (p.87). Desse modo, desenvolver a maturidade nas organizações é 
desenvolver a saúde organizacional, como a define Schuyler (2004). É a recíproca 
alimentação que ocorre entre organização e indivíduos que dela fazem parte, pois as 
organizações são projetadas para possibilitar o crescimento de seus membros e os indivíduos 
fazem o seu melhor para melhorar a viabilidade da organização no longo prazo. 
 
A capacidade do ego integrado é análoga ao agir do zoon politikon descrito por Arendt 
(1997). Segundo esta autora, o agir humano articula-se em três formas: a atividade de trabalho 
(animal laborans), o operar (homo faber) e o agir (zoon politikon). A primeira forma, 
correspondente à atividade de trabalho, refere-se ao desenvolvimento biológico do corpo 
humano e está ligada às necessidades produzidas e alimentadas nos processos vitais da própria 
atividade do trabalho. O homo faber, descrito como ser de operação, corresponde à dimensão 
 
 4
não natural da existência do homem e à capacidade deste em operar um mundo artificial de 
coisas, distinto do ambiente natural. O agir do zoon politikon, corresponde à relação direta dos 
homens, sem a mediação das coisas materiais, ou seja, é a condição humana da pluralidade e 
diz respeito a que os homens habitam um mundo de semelhantes; ele não está só e se constitui 
nas suas relações. Pela práxis política, os homens comunicam, não através de objetos, mas 
pela linguagem. A maturidade, então, diz respeito a este aspecto libertador, trazendo ao 
indivíduo um autoconhecimento que o liberta das forças condicionantes de que trata Arendt. É 
uma espécie de equilíbrio entre as forças inconscientes e conscientes, numa vitória ou 
integridade do ego que promove a virtude da sabedoria, virtude que remete a noção da palavra 
grega sophrosyne. Abordada pelos romanos com o nome de temperantia, que mais tarde se 
torna temperança, significa a qualidade ou virtude de quem modera apetites e paixões. É a 
capacidade do indivíduo como mestre de si mesmo e consciente de seus limites, oposto ao 
conceito de hubris (hybris), que traz em sua conotação uma espécie de orgulho excessivo, 
autoconfiança em demasia ou arrogância. 
 
A maturidade, dessa forma, articula-se em algumas dimensões humanas (tabela 1). Ela não se 
encontra somente no indivíduo, mas depende das relações estabelecidas no grupo; também 
tem origens inconscientes que podem determinar parte do comportamento e das relações em 
grupo; e está intimamente relacionada com o agir humano balanceado, reflexivo e 
participativo. 
 
Dimensão Maduro Não Maduro 
 
 
 
 
Individual/Social 
• Atividade 
• Condução de diversas maneiras 
• Interesses não-caprichosos 
• Relativa independência 
• Recíproca alimentação entre indivíduo 
e organização 
• Relacionamentos cooperativos 
• Posição de igual 
• Passividade 
• Condução Limitada 
• Interesses caprichosos 
• Dependência 
• Busca desequilibrada de vantagens 
entre indivíduo e organização 
• Relacionamentos não cooperativos 
• Posição de subordinado 
 
 
 
 
Psicológica 
• Posição Depressiva de Klein 
• Sistema de defesa social maduro 
• Conhecimento e controle de si 
• Maior espaço transicional 
• Perspectivas amplas 
• Integridade do ego 
• Significado às ações 
• Posição esquizóide-paranóide de Klein 
• Sistema de defesa social imaturo 
• Falta de conhecimento e controle de si 
• Menor espaço transicional 
• Perspectiva estreita 
• Baixa integridade do ego 
• Fazer sem significado 
 
Política 
• Agir orientado pelas faculdades de 
julgamento 
• Pluralidade de relações 
• Sophrosyne 
• O agir funcional e condicionado 
• Competição 
• Hybris 
 
Tabela 1. Dimensões da maturidade Fonte: adaptado do referencial teórico. 
 
Estas dimensões foram utilizadas para abordar o processo de liderança no estudo referido 
acima. As novas concepções teóricas e metodológicas sobre a liderança serão apresentadas na 
próxima seção. 
 
3. Liderança – um processo de construção social 
 
Novas abordagens tentam romper com a dicotomia líder-seguidor, estudando o fenômeno 
como um processo que pode ocorrer de forma distribuída (GRONN, 2000; GRONN, 2006), 
relacional (UHL-BIEN, 2006) ou como um processo de construção social (HOSKING, 2006). 
Os fundamentos do construcionismo social, que ancoram a visão relacional, baseiam-se numa 
 
 5
inversão dos valores positivistas resultantes da filosofia cartesiana do conhecimento objetivo, 
na qual o sujeito está isolado do objeto de apreensão (GERGEN; THATCHENKERY, 2004). 
As três principais inversões são: (a) do entendimento de uma racionalidade individual para 
uma racionalidade coletiva, (b) do método empírico para a construção social, ou seja, uma 
mudança do conhecimento empírico independente do mundo existente, para uma em que o 
conhecimento é socialmente construído, e (c) dalinguagem como representação da realidade, 
para a linguagem como ação construtora da realidade. Wood (2005) ressalta duas 
contribuições importantes dos estudos sobre liderança focados em processos: os trabalhos de 
Hosking e colegas (BROWN; HOSKING, 1986; DACHLER; HOSKING, 1995; HOSKING, 
1999; HOSKING, 2006) sobre a ‘perspectiva relacional’, e a definição de Barker (2001) de 
liderança como um ‘processo de mudança transformativa’. A concepção de Hosking (2006) 
de um conceito de construção social é que a realidade não se define quando um indivíduo age, 
mas se (re)constrói no que ela chama de ‘realidades relacionais’. Quer dizer que o discurso 
começa com processos e não com pessoas, e assim Hosking vê as pessoas, a liderança e outras 
realidades relacionais como feitas no processo. Nesse caso a liderança deve ser vista como um 
processo criativo no qual se excede a lógica da identidade e oposição, e no qual atores sociais 
individuais são somente conveniências sintáticas (WOOD, 2005). O sujeito, dentro da 
concepção relacional, constitui-se na ação através da linguagem. A atenção recai sobre os 
processos e como eles constroem, reproduzem e mudam as realidades sociais e os 
relacionamentos. Entretanto, é importante saber que nem todo processo relacional 
necessariamente é um processo de liderança. Segundo Uhl-Bien (2006), sob a perspectiva 
relacional, os processos são de liderança quando a influência social gerada contribui para a 
emergência de uma ordem social (ex. coordenação emergente) e de novas abordagens, 
atitudes, objetivos e outros (ex.: mudança). Há um processo de estruturação e uma orientação 
para a mudança. Ou seja, a liderança é vista como o resultado de uma dinâmica social e não 
como um papel a ser desempenhado na organização. Nesse caso, como abordar o fenômeno? 
Pelo uso de abordagens de autores como Uhl-Bien (2006), Engeström (Collaborative 
intentionality capital), Hosking e colegas (vários), foram estabelecidos alguns pressupostos 
orientadores para o estudo do ‘processo de liderança’. Estes são os seguintes: 
 
a) Orientação ao objeto – É o que pode ser traduzido como a verdadeira motivação do 
grupo. Não se resume a sua missão ou tarefa, mas aos aspectos que transcendem às 
representações mentais individuais dos membros do grupo, de difícil articulação e descrição. 
Como exemplo tem-se o caso do hospital, o qual tem como objeto de motivação a doença, 
conceito de difícil definição e que não obedece, necessariamente, às representações mentais 
dos profissionais e pacientes. Caso a doença não existisse, provavelmente não existiria o 
hospital, pois não haveria sentido para aquela atividade. Assim, a doença não desaparece da 
organização, independentemente de quão bem alguém execute o trabalho no sistema de 
atividade de saúde. 
 
b) Mediação relacional – Refere-se tanto ao conceito proposto por Engeström de ‘Princípio 
da mediação pelas ferramentas e signos’, como ao conceito de ‘ação/suplementação’, ou 
‘texto/contexto’ de Hosking. São todos os artefatos, ferramentas, símbolos e signos, assim 
como a linguagem, que alimentam e fazem parte do sistema em questão, (re) construindo a 
realidade deste. É o caráter mediativo e performativo destes que cria o movimento relacional. 
De acordo com Hosking, todo ‘texto’ é alimentado por um ‘contexto’, o que dá sentido, forma 
e orientação ao primeiro. Assim, tem-se que um ‘texto’ pode ser qualquer ação ou artefato 
disponível para tornar relevante ou irrelevante, significativo ou não significativo, bom ou 
mau, podendo ser conversações, relatórios escritos ou até mesmo uma ação física corporal. 
Todos os atos são tidos como potenciais ‘textos’, e estes devem ser suplementados por 
 
 6
respectivos ‘contextos’, os quais contribuem para um processo intermitente de construção de 
realidades. 
 
c) Constituição mútua de ações e atividades – Refere-se à interdependência entre os 
membros de um sistema na relação destes durante processos de decisão. São definidas duas 
categorias de ação: ‘decisões consequenciais’ – os participantes tratam de ações imediatas, 
circunscritas àquela situação, ou logo a seguir; e ‘visões orientadas’ – os diálogos constroem-
se como orientação de ações que remetem a eventos futuros. 
 
d) Contradições e desvios como fonte de mudança – São as tensões sistêmicas existentes; 
do aspecto dialógico dentro de um sistema de atividade. Não quer dizer o mesmo que 
problema ou conflito. As contradições dizem respeito aos distúrbios e soluções inovativas que 
vão se construindo no decorrer da atividade, pelas quais melhorias incrementais vão 
ocorrendo na emergência de soluções e situações. 
 
e) Realidade local-histórica-cultural – É o locus de ocorrência das relações constituído por 
um background já existente de conceitos que conduzem os relacionamentos. 
 
A seguir apresenta-se a metodologia utilizada no estudo de caso, conforme relatado acima. 
 
4. Metodologia 
 
Conforme anteriormente ressaltado, este artigo é resultado de um estudo de caso qualitativo 
desenvolvido no Projeto Amanhecer, projeto de extensão do Hospital Universitário da 
Universidade Federal de Santa Catarina. A pesquisa qualitativa serve para entender o 
significado das construções das pessoas com o mundo social que as cerca, e ainda como os 
fenômenos são experienciados sob a perspectiva dos participantes (MERRIAM, 1988). Ela 
surge como a melhor alternativa ao se abordar a liderança em uma perspectiva dispersa, na 
qual o processo é difuso e onde se procura entender o contexto em que os atores, atos, 
artefatos, símbolos, ferramentas etc., interagem (BRYMAN, 2004). Com relação à estratégia 
de pesquisa, optou-se pelo estudo de caso, pela especificidade do grupo e organização 
pesquisada e pela complexidade envolvida na questão de pesquisa. Ele caracteriza-se por 
estudar um sistema delimitado, facilitando a compreensão de algo mais amplo (ALVES-
MAZZOTTI, 2006), além do que é um meio de preservar o caráter unitário daquela realidade, 
fornecendo insights e descobertas que podem eventualmente emergir (GODOY, 2006). A 
coleta de dados foi realizada durante os meses de outubro a dezembro de 2008, com o uso dos 
elementos envolvidos na técnica de observação participante, entre os quais, diário de campo, 
anotações, análise de documentos, utilização de informantes, entrevistas com alguns 
participantes e gravação de uma reunião do GPTIC. Foram 05 entrevistados e 18 visitas de 
acompanhamento do dia-a-dia do projeto. As interpretações pautaram-se nos conceitos de 
‘processo de liderança’ e ‘maturidade’. Para isso, foi estabelecido um mapa conceitual para o 
conceito de maturidade dentro de três dimensões: individual/social, psicológica e política, e 
estabeleceram-se pressupostos orientadores do processo de liderança. Durante a análise foram 
categorizados dois eixos processuais distintos, o macro e micro processo. Enquanto o macro 
processo é responsável pelos elementos locais, históricos e culturais que dão sustentação às 
atividades no projeto, o micro processo agrega novos elementos, gerando estruturação e 
orientação à mudança. Mais especificamente, o GPTIC é o micro processo, ou o processo de 
liderança que opera dentro do Projeto Amanhecer. Passamos agora à análise. 
 
 
 
 7
5. Realidade local-histórica-cultural Projeto Amanhecer – macro processo 
 
O PA teve início em 1996, idealizado pela professora doutora em Filosofia da Enfermagem, 
Beatriz Beduschi Capella, e teve como propósito inicial atender aos trabalhadores do Hospital 
Universitário, especialmente os enfermeiros, através de práticas integrativas e 
complementares. Estas são classificadas pela OMS por sistemas e recursos terapêuticos que 
envolvam abordagens que buscam estimular os mecanismos naturais de prevenção de agravos 
e recuperação da saúde por meio de tecnologias eficazes e seguras, com ênfase na escuta 
acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano ao 
meio ambiente e à sociedade (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Em seuinício, o projeto 
levava a alcunha de “Cuidando de quem cuida” e localizava-se dentro do HU. Passados dois 
anos, o projeto foi descontinuado, retomando suas atividades em 2004, desta vez em local 
separado do HU, sob o nome de Projeto Amanhecer, ampliando-se o atendimento para toda a 
comunidade universitária, e moldando-se conforme os seguintes princípios: atendimento 
exclusivo à comunidade acadêmica e atuação por voluntariado. Pautada nesses princípios, 
possui por objetivos: 1) Assistir à comunidade acadêmica da UFSC, através do atendimento 
multidisciplinar, com Práticas Integrativas e Complementares; 2) Implementar programas de 
educação em prevenção e manutenção da saúde; 3) Promover cursos e eventos científico-
culturais ligados à área da saúde; 4) Desenvolver pesquisa no campo das terapias integrativas 
e complementares. O aumento do quadro de terapeutas voluntários evoluiu expressivamente 
desde 2007, ano em que o projeto contava com 35 terapeutas, subindo para 60 em 2008. Isto 
aconteceu, conforme relatos, pelo fato de o projeto ter se desdobrado em ramificações 
(extensões conforme o grupo denomina) ao que eles denominam núcleo. Em 2007 foram 
atendidos 518 pacientes da comunidade universitária, sendo que 185 destes trataram de 
problemas relacionados a estados psicológicos e emocionais. Grande responsável pela 
viabilidade do aumento do número de assistidos é o voluntariado, que é parte da sustentação 
do projeto. Os terapeutas voluntários doam tempo, mas também buscam a gratificação pessoal 
em ajudar o outro, tendo como oportunidade um local para a aplicação de práticas que vão ao 
encontro das suas filosofias pessoais. O relacionamento entre terapeutas e ‘interagentes’ se 
modifica de uma posição médico x paciente, ou provedor x cliente, para uma que vai além do 
plano econômico, isso se verifica até mesmo na denominação ‘interagente’ que substitui a 
concepção de ‘paciente’. O ‘interagente’ busca alívio para seus problemas através da prática 
complementar, e o terapeuta exerce sua especialidade de maneira voluntária, em parte 
altruisticamente e em parte suprindo um desejo de fazer parte, de poder exercer o ofício, ou 
pelo simples prazer de ajudar. Outro fator que marca as relações do grupo PA é a grande 
horizontalidade hierárquica. É difícil situar uma coordenação específica dentro do grupo PA. 
A organização e ordenamento do grupo acontece de forma muito natural e espontânea, e não 
se observa visivelmente a atuação de um chefe, com cobranças diretas, o que leva, em 
princípio, a se interpretar um tipo de autoridade laissez-faire. Pelas características do 
voluntariado, porém, os terapeutas não parecem estar submetidos nem mesmo a esse tipo de 
autoridade, pois além de doarem tempo auferem ganhos pessoais como relatado. 
 
Em termos culturais, observa-se uma espécie de ambiente terapêutico, prevalecendo um 
comportamento sempre zeloso para com os outros, seja com o terapeuta colega, seja com o 
‘interagente’/paciente. Há a impressão de que o tratamento praticado no isolado de cada 
consultório, ultrapassa aquele espaço e tempo e incorpora a cultura local, de maneira a 
interferir na linguagem, pois por todo o ambiente refletem-se símbolos dessa cultura 
terapêutica. Isso pode estar relacionado ao perfil de abertura dos terapeutas nas suas práticas, 
projetando-se no outro e algumas vezes introjetando os problemas alheios, prática necessária 
para o entendimento dos casos. Mesclada a essa cultura terapêutica está uma cultura 
 
 8
espiritual. Momento marcante dessa observação foi quando uma terapeuta recebeu de 
presente uma imagem de um orixá conhecido como Oxóssi, que segundo quem a presenteou 
disse tratar-se do seu pai espiritual. A imagem é a representação do caçador, que 
metaforicamente quer dizer aquele que está sempre em busca do conhecimento, arquétipo 
daquele que busca ultrapassar seus limites, expandir seu campo de ação, e em última análise, 
a expansão maior da vida. Nas antigas tribos africanas, cabia ao caçador, que era quem 
penetrava o “mundo de fora”, a mata, trazer tanto a caça quanto as folhas medicinais. 
Analogamente, a terapeuta está sempre penetrando o “mundo de fora” quando realiza terapias 
espirituais com os ‘interagentes’ do projeto. Desse modo, enquanto a cultura terapêutica gera 
um clima de tranquilidade e amistosidade, a cultura espiritual cria um clima esotérico, 
transcendental e energético, no sentido espiritual. Os laços criados entre os terapeutas 
assemelham-se mais a traços femininos do que masculinos, e a relação maternal entre o 
Projeto Amanhecer e seus membros é prevalecente. Ele atua como uma ‘mãe’ que nutre e 
protege seus terapeutas, criando um clima de conforto, pois como um informante colocou 
certa vez: “é fácil sentir a energia boa quando se está lá”. 
 
Estes elementos locais, históricos e culturais, se mesclam e compõem o que denominamos de 
macro processo, aquilo que mantém o equilíbrio cíclico daquela realidade. O grande grupo – 
PA – possui como orientação ao objeto os problemas físicos, emocionais e espirituais. Estes 
são a grande motivação da continuidade dos trabalhos daquele ambiente, porque por mais que 
haja a cura e a resolução dos problemas, o fato é que se não existissem não haveria motivo 
para a existência do projeto. Desse modo, cada ato tomado naquele contexto deve ser 
alimentado por suplementos que gerem significado e mantenham coesa a orientação do grupo. 
Isso acontece pela intermitente manutenção dos textos/contextos (HOSKING, 2001), que 
funcionam (re) afirmando a ideologia do grupo, (re) construindo a realidade interna do 
projeto. O ambiente, com suas culturas terapêutica e espiritual, é reforçado pelas imagens 
expostas, as quais funcionam como suplementos/contextos, realçando o significado da atuação 
naquele local, pela ligação da história passada ao presente, pelo compartilhamento de casos, 
pela convivência e respeito à pluralidade de intervenções. Para que o projeto tome rumos 
diferentes, é necessário inserir novos contextos ou suplementos. É o que o micro processo faz, 
o qual será analisado a seguir, juntamente com os outros pressupostos do processo de 
liderança descritos neste trabalho. 
 
6. O processo de liderança 
 
A seguir são apresentados recortes transcritos da gravação realizada de uma reunião do grupo 
de pesquisa GPTIC, os quais criam o movimento narrativo desse encontro. A reunião ocorreu 
com membros das duas linhas temáticas de pesquisa os quais buscam realizar um 
levantamento sobre os tópicos temáticos, para gerar um artigo de revisão. Foram discutidos 
aspectos relacionados a questões sobre o ‘foco’ na pesquisa, narrativa denominada aqui como 
busca-pelo-foco. Temas emergentes durante a análise serão apresentados pela separação por 
travessão (separação-por-travessão). 
 
Avelar – vou te dar uma ideia aqui... é porque é assim, a gente pode deixar amplo, a gente pode dizer: 
qual foi... como é que...qual foi o tratamento da argila... pra que ela foi utilizada ou você pode dizer, qual 
a ação farmacológica da argila... entendeu a ideia? Você pode verificar o que? se você desenvolve um 
tratamento em... sei lá... cinesiologia... você pode dizer como foi o tratamento em vários aspectos... legal 
é pegar um aspecto... vou te dar um exemplo: nossa tabela, que a gente fez pra coletar os dados: tem o 
autor, data de publicação, né, onde ele foi publicado, qual que é a espécie do gênero da planta que a gente 
tá coletando, entendeu, bem prático, o composto desta espécie, que faz ter a atividade farmacológica que 
a gente tá procurando. Entendeu? 
Camila – o composto você diz o quê? 
 
 9
Avelar – o composto... 
Daniel – o composto molecular? 
Avelar – é, por exemplo assim, essa phyllanthus amarus aqui tem ação antimicrobiana. O composto que 
faz com que ela tenha essa ação antimicrobiana é o filantim, entendeu, ela tem vários compostos... 
Camila – seria o princípio ativo? 
Avelar – seria o princípio ativo, só que eles chamam de composto no caso. 
Camila – humm...tá. 
Avelar – então quer dizer, a gente tentou resolver o máximo assim... então a gente tem... a gente tem 
cinco categorias, sub-categorias, pra coletar esses dados. Daí a partir daí a gente vai poder fazer várias 
coisas, descrever que, né, vai poder dividir em outras três categorias... estudos in vitro, estudos em 
modelo animal e estudos em modelo humano... a gente vai dividir isso também... aí dá pra fazer em 
gráfico... descrever... e depois, uma coisa que acho legal, é o gráfico de distribuição, entendeu, por 
exemplo do ano de 98 ao ano de 2008. 
 
Avelar reforça a necessidade de delimitar a proposta, não fazendo dela ampla (‘legal é pegar 
um aspecto’). Outro reforço é dado no ‘como’ sistematizar, exemplificada pela ferramenta – 
‘tabela’ – utilizada pelo grupo de Avelar, que além de sistematizar, serve como exemplo 
gerando significado ampliado ao foco buscado. Outros elementos (contextos) surgem para 
agregar significado ao instrumento exemplificado (‘autor’, ‘data de publicação’, ‘onde ele foi 
publicado’, ‘espécie do gênero da planta’ e ‘composto desta espécie’). Algumas orientações 
emergem de acordo com o que se denomina neste trabalho como constituição mútua das 
ações e atividades. Elas aparecem como visões orientadas a partir das definições de Avelar, 
quando ressalta que irão poder ‘fazer várias coisas’,criando, dessa forma, múltiplas 
possibilidades futuras: ‘poder dividir em outras três categorias’, ‘fazer em gráfico’ e 
‘descrever’. Pontos contraditórios surgem conforme abaixo: 
 
Daniel – mas por que é, quando você pensa nisso que vocês estão estudando tem muita publicação. 
Avelar – é... mais ou menos. 
Daniel – esse mais ou menos é quanto? 
Avelar – mais ou menos uns 150, só que daí a gente vai tirar, pra pesquisar só isso, a gente vai tirar uns 
quarenta que prestam, entendeu? 
Daniel – eu tava vendo lá, por exemplo, os de geoterapia que tem ação terapêutica sobre doenças que eu 
procurei, dos meus 20, 30 artigos que eu tinha conseguido, nem sei se é vinte ou trinta, põe 20... oito... ce 
entendeu a diferença? 
Avelar – sim, mas a quantidade não é importante. O importante é o que tu vai observar, entendeu? E até é 
interessante que só tenha oito, que a gente pode ver, daqui, sei lá, oito ou dez anos, quando for fazer outro 
artigo de revisão que, ao invés de ter oito, tem oitenta, entendeu? Por exemplo, o primeiro artigo de 
revisão de phyallanthus, que a gente leu, que era do Adair, antes ainda dele, tinha sete, não, tinha 
dezessete artigos publicados, tinha só dezessete, no do Adair já tinha mais, no nosso vai ter quarenta, 
digamos, que a gente vai poder usar. Isso que é importante ter, o importante é focar mais... 
 
A contradição-quanto-ao-número-de-artigos alimenta outras dúvidas e contradições, 
desviando o assunto da questão do foco, o que não se julga menos importante, pois agrega 
subsídios para o encaminhamento do que o grupo busca. Outras contradições surgem. 
 
Daniel – é, o problema dessa comunicação é que nós agora não falamos mais em branca, verde, amarela... 
Avelar – então, é isso que eu queria dizer... 
Daniel – a gente fala em montmorilonita, ilita, beidelita [nomes de argilas] só ilita... 
Avelar – então, eu dei o exemplo dentro da minha leiguice, entendeu? 
Daniel – é... e que tem que ter uma descrição. 
Avelar – uhum... 
Daniel – tem que ter uma mínima descrição, porque a montmorilonita que o cara usou tem qualidades de 
montmorilonita que são só dela. Porque não é que ele tem uma montmorilonita lá que outro cara tem uma 
montmorilonita na Europa e elas são iguais... elas são totalmente diferentes... o que a gente já percebeu... 
Bernardo – porque muda, né cara... se tiver um átomo de... sei lá... alumínio a mais, já muda, já muda, já 
altera a reação dela, né. 
Avelar – então, isso aí... só isso aí já daria um artigo de revisão... só isso, sabe... 
 
 10
A contradição-quanto-ao-tipo-de-argila, delimita, ao longo da reunião, o campo de atuação. 
Uma decisão consequencial é tomada quando se define o gênero, argila, e a espécie, 
montmorilonita, pois, segundo Daniel, ‘a gente exclui e fica só com o que a gente trabalha’. 
Surge uma crítica relacionada à ‘eficiência’ de uma pesquisa conforme segue: 
 
Ana Rita – agora eu, por exemplo, tenho uma crítica ao fato de cada, ao número da população, porque o 
que indica a eficiência de um processo não é o número da população estudada... 
Daniel – é o método de análise... 
Ana Rita – é o método de análise que se desenvolveu... você pode ter população de mil pessoas, né, e o 
teu método de análise que não é, que não é um método que te permite avaliar, é, mais precisamente, o 
resultado que tu tá avaliando, não adianta nada. O que eu quero dizer é assim, tem mil pessoas, mas se 
você analisa efeito bactericida, efeito de analgésico, efeito disso efeito daquilo, e você não foca em 
nenhum efeito específico, então fica difícil de você saber se o efeito analgésico é, foi eficiente, entendeu? 
então eu não me prenderia muito à perspectiva do passante... [...] no caso, por exemplo, lá do Amapá que 
eu estudei a história da entidade do cipó {ruído} e que que, é as mesmas pessoas, né, por exemplo 
artesãos e agriculturas usavam aquele cipó diferente, de um conceito diferente, então a gente tinha que 
amostrar uma população, mas não podia também, pela própria distância da Amazônia, eu não conseguia 
trabalhar com muita gente, porque aí que tá você trabalha com muita gente quando você tem uma 
oportunidade de acessar arquivos de um sistema, entendeu? E quando você não tem? Isso significa que o 
dado não é bom? Não, se tiver um dado bem especificado, aplicar um bom questionário, é, aí você 
consegue levantar com tanta precisão o tanto quanto. Porque se você tivesse as especificações e aplicar 
num grupo de cem pessoas, você pode ter o mesmo resultado que pra oitocentas, entendeu... 
Daniel – uhum... 
Ana Rita – então acho que é importante trabalhar com número, mas não perder de vista essa visão da 
análise, porque aí com o número acho importante você ressaltar dentro de um... foi questionário, foi 
entrevista, que tipo de método de análise que teve, sei lá, teve um software que trabalha com co-
variâncias, com fatores de... é, com análise multivariável, porque daí você sabe quando se, bom o trabalho 
com análise multivariável o cara tem condições realmente de abarcar os vários fatores que estão 
interagindo ali, aí é importante prestar atenção... 
Daniel – então nesse sentido seria bom colocar o método de análise também como um dos itens? 
Avelar – eu acho interessante... 
 
O elemento ‘eficiência’ – texto – é levantado pela coordenadora, que discorre sobre o que, 
nesse caso, determina-a numa pesquisa. Este, logo se relaciona a ‘método de análise’, ao 
‘dado bem especificado’, a um ‘bom questionário’ e aos exemplos expostos. Eles agregam 
valor ao significado de eficiência e conduzem ao argumento de que se deve ressaltar e ‘não 
perder de vista essa visão da análise’. Gera-se, portanto uma visão orientada, quanto a como 
proceder com a sistematização, evidenciando e deixando claro se ‘foi questionário’, se ‘foi 
entrevista’, o ‘tipo de método de análise que teve’, se teve um ‘software que trabalha com co-
variâncias’ ou com ‘análise multivariável’. O grupo segue dialogando sobre quais elementos 
devem compor a pesquisa. Cabe agora resumir os pressupostos orientadores do processo de 
liderança observado, lembrando que a realidade local-histórica-cultural foi apresentada na 
parte que trata sobre o macro processo. 
 
Orientação ao objeto do GPTIC – O objeto, ou meta orientação do grupo, é a legitimação 
das práticas executadas pelo grande grupo PA, bem como a iniciação dos terapeutas como 
pesquisadores e a execução de um dos objetivos formais do PA. Essa legitimação serve, tanto 
em nível local, para a comunidade que é atendida pelo projeto, como num cenário mais 
amplo, da aceitação das práticas em termos de profissão e academia científica. Logo os 
terapeutas que instituem a pesquisa querem fazerparte dessa iniciativa pioneira, ao mesmo 
tempo em que executam um objetivo formal do PA. Dessa forma, sua orientação ao objeto 
articula-se entre legitimidade, pertencimento e responsabilidade. 
 
Mediação relacional – Enquanto os grupos de pesquisa do GPTIC atuam como 
contextos/suplementos da realidade-local-histórica-cultural, o micro processo que opera nestes 
 
 11
possui dinâmica própria. A narrativa busca-pelo-foco aparece como um texto sendo 
alimentado por diferentes contextos, necessário para que faça sentido e construa uma 
orientação, criando significados compartilhados por todos. Estes contextos aparecem sob a 
forma de questões como ‘senso comum’, ‘sistematização de pesquisa’, pelos exemplos 
apresentados pelos membros, pelas questões de ‘quantidade de artigos’ e ‘tipos de argila’ e 
assim por diante. Importante suplemento que emerge do diálogo é a ferramenta ‘tabela’, que 
surge primeiramente como um exemplo e depois passa a ser construída relacionalmente. 
 
Constituição mútua de ações e atividades – Alguns elementos do processo acabam por 
influenciar decisões e visões do grupo. Visões orientadas aparecem pelos relatos de Avelar, 
quando expõe como exemplo o uso da ferramenta, assim como na discussão sobre eficiência. 
Decisões consequênciais são exemplificadas no modo como o grupo define a sistemática de 
levantamento de dados, na restrição do campo de ação, ou seja, no tipo de argila que deverá 
ser abordado e nos itens que irão compor a ferramenta a ser utilizada no levantamento. Esses 
são elementos particularmente importantes que reforçam aquilo que foi construído em 
conjunto, objetivando mais firmemente as ações subsequentes do grupo e as futuras 
possibilidades alternativas. No caso da narrativa busca-pelo-foco, tais decisões e visões 
englobam aquelas embasadas nas trocas de experiências, nas definições conceituais, nas 
delimitações de ações a serem tomadas e assim por diante. Mais objetivamente, o grupo 
define o modelo de ferramenta para o levantamento dos dados e visualiza as implicações do 
uso desta no modo como ela está configurada, gerando possibilidades e restrições. 
 
Contradições e desvios como fonte da mudança – As duas principais contradições que 
surgem são: a contradição-quanto-ao-número-de-artigos e a contradição-quanto-ao-tipo-de-
argila. Esses desvios e contradições emergem como uma ‘sintonia fina’ de aspectos que 
possam encaminhar o grupo ao ‘foco’ buscado. 
 
O GPTIC, dessa forma, insere uma nova dinâmica no Projeto Amanhecer, mas para que esta 
nova realidade seja institucionalizada é necessário transformar circunstâncias em situações 
compreensíveis em palavras, as quais sirvam como “trampolins” para a ação (WEICK et al., 
2005, p.409). É o poder de inserir novos elementos pelo processo de liderança, que move as 
pessoas a um engajamento no diálogo. Liderança é, pois, o fenômeno que ocorre quando 
indivíduos se engajam num processo interdependente de construção de novos significados que 
movam o grupo para novas direções, alterando o equilíbrio cíclico que opera no macro 
processo. Estes significados servem para construir orientações (como, por exemplo: quais as 
opções de escolha?, que escolhas fazer?) bem como construir resoluções (como, por 
exemplo: que atitudes tomar para resolver problemas?, que atitude tomar para se chegar ao 
ponto da escolha tomada?). Relativizam-se os aspectos de posição, status e hierarquia, e o 
poder pode ser visto de maneira dinâmica. Liderança, assim, não é um conjunto de 
características particulares de um indivíduo, mas a dependente inter-relação entre as pessoas e 
os elementos da linguagem, entendida em seu sentido amplo. 
 
7. A maturidade em processo 
 
A partir do mapa conceitual de maturidade, será explorado nesta seção como o processo de 
liderança, conforme analisado anteriormente, pode conduzir a uma maturidade dos membros. 
 
 
 
 
 
 12
7.1 Dimensão individual/social da maturidade no processo 
 
Verificou-se, no processo de liderança analisado, que os relacionamentos são cooperativos e 
há uma tendência dos membros do grupo a se relacionarem em posição de igualdade. As 
características da cultura terapêutica e espiritual explicada anteriormente e o trabalho 
voluntário reforçam essa horizontalidade. O movimento que o grupo faz, relacionalmente e de 
forma voluntária, leva-o a não estar influenciado pela pressão de uma hierarquia delineada, 
onde se manifestam claramente o status dos cargos e a pressão de um poder mais 
centralizado. Caso houvesse uma hierarquia formal e se utilizasse um modo explanatório 
dicotômico de abordar a liderança, se estaria enfatizando o papel de um indivíduo agindo 
sobre os demais, deixando à margem o aspecto negociado e interdependente entre estes. Desse 
modo, o processo de liderança permite criar possibilidades de se observar e modificar a 
estrutura de relações, não se agindo de maneira causal (Sujeito-Objeto), mas de maneira 
relacional (Sujeito-Sujeito). As relações sujeito-sujeito permitem maior atividade do 
indivíduo dentro da sua comunidade de linguagem, fazendo com que se engaje no processo de 
construção dos significados compartilhados pelo grupo. 
 
Outra implicação, notada pela análise da reunião, é que existe um maior equilíbrio de poder e 
autoridade. Pelo fato de não haver uma hierarquia formal entre os membros, os voluntários 
atuam, em princípio, na mesma posição – posição de igual. Eventualmente, quando os 
aspectos como um conhecimento maior sobre o assunto (especialista informal) se manifestam 
na condução do diálogo, bem como no momento em que a coordenadora (especialista 
legitimada) expressa suas opiniões, as relações tendem levemente a um constrangimento do 
diálogo. Por outro lado, há sempre um movimento a ir em direção ao outro, descaracterizando 
essa especialidade e promovendo uma abertura ao grupo. Isto é parte da alimentação recíproca 
que ocorre no movimento organização/indivíduos. No entanto, este movimento faz parte 
daquela realidade local, não permeada ainda por uma estrutura hierárquica mais formal. Pode-
se especular que na medida em que forem estabelecidas rotinas e papéis mais definidos, possa 
haver tendência a um fechamento do diálogo por parte daqueles, seja por uma necessidade de 
institucionalizar uma visão unificada de futuro, pelo estabelecimento de processos e rotinas 
mais bem definidos, ou pela necessidade de maior divisão do trabalho na medida em que o 
projeto cresça. 
 
7.2 Dimensão psicológica da maturidade no processo 
 
Existe grande ambiguidade em como os conceitos são negociados, os quais se constroem 
relacionalmente. Isso é possível, por existir um ‘espaço transicional’ suficiente que permita 
que essas construções tomem forma. Dessa forma, observam-se diferentes posicionamentos 
no diálogo e, a partir destes, novas relações surgem, podendo influenciar novos 
comportamentos individuais. Ocorre uma espécie de “investigação compartilhada”, na qual 
novos temas, sentidos e entendimentos são conjuntamente produzidos, o que permite o 
desenvolvimento de futuros individualidades (RASERA; JAPUR, 2004, p.436), possibilitando 
que constantemente o indivíduo se construa no diálogo, pois sua identidade pode ser vista de 
maneira mais fluida e dinâmica. Ou seja, um propósito une aqueles indivíduos para discutir 
pesquisa em práticas naturais e, por mais vago que este possa parecer, cada um contribui e 
retira alguma satisfação do processo. 
 
De maneira contrária, pode-se deduzir que o espaço aberto de diálogo e, em contrapartida, o 
‘espaço transicional’, ficariam reduzidos caso ocorresse o que Lacan (1983) denomina de 
‘discurso do mestre’. O discurso do mestre impede a construção de relações tendentes à 
 
 13
igualdade hierárquica, em que exista uma distribuição e equilíbrio de poder. Freud denominou 
esses tipos de relações como ‘relações especularizadas’, nas quais o outro se encontra preso 
na imagem do chefe, líder ou herói. Quando esse discurso ocorre, as relações do diálogo são 
limitadasa construir mitos e ritos de alienação dos sujeitos-objetos, e a força do imaginário 
trabalha em prol da alienação dos sujeitos que se alienam no desejo do outro; não lhes é dada 
oportunidade de falar e expressar seus desejos. Na reunião observada, isso poderia ocorrer 
caso os especialistas usassem seu poder e influência de maneira demasiadamente incisiva, 
impedindo que as construções dos outros membros se manifestassem. 
 
Assim, ao se entender o processo de liderança relacionalmente categoriza-se a dinâmica 
relacional, reifica-se o processo em si e não as pessoas diretamente. A identidade não fixa 
pontos dentro do papel desempenhado pelo indivíduo, pois é mais fluida, e as pessoas criam 
condições de separarem-se linguisticamente do problema, narrativa ou discurso em que estão 
inseridas, possibilitando que se mude a estrutura de relações. Desse modo, maior maturidade 
pode ser alcançada no momento em que essas aberturas a novas narrativas ocorrem, 
deslocando o indivíduo através de tal separação linguística. Quando os participantes de um 
processo de liderança agem relacionalmente, constroem em conjunto o significado. Deve-se 
levar em conta, entretanto, que o grupo analisado possui uma cultura e especificidade próprias 
que o levam a operar dentro de um tipo específico de relação. Acessar a maturidade não pode 
ocorrer sem certo esforço pessoal em absorver novas formas de encarar o mundo externo, 
tentando entendê-lo de maneira menos ameaçadora e, por consequência, dentro de toda 
complexidade e ambiguidade que dele fazem parte. Nesse caso, o processo de liderança 
fornece uma perspectiva relativizada dos papéis, que podem estar rígidos pela percepção 
dicotômica do líder-seguidor, sujeito-objeto, permitindo que a transição do mundo interno 
para o externo ocorra de maneira mais dependente do como se relacionar com o outro sem 
suprimir suas manifestações, tentando impor uma espécie de poder de especialista, de cargo, 
ou seja qual for o elemento que alimente um poder sobre, em vez de um poder com e entre os 
indivíduos . 
 
7.3 Dimensão política da maturidade no processo 
 
Pela observação da reunião realizada, o agir do grupo se configura na ‘ação comunicativa’ 
(HABERMAS, 1987). Isso ocorre pelas ‘interações’, pois, segundo Habermas, é nessa esfera 
que as normas sociais se constituem entre sujeitos, os quais são capazes de comunicação e 
ação. Simbolicamente mediada, as interações se orientam “segundo normas de vigência 
obrigatória que definem as expectativas recíprocas de comportamento e que têm de ser 
entendidas e reconhecidas, pelo menos, por dois sujeitos agentes” (ibid, p. 57). O sentido, 
nesse caso, reside no grupo, e não na imposição causal sujeito-objeto, líder-seguidor. 
Importante notar que o grupo PA utiliza o termo ‘interagentes’ para definir as pessoas que são 
atendidas naquele local. Baseada na escuta aberta e acolhedora, esta relação é incorporada 
pela realidade desde o momento em que se atende, estendendo-se para as relações dentro do 
próprio grupo. 
 
Quando se supera estruturas que possam impedir que a interação ocorra de forma livre, pode-
se proporcionar que as relações entre os membros ocorram com certa maturidade. O 
entendimento da relacionalidade dentro do processo de liderança proporciona esse agir 
reflexivo por parte dos membros desse sistema, influenciando uma relativização das posições 
ocupadas por eles, permitindo que cada um se enxergue nas diversas posições assumidas no 
diálogo. Esse agir comunicativo e a fluidez de identidade que cada um assume possibilitam 
que as relações sejam orientadas para a pluralidade, ao invés da monalidade. 
 
 14
 
Logo, participação e maturidade devem ser entendidas como estreitamente vinculadas. A 
participação deve ser entendida “como um processo social pelo qual grupos ou partes em uma 
empresa se inter-relacionam de maneira a estabelecerem e manterem uma realidade em 
comum” (SIEVERS, 1994, p.57, tradução própria). Esse é o papel do processo de liderança, 
qual seja, construir realidades em comum e promover liberdade de ação política dentro do 
grupo e da organização; criar uma dinâmica criativa e construtiva em sentido amplo. Na 
reunião analisada, pôde-se perceber como o grupo constrói uma realidade em comum quando 
compartilha ideologias, símbolos e significados pela linguagem. Esse movimento percorre um 
eixo dialógico entre o micro e o macro processo, levando os membros a se relacionarem e 
interagirem dentro de um universo simbólico descrito por uma realidade local-histórica-
cultural específica. Ao se entender a circularidade do processo de liderança e desejando que 
determinadas construções individuais e grupais agreguem valor ao resultado final, pode-se 
agir com uma potência relativa desobstruindo a ação comunicativa. 
 
8. Conclusões 
 
No estudo de caso referido, observou-se como dois processos denominados aqui de macro e 
micro processo operam e se articulam. O primeiro é responsável pela construção diária da 
realidade do Projeto Amanhecer, composto por sua cultura terapêutica e espiritual, as quais 
interagem e alimentam ações e suplementações que criam o significado de atuar e ser 
voluntário naquele local. É o que mantém o equilíbrio cíclico daquela realidade, mantendo 
coeso o significado compartilhado pelos membros. Tal equilíbrio é alterado quando se 
incorporam novos elementos que geram uma estruturação e orientação à mudança. Isso ocorre 
pelas ações do micro processo GPTIC, gerando assim um processo de liderança. Há um 
ordenamento que ocorre pela ação comunicativa dos membros, os quais compartilham 
experiências (grupo que pesquisa plantas e grupo que pesquisa geoterapia), em que emergem 
elementos no processo conversacional criando um movimento que oscila entre a dispersão, 
contradição e direção. A busca-pelo-foco é alimentada pelos diversos textos e contextos, 
atos e suplementos, moldando o resultado final da reunião, ou seja, construindo e 
reconstruindo relacionalmente a orientação do grupo. As características relacionais do 
processo de liderança tendem a nivelar as relações, proporcionando uma abertura ao outro 
impossibilitada por uma percepção rígida, quando há papéis mais definidos e uma orientação 
líder-seguidor. O processo de liderança, estudada sob essa abordagem, permite que as 
abstrações criadas para entender o fenômeno como funcionando de maneira causal se diluam, 
desmistificando o papel do líder heroico e humanizando as relações entre os membros, ou 
seja, trazendo o líder endeusado para a posição humana dos iguais e elevando o seguidor da 
esfera das coisas para a esfera dos homens. A liderança, desse modo, passa a ser entendida 
como um fenômeno que ocorre entre pessoas e não de um sobre o outro, logo as projeções e 
introjeções podem ser construídas diferentemente, alimentando-se o discurso que está por trás 
das relações dentro das organizações. 
 
De maneira geral, este trabalho serve para reavaliar, ou pelo menos suspender 
momentaneamente, as concepções ontológicas e epistemológicas relativas ao fenômeno da 
liderança, contribuindo com um novo entendimento da dinâmica relacional envolvida no 
processo. Entretanto, vale refletir nas palavras de Follet (1970, p.138) sobre um dos sentidos 
primordiais da liderança: “se liderança não significa coerção sob alguma forma, se não 
significa controlar, proteger ou explorar, o que ela significa?”, significa libertar, responde a 
autora. Nesse caso, libertar é tirar do caminho os empecilhos para uma relação que ocorra de 
 
 15
sujeito para sujeito, recuperando a humanidade perdida tanto daqueles que foram endeusados 
quanto daqueles que foram coisificados. 
 
 Referências 
 
ALVES-MAZZOTTI, A. J. Usos e abusos dos estudos de caso. Cadernos de Pesquisa, v. 36, 
n. 129, p. 637-651, 2006. 
 
ARGYRIS, C. Personalidade e organização: o conflito entre o sistema e o indivíduo. Rio de 
Janeiro: Agencia Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional, 1968. 
 
ARENDT, Hannah. A condição humana. 8ª ed.Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. 
 
BARKER, R. The nature of leadership. Human Relations, 54, 4, 469-94, 2001. 
 
BROWN, M. H.; HOSKING, Dian Marie. Distributed leadership and skilled performance 
as successful organization in social movements. Human Relations, 39, 1, 65-79, 1986. 
 
BRYMAN, Alan. Liderança nas organizações. in: CLEGG, S.R., HARDY, C. e NORD, 
Walter R., Handbook de Estudos Organizacionais, São Paulo: Atlas, 2004. 
 
DACHLER, H. Peter; HOSKING, Dian Marie. The primacy of relations in socially 
constructing organizational realities. In: Hosking, D. M., Dachler, H.P., & Gergen, K.J., 
eds. Management and Organisation: Relational Perspectives. Ashgate/Aveburry, 1995. 
 
ENGESTRÖM, Yrjö. Collaborative intentionality capital: object-oriented interagency in 
multiorganizational _eds. Center for Activity Theory and Developmental Work Research-
University of Helsink, http://www.edu.helsinki._/activity/people/engestro/, no site. 
 
FOLLET, M. P. The teacher-student relation. Administrative Science Quarterly, v. 15, n. 1, 
p. 137-148, 1970. 
 
GERGEN, Kenneth J., THATCHENKERY, Tojo Joseph. Organization science as social 
construction: postmodern potentials. Journal of Applied Behavioral Science, 40, 228, 2004. 
 
GODOY, A. S. Estudo de caso qualitativo. In: GODOI, C. K.; MELLO, R. B. de; 
SILVA, A. B. da (Ed.). Pesquisa Qualitativa em Estudos Organizacionais. São Paulo: 
Saraiva, 2006. 
 
GRONN, Peter. Distributed properties: a new architecture for leadership. Educational 
Management & Administration: SAGE Publications, vol. 28 (3) 317-338, 2000. 
 
GRONN, Peter. The significance of distributed leadership. BC Educational Leadership 
Research, 7, October 30, 2006. 
 
HABERMAS, J. Técnica e ciência como ideologia. Lisboa: Edições, 1987. 
 
HOSKING, Dian Marie. Social construction as process: some new possibilities for research 
and development. Concepts & Transformation, 4, 2, pp.117-132, 1999. 
 
 
 16
HOSKING, Dian Marie. Not leaders, Not followers: a post-modern discourse of leadership 
processes. In: B.Shamir, R. Pillaoi, M. Bligh & M. Uhl-Bien. Eds., Follower-centered 
perspectives on leadership: A tribute to the memory of James R. Meindl. Greenwich, CT: 
Information Age Publishing, 2006. 
 
KETS DE VRIES, Manfred F. R. What`s playing in the organizational theater? Collusive 
relations in management. Human Relations, Vol.52, No.6, 745-773, 1999. 
 
KLEIN, M. Sobre a identificação. In: Novas Direções na Psicanálise, Parte II. Rio de 
Janeiro: Zahar, 1969. 
 
KRANTZ, J. Anxiety and the new order. In: Leadership in the 21 Century. Madison, CT: 
International Universities Press, 1998. 
 
MERRIAM, S. B. The design of qualitative research. In: Qualitative research and case 
study applications in education. cap. 1, p. 1-34. San Francisco: Jossey-Bass, 1988. 
 
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política nacional de práticas integrativas e complementares no 
SUS - PNPIC-SUS. Ministério da Saúde, Brasília, 2006. 
 
LACAN, J. Seminário I: os escritos técnicos de Freud. Rio de Janeiro: Zahar, 1983. 
 
RASERA, E. F.; JAPUR, M. Desafios da aproximação do construcionismo social ao 
campo da psicoterapia. Estudos de Psicologia, v. 9, n. 3, p. 431-439, 2004. 
 
SCHUYLER, K. G. The possibility of healthy organizations: toward a new framework for 
organizational theory and practice. Journal of Applied Sociology/Sociological Practice, v. 6, 
n. 2, p. 57/79, 2004. 
 
SIEVERS, Burkard. Work, Death and Life Itself: essays on management and organization. 
Berlin, New York: Walter de Gruyter, 1994. 
 
UHL-BIEN, Mary. Relational leadership theory: exploring the social processes of 
leadership and organizing. The Leadership Quarterly , 17, 654-676, 2006. 
 
WEICK, K. E.; SUTCLIFFE, K. M.; OBSTFELD, D. Organizing and the process of 
sensemaking. Organization Science, v. 16, n. 4, p. 409-421, 2005. 
 
WESTERN, Simon. Leadership: a critical text. London: Sage, 2008. 
 
WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Artmed Rio, 1975. 
 
WOOD, Martin. The fallacy of misplaced leadership. Journal of Management Studies, 42:6, 
September, 2005. 
 
 
 
<<
 /ASCII85EncodePages false
 /AllowTransparency false
 /AutoPositionEPSFiles true
 /AutoRotatePages /None
 /Binding /Left
 /CalGrayProfile (Dot Gain 20%)
 /CalRGBProfile (sRGB IEC61966-2.1)
 /CalCMYKProfile (U.S. Web Coated \050SWOP\051 v2)
 /sRGBProfile (sRGB IEC61966-2.1)
 /CannotEmbedFontPolicy /Error
 /CompatibilityLevel 1.4
 /CompressObjects /Tags
 /CompressPages true
 /ConvertImagesToIndexed true
 /PassThroughJPEGImages true
 /CreateJDFFile false
 /CreateJobTicket false
 /DefaultRenderingIntent /Default
 /DetectBlends true
 /DetectCurves 0.0000
 /ColorConversionStrategy /CMYK
 /DoThumbnails false
 /EmbedAllFonts true
 /EmbedOpenType false
 /ParseICCProfilesInComments true
 /EmbedJobOptions true
 /DSCReportingLevel 0
 /EmitDSCWarnings false
 /EndPage -1
 /ImageMemory 1048576
 /LockDistillerParams false
 /MaxSubsetPct 100
 /Optimize true
 /OPM 1
 /ParseDSCComments true
 /ParseDSCCommentsForDocInfo true
 /PreserveCopyPage true
 /PreserveDICMYKValues true
 /PreserveEPSInfo true
 /PreserveFlatness true
 /PreserveHalftoneInfo false
 /PreserveOPIComments true
 /PreserveOverprintSettings true
 /StartPage 1
 /SubsetFonts true
 /TransferFunctionInfo /Apply
 /UCRandBGInfo /Preserve
 /UsePrologue false
 /ColorSettingsFile ()
 /AlwaysEmbed [ true
 ]
 /NeverEmbed [ true
 ]
 /AntiAliasColorImages false
 /CropColorImages true
 /ColorImageMinResolution 300
 /ColorImageMinResolutionPolicy /OK
 /DownsampleColorImages true
 /ColorImageDownsampleType /Bicubic
 /ColorImageResolution 300
 /ColorImageDepth -1
 /ColorImageMinDownsampleDepth 1
 /ColorImageDownsampleThreshold 1.50000
 /EncodeColorImages true
 /ColorImageFilter /DCTEncode
 /AutoFilterColorImages true
 /ColorImageAutoFilterStrategy /JPEG
 /ColorACSImageDict <<
 /QFactor 0.15
 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1]
 >>
 /ColorImageDict <<
 /QFactor 0.15
 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1]
 >>
 /JPEG2000ColorACSImageDict <<
 /TileWidth 256
 /TileHeight 256
 /Quality 30
 >>
 /JPEG2000ColorImageDict <<
 /TileWidth 256
 /TileHeight 256
 /Quality 30
 >>
 /AntiAliasGrayImages false
 /CropGrayImages true
 /GrayImageMinResolution 300
 /GrayImageMinResolutionPolicy /OK
 /DownsampleGrayImages true
 /GrayImageDownsampleType /Bicubic
 /GrayImageResolution 300
 /GrayImageDepth -1
 /GrayImageMinDownsampleDepth 2
 /GrayImageDownsampleThreshold 1.50000
 /EncodeGrayImages true
 /GrayImageFilter /DCTEncode
 /AutoFilterGrayImages true
 /GrayImageAutoFilterStrategy /JPEG
 /GrayACSImageDict <<
 /QFactor 0.15
 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1]
 >>
 /GrayImageDict <<
 /QFactor 0.15
 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1]
 >>
 /JPEG2000GrayACSImageDict <<
 /TileWidth 256
 /TileHeight 256
 /Quality 30
 >>
 /JPEG2000GrayImageDict <<
 /TileWidth 256
 /TileHeight 256
 /Quality 30
 >>
 /AntiAliasMonoImages false
 /CropMonoImages true
 /MonoImageMinResolution 1200
 /MonoImageMinResolutionPolicy /OK
 /DownsampleMonoImages true
 /MonoImageDownsampleType /Bicubic
 /MonoImageResolution 1200
 /MonoImageDepth -1
 /MonoImageDownsampleThreshold 1.50000
 /EncodeMonoImages true
 /MonoImageFilter /CCITTFaxEncode
 /MonoImageDict <<
 /K -1
 >>
 /AllowPSXObjects false
 /CheckCompliance [
 /None
 ]
 /PDFX1aCheck false
 /PDFX3Check false
 /PDFXCompliantPDFOnly false
 /PDFXNoTrimBoxError true
 /PDFXTrimBoxToMediaBoxOffset [
 0.00000
 0.00000
 0.00000
 0.00000
 ]
 /PDFXSetBleedBoxToMediaBox true
 /PDFXBleedBoxToTrimBoxOffset [
 0.00000
 0.00000
 0.00000
 0.00000
 ]
 /PDFXOutputIntentProfile ()
 /PDFXOutputConditionIdentifier ()
 /PDFXOutputCondition ()
 /PDFXRegistryName ()
 /PDFXTrapped /False
 /Description <<
 /CHS <FEFF4f7f75288fd94e9b8bbe5b9a521b5efa7684002000410064006f006200650020005000440046002065876863900275284e8e9ad88d2891cf76845370524d53705237300260a853ef4ee54f7f75280020004100630072006f0062006100740020548c002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e003000204ee553ca66f49ad87248672c676562535f00521b5efa768400200050004400460020658768633002>/CHT <FEFF4f7f752890194e9b8a2d7f6e5efa7acb7684002000410064006f006200650020005000440046002065874ef69069752865bc9ad854c18cea76845370524d5370523786557406300260a853ef4ee54f7f75280020004100630072006f0062006100740020548c002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e003000204ee553ca66f49ad87248672c4f86958b555f5df25efa7acb76840020005000440046002065874ef63002>
 /DAN <FEFF004200720075006700200069006e0064007300740069006c006c0069006e006700650072006e0065002000740069006c0020006100740020006f007000720065007400740065002000410064006f006200650020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e007400650072002c0020006400650072002000620065006400730074002000650067006e006500720020007300690067002000740069006c002000700072006500700072006500730073002d007500640073006b007200690076006e0069006e00670020006100660020006800f8006a0020006b00760061006c0069007400650074002e0020004400650020006f007000720065007400740065006400650020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e0074006500720020006b0061006e002000e50062006e00650073002000690020004100630072006f00620061007400200065006c006c006500720020004100630072006f006200610074002000520065006100640065007200200035002e00300020006f00670020006e0079006500720065002e>
 /DEU <FEFF00560065007200770065006e00640065006e0020005300690065002000640069006500730065002000450069006e007300740065006c006c0075006e00670065006e0020007a0075006d002000450072007300740065006c006c0065006e00200076006f006e002000410064006f006200650020005000440046002d0044006f006b0075006d0065006e00740065006e002c00200076006f006e002000640065006e0065006e002000530069006500200068006f006300680077006500720074006900670065002000500072006500700072006500730073002d0044007200750063006b0065002000650072007a0065007500670065006e0020006d00f60063006800740065006e002e002000450072007300740065006c006c007400650020005000440046002d0044006f006b0075006d0065006e007400650020006b00f6006e006e0065006e0020006d006900740020004100630072006f00620061007400200075006e0064002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e00300020006f0064006500720020006800f600680065007200200067006500f600660066006e00650074002000770065007200640065006e002e>
 /ESP <FEFF005500740069006c0069006300650020006500730074006100200063006f006e0066006900670075007200610063006900f3006e0020007000610072006100200063007200650061007200200064006f00630075006d0065006e0074006f00730020005000440046002000640065002000410064006f0062006500200061006400650063007500610064006f00730020007000610072006100200069006d0070007200650073006900f3006e0020007000720065002d0065006400690074006f007200690061006c00200064006500200061006c00740061002000630061006c0069006400610064002e002000530065002000700075006500640065006e00200061006200720069007200200064006f00630075006d0065006e0074006f00730020005000440046002000630072006500610064006f007300200063006f006e0020004100630072006f006200610074002c002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e003000200079002000760065007200730069006f006e0065007300200070006f00730074006500720069006f007200650073002e>
 /FRA <FEFF005500740069006c006900730065007a00200063006500730020006f007000740069006f006e00730020006100660069006e00200064006500200063007200e900650072002000640065007300200064006f00630075006d0065006e00740073002000410064006f00620065002000500044004600200070006f0075007200200075006e00650020007100750061006c0069007400e90020006400270069006d007000720065007300730069006f006e00200070007200e9007000720065007300730065002e0020004c0065007300200064006f00630075006d0065006e00740073002000500044004600200063007200e900e90073002000700065007500760065006e0074002000ea0074007200650020006f007500760065007200740073002000640061006e00730020004100630072006f006200610074002c002000610069006e00730069002000710075002700410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e0030002000650074002000760065007200730069006f006e007300200075006c007400e90072006900650075007200650073002e>
 /ITA <FEFF005500740069006c0069007a007a006100720065002000710075006500730074006500200069006d0070006f007300740061007a0069006f006e00690020007000650072002000630072006500610072006500200064006f00630075006d0065006e00740069002000410064006f00620065002000500044004600200070006900f900200061006400610074007400690020006100200075006e00610020007000720065007300740061006d0070006100200064006900200061006c007400610020007100750061006c0069007400e0002e0020004900200064006f00630075006d0065006e007400690020005000440046002000630072006500610074006900200070006f00730073006f006e006f0020006500730073006500720065002000610070006500720074006900200063006f006e0020004100630072006f00620061007400200065002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e003000200065002000760065007200730069006f006e006900200073007500630063006500730073006900760065002e>
 /JPN <FEFF9ad854c18cea306a30d730ea30d730ec30b951fa529b7528002000410064006f0062006500200050004400460020658766f8306e4f5c6210306b4f7f75283057307e305930023053306e8a2d5b9a30674f5c62103055308c305f0020005000440046002030d530a130a430eb306f3001004100630072006f0062006100740020304a30883073002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e003000204ee5964d3067958b304f30533068304c3067304d307e305930023053306e8a2d5b9a306b306f30d530a930f330c8306e57cb30818fbc307f304c5fc59808306730593002>
 /KOR <FEFFc7740020c124c815c7440020c0acc6a9d558c5ec0020ace0d488c9c80020c2dcd5d80020c778c1c4c5d00020ac00c7a50020c801d569d55c002000410064006f0062006500200050004400460020bb38c11cb97c0020c791c131d569b2c8b2e4002e0020c774b807ac8c0020c791c131b41c00200050004400460020bb38c11cb2940020004100630072006f0062006100740020bc0f002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e00300020c774c0c1c5d0c11c0020c5f40020c2180020c788c2b5b2c8b2e4002e>
 /NLD (Gebruik deze instellingen om Adobe PDF-documenten te maken die zijn geoptimaliseerd voor prepress-afdrukken van hoge kwaliteit. De gemaakte PDF-documenten kunnen worden geopend met Acrobat en Adobe Reader 5.0 en hoger.)
 /NOR <FEFF004200720075006b00200064006900730073006500200069006e006e007300740069006c006c0069006e00670065006e0065002000740069006c002000e50020006f0070007000720065007400740065002000410064006f006200650020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e00740065007200200073006f006d00200065007200200062006500730074002000650067006e0065007400200066006f00720020006600f80072007400720079006b006b0073007500740073006b00720069006600740020006100760020006800f800790020006b00760061006c0069007400650074002e0020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e00740065006e00650020006b0061006e002000e50070006e00650073002000690020004100630072006f00620061007400200065006c006c00650072002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e003000200065006c006c00650072002000730065006e006500720065002e>
 /PTB <FEFF005500740069006c0069007a006500200065007300730061007300200063006f006e00660069006700750072006100e700f50065007300200064006500200066006f0072006d00610020006100200063007200690061007200200064006f00630075006d0065006e0074006f0073002000410064006f0062006500200050004400460020006d00610069007300200061006400650071007500610064006f00730020007000610072006100200070007200e9002d0069006d0070007200650073007300f50065007300200064006500200061006c007400610020007100750061006c00690064006100640065002e0020004f007300200064006f00630075006d0065006e0074006f00730020005000440046002000630072006900610064006f007300200070006f00640065006d0020007300650072002000610062006500720074006f007300200063006f006d0020006f0020004100630072006f006200610074002000650020006f002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e0030002000650020007600650072007300f50065007300200070006f00730074006500720069006f007200650073002e>
 /SUO <FEFF004b00e40079007400e40020006e00e40069007400e4002000610073006500740075006b007300690061002c0020006b0075006e0020006c0075006f00740020006c00e400680069006e006e00e4002000760061006100740069007600610061006e0020007000610069006e006100740075006b00730065006e002000760061006c006d0069007300740065006c00750074007900f6006800f6006e00200073006f00700069007600690061002000410064006f0062006500200050004400460020002d0064006f006b0075006d0065006e007400740065006a0061002e0020004c0075006f0064007500740020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e00740069007400200076006f0069006400610061006e0020006100760061007400610020004100630072006f0062006100740069006c006c00610020006a0061002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e0030003a006c006c00610020006a006100200075007500640065006d006d0069006c006c0061002e>/SVE <FEFF0041006e007600e4006e00640020006400650020006800e4007200200069006e0073007400e4006c006c006e0069006e006700610072006e00610020006f006d002000640075002000760069006c006c00200073006b006100700061002000410064006f006200650020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e007400200073006f006d002000e400720020006c00e4006d0070006c0069006700610020006600f60072002000700072006500700072006500730073002d007500740073006b00720069006600740020006d006500640020006800f600670020006b00760061006c0069007400650074002e002000200053006b006100700061006400650020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e00740020006b0061006e002000f600700070006e00610073002000690020004100630072006f0062006100740020006f00630068002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e00300020006f00630068002000730065006e006100720065002e>
 /ENU (Use these settings to create Adobe PDF documents best suited for high-quality prepress printing. Created PDF documents can be opened with Acrobat and Adobe Reader 5.0 and later.)
 >>
 /Namespace [
 (Adobe)
 (Common)
 (1.0)
 ]
 /OtherNamespaces [
 <<
 /AsReaderSpreads false
 /CropImagesToFrames true
 /ErrorControl /WarnAndContinue
 /FlattenerIgnoreSpreadOverrides false
 /IncludeGuidesGrids false
 /IncludeNonPrinting false
 /IncludeSlug false
 /Namespace [
 (Adobe)
 (InDesign)
 (4.0)
 ]
 /OmitPlacedBitmaps false
 /OmitPlacedEPS false
 /OmitPlacedPDF false
 /SimulateOverprint /Legacy
 >>
 <<
 /AddBleedMarks false
 /AddColorBars false
 /AddCropMarks false
 /AddPageInfo false
 /AddRegMarks false
 /ConvertColors /ConvertToCMYK
 /DestinationProfileName ()
 /DestinationProfileSelector /DocumentCMYK
 /Downsample16BitImages true
 /FlattenerPreset <<
 /PresetSelector /MediumResolution
 >>
 /FormElements false
 /GenerateStructure false
 /IncludeBookmarks false
 /IncludeHyperlinks false
 /IncludeInteractive false
 /IncludeLayers false
 /IncludeProfiles false
 /MultimediaHandling /UseObjectSettings
 /Namespace [
 (Adobe)
 (CreativeSuite)
 (2.0)
 ]
 /PDFXOutputIntentProfileSelector /DocumentCMYK
 /PreserveEditing true
 /UntaggedCMYKHandling /LeaveUntagged
 /UntaggedRGBHandling /UseDocumentProfile
 /UseDocumentBleed false
 >>
 ]
>> setdistillerparams
<<
 /HWResolution [2400 2400]
 /PageSize [612.000 792.000]
>> setpagedevice

Continue navegando