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Texto 05 Modulo 11 - Cordel O que e literatura de cordel

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O QUE É LITERATURA DE CORDEL? 
Autor: Stélio Torquato Lima 
 
Observação: Os termos em negrito são explicados no final do cordel. 
 
Professor, o que é cordel? 
Perguntam-me aonde vou. 
De tanto responder isso, 
Uma ideia me assaltou: 
O próprio cordel usar 
Pra resposta divulgar. 
E, por isso, aqui estou. 
 
Numa direção contrária, 
Sigo para responder 
A pergunta que me fez 
Este cordel escrever: 
Para o meu leitor fiel, 
Mostro o que não é cordel, 
Para equívocos desfazer: 
 
Não é subliteratura; 
Não fala só do sertão; 
Não só semianalfabeto 
Escreve a obra em questão; 
Nem só rima pobre tem; 
Nem só xilo usa também; 
Não é vendida em cordão. 
 
Cordel é literatura 
Com temas ilimitados. 
Semianalfabeto o cria; 
Também o fazem letrados. 
Qualquer rima pode usar. 
Mil meios tem pra ilustrar. 
De formas mil são comprados. 
 
E há também quem confunda 
O folheto com cordel. 
O primeiro é um suporte, 
Um meio, cujo papel 
É a obra divulgar. 
Num folheto, podem estar 
Prosa e gêneros a granel. 
1 
 
 
Além disso, o cordelista 
Pode se utilizar 
De tantos outros veículos 
Pra sua obra divulgar, 
Como as redes sociais, 
O livro, o CD e mais 
Suportes que desejar. 
 
Após mostrar a vocês 
O que não é um cordel, 
Cabe agora lhes dizer, 
Com um relato fiel, 
O que ele é de fato. 
E cumpro, de imediato, 
O meu honroso papel. 
 
Cordel é gênero poético 
Cuja origem é popular. 
É narrativo, em geral, 
Histórias vem a contar. 
Mas pode ser descritivo 
Ou ser argumentativo. 
O autor pode optar. 
 
O cordel é popular 
Mesmo não sendo o autor. 
Pois é a perspectiva 
Que determina, leitor, 
A popular condição. 
À guisa de ilustração, 
Dou exemplo encantador. 
 
No Auto da Compadecida, 
Quem faz papel de vilão? 
O Diabo, um fazendeiro, 
Um mau bispo e um patrão. 
Gente que, em outros tempos, 
Opressão e contratempos 
Traziam à população. 
 
O revanchismo poético 
Se vê no cordel, assim: 
Os “inimigos do povo”, 
2 
 
Gente bem torpe e ruim, 
São punidos e enganados 
Em cordéis muito engraçados 
Ou até sérios, enfim. 
 
Agora quero tratar 
Das origens do cordel, 
Questão que tem suscitado 
Polêmicas, sim, a granel. 
Sem entrar no mérito disso, 
Cumpro este compromisso 
De informar e ser fiel. 
 
Com os colonizadores, 
Chegou o gênero altaneiro. 
E, com o tempo, o cordel 
Transformou-se por inteiro, 
Adaptando-se ao povo, 
A um cenário bem novo, 
Ao contexto brasileiro. 
 
Na Europa, era cordel 
Por ser em corda exibido. 
Era melhor visto assim, 
Ajudando a ser vendido. 
Era assim, reforço eu, 
No continente europeu, 
Que fique bem entendido. 
 
À forma de venda, assim, 
O termo se referia. 
Pois, na forma e conteúdo, 
Um padrão não existia: 
Textos em prosa ou em verso 
Com intuito bem diverso 
Naquelas obras se via. 
 
Histórias tradicionais, 
Rezas, hagiografias, 
Receitas usando ervas, 
Populares poesias... 
Tudo isso e muito mais 
Se vendiam nos varais 
Naqueles distantes dias. 
3 
 
 
Mas, aos poucos, no Brasil, 
Ele foi padronizado: 
Ganhou regras, estrutura, 
Foi muito modificado. 
De modo comercial, 
Virou gênero, afinal, 
Como já foi destacado. 
 
Pra que o cordel europeu 
Tivesse transformações, 
Tanto o índio quanto o negro 
Deram contribuições 
De indiscutível valia 
Pro cordel ganhar, um dia, 
Novas configurações. 
 
Ora, as lendas dos silvícolas 
(Que são de grande beleza), 
A religiosidade, 
Seu saber da natureza 
E outros itens da cultura 
Deram à literatura 
Do povo grande beleza. 
 
Da mesma forma, a cultura 
Que tem matriz africana 
Levaram ao nosso cordel 
Muita coisa bem bacana, 
Como a arte de narrar 
Dos griots, gente sem-par, 
Linguagem e fé soberana. 
 
Uma primeira mudança 
Que no Brasil se operou 
Foi na forma de vender 
O gênero que aqui chegou, 
Pois, em vez de usar barbante, 
O poeta itinerante 
Outros modos inventou. 
 
Muitas vezes, viajando 
Para as cidades de trem, 
Precisava de uma forma 
4 
 
Que facilitasse bem 
Levar as obras pras feiras. 
Escolheu duas maneiras, 
Que eu informarei também. 
 
O surrão foi o primeiro, 
Pondo no saco de pano 
As obras que venderia, 
Tal como era seu plano. 
Na feira, punha no chão, 
Sobre o citado surrão, 
Essas obras o fulano. 
 
A segundo era uma mala 
Com o interior dividido 
Pra distribuir as obras 
Que ele havia trazido 
Para o público comprar. 
Uma estratégia exemplar 
Usava o homem sabido: 
 
Na minha infância, inda vi 
Um vendedor de cordel 
Bater com vara na mala 
E gritar: “Vai, cascavel!” 
Curiosidade de sobra 
Levava à “mala da cobra” 
O público do menestrel. 
 
Com muitos em volta dele, 
A mala, o poeta abria. 
Dele tirava um cordel 
E, com vigor, com energia, 
Um trecho só recitava 
Do cordel que apresentava 
Para a plateia que ouvia. 
 
Usar o surrão e a mala 
Tinha uma vantagem a mais: 
Quando alguém gritava: “O Rapa!”, 
Por temer que os fiscais 
Levassem a mercadoria, 
Guardava na correria 
As obras, deixando os tais. 
5 
 
 
Chamavam-se folheteiros 
Os incríveis vendedores 
Que divulgam os cordéis 
Aos potenciais leitores. 
Mestres na recitação, 
Com gestos e entonação, 
Davam ao texto mil cores. 
 
Nem todos eram poetas; 
Alguns apenas vendiam 
As obras que os cordelistas 
A eles distribuíam. 
É ofício em extinção. 
Já no outro mundo estão 
Muitos dos que assim viviam. 
 
Por não usarem barbantes 
Pra venda do que criavam, 
Os primeiros cordelistas 
De “cordel” nunca chamavam 
O poema popular. 
Cabe, assim, aqui citar 
Alguns dos nomes que usavam: 
 
“Foiêto”, “livrim de feira”, 
“Romance”, “abc”, “folhinha”, 
“Livro de estória matuta”, 
“Livro de antiga historinha” 
“Estória do meu padim”, 
“Arrecife”, “livrozim”... 
É grande esta lista minha. 
 
Só pelos anos sessenta 
Do século XX, passado, 
Foi que o nome de “cordel” 
Passou a ser adotado 
Pela força de Cantel, 
Que veio estudar cordel 
Em nosso país amado. 
 
O cordel regras possui, 
Sendo gênero de poesia, 
Assim como a ode, a trova, 
6 
 
O soneto, a elegia. 
Vejam, leitores leais: 
Tendo 10 versos, jamais 
Soneto a obra seria. 
 
Da mesma forma, nem tudo 
Que se diz cordel, o é. 
Se não seguir suas regras, 
Fica sem cabeça e pé. 
Eu não sou nenhum purista, 
Porém cabe ao cordelista 
Não remar contra a maré. 
 
Porque, de fato, o cordel 
Tem regras bem definidas: 
Eis uma: os versos da obra 
Possuem iguais medidas: 
Conte as sílabas do primeiro; 
Ficam, até o derradeiro, 
As quantidades mantidas. 
 
Sete sílabas têm em geral 
(A redondilha maior). 
Alguns utilizam cinco 
(A redondilha menor). 
E há linhas decassílabas, 
Com dez poéticas sílabas 
(Regras pra saber de cor). 
 
Com quatro tipos de estrofes 
São escritas as “folhinhas”: 
Com quatro versos, a quadra; 
A décima, com dez linhas; 
Com seis versos, a sextilha, 
Com sete versos, setilha 
(Como nestas linhas minhas!). 
 
Há somente uma exceção: 
Se o cordel for de peleja, 
Os gêneros da cantoria 
São dados numa bandeja 
Para seu uso a granel. 
É possível, em tal cordel, 
Que nova estrofe se veja. 
7 
 
 
Também carece insistir 
Ao meu leitor neste instante: 
Não se utiliza em cordel 
A dita rima toante. 
Da tônica até o final, 
Deve a rima ser total; 
Deve ser, pois, consoante. 
 
A rima, a estrofe e o metro, 
Do cordel, pilares são. 
Além delas, é preciso 
Cuidar bem da oração, 
Que nos diz da coerência 
Das ideias em sequência, 
Pondo o bom senso em ação. 
 
Ainda está sem resposta 
Uma instigante questão: 
Qual o primeiro cordel 
Publicado na nação? 
Respostas são provisórias, 
Mas informações notórias 
Algumas pesquisas dão. 
 
1808 
É a data da chegada 
Aqui da Real Família. 
Nesse ano, é instalada 
A tipografia aqui. 
Somente a partir daí 
Publica-se, camarada. 
 
Dizem que já existiam 
Alguns cordéis manuscritos, 
Os quais circulavam aqui, 
Mesmo alguns sendo proscritos. 
Mas qual cordel brasileiro 
Foi publicado primeiro? 
Na mesma pergunta insisto. 
 
Já no século retrasado, 
Publica-se, em 36, 
O cordel Pedra do Reino, 
8 
 
Disse Ariano uma vez. 
Porém, não se sabe nada 
Dessa obra mencionada, 
Informo já pra vocês. 
 
Do ano 65 
Do século retrasado,Testamento dum macaco, 
Em Recife, é publicado. 
Até nova descoberta, 
Com a data clara e certa, 
É o mais velho lançado. 
 
Esse cordel é anônimo, 
Não sabemos seu autor. 
Acerca dos cordelistas 
Conhecidos, meu leitor, 
Santaninha é pioneiro 
Do bom cordel brasileiro, 
Cabendo a ele o louvor. 
 
No Rio Grande do Norte, 
Nasceu esse cordelista. 
Pro Ceará se mudou, 
Onde virou grande artista 
Da rabeca e poesia. 
Para o Rio, então, partia, 
E admiração conquista. 
 
Co’ A Guerra do Paraguai; 
O imposto do vintém; 
A seca do Ceará; 
Russinho e outras também, 
Ele batalhava sério 
Lá na capital do Império 
Pra que se exibisse bem. 
 
Mesmo não sendo o primeiro 
A poemas publicar, 
Leandro Gomes de Barros 
É o poeta popular 
De maior honra e laurel, 
Sendo ele o “pai do cordel” 
Por sua obra exemplar. 
9 
 
 
Mais de 600 folhetos 
Publicou o cordelista, 
Obras muito admiráveis 
Que estão no topo da lista 
Pela qualidade incrível. 
Estão neste alto nível 
Estes cordéis desse artista: 
 
Têm O cachorro dos mortos, 
Juvenal e o dragão, 
Testamento do cachorro, 
Testamento de Cancão, 
O soldado jogador, 
A filha do pescador, 
Casamento a prestação. 
 
A qualidade que impôs 
À poesia popular 
Tornou Leandro um modelo, 
Um cordelista exemplar: 
Regras ele consagrou, 
E referência deixou 
Pra quem quer lhe acompanhar. 
 
Foi vital para afirmar 
Este gênero literário. 
Já João Martins de Athayde, 
Dito “poeta-empresário”, 
Veio a ser fundamental 
Para o êxito editorial 
Do gênero extraordinário. 
 
Determinou como as capas 
Podiam ser ilustradas; 
Também definiu os tipos 
De histórias apresentadas; 
Redes de distribuição 
Criou. As vendas, então, 
Foram bastante ampliadas. 
 
Outro grande pioneiro 
Veio a ser Chagas Batista. 
Criou o primeiro cânone, 
10 
 
Publicando o grande artista 
A primeira antologia 
Com cada um que ele via 
Como grande cordelista. 
 
A filha desse poeta, 
A Maria Pimentel, 
Foi a primeira mulher 
A publicar um cordel. 
Deu-se em mil e novecentos 
E trinta oito. Atentos, 
Guardem a data fiel. 
 
O violino do Diabo 
É o cordel referido. 
Foi assinado com o nome 
Do seu esposo querido, 
Que era Altino Alagoano. 
A razão? De pronto, explano, 
Cumprindo o que é devido. 
 
Naquele tempo, leitor, 
O machismo dominava. 
Mesmo filha dum poeta 
E mulher de quem cantava, 
Temia não ser aceita. 
Na obra por ela feita, 
Assim, pseudônimo usava. 
 
Hoje em dia, felizmente, 
Não mais hesita a mulher 
A assinar suas obras 
Com o nome que quiser. 
Mentalidades machistas 
Combatem as cordelistas, 
E aplaudi-las é mister. 
 
Entre os tipos de cordel, 
Cito as biografias, 
Os ABC, de gracejo, 
De cangaço, fantasias, 
Fenômenos da natureza, 
De heroísmo, de esperteza, 
De pelejas (Cantorias). 
11 
 
 
Também destaco as figuras 
Que mais nos cordéis estão: 
O padrinho padre Cícero, 
Cangaceiro Lampião, 
E vão nos mesmos caminhos 
O Diabo e amarelinhos 
(Como João Grilo e Cancão). 
 
Mais recentemente, surge 
Uma ranzinza figura: 
Seu Lunga, o qual entrou na 
Popular literatura 
Com o Abraão Batista, 
Xilógrafo e cordelista 
Processado àquela altura. 
 
Julgo agora interessante 
Falar dos pontos centrais, 
Principais características 
Do cordel, que é bom demais. 
A primeira que eu aponto 
É que ele é como o conto, 
E isso detalho mais: 
 
Os dois têm poucos conflitos, 
E têm pequena extensão. 
Poucas personagens têm, 
Poucos locais com ação. 
É curto o tempo nos dois. 
Por esses motivos, pois, 
Têm grande aproximação. 
 
Pra narrar em poucas páginas, 
É bem sucinto o poeta: 
Evitando os “arrodeios”, 
Sua linguagem é direta. 
No necessário focando 
E a trama simplificando, 
O poeta alcança a meta. 
 
Diálogo co’ a oralidade 
É outra característica: 
Bem comum é a presença 
12 
 
Duma variante linguística 
Distante da norma culta 
Em que o regional avulta 
Como construção artística. 
 
Como já falado, tem 
Perspectiva Popular. 
Além disso, como a fábula, 
Tem um viés exemplar: 
Sempre o bom é premiado 
E o mau é castigado 
Pra lições disseminar. 
 
O Nordeste como palco; 
Um mundo entre Bem e Mal; 
Rejeição aos flashbacks, 
Co’ o cordel tradicional 
Tendendo ao conservadorismo, 
Com críticas ao modismo 
E a ênfase na moral. 
 
Sua religiosidade 
Tem caráter popular: 
Bem mais do que a liturgia 
Que Roma vem a pregar, 
Segue uma combinação 
De fé e superstição, 
Algo que quero ilustrar: 
 
Padre Cícero e Conselheiro, 
Pela Igreja, excluídos, 
Foram beatificados 
Por romeiros convencidos 
Do ideal de seus profetas. 
Deles, viraram os poetas 
Porta-vozes destemidos. 
 
Toda área do saber 
O cordelista visita. 
Das bases da identidade, 
Trata de forma bonita. 
As variantes linguísticas 
E as fórmulas artísticas 
Traz de maneira irrestrita. 
13 
 
 
Por isso, é uma fonte 
Pro estudo da oralidade. 
E ajuda a trabalhar 
Com a criatividade. 
Tanto valores morais 
Como temas sociais 
Trata com ludicidade. 
 
Não é sem motivo que, 
Como nunca se viu antes, 
O cordel é trabalhado 
Pra motivar estudantes 
A amarem a leitura, 
E nossa literatura 
Chega às salas mais distantes. 
 
Trouxe aqui um panorama 
Sobre a obra popular. 
Há muitas obras teóricas 
Pra quem quer se aprofundar. 
E digo ao leitor fiel: 
Leia mais e mais cordel, 
E você vai se encantar. 
 
FIM 
 
 
VOCABULÁRIO: 
 ABC: Modalidade de cordel em que cada estrofe se inicia com uma letra diferente, 
obedecendo-se a sequência alfabética (a primeira estrofe se inicia com a letra A, a 
segunda com o B, etc.). 
 Abraão Batista: Poeta, xilógrafo, gravador, escultor e ceramista cearense. Nasceu 
em Juazeiro do Norte em 1935. Como cordelista, o marco inicial de seus trabalhos 
é o ano de 1968, quando o Papa São Paulo VI cassou 44 santos católicos. 
Aproveitou-se do fato e tomou como mote para escrever A entrevista de um jornalista 
de Juazeiro do Norte com os 44 santos cassados. É autor do folheto de grande sucesso O 
homem que deixou a mulher para viver com uma jumenta na Paraíba. Foi o primeiro a 
escrever um cordel protagonizado pelo ranzinza seu Lunga, que o processou. O 
cordel, de 1982, chamou-se As histórias de seu Lunga, o homem mais zangado do mundo. 
 Amarelinhos: Também chamados de “quengos” ou “quengos lixados”, se 
referem aos sertanejos em geral muito pobres e fracos fisicamente mas que são 
donos de uma notável astúcia, a qual utiliza para contornar a pobreza enganando 
14 
 
os outros (com frequência ricos ou o Diabo). Exemplos de amarelinhos do cordel 
são Cancão de Fogo, João Grilo, Chicó e Pedro Malasartes. 
 Ariano: Dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta e professor paraibano cujo nome 
completo era Ariano Vilar Suassuna. Nasceu em 1927 e faleceu em 2014. Foi o 
idealizador do Movimento Armorial. Escreveu várias obras, entre as quais se 
destacam Auto da Compadecida (1955), O santo e a porca (1957) e Romance da Pedra do 
Reino (1971). 
 Auto da Compadecida: Peça publicada pelo paraibano Ariano Suassuna em 
1955. A obra tem como base cinco cordéis: O testamento do cachorro (de Leandro 
Gomes de Barros), História do cavalo que defecava dinheiro (também de Leandro), O 
castigo da soberba (de Anselmo Vieira de Souza), A peleja da alma (de Silvino Pirauá 
de Lima) e As proezas de João Grilo (de João Ferreira de Lima). Em 1999, a peça 
recebeu adaptação de grande sucesso para a televisão. 
 Biografias: Cordéis que descrevem fatos relevantes e/ou pitorescos de 
personalidades históricas ou contemporâneas. 
 Cangaço: Modalidade de cordel cujo foco recai sobre a figura de cangaceiros 
famosos, como Maria Bonita, Antônio Silvino, Corisco e Dadá, Sinhô Pereira, 
Jesuíno Brilhante e, principalmente, Lampião. 
 Cantel: Trata-se de Raymond Cantel (1914-1986), importante pesquisador francês 
sobre a literatura popular brasileira. Dirigiu o Instituto de Estudos Portugueses e 
Brasileiros da Sorbonne Nouvelle. Suas viagens para o Brasil tiveram início em 
1959, quando, a partir do Ceará, passou a ter contato com poetas populares, 
cantadores e xilógrafos. Dessa forma, reuniu um acervo vastíssimo, contandocom 
muitas obras raras. Esse acervo contribuiu depois para a criação da maior 
cordelteca da Europa, constituindo-se hoje em um importante polo de pesquisa 
sobre o cordel. 
 Chagas Batista: Nascido na Vila do Teixeira, PB, em 1882, e falecido em João 
Pessoa, em 1930, Francisco das Chagas Batista ingressou no cordel em 1902 com 
o folheto Saudades do sertão. Em 1913, fundou a Livraria Popular Editora, editando 
paródias, modinhas, novelas, contos, poesia, e se firmou como um dos intelectuais 
da época. Em 1929, publica o livro Cantadores e poetas populares, uma antologia 
imprescindível para a pesquisa em literatura popular em verso por conter as mais 
antigas e confiáveis informações sobre esta forma poética e sobre alguns dos 
principais autores da época. 
 Consoante: É o tipo de rima em que há a coincidência integral de todos os sons 
a partir da vogal tônica da última palavra de dois versos. Também pode ser 
chamada apenas de soante. Exemplo: Caderno e Inverno. 
 Décima: É assim denominada a estrofe que possui dez versos. Seu esquema 
rimático é o ABBAACCDDC (Ou seja, não há nenhum verso branco, todos 
rimam). É bastante comum nas cantorias de viola. 
 Esperteza: É o cordel que tem como personagem principal um “amarelinho” 
sabido, que contorna a pobreza enganando os ricos (ou o Diabo). É a fraqueza 
vencendo o poder através da astúcia. Essa modalidade também inclui obras ligadas 
15 
 
ao ciclo do demônio logrado, ou seja, que trazem histórias em que o demônio é 
enganado por um humano, geralmente um sertanejo simples, mas astuto. 
 Estrofe: É cada bloco de versos de um poema. Uma estrofe é separada de outra 
através de um espaço em branco. É também chamado de estância. Nos cordéis 
(excluindo os de peleja), as estrofes utilizadas são as quadras, as sextilhas, as 
setilhas e as décimas. 
 Fantasias: Cordéis que tratam de reinos encantados e/ou de lugares nos quais 
coisas fantásticas podem ocorrer a qualquer momento, muitas vezes sendo 
povoados por fadas, gênios e bruxas. 
 Fenômenos da natureza: Também chamados de “cordéis de intempéries”. São 
aqueles que tratam dos grandes fenômenos da natureza que causam destruição e 
sofrimento humano, como as secas, as inundações, os terremotos e os furacões. 
 Gêneros da cantoria: Bastante influenciados pela cantoria de viola, os cordelistas 
herdaram muitas modalidades utilizadas pela cantoria, as quais estão presentes nos 
cordéis de peleja. Entre os vários gêneros da cantoria, incluem-se o martelo 
agalopado, o galope à beira-mar, o gabinete, etc. Quando o instrumento é o 
pandeiro, tem-se ainda o coco de embolada, entre outros. 
 Gracejo: De um modo geral, diz respeito aos cordéis cujo objetivo principal é 
produzir o riso. Entram nessa categoria os cordéis sobre figuras caricatas, como o 
seu Lunga. 
 Griot: Figura importante na estrutura social da maioria dos países da África 
Ocidental, os quais, sendo ágrafos até a chegada dos colonizadores europeus, o 
tinham como guardião da tradição oral do povo, um especialista em genealogia e 
na história do seu povo. Formam uma casta especial, e são cantores e dançarinos 
cuja função primordial é a de informar, educar e entreter. É uma figura semelhante 
ao repentista no Brasil, assumindo uma posição social de destaque em seu meio, 
sendo considerado mais do que um simples artista. Distinguia-se dos akpalôs por 
estes serem mais decoradores e contadores de estórias. No Brasil além dos griots e 
dos akpalôs, as histórias de origem africana eram também contadas pelas mulheres 
negras, muitas das quais eram destacadas para a função de babás dos filhos dos 
proprietários de terras. 
 Hagiografia: Relato da vida dos santos, geralmente repleto de histórias 
fantasiosas. 
 Heroísmo: Cordel que trata das façanhas de indivíduos que se destacam pela 
coragem, pela fé ou pela pureza de sentimentos. 
 João Martins de Athayde: Este poeta e empresário nasceu em Ingá do 
Bacamarte, Paraíba, em 1880, e faleceu em Limoeiro (PE), em 1959. Publicou o 
seu primeiro folheto em 1908, impresso na Tipografia Moderna: Um preto e um 
branco apurando qualidades. Em 1909, montou uma pequena tipografia, passando a 
imprimir folhetos. Em 1921, adquiriu os direitos de publicação de toda a obra de 
Leandro e iniciou a re-publicação. Inicialmente, se indicava como editor e, 
posteriormente, passou a retirar a informação da autoria de Leandro. É com 
Athayde que se realizam profundas mudanças, incluindo a padronização dos 
16 
 
folhetos pelo número de páginas em múltiplos de quatro. Foi Athayde também 
que teve a ideia de ilustrar as capas do cordéis, que até então traziam apenas o 
título e o nome do autor (capa cega), com cartões postais ou fotos de artistas do 
cinema. 
 Juvenal e o dragão: Por imposição do metro, o título foi resumido. A obra 
chama-se História de Juvenal e o dragão. 
 Leandro Gomes de Barros: Nascido em 1865, no sítio Melancias, na Paraíba 
Leandro foi o primeiro poeta a viver exclusivamente do cordel, tendo escrito cerca 
de mil poemas, distribuídos em cerca de seiscentos folhetos. A qualidade de sua 
obra fez com que se tornasse referência para a definição das características do 
cordel, razão pela qual veio a ser merecidamente considerado o “pai do cordel 
brasileiro”. Faleceu em 1918, aos 53 anos de idade. 
 Lendas dos silvícolas: Muitas histórias de origem indígena já foram transpostas 
para o cordel, como a lenda da mandioca, a criação da noite e a lenda do guaraná. 
Mais do que isso, a relação do índio com a natureza serviu muitas vezes de espelho 
para os cordelistas escreverem obras. 
 Linguagem (afrodescendente): Muitas palavras de origem africana aparecem no 
cordel. Mais do que isso, muito do “falar nordestino” presente no cordel deriva 
da maneira de como os escravos “suavizaram” a língua portuguesa, 
“corrompendo” o léxico para criarem termos como “passarim”, “meninu”, “leiti”, 
“nêgo”, “cumê”, “tá”, “tô”, “lôco”, “cantaro” [em vem de “cantaram”], etc. 
 Lunga: Comerciante que viveu por muitos anos em Juazeiro do Norte e que se 
celebrizou pelo “pavio-curto”, dando respostas atravessadas a quem lhe faziam 
perguntas que julgava absurdas ou demasiado óbvias. Tornou-se figura recorrente 
no cordel, principalmente os escritos no Ceará. 
 Maria Pimentel: Nasceu em João Pessoa, Paraíba, em 1913. Seu nome completo 
era Maria das Neves Batista Pimentel. Além de O violino do Diabo, também publicou 
O corcunda de Notre Dame, inspirado no romance homônimo de Victor Hugo, e O 
amor nunca morre, inspirado no romance Manon Lescaut, do Abade Prévost. Faleceu 
em 1994. 
 Menestrel: Na Idade Média, designava o artista da corte ou ambulante que, a 
serviço de senhores, recitava e cantava poemas em versos, frequentemente com 
acompanhamento instrumental. Por extensão, passou a designar qualquer poeta 
ou músico que divulga, cantando ou declamando, poemas ou músicas próprios ou 
alheios. 
 Metro: É a quantidade de sílabas poéticas de cada verso. No cordel, o metro 
predominante é a redondilha maior, assim denominado o verso com sete sílabas 
poéticas. 
 Oração: No cordel, diz respeito à clareza e precisão das frases, levando em conta 
fatores como: coesão (boa ligação entre as frases); coerência (a precisão e a lógica 
das ideias); fidelidade ao tema; apuro histórico das afirmações, etc. Ou seja, como 
diz o ditado popular, oração é “dizer coisa com coisa”. Contraexemplo é o poeta 
e cantador Zé Limeira, cujas obras eram sempre marcadas pelo non sense. 
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 Pedra do Reino: Por imposição do metro, o título do cordel informado por 
Ariano Suassuna foi resumido. A obra, segundo o dramaturgo, chamava-se 
Romance da Pedra do Reino. 
 Peleja: Modalidade de cordel que narra disputas poéticas entre dois cantadores 
renomados com o fim de demonstrar quem é mais hábil na arte do repente. 
 Quadra: Estrofe de quatro versos. Foi bastante utilizada nos inícios do cordel, 
tendo seu uso decaído com o tempo. Nas quadras, há a obrigatoriedade da rima 
em pelomenos dois versos (o segundo com o quarto). Difere da trova, que, 
embora também escrita com quatro versos, é uma estrofe única, trazendo 
obrigatoriamente rima em todos os versos (esquema ABAB ou ABBA). 
 Rapa: Designação popular para os fiscais e/ou policiais designados pelos prefeitos 
para apreenderem (“raparem”) mercadorias de vendedores ambulantes não 
licenciados. 
 Revanchismo poético: Termo cunhado pela professora e pesquisadora francesa 
Martine Kunz para designar o uso da poesia popular como forma de “vingança” 
contra os inimigos do povo (políticos corruptos, patrões exploradores, fazendeiros 
truculentos e arrogantes, etc.). 
 Rima: É a repetição de um mesmo som ou conjunto de sons (fonemas). No caso 
do cordel, só são aceitas as coincidências sonoras absolutas entre todos os 
fonemas que se localizam a partir das sílabas tônicas das últimas palavras dos 
versos. É um fenômeno sonoro, e não gráfico. 
 Rima pobre: É aquela cuja sonoridade está presente em um grande número de 
palavras. Designa também pelo uso de palavras que rimam pertencentes à mesma 
categoria gramatical. Exemplos: papel/mel; mão/pão; cantar/amar; feira/cadeira. 
 Saber da natureza: O conhecimento de ervas medicinais, a capacidade de se 
deslocar na floresta, etc. são saberes que os índios detêm e que foram bastante 
explorados na literatura de cordel. 
 Santaninha: Nascido em 1827, no Rio Grande do Norte, e falecido em data e 
lugar desconhecidos, o poeta e rabequista João Sant’Anna de Maria já publicava 
cordéis na década de 70 do século XIX, antecedendo Leandro Gomes de Barros 
em pelo menos quase duas décadas, visto que o “pai do cordel” só começou a 
publicar seus cordéis a partir de 1889. Entre os cordéis de Santaninha, contam-se: 
Guerra do Paraguai; Imposto do vintém; O célebre chapéu de sol de Sua Majestade o Imperador 
e A seca do Ceará. 
 Semianalfabeto: O trecho faz alusão ao fato de que muitos dos cordelistas 
pioneiros tinham pouca (ou nenhuma) escolaridade. Alguns, aliás, se alfabetizaram 
deletreando cordéis, como ocorreu com João Martins de Athayde e com Manuel 
Caboclo. Hoje, com a massificação do acesso às escolas, semianalfabetos 
escrevendo e publicando cordéis é um fenômeno cada vez mais raro. 
 Setilha: É assim denominada a estrofe de sete versos. Nesse tipo de estrofe, 
aparecem dois grupos de rimas: um entre os versos 2, 4 e 7; e outro entre os versos 
5 e 6. Os versos 1 e 3, consequentemente, ficam brancos, ou seja, sem rima. É 
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basteante usado em cordéis de humor devido ao ritmo sincopado produzido pela 
rima emparelahada dos versos 5 e 6. 
 Sextilha: É a estrofe formada por seis versos. A sextilha clássica apresenta rima 
apenas nos versos pares (segundo, quarto e sexto versos). Joseph M. Luyten, em 
O que é literatura de cordel, informa que, até 2005, 80% dos cordéis tinham sido 
escritos em sextilhas. 
 Testamento de Cancão: Por imposição do metro, o título foi resumido. O título 
da obra, originalmente publicada em dois volumes, é Vida de Cancão de Fogo e o seu 
testamento. 
 Testamento dum macaco: Por imposição do metro, o título foi resumido. A 
obra, tida como o primeiro cordel com data de publicação conhecida (1865), 
chama-se Testamento que faz um macaco especificando suas gentilezas, gaitices, sagacidade, etc. 
 Toante: É a rima em que só há coincidência de sons entre as vogais (ou conjunto 
de vogais) das sílabas tônicas que se encontram em posição inicial (proparoxítona) 
ou medial (paroxítona). Exemplo: “Palmeira” com “gorjeiam”, rima toante 
presente na primeira estrofe “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias. 
 Violino do Diabo: Trata-se esse cordel de Maria das Neves Batista Pimentel, cujo 
subtítulo é Ou o valor da honestidade, de uma adaptação do romance homônimo de 
Victor Pérez Escrich. Apesar de a maioria dos pesquisadores apontarem-no como 
sendo o primeiro cordel publicado pela autora, há outros que afirmam ter sido O 
corcunda de Notre-Dame, adaptação do romance homônimo publicado pelo francês 
Victor Hugo e que ela teria publicado em 1935, três anos antes, portanto, de O 
violino do Diabo. 
 Xilo: É a abreviatura de “xilogravura”, assim denominada a arte e a técnica de 
fazer gravuras em relevo sobre madeira. Como ocorre com os carimbos, a referida 
gravura escavada na madeira é depois coberta por tinta para ser transposta para o 
papel (ou outra superfície). O primeiro uso da xilogravura para ilustrar capas de 
cordéis que se tem notícia se deu em 1907, quando uma figura do cangaceiro 
Antônio Silvino estampou a capa do cordel “A História de Antônio Silvino”, de 
Chagas Batista. No entanto, só a partir da década de 30 do século passado o uso 
da xilo passou a ser frequente nas capas dos cordéis nordestinos.

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