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ANÁLISE SOBRE OS SUJEITOS PRONTO

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ANÁLISE SOBRE OS TIPOS DE SUJEITOS: GRAMÁTICOS X LÍNGUISTAS 
 
Angela da Silva Ferreira 
Daiane de Carvalho Andrade1 
 
A Gramática Tradicional teve suas raízes no ocidente a partir da língua grega, é 
considerada como o conjunto de normas e regras que regem a estrutura de um idioma. 
Na Língua Portuguesa, esta é tida como a variedade linguística mais prestigiada, por 
ser o dialeto pertencente a classe dominante, sendo seguida pelas instituições de 
ensino. No entanto, há conceitos trazidos por esta que não são mais usados pelo 
falante do Português, isso se deve ao fato da língua falada sofrer mudanças ao longo 
do tempo, essas transformações são objetos de estudo da sociolinguística. 
É possível destacar também, alguns enganos nos conceitos trazidos pela Gramática 
Tradicional normativa, isso se deve por conta da “ausência de conscientização 
adequada do importe teórico das afirmações que constituem a gramática”, como 
afirma Perini (2002, p.13), segundo o autor, esses equívocos são causados pela 
separação entre a teoria tradicional e prática de análise concreta das sentenças. 
Traremos à discussão das concepções de sujeitos produzidas pela GT, que é um 
desses deslizes cometidos por essa corrente linguística, associando com algumas 
ideias da gramática descritiva da língua na ótica dos linguistas: Perini (2002) e Bagno 
(2007). 
Refletindo sobre todas as conceituações de sujeito existentes em diversas gramáticas, 
fazendo uma ênfase principal a aquelas que são usadas em sala de aula, pode-se 
concluir que esses métodos não dão conta de definir adequadamente os pontos a 
serem aprendidos, havendo incoerência interna e inconsistência teórica, ou seja, são 
metodologias que são tradicionais e que não condizem com a realidade atual. 
Na escola, aprendemos que o sujeito é aquele que pratica a ação e o verbo é 
designado como a ação desempenhada por ele. Porém, ao nos depararmos com 
 
1 Estudantes do curso de Letras com Habilitação em Lingua Portuguesa – UNEB Campus XXII - Euclides da 
Cunha-BA. 
sentenças as quais o sujeito é paciente ou este termo não está presente na oração, 
deduzimos que há uma contradição nesse conceito. 
A partir disso, Castilho (2014) declara: “tais dificuldades derivam da natureza tríplice 
de tudo aquilo que é reconhecida como sujeito: o sujeito sintático, o sujeito discursivo 
e o sujeito semântico”. Segundo este autor, o primeiro termo está voltado a estrutura 
formal, este pode estar na ordem direta (SV) ou na ordem indireta (VS), ditará a 
concordância do verbo, substituível por um pronome e também pode ser ocultado na 
sentença. 
Existem muitos argumentos sobre o fato da colocação do sujeito, alguns consideram 
a ordem direta como a mais regular e lógica que condiz com a organização do 
pensamento, sendo a ordem de base frequentemente usada como exemplo nos 
estudos desses conteúdos na escola. já, a ordem indireta é vista como irregular e 
como sentido suspenso e a qual se origina da ordem direta. 
Berlinck questiona sobre a ocorrência dessas mudanças afirma que: “quanto maior é 
a chance de o sintagma nominal ser interpretado como uma função que não a de 
argumento externo do verbo, menor é a probabilidade de que ele ocorra na ordem VS” 
(apud, Castilho, 2014, p.293), ou seja, quanto mais sentenças sem objeto direto, mais 
a frase será formada por sintagma verbal e depois sintagma nominal. 
Um caso que não segue essa condição, tornando difícil a observação de sujeito é nas 
orações compostas por gerúndio, as quais não trazem desinência de número e 
pessoa, mas mesmo assim apresenta um sujeito, como por exemplo na frase: 
a) Larissa chegando, a festa vai começar. 
Dessa forma, ao primeiro olhar que tivermos nessa frase indicaríamos que nela não 
existe sujeito, pois o verbo não está concordando com nenhum dos termos, porém por 
meio de várias concepções que examinam essas sentenças a partir do fato óbvio de 
se antepor ao verbo “Larissa” estará desempenhando a função de sujeito. 
A gramática normativa, afirma que os termos essenciais da oração são: o sujeito e 
predicado. Macambira (2001) reforça que sem esses termos não há “sentido 
linguístico da palavra”. Vejamos sobre essa questão, o que foi retirado em um livro 
didático de ensino médio, organizada por Campedelli e Souza (2002): “Sujeito é o ser 
que se diz alguma coisa ou o termo a que se refere o predicado, caracterizando-se 
como o termo que rege ou comanda o verbo”. 
Segundo essa definição o predicado estará sempre em torno do sujeito, sendo este 
último o responsável por formar a concordância do núcleo do predicativo. Podemos 
dizer que essa afirmação pode ser usada para todos os tipos de sujeito? 
Constatamos a contradição da primeira afirmação de Macambira (2001), quando o 
próprio diz em seguida, que: 
As orações como contam muita história, com o verbo na terceira pessoa do 
plural e significação indefinida, bem como falou-se muito do caso, com verbo 
não- transitivo direto, têm sujeito indeterminado, mas têm um sujeito que se 
possa identificar. 
Estas orações comportam as perguntas quem? Ou o quê?, e portanto reagem 
linguisticamente sob o aspecto do sujeito: 
Quem conta muita história? 
Quem falou muito do caso? 
cuja a resposta pode ser alguém, o povo , a gente, nós ou cousa semelhante. 
(p.163) 
 
 Assim, percebemos que a GT é falha neste conceito, pois traz uma regra que não se 
aplica a todos os sujeitos, e para preencher essa lacuna, acrescenta regras 
específicas aos demais termos. Deste modo para a GT, de acordo com Luft (2002), o 
sujeito pode ser: 
 Simples: quando é composto por apenas um núcleo substantivo. Ex: Maria 
ganhou um carro. 
 Composto: formado por dois ou mais núcleo substantivo, concordando com o 
verbo em número. Ex: Charles e eu formos ao mercado. 
 Indeterminado: o sujeito não está implícito, mas pela desinência do verbo é 
identificado: (eles) Comeram todo o bolo da festa. 
 Inexistente: não há sujeito em orações com verbos impessoais. Ex: Há dez 
anos; Choveu muito em Euclides da Cunha semana passada. 
 
Acerca dessas discordâncias, Perini (2002) reitera que tais regras impostas pela 
gramática são ignoradas, até mesmo pelos seus seguidores, na análise das sentenças 
que não seguem a lógica da mesma. Além disso, O linguista atesta que há duas 
doutrinas que se deve levar em conta no exame de um enunciado, denominadas: 
DGEx (“doutrina gramatical explicita) determinadas pelas regras da GT e DGImp. 
(“doutrina gramatical implícita”) que se dá pela nossa consciência na pratica da análise 
gramatical. Sobre isso, o professor afirma: “aprendemos, mas não a levamos a sério. 
Identificamos o sujeito da maneira que sentimos ser a mais adequada, muito embora 
isso nos coloque em choque com a DGEx” (2002, p.17). 
Ainda, considerando as afirmações vagas que são trazidas nos livros didáticos, torna-
se necessário refletirmos sobre a seguinte frase: “Esse bolo eu não vou comer”, ao 
analisar essa oração segundo as exposições supracitadas destacaríamos o “ Eu” 
como o sujeito dessa sentença, porém a partir de uma reflexão imediata estimulada 
pela doutrina gramatical implícita teríamos o “bolo” como o termo que refere ao que 
está instituído pelo predicado. Isso o que acabamos de intricar faz sentido sobre o que 
Perini (2002) contesta sobre os choques entre a definição e análise existentes nas 
gramáticas usadas em sala de aula, as quais se tornam vagas quando são 
aprofundadas. 
Sobre o sujeito discursivo, tratado pela GT normativa no livro didático Português 
projetos de Faraco & Moura, afirmam que “ sujeito é o termo de que se declara alguma 
coisa, e o predicado é o que se declara a respeito do sujeito” (2005, p.476). Portanto, 
supomos que o sujeito é o que está sendo referido na frase. Porém, se consideramos 
a sentença: 
(a) Laís pegou a flor do jardim. 
Observamos que o sujeito é “Laís” pois, declaraque ela pegou algo, mas há também 
outra declaração nesta frase que é “ a flor do jardim foi pega”, como afirma Amorim 
(2003). 
Um outro importante ponto a ser frisado é o caso das orações sem sujeito, embora 
não possua esse elemento, possui uma declaração, como declara Perini “quando 
enfrentam a tarefa de encontrar o sujeito de uma oração, sempre analisam orações 
como chover como não tendo sujeito, muito embora, como vimos, tais orações possam 
perfeitamente fazer declarações” (2002, p.16). 
Bagno (2007), explicita que ao pensarmos sujeito, também temos que atentar ao 
conceito metafísico, pois se nos atentarmos somente o que está sendo declarado, 
teremos problemas ao analisarmos: 
(1) Nesta sala cabem muitas pessoas. 
Se tivermos de analisar esse enunciado com base na definição tradicional, 
seremos obrigados a classificar como sujeito o elemento SALA, já que é 
sobre a sala que s e está ‘dizendo alguma coisa’ [..]. Ora, todos sabemos que 
no enunciado (1) o sujeito é DUZENTAS PESSOAS, porque, numa 
declaração propriamente linguística, o sujeito é o termo sobre o qual recai a 
predicação da oração e com o qual o verbo concorda. (BAGNO, 2007, p.64) 
 
Contrapondo com a citação acima de Faraco & Moura (2005), Perini (2002, p.57) traz 
a definição de tópico, o pesquisador afirma: “ é o termo sobre o qual se faz uma 
declaração “, ressaltando que a GT, além de dar importância a forma deve-se também 
considerar a função, no sentido de proporcionar ênfase ao conteúdo apresentado no 
discurso. 
O sujeito semântico classificado por Castilho (2014) como: “ o constituinte sentencial 
cujo referente é responsável pela ação expressa pelo verbo”. É o que percebemos 
em: 
(b) Tiago dirigiu seu carro ontem. 
Logo, inferimos que “Tiago ´o sujeito” pois é elemento que pratica a ação “dirigiu” do 
verbo, ou seja, ele é o agente na oração. Porém, há sentenças as quais o sujeito não 
pratica a ação, designado passivo, pois é este quem recebe a ação. Como no exemplo 
abaixo: 
(c) Laís foi perseguida por uma Vaca. 
Nesse enunciado inferimos que o sujeito é “Laís”, no entanto, não é ela quem pratica, 
mas recebe a ação, isso indica o equívoco da regra que trouxemos no início. Além 
disso, há verbos que não expressam semanticamente ação, chamados impessoais, 
empregados nas Orações sem sujeito, nesse caso a GT denomina o sujeito como 
inexistente. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Com base no que analisamos pudemos compreender a ineficiência de aprendizados 
concretos que a gramática tradicional oferece para estudos de sujeito em sala de aula, 
visto que, temos uma gramática internalizada em nossas cabeças que denota um 
sistema de regras diferente se comparada à gramática que aprendemos na escola ao 
aprofundarmos e refletirmos os enunciados. 
No entanto, destacamos que essas contradições dadas a partir do processo superficial 
e sem embasamento da teoria adequada dos gramáticos que compõem esse suporte 
pedagógico, além disso, algumas vezes temos professores que não estão habilitados 
a simplificar essas definições dos conteúdos. 
Sendo assim, é importante os gramáticos e todos os responsáveis pela constituição 
das gramáticas tradicionais usadas em sala de aula relacionarem ao estudo de sujeito 
trazido por Perini, apresentando a ocorrência do sujeito para várias situações, dessa 
forma os alunos não ficarão desnorteados quando encontrarem frases que não 
estejam com os sujeitos bem explícitos na frase. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
AMORIM, Edna M. Ribeiro. Sujeito: uma questão mal resolvida pela gramática 
tradicional. Sitientibus, Feira de Santana, n.29, p29-40, jul./dez. 2003. 
BAGNO, Marcos. Nada na lingua é por acaso: por uma pedagogia da variação 
línguistica. São Paulo: Editora Parábola, 2007. 
BAGNO, Marcos. Português ou Brasileiro?: um convite à Pesquisa 
FARACO, Carlos Emílio; MOURA, Francisco. Português: Projetos. São Paulo: Ática, 
2005. 
LUFT, Celso. Moderna Gramática brasileira. 2ª ed. São Paulo: Globo, 2002. 
MACAMBIRA, José Rebouças. A estrutura morfossintática do Português. São 
Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. 
PERINI, Mário. Gramática descritiva do Português. São Paulo: Ática,2002. 
PERINI, Mário. Para uma nova gramática do Português. São Paulo: Ática, 2002.

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