Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FOCUSCONCURSOS.COM.BR Processo Penal| Material de Apoio Professor Rodrigo Sengik PROVAS EM ESPÉCIE – INTERROGATÓRIO DO ACUSADO 1) INTERROGATÓRIO DE QUEM MESMO? As regras que serão vistas aqui foram fixadas pelo CPP para o interrogatório do acusado, termo restrito ao imputado na AP. Assim, são regras a serem observadas lá na AP. Porém, antes de chegarmos na AP, é possível que o suspeito da prática de infração penal tenha sido ouvido no IP. Nesse caso, a pergunta é: essas regras são utilizadas pelo Delegado ao ouvir o investigado ou indiciado? A resposta está no artigo 6º, V, do CPP, que, em outras palavras nos diz: sim, vamos usar as regras do interrogatório do acusado também no IP quando formos escutar o investigado/indiciado, naquilo que for aplicável, sempre se considerando as particularidades da fase inquisitória. 2) NATUREZA JURÍDICA DO INTERROGATÓRIO DO ACUSADO! Se a gente considerar somente a posição do tem dentro do CPP, vamos dizer que o interrogatório do acusado é apenas mais um meio de prova. Porém, é inegável que é nesse momento que a ampla defesa se perfaz com maior força, pois é quando o réu da AP toma ciência de tudo que lhe está sendo imputado e pode, se quiser, manifestar a autodefesa (ou permanecer calado). Diante disso, foi fixada a natureza mista do interrogatório do réu, eis que ele era visto, ao mesmo tempo, como meio de prova e meio de defesa. Porém, atualmente, a grande maioria da doutrina indica o interrogatório do acusado como meio de defesa apenas, de modo que até a natureza mista ou híbrida foi deixada de lado. Nesse momento, penso que essa deve ser sua resposta. Mais do que isso: você de pensar no interrogatório do acusado como meio de defesa, o que pode orientar suas conclusões diante das pegadinhas que possam aparecer pelo nosso caminho. 3) LOCAIS PARA O INTERROGATÓRIO DO ACUSADO Se o réu estiver solto, será interrogado pelo Juiz, no fórum mesmo. Mas e se o réu estiver preso? Nesse caso, temos 3 situações diversas: Seu interrogatório deve ser realizado no estabelecimento em que estiver recolhido, em sala própria, desde que garantida a segurança do Juiz, do MP e dos Auxiliares da Justiça, assegurada a presença do Defensor e a publicidade do ato – esta é a regra para réus presos. Videoconferência pode? Pode! Mas é excepcional, de modo a precisar de decisão fundamentada, intimação das partes com 10 dias de antecedência e desde que: não seja possível observar a regra acima (que diz que o réu preso deve ser ouvido no estabelecimento em que estiver recolhido); estejam presentes uma das seguintes hipóteses legais previstas no artigo 185, §2º, do CPP: prevenção de risco à segurança pública, quando houver fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa; prevenir risco à segurança pública, quando o acusado puder fugir; quando houver relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal; impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas por videoconferência; gravíssima questão de ordem pública. DOIS DETALHES IMPORTANTES AQUI! 1. O primeiro ponto que a gente tem de ressaltar diz respeito à fiscalização da sala de videoconferência. Veja o que diz o artigo 185, §6º, do CPP: Artigo 185, § 6º, do CPP. A sala reservada no estabelecimento prisional para a realização de atos processuais por sistema de videoconferência será fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de cada causa, como também pelo Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do Brasil. 1 FOCUSCONCURSOS.COM.BR Processo Penal| Material de Apoio Professor Rodrigo Sengik 2. O segundo ponto relevante é que, no caso de videoconferência como prevista pelo CPP, são necessários dois defensores ao acusado. Um fica no fórum, ao lado do Juiz, outro, no estabelecimento prisional, ao lado do acusado. Ademais, é garantido acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência do fórum, e entre este e o preso. Fora destas situações, se não possível se seguir a regra, ou seja, se não houver sala própria no estabelecimento em que o réu estiver recolhido, ele será ouvido no fórum – eis a escolta! DIREITO DE ENTREVISTA PRÉVIA! É muito importante você saber que, independentemente de onde o interrogatório efetivamente venha a ocorrer, o acusado tem o direito de entrevista prévia com seu defensor, seja esse constituído, dativo ou Defensor Público. Então, antes de começar a audiência, é dada ao réu a possibilidade de conversar reservadamente com aquele que fará sua defesa técnica. 4) FASES DO INTERROGATÓRIO E O DIREITO AO SILÊNCIO O interrogatório do acusado segue o procedimento BIFÁSICO. Simplificadamente, fala-se que o interrogatório tem duas fase. A primeira é sobre a pessoa do acusado (interrogatório de qualificação). A segunda é sobre o fato em foco (interrogatório de mérito). É entre essas fases que o Juiz alerta o acusado de que ele tem Direito ao Silêncio. Por isso, classicamente, fala-se que o direito a ficar calado só atinge a segunda fase do interrogatório, ou seja, aquela que versa sobre os fatos. Lembre-se, ainda, que o Direito ao Silêncio faz parte da ampla defesa. Ele é a não manifestação da autodefesa. Logo, a autodefesa pode ser dispensada – obviamente, somente pelo próprio acusado -; de modo que o réu tem direito de permanecer calado sem que isto seja interpretado, de qualquer modo, contra ele. DETALHE IMPORTANTE: O INTERROGATÓRIO É O ÚLTIMO ATO DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO! Por quê? Para que o réu tenha total ciência do que lhe estão imputando e possa, portanto, utilizar o interrogatório da melhor maneira possível para sua defesa. É daqui que se extrai que o interrogatório do réu tem, além da natureza de meio de prova, natureza de defesa. A ordem da instrução fica assim: 1) declarações do ofendido, 2) oitiva das testemunhas de acusação, 3) oitiva das testemunhas de defesa, 4) esclarecimentos dos peritos, 5) acareações, 6) reconhecimento de pessoas e coisas, 7) por fim, o interrogatório do réu. Mais um detalhe: há procedimentos específicos que deslocam o interrogatório dentro da instrução. De acordo com o STF, a norma que tira o interrogatório do réu da última posição dentro da instrução é inconstitucional. Este é o caso, por exemplo, da Lei de Drogas (Lei 11343). 5) SITEMA ADOTADO PARA O INTERROGATÓRIO DO ACUSADO Eis mais uma questão recorrente em nossos concursos. Mas é de todo simples demais saber a resposta. Note que quem faz as perguntas ao acusado é o Juiz. Após isso, o Juiz abre espaço para que as partes apontem possíveis questionamentos, que ele, o Magistrado, fará ou não a se entender conveniente. Logo, pela letra do CPP, quem fala com o acusado é apenas o Juiz, que acaba sendo o presidente do interrogatório. Assim, falamos que o Brasil adota o Sistema Presidencialista. É o Juiz quem inquire primeiro o réu e, depois, abre espaço para as perguntas do MP e da Defesa, questões que ele direcionará ou não ao acusado – essa é a regra. ATENÇÃO AO TRIBUNAL DO JÚRI! No Tribunal do Júri, as perguntas são feitas diretamente ao acusado, seja pela acusação e seja pela defesa. Porém, as perguntas dos Jurados passam necessariamente pelo Juiz, que as tria antes de direcioná-las ao réu. Por isso, no Tribunal do Júri, adotamos o Sistema Misto. 2 FOCUSCONCURSOS.COM.BR Processo Penal| Material de Apoio Professor Rodrigo Sengik CUIDADO COM O SISTEMA ADOTADO NA INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHAS (E DO OFENDIDO)! Na inquirição de testemunhas (e do ofendido), usamos o Sistema do Cross-Examination, em que as partes perguntam diretamente à testemunha, sem o intermédio do Juiz, que pode triar as questões e complementá-las após as perguntas das partes. 6) INTERROGATÓRIOS ESPECIAIS Situações clássicas em concurso – as chamadas modalidades especiais de interrogatório. Elas estão no artigo 192 e seguintesdo CPP, que dizem assim: a) acusado surdo: perguntas escritas e respostas orais; b) acusado mudo: perguntas orais e respostas escritas; c) acusado surdo-mudo: perguntas e respostas escritas; d) acusado não fala português ou surdo-mudo analfabeto: intérprete. Lembre-se, ainda, que, no final do interrogatório, o acusado deve assinar o termo de depoimento. Se ele não soube escrever ou se negar ou não puder assinar o documento, o fato deve ser consignado no próprio termo. 7) CARACTERÍSTICAS DO INTERROGATÓRIO DO ACUSADO Por fim, seguem algumas características importantes do interrogatório, que podem ser cobradas em nossos concursos. Veja que, agora, depois da explanação, todas elas são intuitivas e você não as precisa decorar – basta pensar! a) é obrigatório, pois sua ausência é tratada como causa de nulidade, eis que ele tem natureza jurídica de defesa; assim, é necessário ofertar ao acusado a possibilidade de apresentar sua versão dos fatos (autodefesa); se ele, devidamente intimado para tanto, não comparecer ao ato, significa que optou por permanecer calado – dispôs da autodefesa; b) é ato personalíssimo, pois não pode ser feito por outra pessoa, mesmo por procurador com poderes especiais; c) é oral, pois, a princípio, tanto as perguntas quanto as respostas são orais; isso, diga-se é um dos reflexos do Princípio da Celeridade, já que um ato oral é muito mais breve do que um escrito; d) é público, pois a AP é pública; logo, se você quiser sair de casa, ir ao fórum para assistir a algum interrogatório, você pode – salvo se for caso de segredo decretado nos autos, como as hipóteses de crime contra a liberdade sexual; e) é obrigatória a presença de advogado, pois o interrogatório tem natureza jurídica de defesa e, na AP, temos a ampla defesa, que compreende a defesa técnica – essa é indispensável nessa fase da persecução penal; f) sempre é dado o direito de entrevista prévia, pessoal e reservada entre acusado e o responsável por sua defesa, seja Advogado constituído, dativo ou Defensor Público; g) o acusado tem o Direito de Permanecer Calado ou Direito ao Silêncio; trata-se de desdobramento do Princípio do nemo tenetur se detegere, que, dentre outras coisas, nos informa que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo; h) o interrogatório não preclui; isso significa que pode ser realizado novamente, a qualquer momento, antes do trânsito em julgado da sentença. 8) LÁ VEM A BANCA! BANCA AQUI, BANCA ACOLÁ! 8.1) Ano: 2016 Banca: CESPE Órgão: PC-PE Prova: Escrivão de Polícia. Com relação ao interrogatório do acusado, assinale a opção correta. a) O acusado poderá ser interrogado sem a presença de seu defensor se assim desejar e deixar consignado no termo. b) Não sendo possível a presença em juízo do acusado preso por falta de escolta para conduzi-lo, poderá o interrogatório ser realizado por sistema de videoconferência. c) Mesmo após o encerramento da instrução criminal, a defesa poderá requerer ao juiz novo interrogatório do acusado, devendo indicar as razões que o justifiquem. d) Havendo mais de um acusado, eles serão interrogados conjuntamente, exceto se manifestarem acusações recíprocas. e) O interrogatório deve ser realizado no início da instrução criminal, antes da oitiva de testemunhas de acusação e de defesa. 3 FOCUSCONCURSOS.COM.BR Processo Penal| Material de Apoio Professor Rodrigo Sengik 8.2) Ano: 2013 Banca: IBFC Órgão: MPE-SP Prova: Analista de Promotoria II. De acordo com o artigo 185, do Código de Processo Penal, o interrogatório do réu preso será realizado: a) No estabelecimento prisional, em sala própria, que garanta a publicidade do ato e a segurança de todos os envolvidos. b) Em juízo, apenas se não for possível sua realização no estabelecimento prisional. c) Em juízo, apenas se não for possível sua realização por sistema de videoconferência. d) Sempre em juízo. e) Preferencialmente por sistema de videoconferência. 8.3) Ano: 2017 Banca: FEPESE Órgão: PC-SC Prova: Agente de Polícia Civil. De acordo com o Código de Processo Penal, é correto afirmar sobre o interrogatório do réu: a) Não importa em confissão o silêncio do réu. b) O silêncio do réu poderá ser interpretado em seu desfavor. c) O interrogatório deverá se limitar, unicamente, a questões relativas aos fatos decorrentes da infração penal. d) O réu que silenciar no seu interrogatório deverá ser interrogado quantas vezes forem necessárias até ele prestar as informações necessárias. e) Somente é lícito ao réu silenciar no interrogatório, quando não estiver devidamente acompanhado por advogado ou defensor. 8.4) Ano: 2006 Banca: CESPE Órgão: DPE-DF Prova: Procurador. De acordo com o direito processual penal e com o Código de Processo Penal (CPP), julgue os itens que se seguem. No curso da instrução criminal, o interrogatório do acusado pode ser realizado de novo a qualquer tempo, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes. 8.5) Ano: 2017 Banca: CESPE Órgão: TJ-PR Prova: Juiz Substituto. Considerando os princípios que norteiam o interrogatório do acusado e os requisitos para a realização desse ato, assinale a opção correta. a) É válido o interrogatório do acusado que dispensa a presença do advogado e permanece em silêncio, pois, se o silêncio não puder ser interpretado contra a defesa, não haverá prejuízo, considerando-se o princípio pas de nullité sans grief. b) Se o interrogado não souber escrever, não puder ou não quiser assinar, o juiz nomeará curador e este, após a leitura do interrogatório, assinará o termo. c) Por não contar com as garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditório, a confissão extrajudicial, ainda que indireta, não é admitida como meio de prova. d) O exercício do direito ao silêncio não gera presunção de culpabilidade para o acusado, tampouco pode ser interpretado em prejuízo da defesa. GABARITO: 8.1) C; 8.2) A; 8.3) A; 8.4) CORRETA; 8.5) D. 4
Compartilhar