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Jovens em Conflito com a Lei e a Psicologia Jurídica

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4
CENTRO UNIVERSITÁRIO SANTO AGOSTINHO - UniFSA
CURSO DE DIREITO
GABRIELA LOPES BARBOSA
JOVENS EM CONFLITOS COM A LEI, SOB A ÓTICA DA PSICOLOGIA JURÍDICA
TERESINA-PI
2018
GABRIELA LOPES BARBOSA
JOVENS EM CONFLITOS COM A LEI, SOB A ÓTICA DA PSICOLOGIA JURÍDICA
Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito junto ao Centro Universitário Santo Agostinho.
Orientadora Profª Eulineide Lauritzen de Lucena
TERESINA – PI
2018
GABRIELA LOPES BARBOSA
JOVENS EM CONFLITOS COM A LEI, SOB A ÓTICA DA PSICOLOGIA JURÍDICA
Este artigo foi julgado adequado para obtenção do Titulo de Bacharel em Direito e aprovado em sua versão final pela Banca Examinadora do Curso de Direito do Centro Universitário Santo Agostinho – UniFSA.
Teresina (PI) ______/______/______
Banca Examinadora:
Orientadora: Profª. Esp. Eulineide Lauritzen de Lucena
Profª. Ma. Maria do Socorro Moura Costa
JOVENS EM CONFLITOS COM A LEI, SOB A ÓTICA DA PSICOLOGIA JURÍDICA
Gabriela Lopes Barbosa[footnoteRef:2] [2: Aluna do Curso de Bacharelado em Direito do Centro Universitário Santo Agostinho.] 
RESUMO: 
O recrudescimento no tratamento de jovens em conflitos com a lei se dá através do processo de marginalização e pedidos de encarceramento em massa, onde a população, guiada pelo senso comum, acredita que quando aquilo que ameaça a ordem social é afastada, resolve-se o problema. A dificuldade de acesso à educação, cultura e até mesmo atenção familiar têm sido apontados como fatores fomentadores dos atos infrancionais cometidos por jovens. A sociedade assumiu o papel de julgadora excluindo aqueles que não se moldam aos padrões que ela espera que sejam atendidos. Dessa forma os jovens em conflitos com a lei já são, desde o seu primeiro ato de delinquência, considerados irrecuperáveis. Analisar o tema sob o viés da psicologia jurídica é o objetivo do presente artigo científico que tende a sugerir soluções que não ignorem a complexidade e a necessidade de se ver o tema a partir de uma visão holística.
PALAVRAS-CHAVE: Adolescentes em conflitos com a lei. Jovem. Atos Infracionais. Exclusão. Sociedade.
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho acadêmico cujo tema é jovens em conflitos com a lei sob a ótica da psicologia jurídica busca revisitar as teorias de maior relevância que corresponda à construção social da adolescência fazendo uma ligação com a delinquência visando justificar ou entender o fenômeno.
A atual tendência de recrudescimento das respostas sociais e jurídicas para o comportamento infracional não é a solução para a diminuição dos crescentes percentuais de jovens em conflitos com a lei no Brasil e no mundo.
A justificativa da escolha do tema é a recorrência de debates sobre a redução da maioridade penal e outras questões que envolvem o encarceramento e a repressão, mas não atacam as causas do problema e não o solucionam.
O objetivo geral é analisar do ponto de vista das teorias da psicologia jurídica o fenômeno do jovem em conflito com a lei. Já os objetivos específicos são a explanação do recrudescimento do trato com o infrator, verificar o tratamento que é dado aos menores infratores no Brasil e no Piauí através de reportagens jornalísticas veiculadas nos meios de comunicação e apresentar possíveis soluções.
A problemática a que se debruça nesse artigo é se a psicologia jurídica sustenta alguma tese que explique a situação do jovem em conflito com a lei ao tempo em que apresenta alguma solução.
Não se pretende com o sucinto artigo científico esgotar o tema, dada a sua complexidade, mas espera-se que ele sirva de fonte inicial de pesquisa para todos aqueles que queiram se debruçar sobre tão atual e importante temática.
2 O SER ADOLESCENTE
A tarefa de definir o que é um ser adolescente é atribuída ao critério biológico que foi adotada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente vigente atualmente. Para essa legislação criança vem a ser o ser humano com até 11 (onze) anos completos, já o adolescente é aquele que já completou os 12 (doze) anos e virá a se tornar adulto quando atingir seus 18 (dezoito) anos e para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a faixa etária seria de 10 (dez) a 19 (dezenove) anos.
Isso é o que se depreende do artigo 2º do supracitado Estatuto, in verbis:
Art.2º Considera-se criança, para os fins desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto ás pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade. (Lei 8.069/1990 (ECA).
Seguindo essa mesma vertente, o Código Penal fixou em 18 anos a idade para alguém ser criminalizado na seara penal, abaixo dessa faixa etária a responsabilização se dá de acordo com a Lei 8.069/1990 (ECA).
Há fortes críticas quanto à adoção unicamente do critério biológico para limitar a responsabilidade criminal. Nucci (2015, p. 12) explana sobre as correntes que tecem essas críticas:
Não nos parece adequada essa pretensa limitação, indicando o limite de 12 anos como marco de separação entre criança e adolescente, somente para fins de aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente. O legislador deveria ter sido ousado, porém racional, impondo os conceitos de criança e adolescente para todo o contexto jurídico. Ilutrando, o Código Penal especifica como agravante o cometimento de crime contra criança, sem maiores detalhes.
E continua Nucci (2015, p.12):
Debate-se, até hoje, quem se deve considerar criança, existindo três correntes: 
a) o ser humano até sete anos;
b) o ser humano até 11 anos;
c) o ser humano até 13 anos.
A primeira posição lastreia-se no amadurecimento indicado pelos critérios psicológicos, que aponta os sete anos como estágio final da primeira infância. A segunda, baseia-se no Estatuto da Criança e do Adolescente. A terceira, fundamenta-se na idade para o consentimento sexual, que se dá aos 14 anos, nos termos do art. 217-A do Código Penal. Temos defendido ser correta a segunda, justamente com base no art. 2º desta Lei – e é o que tem predominado. Parece-nos insensato desprezar o estabelecimento dos conceitos de criança e adolescente previstos neste Estatuto, razão pela qual as demais correntes penais devem sucumbir à realidade da Lei 8.069/90.
O reflexo penal que isso causa é o de que os menores de 18 anos estão imunes ao Código Penal e como consequência, começou a crescer na sociedade o sentimento de impunidade externado nos debates sobre a redução da maioridade penal.
A Constituição Federal em seu art. 228 ressalta que “são penalmente imputáveis os menores de dezoito anos, sujeito às normas da legislação especial”. Conforme dito alhures, essa legislação retratada no artigo constitucional é a própria 8.069/1990 que compreende a proteção integral da criança e do adolescente em face do jus puniendi do Estado e da proporcionalidade.
Essa proteção é necessária para que o adolescente possa ter a oportunidade de aprender com os erros e não voltar a cometê-los, pois a própria palavra adolescente tem origem do latim adolescere que significa crescer. 
A fase da adolescência e da juventude é quando se constrói a identidade, onde ele define suas referências e pauta seu comportamento tirando dele lições para a vida adulta. Essa é a fase de transição da infância para a vida adulta em que geralmente surgem os maiores conflitos, sejam internos ou externos e não raro alguns atos infracionais são também cometidos.
A adolescência é “o período da vida que começa na puberdade e se caracteriza por mudanças corporais e psicológicas, estendendo-se, aproximadamente, dos 12 aos 20 anos” (FERREIRA, 2014, p.39).
A formação de grupos, a tentativa de se identificar no mundo, a curiosidade e o idealismo, aliados ao desafio de construir experiências e vivências, gera perturbação e o contato com condutas de risco.
O ser adolescente está envolto em mudanças físicas, psicológicas, afetivas e comportamentaise é comum que nessa fase o desequilíbrio emocional o leve a cometer atos infracionais. No entanto, durante essa fase imprescindível que os adolescentes tenham conhecimento das suas responsabilidades, pois não há impunidade para os atos que eles venham a cometer, o que há é tão somente um abrandamento das sanções que seriam cabíveis a determinado ato.
Na sociedade atual outro fator que tem influenciado muito o comportamento dos jovens é a internet, a chamada era digital proporciona uma gama de informações, mas nem todas elas são úteis para um ser em desenvolvimento.
Outro fator importante quando se trata de internet é que existe uma sensação de anonimato, o que facilita o cometimento de diversos delitos. Por essa razão, a introdução de ferramentas de alcance longo e rápido como a internet deve ser acompanhada de valores repassados pela família, pela escola e pelo próprio meio social.
Aliás, o acompanhamento e responsabilidade dos jovens é dever de todos, conforme reza a Constituição Federal em seu artigo 227, ocasião em que prega a Doutrina da Proteção Integral da criança e do adolescente ao dispor que:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
Sob esse viés, a discussão sobre a redução da maioridade penal leva a outro questionamento: Não estaríamos com o intuito de punir e segregar para afastar a nossa responsabilidade diante dos jovens e adolescentes?
Enquanto a criança e o adolescente não forem priorizados pelo Estado, pela família e pela sociedade como um todo, sempre haverá discussões sobre afastar o problema dos jovens conflitantes ao invés de solucioná-lo.
O jovem em conflito com a lei existe e o problema é visível a todos e ao mesmo tempo tem invisibilidade social. Os números de atos infracionais crescem a cada dia e pouco ainda é feito no sentido da prevenção. Muito da questão perpassa por problemas sociais, financeiro-econômicos e da falta de investimento estatal em educação, lazer, cultura e profissionalização.
Segundo o Censo Demográfico de 2010 do IBGE, o país contava com um contingente de 190.755.799 habitantes. Desse total, 3.410.704 tinham 16 anos de idade e 3.372.242 tinham 17 anos, representando 1,8% do conjunto, cada uma, e 3,6% as duas. 
(...)	
Vemos que, em conjunto, as causas externas vitimaram 689.627 crianças e adolescentes entre 1980 e 2013. O crescimento foi intenso na década de 80, quando o número de vítimas aumenta 22,4%, o que representa um incremento real de 10,6%, visto o aumento da população nesse período. Já na década de 90, o aumento é bem menor: as taxas de óbito por causas externas crescem 4,3% e na primeira década do presente século as taxas tiveram uma queda de 1,0%. Já de 2010 a 2013, o incremento das mortes por causas externas foi elevado: 9,9% nesses poucos anos, o que implica em incremento real de 7,1%. Vemos que a tendência histórica da taxa por causas externas é de diminuir seu ritmo de crescimento, se bem que nos 33 anos da série histórica, o saldo foi um aumento global de 33,9% no número de vítimas e de 22,4% nas taxas.
No período de 1980 a 2013, as causas externas de mortalidade aumentaram drasticamente sua participação: os homicídios, passam de 0,7% para 13,9% no total de mortes de crianças e adolescentes de 0 a 19 anos de idade, os acidentes de transporte, passam de 2% para 6,9% e os suicídios de 0,2% para 1,0%.
(Fonte: Mapa da Violência 2015)
Num país onde o número de evasão escolar, desempregados e desiludidos cresce em proporções cada vez maiores ao passo que eclodem escândalos de corrupção daqueles que deveriam investir no bem-estar da população, é difícil apontar exemplos de moralidade e retidão.
Por mais que a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente proclamem a Doutrina da Proteção Integral, a realidade tem sido de desídia e omissão, conforme consta nos dados do Mapa da Violência a seguir expostos:
Na faixa de 0 a 17 anos de idade, morreram vítimas de homicídio 1.127 crianças e adolescentes brancos e 4.064 negros; 703 dos brancos (62,4%) e 2.737 dos negros (67,3%) tinham 16 e 17 anos de idade; no conjunto da população de 0 a 17 anos de idade, a taxa de homicídios de brancos foi de 16,0 por 100 mil e a de negros, 17,0 por 100 mil. O índice de vitimização negra foi de 5,7%, isto é, proporcionalmente ao tamanho das respectivas populações, morreram 5,7% mais negros que brancos; mas quando se foca nos adolescentes de 16 e 17 anos, objeto da atual controvérsia, a taxa de homicídios de brancos foi de 24,2 por 100 mil. Já a taxa de adolescentes negros foi de 66,3 em 100 mil. A vitimização, neste caso, foi de 173,6%. Proporcionalmente, morreram quase três vezes mais negros que brancos. (Fonte: Mapa da Violência 2015)
O autor piauiense Moacir César Pena Jr., toma como base o artigo constitucional citado anteriormente que trata da Doutrina da Proteção Integral da criança e do adolescente para alicerçá-la em três pilares:
(i) a criança e o adolescente passam a condição de sujeitos de direitos;
(ii) a infância e a adolescência passam a ser reconhecidas como etapas específicas do processo de desenvolvimento e formação;
(iii) a absoluta prioridade estabelecida pelo artigo 227 da Constituição Federal o eleva à condição de princípio constitucional. (PENA JUNIOR, 2017, p.79)
Em se tratando de jovens em conflito com a lei, necessário se faz a explanação das garantias processuais que não poderiam ficar de fora dessa proteção sistêmica aclamada pelo ordenamento jurídico. Novamente valendo-se da doutrina de Pena Júnior (2017, p.80):
No tocante as garantia processuais, ressalta-se que nenhum adolescente será privado de sua liberdade, salvo em flagrante de ato infracional, por ordem escrita e devidamente fundamentada da autoridade competente, tendo ainda direito a conhecer a identidade dos responsáveis por sua apreensão e informado de seus direitos cabíveis naquela ocasião.Ato contínuo a sua apreensão, será verificada a possibilidade de sua liberação imediata, caso isso não seja possível, será comunicado ao magistrado e a família, ou pessoa indicada pelo adolescente, do local onde se encontra recolhido, sendo-lhe assegurado também o devido processo legal quando da aplicação de medida socioeducativa ou privação da liberdade.
Conforme dito anteriormente o fato de ser adolescente ou jovem não significa isenção total de responsabilidade pelos atos infracionais cometidos. Com relação a esses, são cabíveis medidas socioeducativas abaixo relatadas por Pena Júnior (2017, p.87):
A autoridade competente (juiz) poderá aplicar diversas medidas, entre elas, podemos destacar as seguintes:
1) advertência;
2) obrigação de reparar o dano;
3) prestação de serviços à comunidade;
4) liberdade assistida;
5) inserção em regime de semiliberdade;
6) internação em estabelecimento educacional.
Em relação aos pais, também existem medidas a serem aplicadas, entre as quais podemos citar: perda da guarda, destruição da tutela e suspensão ou destituição do poder familiar.
Apesar de a legislação ser avançada e bem completa no sentido de proteger o ser em desenvolvimento, não raro ocorrem sérias máculas ao texto da lei. Dessa forma, depreende-se que de nada adianta uma legislação evoluída se o problema da desobrigação com a delinquência juvenil for cultural.
O caminho mais fácil é fechar os olhos para o problema e delegá-lo as autoridades como se todos não tivessem uma parcela de culpa. No Brasil, a cultura da segregação que por sua vez gera a invisibilidade, é fomentada como uma forma de afastar o problema para fingir que ele não existe e assim, o desrespeito com os direitos fundamentais não atingidos pelas medidas socioeducativas são frequentes.
O tema ora em discussão não é um problema novo,mas assola o país há muito tempo sem que se pense em soluções realmente eficazes e que perpassem a prevenção e o cuidado. Não há um real engajamento e comprometimento dos atores responsáveis pelo desenvolvimento desses jovens e adolescentes. 
A carência de políticas públicas nesse sentido é latente enquanto cresce o número de pessoas que pregam um maior rigor para a delinquência juvenil e ainda, o desejo de inseri-los em ambientes de criminosos comuns sem qualquer distinção de idade. A missão de educar, proteger e guiar vai sendo aos poucos substituída pela de punir, num cenário de total ausência estatal e de omissão social.
Dentre várias óticas a que se podem abordar o tema, para fins do presente trabalho acadêmico escolheu-se o viés da psicologia jurídica que ganhará maior destaque em momento oportuno.
3 A CRIMINOLOGIA E A INFRAÇÃO JUVENIL
É necessário se relacionar a infração juvenil com algum tipo de violência que o sujeito tenha sido submetido no passado para que se consiga entender a origem e os fatores que explicam essa criminalidade precoce. Muitos jovens que hoje são considerados delinquentes experimentaram situações de violência intra ou extrafamiliar.
De acordo com Sani (2002, p.54):
Essa violência pode acontecer dentro da própria família (intrafamiliar) ou fora dela (extrafamiliar). Pode acontecer também na escola, no local de trabalho, no clube, no trânsito. Infelizmente, a violência pode atingir qualquer tipo de pessoa, mas ela é ainda mais preocupante quando as vítimas são crianças, porque, sendo fisicamente mais frágeis e psicologicamente ainda em formação, têm menos recursos para se defender. Não é só isso. Elas também poderão carregar as consequências da violência sofrida pelo resto da vida. Por isso, merecem uma especial atenção do Direito e da Psicologia. 
As vítimas de violência podem reagir de diversas formas, inclusive reproduzindo-a, mas isso não pode ser considerado isoladamente, na lição de Trindade (2011, p. 368):
A violência é sempre, de uma maneira ou de outra, um fato traumático, e, por isso, as vítimas de crime manifestam vários níveis de estresse e sintomas. Esses níveis estão relacionados à variabilidade encontrada na recuperação da vítima, cujoprocesso irá depender das características e da predisposição da própria vítima, da natureza do incidente, de sua duração, de sua intensidade, assim como da maneira como a vítima percebe e interpreta os acontecimentos. O modo como ela é acolhida após o fato, seja pela família, por amigos, por vizinhos ou colegas, seja pelas instituições sociais ou de intervenção legal, também poderá minimizar as sequelas do acontecimento. 
Um importante exemplo de reação diante da violência sofrida e como isso pode afetar o jovem é o dado pelo modelo da continuidade homotípica (homotypiccontinuity) que pressupõe que o que foi vivenciado na infância corresponde ao tipo de conduta da vida adulta.
Novamente valendo-se da lição de Trindade (2011, p.369):
Dessa forma, tipos específicos de maus-tratos vividos na infância levariam a tipos específicos de desordem de conduta na vida adulta. Isso explicaria a perpetuação da violência: abusado na infância, abusador na vida adulta, mantendo-se, assim, os ciclos de abuso através da transmissão intergeracional da violência. Por exemplo: o abuso sexual na infância é frequentemente citado como causa de prostituição futura.
O exemplo acima citado vai de encontro ao modelo da continuidade heterotípica (heterotipyccontinuity), por essa teoria, o que acontece na infância não determina comportamentos específicos nem efeitos pré-determinados. De acordo com esse modelo, as consequências seriam nefastas, mas não se poderiam ilustrar quais, pois seriam diversas.
Já o modelo da não continuidade não correlaciona a violência aos comportamentos posteriores, tratando como especulação a relação entre riscos (como a exposição à violência) e os resultados negativos. Ela traz a grande crítica sobre as teorias da continuidade, qual seja o seu determinismo.
Esses modelos corroboram dois outros específicos ao Direito Criminal, o primeiro é o Modelo de Justiça, também conhecido como Criminologia Administrativa, que na lição de Trindade (2011, p.404):
Esse modelo caracteriza-se pelo rechaço da ideia de que o delito é determinado pelas circunstâncias. Acentua a falta de interesse nas causas do delito e reafirma a crença no livre-arbítrio. Propugna pela defesa da intimidação como fim prioritário do sistema de justiça criminal. 
Esse modelo de justiça pode ser vislumbrando numa forma mais moderna de acordo com a teoria norte-americana “Broken Windows” ou Teoria das Janelas Quebradas que foi implementada em Nova Iorque a partir dos estudos de James Wilson e George Keeling em 1982 que teve como fundamento experiências realizada pelo psicólogo Philip Zimbardo, da Universidade de Stanford.
Assim, através desse estudo se conseguiu relacionar causalidade direta e criminalidade, conforme explica Trindade (2011, p. 404):
Para explicar sua teoria, os autores usaram a imagem de janelas quebradas para figurar a desordem, que cederia, aos poucos, lugar para a criminalidade. Em outras palavras, a condição de janelas quebradas, levando ao imaginário de uma casa abandonada, seria autorizadora de outros danos ao prédio.
Como a intenção era banir condutas que propiciassem a criminalidade, a política criminal adotada foi a da Tolerância Zero que reduziu de fato o número de crimes devido à punição mais severa, ao uso quase que indiscriminado do Direito Penal e à presença ostensiva de policiais nas ruas.
A subjetividade humana não é levada em consideração, o que permite a repressão, mas não previne nem educa o criminoso ou delinquente. Diversas críticas surgiram ao modelo de Justiça, desaguando no Modelo da Nova Criminologia.
Trindade (2011, p. 405) explica o modelo da chamada Nova Criminologia nos seguintes termos:
Esse modelo deseja desvelar a cumplicidade da ideia de crime com a ideologia dominante. Propõe novas definições acerca dos fatos delitivos e invoca, como matéria de fundo, o respeito aos direitos humanos fundamentais. Entende que a concepção dominante induz a violações dos direitos humanos. Seu objetivo reside em alterar as estruturas econômicas e políticas do capitalismo, geradoras da delinquência, segundo argumentam seus teóricos.
Sob esse viés, mais interessante e eficaz seria estudar os motivos que levam as pessoas a serem estigmatizadas como delinqüentes, e quem determinou isso, ou seja, se a sociedade estaria legitimada para fazer esse julgamento prévio e condenação social, do que os motivos que as levaram a delinquir.
Para entender um pouco mais das teorias criminológicas, apresenta-se uma sucinta análise a seguir.
3.1 Principais Teorias Criminológicas
Por ser de extrema importância apresentar as principais teorias criminológicas para se analisar quais delas se enquadram e tentam explicar o que leva os jovens a entrar em conflitos com a lei, traz-se uma visão de Cullen e Agnew (2006, p.5-8).
A primeira teoria é a clássica de Beccaria, para essa linha de pensamento o crime é uma escolha livre e acontece quando, devido à ausência de punição, os benefícios são maiores que os custos.
Perpassa-se pela positivista, lançada por Lombroso	para quem o homem já nasceria delinquente e está determinado por causas e características morfo-fisiológicas. O que atualmente é um pensamento que leva a chocar grande parte da sociedade por seu determinismo aliado ao racismo.
Já para o Sociologismo de Ferri o homem não nasce propenso ao crime, mas torna-se delinquente a partir dos fatores do meio (mesológicos ou ecológicos). Para essa teoria “se numa rua escura se comete mais crimes do que numa rua clara, bastará iluminá-la e isso será mais eficaz do que construir masmorras”. 
No entanto, a teoria que leva em conta o controle	de Hirschi e Gottfredson, a principal causa de crime é a falta de controle. Para essa teoria, os mecanismos de controle internos ou externos fracassam na sua função de contenção gerando o comportamento delinquente. Essesmecanismos podem variar de acordo com o contexto histórico, social e geográfico. O controle eficaz, por sua vez, pode inibir ou fazer o indivíduo desistir da antissocialidade persistente.
Uma análise mais atual é realizada por Zaffaroni, para quem as desigualdades criam condições que levam ao delito de rua e à criminalidade organizada. O capitalismo e suas formas selvagens são fundamentalmente criminogênicas, porque geram pobreza, injustiça, menos-valia, e exploração dos mais fracos.
Por fim para a teoria da recuperação da Recuperação da anomia, as relações interpessoais podem se converter numa fonte de estresse ou de tensão ao não permitir que o sujeito alcance suas metas (situações adversas ou que levam à perda de algo valioso). A estabilidade ou a mudança da conduta antissocial depende do temperamento e do entorno social, sendo que o adolescente tem escassas condições para enfrentar situações conflitivas, mas a maturidade favorece o ajustamento.
Não há como aplicar apenas uma teoria, isoladamente, para explicar o que leva os jovens a entrar em conflitos com a lei, mas se faz necessário que se vislumbre as principais teorias criminológicas e sua evolução. Algumas como as de Fragoso, hoje chocam a sociedade, mas todas têm grande contribuição para o tema aqui abordado.
4 A INFRAÇÃO JUVENIL ANALISADA SOB O VIÉS DA PSICOLOGIA JURÍDICA
A psicologia jurídica veio para romper com a doutrina clássica e a priori não foi bem recebida por juristas e também psicólogos. Só se foi despertar para a importância da psicologia jurídica tardiamente. 
A função da psicologia jurídica, de acordo com Trindade (2011, p.37) é:
A psicologia jurídica é a psicologia que ajuda o direito a atingir seus fins. Trata-se de uma ciência auxiliar do direito, e não aquela que o questiona, nem aquela capaz de o interrogar. Bem se poderia dizer que sua função não é esfíngica. Por isso, a psicologia jurídica, a psicologia para o direito, tem-se mantido afastada da questão dos fundamentos e da essência do direito. A verdade é que a psicologia jurídica não está autorizada a pensar o direito, ou não é apropriada para esse fim. Ela deve ater-se à norma e tão somente à norma, descabendo-lhe qualquer exame acerca de sua justiça ou injustiça.
A psicologia jurídica não é apenas uma simples junção entre a psicologia e o direito, mas tenta explicar alguns fenômenos como o da infração juvenil. Nessa esteira, há uma forte tendência no que tange ao recrudescimento das respostas sociais e jurídicas quando se trata de comportamento infracional, marcado pela baixa tolerância, práticas antissociais, clamor público pelo encarceramento e a presença do discurso pela redução da maioridade penal.
Duarte-Fonseca (2006, p.355) analisa o histórico da tendência ao recrudescimento:
O início do século XXI está sendo marcado por um progressivo endurecimento das reações face à prática de atos realizados por crianças e por adolescentes e qualificados pela lei como crime, indicando a baixa tolerância da sociedade em geral para com esses comportamentos. Ademais, o sentimento de insegurança especialmente instalados nas áreas urbanas, a ampliação dos comportamentos infracionais e a carga de violência de que se revestem, bem como o destaque dado pelos meios de comunicação social, são fatores que têm contribuído para a passagem da fase da angelificação à fase da demonização da delinquência juvenil.
Ao invés de se pensar de forma estratégica, analisando a questão sob todos os enfoques, inclusive sociológico, convivência familiar e comunitária, de influências do meio, de reação a algum trauma ou violência de que o agente tenha sido vítima, adotou-se uma postura de endurecimento legal e judicial.
No Brasil, cresce o número de parlamentares que defendem a redução da maioridade penal e o encarceramento logo a partir dos 16 anos e não mais na faixa etária dos 18. Ocorre que no país não há uma política de ressocialização, mas sim a tradição de que cadeia é escola do crime, há ainda superlotação e denúncias de tortura e todo o tipo de mácula aos direitos humanos não atingidos pela pena.
É nesse ambiente que se quer colocar adolescentes logo a partir do seu primeiro ato infracional, sem dar qualquer chance de recuperação. Vale ressaltar que o adolescente infrator já é punido nos moldes do Estatuto da Criança e do Adolescente, mas para a sociedade que cada vez mais caminha para a barbárie e ignorância, isso ainda é pouco.
As medidas socioeducativas são fruto de uma legislação inovadora e aclamada pelo mundo todo, mas vista pelos próprios brasileiros como injusta e ineficaz. 
Tais medidas socioeducativas são explanadas por Diniz (2015, p.777):
Se o adolescente praticar ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar-lhe as seguintes medidas socioeducativas (Lei nº 8.069/90, art. 112, com as alterações da Lei nº 12.594/2012; STJ, Súmula 108; Provimento nº 515/94 do CSMSP), que têm por escopo: a responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas do ato infracional, sempre que possível incentivando a sua reparação; a integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais e sociais, por meio do cumprimento de seu plano individual de atendimento; e a desaprovação da conduta infracional, efetivando as disposições da sentença como parâmetro máximo de privação de liberdade ou restrições de direitos, observados os limites previstos em lei.
Essas medidas sugerem a reparação do dano à vítima, o alerta de que foi feito algo em desacordo com as regras de convivência social e contra o ordenamento jurídico brasileiro e busca-se despertar a consciência de que seus atos prejudicaram pessoas inocentes.
Assim, a reparação do dano, aliada a repressão e prevenção de futuros atos infracionais são levados em consideração ao se aplicar tais medidas. No Estado do Piauí, a União, através da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR) e do Conselho Nacional da Criança e do Adolescente (CONANDA), deixoua atenção e cuidado dos adolescentes em conflito com a lei para a Secretaria de Assistência Social e Cidadania (SASC) que juntamente com a Unidade de Atendimento Socioeducativo (UASE) promove atendimento a esses jovens em situação de delinquência no Centro Educacional Masculino (CEM) e ainda no Centro Educacional de Internação Provisória (CEIP) e também no Centro Educacional Feminino (CEF), com importantes programas de acompanhamento externo, nos regimes de Semi-Liberdade, a Liberdade Assistida (LA) e a Prestação de Serviço à Comunidade (PSC).
Ocorre que para grande parte da sociedade isso não seria suficiente, mas o infrator estaria protegido demais, não pagando efetivamente por seu crime. Numa sociedade em que a vingança é cada vez mais valorizada e a ressocialização desvalorizada, é de se esperar que o sistema protetivo trazido pelo ECA não agrade. O senso comum ignora as medidas socioeducativas e busca encarcerar para esquecer o problema. Essa crença popular de que, se colocado dentro de um presídio, estando então longe dos olhos da sociedade e portanto, marginalizado, o problema está resolvido, já deveria ter sido superada, mas ao invés disso, cresce a cada dia.
Novamente valendo-se da lição de Trindade (2011, p.447), verificam-se algumas críticas ao Estatuto da Criança e do Adolescente:
Além disso, nos últimos vinte anos se estabeleceu uma crença equivocada, porém generalizada, de que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei 8.069, de 13 de julho de 1990) instaurou um regime protecionista que não permite a responsabilização da criança e do adolescente infrator, alçado à qualidade de vítima de uma sociedade desigual e injusta. Esse imaginário veio patrocinado por uma concepção da aplicação do princípio constitucional e legal da proteção integral, que, efetivamente, não descurou do chamamento à responsabilidade dos infratores, como comprova o simples exame das medidas socioeducativas elencadas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA/90, art.112).
Essas críticas dentro da própria sociedade revelam que elaestá em conflito consigo mesma de modo que a falta de ética que deságua na corrupção, a deficiência no que diz respeito à solidariedade e empatia, reflete-se na valorização da repressão em detrimento da educação e prevenção.
A descrença em medidas preventivas e educativas deixa de vislumbrar que até os Poderes Judiciário, Executivo e Legislativo não estão isentos, vide os casos que eclodem em todo o Brasil de beneficiamento próprio ou de terceiro, venda de sentença, entre outros. Cite-se como exemplo o recente caso da desembargadora que beneficiou o filho traficante[footnoteRef:3]. [3: http://g1.globo.com/globo-news/jornal-das-dez/videos/v/desembargadora-suspeita-de-beneficiar-o-filho-preso-por-trafico-e-afastada-do-cargo/7077185/ Acesso em: 11/10/2018] 
A doutrina da proteção integral existente no Estatuto da Criança e do Adolescente traz um conceito pós-moderno, fruto de uma evolução, porém recente, onde a criança e o adolescente passaram a ser tratados como dignos do ter e do ser.
Trindade (2011, p.451), analisa algumas teorias da psicologia jurídica aplicadas ao adolescente infrator no decorrer do tempo:
Graças à ajuda da filosofia de Locke e Rousseau e à pedagogia de Pestalozzi, a criança começou a ser considerada como uma tabula rasa, a que podiam afetar as diversas experiências, impondo-se, por parte dos adultos, a obrigação de ajuda-la no seu desenvolvimento e na sua formação.
Rousseau, em meados do século XVIII, consignou que a criança tem formas próprias de ver, de pensar e de sentir, nada sendo mais absurdo do que pôr as nossas em seu lugar.
Atualmente, há uma tendência a atribuir a delinquência juvenil severa aos jovens multiproblemáticos, aqueles cujo comportamentos violentos estão associados a problemas de conduta e que, por seu aspecto crítico, devem ocupar um lugar na agenda de prioridades, seja na pesquisa (universidade) e na educação (escola), seja na intervenção (psicologia, psiquiatria e serviço social), seja na órbita jurídico-normativa (estatutária), ou na judicial (Poder Judiciário, Ministério Público, instituições de proteção e amparo à criança e ao adolescente), todas envolvidas na difícil tarefa de, a um só tempo, protege-los e proteger a sociedade que agridem de modo sistemático.
Por ser a adolescência uma fase marcada pela vulnerabilidade, a busca de identidades e a formação de valores, experimentação, além de mudanças de ordem física, psicológica e relacionais, o adolescente se expõe a drogas, violência, prostituição e a todo tipo de mazela com muito mais facilidade. 
A relação do adolescente com a família também é de suma importância e está presente na psicodinâmica do adolescente em conflito com a lei, analisada por Freud que primeiro reconheceu o reflexo das primeiras relações das crianças com seus pais para a formação da personalidade e o direcionamento das ações quando adulto.
Necessário se faz distinguir dois importantes conceitos, como a delinquência limitada à adolescência (adolescencelimiteddelinquency), que é exploratória e temporária que corresponde geralmente a uma ruptura dos valores familiares para atingir o protagonismo. Já os adolescentes de carreira (life-course- persistente delinquency) que se inicia precocemente, mas que persiste em vários períodos da vida e se caracteriza por perturbações neurobiológicas e comportamentais.
Ao analisar a psicodinâmica do adolescente em conflito com a lei, Freud (1969) apresenta lição sobre ego e superego:
O superego da criança é, pois, como uma introjeção do superego dos pais no ego do sujeito, aos quais ela deve se identificar, e os quais devem castiga-la quando sua conduta não se ajusta às leis que eles lhe ditaram. Se a criança, inicialmente, deixa de cometer uma ação má, por medo de castigo dos pais, depois, ela já não comete a ação considerada ilícita ou imoral, não por medo dos pais, mas por medo de sua consciência anterior, isto é, por temor ao superego que, em funções judiciais, controla o ego, dita ordens e comandos, ameaça-o com punições severas da mesma forma que os pais, cujo lugar simbolicamente ocupou. Tal como a criança esteve um dia sob a compulsão de obedecer aos pais, assim o ego se submete ao imperativo categórico de seu superego.
A importância da família se perfaz como uma ajuda para criar a capacidade do adulto e da sua subordinação à lei e a ordem, através do condicionamento da criança à autoridade familiar através do temo de deixar de ser amada.
Trindade (2011, p. 466) explica essa ligação familiar aos adolescentes em conflito com a lei:
Até o momento do declínio do complexo de Édipo, a ameaça de castração e a perda do amor dos pais, fatores precipuamente externos, guiavam a conduta da criança. Uma vez instalado o superego, transmutam-se as funções mentais, e parte da ansiedade transforma-se em sentimento de culpa. O que agora ameaça o ego é a perda da proteção do superego, ou a punição interna por ele intentada. A crença na autoridade será, então, uma projeção de suas qualidades.
(...)
É compreensível que uma das atividades de superego é a necessidade inconsciente de punição do ego, que expressa o sentimento de culpa, decorrente da tensão existente entre um superego severo e o ego a ele submetido. Originariamente ela é externa, enquanto medo da autoridade, depois retorna interna, enquanto medo do superego. A primeira desaparece com o atendimento à proibição externa, da autoridade. No entanto, quando provém do superego, a renúncia, ao instinto não basta para aplacar a culpa, que se mantém em razão da persistência do desejo, de vez que sua onipotência e sua onisciência já não permitem distinguir entre a agressão pretendida e a agressão executada.
Na visão de Freud a criminalidade pode ter origem na necessidade de punição. São criminosos por sentimento de culpa. É uma delinquência de estrutura neurótica de personalidade, egodistônica, em que o sujeito pratique o crime visando à punição e aliviar seus sentimentos de culpa. Assim, haveria os que fracassam ao triunfar e os que triunfam ao fracassar.
A questão dos atos infracionais cometidos por adolescentes é complexa e envolve além de várias teorias, diversos fatores, como deixa claro, Trindade (2011, p. 470):
Como já salientamos tantas vezes, é evidente que a delinquência não se pode explicar somente por essas valências psicológicas, sendo incontestável que fatores biológicos e sociológicos estão em cena, ensaiando a mesma peça. Numa grande dramaturgia, a eles se associam aqueles que dizem respeito ao sujeito, enquanto ser biopsicossocial e à sociedade criminógena.
Outras teorias como a teoria do desvio cultural, também se aplicam na tese dos adolescentes em conflito com a lei, por essa teoria aparece a subcultura da violência, onde os valores são invertidos e representam comportamentos agressivos, utilização de armas e convivência hostil especialmente nos grandes centros urbanos.
Já a teoria da tensão que guarda semelhança com a teoria do controle onde crianças de classe baixa, média e alta deveriam perseguir metas de sucesso, como educação, profissão e independência econômica, mas ao contrário do que ocorre na teoria do controle a delinquência ocorre quando há obstáculos intransponíveis que dêem acesso para as oportunidades e metas. A causa do cometimento de infrações não estaria no indivíduo ou na sua família, mas nas barreiras ou nos obstáculos estruturalmente determinados que precluem as legítimas oportunidades de sucesso.
Atos desviados produzem reações seletivas e relativas, conforme leciona Garland (2002, p.88):
As políticas punitivas se fundam sobre a caracterização dos delinquentes como “animais”, “predadores”, “monstros sexuais”, “nocivos”, ou “perniciosos”, membros de uma “subclasse”, sendo todos eles “marcados como inimigos”, numa cultura dominante que exacerba os valores familiares, o empreendimento individual e os limites da assistência social.
Essa visão é a de que “o poder seletivo do sistema penal elege alguns candidatos à criminalização, desencadeia o processo de sua criminalização e submete-o à decisão da agênciajudicial, sendo que essa escolha é feita em função da pessoa (“o bom candidato é escolhido a partir de um esteriótipo”)”. (ZAFFARONI, 2010, p. 245).
Após a pesquisa realizada para fins de confecção desse artigo científico, percebeu-se que nenhuma teoria é tão completa para que seja aplicada sozinha e considerada por si só a explicação da situação e do fenômeno do adolescente em conflito com a lei, pois a relação entre crime e adolescência é multifacetada e todas as teses aqui apresentadas agregam com alguma contribuição para o entendimento da temática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por todas as razões expostas, ficou clarividente que é preciso superar a tradicional unidimensionalidade dogmática, tendo em vista que o fenômeno dos atos infracionais cometidos por adolescentes requer um redirecionamento multidisciplinar, uma análise holística e um entendimento global do pensamento que deve partir do campo de investigação até a epistemologia por ser muito complexo.
Todavia, percebeu-se que dentre essa multifacetada visão a família é o ponto de intersecção comum onde os vínculos relacionais seria um mecanismo de controle e direcionamento do comportamento do adolescente ou jovem dos mais eficientes. O fracasso familiar é refletido imediatamente no ser em formação e isso pode contribuir para a formação de uma personalidade hostil, antissocial e até violenta, desaguando na situação do adolescente em conflito com a lei.
Não se trata apenas na estrutura familiar ou presença de ambos os pais, mas no estilo educativo deles, tanto no que diz respeito à imposição de limites quanto na distribuição de afeto, atenção e cuidado.
O crime pode ser considerado o resultado da ausência de controles internos e externos, quando a família falha, o Estado tende a tentar corrigir o indivíduo, ocorre que a tendência atual é da tolerância zero com o recrudescimento do tratamento dos jovens conflitantes e ausência de políticas sérias de ressocialização e realmente tentativas que compreendam esse fenômeno.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em http://www.planalto.gov.br. Acesso em: 02 out. 2018.
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm. Acessoem 10 out. 2018.
CULLEN, F. T.; AGNEW, R. Criminological Theory.Past to Present.Essencial Readings.Los Angeles: Rox-buryPublishingCompany, 2006.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. Vol. 5, Direito de Família. 30ª ed. Rio de Janeiro: Saraiva. 2015.
DUARTE-FONSECA, Antônio Carlos. Responsabilidade dos menores pelas práticas de factos qualificados como crimes; politicas actuais. In: Psicologia Forense, Almedina: Coimbra, 2006.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 5ª ed. Curitiba; Positivo, 2014.
FREUD, S. Obras completas. Rio de Janeiro: Imago, 1969.
GARLAND, David. As contradições da sociedade punitiva: o caso britânico. In: Discursos Sediciosos: Crime, Direito e Sociedade. nº 11, ano 7, Rio de Janeiro, 2002.
NUCCI, Guilherme de Souza. Estatuto da criança e do adolescente – comentado. 2ª ed. São Paulo; Forense, 2015.
PENA JÚNIOR, Moacir César. Curso avançado de direito das famílias/ Moacir César Pena Junior – Teresina: Edição do autor, 2017.
SANI, Ana Isabel. As crianças e a violência. Coimbra: Quarteto, 2002.
TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do direito. 5ª ed. rev. atual. ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2011.
ZAFFARONI, Eugenio Raul. Em busca das penas perdidas. 5ª ed. Rio de Janeiro; Renan, 2010.

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