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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 2 HISTÓRIA DA SUPERVISÃO ESCOLAR. .................................................. 4 3 O PAPEL DO SUPERVISOR ESCOLAR NO PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO-ESCOLAR. ...................................................................................... 6 3.1 Supervisor escolar: conceito, atribuições e responsabilidades. ........... 7 3.2 Planejamento participativo na escola. ................................................ 10 3.3 Obstáculos enfrentados pelo supervisor escolar no planejamento pedagógico. ........................................................................................................... 13 4 BREVE HISTÓRICO DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL ........................ 16 4.1 O Orientador Educacional. ................................................................. 24 4.2 O papel do orientador educacional. .................................................... 26 5 INSPEÇÃO ESCOLAR. ............................................................................ 28 6 INSPEÇÃO X SUPERVISÃO. ................................................................... 34 6.1 O papel da inspeção escolar. ............................................................. 38 6.2 Atribuições do cargo de inspetor escolar. ........................................... 38 7 ANÁLISE DA GESTÃO EDUCACIONAL. ................................................. 44 7.1 Aportes legais e normativos da gestão escolar. ................................. 47 7.2 Eixos de trabalho da gestão escolar. ................................................. 50 7.3 Desafios e perspectivas da gestão escolar. ....................................... 51 8 INTEGRAÇÃO ENTRE INSPEÇÃO ESCOLAR E GESTÃO DA ESCOLA: DESAFIOS. ............................................................................................................... 52 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ......................................................... 59 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 2 HISTÓRIA DA SUPERVISÃO ESCOLAR. A supervisão surgiu no Brasil pela primeira vez com a Reforma Francisco Campos, Decreto-Lei nº 19.890, de 18 de abril de 1931, concebida de forma bem diferente da que se vinha realizando até aquele momento de simples fiscalização, para assumir o caráter de supervisão e inspeção (RANGEL, 2001). Também há evidências que o termo supervisão surgiu no período da Revolução Industrial, com o objetivo de aperfeiçoar produção quantitativa e qualitativa, visando o lucro dessa forma. Por isso a função do supervisor surgiu devido à necessidade de melhores técnicas para orientar os profissionais a exercerem suas funções na indústria e no comércio (ALVES, 2012; RANGEL, 2001). Ao longo do tempo, prevaleceu uma imagem da supervisão ligada à fiscalização e ao controle. Contudo, alguns estudos históricos revelam que se muitas vezes eles pareciam ligados aos políticos pela hierarquia administrativa e enfrentando os docentes, outras tantas se recortavam com independência dos mandatos governamentais e se uniam às lutas do magistério. Este leque de posições em torno do vínculo com as gestões políticas e com os mestres também está presente nos discursos e práticas que hoje os supervisores realizam. (FERREIRA, 2010, apud, PEREIRA, 2014, p. 3). Etimologicamente, supervisão significa "visão sobre", e da sua origem traz o viés da administração, que a faz ser entendida como gerência para controlar o executado. Desta forma, quando transporta para a educação, passou a ser exercida como função de controle no processo educacional (FERREIRA, 2010). Assim, a função de Supervisor escolar propriamente dita só veio a ser regulamentada oficialmente pelo Parecer Nº 252/69, com a finalidade de promover a melhoria na qualidade do ensino (MENDES, 2009). Recentemente (Decreto Lei 95/97 de 23/4), a supervisão foi assumida como uma das áreas de formação especializada já previstas na Lei de Bases do Sistema Educativo (1986) e no Decreto-Lei que aprovou o regime jurídico da formação de educadores e professores (Decreto-Lei 344/89 de 11/10). Efetivamente, o reforço da autonomia das escolas como fator de construção de uma escola democrática e de qualidade traduziu-se também no reconhecimento oficial da necessidade de formações especializadas para o exercício de cargos, funções ou atividades especificas, por meio de cursos de especialização realizados em instituições do ensino superior. define-se que a área de supervisão pedagógica e formação de formadores visa "qualificar para o exercício de funções de gestão e coordenação de projetos e atividades de formação inicial e contínua de educadores e professores" (RANGEL, 2011, apud, PEREIRA, 2014, p. 3). A partir da década de 80, surge uma nova concepção de Supervisão Escolar através da Gestão Democrática, devido grandes discussões entre político e educacional, pois a figura do supervisor desponta como elemento de intermediação associada a ideia de mudança com aplicação de novas propostas curriculares. A origem da supervisão escolar também está associada ao Programa de Assistência e Formação de Professores Leigos (PABAEE), implantado no Brasil por influência norte-americana. Com isso, o conceito de supervisão educacional tem sofrido alterações no decorrer do tempo, alterando seus objetivos de acordo com as diferentes etapas que marcaram o processo evolutivo dessa profissão. Tais alterações geraram mudanças profundas na maneira de encarar a tarefa educativa e na compreensão da escola como local especializado para conduzir o processo educativo (FERREIRA, 2010). A supervisão encontra seus fundamentos nas ciências da educação e nas ciências sociais que explicam a criação e o desenvolvimento dos grupos organizados socialmente para realizar funções ou atividades consideradas desejáveis. A política da Gestão Democrática, implantada no sistema de ensino com a Constituição de 1988, reforçou o discurso de que a escola pública pertence ao setor público. Desse modo determinou-se legalmente a implementação de um trabalho pedagógico articulado, com o objetivo de tornar possível a elaboração de um projeto educacional que vincule projetos pessoais dos educadores a um projeto mais amplo e que envolva o fazer individual e o coletivo, dando ainda mais importância à função do supervisor escolar. Outro ponto importante é o significado específico que o termo "supervisão" adquire nos diferentes sistemas de ensino. No estado de São Paulo a expressão esteve sempre relacionada ao cargo de "supervisor", alocado nas delegacias de ensino (Lei Complementar nº836, dezembro 1977). Nos demais estados, não existe o cargo, mas a função. Esse profissional fica na escola e realização a "supervisão pedagógica", junto aos professores, recebendo nome de coordenador, orientados, assistente pedagógicoou equivalente. Essa distinção torna-se importante, visto que decorrem algumas dificuldades de entendimento de muitas críticas feitas ao trabalho do "supervisor", para pessoas não familiarizadas com o sistema paulista de ensino (FERREIRA, 2010). A profissão de Supervisor Escolar ou Supervisor Educacional sempre foi carregado de indefinições, embora este profissional contribua decisivamente para o êxito das práticas educativas no contexto escolar. 3 O PAPEL DO SUPERVISOR ESCOLAR NO PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO-ESCOLAR. Fonte: widgetserver.com Preambularmente, cumpre destacar que, mesmo diante da imperiosa importância do profissional de Supervisão Escolar, não há, no Brasil, lei que regulamente e especifique quais são suas atribuições. Desde 2012, tramita, no Congresso brasileiro, o Projeto de Lei 4.106, o qual objetiva regulamentar essa profissão, bem como permitir a organização e a representação sindicais. São muitas as diferenças que há nesse cargo se comparado ao de professor, a começar pela carga horária. Outra diferença gritante é o lapso necessário para aposentadoria, o qual gera divergências em nossos tribunais. O certo é que o tema requer maior atenção da sociedade, tendo em vista a necessidade desse profissional para o bom andamento da escola, assim como para o devido cumprimento da sua função social, haja vista que esse é um articulador da comunidade escolar e que por estar na gestão da escola, tem por encargo tornar esse espaço um ambiente de debates que aproximem os sujeitos dessa comunidade escolar. 3.1 Supervisor escolar: conceito, atribuições e responsabilidades. Como dito Alhures, não há, no Brasil, previsão legal acerca do reconhecimento do profissional supervisor escolar. Para fins de atribuições, utilizar-se-á o que prevê o PL 4.106/2012. – supervisionar o cumprimento dos dias letivos e horas/aula estabelecidos legalmente; – orientar e acompanhar os professores no planejamento e desenvolvimento dos conteúdos; – planejar e coordenar atividades de atualização no campo educacional; – coordenar o processo de sondagem de interesses, aptidões e habilidades do educando; – acompanhar o desenvolvimento da proposta pedagógica da escola e o trabalho do professor junto ao aluno, auxiliando em situações adversas; – participar da análise qualitativa e quantitativa do rendimento escolar, junto aos professores e demais especialistas, visando a reduzir os índices de evasão e repetência, e qualificar o processo ensino-aprendizagem; e – valorizar a iniciativa pessoal e dos projetos individuais da comunidade escolar; entre outras. (BRASIL, 2012, apud SOUZA, 2017, p. 486). O que é traçado pelo PL já tem sido feito há muito pelos profissionais que desempenham essa função nas escolas. Alguns municípios, como Osório, no Rio Grande do Sul, sequer realizam concurso público para essa área, tendo em vista a ausência legal de regulamentação. Noutro prisma, alguns autores auxiliam a conceituar e a compreender o que é a função do supervisor escolar, qual a mais importante que ele deve desempenhar. Nesse sentido, Ferreira (2007, p. 327) afirma que o significado essencial do supervisor escolar está na “formação humana” do processo educacional. Libâneo (2002, p. 35) descreve o supervisor escolar como “um agente de mudanças, facilitador, mediador e interlocutor”. Portanto, seria um profissional apto a realizar a interlocução entre direção escolar, educandos, educadores e todos os demais indivíduos que, de alguma forma, fazem parte da comunidade escolar. Teria como objetivo principal contribuir para o desenvolvimento individual, político, econômico, ético e afim. Assim, buscando romper com “a cultura política do Brasil há 500 anos, que foi sempre fazer da educação uma grande bandeira, mas sempre a reduziu”. Para os dominantes, o povo é analfabeto, é ignorante, é bárbaro, e a educação viria, então, para resolver esses “problemas”. (ARROYO, 2000, p. 2). Essa cultura política invadiu a cultura pedagógica. A partir de tais conceitos, é possível perceber que o supervisor escolar deve desenvolver uma ação crítica, construtiva e participativa acerca do seu saber-fazer pedagógico, sempre trabalhando de forma articulada, lógica e coerente com todos os sujeitos que interagem no espaço escolar. Todas as suas ações devem visar à qualidade do ensino, bem como à qualidade da aprendizagem. Para a escola atingir bons resultados na aprendizagem dos educandos, são necessários planejamento, avaliação e aperfeiçoamento das suas próprias ações pedagógicas, a fim de que o processo educacional seja qualitativo. Tais ações são vistas como de responsabilidade do supervisor escolar e devem garantir à escola resultados excelentes, bem como envolver toda a comunidade nas tomadas de decisão que se refiram ao bom andamento da escola, ou seja, a comunidade deve participar do seu Projeto Político-Pedagógico, de forma ativa, demandando seus anseios e perspectivas à gestão da escola. E essa deve ter a perspicácia de articular os múltiplos saberes que entrecortam a vida dos estudantes, através de seus professores, da família e do seu entorno, que são tão educativos quanto o próprio espaço escolar. Subestimar a sabedoria que resulta necessariamente da experiência sócio- cultural é ao mesmo tempo, um erro científico, e a expressão inequívoca da presença de uma ideologia elitista. Talvez seja mesmo, o fundo ideológico escondido, oculto, opacizando a realidade objetiva, de um lado, e fazendo do outro, míopes os negadores do saber popular, que os induz ao erro científico. (FREIRE, 1992, apud SOUZA, 2017, p. 487). Nesse viés, o supervisor escolar tem como objetivo aperfeiçoar o fazer dos educadores que atuam no espaço escolar, identificando suas potencialidades, sua personalidade, suas qualidades, a fim de que cada um contribua para um planejamento pedagógico a partir dentro daquilo que melhor sabe fazer. Essa identificação exige do supervisor escolar uma atualização constante, bem como uma avaliação do seu desempenho profissional. Com isso, é muito importante que esse profissional tenha comprometimento com a práxis educativa, que entenda o meio em que a escola está inserida, provocando, assim, nos educadores, especialmente, o interesse em aliar os conteúdos programáticos à realidade dos estudantes, fazendo com que os professores compreendam que: A escola deve respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das classes mais populares, cujos saberes são socialmente construídos na prática comunitária [...], discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino de alguns conteúdos [...] porque não discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina. (FREIRE, 2006, apud SOUZA, 2017, p. 488). Todavia, é de se lembrar de que o supervisor escolar está ligado ao planejamento do currículo escolar, o qual deve se dar de forma participativa, a fim de promover a melhoria da qualidade da aprendizagem, assim como do ensino, trazendo a realidade para debate em sala de aula, bem como levando a escola para o meio familiar desses estudantes. Vasconcellos (2002, p. 42) assevera que “não podemos ser ingênuos: para estabelecer outra ordem nas coisas, há necessidade de uma ação numa determinada direção, pois não é uma ação qualquer que nos levará ao que desejamos”. É necessário planejamento a fim de que os objetivos traçados sejam alcançados e, para tanto, o supervisor escolar é peça fundamental na elaboração do plano político- pedagógico que a escola seguirá. Todo esse processo requer do supervisor uma vivência do contexto histórico social no qual a escola está inserida, bem como o conhecimento sobre quais são seus níveis e modalidades de aprendizagem. Igualmente, é necessário conhecer quais são os fundamentos teóricos que sustentam o ensino e a aprendizagemna escola e quais os princípios que norteiam a prática da escola em que atua. Ademais, o supervisor escolar deve compartilhar as práticas pedagógicas com aqueles que são atingidos por elas. Toda a comunidade escolar precisa estar inserida no poder decisório dessas práticas, a fim de que o planejamento seja, de fato, participativo. Assim, a autonomia da instituição também deve ser visada de forma a envolver a comunidade. Freire em sua obra Pedagogia da autonomia vai muito além da autonomia da instituição, afirmando que ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando, e o: [...] respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros. Precisamente porque éticos podemos desrespeitar a rigorosidade da ética e resvalar para a sua negação, por isso é imprescindível deixar claro que a possibilidade do desvio ético não pode receber outra designação senão a de transgressão. O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que “ele se ponha em seu lugar” ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor que se exime do cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência formadora do educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência. (FREIRE, 2006, apud SOUZA, 2017, p. 489). O que se percebe é que a autonomia da instituição escolar só acontecerá quando a independência do próprio educando for respeitada, ou seja, ele também deve ter sua liberdade preservada, a fim de que participe das tomadas de decisão do ambiente escolar. E o autor supramencionado afirma que mais que um dever, é um imperioso ético que o educador deve respeitar. Por fim, não menos importante, deve ser levada em consideração a necessidade de valorização dos educadores, de uma formação continuada e de qualidade, que eleve sua autoestima e que os estimule a desenvolver novas práticas educativas nas salas de aula. 3.2 Planejamento participativo na escola. Primordialmente, há que se explicitar que não é necessário tratar da crise na escola, visto que todos a percebem e dela falam. O planejamento participativo surge como uma alternativa a essa crise. É o ato de antever o futuro, reduzir riscos, ou seja, é o planejamento de ações em si. O planejamento é a base para poder de agir e assim, maiores são as condições de intervir no futuro. O planejamento é uma das mais importantes ferramentas de comunicação e articulação de interesses. Existem diferentes formas de fazer um planejamento. As principais são: diagnóstico (estudo da realidade); análise de riscos/viabilidades; plano (narração escrita aliada ao orçamento para execução das ações); proposta ou carta- consulta; plano de ação; planos e relatórios de monitorias e relatório de avaliação. Há a necessidade de fazer-se a gerência dos projetos de planejamento. A elaboração de um conjunto de atividades delimitadas no tempo, com orçamento específico, buscando gerar um produto ou um serviço inovador, fora da rotina é uma ação essencial para o gerenciamento. O planejamento escolar vai além de tais conceitos e requer conhecimentos específicos sobre a prática pedagógica. O planejamento será decisivo na formação da identidade da escola, pois é ele que definirá quais práticas pedagógicas a escola deverá seguir. [...] uma explicação simples e muito clara de planejamento curricular é: um educador que está envolvido com questões de currículo interessa-se exclusivamente em determinar os objetivos do sistema educacional. Existem basicamente duas espécies de decisões que o educador deve tomar. Primeiro, ele necessita decidir quais devem ser os objetivos (isto é, os fins) do sistema de ensino, e segundo, a consecução destes objetivos. Quando o professor está envolvido na seleção de objetivos para uma sequência particular de ensino de seu interesse, seja um ano acadêmico ou um único período de classe, ele está envolvido na tomada de decisões do currículo. Quando o interesse focaliza a seleção ou avaliação dos esquemas de ensino pelos quais os objetivos devem ser alcançados, ele está envolvido na tomada de decisões no ensino. Consequentemente a distinção entre currículo e ensino é essencialmente uma distinção entre fins e meios. (POPHAM, 1987, apud SOUZA, 2017, p. 490). Aliar todos os sujeitos que interagem no espaço escolar é uma das tarefas do supervisor escolar. Esse profissional deve, em decorrência da importância da função que desempenha estar intimamente relacionado e participando do planejamento escolar. É para sanar dúvidas e dificuldades, no cotidiano escolar, que o planejamento é necessário. Para tanto, o supervisor deverá administrar seu tempo, a fim de cumprir determinadas tarefas que são de sua responsabilidade, como: dar atenção à formação continuada dos professores, planejar reuniões, envolver-se com a comunidade escolar nos processos decisórios, dentre outras atribuições. Gandin e Gandin explicam acerca da necessidade urgente de planejamento participativo. Eis, então, o grande limite e a grande possibilidade da educação, inclusive a escolar: a escola só pode reproduzir a sociedade, isto é, ela tem a tarefa de incorporar as gerações novas ao espírito, à cultura da geração existente; quando esta cultura e este espírito entram em crise, ou seja, quando a sociedade começa a duvidar do que é bom ou do que é mau, as escolas perdem sua segurança e entram nesta dúvida geral; como o padrão sempre foi o de uma escola fechada que repete o que lhe mandam repetir, a crise da escola significa o desencontro entre o “ser responsável por algo” e não ter “este algo claramente aceito”. (GARDIN, 1999, apud SOUZA, 2017, p. 490). É de relevância o fato de que o supervisor escolar atue com visão coletiva, mostrando a importância (que detêm as relações interpessoais) aos professores, alunos e a todos os indivíduos que fazem parte da comunidade escolar. Para isso é importante que tal profissional detenha as habilidades de olhar, ouvir, falar e cuidar. Somente assim, o planejamento será, de fato, coletivo. [...] o isolamento e o individualismo possuem várias causas. É comum parecerem uma espécie de fraqueza de personalidade que se revela em competitividade, em atitude defensiva quanto à crítica e em uma tendência a acumular recursos. As pessoas, todavia, são criaturas de circunstâncias, e, quando o isolamento é disseminado, temos de perguntar o que há em nossas escolas que tanto contribui para que ele se crie. (FULLAN, 2003, apud SOUZA, 2017, p. 491). Quando se fala em planejamento coletivo, o que se objetiva é demonstrar a importância de todos no processo de elaboração, aplicação e fiscalização do projeto político-pedagógico escolar. Nesse processo, os educandos também precisam, inexoravelmente, fazer parte das decisões da escola. Podem atuar nas decisões sobre o espaço em que convivem. A organização e a distribuição dos tempos e espaços escolares representam o poder exercido pelo adulto sobre a criança. À primeira vista, não é possibilitado à criança o exercício de participação e proposição de alternativas para a organização do seu próprio espaço, de modo que possa ocupá-lo e transformá-lo em lugar. Como observa Escolano (1998), o espaço escolar expressa e reflete determinados discursos, além de representar um elemento significativo do currículo, uma fonte de experiência e aprendizagem. Quando crianças, internalizamos as primeiras percepções do espaço, desenvolvemos nossos esquemas corporais e acomodamos nossos biorritmos aos padrões estabelecidos pelas organizações próprias do tempo escolar. Ao recordar as experiências escolares e ao se pensarcomo eram as escolas de antigamente, pode-se perceber que os espaços não são estruturas neutras, mas construções sociais que aprendemos e que condicionam a significação de aprendizado e os modos de educação. Assim, se defendemos a escola como lugares privilegiados da infância em nossa sociedade precisaram repensar a construção, organização e ocupação dos edifícios escolares, sendo preciso, sim, repensar a importância das condições dos lugares escolares, para que possamos permitir que seus usuários se apropriem e vivenciem o espaço e as práticas ali desenvolvidas de modo a transformá-lo em lugar; um lugar cheio de sentido, que desperte o gosto pelo saber e que permita às crianças/adolescentes vivenciarem sua infância juntamente com seus pares. Para que a criança se aproprie da escola, transformando este tempo e espaço também em lugar de infância, é necessário que a ela seja permitido deixar suas marcas, seja através de uma pintura na parede, de um desenho no chão, seja participando da discussão, definição e organização desses espaços; enfim, dando-lhe oportunidade de opinar e discutir suas ideias e seus desejos. Assim, uma escola construída e organizada com crianças precisa respeitá-las como sujeitos de direitos, garantindo, no seu interior, direitos básicos, como: direito à educação, ao brincar, à cultura, à saúde e à higiene, a uma boa alimentação, à segurança, ao contato com a natureza, a espaços amplos por onde possa se movimentar, ao desenvolvimento da criatividade e da imaginação, ao respeito à individualidade e ao desenvolvimento de sua identidade; enfim, o direito a uma infância cheia de sentidos, possibilitando: [...] à escola uma organização a partir dos sujeitos reais que nela ingressam, e quão a leitura do mundo antecede e dá sentido ao mundo da palavra. Essa antecedência é de cunho tanto cronológico quanto epistemológico, pois de fato é a experiência do mundo que dá sentido à experiência da escola. (NOGUEIRA, 2011, apud SOUZA, 2017, p. 491). O planejamento será, de fato, participativo e de qualidade somente quando envolver todos os indivíduos que formam a comunidade escolar. 3.3 Obstáculos enfrentados pelo supervisor escolar no planejamento pedagógico. São infinitos os desafios enfrentados diariamente pelo profissional da supervisão escolar e é de todo modo, muito diversificados. Vasconcellos afirma acerca da necessidade do planejamento, [...] que o fator decisivo para a significação do planejamento é a percepção por parte do sujeito da necessidade de mudança. É claro que se tudo vai bem, se nada há para se modificar na escola, para quê introduzir esse tal de “plano” É incrível, mas muitos professores parecem tão satisfeitos – ou alienados... – com suas práticas que não sentem necessidade nem de aperfeiçoamento. Talvez, se questionados sobre a escola, até tenham o que dizer; ou não, de medo que dizendo alguma coisa possa sobrar alguma tarefa para eles... Todo o trabalho da ideologia dominante vai no sentido de anestesiar a percepção das contradições e a consequente necessidade de mudança. (VASCONCELLOS, 2002, apud SOUZA, 2017, p. 492). A ação do supervisor escolar é movida por qualidades que são necessárias à concretização de objetivos que foram traçados no próprio planejamento escolar. Para isso é preciso força de vontade para elaborar um trabalho que esteja voltado à transformação. Esse profissional necessita ser dotado de compreensão, empatia e consideração por aquilo que os outros pensam e estar conectado à realidade escolar, “oxigenando” esse espaço com provocações e ideias junto com seus pares, além de estar articulando ações integradas na comunidade escolar como um todo. É perceptível toda essa sensibilidade quando o tema em pauta é a formação continuada do professor. Nesse momento, o supervisor terá de estar com toda sua atenção voltada às características de cada professor, ao pensar e ao fazer de cada professor. E é nesse momento, com tantas diferenças reunidas, que novos conhecimentos poderão ser produzidos, bem como momentos de mudanças. Vasconcellos trata do planejamento como sendo uma prática desafiadora: A questão do planejamento é desafiadora, pois projetar é para o humano, e não poucas vezes estamos reduzidos em nossa humanidade, estamos desanimados, descrentes, cansados. Também no meio educacional – entre professores, membros de equipes de coordenação, direção, mantenedores, pais, funcionários, alunos – , estão presentes forças de vida e de morte. Chegamos a nos sentir com ausência de desejo: quem quer a escola? Quem acredita na escola como caminho de construção de uma sociedade mais justa? Escola para quê? Simplesmente como meio de subsistência? (VASCONCELLOS, 2002, apud SOUZA, 2017, p. 493). Todos esses meandros perpassam pelas responsabilidades do supervisor escolar. Ele deve lidar com todas as adversidades que permeiam a tarefa de planejar. Assim, Veiga-Neto (2002, p. 34) afirma que isso “tem sido entendido tanto numa acepção macro – em nível sistêmico, governamental, etc. quanto na acepção micro – em nível escolar ou mesmo de sala de aula”. O planejamento educacional deve objetivar, principalmente, transformações no cotidiano escolar, a fim de melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem. No que tange ao planejamento participativo, de acordo com Gandin (1984, p.13), “sua ação [está] na crença de que o melhor para as pessoas é aquilo que essas mesmas pessoas decidiram em seus grupos”. O planejamento participativo somente será de qualidade quando aqueles que atuam no meio decidirem sobre ele. E isso já se vê em outros campos, como no da política, por exemplo, que tenta trabalhar com a inserção do orçamento participativo, ação pela qual os próprios integrantes decidem sobre a destinação do orçamento público, dentre outras ações. Dessa feita, o planejamento educacional tem como objetivo analisar os problemas referentes à educação nacional, à estruturação e ao funcionamento dos sistemas que norteiam a educação brasileira. A intenção é a melhoria da educação, do ensino no País, evidenciando os principais valores de cada pessoa e, principalmente, da escola na sociedade. O planejamento deve estar voltado para a visão global e de desempenho em longo prazo. Leciona Parente Filho (2003, p. 63) que o planejamento “é entendido como processo de mobilização dos meios para a realização de missão setorial ou organizacional”. Nesse sentido, planejar é adiantar uma atividade que será realizada e agir conforme o que foi previsto. Planejar é transformar. É descontruir paradigmas, reinventar o que já existe. Mais do que isso, é lutar pelo que é justo, pelo que é certo, pelo que é de direito de todos. Freire (2003, p. 38) afirma que “o destino do homem deve ser criar e transformar o mundo”. Conforme Vasconcellos relata; [...] é possível a transformação da escola? Entendemos que, fundamentalmente, o que possibilita sua mudança é o fato da contradição estar também ali presente e não apenas fora dela, pois a escola não consegue ser um lugar isolado da sociedade – apesar deste parecer ser o sonho de certos educadores. Para além do otimismo ou pessimismo, temos que tomar a escola como local de contradições dialéticas. [...] Essas contradições, ao serem assumidas por vários segmentos da escola, passam a atuar ainda mais fortemente, ocupando mais espaço e provocando mais reação, o que vai exigir a definição mais clara de posições por parte de todos os membros da comunidade educativa. Por outro lado, à proporção que as contradições são postas a descoberto, são tematizadas, favorece-se a tomada de consciência, a superação do senso comum. (VASCONCELLOS, 2002, apud SOUZA, 2017, p. 495). O indivíduo epistêmico forma-se pela sua própria ação. Ele interage sobre o meio objetivando alcançar suas necessidades. Essa atividade transforma o meio no qual ele vive. Ao modificar esse meio, o sujeitoé confrontado com as resistências do meio. (BECKER, 2003, p. 35). Fullan e Hargreaves afirmam acerca da transformação do professor: Se modificar o professor envolve modificar a pessoa que é, precisamos saber como as pessoas se modificam. Nenhum de nós é uma ilha; não nos desenvolvemos em isolamento. Nosso desenvolvimento dá-se através de nossas relações, em especial aquelas que estabelecemos com pessoas importantes para nós. Essas pessoas agem como uma espécie de espelho para nossos “eus” em desenvolvimento. Se em nossos locais de trabalho há pessoas que são importantes para nós e estão entre aquelas por quem temos consideração, eles terão uma enorme capacidade para, positiva ou negativamente, influenciar a espécie de pessoas e, por conseguinte, a espécie de professores que nos tornamos. (FULLAN, 2003, apud SOUZA, 2017, p. 495). Transformar de modo epistemológico refere-se ao romper ações que imobilizam. As ações são decisivas, porquanto transforma o sujeito, o mundo, o meio no qual ele vive. O ato de planejar é uma ação importante às intenções de cada sala de aula, de cada escola e de cada comunidade escolar envolvida. 4 BREVE HISTÓRICO DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Fonte: Para entender o que é o orientador educacional, é preciso fazer uma breve retrospectiva histórica, pois há diversas vertentes ao longo de seu desenvolvimento. Transferindo o conceito original de Orientação, para o conceito metafórico de Orientação Educacional, este pode ser definido como “uma ação consciente de situar o educando no campo educacional, segundo os pontos básicos do processo educacional”. (VITORIANO, 1973, apud SILVA, 2015, p. 17). O conceito de orientação significa ação ou efeito de orientar. Orientar é um processo humano de colocar pessoas ou coisas na direção do oriente como ponto de referência. Mostrou-se válida na ordenação de sociedade brasileira em mudança na década de 1940 e incluía a ajuda ao adolescente em suas escolas profissionais. A autora mostra que a primeira menção a cargos de orientador nas escolas estaduais se deu pelo Decreto n. 17.698 de 1947, referente às Escolas Técnicas e industriais. (PASCOAL; HONORATO E ALBUQUERQUE, 2008, apud SILVA, 2015, p. 17). A Orientação Educacional no Brasil surge no início da década de 20, na capital paulista. Ela foi introduzida pelo professor e engenheiro suíço Roberto Mange, cujos trabalhos iniciais foram realizados na área de orientação profissional. (SAVIANI, 2007) A essa época, o país atravessava um período de instabilidade econômica. No campo educacional, as oportunidades eram reservadas para as classes dominantes, enquanto que as classes menos favorecidas não podiam alcançar melhores condições de vida, ou seja, a escola reproduzia as desigualdades sociais. No ano de 1908, na cidade de Boston (EUA), em meio a tantos avanços tecnológicos, Frank Parsons criou um sistema de orientação para adolescentes que ainda não haviam optado por uma carreira – foi o início da Orientação Profissional. Logo em seguida, no mesmo país, a Orientação Profissional ganhou seu espaço dentro das escolas, que hoje é conhecido como Orientação Vocacional. A proposta era de orientar os alunos na área que escolheria para inserção no mercado de trabalho. A preocupação era voltada para a formação profissional e não para o desenvolvimento do aluno. Depois de muitos anos, a orientação começa a ganhar espaço no país e é mencionada na legislação federal brasileira. É trazida nas Leis Orgânicas do ensino, que foram criadas para dar definição a cada área de ensino e suas diversas atribuições. A Lei Orgânica do ensino Industrial em 1942 trouxe, pela primeira vez, algo sobre Orientação Educacional. O seu papel seria trabalhar com a ascensão das qualidades morais do indivíduo, desvendando assim, suas aptidões naturais, o que ajudaria na escolha da carreira profissional. Em seguida seu papel recebe caráter disciplinatório, alunos que saíam dos moldes desejados eram encaminhados ao SOE (Serviço de Orientação Educacional). Sua função era voltada para ajustamento e falta de disciplina, pouco ou nada voltada para a autonomia do aluno. As pessoas eram rotuladas em mais capazes e menos capazes, àqueles que exerceriam funções subordinadas e àqueles que exerceriam funções de chefia ou direção. Nesse contexto, percebe-se uma ação discriminatória, onde, caso necessário, os indisciplinados eram postos em classes especiais e os vistos como mais capazes tinham as habilidades treinadas para que mais tarde ocupassem os melhores postos de trabalho. Como já exposto, o histórico da Orientação perpassa por diversas fases e papéis exercidos por esse profissional, em diferentes contextos históricos e políticos. O campo de atuação era voltado para “desajustes” escolares, hoje o papel desempenhado por esse profissional é outro: [...] a orientação, hoje, está mobilizada com outros fatores que não apenas e unicamente cuidar e ajudar os „alunos com problemas‟. Há, portanto, necessidade de nos inserirmos em uma nova abordagem de Orientação, voltada para a „construção‟ de um cidadão que esteja mais comprometido com seu tempo e sua gente. Desloca-se, significativamente, o “aonde chegar, neste momento da Orientação Educacional, em termos do trabalho com os alunos”. Pretende-se trabalhar com o aluno no desenvolvimento do seu processo de cidadania, trabalhando a subjetividade e a intersubjetividade, obtido através do diálogo nas relações estabelecidas. (GRINSPUN, 1994, apud SILVA, 2015, p. 19). Segundo Grinspun (2003), antes o orientador era visto como uma figura “neutra” no processo educacional, para “guiar os jovens em sua formação cívica, moral e religiosa”, hoje, espera-se um profissional comprometido com sua área, com a história de seu tempo e com a formação do cidadão. O orientador deve fortalecer o contato entre escola e comunidade, já que é tão importante para o aluno o entendimento da sua história real vivida. Com isso, o orientador consegue exercer um de seus papeis, que é atuar na construção do indivíduo, fazendo com que ele tenha compromisso com sua comunidade, desenvolvendo assim, a cidadania. O principal papel da Orientação será ajudar o aluno na formação de uma cidadania crítica, e a escola, na organização e realização de seu projeto pedagógico. Isso significa ajudar nosso aluno ‘por inteiro’ (grifo da autora): com utopias, desejos e paixões. (...) a Orientação trabalha na escola em favor da cidadania, não criando um serviço de orientação (grifo da autora) para atender aos excluídos (...), mas para entendê-lo, através das relações que ocorrem (...) na instituição Escola. (GRINSPUN, 2002, apud SILVA, 2015, p. 19). O que mostra que seu papel vai além dos portões da escola. Ele deve auxiliar o trabalho do professor, fazer a ponte entre família e escola, dar apoio para o aluno no processo educacional, realizar projetos para atender as necessidades de seus alunos, entre outras diversas atribuições que lhe são dadas. O orientador educacional tem um papel fundamental na vida do aluno, da família e até mesmo dos professores. É ele o responsável pela mediação entre todos os envolvidos no processo educacional. É um papel desafiador, que foi ganhando, com o passar dos anos, suma importância no âmbito escolar. Infelizmente, seu papel ainda não está muito bem definido dentro das escolas, e ele acaba por realizar as atribuições de outros profissionais. Sua figura muitas vezes é confundida com a do psicólogo, coordenador, professor. No final, ele realiza todas essas tarefas, mas o seu real papel precisa ser bem desenhado, para que ele consiga realizar seu trabalho com excelência e sem sobrecarga. Seu trabalho apresenta um olhar voltado para o educando, centrado na responsabilidade de formar cidadãos, de fazer valer o caráter democrático da educação, ou seja, dar o suporte necessário para o indivíduo atuar no meiosocial, fazendo com que desenvolvam senso crítico. Auxiliá-los através de uma prática pedagógica que estimule sua participação, desenvolvendo sua capacidade de criticar e fundamentar sua crítica, de optar e assumir a responsabilidade da execução e da avaliação do trabalho pedagógico. ...O orientador trabalha o aluno para o seu desenvolvimento pessoal, visando à participação dele na realidade social. (GRISPUN, 2003, apud SILVA, 2015, p. 20). É uma tarefa que vai se aprimorando com o passar dos anos, se ganha experiência no dia a dia. Ele está disposto no espaço escolar para orientar o aluno, ajudando a solucionar problemas que vão surgindo durante a caminhada escolar e na vida pessoal. É ele quem faz a mediação escola/família, aluno/professor, aluno/família, aluno/comunidade, comunidade/aluno família/professor e mediações/prevenções ligadas a drogas, violência e sexo, mostrando os caminhos e escolhas que o educando pode seguir. Seu papel ultrapassa os muros da escola. Atualmente, a sala da orientação educacional é o local que o aluno vai, não só para ser orientado sobre seus comportamentos e atitudes, mas para se sentir acolhido, ouvir e ser ouvido, entender que ele tem o seu espaço no colégio e no mundo. Orientador e professor devem caminhar juntos. Ele auxilia o professor a compreender o comportamento dos educandos, a lidar com as dificuldades de aprendizagem e mediar conflitos entre alunos, professor e comunidade. O orientador educacional diferencia-se do coordenador pedagógico, do professor e do diretor. O diretor ou gestor administra a escola como um todo; o professor cuida da especificidade de sua área do conhecimento; o coordenador fornece condições para que o docente realize a sua função da maneira mais adequada possível e o orientador educacional cuida da formação de seu aluno, para a escola e para a vida. É necessário que os docentes conheçam e reflitam sobre o verdadeiro significado da existência da escola e sua função social. Seu trabalho volta-se para a constante reflexão crítica da prática pedagógica. A relação é baseada em auxílio e troca de informações, onde o professor relata o que acontece, diariamente dentro da sala de aula, e o orientador utiliza a informação para agir na vida do educando. Na maioria das vezes o comportamento que o aluno tem dentro de sala de aula é reflexo do que acontece dentro de casa, e que nem sempre ele se sente a vontade para contar a seus professores, enviam apenas sinais, ele capta e transfere para o orientador. É preciso ressaltar que na promoção das reflexões e discussões, o Orientador Educacional deve conhecer a ciência da educação incluindo as teorias da aprendizagem, as psicológicas, as ciências sociais, ou seja, possuir competência técnica. Outros conhecimentos devem fundamentar a prática do orientador educacional, tais como a: Psicologia, Sociologia, História da Educação e História do Brasil (até nossos dias), além de outros, oriundos da Antropologia, Ciências Políticas, Metodologia e Pesquisa em uma abordagem qualitativa (ASSIS, 1994, apud SILVA, 2015, p. 21). No que tange à ação com a família e comunidade, o trabalho volta-se para incluir e mostrar a importância que possuem na organização e desenvolvimento da instituição. Promovendo ações que incentive pais e comunidade a participarem da rotina escolar, que possam levar seus anseios e sintam que sua opinião é válida e importante. Devem construir uma relação de confiança, onde pais e comunidade estejam sempre informados do que acontece no âmbito escolar e participem ativamente da vida de seus filhos. Isso é muito importante para que esses pais tenham sentimento de pertença e colaborem com o processo educativo. Esse é um dos desafios do Orientador, levar pais e comunidade para dentro das escolas, um espaço coletivo onde as decisões podem ser compartilhadas (GRISPUN, 2003). É um profissional muito solícito, contribui para a sociedade de maneira esplendida, é parceiro da educação e faz total diferença na instituição. Possui papel essencial na desenvoltura e na vida do aluno. É um papel com muitos desafios, que foi ganhando, com o passar dos anos, suma importância no âmbito escolar. Segundo Giacaglia e Penteado (2010), “é um profissional técnico, da área de educação, que exerce uma profissão de apoio a pessoas e, portanto, de natureza assistencial.” Ainda segundo essas autoras o trabalho desses profissionais se orienta principalmente para o “bem estar e felicidade” dos alunos. É necessário compreender o educando de forma integral, e não apenas como um sujeito a ser ajustado e ensinado. A necessidade da Orientação Educacional no Brasil surge também de acordo com as necessidades do mercado de trabalho, uma vez que a educação seria a responsável pelo desenvolvimento do país. Ela surge na década de 20, junto com um movimento em prol da educação do povo, onde o Governo estava preocupado em dar educação para todos, visando à ascensão social. Tudo isso na tentativa de amenizar a crise social e política vivida na época. A orientação vocacional se empenha em auxiliar pessoas a tomar decisões no âmbito do trabalho, atendendo a pessoas em processos de escolha de carreira, o que ajudaria a melhorar o quadro histórico em que se encontrava o Brasil. Em 1924 temos o primeiro Serviço de Orientação voltado para a escolha profissional, para alunos do curso de mecânica, criado pelo engenheiro Suíço Roberto Manage junto com Lourenço Filho. Em 1931, Lourenço Filho criou o primeiro serviço público de Orientação Profissional no Brasil, mas que foi extinto em 1935. Com Getúlio Vargas no poder (década de 30) é implantado um novo processo de mudanças políticas, sociais e econômicas com o objetivo de favorecer a modernização do estado. Vargas desenvolveu uma política voltada para várias classes sociais, causando grande mudança no âmbito educacional. Visava qualificar trabalhadores para a crescente industrialização. Com isso, pessoas deixavam a vida rural e vinham tentar melhores condições nas cidades. Art. 129: À infância e à juventude, a que faltarem os recursos necessários à educação em instituições particulares, é dever da Nação, dos Estados e dos Municípios assegurar, pela fundação de instituições públicas de ensino em todos os seus graus, e a possibilidade de receber uma educação adequada às suas faculdades, aptidões e tendências vocacionais. O ensino pré - vocacional e profissional destinado às classes menos favorecidas é em matéria de educação o primeiro dever do Estado... (Constituição Federal Brasileira de 1937, apud SILVA, 2015, p. 22). É nítido que a educação era elitista, onde o ensino principal era o ensino privado e as famílias que não tinham condições para colocarem seus filhos em escolas privadas, o governo assumiria e iriam para escolas públicas. Para Romanelli (1986), durante a ditadura do governo Vargas, se instituiu oficialmente a discriminação social através da escola. No seu artigo 129 promulgou que: O ensino pré-vocacional e profissional é destinado às classes menos favorecidas. Com isso, estaria orientando a escolha da demanda social da educação fazendo com que o movimento renovador se calasse, pois modificava fundamentalmente o dever do Estado e limitava-lhe a ação quanto à educação. A primeira lei que mencionou a Orientação Educacional no país foi o Decreto – Lei nº 4073, de 30 de janeiro de 1941 (Lei Orgânica do Ensino Industrial), formulada por Gustavo Capanema – ministro da Educação e Saúde Pública, que traz, em seu capítulo XII, a seguinte redação: Art. 50. Instituir-se-á, em cada escola industrial ou escola técnica, a orientação educacional, que busque, mediante a aplicação de processos pedagógicos adequados, e em face da personalidade de cada aluno, e de seus problemas, não só a necessária correção e encaminhamento, mas ainda a elevação das qualidades morais. Art. 51. Incumbetambém à orientação educacional, nas escolas industriais e escolas técnicas, promover, com o auxílio da direção escolar, a organização e o desenvolvimento, entre os alunos, de instituições escolares, tais como as cooperativas, as revistas e jornais, os clubes ou grêmios, criando, na vida dessas instituições, num regime de autonomia, as condições favoráveis à educação social dos escolares. Art. 52. Cabe ainda à orientação educacional velar no sentido de que o estudo e o descanso dos alunos decorram em termos da maior conveniência pedagógica. (Lei Orgânica do Ensino Industrial, 1941, apud SILVA, 2015, p. 23). Sua função era descobrir habilidades particulares de cada educando e desvendar as aptidões naturais do indivíduo. Aqui seu referencial era baseado praticamente em bases psicológicas, ele realizava diagnósticos baseados na psicologia aplicada e indicava as profissões adequadas a cada orientando (SPARTA, 2003). Em 1942 as Leis Orgânicas de Ensino tornam obrigatória a presença do Orientador Educacional nas escolas secundárias (somente para escola industrial ou escola técnica, provavelmente por conta de suas origens profissionalizantes). Em 1958, por meio da Portaria de nº 105 do MEC o exercício da função do orientador educacional no ensino secundário foi regulamentado. Mas o primeiro registro oficial de um Orientador foi dado pelo MEC apenas em 1960. Em 1961, a Lei nº 4024/61 (LDB) a orientação, antes introduzida somente no ensino secundário, passou a atender também o ensino primário. Nesta, a orientação tem um novo enfoque, suas atribuições voltam-se para todos os alunos e não mais somente para os alunos problemas. Nesse contexto na LDB de 1961, o Orientador ganha status de Orientador Educativo (OE) e Vocacional, tornando seu trabalho mais minucioso e desenvolvido para todos os alunos, não mais voltado apenas para os “alunos- problema”. A LDB de 1971 trouxe a obrigatoriedade do orientador nas escolas de 1º e 2º grau, sejam públicas ou particulares. No Capítulo I, no décimo artigo temos: “Será instituída obrigatoriamente a Orientação Educacional, incluindo aconselhamento vocacional em cooperação com os professores, a família e a comunidade”. Em 1973 é criado o Decreto – Lei n° 72.846 de 26/06/1973, que regulamentou as atribuições do Orientador Educacional em âmbito nacional, e até os dias de hoje a atuação desses profissionais estão baseadas nesse documento. O legislador estabeleceu atribuições privativas, nas quais o Orientador deve coordenar e participar, atuando em cooperação com os demais membros da escola. Dentre todas as atribuições, que auxiliam na orientação para um trabalho prático, destaco algumas atribuições previstas nos Artigos 8º e 9º: Art. 8º São atribuições privativas do Orientador Educacional: a) Planejar e coordenar a implantação e funcionamento do Serviço de Orientação Educacional em nível de: 1- Escola; 2- Comunidade; c) Coordenar a orientação vocacional do educando, incorporando- o ao processo educativo global; d) Coordenar o processo de sondagem de interesses, aptidões e habilidades do educando; h) Coordenar o acompanhamento pós- escolar; j) Supervisionar estágios na área da Orientação Educacional. Art. 9º Compete, ainda, ao Orientador Educacional as seguintes atribuições: c) Participar no processo de elaboração do currículo pleno da escola; e) Participar do processo de avaliação e recuperação dos alunos; g) Participar do processo de integração escola- família- comunidade; h) Realizar estudos e pesquisas na área de da Orientação Educacional. (Lei n° 72.846 de 26/06/1973, apud SILVA, 2015, p. 24). A década de 80 traz uma série de fatores que mostra uma busca de identidade para o orientador. Apesar dos avanços legais e continuidade da movimentação da classe, o trabalho efetivo não acontecia, o que desvalorizava o trabalho desse profissional. Isso se dá por vários fatores, um deles é o não cumprimento da lei 5692/71 que previa a obrigatoriedade do Orientador Educacional nas escolas. Um dos motivos do não cumprimento da lei era a situação econômica que o país enfrentava. Havia muitas escolas públicas e a folha de pagamento público representava uma enorme fatia do orçamento público, onde a figura do Orientador ficava fora das prioridades de contratação. A falta de esclarecimento e delineamento do papel do orientador nas escolas e na comunidade e a falta de estrutura para os estudantes de Pedagogia também foram pontos marcantes para a desvalorização do Orientador Educacional. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394 (1996) em seu artigo 64 diz que: “A formação dos profissionais da educação para a administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feito em cursos de graduação, em Pedagogia ou em nível de pós- graduação, a critério da instituição de ensino, garantida nesta formação a base comum nacional”. A LDB (1996) deixa de se referir claramente à obrigatoriedade do profissional nas escolas. Explicitando como deve ser a sua formação, não trazendo suas atribuições, destacando apenas que para atuar na área de Orientação, é preciso ter graduação em Pedagogia aliada a uma pós-graduação em Orientação Educacional, o que foi um ganho para o curso de Pedagogia, pois na lei anterior a esta, a profissão do Orientador não exigia um curso de licenciatura específico, o que fazia com o que os Orientadores Educacionais pudessem ser professores de outras licenciaturas que não dispõe de base comum para atuar na área. Com a não obrigatoriedade deste profissional dentro das escolas a profissão foi perdendo força. Além de todos esses fatores legais, é nítido que a educação sempre serviu mais a política do que à sociedade, visto que essas decisões foram tomadas devido a crises econômicas. 4.1 O Orientador Educacional. Segundo Grinspun (2003), o trabalho realizado pela Orientação Educacional se divide em seis momentos distintos, datados e caracterizados. Período implementador – 1920 a 1941, onde o orientador começa aparecer no cenário educacional brasileiro timidamente associado à orientação profissional. Tendo como foco os trabalhos de seleções e escolhas profissionais. Período institucional – 1942 a 1960, considerado como o período que está subdividido em funcional e instrumental, é onde ocorre toda a exigência legal da orientação nas escolas, que, por meio do esforço do Ministério da Educação e Cultura buscou dinamizá-la, efetivar os cursos que cuidavam da formação dos Orientadores Educacionais. Período Transformador – 1961 a 1970 que traz consigo uma Orientação Educacional caracterizada como educativa, começam a aparecer em eventos da classe, em congressos, e ganha espaço nesse período as questões psicológicas. Tendo em seu bojo, um fazer de orientação, de fora para dentro, a partir da dinâmica do grupo e das atividades que fomentava conflitos dentro da escola. Período Disciplinador – 1971 a 1980, onde a orientação estava sujeita à obrigatoriedade da lei 5692/71 que determina, inclusive, o aconselhamento vocacional, ou seja, de vocação. Ao mesmo tempo, a Orientação deveria trabalhar com o currículo da escola, levando os seus orientadores a questionar a sua pratica pedagógica. Nesse cenário, as diretrizes indicavam para uma visão sociológica e coletiva, ao contrario, os profissionais enquadravam-se em uma visão psicológica. Grinspun (2003, p. 19), pondera que é nesse período que "desloca-se a análise da escola, das relações internas desta instituição e da dinâmica do processo de ensino aprendizado, para compreender o que se passava no eixo social [...]." para então questionar o fazer diário dos serviços de responsabilidade da escola. Período Questionador - década de 80. Como o próprio nome já indica é neste período que mais se questiona a Orientação Educacional, tanto em termos de formação de seus profissionais,quanto da prática realizada, pois, o cenário dos anos 80 trouxe grandes modificações que refletiu na educação e logo na forma de fazer orientação. Isso levou a ser caracterizado como período onde se realizou muitos cursos de capacitação voltados para os profissionais. Contudo, inicia–se o momento onde o orientador educacional se viu na necessidade de: "[...] participar do planejamento- não como benesse da orientação, mas sim como um protagonista do processo educacional procurando discutir objetivos, procedimentos, estratégias e critérios de avaliação [...]," com isso, trazer a realidade social do aluno para dentro das ações da escola. De forma a pode refletir a ação do aluno, baseado na relação escola e meio externo (sociedade). (GRINSPUN, 2003, apud TRINDADE, 2011, p. 9). Período Orientador – a partir de 1990, assim denominado este período, por acreditar que, principalmente a partir de 1990, temos a "orientação" da Orientação Educacional pretendida. Também caracterizada como uma prática a ser construída cotidianamente. E ainda, cogita-se no sentido de saber se esse profissional subsistirá. Atualmente o trabalho desenvolvido pela Orientação Educacional engloba o trabalho diretamente com os alunos, seu compromisso é com a formação permanente dos educandos no que diz respeito a valores, atitudes, emoções, sentimentos e suas relações pessoais, sociais e escolares. 4.2 O papel do orientador educacional. O papel do Orientador Educacional (OE) na escola é muito amplo, sendo muito importante em todo o processo educacional, pois busca sempre a formação integral do estudante e trabalha com toda a comunidade escolar. A Orientação Educacional (OE) é um processo organizado e permanente que existe na escola. Ela busca a formação integral dos educandos (este processo é apreciado em todos seus aspectos, tido como capaz de aperfeiçoamento e realização), através de conhecimentos científicos e métodos técnicos. A Orientação Educacional é um sistema em que se dá através da relação de ajuda entre Orientador, aluno e demais segmentos da escola; resultado de uma relação entre pessoas, realizada de maneira organizada que acaba por despertar no educando oportunidades para amadurecer, fazer escolhas, se auto conhecer e assumir responsabilidades (MARTINS, 1984, apud BUGONE, 2016, p. 2). O trabalho de Orientação Educacional, ao longo dos tempos, passou por diversas etapas e transformação para se adaptar as mudanças e necessidades da sociedade. Atualmente, é importante que para desenvolver suas atividades de trabalho, o OE procura conhecer a realidade na qual está inserida a escola e principalmente a realidade dos estudantes, levando em conta suas características e vivências. Isso se torna fundamental, pois influencia no processo de ensino e aprendizagem, que antes acontecia somente na escola, e agora passou a abranger diversos outros campos, como na família, no trabalho, na sociedade, nos meios de comunicação, etc. O OE está sendo cada vez mais requisitado no contexto escolar, mediante os problemas que as escolas têm enfrentado como indisciplina, conflitos familiares, auxílio aos professores para lidar com educandos/famílias/dificuldades na aprendizagem e para auxiliar a dar conta das funções que a escola tem assumido na atualidade. O mesmo precisa trabalhar buscando o desenvolvimento integral do estudante, sendo o mediador entre os professores, funcionários, estudantes e sociedade, promovendo uma melhor convivência dentro e fora da escola, procurando mostrar que a função da escola é ensinar (socialização secundária) e não educar (socialização primária), descobrindo novos métodos que possam auxiliar nas dificuldades dos estudantes. Diante do exposto, como questionamentos centrais deste estudo definimos: quais são os desafios do OE no meio escolar? Como ele pode enfrentar tais desafios? A escola vem vivenciando uma nova realidade e enfrentando diversos desafios, é preciso pensar e repensar nas formas de aprendizagem, sempre buscando meios necessários para que se possa cumprir sua função de ensinar, promovendo a tematização de conhecimentos básicos para formar cidadãos, lançando mão de práticas pedagógicas ancoradas em princípios como a autonomia, a responsabilidade, a solidariedade, o respeito e a ética. O OE precisa estar comprometido com a construção do sujeito\estudante na formação de suas ações de cidadania. A busca não se dá apenas no processo de adquirir informações, mas como se dá a formação desse sujeito. Pensar a Orientação Educacional hoje, não é se preocupar exclusivamente com os “alunos problemas”. Ela tenta contribuir, na solução dos problemas enfrentados pelos estudantes, mas, além disso, de toda a comunidade escolar, numa perspectiva de melhor compreensão do sujeito e de suas relações dentro e fora da escola. O desafio maior do sistema educacional é o de oferecer um ensino de qualidade, em que a formação do estudante ocorra em termos de formação do cidadão participativo, crítico, emancipado, consciente de seu papel na sociedade. Neste contexto, é importante mostrar e refletir sobre o papel do OE, pois este precisa ter compromisso em relação aos valores, atitudes, emoções e sentimentos, devendo ter claro que cada sujeito é um ser único e pela sua individualidade cada um é especial merecendo além de respeito, muitas vezes carinho e afeto. Esse fato merece atenção, pois grande parte dos aprendizados acontecem na decorrência de interação e relação com as pessoas que estão presentes no nosso dia a dia. É significativo ressaltar também a relação e o comprometimento que o OE deve manter com os professores, pais, direção, coordenação, funcionários e comunidade escolar como um todo, pois como faz parte da equipe pedagógica da escola, suas responsabilidades são muitas, precisa mediar, planejar, coordenar, avaliar e assessorar. Apesar de ser um profissional de extrema importância no âmbito escolar, ainda existem muitas escolas ou instituições educacionais que não possuem orientadores. Isso faz com que outros profissionais da escola, muitas vezes não capacitados e acumulando funções, acabam tentando desenvolver esse trabalho, porém, apesar dos possíveis esforços, geralmente não é desenvolvido de forma tão qualificado como poderia pelo profissional especializado. A educação escolar não pode se constituir num processo linear, mas precisa ser uma busca a partir da compreensão da realidade, refletindo sobre a integração do sujeito ao meio escolar e ao meio que vive. Então, considerando a importância e a real função do OE na orientação do processo educativo escolar, busca-se compreender a função deste especialista em educação no cotidiano escolar. Nesse sentido, investigar quais são os desafios e atribuições impostas ao OE no meio escolar, aprofundar conhecimentos sobre a função da Orientação Educacional, suas atribuições tanto na equipe gestora, quanto em contato com os estudantes, famílias e sociedade torna-se premissa básica quando se intenciona refletir acerca dos problemas que muitas vezes impedem que o professor desenvolva uma educação escolar de qualidade. 5 INSPEÇÃO ESCOLAR. A inspeção escolar é uma das funções compreendidas no artigo 64 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB, Lei nº 9394/96, que define as carreiras para a atuação em administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional na Educação Básica, no Brasil. Constitui-se ainda, em uma das categorias de trabalhadores que devem ser considerados como os profissionais da Educação Básica, no país, segundo a lei nº 12.014 de 6 de agosto de 2009, que alterou o artigo 61 da LDB. O novo artigo 61 define estes profissionais como trabalhadores em educação, entre eles, os Inspetores Escolares - “Art. 61. Consideram-se profissionais da educação básica os que, nela estando em efetivo exercício, e tendo sido formados em cursosreconhecidos são: Inciso II - trabalhadores em educação, portadores de diploma em pedagogia, com habilitação em administração, planejamento, supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas”. A Inspeção Escolar - entendida aqui como uma instituição social, portanto produzida historicamente e composta por um sistema de regras - atravessa e é atravessada pelas relações de poder que circulam no cenário educacional. Alguns autores, como Meneses (1977) defendem que “a inspeção sempre existiu e não constitui novidade nem nas empresas e nem nas atividades sociais”. Essa visão naturalizada da Inspeção neutraliza a possibilidade de pensar outras possibilidades de práticas, principalmente educacionais, além de desconsiderar a historicidade das produções sociais e, principalmente, impede que a função seja questionada. Afinal, a escola nem sempre existiu, as hierarquias também não, assim como os sistemas educacionais, a legislação e, consequentemente, a Inspeção. Em vez de tentar achar uma definição em relação a essa função e a esse profissional, por que não pensar sobre os modos que garantiram o seu surgimento, a sua produção e, enfim, a sua institucionalização? As contribuições da Análise Institucional - na perspectiva dos franceses1 - nos ajudam a refletir sobre o status de naturalidade das instituições educacionais e questioná-las, servindo como possibilidade de alternativa às cristalizações do campo educacional. A ideia de “instituição” passou a ser usada com ênfases muito diferentes, sendo possível identificar três momentos: num primeiro momento as instituições são pensadas como estabelecimentos de cuidados, ou seja, a serviço da ação terapêutica; num segundo momento as instituições passam a ser entendidas como dispositivos que estariam instalados no interior dos estabelecimentos; e num terceiro momento, a instituição passa a ser entendida não mais como algo localizável, mas como a “forma” de produzir e reproduzir as relações sociais ou a “forma geral” dessas relações que se instrumentalizarão nos estabelecimentos ou nos dispositivos (RODRIGUES, 1987, apud PEREIRA, 2012, p. 15). Lapassade (1977) ao propor uma pedagogia institucional, isto é, um novo modo de funcionamento em que “a criança torna-se o centro de decisão, ou melhor, o grupo assume a sua própria direção e caminha para a sua própria autogestão” (LAPASSADE, 1977, p.212), faz uma análise da pedagogia-burocrática, um fenômeno que, na pedagogia tradicional, é bastante visível. Enquanto que na pedagogia institucional defende-se a ideia de que as estruturas podem ser alteradas, na pedagogia tradicional, não pode haver questionamentos em relação ao seu modo de funcionamento, e por isso, conta com uma organização hierárquica. A burocracia pedagógica funciona num sistema em que as decisões fundamentais (programas e nomeações) são tomadas pela “cúpula da burocracia pedagógica” e são transmitidas e executadas através dos vários graus da hierarquia. Várias regras são definidas pela burocracia resultando em estatutos, obrigações, condições de ingresso na profissão pedagógica, definindo um sistema de controle e acaba sendo vista como uma fonte de julgamentos e sanções. Segundo Lapassade: [...] o “universo burocrático” exprime-se ao nível do “vivido”, e pertence, por esse fato, ao campo da análise psicológica (ansiedade dos professores, por exemplo, quando das “visitas” do Inspetor, encarado antes como um controlador e como um juiz do que como um conselheiro pedagógico (LAPASSADE, 1977, apud PEREIRA, 2012, p. 16)). Esse exemplo, entendido pelo autor como pertencendo ao campo da análise psicológica, é o que se reflete nas práticas das relações que foram sendo estabelecidas historicamente entre a Inspeção Escolar e os demais profissionais da educação. A produção de uma relação hierarquizada, autoritária, fragmentada e cristalizada. Contudo, algumas escolas institucionalistas nos ajudam a entender que não há; [...] uma separação radical entre vida econômica, vida política, vida do desejo inconsciente, vida biológica e natural; o que existem são imanências – isto é, a coextensão, a condição intrínseca de cada um destes campos em relação aos outros, que só podem se separar de uma maneira artificial para a finalidade de seu estudo (BAREMBLITT, 1992, apud PEREIRA, 2012, p. 16). Assim, segundo o autor, ao invés de uma separação radical, podemos conceber a vida social como uma rede, em que é possível distinguir o “molar” (o macro, o lugar da conservação, da ordem, da regularidade, das leis, do visível, da reprodução) e o “molecular” (o micro, o lugar da produção, do impensável, do novo, do imprevisível). Em outras palavras, movimentos intensos ente o instituído (o que está posto, o que procura conter as transformações, controlar) e o instituinte (dinâmica de transformação). Pode-se considerar, para a análise deste estudo, que a Inspeção Escolar está marcada por processos burocráticos, portanto, inserida no num contexto molar, fazendo parte de uma rede de relações de produções e reproduções que afirmam um modo de funcionamento que induz a efeitos de submissão dos sujeitos. As condições que levaram às várias mudanças na organização da Inspeção Escolar não se deram simplesmente porque o Estado, o poder, a legislação e as regulamentações assim decretaram. Mas justamente porque mudanças moleculares foram acontecendo e se conectando na vida social. Isto é, os direcionamentos que levaram à institucionalização da Inspeção Escolar, são o resultado das mudanças que surgiram na sociedade, como um dispositivo para contê-las ou configurá-las. Em meio a tantas mudanças no tecido social, em relação à Inspeção Escolar é possível distinguir, de um modo geral, três períodos de “evolução”, conforme o dicionário de Pedagogia LABOR (MENESES, 1977) aponta: período confessional, período de transição e período técnico-pedagógico. O período confessional teve como principal característica a influência religiosa. A escola paroquial era a única existente no período anterior ao século XII, em que o bispo da diocese era o responsável pela Inspeção. Com o aumento do número de escolas, a função de inspecionar a educação foi designada aos “cantores de cabido”. Posteriormente a função foi oficializada e agora ao “mestre-escola” ou “escolástico”, era atribuída à tarefa de “elaborar planos de estudos, designar e demitir professores e, em nome do bispo, conceder o direito de ensinar” (MENESES, 1977, apud PEREIRA, 2012, p. 17). Embora com outros nomes, a figura do Inspetor Escolar já estava sendo produzida, tendo como pano de fundo o controle exercido pela religião através da educação, haja vista que o direito de ensinar era concedido pelo bispo. Com as mudanças ocorridas a partir do século XIII devido ao enfraquecimento da influência religiosa e ao desenvolvimento da indústria e do comércio, temos o período denominado de transição. Com o desenvolvimento das administrações municipais as escolas seculares começaram a surgir e a responsabilidade pela inspeção foi sendo lentamente transferida da diocese para o poder civil. Durante este período de transição (por volta do século XVI) o profissional “Inspetor Escolar Público” começa a aparecer (MENESES, 1977). Após Revolução Francesa temos o período técnico-pedagógico, em que é atribuída ao Estado a responsabilidade pela inspeção. O caráter fiscalizador delineia a atuação do Inspetor, devido à ideia de uma organização escolar, defendida por vários pensadores como Pestalozzi, baseada num sistema de controle. Meneses (1977) destaca que o modelo francês dessa perspectiva de Inspeção Escolar, que apavorava os professores, serviu de modelo para vários sistemas educacionais. A Inspeção Escolar na maioria dos países passa, então, a ser personificada pela figura do Inspetor, um funcionário público,desenvolvendo uma fiscalização pautada na técnica e na burocracia. No caso do Brasil, pode-se considerar a partir da contribuição de vários pesquisadores (MENESES, 1977; LIMA, 1978; NOGUEIRA, 1989; ALARCÃO, 2002; SAVIANI, 2006; FERREIRA, 2006; BARBOSA, 2008), que a inspeção escolar já estava presente nas práticas educativas mais remotas, embora ainda que não regulamentada como profissão. O modelo de sistema feudal que foi implantado durante a colonização trazia consigo a ideia de controle, delineando o processo educacional que se iniciava no Brasil no período do século XVI. Mas afinal, o que é a Inspeção Escolar? Seria possível ou necessário defini-la? Essas questões tornam-se “desgastantes”, pois falar sobre a Inspeção Escolar no Brasil não é tarefa fácil, devido à escassez de material sobre o tema. As críticas em relação à função de inspeção têm sido constantes no âmbito acadêmico, sugerindo inclusive, sua eliminação na organização escolar. Entretanto, sua prática permanece mais viva do que nunca no contexto educacional. Meneses (1977) situa em seu trabalho que a palavra inspeção vem do latim “inspectio”, “onis”, e significa “ação de olhar; exame, verificação”. Portanto, de acordo com este autor, no sentido de ação: “[...] inspeção é acercar-se de alguma coisa ou alguém para compreender, controlar, cuidar, examinar, fiscalizar, guardar, observar, olhar, revistar, superintender, supervisar, ver, verificar, vigiar, vistoriar” (MENESES, 1977, apud PEREIRA, 2012, p. 17). Esta visão foi fortemente influenciada pelas teorias da Administração, em que uma função, que é propriamente de fiscalização, é exercida pela própria administração através de uma inspeção interna, ou seja, vigilância por parte das autoridades da empresa sobre os trabalhadores; e por parte de um organismo estranho – quase sempre o Estado, para verificar se as leis estão sendo cumpridas. Nesse sentido, a inspeção, no contexto educacional, não diferiria do sentido em que é executada nas empresas. A expressão “Inspeção Escolar” não estaria ligada somente à vigilância e ao controle, mas também à orientação da ação, conforme aponta o “Dicionário de Pedagogia LABOR”, de 1936 (MENESES, 1977). Ou seja, no entendimento de Meneses a Inspeção Escolar tem como objetivo observar, orientar e examinar as unidades que compõem os sistemas de ensino para o seu desenvolvimento. Vejamos uma definição do Petit Dictionnarie Portatif de Pédagogie Pratique, que embora seja de 1962, se mostra bastante atual em relação às práticas que vendo sendo desenvolvidas pelo Inspetor Escolar: Condenado por esse nome lacônico e pouco amável, o inspetor departamental do ensino é o funcionário mais difícil de ser classificado. É professor quando se ocupa da Escola Normal, preocupando-se com a formação dos futuros mestres; é administrador assoberbado pelo excesso de leis, num dilema constante entre conhecê-las todas e por elas não se deixar dominar; é o examinador que outorga os certificados de estudos; é o conselheiro pedagógico, que gostaria de dar a sua orientação aos professores a respeito das melhores técnicas de ensino e que dariam bons resultados mesmo nas piores classes; é o conferencista que procura persuadir os professores de que eles são intelectuais em perigo pelo contato permanente com crianças e em isolamento cultural; é o animador das atividades peri e pós-escolares, bibliotecário. (MENESES, 1977, apud PEREIRA, 2012, p. 18). A atualidade desta definição é perceptível nas várias responsabilidades que são atribuídas ao Inspetor Escolar, visto e entendido, como o profissional da educação comprometido com a garantia de direitos e deveres. Quando possível, preocupa-se com a questão pedagógica, pois também tem responsabilidades no que diz respeito à “qualidade” da educação. Uma leitura atenta das legislações aprovadas no sistema escolar brasileiro em relação à Inspeção Escolar nos permite perceber uma relação direta com o contexto das políticas educacionais que iam se desenvolvendo em atendimento, principalmente, às exigências internacionais. 6 INSPEÇÃO X SUPERVISÃO. Fonte: educacional.com.br Segundo Pereira & Santos (1981) a ideia de supervisão surgiu durante o período de industrialização, como uma estratégia para a melhoria da produção e posteriormente foi introduzida no contexto educacional estadunidense, com o objetivo de melhorar o desempenho das escolas. Meneses (1977) aponta que o “termo Inspeção Escolar não aparece na bibliografia americana”, mas o termo “Supervisão”, para tratar de questões que se referem ao controle de unidades escolares, ou seja, atividades típicas de Inspeção. A Supervisão emergiu das atividades da Inspeção e no cenário educacional dos Estados Unidos, passou por quatro etapas: tarefa de vigilância; tarefa de orientação e aconselhamento; liderança democrática; e trabalho de análise e melhoria de sistemas (LEMUS, apud PEREIRA, SANTOS, 1981). No Brasil, a ideia de supervisão começou a se difundir no âmbito educacional na década de 30. Saviani (2002) aponta que com a Reforma pernambucana de 1928, inicia-se uma “remodelação do aparelho organizacional”, no sentido de separar os setores técnicos pedagógicos dos setores administrativos. Assim, exige-se a criação de órgãos específicos para cuidarem da parte técnica (pedagógica) e órgãos específicos para cuidarem da parte administrativa. Para o autor, essa divisão permitiu o surgimento do Supervisor, responsável pela parte pedagógica, enquanto que ao Diretor cabia a parte administrativa. Caminhando nessa perspectiva, a Reforma Campos, através do Decreto-Lei nº 19.890/31 propunha uma inspeção: [...] de forma bem diferente da que vinha ocorrendo até então, uma vez que se tornara formal, mera fiscalização, surgindo a necessidade de uma ação supervisora que, sem deixar de zelar pelos aspectos legais, estivesse voltada para a dinamização do sistema de ensino, na busca de sua melhoria e de maior produtividade no campo pedagógico (PEREIRA, 1981, apud PEREIRA, 2012, p. 22). Nesse sentido, o papel do Supervisor seria uma reconfiguração do papel do Inspetor, privilegiando o aspecto pedagógico, pois: [...] é quando se quer emprestar à figura do inspetor um papel predominantemente de orientação pedagógica e de estímulo à competência técnica, em lugar da fiscalização para detectar falhas e aplicar punições, que esse profissional passa a ser chamado de supervisor (SAVIANI, 2002, apud PEREIRA, 2012, p. 22). A aprovação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 4024/61, segundo Saviani (2002), foi o reflexo das mudanças que ocorreram a partir da Reforma Francisco Campos (1931) e da Reforma Capanema (1942), no sentido de estruturar e reestruturar o ensino brasileiro. A partir do Decreto nº 19.851/31, coube às Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, formar os professores do ensino secundário. Criou-se então o curso de Pedagogia que pretendia formar os professores das disciplinas do Curso Normal e os “técnicos da educação”, a saber: A categoria ‘técnicos da educação tinha, aí, um sentido genérico. Em verdade, os cursos de Pedagogia formavam pedagogos, e estes eram os técnicos ou especialistas em educação. O significado de ‘técnico da educação’ coincidia, então, com o ‘pedagogo generalista’ (SAVIANI, 2002, apud PEREIRA, 2012, p. 22). Durante o período da ditadura militar, novas reformas no ensino foram realizadas para atender à conjuntura que se estabelecia. Acompanhando o ideário da Teoria Taylorista de administração, em que “o controle é feito com o propósito de diminuir os tempos e movimentos a fim de reduzir os gastos e aumentar o ritmo de trabalho, consequentemente a produtividade” (BARBOSA, 2008, p. 15), as reformas educacionais que foram ocorrendo nesse período eram fortemente voltadas para o tecnicismo, fortalecendo a burocratização do ensino. Segundo Aranha (1996) a tendência tecnicista,
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