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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC GISELAINE ALVES DOS SANTOS Obtenção de Blendas Poliméricas à Base de Colágeno e Quitosana para Aplicação em Engenharia de Tecidos Orientador: Prof. Dr. Márcio Luiz dos Santos Coorientadora: Profa. Dra. Juliana Marchi Santo André 2017 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC GISELAINE ALVES DOS SANTOS Obtenção de Blendas Poliméricas à Base de Colágeno e Quitosana para Aplicação em Engenharia de Tecidos Trabalho apresentado à Universidade Federal do ABC como parte dos requisitos para a obtenção do título de Bacharel em Química. Orientador: Prof. Dr. Márcio Luiz dos Santos Coorientadora: Profa. Dra. Juliana Marchi Santo André 2017 AGRADECIMENTOS Aos professores Márcio Luiz dos Santos e Juliana Marchi, não apenas pela orientação, mas também pelos seus ensinamentos, disposição e apoio durante todo o meu trabalho. À Isis, não apenas por me acolher, mas também por toda a ajuda, os ensinamentos, paciência, simpatia, atenção e dedicação; pelo apoio e pelos momentos de conversas (tanto sérias quanto descontraídas). Ao Roger e os colegas de laboratório que de alguma forma me ajudaram durante o desenvolvimento do meu trabalho. À Elaine e todos os meus amigos que me aguentaram durante toda a graduação transbordando histórias sobre as dificuldades do dia-a-dia acadêmico; pelo apoio e motivação; pela inspiração e as boas risadas de sempre. Aos meus pais pelo suporte, pelo amor e por aguentarem tantas barras para que os meus sonhos se tornem realidade. Aos funcionários das CEM e do laboratório didático 406-3 pelo auxílio nas análises. À Universidade Federal do ABC. RESUMO A engenharia de tecidos continua buscando formas eficazes de regeneração de tecidos lesados por traumas e doenças degenerativas. As lesões do tecido cartilaginoso geram perdas teciduais que comprometem o desempenho funcional. Devido à baixa capacidade regenerativa do tecido cartilaginoso e sua condição avascular, os pesquisadores buscam aperfeiçoar ou desenvolver novas técnicas com a finalidade de regenerar o tecido e reabilitar os pacientes. Os biomateriais por apresentarem boa biocompatibilidade e baixa toxicidade mostram-se adequados para o desenvolvimento de scaffolds. O trabalho teve como objetivo, a partir dos polímeros naturais (colágeno e quitosana) e sintéticos ((policaprolactona (PCL) e poli (vinil álcool) (PVA)), a obtenção de blendas poliméricas a serem utilizadas em regeneração do tecido cartilaginoso in vitro. Os resultados obtidos demonstram que os biomateriais poliméricos escolhidos para a formação das blendas geraram blendas compatíveis e dos resultados obtidos, concluiu-se que as blendas propostas foram formadas e apresentaram características estruturais semelhantes às dos polímeros naturais que as compõem, o que as torna potenciais candidatas a scaffolds para aplicação na engenharia de tecidos. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1 2. OBJETIVOS........................................................................................................................ 5 3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................................. 6 4. METODOLOGIA ............................................................................................................... 6 4.1. Obtenção e Caracterização das Soluções Poliméricas ........................................................ 6 4.2. Preparo das Soluções Poliméricas ....................................................................................... 6 4.2.1. Caracterização das Soluções Poliméricas ......................................................................... 7 4.3. Obtenção das Blendas Poliméricas ..................................................................................... 8 4.3.1. Obtenção das Blendas Poliméricas ................................................................................... 8 4.3.2. Caracterização das Blendas Poliméricas .......................................................................... 9 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 9 5.1. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) ..................................................................... 9 5.2. Espectroscopia de Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR) .......................... 11 5.3. Espectroscopia Raman por Transformada de Fourier (FT-Raman) .................................. 13 5.4. Espectroscopia Eletrônica na Região do Ultravioleta e Visível (UV-Vis) ....................... 16 6. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 17 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 18 1 1. INTRODUÇÃO A busca por uma forma eficaz de regenerar tecidos lesionados-danificados data desde a antiguidade. A reparação de determinados tecidos, ainda apresenta limitações devido à complexidade de determinadas estruturas biológicas, como é o caso dos tecidos cartilaginosos (SANTOS; MARINHO; MIGUEL, 2010). Os tecidos cartilaginosos são conhecidos como estruturas avasculares especializadas com características flexíveis e elásticas que desempenham diferentes funções no organismo (CRUZ et al., 2016). Devido às características estruturais, os tecidos cartilaginosos possuem uma baixa capacidade regenerativa, e não apresentam suporte “ideal” para a renovação celular e tecidual. Quando este tipo de tecido é lesionado, os estímulos inflamatórios necessários são ausentes para desencadear o processo natural de regeneração (MÜLLER et al., 2006). A engenharia de tecidos estuda estratégias terapêuticas para restaurar, regenerar, conservar ou aprimorar funções em tecidos perdidos ou lesionados. Desta forma, a área de biomateriais torna-se um suporte para o desenvolvimento das matrizes utilizadas (RODRÍGUEZ-VÁZQUEZ et al., 2015). Os biomateriais são materiais ou sistemas propostos para aplicações clínicas com a finalidade de repor/reparar parte de um tecido perdido ou danificado (CEN et al., 2008). Podem ser produzidos a partir de materiais poliméricos, cerâmicos e metálicos. Os biomateriais poliméricos encontram-se entre os mais empregados no âmbito médico. As principais vantagens incluem a facilidade de fabricação e obtenção de estruturas variadas, o processamento secundário, o custo razoável e a gama de materiais com propriedades físicas e mecânicas desejadas para aplicações distintas (PIRES; BIERHALZ; MORAES, 2015). 2 Os materiais poliméricos com diferentes formas de apresentação, ou seja, como géis, filmes, membranas, blendas, fibras, entre outros, devem ser biocompatíveis e devem auxiliar como suporte o crescimento de células e a diferenciação desejada. Os biomateriais desenvolvidos a serem utilizados para reposição de tecido cartilaginoso devem servir como uma matriz extracelular sintética para organizar as células em uma estrutura tridimensional estimulando e direcionando o crescimento para a formação do tecido desejado. Essas estruturas são conhecidas como scaffolds e devem auxiliar a desempenhar a função de elasticidade e amortecimento característicos do tecido cartilaginoso (SANTOS; MARINHO; MIGUEL, 2010). Os polímeros são macromoléculas, naturais ou sintéticas, de alta massa molar formadas por ligações covalentes de pequenas unidades repetitivas (meros) ao longo de uma cadeia principal. A estrutura dessas cadeias é responsável pelas propriedades físico-químicas do polímero (SANTOS; MARINHO; MIGUEL, 2010). Os polímeros obtidos a partir de reações de polimerização são classificados como sintéticos,em contrapartida, os que são sintetizados por organismos vivos são classificados como naturais, que podem também ser modificados quimicamente (PIRES; BIERHALZ; MORAES, 2015). A caracterização e o estudo das formas de degradação dos polímeros são de suma importância para o direcionamento de suas aplicações específicas. Os polímeros sintéticos e naturais degradam de formas distintas, respectivamente por meio de clivagem hidrolítica e enzimática de suas ligações (PIRES; BIERHALZ; MORAES, 2015). Um dos polímeros sintéticos mais citados dentro da engenharia de tecidos é a policaprolactona – PCL (Figura 1). Este é um polímero do tipo poliéster, semicristalino e hidrofóbico, podendo ser solubilizado na maioria dos solventes orgânicos. Sua temperatura de fusão pode variar entre 59 e 64 °C e suas propriedades reológicas e viscoelásticas são 3 superiores a de polímeros semelhantes, o que faz com que a PCL seja um polímero de fácil manipulação, o que o torna um material interessante para se obter diversos tipos de produtos com um custo consideravelmente baixo. Além destas características, a facilidade de formação de blendas miscíveis tem estimulado a utilização deste polímero na obtenção de scaffolds. A degradação ocorre em duas etapas, à primeira uma hidrólise não enzimática dos grupos éster e em seguida a degradação intracelular realizada por macrófagos e fagossomos. Desta forma, a PCL pode ser absorvida completamente pelo organismo do paciente (PIRES; BIERHALZ; MORAES, 2015). Figura 1 Estrutura molecular da policaprolactona (Fonte: Catálogo da Sigma-Aldrich1) Um outro polímero sintético utilizado para a formação de scaffolds para reconstituição tecidual é o poli(vinil álcool) – PVA (Figura 2) (DRURY; MOONEY, 2003). O PVA é um polímero linear com habilidades de formar filmes ou estabilizar suspensões com o aumento da sua viscosidade. A baixa-toxicidade, boas propriedades mecânicas e biocompatibilidade faz com que seja um potencial excipiente para a formação de scaffolds (SCHULZE et al., 2016). Figura 2 Estrutura molecular do poli (vinil álcool) (Fonte: Catálogo da Sigma-Aldrich2) 1 Disponível em: <http://www.sigmaaldrich.com/catalog/substance/polycaprolactone1234598765?lang=pt® ion=BR>. Acesso em mar. 2017. 2 Disponível em: <http://www.sigmaaldrich.com/catalog/product/aldrich/51438?lang=pt®ion=BR>. Acesso em mar. 2017. 4 Os polímeros naturais são abundantes, apresentam baixo custo e são obtidos de fontes renováveis. Os produtos de degradação são biocompatíveis e com baixa toxicidade, o que os torna matérias-primas interessantes para serem utilizados como biomateriais. Dentre os polímeros mais reportados em literatura, pode-se destacar as proteínas como o colágeno e a elastina e os polissacarídeos como a quitosana, o alginato e o ácido hialurônico (PIRES; BIERHALZ; MORAES, 2015). O colágeno, Figura 3, é a proteína mais abundante no corpo humano e é composto por três cadeias polipeptídicas ligadas por ligações de hidrogênio e enoveladas em um arranjo helicoidal que forma fibras. As hélices são responsáveis pela resistência à tração. O colágeno é o principal componente da matriz extracelular, sendo um substrato natural para as células, orientando e estimulando a formação dos tecidos. Estas características tornam o colágeno atrativo para a produção de scaffolds (PIRES; BIERHALZ; MORAES, 2015). Figura 3 Estrutura molecular do colágeno (Fonte: Okuyama et. al. 20053) Os polissacarídeos também vêm despertando interesse no âmbito médico devido às propriedades como renovabilidade, biodegradabilidade e por mimetizar os componentes da matriz extracelular. Esses biopolímeros são obtidos a partir de fontes microbianas, animais, vegetais ou a partir de algas e são interessantes devido a sua solubilidade e propriedades 3 Okuyama et. al. Revision of Collagen Molecular Struture. Wiley InterScience, p. 185, 2005. 5 tecnológicas como gelificação e emulsificação, o que os torna bons materiais para serem processados como géis, filmes, partículas e pós (PIRES; BIERHALZ; MORAES, 2015). A quitosana é um biopolímero do tipo polissacarídeo, apresentando baixa toxicidade, baixo custo, biodegradável e biocompatível, produzido por fontes naturais renováveis. A estrutura molecular, Figura 4, é quimicamente similar à celulose, diferenciando-se nos grupos funcionais. A obtenção da quitosana se dá a partir da desacetilação da quitina. Dentre as principais áreas de aplicação da quitosana, pode-se citar a área biomédica com diversas aplicações como suturas cirúrgicas, implantes dentários, reconstituição óssea, lentes de contato, liberação controlada de fármacos em animais, encapsulamento de materiais. (AZEVEDO et al., 2007). Figura 4 Estrutura molecular da quitosana (Fonte: Azevedo et. al. 20074) 2. OBJETIVOS O objetivo do trabalho foi obter e caracterizar blendas poliméricas formadas a partir dos polímeros naturais colágeno e quitosana associados a policaprolactona (PCL) e o poli (vinil álcool) (PVA) a fim de encontrar um scaffold polimérico “ideal” para regeneração do tecido cartilaginoso in vitro. 4 Azevedo et. al. Quitina e Quitosana: aplicações como biomateriais. Revista Eletrônica de Materiais e Processos, v 2.3, p. 29, 2007. 6 3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ▪ Obter as soluções poliméricas em diferentes concentrações; ▪ Caracterizar as soluções poliméricas obtidas; ▪ Formar as blendas poliméricas em diferentes proporções; ▪ Caracterizar as blendas poliméricas formadas; ▪ Analisar os resultados obtidos para obtenção da blenda “ideal” para aplicação na engenharia de tecidos. 4. METODOLOGIA 4.1. Obtenção e Caracterização das Soluções Poliméricas A obtenção e o estudo realizado a partir da caracterização das soluções poliméricas à base de colágeno e quitosana teve como objetivo principal obter informações sobre o comportamento físico-químico das soluções, a fim de determinar suas concentrações ótimas para a formação de blendas poliméricas. As soluções poliméricas foram preparadas a partir dos polímeros: (1) Quitosana Sigma®; (2) Colágeno Tipo II (derivado de galinha) Sigma®; (3) Poli (vinil álcool) (PVA) Mw 88,000/99% hidrolisado Sigma®; Policaprolactona (PCL) Mn 45,000 Sigma®. 4.2. Preparo das Soluções Poliméricas A solução de colágeno foi preparada em ácido acético 0,03% à temperatura ambiente na proporção de 1:2. Para as soluções de trabalho, foram preparadas concentrações de 5, 10 e 15% (v/v). 7 A solução de quitosana foi preparada a partir do material purificado segundo especificações do fabricante. As concentrações de trabalho foram de 2,5, 3 e 5% (m/v) de quitosana diluídas em solução de ácido acético 3%, faixa de temperatura entre 25 e 30 °C. Para a obtenção das blendas poliméricas, foram utilizados os polímeros sintéticos PVA e PCL. O PVA utilizou-se as concentrações de 5, 10 e 15% (m/v) em solução aquosa à 70 °C e o PCL concentrações de 5, 7 e 10% (m/v) em clorofórmio à temperatura ambiente. Nesta etapa, estudou-se a influência da variação de concentrações dos polímeros sintéticos (PVA e PCL) no preparo das blendas. 4.2.1. Caracterização das Soluções Poliméricas Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Para analisar a estrutura morfológica das blendas poliméricas utilizou-se do Microscópio Eletrônico de Varredura (FEI Quanta 250) no modo ambiental. As amostras não tiveram nenhum preparo prévio. Foram acondicionadas nos stubs (porta amostra) como uma solução viscosa consistente. As condições de análise foram de aproximadamente 30 kV de potência no feixe de elétrons, umidade de 100% variando conforme a pressão interna da câmara. Espectroscopia de Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR) Os espectros vibracionais foram obtidos no Espectrômetro Infravermelho com Transformada de Fourier (Varian 640 IR Fourier Transform Infrared Spectrometer) do Laboratório Didáticoda UFABC. Todas as amostras foram analisadas na faixa de 4000 a 400 cm-1. 8 Espectroscopia Raman por Transformada de Fourier (FT-Raman) Os grupos funcionais presentes nas soluções poliméricas foram investigados por Espectroscopia Raman por Transformada de Fourier como forma complementar à Espectroscopia FTIR. Os espectros foram obtidos em um espectrômetro FT-Raman (MultiRaman, Bruker Optics) das Centrais Experimentais Multiusuário da UFABC. As leituras foram feitas em cubeta de vidro com caminho óptico de 1,0 cm. O espectrômetro utiliza radiação infravermelha em 1064 nm para a obtenção dos espectros, minimizando a emissão de fluorescência de amostras orgânicas (como materiais poliméricos). Os espectros foram analisados com número de onda entre 4000 e 400 cm-1. Espectroscopia Eletrônica na Região do Ultravioleta e Visível (UV-Vis) Os espectros eletrônicos na região do ultravioleta e visível foram realizados em espectrofotômetro fotodiodo ultravioleta-visível modelo Cary 50 da Varian nas Centrais Experimentais Multiusuário da UFABC. As leituras foram feitas nos comprimentos de onda de 200 a 800 nm, utilizando-se cubetas retangulares de vidro de caminho óptico igual a 1,0 cm. 4.3. Obtenção das Blendas Poliméricas 4.3.1. Obtenção das Blendas Poliméricas Para a obtenção das blendas poliméricas de quitosana e PVA e colágeno e PCL utilizou-se da maior concentração proposta do polímero natural e da menor concentração proposta do polímero sintético. A blenda de quitosana e PVA foi preparada a partir da solução de quitosana 5%, onde adicionou-se gradativamente 5% em massa de PVA à solução sob agitação magnética constante até total homogeneização. Para a blenda de colágeno e PCL, o PCL foi macerado com auxílio de almofariz e pistilo para redução do tamanho da partícula. À 9 solução de colágeno 15%, adicionou-se gradativamente 5% em massa de PCL sob agitação magnética constante até total homogeneização. 4.3.2. Caracterização das Blendas Poliméricas As blendas poliméricas foram caracterizadas por MEV em modo ambiental, FTIR, FT-Raman e UV-Vis. Os procedimentos para realização dos testes foram feitos como descrito no item 4.2.1. 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO A seguir estão apresentados os resultados obtidos das análises das amostras, conforme descrito no item 4.2.1. 5.1. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) A microscopia eletrônica de varredura foi usada para se obter informações sobre a morfologia das soluções com viscosidade hidrogel e das blendas poliméricas. Na Figura 5 estão apresentadas as micrografias eletrônicas de varredura para as soluções poliméricas de quitosana e PVA. Para a captura da imagem inicial de quitosana, Figura 5 (A), a câmara do MEV foi ajustada para 98 a 100 % de umidade a 25 °C. Mesmo com a imagem ampliada para 100 µm não é possível retirar informações sobre a morfologia dessa solução devido ao excesso de solvente na forma líquida que forma uma película que recobre a estrutura da amostra. Na segunda imagem, Figura 5 (B) a amostra de solução de quitosana é congelada em tempo real. A temperatura da câmara foi reduzida para -5 °C e a umidade da câmara passou para uma faixa de 40 a 50% de umidade. A câmara possuía um baixo vácuo nessa etapa. Com esses parâmetros, pode-se verificar os primeiros aspectos da morfologia da amostra na imagem ampliada em 10 µm. A fim de eliminar todo o solvente contido na amostra, o vácuo da câmara foi aumentado. Conforme o solvente é eliminado da 10 amostra, a estrutura da quitosana se torna evidente, Figura 5 (C). O mesmo procedimento foi realizado para a captura das imagens da solução de PVA. As imagens C e D possuem aumento para 50 µm e a imagem E para 100 µm. Para a solução de PVA não se verificou rompimento da estrutura após o congelamento da amostra. Figura 5 Micrografias das amostras de quitosana (A, B e C) e PVA (D, E e F). Em A, tem-se a quitosana com película de solvente (Magnitude: 806x); em B, solidificação da água presente na amostra (Magnitude: 8000x); em C, o rompimento da estrutura (Magnitude: 8000x). Em D, E e F tem-se o comportamento da solução de PVA sob as mesmas condições (Magnitudes: 2337, 2000 e 800x, respectivamente). Na Figura 6 estão apresentadas as micrografias eletrônicas de varredura para a blenda de quitosana e PVA. Os procedimentos durante a captura das imagens foram feitos da mesma forma que os procedimentos para as soluções. As imagens possuem um aumento de 100 µm. Analisando-se as micrografias desta blenda, é possível verificar que após o congelamento do solvente, Figura 6 (B) e a remoção da água com o aumento do vácuo, Figura 6 (C), a estrutura apresenta uma mistura das características que são verificadas nas morfologias dos polímeros individuais. 11 Figura 6 Micrografias da blenda de quitosana com PVA. Em A, tem-se a película de solvente (Magnitude: 811x); em B, a amostra congelada (Magnitude: 797x); em C, água fixada à estrutura do material (Magnitude: 783x). Não foi possível obter a micrografia das soluções de colágeno e PCL e sua respectiva blenda, devido ao fato de que as soluções possuíam uma parte composta majoritariamente por água e não adquiriram a viscosidade necessária para a realização do teste. 5.2. Espectroscopia de Infravermelho por Transformada de Fourier (FTIR) A espectroscopia de absorção na região do infravermelho médio foi utilizada para identificar os grupos funcionais das soluções e das blendas poliméricas característicos de cada material. Na Figura 7 estão apresentados os espectros de absorção na região do infravermelho (FTIR) para todas as soluções poliméricas. 12 Figura 7 Espectro de FTIR das amostras de colágeno (A), quitosana (B), PVA (C) e PCL (D) A Figura 7 (A) mostra os espectros de FTIR para as soluções de colágeno nas concentrações de 5, 10 e 15%, respectivamente. Analisando-se o espectro, nota-se a banda característica na faixa de 3350 cm-1 que pode ser associada ao grupo amina A. A banda em 1636 cm-1 é típica de amida I devido ao estiramento da carbonila (N–C=O). A banda em 1244 cm-1 corresponde às vibrações no plano da amida III, estiramento C–N e à deformação N–H (TONHI; DE GUZZI PLEPIS, 2002). A Figura 7 (B) mostra os espectros de FTIR para as soluções de quitosana nas concentrações de 2,5, 3 e 5%. As principais bandas para o espectro de quitosana estão na região de 3340 cm-1 que corresponde ao grupo hidroxila (O–H) ligado ao grupo amina (N–H). A banda em 1635 cm-1 indica a presença da amida I e 1388 cm-1 amida II, devido ao estiramento das ligações N–H. A banda em 1047 cm-1 indica a ligação C– O (TONHI; DE GUZZI PLEPIS, 2002). A Figura 7 (C) mostra os espectros de FTIR para as soluções de PVA nas concentrações de 5, 10 e 15%. A banda característica na faixa de 3340 cm-1 pode estar associada ao estiramento das ligações O–H. A banda na faixa de 2970 cm-1 refere-se ao estiramento do grupo C–H. A banda em 1635 cm-1 pode ser associada às ligações C–C e em 1095 e 1420 cm-1 à ligação C–O em álcoois (RODRIGUES, 2006). Na Figura 7 (D) apresenta espectros de FTIR para as soluções de PCL nas concentrações de 5, 7 e 10%. Analisando-se o espectro, identifica-se as bandas características do PCL em 2950 cm-1, 13 relativo ao estiramento assimétrico do grupo C–H, e em 2867 cm-1, relativo ao estiramento simétrico. Em 1726 cm-1, verifica-se a banda associada ao estiramento da carbonila (C=O) e em 1215 cm-1, o estiramento assimétrico das ligações C–O–C (ELZEIN et al., 2004). A Figura 8 mostra os espectros de FTIR para as blendas de quitosana com PVA e colágeno com PCL, juntamente com os espectros das suas soluções de origem. Baseando-se nos espectros apresentados nas Figuras 7 e 8, nota-se que as blendas possuem características parecidas com os polímeros naturais do que com os sintéticos. A semelhança das curvas das blendas e dos polímeros naturais levaa inferir que as blendas assumiram uma conformação semelhante a dos polímeros naturais que compõem a maior proporção da amostra. Desta forma, acredita-se que as blendas apresentam biocompatibilidade e suas propriedades mecânicas adequadas (CHAKRAPANI et al., 2012). Figura 8 Espectros de infravermelho para as blendas de quitosana com PVA (A) e colágeno com PCL (B) e suas respectivas soluções poliméricas. 5.3. Espectroscopia Raman por Transformada de Fourier (FT-Raman) A espectroscopia Raman por Transformada de Fourier foi utilizada para obter informações químicas e estruturais das soluções e das blendas poliméricas para complementar as informações obtidas por espectroscopia na região do infravermelho médio- FTIR. Na Figura 9, estão apresentados os espectros de FT-Raman para todas as soluções poliméricas 14 estudadas. Os espectros de colágeno e PVA apresentaram elevado sinais de ruído. Possivelmente, tais interferências podem ter sido ocasionadas pelas bolhas de ar presentes nas amostras ao serem transferidas para as cubetas. Figura 9 Espectro de FT-Raman das amostras de colágeno (A), quitosana (B), PVA (C) e PCL (D) Na Figura 9 (A) estão apresentados os espectros de FT-Raman para as soluções de colágeno nas concentrações de 5, 10 e 15%, respectivamente. No espectro, pode-se identificar as bandas relacionadas ao grupo amina (N–H) em 3205 cm-1, ao grupo amida I em 1660 cm-1 e ao estiramento da carbonila (C=O) em 1091 cm-1, características do colágeno (TONHI; DE GUZZI PLEPIS, 2002). A Figura 9 (B) mostra os espectros de FT-Raman para as soluções de quitosana nas concentrações de 2,5, 3 e 5%, respectivamente. No espectro, pode-se identificar a banda da ligação C–H em 2943 cm-1 e a banda do estiramento da carbonila (C=O) em 1708 cm-1 (TONHI; DE GUZZI PLEPIS, 2002). Na Figura 9 (C) estão apresentados os espectros de 15 FT-Raman para as soluções de PVA nas concentrações de 5, 10 e 15%, respectivamente. Através da análise do espectro, pode-se identificar as bandas do grupo O–H em 3178 cm-1, do grupo C–H em 2917 cm-1, das ligações C–H em 1438 cm-1 e em 923 cm-1, do estiramento carbonila (C–O) em 1099 cm-1 e a ligação C–C em 856 cm-1 (RODRIGUES, 2006). Na Figura 9 (D) estão apresentados os espectros de FT-Raman para as soluções de PCL nas concentrações de 5, 7 e 10%, respectivamente. Analisando-se o espectro, pode-se identificar as bandas características do PCL em 2920 cm-1, relativo ao estiramento assimétrico do grupo C–H, e em 2865 cm-1, relativo ao estiramento simétrico do grupo C–H. Em 1217 cm-1, verifica-se o estiramento assimétrico das ligações C–O–C (ELZEIN et al., 2004). Na Figura 10 estão apresentados os espectros de FT-Raman para as blendas de quitosana com PVA e de colágeno com PCL, juntamente com os espectros das soluções poliméricas originais correspondentes. Assim como analisado nos espectros de FTIR, as blendas se mostram com características muito mais próximas dos polímeros naturais que dos sintéticos. Figura 10 Espectros de FT-Raman para as blendas de quitosana com PVA (A) e colágeno com PCL (B) e suas respectivas soluções poliméricas 16 5.4. Espectroscopia Eletrônica na Região do Ultravioleta e Visível (UV-Vis) A espectroscopia eletrônica na região do UV-Vis foi usada a fim de estudar a absorção de radiação das amostras. Segundo a literatura, os biomateriais utilizados para formação de scaffolds não devem absorver radiação na região do visível (PIRES; BIERHALZ; MORAES, 2015). A seguir estão apresentados os espectros de absorção das soluções e blendas poliméricas. A Figura 11 mostra os espectros de absorção do colágeno (A) nas concentrações de 5, 10 e 15%, quitosana (B) nas concentrações de 2,5, 3 e 5%, PVA (C) nas concentrações de 5, 10 e 15% e PCL (D) nas concentrações de 5, 7 e 10%. Observa-se que as amostras de colágeno (A), PVA (C) e PCL (D) não possuem absorção na região do visível (400 a 800 nm). Já a amostra de quitosana (B) possui absorção na região do visível, isto se dá ao fato de que a molécula quitosana apresenta uma intensidade de emissão relativamente alta na faixa do visível (OLIVEIRA et al., 2007). 17 Figura 11 Espectros de UV-Vis das soluções poliméricas de colágeno (A), quitosana (B), PVA (C) e PCL (D) e do vidro da cubeta utilizado na leitura das amostras A Figura 12 mostra os espectros de absorção das blendas de quitosana/PVA, nas concentrações de 5% e colágeno/PCL nas respectivas concentrações de 15 e 5%. A partir da análise dos espectros, observa-se que a blenda de quitosana com PVA, assim como a solução polimérica de quitosana (Figura 11 B), possui uma baixa absorção na região do visível e a blenda de colágeno com PCL não possui absorção nesta região. Figura 12 Espectros de UV-Vis das blendas de quitosana e PVA 5% (A) e colágeno e PCL, 10 e 5% (B), respectivamente, e do vidro da cubeta utilizado na leitura das amostras 6. CONCLUSÃO A obtenção das blendas poliméricas para aplicação médica tem sido um desafio na área da ciência dos polímeros tanto em pesquisa acadêmica como industrial. As blendas 18 poliméricas são uma alternativa promissora e econômica de modificações das propriedades poliméricas. O desenvolvimento e a obtenção de blendas têm como foco melhorar propriedades pontuais dos componentes isolados; como físico-química, resistência mecânica, processabilidade, estabilidade dimensional, aceitação biológica e potencial de mercado. Baseando-se nos resultados obtidos é possível concluir que houve a formação das blendas propostas no trabalho e que elas possuem características estruturais muito próximas às dos polímeros naturais que as compõem, o que as torna potenciais candidatas a scaffolds para aplicação na engenharia de tecidos. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, V. V. C. et al. Quitina e Quitosana: aplicações como biomateriais. Revista Eletrônica de Materiais e Processos, v. 2.3, p. 27–34, 2007. CEN, L. et al. Collagen tissue engineering: Development of novel biomaterials and applications. Pediatric Research, v. 63, n. 5, p. 492–496, 2008. CHAKRAPANI, V. Y. et al. Electrospinning of Type I Collagen and PCL Nanofibers Using Acetic Acid. Advanced Energy Materials, v. 2, n. 12, p. 1477–1482, 20 jun. 2012. CRUZ, I. B. M. DA et al. Potencial regenerativo do tecido cartilaginoso por células‐tronco mesenquimais: atualização, limitações e desafios. Revista Brasileira de Ortopedia, n. x x, p. 1–9, 2016. DRURY, J. 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