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Gestão dos Recursos Hídricos Aula 15 – O valor econômico da água Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 1 GOVERNO DO BRASIL Presidente da República LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Ministro da Educação FERNANDO HADADD Secretário de Educação a Distância CARLOS EDUARDO BIELSCHOWSKY Reitor do IFRN BELCHIOR DA SILVA ROCHA Coordenador da DETED ERIVALDO CABRAL Coordenadora da UAB ANA LÚCIA SARMENTO HENRIQUE Coordenadora Adjunta da UAB ILANE CAVALCANTE Coordenadora do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental NARLA SATHLER MUSSE GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS – AULA 15 Professor Pesquisador/Conteudista ROBERTO PEREIRA Coordenação da Produção de Material Didático ARTEMILSON LIMA Design Instrucional ILANE CAVALCANTE Coordenação de Tecnologia ELIZAMA LEMOS Revisão Linguística KLÉBIA DE SOUZA ELIZETH HERLEIN Formatação Gráfica CLEYTON MENEZES EDICLEIDE PINHEIRO EDIEL TEIXEIRA LUCIANA DANTAS MARCELO POLICARPO RAFAEL ARNAUD Ilustrador CLEYTON MENEZES EDICLEIDE PINHEIRO EDIEL TEIXEIRA LUCIANA DANTAS MARCELO POLICARPO RAFAEL ARNAUD Gestão dos Recursos Hídricos Aula 15 – O valor econômico da água Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 2 Aula 15 Conteúdo: O VALOR ECONÔMICO DA ÁGUA APRESENTANDO A AULA Poderíamos iniciar esta aula perguntando o que acontece com o valor de um produto agrícola na safra e na entressafra. Certamente diríamos que na safra ele diminui de preço e na outra situação aumenta seu preço, obedecendo a lei da oferta e da procura, ou seja, a lei de mercado. Acrescentaríamos mais ainda que se ele passasse a existir em abundância ele perderia o seu valor, não é mesmo? Pois bem, analisando a situação no Brasil, até pouco tempo, o tratamento dispensado ao tema da água colocava esse recurso natural como um elemento quase que incondicionalmente abundante sem uma preocupação maior com sua possível exaustão. Então, perguntamos: se considerarmos a água como um recurso escasso, conforme a aula 01, como os economistas passariam a analisar esse recurso natural? É o que vamos ver nesta aula. DEFININDO OBJETIVOS Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: - diferenciar bem livre de bem econômico; - compreender as dificuldades de valorar a água e as consequências da indefinição do direito de propriedade; - compreender que o ingrediente econômico é uma forma eficiente de mudar o comportamento dos usuários de água. Gestão dos Recursos Hídricos Aula 15 – O valor econômico da água Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 3 A ÁGUA COMO UM BEM LIVRE Até bem pouco tempo, a água de mananciais, por ser um recurso natural constantemente renovável e estocável, era considerada como “bem livre”, cuja definição foi apresentada na aula 12 (CANO, 2007). Assim sendo, um bem livre é oferecido abundantemente pela natureza de forma qualitativa e quantitativa e, portanto, sem valor econômico. Nesse sentido, o uso da água guardava associação apenas com os custos privados decorrentes da sua captação. Segundo Carrera – Fernandez e Garrido (2002), os próprios manuais de economia, ao exemplificar bens livres, citavam o ar que as pessoas respiram e a água de mananciais, como bens sem valor econômico. Entre os argumentos utilizados para classificar a água como bem livre, esses manuais citavam a abundância de chuvas e a sua constante renovação na natureza, além da existência de rios caudalosos e perenes, de grandes lagos naturais e artificiais, bem como a disponibilidade de imensas quantidades de água no subsolo. Entretanto, muitas regiões do mundo já sofrem sérios problemas de escassez e no Brasil isso ocorre principalmente nos grandes centros urbanos e nas regiões do semiárido nordestino, conhecido como polígono das secas, com chuvas menores que 800 mm. Além disso, o homem ainda não dispõe de tecnologias para alterar significativamente o regime das águas meteóricas (chuvas). (BARTH, 1987). Gestão dos Recursos Hídricos Aula 15 – O valor econômico da água Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 4 Portanto, apesar de sua constante renovação na natureza e da possibilidade de estocagem em grandes quantidades, a água é de fato um recurso natural escasso. A menos que sejam realizados progressos notáveis no campo da pesquisa e da sua aplicação econômica aos processos de reciclagem e tratamento das águas residuárias impróprias para o abastecimento humano e animal e para a irrigação de culturas. A água tende a se tornar a cada dia um recurso natural cada vez mais valioso. De qualquer forma, muitas tecnologias existem que podem contribuir tanto para reduzir o consumo, como para aumentar a oferta (ROGERS, 2008). No primeiro caso, destacam-se técnicas eficientes de irrigação, os sanitários ecológicos, entre outros. Na segunda situação, poderia se aproveitar a grande oferta de água salgada (cerca de 97%) através da utilização de instrumentos de dessalinização, utilização de recargas artificiais para aumentar as reservas subterrâneas e, além disso, reparação e modernização da infraestrutura hídrica. Diante desse quadro, felizmente já existe um consenso entre os economistas e a sociedade no sentido de considerar a água não mais como um bem livre, mas sim como um “bem econômico”, ou seja, com valor econômico em função da sua escassez. Desse modo, em função de se lidar com uma coisa escassa, a tomada de decisão em relação ao uso da água passou a ser regida pelas leis da ciência da economia, que procura estabelecer critérios de repartição, com base em normas, leis e princípios próprios, de modo que possa compatibilizar as disponibilidades com as demandas. Gestão dos Recursos Hídricos Aula 15 – O valor econômico da água Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 5 A ÁGUA COMO UM BEM ECONÔMICO O entendimento de que a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico já é universalmente aceito, e foi explicitado na Declaração de Dublin, Irlanda, de janeiro de 1992, que tratou de questões atinentes aos recursos hídricos (BRASIL, 2002,). (Ver aula 03). A própria Lei 9.433/97 afirma no artigo 1°, do capítulo 1, inciso II, onde estão dispostos os fundamentos em que se baseia a Política Nacional de Recursos Hídricos, que: “a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico”. Ainda em seu art. 19, afirma que a cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva: a) reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor. Portanto, trata-se da consagração, na lei, do entendimento de que os recursos hídricos são esgotáveis e vulneráveis, assim como da compreensão da água como um bem econômico (SANTILLI, 2009). Então, cobrar pelo uso da água é apenas uma extensão do conceito do valor econômico já reconhecido em relação a outros bens, como os recursos minerais, o alimento, o solo e outros mais, pois todos esses bens são insumos básicos para as atividades humanas e estão sujeitos ao fenômeno da escassez. O princípio do uso múltiplo (Aula 14) é também um exemplo de como a água é, de fato, um bem econômico, pois estabelece da mesma forma uma saudável competição entre os distintos tipos de usuários dos recursos hídricos. Gestão dos Recursos Hídricos Aula 15 – O valor econômico da água Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 6 Por fim, sempre que as demandas por água aumentarem relativamente a sua disponibilidade, gerando balanços hídricos desconfortáveis ou críticos, surgirão conflitos entre usuários pelo seu uso. Ela passa a ser escassa, necessitando, portanto, ser tratada como bem econômico, dotado de valor.Valor de uso e valor de troca Então, se a água é um bem econômico, isso significa que todo bem econômico tem um valor de uso e um valor de troca, além de que poderá pertencer a proprietários e/ou titulares que disporão de seu uso. Em nosso caso, o titular é o Poder Público (Aula 12). Sobre essas características, Carrera – Fernandez e Garrido (2002) comentam que o valor de uso é variável, pois depende da utilidade daquele bem ou da satisfação das necessidades que os diversos usuários lhe atribuem. Já o valor de troca depende das condições de oferta e demanda, o qual é regulado por preços, que na economia moderna são expressos em termos monetários. O valor de troca de um bem está relacionado com seu poder de compra de outros bens. Para melhor compreender esse conceito, esses autores fazem uma comparação entre a água e o diamante. Observemos então que os bens que têm o maior valor de uso, em geral são aqueles que têm o menor valor de troca. A água, por exemplo, tem um grande valor de uso, só comparado ao ar puro, mas você raramente poderá comprar alguma coisa em troca. Por outro lado, o diamante tem um valor de uso Gestão dos Recursos Hídricos Aula 15 – O valor econômico da água Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 7 muito pequeno, mas comanda um valor de troca muito grande. Se a água fosse bastante escassa, um copo cheio dela poderia ser trocado por diamantes. Portanto, a discussão em torno da escassez é a chave da contradição do valor de troca da água e do diamante. Isso quer dizer que, embora o valor de uso seja uma pré-condição do valor de um bem, é a escassez que comanda o seu valor de troca. VALOR E PREÇO DA ÁGUA A doutrina econômica neoclássica defende, em resumo, que o valor de troca de um bem, o qual se materializa em um preço, é resultado do livre jogo entre a oferta e a demanda, emanado do mercado. Assim, quanto mais escassa for a água e quanto maior a valoração subjetiva para os vários usuários (Valor de uso), maior será o seu preço e vice-versa. Tomando-se, então, por base essa doutrina, a qual privilegia o princípio da opção preferencial pela consideração de um preço de mercado, pode-se estimar o valor da água em qualquer uso. Assim, segundo Carrera – Fernandez e Garrido (2002), o valor da água em cada modalidade de uso pode ser quantificado através do ajustamento de uma curva de demanda para cada uso, a qual relaciona uma certa quantidade de água ao valor econômico que lhe é atribuído nesse uso. É claro que esse valor depende de uma série de parâmetros, tais como renda dos usuários, possibilidades de substituição da água e capacidade tecnológica existente, entre outros. Isto é, se ela é utilizada diretamente como bem Gestão dos Recursos Hídricos Aula 15 – O valor econômico da água Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 8 de consumo (e serviço) final ou como bem de consumo (e serviço) intermediário, sendo este último também chamado de matérias-primas (insumos) e serviços insumidos. É o que vamos explicar a seguir de acordo com a água no processo de formação de bens capital (Figura 01). Pois bem, os recursos naturais disponíveis, na forma de terra, água, minérios, clima etc., somados ao trabalho da população, representado pelo esforço humano na organização e execução do processo produtivo, geram, segundo seu destino ou finalidade, bens (e serviços) de consumo e bens de capital (CANO, 2007). Figura 01 – Processo de formação de capital Fonte: Lana (1993). Como foi dito anteriormente, os bens (e serviços) de consumo podem ser classificados em final ou intermediário. No primeiro caso, como o próprio nome indica, a produção dos mesmos visa satisfazer, diretamente, necessidades do Gestão dos Recursos Hídricos Aula 15 – O valor econômico da água Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 9 homem, como alimentos, roupas, medicamentos, bebidas, turismo, educação, segurança pública etc. No segundo grupo, trata-se como bens e serviços que ainda não atingiram uma característica de utilização final, mas cujo consumo faz parte do processo produtivo, quando sofrerá certas alterações e resultará no aumento da disponibilidade de bens e serviços de consumo final ou de capital para a sociedade. Os bens de capital, que também são produtos finais, são aqueles que, produzidos em determinado momento, deverão ser utilizados em fase posterior para produção futura de mais bens de consumo ou outros bens de capital. Nesse sentido, o bem de capital tem a finalidade de diminuir o esforço e aumentar a eficiência do homem no processo produtivo. De alguma forma, representam a acumulação de trabalho humano passado. São exemplos de bem de capital: máquinas; veículos; equipamentos em geral; instalações industriais, agrícolas e comerciais; estradas; ferrovias; aeroportos; portos; canais; edifícios públicos; moradias; escolas; hospitais; barragens etc. Gestão dos Recursos Hídricos Aula 15 – O valor econômico da água Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 10 Observe que certos bens, dependendo da utilidade imediata, podem ter mais de uma dessas características discutidas. A água, por exemplo, pode ser classificada tanto como um recurso natural para a integração do processo de formação de capital e, conforme o uso que lhe é destinado, como bem de consumo intermediário ou final, por exemplo, quando usada para irrigação ou usos domésticos, respectivamente. Voltando, então, à questão da definição do valor da água. Nesse caso específico, a definição de seu valor não é trivial, não tanto por se tratar de um recurso natural escasso, mas porque, conforme Carrera – Fernandez e Garrido (2002): - Inexiste o seu mercado, onde se possa transacionar o direito de propriedade da água ou mesmo o certificado do seu direito de uso (Ver aula 12); - o conceito de que „a água é grátis‟ está profundamente enraizado na cultura de alguns países. Não se costuma imaginar, quando se abre a torneira de casa e dela verte água, o trabalho e o custo agregados em seu armazenamento, captação, tratamento e distribuição; - é utilizada por uma gama de diferentes usos, com diferentes custos de oportunidade (valor da água em um uso alternativo) e variadas e subjetivas formas de valorização, o que significa que ela tem diferentes valores de uso e, portanto, admite diferentes valores de troca ou preços; - a água sendo um bem público, os direitos de uso não estão claramente definidos. Isso quer dizer que quando o uso de um bem é compartilhado (ou seja, não exclusivo) e se enquadra no grupo de bens públicos, os seus usuários, quando questionados sobre o seu valor, não revelam completamente suas preferências e tendem a subestimar esse valor. Nesse Gestão dos Recursos Hídricos Aula 15 – O valor econômico da água Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 11 caso especifico, não é possível apropriar o valor de uso de qualquer um desses usuários da água. Esse problema não aconteceria se os usos da água fossem concorrentes (ou seja, exclusivos) e se enquadrassem no grupo de bens privados, pois estariam submetidos à lei de mercado. É por isso que na sua grande maioria os bens públicos são ofertados pelo Estado, financiados através de impostos ou outras formas de obrigação, tendo em vista que os usuários potenciais não estariam dispostos a cobrir seus custos de forma voluntária. Assim, no próximo tópico trataremos das consequências da indefinição do direito de propriedade da água, pois sendo ela pública é como se fosse de ninguém, e todos tendem a fugir da responsabilidade do seu uso racional. ATIVIDADE 01 Com base no que você estudou até agora sobre o valor econômico da água, responda: 01. Por que a ciência econômica consideravaa água como um bem livre? Explique. 02. O que significa considerar a água como um bem econômico? 03. Por que o princípio do uso múltiplo é um exemplo de que a água é um bem econômico? 04. Em qual circunstância o valor de troca da água poderia ser igualado ao valor de troca do diamante? Gestão dos Recursos Hídricos Aula 15 – O valor econômico da água Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 12 A INDEFINIÇÃO DO DIREITO DE PROPRIEDADE E O CUSTO SOCIAL A indefinição do direito de propriedade faz com que os usuários subestimem o valor da água. Em consequência, todo bem subestimado tende a ser super utilizado. Isso significa que, ao decidir quanto consumir, cada usuário dos recursos hídricos não toma em consideração o efeito que suas decisões de consumo provoca sobre os demais usuários do sistema. Isto é, o usuário dos recursos hídricos estabelece um padrão de consumo ineficiente, visto que a sua decisão de consumir afeta o nível de utilização dos demais usuários do sistema hídrico. Nesse sentido, cada usuário causa um efeito externo (negativo) aos demais usuários do sistema, quando não leva em conta as suas decisões individuais de consumo, sendo chamado de externalidade negativa, custo (marginal) social ou externalidade tecnológica (LANA, 1993; CARRERA – FERNANDEZ; GARRIDO, 2002). Esse efeito fica bem evidente quando a água, ao ser cotada a preço zero em uma bacia hidrográfica, induz qualquer usuário a não levar em consideração o custo social que a sua decisão particular de consumir um metro cúbico a mais de água causa aos outros usuários do sistema hídrico. Custo marginal privado e custo marginal social Para que o usuário possa compreender e internalizar melhor o efeito desse consumo ineficiente, anteriormente citado, é necessário diferenciar os conceitos de custo marginal privado e custo marginal social, conforme o gráfico 01. Em seu eixo Gestão dos Recursos Hídricos Aula 15 – O valor econômico da água Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 13 horizontal, mede-se o volume de água (xj) consumido no uso (j), e sobre o eixo vertical, o seu preço(p)j, ou seja, o seu benefício marginal. O custo marginal privado (CMgp) de captação de água é o custo de oportunidade da água nesse uso, avaliado em termos de mão de obra, equipamentos e outros insumos necessários a sua captação, tratamento e distribuição. No entanto, não se pode deixar de considerar o fato de que cada metro cúbico adicional de água captado causa um custo adicional à sociedade, uma vez que outros usuários dispõem agora de um metro cúbico a menos de água para outros usos. Desse modo, o custo marginal social (CMgs) inclui, além do custo de oportunidade privado de captar um metro cúbico de água, esse custo implícito adicional imposto à sociedade. Considere ainda, no gráfico 01, a curva de demanda ou função de demanda por água no uso j como pj(xj), a qual especifica o benefício marginal para cada nível de utilização desse recurso. A condição necessária para uma alocação ótima da água no consumo é que cada usuário fundamente sua decisão de consumo igualando o benefício marginal (preço) ao custo marginal social (ponto B na função de demanda do gráfico 01). Portanto, nesse ponto B estará sendo incluso o custo adicional imposto à sociedade pela privação dessa quantidade de água. Isso não se verifica com o consumo xpj, correspondendo ao ponto A da função de demanda. Então, como mudar o comportamento dos usuários e reduzir o nível de consumo de forma mais racional? Encontraremos essa resposta, a seguir, na mudança de comportamento. Gestão dos Recursos Hídricos Aula 15 – O valor econômico da água Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 14 Gráfico 01– Relação entre o custo marginal privado (CMg p ), custo marginal social (CMg s ) e a função de demanda (pj(xj)) em um determinado uso (CARRERA – FERNANDEZ; GARRIDO, 2002). Este gráfico mostra que uma tomada de consciência faria com que o usuário de água reduzisse o seu desperdiço para uma situação ideal (ponto B), quando então o preço a ser cobrado incluiria o custo marginal social. Mudança de comportamento Para conscientizar os usuários da necessidade de um uso mais racional da água e evitar futuros problemas de escassez, costuma-se tomar medidas no campo das políticas públicas que possam afetar o comportamento do cidadão e, quando acertadamente tomadas, essas medidas são capazes de multiplicar os resultados esperados. Essas medidas geralmente estão associadas à elaboração de um conjunto de normas, regulamentos, leis, decretos e portarias, campanhas educativas para mostrar o Gestão dos Recursos Hídricos Aula 15 – O valor econômico da água Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 15 que vem a ser, entre outras coisas, social e economicamente correto. Entretanto, Carrera – Fernandez e Garrido (2002) destacam que esses instrumentos, embora tradicionalmente utilizados, não se têm mostrado tão eficazes sobre o comportamento do usuário, isso porque não são capazes de chamar a atenção do usuário da água para o senso de responsabilidade social. Por isso, é justamente nesse ponto que deve entrar o ingrediente econômico, com a arrecadação, pelo Poder Público, de imposto, taxas, cobranças pelo uso da água, justamente considerando a diferença entre o custo marginal privado e o custo marginal social, pois isso poderia conter o desperdício de água e o nível de consumo seria reduzido para xsj no gráfico 01. Dessa forma é que o órgão gestor de recursos hídricos pode e deve intervir como forma de fazer com que cada usuário internalize esse custo social nas suas decisões individuais de consumo final ou na sua produção. ATIVIDADE 02 Com base no que você estudou sobre a indefinição do direito de propriedade da água, responda: 01. Por que os usuários tendem a subestimar o valor da água? 02. Qual a consequência de subestimar o valor da água? 03. Qual o consumo ótimo que o usuário deveria ter em uma função de demanda? 04. Que forças seriam capazes de promover mudanças importantes nos comportamentos do ser humano, induzindo- os a uma utilização racional da água? Gestão dos Recursos Hídricos Aula 15 – O valor econômico da água Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 16 RESUMINDO Nesta aula, você aprendeu que devido aos problemas de escassez a água deixou de ser um bem livre e passou a ter um valor econômico, portanto regida pela ciência econômica. Aprendeu, ainda, que todo bem econômico tem um valor que é convertido em preço, mas que isso não é uma tarefa fácil por ser um bem público, não sujeito à lei de mercado e pelas diversas formas de uso, além de variadas e subjetivas formas de valorização. Por fim, aprendeu, também, que a indefinição do direito de propriedade da água, por ser um bem público, gera um padrão ineficiente de consumo, mas que mecanismos econômicos de cobrança são, provavelmente, capazes de reduzir esse custo imposto à sociedade. LEITURA COMPLEMENTAR A leitura do texto “Mercado de Água (Envasada) no Brasil e no Mundo” permitirá que você compreenda que neste mercado não se negocia certificados de direito de uso da água e nem muito menos títulos de propriedade, mas o preço cobrado relacionado, exclusivamente, ao custo privado de captação. Disponível em: <http://http://www.bndes.gov.br/conhecimento/Bnset/set1107. pdf>. Acesso em: 19 jun. 2009. Gestão dos Recursos Hídricos Aula 15 – O valor econômico da água Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 17 AVALIANDO SEUS CONHECIMENTOS A bacia hidrográfica, além de constituir a unidade básica da hidrologia (Aula 08), unidade físico-territorial de gestão (Aula 13),poderia vir a configurar-se também como mercado das águas, propiciando aos seus múltiplos usuários interagirem através da negociação de, pelo menos, certificados de direito de uso da água? Explique como se daria esse processo. CONHECENDO AS REFERÊNCIAS BARTH, F. T. et al.. Modelos para gerenciamento de recursos hídricos. São Paulo: Nobel: ABRH, 1987. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. Agência Nacional de Águas - ANA. Evolução da Gestão dos Recursos Hídricos no Brasil. Brasília: ANA, 2002. Também Disponível em: <http:// www.ana.gov.br>. Acesso em: 19 jun. 2009. CANO, Wilson. Introdução à economia. 2. ed. Cidade: São Paulo. Editora UNESP, , 2007, 296 p. CARRERA-FERNADEZ, J. & GARRIDO, R. J. . Economia dos Recursos Hídricos. Salvador: Edufba, 2002. LANA, Antonio Eduardo. Gestão dos recursos hídricos. In TUCCI, Carlos E. M.. Hidrologia: ciência e aplicação. Porto Alegre: Ed. da Universidade: ABRH:EDUSP, 1993. http://www.ana.gov.br/ Gestão dos Recursos Hídricos Aula 15 – O valor econômico da água Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 18 ROGERS, P. – Enfrentando a crise da água. Scientific American Brasil, 76, Setembro, 2008. Pág. 60 – 67. Disponível em: <www.sciam.com.br>. Acesso em: 19 jun. 2009. SANTILLI, Juliana. Aspectos jurídicos da Política Nacional de Recursos Hídricos. Escola Superior do Ministério Público da União. Série Grandes Eventos – Meio Ambiente, 2009. Disponível em: <http://www.esmpu.gov.br/publicacoes/meioambiente.htm>. Acesso em: 19 jun. 2009. ILUSTRAÇÕES POR PÁGINA Página 03: http://2.bp.blogspot.com/_SYNFCPpipzQ/SdlEUuoQRGI/AAA AAAAABIo/NedIYJ_I2rk/s00/Chuva-wea.jpeg Página 04: http://roquegameiro.com.sapo.pt/TP%200%200%20Alfredo/Or la%20Maritima/TP00%20Chuva%20no%20mar%20c.jpg Página 05: http://www.vivaterra.org.br/agua_16.2.jpg Página 06: http://www.franciscanos.org.br/ecologia/luaeestrelas/noticias2 007/imagens/agua_g1401.jpg Página 07: http://inusitatus.blogtv.com.pt/img/Image/Inusitatus/2007/Agost o/diamantes_personalizados.gif http://www.sciam.com.br/ http://www.esmpu.gov.br/publicacoes/meioambiente.htm Gestão dos Recursos Hídricos Aula 15 – O valor econômico da água Tecnologia em Gestão Ambiental a Distância 19 Página 09: http://www.amparo.sp.gov.br/noticias/agencia/2008/04_abril/i magens/180408_irrigacao.jpg Página 12: http://maeterra.info/images/consumo-de-agua-carne-de- bovino.jpg
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