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06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 1/24 Fisioterapia Estática Autora: Angela Santos 1. Apresentação É o conjunto de meios terapêuticos capazes de agir sobre a musculatura estática, tônica ou antigravitária, cuja patologia é a retração que se manifesta pelo aparecimento dos desvios posturais e que será objeto de discussão aqui. 2. Músculos Estáticos e Dinâmicos Em 1873, Ranvier classificou os músculos esqueléticos em dois tipos, de acordo com a rapidez de contração frente a um estímulo elétrico, em lentos, que relaxavam vagarosamente e apresentavam cor vermelha forte, e rápidos, de contração e relaxamento rápidos e cor mais pálida. Um século depois, em 1973, Burke realizou pesquisas que confirmaram essa classificação, introduzindo um terceiro tipo de músculo, ou seja, o daqueles com características intermediárias entre os rápidos-pálidos e os lentos-vermelhos. O músculo esquelético é constituído por fibras musculares que apresentam sempre a mesma estrutura molecular básica. Diferenciam-se pelo tipo de inervação e pelas propriedades elétricas. Assim como as fibras musculares se diferenciam quanto à rapidez de contração, os motoneurônios diferenciam-se quanto à rapidez de excitabilidade. Classificação dos músculos esqueléticos Tipo de fibra muscular Tipo de neurônio associado Velocidade de condução do impulso nervoso Denominação dada por Burke Fibra rápida • De condução rápida • De célula grande • De axônio espesso Alta FF "Fast fatigable" Rápida fadiga Fibra lenta • De condução lenta • De célula pequena • De axônio fino Baixa S "Slow" Lenta Fibra intermediária • De condução rápida Intermediária F "Fast resistent" Rápida, resistente 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 2/24 Várias fibras musculares do mesmo tipo são inervadas pelo mesmo motoneurônio. Esse conjunto é uma unidade funcional, denominada unidade motora. Todos os músculos esqueléticos apresentam os três tipos de unidades motoras; porém, a predominância de um dos tipos dará ao músculo as características daquele tipo específico de fibra, podendo-se por isso falar em: Músculo rápido e Músculo lento. Músculo rápido Músculo lento Músculointermediário • É pálido. • Possui poucas mitocôndrias. • É pouco vascularizado. -Usa glicose para gerar energia (pode funcionar em condições anaeróbicas). • Suas fibras são capazes de contração e relaxamento rápidos. • É capaz de grande tensionamento: suas fibras longas o permitem. • Fatiga-se rapidamente. • É vermelho (pelo alto teor de mioglobina). • Possui poucas mitocôndrias. • É muito vascularizado (funciona com metabolismo de oxigênio). • Suas fibras são capazes de contração e relaxamento lentos. • É capaz de desenvolver tensionamento dentro de limites estreitos: as fibras curtas só permitem pequenas amplitudes de contração. • Altamente resistente à fadiga. • É vermelho. • Muito vascularizado. • Apresenta muitas mitocôndrias. • O tempo de contração, • limite de tensão e a fatigabilidade são intermediários. Suas fibras são capazes de metabolizar oxigênio e glicose. Função: adapta-se a atividades musculares intensas e de curta duração; por isso, denomina-se músculo fásico ou dinâmico. Função: adapta-se a contrações de longa duração, necessárias à manutenção postural; por isso, denomina-se músculo tônico ou anti- gravitário. Função: atividade postural- direcional - Prepara o músculo para um movimento preciso, orientando-o a um objetivo preciso. 3. Quem são os estáticos e Dinâmicos? Desde Ranvier, o tríceps sural é o músculo mais freqüentemente estudado ao longo do tempo e todos concordam no seguinte: - o sóleo, vermelho, possui a maioria das unidades do tipo S (lentas), tem contração lenta e não se cansa rapidamente; - o gastrocnêmio, pálido, tem a maioria das unidades do tipo F (rápidas) e pode desenvolver 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 3/24 tensão maior que o sóleo, mas durante curtos períodos. Depois dos anos 70, os trabalhos de Burke esclareceram com precisão a razão dessas características e hoje todos concordam em que os músculos estáticos, também denominados tônicos, são importantes na manutenção da postura; os dinâmicos, também denominados fásicos, são importantes na realização do movimento. OS MÚSCULOS ESTÁTICOS TAMBÉM SÃO DENOMINADOS TÔNICOS OS MÚSCULOS DINÂMICOS TAMBÉM SÃO DENOMINADOS FÁSICOS Figura 2 A. O sóleo, músculo estático, encontra-se em constante atividade, para lutar contra a tendência da tíbia de desequilibrar-se à frente, sob ação da gravidade. B. O gastrocnêmio, músculo dinâmico, contrai-se durante a marcha, de forma intermitente, para garantir que o calcâneo eleve-se do chão a cada impulso. Seria muito interessante que anatomistas e cinesiologistas se dedicassem a descrever a ação dos músculos de acordo com essas características fisiológicas das fibras musculares. O tríceps sural é o músculo mais estudado em fisiologia. Constitui-se de três porções. Duas mais superficiais, os gastrocnêmios, são reconhecidas como dinâmicas. O sóleo, músculo mais profundo, é a porção estática. No entanto, nos livros de anatomia a ele é sempre atribuída a função de flexão plantar, encarando-se todo o músculo como dinâmico, sem diferenciar-se a função do sóleo, músculo estático. O que dizer então dos demais músculos? A nenhum se atribui ação estática, de controle postural. No entanto, basta observar com olhos de fisiologista para ver-se que os músculos mais 'tendíneos', que apresentam fibras musculares mais curtas e atravessam uma ou duas articulações apenas, têm vocação para estáticos. Observemos o músculo longo do pescoço (Fig.3). Por que essa forma estranha em três diferentes fascículos? Figura 3 O músculo longo do pescoço e suas porções: • longitudinal (partindo dos corpos de C2 a D3 até as apófises transversas de C4 a C7); • transversa superior (partindo do arco anterior do atlas até as apófises transversas de C3 a C6); • transversa inferior (partindo dos corpos de D1 a D3 até as apófises transversas de C5 a C7). Normalmente, a ele se atribui a ação de anteflexão do pescoço ou de endireitamento da curva cervical, quando age bilateralmente. Sem dúvida tal ação pode ser desempenhada por essa porção longitudinal. - Mas o que dizer das porções - No entanto, sua ação não seria 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 4/24 oblíquas? - Essas fibras curtas não estariam aí colocadas para manterem a lordose cervical em seus limites fisiológicos? - Não estariam elas lutando contra a tendência de aumentarem a curva cervical frente à gravidade e à ação de músculos lordosantes cervicais? postural? - A coluna dorsal não precisa de guardiães colocados posteriormente às vértebras para impedir a queda à frente? - Não precisa impedir o fechamento da curva frente à ação da gravidade? Não precisa de guardiães colocados lateralmente para impedir a queda do lado oposto? Na realidade, as porções estáticas são as oblíquas superior e inferior, que reflexamente impedem o fechamento da curva cervical. A porção dinâmica é a longitudinal, capaz de endireitar, isto é, abrir voluntariamente a curva cervical. Observemos os transversos espinhais dorsais (Fig. 4), esse sistema oblíquo profundo junto à coluna com músculos todos bastante curtos, que vão de uma apófise transversa até a espinhosa da primeira, segunda, terceira e quarta vértebras situadas acima. Geralmente se atribui a eles função de extensão, quando estimulados bilateralmente, ou de flexão-lateral-rotação, quando estimulados unilateralmente, como se fossem constituídos por fibras dinâmicas. O sistema ideal para tais funções é o transverso espinhal. A tensão que se sente ao longo da região paravertebral denuncia a presença de unidades motoras sempre alertas. A ação desses músculos é impedir o fechamento da curva dorsal, ao agir bi-lateralmente; é impedir a látero-flexão ao lado oposto e a rotação ao seu próprio lado, agindo unilateralmente. Marcel Bienfait, em seulivro A Fisiologia da Terapia Manual, inferiu essas funções para cada grupo muscular, mesmo sem um trabalho experimental de laboratório. Trata-se de um ensaio que merece atenção por parte de quem faz pesquisa para futuras experimentações. A FUNÇÃO DO MÚSCULO ESTÁTICO OU TÔNICO é impedir o desequilíbrio, quando possível, e controlá-lo ou limitá-lo, quando necessário. Sua ação é reflexa e inconsciente. A FUNÇÃO DO MÚSCULO DINÂMICO OU FÁSICO é realizar movimento. Sua ação é voluntária e consciente. Figura 4 O conjunto normalmente denominado transverso espinhal é constituído por quatro músculos que partem de uma mesma apófise transversa: A, rotador curto, que se insere na lâmina da vértebra imediatamente acima; B, rotador longo, que se insere na lâmina de duas vértebras acima; C, multifídio, que se insere na espinhosa de três vértebras acima; D, semi-espinhoso, que se insere na espinhosa de quatro (ou mais) vértebras acima. A ação do conjunto transverso espinhal na dorsal: - agindo bilateralmente, impede o fechamento da curva; - agindo unilateralmente, impede a flexão para o lado oposto e a rotação para seu próprio lado. 4. A Patologia do Músculo Estático 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 5/24 A contração muscular é causada pela interpenetração dos filamentos de actina entre os filamentos de miosina (Fig. 5). Os filamentos de actina são atraídos ao centro durante a contração, o que faz diminuir a distância H entre eles, até que, eventualmente, seja suprimida por completo (contração máxima). No relaxamento, cada elemento volta à posição inicial e a distância H é restabelecida. Figura 5 A interpenetração dos filamentos de actina e miosina na contração muscular. Suponhamos, no entanto, que um segmento muscular estático, funcionando em postura inadequada durante longas horas, dias ou semanas, não seja solicitado a voltar à sua posição de comprimento muscular máximo. É possível que, quando isso ocorrer, os filamentos de actina não mais deslizem o suficiente para restabelecer a distância H inicial e esse comprimento máximo não se restabeleça (Fig. 6). Se isso for mantido cronicamente, sem que o músculo seja solicitado a restabelecer seu comprimento normal, ocorrerá uma retração muscular, isto é, os miofilamentos de actina permanecerão um pouco mais imbricados entre os de miosina, e os elementos conjuntivos, elásticos acompanharão essa diminuição de comprimento. Isso vai ocasionar a diminuição do comprimento muscular e um desequilíbrio permanentemente fixado do segmento. Figura 6 Os músculos cervicais mantidos em encurtamento durante muito tempo, por exemplo, numa atividade profissional (A), permanecerão encurtados em qualquer outra posição (B). Caso a retração ocorra em criança não tratada antes do primeiro estirão de crescimento, tal segmento músculo-aponeurótico retraído crescerá menos que seu segmento simétrico contralateral (o crescimento do tecido muscular e conjuntivo se dá em função do alongamento contínuo a que é submetido frente ao crescimento ósseo), e o desvio passará a ser fixado não mais pela retração, mas pelo encurtamento muscular, que é a falta de crescimento. Os desvios posturais podem ter inúmeras causas: maus hábitos posturais ou profissionais, alterações estruturais congênitas ou adquiridas, fatores emocionais; mas, seja qual for a causa, o desvio será fixado pela retração das estruturas relacionadas ao músculo estático. Alertas vinte e quatro horas por dia, essas fibras musculares e todo o seu invólucro conjuntivo permanecerão retraídos: tanto quanto a elasticidade das aponeuroses e dos tendões permitir que se retraiam, tanto quanto for possível aos filamentos de actina e miosina interpenetrarem-se. Tal fato nos sugere duas conclusões: 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 6/24 1. Os desvios posturais devem ser combatidos o mais precocemente possível. 2. A patologia do músculo estático é sua retração ou encurtamento e se manifesta pelo aparecimento de desvios posturais. Devemos estudar com muita atenção essa musculatura para determinarmos que procedimentos terapêuticos podem ser eficientes em seu tratamento. Ao conjunto desses procedimentos denominamos FISIOTERAPIA ESTÁTICA. 5. Anatomia Muscular O músculo esquelético é constituído por fibras que se unem em cada extremo a um tendão, o qual por sua vez liga-se ao osso ou à aponeurose de outro músculo. Figura 7 Organização do músculo esquelético do plano macroscópico até o fuso muscular. Grupos de fibras são reunidos em feixes denominados fascículos, por sua vez envolvidos por tecido conjuntivo (a aponeurose). Algumas fibras musculares percorrem toda a extensão do músculo, outras, menores, encontram- se contidas dentro de pequenas estruturas denominadas fusos musculares. O fuso é um receptor que informará ao sistema nervoso central sobre o comprimento muscular (Fig. 7). De acordo com sua posição, as fibras musculares denominam-se intrafusais ou extrafusais Na região do tendão muscular, ou mais exatamente na junção músculo-tendínea, encontram-se pequenas cápsulas posicionadas em série com um certo número de fibras musculares que nelas penetram por meio de uma estrutura afunilada, transformando-se em seu interior em fibras colágenas que se entrelaçam, percorrendo todo o comprimento da cápsula. São os órgãos tendinosos de Golgi (OTG) (Fig. 8). O órgão tendinoso de Golgi é um receptor que informa ao sistema nervoso central sobre o grau de tensão muscular decorrente da contração. Figura 8 Órgão tendinoso de Golgi. 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 7/24 6. Propriedades Musculares Muitos textos sobre fisiologia muscular atribuem ao músculo quatro propriedades: excitabilidade, contratilidade, elasticidade e tonicidade. Todas essas propriedades contribuem para o movimento; no entanto, cada uma delas é propriedade de diferentes elementos anatômicos. A excitabilidade é nervosa. A contratilidade é muscular. A elasticidade é própria do tecido conjuntivo, envolvendo e estruturando as fibras musculares. A tonicidade é nervosa, mas envolve um conjunto totalmente independente, que não abordaremos aqui. 7. Excitabilidade É propriedade da fibra nervosa que inerva a fibra muscular. Por sua vez, a fibra muscular esquelética em si tem sempre a mesma constituição. O que a diferencia é a forma como é estimulada pela fibra nervosa eferente que a inerva. - A fibra nervosa eferente sai da medula e vai em direção aos músculos excitar as fibras musculares. - A fibra nervosa aferente sai dos receptores e vai em direção à medula informar ao sistema nervoso central sobre o que ocorre na periferia. PROPRIEDADES DAS FIBRAS AFERENTES Velocidade x Diâmetro da fibra nervosa As fibras aferentes, que partem do músculo para informar a medula, são classificadas em três categorias, de acordo com seu diâmetro: I, II, III, em ordem decrescente de espessura. As mais espessas conduzem mais rapidamente. As do tipo I são subclassificadas em: Ia - destinadas ao fuso muscular, e Ib - destinadas aos órgãos tendinosos de Golgi. As do tipo II são também destinadas às fibras do fuso. As do tipo III e as desmielinizadas do grupo IV são menos conhecidas, mas provavelmente se trata de terminais nervosos livres, responsáveis pela sensação de pressão muscular e dor. A excitabilidade da fibra nervosa Ia garante o movimento graças à excitação autogênica, à excitação dos sinergistas e à inibição do antagonista. Figura 9 Inervação aferente do fuso Os terminais nervosos aferentes que partem da região central do fuso são de dois tipos:primário: do tipo Ia. secundário: do tipo II. Destinam-se a diferentes tipos de fibras musculares intrafusais. Inervação eferente das fibras intrafusais À extremidade da fibra intrafusal chegam terminais nervosos eferentes, os pequenos motoneurônios gama. Inervação eferente das fibras extrafusais É garantida por fibras nervosas denominadas motoneurônios alfa, que podem ser maiores ou menores, respectivamente mais rápidosou mais lentos, na 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 8/24 medida em que se destinam a fibras musculares dinâmicas ou a fibras musculares estáticas. Excitação autogênica A excitação autogênica é o modo como a informação originada do músculo (por exemplo, um alongamento) se transforma em contração do próprio músculo. A fibra nervosa aferente Ia sai do núcleo das fibras musculares intrafusais e dirige-se à medula. Lá, faz conexão com motoneurônios alfa que saem da medula para inervar fibras extrafusais do mesmo músculo de onde partiu a fibra Ia (músculo homônimo). Essa conexão possibilita uma "excitação autogênica" para a contração do "músculo homônimo" ( Fig. 10). Um único aferente Ia pode enviar terminais a vários motoneurônios alfa. Figura 10 Conexões centrais do aferente Ia (fuso muscular). Excitação dos sinergistas O aferente Ia que fez conexão com o motoneurônio alfa que inerva fibras do músculo homônimo também se liga aos motoneurônios alfa que inervam músculos sinérgicos, isto é, com função semelhante à do músculo homônimo. Isso reforça a ação (Fig. 10). Inibição dos antagonistas Além de estar em conexão com o motoneurônio alfa que inerva o músculo homônimo e com outro neurônio alfa que inerva o músculo sinergista, o aferente Ia também se conecta com um pequeno neurônio intermediário (chamado interneurônio inibidor Ia); este, por sua vez, faz contato com o motoneurônio alfa que inerva o músculo antagonista ao movimento que se está construindo. Isso impede que ocorra um movimento contrário (Fig. 10). A inibição do neurônio motor antagonista, concomitante à excitação do neurônio do músculo homônimo e do sinergista, denomina-se "inibição recíproca". Reflexo miotático Agora temos todos os elementos para entender o reflexo miotático (ou de estiramento) dos músculos flexores a saber: 1. A extensão passiva do membro parcialmente fletido alongará os flexores. Os fusos musculares sofrerão deformação em sua região central, o que faz os aferentes Ia descarregarem. 2. Estes, através de uma conexão monossináptica, excitarão os músculos homônimos e sinérgicos e inibirão o antagonista extensor. Porém, se essa contração muscular aumentar excessivamente, existem dispositivos inibidores de segurança. Um deles é o órgão tendinoso de Golgi, que também envia informações à medula. Função do órgão tendinoso de Golgi Durante o alongamento muscular passivo dá-se o seguinte: - As aferências nervosas do fuso muscular aumentam o nível de descarga - As aferências nervosas que partem do órgão de Golgi aumentam o nível de descarga em menor intensidade. 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 9/24 Ainda estirado, o músculo inicia uma contração por estímulo do neurônio eferente alfa e, em conseqüência, ocorre o seguinte: As fibras nervosas aferentes do fuso diminuem e cessam por completo o nível de descarga, porque a contração das fibras extrafusais relaxam as intrafusais por estarem colocadas em paralelo. O fuso é sensível ao alongamento muscular. A fibra nervosa Ib parte do OTG e se dirige à medula onde faz conexão com motoneurônios somente através de interneurônios (Fig. 11). Assim, o aferente Ib é excitado a partir da deformação do órgão de Golgi (estiramento ou contração). Na medula, os interneurônios inibidores inibirão o motoneurônio alfa, destinado ao músculo de origem, e seus sinergistas. Os interneurônios excitadores excitarão os antagonistas. Figura 11 Conexões centrais do aferente Ib (órgão tendinoso de Golgi). Os primeiros a estudar essas conexões foram Laporte e Loyd. Aumentando a intensidade do estímulo elétrico até um nível superior ao necessário para obter-se uma resposta miotática aferente (via fibra nervosa Ia), observaram uma ação reflexa oposta ao reflexo miotático, isto é, o músculo de origem e seus sinergistas eram inibidos e os antagonistas excitados. A isso denominaram reflexo miotático inverso. Como os OTGs são sensíveis a estiramentos passivos, inicialmente se pensou ser sua função principal a proteção contra a excessiva tensão, inibindo os neurônios motores homônimos e sinergistas e excitando os antagonistas. Hoje se sabe que sua ação é um pouco mais complexa que isso, porém, seu papel parece exatamente ser o de um regulador, por impedir que a tensão causada pela contração suba a níveis perigosos. Contratilidade Dentro de cada fibra correm as miofibrilas, atravessadas por estrias escuras e claras, visíveis ao microscópio. No centro da estria clara, visualiza-se a linha denominada Z. As estruturas contidas entre duas linhas Z constituem o sarcômero. No centro da estria escura, visualiza-se outra estria menor, denominada H (Fig. 12). Figura 12 Miofibrilas e sua estrutura ao microscópio eletrônico. 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 10/24 Cada miofibrila é constituída de finos filamentos (miofilamentos), dispostos longitudinalmente. Os miofilamentos mais finos são constituídos por uma sucessão de moléculas protéicas de actina. Os filamentos mais espessos são constituídos por miosina. Os filamentos de actina estão presos de um lado à linha Z e do outro são livres para penetrar entre os filamentos de miosina. Podem penetrar percorrendo a distância representada pela linha H. Em exames com microscópio eletrônico, observamos que durante o alongamento também ocorre o alargamento das duas meias-faixas I e da zona H e que a estria A permanece inalterada. Isso demonstra que, em repouso, os filamentos de actina encontram-se imbricados entre os de miosina e que o alongamento passivo pode realizar o deslizamento excêntrico desses filamentos, o que nos mostra o valor desse tipo de procedimento na terapia do músculo estático. Elasticidade Na constituição do músculo, além dos elementos contráteis que acabamos de examinar, existem elementos elásticos em série (tendões e pontes entre actina e miosina) e os em paralelo (aponeuroses de revestimento). O elemento contrátil é extensível, graças ao escorregamento para fora dos filamentos de actina entre os de miosina. Isso é mais fácil a partir do repouso, quando o processo de interpenetração dos filamentos não estiver acionado. O elemento conjuntivo em série (tendões) e o elemento em paralelo (fáscias) serão extensíveis graças ao seu próprio índice de elasticidade. Assim, se puxarmos um músculo, ele se alongará em dois tempos, a saber: primeiro, pelo alongamento instantâneo dos elementos elásticos conjuntivos em série; segundo, pelo alongamento lento e tardio dos elementos contráteis que se deixam alongar. Quando o soltamos, há um primeiro tempo de retorno rápido e um segundo de retorno lento. A retração muscular diz respeito aos dois elementos. Se os elementos conjuntivos em série e em paralelo perderem suas propriedades elásticas (por exemplo, nos processos de envelhecimento e de cicatrização), para responder com eficiência às solicitações de tensionamento, o elemento contrátil não mais pode contar com a elasticidade do conjuntivo, colocando seus miofilamentos em maior interpenetração para utilizar a maior "viscoplasticidade" possibilitada pelo aumento de pontes entre actina e miosina. 8. Fisioterapia Estática O desvio postural deve ser atacado o mais precocemente possível, de preferência antes de transformar-se em encurtamento ou antes que o encurtamento seja muito acentuado. O exemplo mais importante é a escoliose. POSTURAMENTO O corpo humano, como qualquer corpo articulado submetido às leis da gravidade, para permanecer equilibrado deve compensar qualquer desequilíbrio pelo desequilíbrio inverso no mesmo plano e de mesmo valor. Assim, na patologia do músculo estático, toda deformidade é acompanhada por uma (ou mais) compensações, com o objetivo de recolocar o centro de gravidade do corpo, de forma que sua projeção continue caindo dentro da área de sustentação do corpo. Em qualquer desvio postural, devemos procurar sua causa e qual a musculatura estática responsável por sua fixação; mas também precisamos procurar sua compensaçãoou compensações e verificar se estão fixadas. Se esse for o caso, é preciso eliminar a compensação antes de atacar a deformidade. Para corrigir a deformidade devemos impedir as compensações. Exemplo (Fig. 13): Uma criança, por hábitos posturais inadequados precocemente estabelecidos, desenvolve retração do músculo sóleo. Na posição ortostática esse sóleo, encurtado, puxa a tíbia para trás, determinando o aparecimento de um recurvatum. Olhado em plano sagital, o membro inferior se posterioriza. Todo desequilíbrio requer um outro, de mesmo valor e de sentido oposto no mesmo plano, para o equilíbrio ser preservado; a pelve, pode então bascular anteriormente para recolocar o centro de gravidade à frente, centralizando-o. Isso acarreta uma hiperlordose 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 11/24 lombar. Os paravertebrais da região, também estáticos, podem facilmente entrar em retração. O tratamento da retração inicial (sóleo) deve ser realizado impedindo-se a compensação da lordose lombar ou será fadado ao fracasso. Figura 13 Criança sedentária com hábitos posturais bem estabelecidos: A, só brinca assim (sóleo retraído) B, só dorme assim (sóleo retraído) C, com o tempo a retração do sóleo não desaparece, mesmo com a extensão dos joelhos na posição em pé. O sóleo retraído traciona a tíbia para trás determinando o aparecimento do genu recuvartum e este da anteversão pélvica e hiperlordose lombar Figura 14A A paciente em decúbito dorsal, pernas fletidas e coluna lombar apoiada (note a elevação dos ombros). Figura 14B Terapeuta "desenrola"o ombro e há aumentoda lordose lombar (tensão à distância) Figura 15 O trabalho suave de alongamento do sóleo é realizado com a criança "em postura", o que elimina as compensações que se instalaram pela retração inicial: pelve em anteversão e hiperlordose lombar. Note-se a pelve retrovertida e a hiperlordose lombar eliminada. Cada retração tratada criará tensões à distância (Fig. 14). Isto só pode ser impedido pelo "posturamento" do paciente antes de iniciar-se o procedimento que irá agir sobre a deformidade e suas compensações. A primeira a desenvolver essa idéia foi Françoise Mézières. A musculatura estática, também antigravitária, em grande proporção situada na região posterior do corpo, é colocada sob tensionamento na posição denominada "postura" por F. Mezières, e é capaz de impedir a instalação de compensações, quando exercemos um gesto terapêutico sobre o segmento a ser tratado (Figs. 15 e 16). Figura 16 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 12/24 Paciente em postura com faixa. 9. As Posturas I. Postura básica ou em ângulo fechado O paciente encontra-se em decúbito dorsal, cervical em lordose longa, membros inferiores com a coxofemural em 90 graus, joelhos na máxima extensão possível e pés em talo. Nessa posição, toda a musculatura posterior antigravitária encontra-se sob tensão. Além disso, todas as curvas da coluna se reduzem graças ao mesmo tensionamento: a curva cervical se alonga, a cifose dorsal retifica-se, a lordose lombar desaparece. Todos esses fatores impedem qualquer compensação ao longo desses segmentos. Essa postura deve estar no limite das possibilidades de alongamento dos músculos posteriores, nunca além, sob pena de desencadearmos contração ou hipertensão muscular (contração isométrica) reativa, graças ao miotático (Fig. 17). Figura 17 Observar as alterações das curvas raquidianas na passagem do decúbito dorsal para a "postura" dentro da qual se realizam as manobras corretivas, pompages e outras. No interior da postura, desenvolvemos procedimentos respiratórios relaxantes, que têm ação sobre a musculatura estática, manobras corretivas e pompages. Esses itens serão abordados a seguir. Variações Esta postura básica de coxofemural em 90 graus, denominada por isso "em ângulo fechado", tem outras possibilidades: Figura 18 Postura em ângulo fechado com o paciente sentado. Ideal para trabalhar-se desvios da região posterior dorsolombar, porque o terapeuta mantém constante controle visual e manual sobre ela. Figura 19 Postura em ângulo fechado em pé. Ideal sobretudo para trabalhar-se desvios do membro inferior. Se o paciente mantém as manobras corretivas realizadas sobre o 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 13/24 segmento, ao mesmo tempo em que vence a ação da gravidade se consegue um excelente resultado. II. Postura em ângulo aberto Figura 20A Esta postura inicia-se em total correção da lordose lombar, flexão e abdução da coxofemural, o que alonga os adutores. Figura 20B Lentamente se desfaz a flexão alongando-se os membros inferiores para passar-se do alongamento dos adutores a um alongamento dos iliopsoas. Figura 20C A coxofemural deve chegar até uns 20 graus, posição na qual suas inserções encontram-se alinhadas e seu alongamento será máximo. É sempre bom lembrar que a instalação e a evolução desta postura pode ser lenta e levar algumas sessões. Esta postura deve ser utilizada unicamente quando há anteversão-hiperlordose por retração de iliopsoas e adutores pubianos. Variação Figura 21 A postura em ângulo aberto também pode ser realizada em pé. 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 14/24 10. Procedimentos Respiratórios Relaxantes A musculatura respiratória é acionada quando se necessita de um aumento do aporte de oxigênio, em certas ocasiões: 1. Em atividades físicas mais intensas, em particular nas esportivas. 2. Em problemas respiratórios, quando a captação de oxigênio encontra-se comprometida. A musculatura inspiratória acessória é aquela capaz de elevar as costelas, o que aumenta o volume torácico no diâmetro lateral e ântero-posterior. A musculatura expiratória é aquela capaz de abaixar as costelas além de sua posição intermediária de repouso, o que garante uma excursão inspiratória subseqüente mais ampla. Há uma evidente supremacia na quantidade de músculos inspiratórios acessórios, sendo que a função primária de cada um está ligada ao controle e à movimentação do tórax, da cintura escapular e dos membros superiores. Assim sendo, essa musculatura é especialmente solicitada, desenvolvida e, se não for convenientemente tratada, retraída em atividades esportivas ou atividades profissionais que requeiram força ou movimentos repetitivos de membros superiores, ou ainda naqueles que sofreram ou sofrem de problemas respiratórios. Por isso, na grande maioria dos clientes tratados em fisioterapia estática, portadores de desequilíbrios posturais, esses músculos centrais e fundamentais na biomecânica humana encontram-se retraídos e mantêm a caixa torácica em posição de inspiração, devendo por isso ser tratados através de pompages e manobras corretivas fora ou dentro da postura. Durante a execução desses gestos terapêuticos, podem-se utilizar expirações relaxantes, capazes de diminuir o tônus da musculatura inspiratória e, portanto, de auxiliar no tratamento das retrações. O paciente deve aprender a expirar de forma ampla e relaxada. Ser estimulado a procurar aquela sensação que se tem ao suspirar profundamente após uma crise de choro, por exemplo, quando uma intensa sensação de alívio, bem-estar e relaxamento toma conta de todo o corpo. O paciente deve aprender a "suspirar" relaxadamente, sem acionar nenhum músculo expiratório. Assim, esse suspiro pode ser solicitado quando um músculo estático é tensionado, dentro ou fora de uma postura, graças a uma pompage ou manobra corretiva, o que vai fazer com que se solte de forma mais fácil e evidente. Se durante o trabalho ocorre alguma dor (ela nunca deve ser excessiva, visto ser o trabalho sempre suave) ou um pequeno incômodo, o suspiro relaxante pode eliminar esses sintomas, sem que a postura, a manobra ou a pompage devam ser abandonadas. 11. Manobras Corretivas Existem várias, mas nem todas podem ser executadas em postura. Devem ser realizadas de forma suave, para não haver o aparecimento de reflexos miotáticos (sobre os quais já discorremosanteriormente), e podem ser realizadas antes do posturamento, como preparo, sempre que o paciente tiver dificuldade de entrar na postura. Através delas podemos obter a correção de desvios posturais em posturamento ou podemos melhorar a flexibilidade de desvios posturais que impeçam a instalação da própria postura, para que em um segundo tempo ela seja instalada, e a fim de que dentro dela, de forma mais segura, manobras corretivas e pompages específicas para os desvios sejam aplicadas e obtenham resultados mais definitivos por impedirem compensações. Manobra corretiva para melhoria da flexibilidade dos desvios fora da postura. Ex.: Manobra corretiva de protração de ombro. Trata-se de um potente alongamento do músculo peitoral maior, o que facilitará a boa colocação do ombro na postura. Figura 22A Paciente em decúbito lateral. O terapeuta controla com uma das mãos o bom posicionamento da escápula - longe da orelha e alongando o trapézio superior. 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 15/24 Figura 22B O úmero é girado internamente o que coloca a cabeça umeral frente à glenóide. Trata-se de uma posição funcional, protetora da articulação. Figura 22C O braço do paciente é levado para trás na diagonal que é o prolongamento da linha média do peitoral maior. Figura 22D O braço do paciente é acompanhado pelo apoio do terapeuta até o limite que a flexibilidade do peitoral maior e a mobilidade das vértebras dorsais inferiores em rotação o permitam. Figura 22E Se o paciente suportar, o braço é deixado solto e seu peso lentamente alongará o peitoral maior e aumentará a amplitude de rotação das dorsais inferiores. Observe que a escápula é mantida todo o tempo pelo terapeuta. II. Manobra corretiva dentro da postura Ex.: Manobra corretiva básica do membro superior. É uma manobra que poderia denominar-se "manobra corretiva dos desvios torcionais do membro superior", porque é toda construída em torno de torções opostas de cada segmento. Todas as deformidades do membro superior são causadas por desvios torcionais dos segmentos que o constituem. 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 16/24 Figura 23A O paciente apresenta ombros excessiva- mente elevados (trapézio superior), anteriorizados (peitoral maior+menor), cotovelos em excessiva flexão (braquial anterior+bíceps), antebraço em prono (pronadores). Figura 23B A manobra corretiva de membro superior inicia-se colocando-se o segmento proximal (ombro) em "desenrolamento", levando-se a escápula para baixo, o mais longe possível da orelha. Observe que o úmero coloca-se em excessiva rotação externa, o ante-braço se flete e a mão coloca-se em desvio cubital. São as compensações a essas primeiras retrações que tentamos alongar. Figura 23C Mantendo-se a escápula, corrigimos o úmero, colocando-o em rotação interna. Figura 23D Quando sentirmos que o paciente pode manter sozinho a escápula, mantemos o úmero, posicionamos o antebraço em supinação e a mão em desvio radial, centralizando-a. Figura 23E Essa posição de torções opostas dos segmentos é mantida pelo terapeuta que tenta alongar todo o membro: é a única forma de tratar globalmente as retrações que atingem os músculos do membro superior. Figura 23F Assim que o paciente consegue manter sozinho 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 17/24 a posição, o terapeuta recomeça a manobrar o outro membro, a cervical, os membros inferiores. 12. Pompages Classicamente, os osteopatas, médicos que tratam de normalizar a relação entre as peças ósseas, empregavam manobras para relaxar a musculatura em torno das articulações que deviam tratar para atingir seus objetivos. Estas manobras são realizadas de forma precisa, têm determinadas características e acabam por obter, entre outras coisas, relaxamento da musculatura estática. Marcel Bienfait recuperou esse procedimento para utilização em fisioterapia, sistematizando e classificando as diferentes manobras que até então eram transmitidas de uma geração à outra de profissionais osteopatas apenas de forma prática. O termo Pompage passou do inglês ao francês e ao português, sem tentativa de tradução em nenhuma dessas passagens. Devemos associá-lo a um gesto de "bombeamento", um puxar- relaxar sucessivos. Esse gesto deve ser realizado em três tempos: 1. Tensionamento do segmento, o que deve ser feito até o limite da elasticidade fisiológica da estrutura musculoaponeurótica. Se esse tensionamento ultrapassá-la, haverá reação através de um reflexo miotático direto. O terapeuta deve alongar lenta, regular e progressivamente as fibras até o limite de sua elasticidade, para não se provocar um descarregamento dos informantes do alongamento do músculo, que são os fusos. Tudo deve ser realizado "em silêncio". O terapeuta deve sentir-se um ladrão que está roubando comprimento do músculo e não deve ser descoberto pelos vigias. Esta é uma imagem que deve realmente ser levada a sério. A pompage é uma manobra tão simples e tão leve que é muito difícil executá-la convenientemente. O fisioterapeuta acaba quase sempre por ser excessivo, não acreditando que aquele "quase nada" é o primeiro passo para a obtenção de um efeito extraordinário de movimento, sob a ação de uma força de mesma intensidade, e assim por diante. 2. Manutenção do tensionamento, que será maior ou menor de acordo com o objetivo que se procura. 3. Retorno à posição inicial, que ocorrerá lentamente e cuja velocidade também será determinada de acordo com o objetivo perseguido. 4. A manobra deve ser repetida de 5 a 10 vezes. Objetivos da pompage 1. Relaxamento muscular Nos casos de contratura e retrações, quando as moléculas de actina e miosina interpenetram-se excessivamente, há diminuição do comprimento muscular, no que são seguidas pelos elementos conjuntivos do músculo. A pompage, realizada no sentido das fibras musculares, promove um deslizamento dessas moléculas em sentido contrário e aumenta o comprimento total do 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 18/24 músculo. - Em um primeiro tempo, lenta, regular e progressivamente a estrutura muscular é tensionada até onde o permitir, para não haver reflexo miotático direto. A forma de proceder nesse primeiro tempo é a mesma, seja qual for o tipo de pompage que se realize. - Em um segundo tempo, a tensão obtida deve ser mantida. Esse é o tempo principal da pompage muscular. Já vimos, ao estudar as propriedades do músculo, que o alongamento da estrutura musculoaponeurótica ocorria graças à elasticidade dos elementos conjuntivos e também ao escorregamento excêntrico dos filamentos de actina entre os de miosina, e esses são fenômenos lentos. Manter a tensão é, por isso, fundamental. - O terceiro tempo é o tempo de retorno, que deve ser lento, uma vez mais, para não provocar um reflexo contrátil do músculo. Este tipo de pompage pode ser realizado isolada ou segmentarmente, preparando uma determinada região para a postura poder instalar-se; ou pode ser realizada no interior de uma postura com objetivo corretor ainda mais direto e eficiente, porque nesse momento a retração é combatida, sem que haja compensações em outras regiões, através do relaxamento do músculo em questão durante um tensionamento geral. O tensionamento é mantido durante 20 a 30 segundos. Retorno lento e cuidadoso. Exemplo: Pompage de trapézio Figura 24 O terapeuta prende a base do crânio com a mão do lado do músculo a ser tratado. Com a outra mão, apóia o ombro. O tensionamento é obtido afastando-se as duas mãos lenta, regular e progressivamente até o limite permitido pelo músculo. 2. Favorecimento da circulação Os tecidos conjuntivos representam mais de 60% do conjunto dos tecidos corporais. Neles estão incluídas as fáscias que envolvem e estruturam a musculatura corporal. No âmbito desses tecidos, ocorre a circulação de água livre, não canalizada, responsável pelas trocas vitais de aporte de elementos nutritivos e retirada de toxinas. Seuma retração muscular, uma cicatriz, um edema provocarem uma estase, haverá ausência de mobilidade entre as fáscias, e a circulação de água livre, denominada lacunar, não ocorre eficientemente, porque depende da mobilidade entre os tecidos, visto não haver uma bomba a ela destinada. Neste caso, a pompage deve ser realizada com o objetivo de liberar os bloqueios e promover a circulação lacunar. - Neste caso, o primeiro tempo é sempre de tensionamento cuidadoso. - O segundo tempo, de manutenção da tensão, pode ser breve. - O terceiro tempo, de retorno, deve ser lento e o mais longo possível. Volta-se como se não se quisesse voltar, resistindo-se à elasticidade musculoaponeurótica que "puxa" a coxa para a posição inicial. Exemplo: Pompage do psoas (Fig. 25). O psoas é um grande músculo situado entre a cavidade abdominal e o membro inferior. Sua grande aponeurose é com freqüência veículo de drenagem em estados inflamatórios gerais ou localizados na região abdominal, o que torna o músculo dolorido, estado denominado psoíte. Neste caso, uma pompage circulatória favoreceria a aceleração do processo de drenagem. Figura 25 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 19/24 Paciente em decúbito dorsal, membro superior oposto ao músculo a ser tratado, acima da cabeça, no prolongamento do corpo. Membro inferior do músculo a ser tratado fletido, em rotação externa e a planta do pé apoiada sobre a panturrilha oposta. O terapeuta passa o braço sob a coxa, apoiando-a contra seu quadril. O tensionamento é obtido com uma leve inclinação do corpo do terapeuta para trás. 3. Regeneração articular Na região de uma dada articulação, podemos aplicar um tensionamento com o objetivo de separar duas superfícies articulares, descomprimindo a articulação, provocando a entrada de mais líquido sinovial, o que representa mais nutrição para o tecido cartilaginoso que depende exclusivamente do aporte deste líquido para sua nutrição. Esse procedimento pode ser útil em casos de artroses degenerativas. Não é capaz de recuperar os desgastes já produzidos mas pode retardar a evolução da degeneração. - Primeiro tempo - Instalação do tensionamento lenta, regular e progressivamente. - Segundo tempo - É o tempo principal deste tipo de pompage. O tensionamento deve ser mantido longamente, para que o aporte de líquido sinovial ocorra durante um longo período e a nutrição do tecido articular seja o mais eficiente possível. - Terceiro tempo - Retorno lento, o suficiente para que não haja sensação de desconforto. Exemplo: Pompage do quadril. A articulação coxofemural é com freqüência sede de processos de artrose. Em seus estágios iniciais, uma pompage articular beneficia a nutrição da cartilagem e pode retardar a evolução do processo patológico. Figura 26 Pompage de Quadril Paciente em decúbito lateral sobre o lado oposto do quadril a ser tratado. Uma almofada firme é colocada entre as coxas. O terapeuta apóia uma das mãos sobre o ilíaco e a outra sobre a região externa do joelho. A descompressão é obtida empurrando-se o joelho para baixo. A manutenção do segundo tempo, o da descompressão, é a fase mais importante e a que deve ser mais longamente mantida. 13. Procedimentos de Contato Com suas próprias mãos ou empregando materiais adequados, a partir de um firme contato através da pele, o fisioterapeuta pode conseguir espetaculares resultados de relaxamento de retrações da musculatura tônica. Esse resultado é inegável pela sensação que se segue, pela diminuição da dor (quando presente, associada à retração) e pelo aumento da amplitude articular. A chave para se entender esses procedimentos parece estar no órgão tendinoso de Golgi e em seus aferentes inibidores (Fig. 8). Trata-se de uma cápsula com cerca de 1 mm de comprimento e um décimo de milímetro de diâmetro, descrita pela primeira vez em 1880 por Golgi. Apesar do nome, raramente se situa no 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 20/24 tendão muscular. Normalmente, encontra-se na junção musculotendínea. Esta cápsula é posicionada em série com um certo número de fibras musculares, que penetram em seu interior através de um colo estreito em forma de funil, quando dão origem a fibras colágenas que se entrelaçam e percorrem todo o comprimento da cápsula. As fibras colágenas ligam-se de um lado ao tendão principal e do outro a 10 ou 20 fibras musculares que podem pertencer a diferentes unidades motoras. Uma fibra aferente penetra a cápsula no meio e divide-se várias vezes, de forma a entrelaçar seus axônios com as fibras colágenas. Os terminais nervosos Ib não inervam todos os feixes colágenos. Assim, a contração de uma fibra muscular ligada a um feixe inervado pode produzir uma boa resposta. A contração de uma fibra muscular ligada a um feixe não inervado pode produzir ausência ou diminuição de resposta, ao diminuir a tensão dos feixes inervados. O mesmo efeito é produzido por contração das fibras musculares que correm em paralelo com os órgãos tendíneos. Como já vimos, o órgão tendinoso de Golgi é o receptor destinado a informar o sistema nervoso central sobre os níveis de tensão do músculo. É particularmente sensível à tensão causada pela contração muscular. Seu estímulo parece ser a deformação mecânica sofrida por suas estruturas, o que pode ocorrer de duas formas: 1. Por estiramento dos próprios feixes colágenos, levando à deformação dos terminais nervosos, de forma semelhante ao que ocorre nos fusos musculares, desencadeando-se um estímulo da fibra nervosa aferente inibidora. Seria essa outra explicação para o efeito das pompages descrito anteriormente? 2. Por contração das fibras musculares e pelo conseqüente alongamento das fibras colágenas, que são seus próprios prolongamentos. Essas fibras aproximam-se e apertam os terminais nervosos a elas ligados, fazendo-os descarregar. Assim, apertar os terminais nervosos pode ser uma forma de estimular a inervação aferente Ib que, como sabemos, é inibidora. Isso pode explicar o excelente efeito obtido sobre o músculo tônico com o procedimento de contato mais simples de que dispomos: apertando longamente os pontos mais sensíveis de um músculo retraído, tenso e doloroso, diminuímos sua tensão. I. Procedimentos de contato com a utilização de materiais Técnicas de trabalho como a Eutonia e a Ginástica Holística são fontes de idéias para tais procedimentos, que podem ser empregados em todo e qualquer músculo tônico. Figura 27 Bola de tênis sob a panturrilha. O pé deve estar solto, de forma a não tensionar os gastrocnêmios por alongamento, o que permite atingir-se o sóleo, que é a camada profunda do tríceps e que se encontra sempre muito retraído no ser humano. A dor inicial cede aos poucos, o que indica o relaxamento. Figura 28 Rolo de espuma sob a coluna. O grupo muscular paravertebral, freqüentemente tenso, entra em estado 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 21/24 de relaxamento após se manter as espinhosas apoiadas sobre rolo de espuma de alta densidade, durante um certo tempo. Figura 29 Bolas de tênis sob os trapézios. A manutenção de duas bolas de tênis sob os trapézios, enquanto os braços são levados para trás até, se possível, tocarem o solo, representa uma poderosa massagem relaxante desse grupo muscular, que no ser humano é classicamente tenso. II. Procedimento de contato manual Continuando no clássico sóleo, ao palpá-lo no meio da perna, através da bifurcação do gastrocnêmio (Fig. 19a/b) que tem na superfície uma consistência mais mole, sentimos com freqüência uma região profunda mais tensa e muito dolorida. Se mantivermos longamente a pressão sobre esse ponto, a dor passa, haverá uma sensação de alívio e a articulação tibiotársica ganha amplitude. Essa pressão pode ser exercida ao longo de toda a região posterior da perna. Figura 30A Procedimento de contato mais simples: o terapeuta comprime pontos dolorosos até obter alívio. Figura 30B O próprio paciente pode ser orientado a fazê-lo. III. MassagemMassagem é também um Procedimento de Contato. Trata-se do recurso fisioterápico mais antigo. Desprezado por algumas gerações de profissionais que não queriam ser confundidos com "massagistas", é um procedimento que nunca deixou de ser prestigiado pelos que sempre tiveram uma abordagem "manual" da profissão. Atualmente, quando se reconhece que as "terapias manuais", em que a mão do fisioterapeuta é o principal recurso, são as mais eficientes, é hora de se voltar para sua utilização com especial atenção. Através da massagem estimulam-se mecanicamente os tecidos moles, o que tem efeitos 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 22/24 circulatórios, em especial venosos e linfáticos, por produzir variação no calibre dos vasos; efeitos relaxantes ou tonificantes, por estimular receptores nervosos musculares, tendinosos, articulares e cutâneos; efeitos preventivos na formação de aderências do tecido conjuntivo pós-imobilização ou cicatrização; efeitos de drenagem das vias respiratórias. Existem várias formas de aplicação dessa força mecânica. Cada gesto, cada forma de manipulação dos tecidos leva um nome e tem um efeito mais circulatório, mais tonificante, mais desaderante, e assim por diante. A massagem clássica descreve o deslizamento superficial, o deslizamento profundo, a fricção, o amassamento, a percussão e a vibração. A massagem de zonas reflexas é um procedimento cujas origens remontam ao final do século passado, quando a teoria das zonas reflexas foi abordada pela primeira vez por Head Mackenzie. Wolfrang Kohlrausch desde 1937 estudou e confirmou que transformações hipertônicas de uma determinada região estão relacionadas com um órgão portador de patologia. Por exemplo, uma crise de apendicite associa-se com uma hipertonia muscular característica de músculos do abdome e dorso, assim como do psoas, ilíaco e diafragma. Em problemas funcionais crônicos, fora de períodos inflamatórios, demonstrou-se que o tratamento da região hipertônica leva a uma diminuição rápida dos sintomas. Um mapa das zonas cutâneas relacionadas com órgãos internos foi estabelecido e manobras de diagnóstico e tratamento das hipertonias foram descritas. Essas formas de manipulação são diferentes daquelas das massagens clássicas. Em massagem reflexa, descrevem-se o pinçamento, os traços longitudinais e transversais, o deslizamento longitudinal da prega cutânea e o transversal da prega cutânea. Os efeitos reflexos cutaneoviscerais advindos desse tipo de massagem ainda merecem pesquisas e comprovações; no entanto, as manipulações reflexas têm efeitos seguros sobre a tonicidade muscular. Se forem aplicadas sobre a região paravertebral, onde as zonas hipertônicas estão mais concentradas, o efeito de diminuição do tônus se evidencia pela melhoria da flexibilidade da região. Mesmo as manobras da massagem clássica podem obter efeito semelhante. Elisabeth Wood e Paul Becker citam o trabalho realizado por Nordschow e Biermann (77) sobre 25 pessoas normais para determinar se a massagem manualmente aplicada poderia causar relaxamento muscular. Os autores utilizaram um procedimento extremamente simples e conclusivo. A tensão da musculatura posterior das pernas, das coxas e do dorso foi testada através de um teste dedos-chão: cada pessoa em pé com os joelhos esticados flexionou o tronco e tocou ou tentou tocar o chão com as pontas dos dedos das mãos. Depois, foi realizada uma massagem na região dorsal do tronco durante quinze minutos e na região posterior de cada membro inferior durante sete minutos e meio cada uma. O teste foi repetido e os resultados anotados. Os autores concluíram que apenas a utilização da massagem manual pode levar ao relaxamento da musculatura. No entanto, as manobras de massagem de zona reflexa são ainda mais eficientes na obtenção desse efeito. Exemplos de procedimentos de massagem de zona reflexa. Figura 31 Pinçamento. 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 23/24 Figura 32 Traços longitudinais. Figura 33 Traços transversais. Figura 34 Deslizamento transversal de prega cutânea. Figura 35 Deslizamento longitudinal de prega cutânea. 14. Conclusão A Fisioterapia Estática é uma nova área dentro da Fisioterapia. Muitos de seus procedimentos são utilizados há tempos pelos profissionais, outros foram incorporados a partir de campos de trabalho não fisioterápicos. Porém, quando colocados lado a lado e utilizados de forma complementar, constituem uma nova maneira de realizar o tratamento da patologia do músculo estático. A definição desse campo de trabalho parte da diferenciação do músculo estático e dinâmico e seleciona os meios terapêuticos capazes de prevenir ou reverter a patologia do músculo estático. Alguns dos meios já conhecidos pela Fisioterapia são: massagem (reflexa), posturas, como as utilizadas por Françoise Mézières e posteriormente pela Reeducação Postural Global. Outros, como pompages, foram trazidos por Marcel Bienfait da Osteopatia. Várias técnicas de outras áreas de trabalho corporal, como Eutonia e Ginástica Holística, propõem a utilização de materiais diversos para estimular a propriocepção dos pacientes em áreas tensas e usualmente ignoradas. A autora propõe a denominação de Procedimentos de Contato ao conjunto desses trabalhos, com inegável efeito sobre o tônus da musculatura estática. A manifestação da patologia do músculo estático é o desequilíbrio postural. Se levarmos em conta que o desequilíbrio postural, por sua vez, pode ser o ponto de partida para o desenvolvimento de inúmeros problemas ortopédicos (artroses, hérnias discais, LER e outros), concluiremos que essa nova área é um campo de trabalho que abrange mais de 50% da Fisioterapia, devendo ser encarada como verdadeira especialização dentro da profissão. Bibliografia 06/08/2020 Fisioterapia Estática www.profala.com/artfisio43.htm 24/24 - Bienfait, M. Fisiologia da Terapia Manual. S. Paulo, Summus Ed., 1987. - Bienfait, M. Bases Elementares Técnicas da Terapia Manual e Osteopatia. São Paulo, Summus Ed., 1997. - Bienfait, M. Fáscias e Pompages. S.Paulo, Summus Ed. (no prelo). - Kandel, E.R., Schwartz, J.H. Principles of Neural Science. London, 1982. - Rothwell, J. Control of Human Movement. 2nd ed. London, 1994. - Wood, Elisabeth C. e Becker, Paul D. Massagem de Beard. São Paulo, Manole, 1984. - Kohlrausch, W. Massaje Muscular de las Zonas Reflejas. trad. del Pozo, J. J., Barcelona, Toray- Masson, 1968. Imprimir o Artigo
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