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CAPÍTULO 1 Reflexões ConCeituais sobRe tRadução e inteRpRetação em língua de sinais A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 3 Apresentar e diferenciar a tradução e a interpretação mediante revisão conceitual. 3 Discutir a teoria da atividade de interpretação de língua de sinais. 10 Intérprete de Língua de Sinais Brasileira na Sala de Aula 11 Reflexões ConCeituais sobRe tRadução e inteRpRetação em língua de sinais Capítulo 1 Contextualização Como ponto de partida de nosso caderno de estudos, trazemos uma reflexão conceitual sobre a tradução e a interpretação, diferenciando-as como atividades profissionais, segundo autores dos Estudos da Tradução. Para isso, apresentamos o conceito de tradução adotado por Costa (2005) e utilizamos a classificação dos tipos de tradução segundo Jakobson (2002). Em seguida, apresentamos o conceito de tradução para língua de sinais com base em Quadros e Souza (2008), Segala (2010) e Souza (2010). A seguir, com base em teóricos como Shuttleworth e Cowie (1997) e Pöchhacker (2004), identificamos o conceito e pontuamos alguns tipos de interpretação. Logo após, comentamos a diferença entre estes dois procedimentos, conforme Pöchhacker (2004) e Gile (1998). Por fim, trazemos o conceito de interpretação para língua de sinais com base em Cokely (1992) e Isham (1998), dentre outros autores da área. Refletir conceitualmente sobre a tarefa de interpretar é relevante para a formação do intérprete de Libras, pois tem se tornado imprescindível que os profissionais intérpretes saibam das implicações teóricas de sua atividade, tanto para discutirem e refletirem criticamente sobre sua atuação quanto para identificarem o lugar acadêmico da profissão. ConCeito e tipos de tRadução Quando vamos ao cinema e assistimos a um filme com legenda, estamos nos deparando com o quê? Com um objeto prático de tradução. Quando estamos no Brasil e lemos uma obra literária estrangeira disponível na íntegra em nossa língua portuguesa também estamos tendo contato com algo que é fruto de uma tradução. Mas, a tradução pode ser definida? O que pode significar o ato de traduzir? Diante da pluralidade de referências, adotamos, neste caderno de estudo, um conceito de que a tradução consiste em uma nova produção textual, vinculada a uma produção textual anterior, mas em um novo contexto, em uma nova língua. 12 Intérprete de Língua de Sinais Brasileira na Sala de Aula Isso quer dizer que, segundo esta orientação teórica, o ato de traduzir um texto, significa re-textualizá-lo. Para isso, convém descrevermos brevemente o procedimento. Veja só! Quando escrevemos um texto em uma determinada língua, na verdade, segundo Koch e Travaglia (2000), por exemplo, estamos textualizando nossas ideias, ou seja, formatando-as como um texto a partir do uso adequado de recursos tanto de coerência quanto de coesão. Assim, quando traduzimos, tomamos todo esse conjunto de ideias textualizadas em uma determinada língua, ou língua de partida, e as re- textualizamos em outra língua, ou língua de chegada. Dessa forma, ao compreendermos a tradução como re-textualização, temos que um texto traduzido se relaciona, no mínimo, ao conteúdo ideacional do texto de partida, textualizado anteriormente em outra língua. (QUADROS; VASCONCELLOS, 2008). Por isso, a importância de compreendermos um texto como um conjunto de ideias articuladas e reunidas com sentido a partir do uso adequado de recursos de coesão e coerência. Essa noção acerca do conteúdo ideacional de um texto é trazida por Quadros e Vasconcellos (2008) sob uma influência teórica de vertente linguística, sistêmica e funcional. Porém, nossa intenção aqui não é aprofundar essas abordagens teóricas, pois essa relação com o conteúdo ideacional na re-textualização já foi abordada, por exemplo, por Coulthard (1987,1992) e trabalhada por Costa (1992, 2005), um estudioso brasileiro da área de Estudos da Tradução. Então, acreditamos que caminharmos com base no trabalho desses autores já é o bastante para conceituarmos o ato de traduzir. Assim, considerando-se a proposta de conceituar a tradução como re- textualização a partir de Costa (2005), reiteramos que: TRADUÇÃO é uma nova produção textual, vinculada a uma produção textual anterior, mas em um novo contexto, em uma nova língua. Quando traduzimos, tomamos todo esse conjunto de ideias textualizadas em uma determinada língua, ou língua de partida, e as re-textualizamos em outra língua, ou língua de chegada. 13 Reflexões ConCeituais sobRe tRadução e inteRpRetação em língua de sinais Capítulo 1 Por sua vez, Costa (2005, p.30) afirma que, ao contrário do escritor do texto original, o tradutor é “aquele tipo especial de escritor que cria o texto, não a partir do seu próprio ideacional, mas a partir de outro texto.” No entanto, o tradutor possui uma diferença que, de acordo com Costa (2005), reside no fato de que o tradutor não é limitado apenas pela gramática, pelos padrões lexicais de sua língua materna e pela sua habilidade como textualizador, mas, como profissional, sofre também restrições impostas pelo texto preexistente, pelo seu tom e conteúdo, com os quais ele pode não estar de acordo, e impostas pela organização textual, ainda que em outro código. Ademais, Costa (2005) pontua que o procedimento tradutório é mais bem compreendido quando conseguimos reconhecer dois momentos textuais, os quais ele chama de – o eminentemente ideacional e o de re-escritura – e também quando conseguimos apreender os problemas que lhes são inerentes. Além disso, Costa (2005, p.32) afirma que, pela tradução, “um texto adquire sua expansão máxima, já que ele transcende os estreitos limites linguísticos no qual foi concebido.” Por outro lado, essa expansão mencionada pode também significar um momento crítico, já que, nesse estágio do texto re- textualizado, podem surgir questionamentos como: o que lemos na tradução é o mesmo que contém no original? E, se for, é até que ponto? Quadros e Vasconcellos (2008) reiteram que a definição das características textuais de um conteúdo a ser traduzido é informada pelas dimensões, fruto das escolhas de significados e da configuração textual da tradução. Atividade de Estudos: 1) Com base no que temos apresentado até agora sobre tradução, faça uma pesquisa em uma biblioteca universitária de sua região, sondando em vários livros como outros autores conceituam a tradução e compare com o conceito de Costa (2005). _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ Costa (2005) pontua que o procedimento tradutório é mais bem compreendido quando conseguimos reconhecer dois momentos textuais, os quais ele chama de – o eminentemente ideacional e o de re-escritura. 14 Intérprete de Língua de Sinais Brasileira na Sala de Aula De posse do conceito de tradução como re-textualização, que, segundo Costa (2005), ajuda-nos a entender que a tradução acontece “de texto para textos”, vamos agora à apresentação dos tipos de tradução. Faremos isso conforme o texto “On Linguistics Aspects of Translation”, do teórico Roman Jakobson, que faz parte da obra “The Translation Studies Reader”, editada por um teórico da área de Estudos da Tradução chamado Lawrence Venuti. Para Jakobson (2000), há três tipos de tradução: 1) A tradução intralingual, ou reformulação, consiste na interpretação dos signos verbais por meio de outros signos da mesma língua. 2) A tradução interlingual, ou tradução propriamente dita, consiste na interpretação dos signos verbais por meiode alguma outra língua. 3) A tradução intersemiótica, ou transmutação, consiste na interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não-verbais. Conforme Guerini (2008), a tradução intralingual engloba o texto de partida, o leitor-textualizador e o texto de chegada e, Jakobson (2000, p.115) afirma que “a tradução intralingual de uma palavra utiliza outra palavra, mais ou menos sinônima, ou recorre a um circunlóquio. Entretanto, via de regra, quem diz sinonímia não diz equivalência completa [...].” Um exemplo disso é o livro Harry Potter, que foi redigido no Inglês Britânico e traduzido para o Inglês Americano. Os dois produtos são em Inglês, mas o segundo constitui uma tradução intralingual do primeiro. Vejam os títulos do primeiro volume: Harry Potter and the Philosopher’s Stone (no Inglês Britânico) X Harry Potter and the Sorcerer’s Stone (no Inglês Americano). Na sequência, em relação à tradução interlingual, Guerini (2008) comenta que a tradução interlingual engloba texto de partida, o tradutor e o texto de chegada. Segundo ela, é o tradutor, através de uma operação em que atua simultaneamente como leitor, intérprete e textualizador, que produz o texto de chegada em um segundo código a partir da leitura e interpretação do texto de partida em um primeiro código. Um exemplo disso é a tradução para o português de livros escritos em holandês. Nesse sentido, Jakobson defende que: no nível da tradução interlingual, não há comumente equivalência completa entre as unidades de código, ao passo que as mensagens podem servir como interpretações adequadas das unidades de código ou mensagens estrangeiras [...]. Mais freqüentemente, entretanto, ao traduzir de uma língua para outra, substituem-se mensagens Guerini (2008), a tradução intralingual engloba o texto de partida, o leitor- textualizador e o texto de chegada. Guerini (2008) comenta que a tradução interlingual engloba texto de partida, o tradutor e o texto de chegada. 15 Reflexões ConCeituais sobRe tRadução e inteRpRetação em língua de sinais Capítulo 1 em uma das línguas, não por unidades de códigos separadas, mas por mensagens inteiras de outra língua. Tal tradução é uma forma de discurso indireto: o tradutor recodifica e transmite uma mensagem recebida de outra fonte. Assim, a tradução envolve duas mensagens equivalentes em dois códigos diferentes. (JAKOBSON, 2000, p. 115). Segundo Guerini (2008), no Brasil, por exemplo, pode-se dizer que a tradução interlingual representa cerca de 60 a 80% dos textos publicados e que 75% do saber científico e tecnológico do nosso país provém das traduções. Para a autora, isso termina alimentando vários setores da vida nacional. A seguir, Guerini defende que, sem a tradução, muitos setores simplesmente não funcionariam, como, por exemplo, o de softwares, medicamentos, automobilístico, etc. Por fim, de acordo com a classificação de Jakobson, temos a tradução intersemiótica, a qual, na ótica de Guerini (2008), constitui um dos campos mais promissores dos Estudos da Tradução e, conforme Jakobson (2000), pode ser definida como a transmutação de uma obra de um sistema de signos a outro. Segundo esse autor, a forma mais frequente de tradução intersemiótica acontece entre um sistema verbal e um não-verbal, tal como a passagem de narrativas ficcionais ao cinema, vídeo e história em quadrinhos; como a ilustração de livros; como a passagem de texto à publicidade, entre outros exemplos. Mas, Guerini (2008) comenta que esse tipo de tradução pode acontecer também entre dois sistemas não-verbais, como, por exemplo, entre música e dança e música e pintura. Para ela, na passagem de um texto para outro sistema, é possível obter o seguinte esquema (GUERINI, 2008): texto de partida → intérprete → ícone de chegada Através de códigos diferentes, isto é texto = imagem estática: desenho, foto, pintura ou texto = imagem animada através de vídeo, cinema Como é possível perceber, os três tipos de tradução são permeados de complexidade. Traduzir seja na mesma língua, seja entre línguas ou entre Tradução intersemiótica como a transmutação de uma obra de um sistema de signos a outro. 16 Intérprete de Língua de Sinais Brasileira na Sala de Aula sistemas semióticos diferentes constitui um procedimento que exige escolhas, leitura atenta e, além disso, a bibliografia sobre esse assunto é bastante extensa. (GUERINI, 2008). Atividade de Estudos: 1) Com base no conceito de tradução de Costa (2005) e nos tipos de tradução apresentados por Jakobson (2000), faça um comentário, revelando o tipo de tradução que, em sua opinião, melhor define a tradução para língua de sinais. Por favor, justifique sua resposta. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ Dicionário de Tradutores Literários no Brasil: http://www. dicionariodetradutores.ufsc.br/pt/index.htm. Esse é o site de um dicionário eletrônico, gratuito e virtual, que traz mais informações sobre tradutores literários. Conhecido como DITRA, essa obra traz diversos textos descritivos, imagens, etc. 17 Reflexões ConCeituais sobRe tRadução e inteRpRetação em língua de sinais Capítulo 1 o lugaR da tRadução paRa línguas de sinais Da mesma forma que é possível surgirem questionamentos a respeito da tradução quando se chega ao estágio do texto re-textualizado, como: “o que lemos na tradução é o mesmo que contém no original?”, conforme pontuado por Costa (2005). De acordo com Souza (2010), questões como essa também podem emergir em contextos tradutórios envolvendo línguas de sinais, mas, nesse caso, têm-se normalmente perguntas do tipo: o que estou vendo nessa tradução em sinais é o mesmo que está escrito no texto original? Nesse sentido, conforme Quadros e Souza (2008), ao se levar em consideração a realidade do curso de Letras-Libras da UFSC, por exemplo, “questões-problema” como estas já mencionadas, geralmente emergem diante do procedimento tradutório. Assim, pode-se ressaltar que a noção desse argumento de expansão máxima de um texto se torna o ponto de partida que permite ao tradutor gerar um novo texto no contexto tradutório de chegada, no qual está instalada a decisão mais importante na dimensão do ‘que’ e ‘para quem’ e ainda, na do ‘como’ re-textualizar. (QUADROS; VASCONCELLOS, 2008). Dessa forma, o resultado das decisões afeta, segundo as autoras, a seleção de significados a serem realizados e a configuração textual da tradução. Perante isso, podemos questionar: mas, o que é tradução para línguas de sinais? Apresentar apenas uma definição para esse procedimento não é uma tarefa simples porque, além das restrições textuais impostas pelo próprio texto de partida e das limitações oriundas da configuração textual de chegada, mencionadas por pesquisadores como Costa (2005) e Quadros e Vasconcellos (2008), para Souza (2010), existem efeitos de modalidade decorrentes das línguas envolvidas no procedimento tradutórioque precisam ser considerados para se entender melhor o conceito de tradução para línguas de sinais. Com base em Segala (2010), podemos dar início à abordagem desse conceito. Para ele, a tradução de uma língua oral-auditiva, como o português, para uma língua gesto-visual, como a Libras, carece de pesquisa, pois se trata de um tema emergente e recente. Segundo o autor, a tradução do português para a Libras é muito ampla e complexa porque as modalidades linguísticas envolvidas são distintas. A tradução de uma língua oral-auditiva, como o português, para uma língua gesto- visual, como a Libras, carece de pesquisa, pois se trata de um tema emergente e recente. Segala (2010) 18 Intérprete de Língua de Sinais Brasileira na Sala de Aula No processamento dessa abordagem, Segala (2010) comenta que, para muitos, a palavra tradução significa apenas traduzir uma língua para outra. Mas o conceito da tradução interlingual é profundo, amplo e há a necessidade de vastos estudos para compreender a tarefa da tradução em si. Dessa forma, defende que a recodificação de uma mensagem originalmente produzida em Libras para o português se enquadra no que vem sendo chamado de tradução intermodal ou efeitos de modalidade. Segala (2010) defende, ainda, que se trata de um domínio recentemente explorado dentro dos estudos da tradução automática, para o qual foram encontradas poucas iniciativas envolvendo o português e a Libras. Na sequência, Segala (2010) traz a informação de que a literatura existente, principalmente relativa a sistemas de tradução do inglês para a Língua de Sinais Norte-americana (ou American Sign Language - ASL), converge para três pontos principais: a) a ideia de que sistemas de tradução automática intermodal acompanham, em linhas gerais, os princípios, as abordagens e as técnicas já desenvolvidas para os sistemas intramodais (de uma mesma modalidade para outra, como de uma língua oral-auditiva para outra língua oral-auditiva, por exemplo); b) a ideia de que os sistemas de tradução intermodal se subdividem, na verdade, em dois subsistemas: o de tradução de uma língua oral-auditiva para um sistema de escrita da língua de sinais; e o de síntese de sinais (gestual-visuais) a partir desse sistema de escrita; c) a ideia de que a complexidade da tarefa está clara e evidentemente relacionada ao sistema de escrita da língua gestual-visual adotado. A seguir, Segala (2010) comenta que a tradução entre línguas de diferentes modalidades, como Língua Portuguesa para Língua Brasileira de Sinais, Língua Inglesa para Língua Norte-americana de Sinais – ASL, entre outras, pode ser considerada uma Tradução Intermodal. Ele acrescenta que, para que se entenda melhor, pode-se considerar que esse tipo de tradução é o mesmo que a tradução interlingual exemplificada por Jakobson. Segala (2010) considera, ainda, que a pesquisa acadêmica sobre a Tradução Intermodal atualmente é escassa e, dessa forma, ele menciona que um exemplo bastante claro está em Quadros e Souza (2008), quando esses autores defendem que nas investigações que conduziram, a língua fonte (LF) era a Língua Portuguesa escrita e a língua alvo (LA) era a Língua Brasileira de Sinais na sua versão - ora. Neste caso, eles compreendiam “ora” como sendo a língua na sua forma de expressão oral, de forma que, no caso especifico das Línguas de Sinais, trata-se de uma expressão em 19 Reflexões ConCeituais sobRe tRadução e inteRpRetação em língua de sinais Capítulo 1 sinais. Assim, como as modalidades das línguas envolvidas são diferentes, percebem-se efeitos de modalidade. Nesses termos, com base em Souza (2010), acrescenta-se que o procedimento de tradução de uma língua de modalidade oral-auditiva, como o português, para uma língua de sinais, como a Libras, consiste numa atividade performatizada e visual. Logo, quando falamos de tradução para língua de sinais, na verdade, conforme Souza (2010), estamos indo além de uma atividade que acontece de texto para textos, pois se trata de uma performance, uma performance de tradução. Em outras palavras: Se trata de um tipo de tradução que, por exemplo, pode acontecer diante de câmeras de TV, e conta com a presença dos tradutores durante a execução da atividade tradutória. Além de se fazer presente, tem-se a partir de Novak (2005) e Quadros e Souza (2008), que o corpo do tradutor faz parte do “cenário” do procedimento tradutório (SOUZA, 2010, p.127). Para concluir, comentamos a partir de Segala (2010) que, para traduzir textos do Português como língua-fonte para a Libras como língua-alvo, o tradutor, além de ter domínio da Língua Portuguesa e Libras, deve, além de outras coisas, dominar suas variações linguísticas, sociais, culturais e, ainda, ter conhecimento da área que vai traduzir, bem como das normas linguísticas e culturais envolvidas. Segundo Souza (2010), a tradução de um texto escrito em uma língua oral-auditiva para um texto oral em uma língua de sinais é realmente possível, pois mesmo com perdas linguísticas entre as línguas envolvidas, a re-textualização acontece. Atividade de Estudos: 1) Descreva qual é a compreensão sobre a tradução para a língua de sinais que você tinha antes do acesso aos conceitos aqui apresentados? Ou seja, o que é traduzir para a Libras para você? _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ 20 Intérprete de Língua de Sinais Brasileira na Sala de Aula 2) O que mudou para você quanto a sua percepção da tradução para línguas de sinais? _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ Fundamentada a orientação conceitual do procedimento de tradução como uma atividade de re-textualização, que pode acontecer, inclusive, entre línguas de modalidades diferentes, é chegado o momento de refletirmos conceitualmente sobre como transcorre a atividade de interpretação até conseguirmos entender o conceito de interpretação de língua de sinais. Para isso, com base em teóricos como Shuttleworth e Cowie (1997) e Pöchhacker (2004), identificaremos, a seguir, o conceito e alguns tipos de interpretação. Por fim, comentaremos a diferença entre esses dois procedimentos, conforme Pöchhacker (2004) e Gile (1998). Logo após, traremos o conceito de interpretação para língua de sinais, com base em Cokely (1992), entre outros autores. ConCeito e tipos de inteRpRetação Diferente dos conceitos de textualização e re-textualização em torno do procedimento tradutório, o conceito de interpretação adotado neste caderno de estudo é o que trata o ato de interpretar como mais instantâneo que o ato de traduzir. No entanto, conforme Souza (2010), esclarecemos que o termo “interpretação” está sendo empregado neste material como correspondência direta no português para o termo interpreting do inglês, que também pode ser traduzido como “ato de interpretar”, e é citado por Shuttleworth e Cowie (1997) logo após interpretation, que, no caso do dicionário desses autores, está relacionado mais à tradução poética, o que não vem a colaborar com o conceito de interpretação aqui adotado. Além disso, Shuttleworth e Cowie (1997) nos levam a compreender a interpretação como “senso de entendimento de significados ou intenções” que deve ser evitada como intercambiável ao ato de interpretar.Ou seja, a interpretação deve estar ligada mais ao interpretar do que ao compreender ou entender intenções. (SOUZA, 2010).
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