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APOSTILA 2 - COMUNICAÇÃO

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- -1
COMUNICAÇÃO
PRECONCEITO 
LINGUÍSTICO E 
GÊNEROS TEXTUAIS: 
ENTRAVES OU 
DESIMPEDIMENTOS NA 
COMUNICAÇÃO?
Autoria: Ma. Adriana Paula da Silva Amorim - 
Revisão técnica: Dra. Sandra Trabucco Valenzuela
- -2
Introdução
Você certamente já ouviu falar em preconceito, mas e quanto a expressão “preconceito linguístico”? Será que
existe mesmo uma discriminação relacionada ao modo como alguém fala ou escreve? Quantas formas de uso
da nossa língua existem?
Para Terra (2008, p. 15), “[...] a língua é nosso principal veículo de comunicação e não conseguimos viver em
sociedade sem nos comunicar”. Por isso, a língua é tão importante para as comunidades quanto outros meios
de expressão, como gestos e expressões faciais. Afinal, é por meio da língua que exercemos nossa cidadania e
podemos colocar em prática nossas ideias, nossos sentimentos e nossas emoções. A língua possui, portanto,
uma importante função social. Aliás, também é por conta dela que é realizada a comunicação no mundo
profissional, nas modalidades oral e escrita.
Sendo assim, para entendermos melhor quanto a esse assunto, neste primeiro capítulo iremos estudar
conceitos essenciais sobre linguística, tais como a linguagem, a língua e a fala; além de discutirmos questões
relacionadas aos variados usos que nós, falantes de um determinado idioma, fazemos da língua. Isso porque,
embora haja um padrão nos sistemas linguísticos delimitado pela norma culta, existe, também, uma
heterogeneidade nos usos práticos da língua por parte de seus usuários, fenômeno conhecido como variação
linguística.
Além disso, ao longo de nossos estudos também compreenderemos o conceito de gêneros textuais — por meio
dos quais ocorre a comunicação em todas as esferas da sociedade — e de intertextualidade, que é a relação
que um texto estabelece com outros textos.
Bons estudos!
Tempo estimado de leitura: 47 minutos.
1.1 Usos linguísticos
Sabemos que, na sociedade contemporânea, existe uma diversidade de práticas sociais, ou seja,
comportamentos comuns às culturas humanas. Temos, por exemplo, o cumprimento representado pelo aperto
de mãos, gesto que significa cordialidade e confiança.
- -3
Nesse contexto, são inúmeras as práticas sociais que se relacionam com a linguagem. Assim, se você precisa
se comunicar com o síndico do seu prédio para protestar contra o uso inadequado das áreas comuns aos
condôminos por parte de alguns moradores, você possivelmente escreverá uma carta de reclamação. Em
contrapartida, se o síndico precisa divulgar aos condôminos alguma alteração na coleta de lixo do prédio, por
exemplo, ele provavelmente fixará um aviso em um local de fácil acesso a todos os moradores.
A partir desses exemplos, é possível perceber que fazemos diferentes usos da linguagem para atender às
nossas necessidades de comunicação com os outros indivíduos. Além disso, assim como a humanidade é
composta por pessoas diferentes em diversos aspectos — sociais, econômicos, geográficos ou históricos — a
linguagem utilizada pelas pessoas também pode variar em função da sua posição social, geográfica etc. Nos
aprofundaremos sobre isso a partir de agora!
1.1.1 Linguagem, língua e fala
Embora os termos “linguagem”, “língua” e “fala” sejam comumente utilizados como sinônimos, há uma
distinção entre eles, a qual não é percebida na prática por serem três aspectos do mesmo fenômeno: a
comunicação humana.
De acordo com Kristeva (1969), a linguagem é tida como a representação do pensamento, mas também é
concebida como um instrumento de comunicação, por meio da elaboração de esquemas que ilustram o sistema
de comunicação entre um emissor e um receptor.
Contudo, essa concepção foi criticada, principalmente por considerar a comunicação de forma unilateral, ou
seja, um indivíduo fala/escreve, enquanto outra pessoa escuta/lê. No entanto, em um diálogo existem intensas
trocas entre os participantes, que não se limitam a assumir unicamente a posição de emissor ou receptor da
mensagem. Dessa forma, a linguagem passou a ser vista como processo de interação, a partir do qual os
falantes usam-na para “[...] realizarem ações, para atuarem sobre o outro, ou seja, é pela linguagem que
interagimos com os outros e produzimos sentido numa dada esfera social, histórica e ideológica” (TERRA,
2008, p. 18).
Com isso, podemos concluir que a linguagem é um conceito amplo que engloba quaisquer códigos utilizados
pelos sujeitos, a fim de interagirem uns com os outros. Esses códigos, por sua vez, podem ser classificados em
verbais e não verbais.
- -4
Quadro 1 - A linguagem verbal e a não verbal se distinguem pela natureza dos elementos que as compõem Fonte: Elaborado pela autora, 
baseado em TERRA, 2008; Arcady, Shutterstock, 2021.
 #PraCegoVer No quadro, temos uma linha e duas colunas. A primeira coluna indica que a linguagem verbal é 
a que utiliza como códigos as palavras, na modalidade escrita ou oral. São exemplos os textos escritos nas 
línguas naturais, como português, inglês ou francês. A segunda coluna traz a linguagem não verbal, aquela que 
utiliza outros tipos de códigos, como imagens, gestos, desenhos, cores e sons. São exemplos a língua brasileira 
de sinais (libras), utilizada pelos surdos; e as placas de trânsito.
Existe, ainda, a linguagem mista, que se manifesta tanto por sinais verbais quanto por sinais não verbais. São
exemplos dessa linguagem as histórias em quadrinhos, que reúnem, além das palavras, imagens.
Por conseguinte, a língua é um aspecto da linguagem que utiliza as palavras como código comunicativo e se
materializa por meio da fala. A língua é, portanto,
Nessa perspectiva, enquanto a língua possui caráter social e coletivo, a fala é de cunho individual. Esse fato se
comprova pelo fato de que um indivíduo não pode alterar as regras da língua, caso queira. A fala, no entanto,
pode diferir de um usuário para o outro.
Você sabia?
Foi levantada a ideia da existência de uma linguagem animal, mas essa hipótese foi 
derrubada pelo fato de que, diferentemente do sistema de comunicação humano, o 
código utilizado por algumas espécies animais não permite um diálogo e nem a 
formação de frases de significados diversos, como ocorre com a linguagem humana.
[...] um sistema de natureza gramatical, pertencente à um grupo de indivíduos, formado por um conjunto
de sinais e por um conjunto de regras para a combinação deles [...]. É uma instituição social de caráter
abstrato, exterior aos indivíduos que a utilizam, que somente se concretiza por meio da fala, o ato
individual de vontade e inteligência. (TERRA, 2008, p. 22)
- -5
Assim, a língua pertence à comunidade, enquanto que a fala pertence ao indivíduo; a língua é abstrata,
enquanto que a fala é concreta. Essa dicotomia entre língua e fala foi desenvolvida pelo linguista Ferdinand de
Saussure e seus alunos em 1916, na obra “Curso de Linguística Geral”.
Na prática comunicativa, embora haja restrições no uso da língua pelos falantes — como colocar o substantivo
antes do artigo: “menino o pegou bola a” —, é possível haver peculiaridades na forma como esses falantes se
expressam, de acordo com a situação comunicativa em que estejam inseridos. É nesse contexto que
discutiremos, a seguir, o fenômeno da variação linguística.
1.1.2 Variação linguística
Assim como a sociedade é dinâmica e sofre modificações, a língua — importante aspecto da sociedade —
também sofre alterações.
O primeiro fator de mudança é o próprio tempo. As variações diacrônicas são aquelas que ocorrem por meio
da evolução da língua ao longo do tempo. Em uma continuidade histórica, algumas palavras deixam de ser
utilizadas, tornando-se arcaicas, enquanto outras palavras novas surgem. De fato, são perceptíveis as
mudanças na língua portuguesa. Há muito tempo atrás, havia a expressão “vossa mercê”, que foi se
modificando com o uso dos próprios falantes da língua. Assim, em um processo de economia linguística,
passou a ser apenas “você”. Essa mudança é chamada de variação histórica.
Asdemais variações linguísticas são sincrônicas, ou seja, acontecem em um mesmo período histórico, em um
recorte de tempo específico. No quadro a seguir, apresentamos cada uma delas, acompanhadas de seu conceito
e alguns exemplos.
- -6
Quadro 2 - Os tipos de variação linguística são definidos pelos fatores que motivam as mudanças no uso da língua Fonte: Elaborado 
pela autora, 2021.
 #PraCegoVer No quadro, temos seis linhas e duas colunas. As duas primeiras linhas estão relacionadas à 
variação diatópica (regional), da região onde o falante vive. Temos, por exemplo, a diferença entre o 
português do Brasil e o português de Portugal: “estou trabalhando” e “estou a trabalhar”. Ou, ainda, a 
diferença de pronúncia e de vocabulário entre as regiões do Brasil, em que um mesmo brinquedo pode ser 
chamado de “pipa”, “pandorga”, “papagaio”, “tapioca”, “maranhão”, “arraia” ou “quadrado”. Na terceira e 
quarta linhas, temos a variação diastrática (social), ligada à classe econômica, ao grupo social, à escolaridade, 
ao gênero, à idade ou à profissão do falante. Como exemplo podemos citar as gírias típicas dos surfistas: 
“levar uma vaca”, “cavada” e “aloha”. Ou, então, jargões de profissionais da área de tecnologia da 
informação, como “networking”, “bug” e “Sprite”. Nas últimas linhas, temos a variação diafásica (formal
/informal), ligada à situação de comunicação em que o falante esteja, segundo seu nível de formalidade. 
Temos como exemplo a linguagem formal utilizada em um tribunal do júri: “Senhoras e senhores, a 
testemunha nada acrescentou aos fatos já conhecidos por todos; ou a linguagem informal em uma conversa 
espontânea com amigos: “Cara, vamos cair na real, a testemunha só enrolou”. Outro exemplo é um convite 
formal na modalidade escrita: “Caro cliente, compareça à nossa loja para conhecer a nova coleção de verão”; 
ou um convite informal na modalidade oral: “Oi, tudo bem? Que tal a senhora dar uma passadinha aqui na loja 
para conhecer a nova coleção de verão?”.
Além disso, podemos dizer que as variações da língua podem ser de ordem fonológica (pronúncia), sintática
(organização dos termos na frase) e lexical (de vocabulário).
Você quer ler?
- -7
Ainda no contexto da dinamicidade da linguagem, é importante destacar os neologismos, ou seja, novas
palavras criadas pelos usuários da língua que, aos poucos, vão sendo incorporadas às práticas de linguagem.
São exemplos de neologismos as palavras relacionadas às novas tecnologias, como “deletar” e “viralizar”.
Ademais, temos que toda língua possui uma variedade linguística considerada padrão, também chamada de
norma. No tópico a seguir, trataremos desse assunto.
1.2 Norma
De acordo com o Dicionário de Português Dicio, norma é um “[...] princípio que serve de regra, de lei”.
Assim, ao se falar em norma na língua, pensa-se quase que imediatamente na gramática normativa, que busca
explicitar como a língua deve ser.
Conforme Terra (2008, p. 52), “[...] funcionando como uma espécie de guia de conduta, de um receituário, as
normas têm função de impor um comportamento padrão. [...] Elas são estabelecidas pela sociedade para serem
cumpridas”. Contudo, a real utilização da língua pelos falantes não reflete as normas gramaticais. Isso ocorre
porque, conforme vimos anteriormente, os usos linguísticos revelam variações históricas, regionais, sociais e
situacionais. A língua — no seu uso prático — é heterogênea, embora haja uma norma geral que padroniza a
comunicação formal, como a redação de documentos e textos acadêmicos.
A partir de agora, trataremos do conceito e da aplicação da norma padrão da língua, assim como também
discutiremos sobre a noção de “erro” e o fenômeno do preconceito linguístico presente na sociedade.
1.2.1 A norma culta
A norma padrão de uma língua é estabelecida a partir da variedade utilizada pela camada mais culta da
comunidade linguística. Por isso, ela também é conhecida como norma culta (GUIMARÃES, 2012).
A escolha da variedade considerada padrão leva em consideração, também, a escrita de textos literários
consagrados nacionalmente, geralmente obedientes à escrita gramaticalmente aceita como “correta”. Dessa
O , escrito por Marcus Dicionário de Cearês: Termos e Expressões Populares do Ceará
Gadelha, apresenta o significado de expressões típicas da comunidade linguística 
cearense, como “abestado”, “alpercata” e “agora deu”. Vale a pena ler e entender melhor 
sobre essas variações!
- -8
forma, a norma possui um caráter estático, enquanto que a fala — materialização da língua pelos usuários — é
dinâmica, o que permite sua evolução a partir, por exemplo, do contato com outras línguas, das quais surge o
que se chama de empréstimos linguísticos. Esse é o caso de palavras como “marketing” e “status”, que são
comumente utilizadas pelos falantes da língua portuguesa no Brasil, sem a necessidade de uma tradução. Com
o frequente uso dessas expressões, elas acabam sendo incorporadas ao vocabulário da população.
Em contrapartida, quando uma norma ou regra da variedade padrão da língua não é obedecida, costuma-se
dizer que há um erro. Mas esse conceito vem sendo discutido e criticado, pois, muitas vezes, a ausência de
aplicação de uma regra gramatical não prejudica a comunicação. É o que se pode perceber no poema
“Pronominais”, de Oswald de Andrade (2003, p. 167), publicado pela primeira vez em 1925.
No poema, o autor apresenta uma crítica à norma gramatical que dita a colocação dos pronomes, enfatizando
que os cidadãos brasileiros, no uso cotidiano na língua, não aplicam as regras gramaticais de próclise,
mesóclise e ênclise. Embora a norma não revele o uso real da língua pela população, é preciso enfatizar sua
importância para que haja padronização no uso formal da língua, em situações como a redação de documentos
oficiais, discursos políticos, trabalhos acadêmicos e apresentações de palestras.
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
[...]
- -9
1.2.2 O conceito de erro na língua
Para explicar o conceito de erro em relação à comunicação, tomemos o exemplo apresentado por Terra (2008,
p. 96): “qual seria a roupa ‘certa’: paletó e gravata ou camiseta, sandália e bermudas? Evidentemente, a
resposta só pode ser: depende”. Ou seja, você escolhe sua vestimenta de acordo com a ocasião. Quanto mais
formal a situação for, mais formal sua vestimenta será. Portanto, não existe roupa certa ou errada, existe
apenas uma roupa adequada ou inadequada.
Com a linguagem ocorre algo semelhante. Em uma conversa espontânea com amigos e familiares, em um
churrasco de domingo, por exemplo, a linguagem utilizada certamente será a informal, também conhecida
como linguagem coloquial, sem preocupação com as normas gramaticais. Contudo, não se pode afirmar que,
nessa situação, as pessoas estejam falando errado, uma vez que a linguagem está adequada à situação
comunicativa em que se encontram.
Se, por outro lado, você é convidado pelo chefe do departamento em que trabalha para palestrar em uma
conferência em que estarão diversos representantes de outras empresas, torna-se necessário que a linguagem
utilizada seja formal, o mais próximo possível do que ditam as regras da gramática da língua. Não seria
adequado, nesse caso, utilizar a linguagem coloquial, pois a situação comunicativa exige um nível de
formalidade maior da linguagem, assim como da vestimenta.
Figura 1 - Situações formais exigem vestimenta e linguagem formais Fonte: Shutterstock, 2021.
 #PraCegoVer Na figura, temos a fotografia de um professor vestido com camisa social e gravata, apontando 
para algo em uma grande folha em branco. Nesta, há um gráfico com algumas anotações.
Há, ainda, casos em que a norma culta é quebrada de forma intencional, como é comum vermos em poemas,
como o “Pronominais”, que lemos anteriormente. Assim, o autor conhece a norma,mas não a obedece com
um objetivo específico. No caso de Oswald de Andrade, a ideia é mostrar que, na prática, essa norma nem
sempre é utilizada e, portanto, em situações cotidianas informais ela pode ser deixada de lado.
- -10
É necessário, portanto, que sejam consideradas nos estudos da língua as suas diversas formas de utilização
pelos falantes. Além disso, ressalta-se a importância da escolarização ou educação formal para que todos os
indivíduos de uma comunidade linguística sejam capazes de transitar entre um ou outro nível de linguagem,
dependendo da adequação à situação de comunicação.
A seguir, trataremos de um assunto importante quanto a variação e o erro linguístico: o preconceito em relação
ao modo como se fala.
1.2.3 Preconceito linguístico
A definição de preconceito linguístico, segundo Bagno (2008, [s. p.], grifos do autor), é que:
Dessa forma, assim como existe o preconceito social, existe, também, o preconceito em relação ao uso que se
faz da língua, fruto da comparação entre a norma culta — considerada o modelo ideal de uso da língua — e as
diferentes formas de uso da língua, desconsiderando o fenômeno da variação linguística.
Ainda de acordo com Bagno (2008), o preconceito linguístico se manifesta com a rotulação da fala de um
determinado grupo social ou regional como “errado” ou “feio”. Um exemplo disso é o que ocorre em relação a
ausência da marcação de plural presente, em geral, na fala de pessoas com pouca ou nenhuma escolaridade,
Você sabia?
Os Parâmetros Curriculares da Língua Portuguesa, ou PCN, que orientam o ensino de 
língua portuguesa nas escolas, assinalam a importância de compreender o contexto de 
comunicação para adequar o registro da fala à situação. Para a compreensão do contexto, 
é importante considerar o que se fala, para quem e com que objetivo: “A questão não é 
de erro, mas de adequação às circunstâncias de uso, de utilização adequada da 
linguagem” (BRASIL, 1998, p. 31).
O termo preconceito designa uma atitude prévia que assumimos diante de uma pessoa (ou de um grupo
social), antes de interagirmos com ela ou de conhecê-la, uma atitude que, embora individual, reflete as
ideias que circulam na sociedade e na cultura em que vivemos. Assim como uma pessoa pode sofrer
preconceito por ser mulher, pobre, negra, indígena, homossexual, nordestina, deficiente física, estrangeira
etc., também pode receber avaliações negativas por causa da língua que fala ou do modo como fala sua
língua.
- -11
como na frase “nós trabalhava nas fábrica”. Essa forma de falar é estigmatizada pelas classes mais favorecidas
da sociedade, sendo tachada negativamente e reprovada socialmente.
Uma área da linguística chamada Sociolinguística investiga os processos de variação e mudança da língua,
considerando que existe uma forte relação entre a forma como as pessoas falam e os fatores sociais, como a
origem geográfica do falante, o grupo social ao qual pertence ou a idade. Com isso, a Sociolinguística explica
que a ausência de marcação nos termos da frase, como no caso acima, ocorre porque, pela marcação do plural
em “nós” e em “nas”, intuitivamente o interlocutor conclui o sentido completo da frase. Em situações
comunicativas informais, essa fala é considerada adequada. Inclusive, eventualmente, pode ser falada por
pessoas de nível de escolaridade alto.
Ainda assim, a variedade padrão da língua é privilegiada nas escolas e apontada como único meio para se
conseguir prestígio social. Além disso, muitas vezes, a norma culta da língua tem sido instrumento de
dominação social e discriminação de pessoas, seja porque falam o dialeto de uma determinada região do país
ou porque não tiveram a oportunidade de estudar (LUCCHESI, 2015). De fato, é importante e necessário
aprender a norma culta da língua, visto que ela é utilizada em situações formais, como no mercado de
trabalho. No entanto, as outras variantes não devem ser esquecidas e/ou consideradas inferiores.
Você quer ver?
Marcos Bagno, conceituado linguista brasileiro que se dedica a pesquisar sobre as 
variações linguísticas do português e sobre o preconceito linguístico no Brasil, fala, em 
uma entrevista para a PNAIC, sobre o que é o preconceito linguístico e como ele ocorre 
na sociedade brasileira. Vale a pena conferir, clique no botão a seguir.
Acesse
Você quer ler?
O livro , de Stella Nós Cheguemu na Escola, e Agora? Sociolinguística e Educação
Maris Bortoni-Ricardo, é fruto de uma pesquisa sociolinguística realizada no Brasil. A 
obra é direcionada a professores de línguas ou outros profissionais da linguagem 
interessados na relação entre linguagem e sociedade. Vale a pena ler seu conteúdo e se 
inteirar sobre o assunto.
https://youtu.be/UbdSNWv9XDQ
- -12
Com tudo isso, Bagno (2008, [s. p.]) afirma que “[...] uma formação docente adequada, com base nos avanços
das ciências da linguagem e com vistas à criação de uma sociedade democrática e igualitária, é um passo
importante na crítica e na desconstrução desse círculo vicioso”. A saída, para ele, é ensinar as crianças a
valorizarem todas as modalidades de registro, mostrando que nenhuma é melhor ou pior do que as outras.
No próximo tópico, discutiremos um conceito relativamente recente nos estudos linguísticos e suas aplicações
em relação ao uso da língua pelos seus falantes.
1.3 Gêneros discursivos
Quando se fala na língua em uso, logo vem à tona os gêneros textuais. Isso porque, ao longo de nossa vida,
nos deparamos com textos diversos: histórias em quadrinhos, fábulas, crônicas, poemas, anúncios, piadas,
bulas, artigos científicos, entre inúmeros outros.
Sendo assim, para que melhor entendamos as particularidades dos gêneros textuais, neste tópico discutiremos
a noção de texto, o conceito de gêneros textuais e sua aplicação nas práticas de comunicação, sejam elas de
caráter pessoal, acadêmico ou profissional.
1.3.1 Texto e contexto
O texto é considerado uma unidade de sentido por meio da qual interagimos. Ele permeia toda a nossa
atividade comunicativa, seja ela falada ou escrita. Assim, não há comunicação sem texto. Um anúncio ou uma
cartilha, por exemplo, descrevem bem esse conceito, conforme vemos na figura a seguir.
Figura 2 - Uma campanha é um exemplo de texto composto de linguagem verbal e não verbal Fonte: BRASIL, [s. d.].
 #PraCegoVer Na figura, temos a fotografia de uma campanha de vacinação. Há duas crianças, uma de costas 
para a outra, de braços cruzados. Ao fundo, pode-se observar uma unidade de saúde e uma roda gigante. No 
centro da figura, encontramos a escrita "não perca a nova temporada de vacinação contra a meningite e o 
HPV. Proteja-se para as próximas aventuras".
- -13
Como podemos perceber, o exemplo nos mostra uma campanha publicitária que busca alertar os jovens sobre
a importância da vacinação, a fim de prevenir a meningite e o HPV. No material produzido, encontram-se
elementos verbais (palavras) e não verbais (imagens, ícones, cores). Além disso, é considerado um texto, uma
vez que é uma unidade de sentido, com um propósito comunicativo direcionado a um público específico, em
uma determinada situação comunicativa.
Dessa forma, toda interação verbal ocorre por meio de manifestações linguísticas conhecidas como
textos. Beaugrande (1997, p. 10) afirma que o texto é “[...] um evento comunicativo em que
convergem ações linguísticas, culturais, sociais e cognitivas”, ou seja, para se produzir e para ler um
texto, são necessários mais do que os conhecimentos básicos sobre a língua, visto que eles estão
inseridos em algo maior, ou seja, existe um contexto.
Para Koch e Elias (2006, p. 59), o contexto é “[...] tudo aquilo que, de alguma forma, contribui para
determinar a construção do sentido”. Sendo assim, o sentido do texto não está nele mesmo, mas é
construído ao longo do processo de interação entre autor, texto e leitor. Dessa forma, ao lermos ou
produzirmos um texto, sem perceber, ativamos processos sociocognitivos e recorremos a três tipos de
conhecimentosarmazenados em nossa mente: o linguístico, o enciclopédico e o interacional
(CAVALCANTE, 2012).
O conhecimento linguístico diz respeito ao entendimento do código, dos sinais verbais e não verbais
utilizados no texto, incluindo ortografia, gramática e vocabulário da língua (KOCH; ELIAS, 2011).
Para compreender a campanha do Ministério da Saúde, por exemplo, é necessário que o leitor
decodifique o texto escrito, a imagem das crianças e saiba o que significa a sigla “HPV”.
Por conseguinte, o conhecimento enciclopédico, ou conhecimento de mundo, é ativado quando
acionamos nosso repertório de informações armazenadas em nossa memória, a partir de vivências e
experiências diversas (KOCH; ELIAS, 2011).
Voltando ao exemplo da campanha, ainda podemos dizer que, para seu entendimento, deve fazer parte do
conhecimento de mundo dos leitores informações sobre meningite (infecção que afeta as meninges que
envolvem a medula espinhal e o encéfalo) e HPV (vírus causador de problemas de ordem cutânea, que, se não
for tratado, pode causar câncer de colo do útero). Assim, alguém que, por ventura, não possua esses
conhecimentos prévios, certamente terá dificuldades em interpretar efetivamente o texto.
- -14
Por fim, com o conhecimento interacional, recorremos ao que sabemos sobre as práticas interacionais.
Consideramos, portanto, quem são os interlocutores (quem produziu o texto e para quem), o objetivo do texto,
o nível de formalidade da linguagem empregada e a organização das informações no texto (KOCH; ELIAS,
2006). No exemplo que estamos analisando, o texto — composto por elementos verbais e não verbais,
organizados de forma clara e objetiva com uma linguagem simples — é direcionado para jovens em fase de
pré-adolescência e, indiretamente, a seus pais; tendo como objetivo alertá-los sobre o risco de contaminação
por essas doenças e orientar a solicitação do exame para diagnóstico.
Nessa perspectiva, percebemos que, para que um texto seja plenamente compreendido, é necessário considerar
mais do que está dito. Afinal, estão envolvidos em um texto fatores contextuais, de ordem social, histórica e
cognitiva, que norteiam as práticas de linguagem.
A seguir, apresentaremos conceito e exemplos de gêneros textuais, por meio dos quais nos comunicamos
socialmente.
1.3.2 Gêneros textuais
Certamente você, quando era criança, ouvia muitos contos de fadas e fábulas. No entanto, à medida que foi
crescendo, seu interesse passou para as histórias em quadrinhos, os contos e os poemas. Hoje, já na fase
adulta, provavelmente acrescentou às suas leituras muitas notícias, cartazes, anúncios e piadas. Esses e outros
textos fazem parte do seu cotidiano.
Nessa perspectiva, como você sabe que uma fábula é uma fábula? Ou que uma notícia é uma notícia, de fato?
De acordo com Koch e Elias (2006, p. 101), sabemos dessas características porque esses textos possuem “[...]
formas padrão e relativamente estáveis de estruturação”. Assim, por exemplo, toda fábula se constitui de uma
narrativa em que os animais são personificados, ou seja, agem como seres humanos: pensam, raciocinam e
falam. Embora uma ou outra possua características divergentes, todas seguem esse padrão para serem
consideradas fábulas.
Bakhtin (1992, p. 301-302, grifos do autor), por sua vez, afirma que,
Para falar, utilizamo-nos sempre dos gêneros do discurso, em outras palavras, todos os nossos enunciados
dispõem de uma e relativamente estável de . Possuímos um ricoforma padrão estruturação de um todo
repertório dos gêneros do discurso orais (e escritos). Na , usamo-los com segurança e destreza, prática
mas podemos ignorar totalmente a sua existência .teórica
- -15
Portanto, toda a nossa comunicação escrita ou oral se baseia em formas padrão, as quais denominamos
gêneros textuais, ainda que não saibamos da existência desses enunciados. Você mesmo, até hoje, pode nunca
ter ouvido falar desses termos, mas com certeza já utilizava muito bem os gêneros textuais em seu cotidiano.
Bakhtin (1992) menciona que eles são apenas relativamente estáveis, porque, assim como a comunicação é
dinâmica, os gêneros textuais também são maleáveis e passíveis de mudanças.
Além disso, novos gêneros surgem a cada dia, enquanto que outros deixam de ser utilizados pelos indivíduos.
Não é raro vermos pessoas enviando mensagens instantâneas de seus smartphones ou tablets, mas não vemos
mais ninguém enviando telegramas. Ou seja, enquanto as mensagens instantâneas são um gênero textual
emergente, o telegrama não faz mais parte das práticas comunicativas da atualidade.
De acordo com os pensamentos de Maingueneau (2004), os gêneros se configuram como fator de economia e
praticidade da comunicação. Assim, quando desejamos nos comunicar, dependendo do nosso propósito
comunicativo, selecionamos o gênero textual mais adequado. Contudo, se não houvessem esses padrões,
ficaríamos perdidos em meio à variedade de práticas comunicativas possíveis na interação humana. Então, se
alguém deseja compartilhar seu conhecimento sobre o preparo de um prato culinário, por exemplo, certamente
produzirá uma receita, composta pelas seções: ingredientes e modo de preparo. Se uma empresa deseja
divulgar seu produto e atrair o público consumidor, por outro lado, produzirá um anúncio, que pode ser
transmitido de forma impressa, por áudio ou por vídeo.
Você o conhece?
Mikhail Bakhtin, filósofo russo, dedicou-se a investigar a linguagem e revolucionou os 
estudos linguísticos a partir da teoria dos gêneros textuais. Segundo seus pressupostos 
teóricos, a linguagem só existe em função dos sujeitos (quem fala/escreve e o que escuta
/lê) e da situação comunicativa que suscita a produção dos textos por meio dos quais 
interagimos socialmente.
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Figura 3 - O verbete de um dicionário é um gênero textual com o propósito de definir um termo da língua Fonte: Feng Yu, Shutterstock, 
2021.
 #PraCegoVer Na figura, temos a fotografia de uma página aproximada de um dicionário. A palavra "tradução" 
está grifado em verde.
Outro aspecto importante na definição dos gêneros textuais é o suporte. De acordo com Marcuschi (2003, p.
08, grifo do autor), “[...] o suporte é o locus físico ou virtual com formato específico que serve de base ou
ambiente de fixação do gênero materializado como texto”. Nesse sentido, são exemplos de suporte o outdoor,
o jornal, a tela de um computador, a revista, o livro, o muro, entre tantos outros. Existem, ainda, alguns
suportes pouco convencionais, como as paradas de ônibus, que se tornam suporte para anúncios; ou o próprio
corpo, que se torna suporte para textos tatuados na pele.
Agora que entendemos melhor quanto aos gêneros textuais, na sequência apresentaremos a noção de
sequências textuais e sua diferenciação em relação aos gêneros.
1.3.3 Sequências textuais
Adam (2008) defende que todo texto é formado de sequências, que são esquemas linguísticos que constituem
os diversos gêneros. Em outras palavras, as sequências compõem os gêneros textuais, sendo elas:
• narração;
• descrição;
• injunção;
• explicação ou exposição;
• argumentação.
A seguir, veja cada uma delas com mais detalhes.
Você quer ver?
Em uma entrevista intitulada , o professor e Bakhtin e sua Filosofia da Linguagem
pesquisador Carlos Alberto Faraco discute o pensamento bakhtiniano e a filosofia da 
linguagem desenvolvida por esse grande expoente dos estudos dialógicos da linguagem. 
Você pode ver clicando no botão a seguir.
Acesse
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https://www.youtube.com/watch?v=IJMByQS0oQc
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Sequência narrativa
A sequência narrativa apresenta uma sucessão de fatos ou eventos ao longo de um tempo. Há predominância
do uso de verbos de ação e, às vezes, diálogo. São exemplos de gêneros predominantemente narrativos o
conto, a fábula e o romance.
Sequência descritiva
A sequência descritiva, por sua vez, apresenta a caracterização de algo, de alguém ou de algum lugar, por
meio da utilização de verbos de estado e adjetivos. É comum haver descriçãoem anúncios, por exemplo, em
que o produtor enfatiza as qualidades do produto anunciado.
Sequência injuntiva
Já a sequência injuntiva apresenta uma orientação, uma ordem, um pedido ou um conselho, por meio de
verbos no imperativo. Um anúncio, um tutorial e uma bula de remédio são textos que contêm injunção.
Sequência explicativa
A sequência explicativa ou expositiva responde uma pergunta, objetivando informar sobre algo, com o uso
predominante de verbos no presente do indicativo. Essa sequência é bastante utilizada nos artigos de
divulgação científica, nas aulas expositivas e nos documentários de televisão.
Argumentação
Por fim, a argumentação apresenta argumentos e contra-argumentos em defesa de um ponto de vista, buscando
convencer o leitor/ouvinte acerca de um posicionamento. São exemplos de gêneros tipicamente
argumentativos os artigos de opinião e os debates.
É importante destacar que os gêneros não são determinados pelas sequências, tendo em vista que o mesmo
gênero textual pode conter mais de uma sequência textual. É o caso da receita culinária, que possui descrição
na seção de ingredientes e injunção na seção de como se prepara o prato. No quadro a seguir, podemos ver a
distinção entre gêneros e sequências textuais.
Quadro 3 - Distinção entre gêneros e sequências textuais Fonte: Elaborado pela autora, baseado em MARCUSCHI, 2008.
 #PraCegoVer No quadro, temos quatro linhas e duas colunas. Na primeira coluna, encontramos os gêneros 
textuais, em que temos as manifestações linguísticas por meio das quais nos comunicamos; temos como 
exemplos a carta, o e-mail, o bilhete, a declaração, o artigo, a monografia, o anúncio, a tirinha, a charge, o 
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conto, o romance, a receita e a bula; possuem número ilimitado e com tendência a aumentar. Na segunda 
coluna, encontramos as sequências textuais, em que temos unidades estruturais que compõem os textos, 
segundo a sua finalidade; podem ser classificadas em narração, descrição, argumentação, injunção e 
exposição; e possuem número finito e sem tendência a aumentar.
De fato, toda a atividade comunicativa humana ocorre por meio dos gêneros textuais, que são estruturados
pelas sequências textuais. Eles não são contrários, mas se complementam na constituição da organização
textual.
No tópico seguinte, abordaremos um fenômeno recorrente na comunicação: a relação entre o texto e outros
escritos ou ditos anteriormente. É a chamada intertextualidade.
1.4 Intertextualidade
A intertextualidade é um fenômeno linguístico bastante estudado. Ele diz respeito à relação que existe entre os
textos. Segundo Kristeva (1969), todo texto é um mosaico de outros que o antecederam e lhe deram origem.
Mais especificamente, existem em muitos textos menções a outros textos já proferidos anteriormente.
Dessa forma, a identificação e a compreensão do processo intertextual depende dos conhecimentos de outros
textos por parte dos interlocutores. Vejamos o exemplo dos versos da segunda parte do Hino Nacional
Brasileiro (ESTRADA, 1831):
Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
"Nossos bosques têm mais vida",
"Nossa vida" no teu seio "mais amores".
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
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Você conseguiu identificar com qual texto o Hino Nacional possui uma relação de intertextualidade? Acertou
se pensou no poema “Canção do Exílio”, publicado em 1843, por Gonçalves Dias, cuja primeira estrofe é:
Como percebemos, “[...] conhecer o texto-fonte [...] é condição necessária para a construção de sentido”
(KOCH; ELIAS, 2006, p. 85). Além disso, é interessante notar que a retomada de outros textos, em novas
situações comunicativas, por meio da intertextualidade, pode gerar a construção de novos sentidos.
Assim, existem dois tipos de intertextualidade: a intertextualidade explícita e a intertextualidade implícita, que
exige do interlocutor um conhecimento mais aguçado do texto-fonte. A seguir, discutiremos esses dois tipos
de intertextualidade, bem como a intergenericidade, que ocorre entre gêneros textuais.
1.4.1 Intertextualidade explícita
A intertextualidade explícita ocorre quando a fonte do intertexto é citada ou existe a presença de fragmentos
desse texto anteriormente produzido. É o caso da citação, bastante utilizada na escrita acadêmica, inclusive
neste material didático, em que são citados textos de autores que já escreveram sobre os assuntos que estão
sendo tratados. É um exemplo desse tipo de intertextualidade a relação existente entre o Hino Nacional
Brasileiro e o poema “Canção do Exílio”, uma vez que um trecho do poema, inclusive marcado pela presença
de aspas, encontra-se explícito na letra do Hino Nacional.
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
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A função da intertextualidade explícita na escrita acadêmica é atribuir ao novo texto um argumento de
autoridade, que fundamenta os conceitos abordados por outros estudiosos e pesquisadores. Na escrita literária,
por sua vez, a intertextualidade contribui para o processo criativo de construção dos sentidos no texto.
1.4.2 Intertextualidade implícita
A intertextualidade implícita ocorre quando não há a citação expressa da fonte ou de um trecho do texto-fonte.
Nesse caso, é necessário apelar para a memória, a fim de recuperar informações sobre o intertexto e construir
o sentido. Quando essa recuperação não ocorre, ou quando há o desconhecimento do texto-fonte, a construção
dos sentidos do texto pelo interlocutor fica prejudicada.
Com a intertextualidade implícita, ocorre a apropriação do texto-fonte, que sofre modificações, seja com
acréscimos, supressões ou substituições, que podem preservar ou subverter o sentido do texto original. A
paráfrase, por exemplo, — interpretação de um texto com as próprias palavras — em que não há citação do
texto-fonte, temos a intertextualidade implícita presente. As paráfrases são bastante utilizadas por professores
em aulas expositivas, já que procuram explicar os conteúdos de forma simplificada para os alunos.
Analogamente, quando você precisa apresentar um seminário sobre um tema específico, faz as leituras prévias
e, oralmente, por meio de paráfrases, expõe aos colegas e ao avaliador as ideias e informações com suas
próprias palavras, não é?
Além das paráfrases, as paródias são comumente conhecidas como músicas que passam por transformações na
letra, causando efeito de humor e/ou de ironia. No entanto, no campo da linguagem, a paródia “[...] é um
recurso bastante criativo que se constrói a partir de um texto-fonte retrabalhado [...] com o intuito de atingir
outros propósitos comunicativos, não só humorísticos, mas também críticos, poéticos, etc.” (CAVALCANTE,
2012, p. 154).
Estudo de Caso
Para melhor entendimento quanto a intertextualidade, uma professora resolveu levar 
seus alunos para assistir a uma peça teatral, intitulada “Hermanoteu na Terra de Godah”. 
Na peça, temos um hebreu, pastor de ovelhas, que recebeu de Deus a missão de 
peregrinar por muitos anos até achar uma terra prometida chamada Godah. Pelo 
caminho, ele passou por Roma, pelo Egito, por Jerusalém e muitos outros lugares 
ligados a personagens e histórias bíblicas do antigo e do novo testamento.
Com isso, os alunos puderam entender que a intertextualidade é a relação existente entre 
diferentes textos. Para eles, ficou clara a relação entre a peça que assistiram e os textos 
bíblicos ligados às civilizações da antiguidade.
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Ao se valer da intertextualidade implícita, o autor não pretende esconder o texto- fonte, mas pressupõe que o
interlocutor identificará o intertexto e os novos sentidos provocados pelas transformações dos textos-fonte e
pelos propósitos comunicativos dos novos textos.
Ademais, há textos que apresentam características de gêneros textuais distintos, o que chamamos de
intergenericidade,a qual apresentaremos a seguir.
1.4.3 Intergenericidade
A intertextualidade entre gêneros textuais ocorre quando um gênero assume a forma de outro, em função de
um propósito comunicativo. A hibridização, intergenericidade ou, ainda, intertextualidade intergêneros, pode
ser bastante perceptível em anúncios, tirinhas e charges.
Figura 4 - Intergenericidade: anúncio ou questão de prova? Fonte: DETRANPR, 2017.
 #PraCegoVer Na figura, temos um anúncio do Detran quanto à utilização de capacete. Há o texto "no trânsito 
você escolhe usar ou não usar", contando a ilustração de um capacete do lado das expressões "usar" e "não 
usar".
Como podemos observar na figura, estruturalmente, o texto parece uma questão de prova, com a presença de
opções para o suposto aluno marcar. No entanto, considerando o contexto de produção desse texto, logo
chegamos à conclusão de que não se trata de uma questão de prova, mas, sim, de um anúncio publicitário de
um programa educativo do Detran.
Em síntese, o que, de fato, determina a classificação do gênero textual em casos de intergenericidade é o seu
propósito comunicativo, e não a sua estrutura. Não há, portanto, alteração da função desse texto, uma vez que
ele continua divulgando o programa educativo por meio do processo criativo da intertextualidade intergêneros.
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Conclusão
Você concluiu o primeiro capítulo de Comunicação. Agora, já conhece alguns conceitos importantes quando
tratamos da comunicação, como a distinção entre norma e uso da língua, preconceito linguístico, gêneros
textuais e intertextualidade. Esperamos que esses conceitos e suas aplicações sejam úteis para sua formação
acadêmica e para sua atuação profissional. Foram muitos conteúdos importantes em um único capítulo, e
ainda vem muito mais pela frente.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• reconhecer as diferenças entre os usos da língua e as práticas sociais;
• identificar atitudes de preconceito linguístico;
• identificar e comparar tipos (sequências) e gêneros textuais;
• analisar textos cujos gêneros discursivos estão de acordo com a sua prática profissional;
• identificar e classificar as relações intertextuais.
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Referências
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https://www.youtube.com/watch?v=UbdSNWv9XDQ&feature=youtu.be
https://www.youtube.com/watch?v=UbdSNWv9XDQ&feature=youtu.be
CAMPANHA INSTITUCIONAL DE 
COMBATE AO PRECONCEITO
Dentre as ações de responsabilidade social de uma empresa de cosméti-
cos, está disseminar campanhas de combate a toda forma de preconcei-
to. A organização tem, em sua missão e em seus valores, o propósito de 
contribuir com uma sociedade mais equitativa e inclusiva como um todo, 
combatendo o preconceito com informação e impactando as pessoas com 
o amor ao próximo.
A partir dessa premissa e considerando o período de preparação para a 
realização de uma campanha de “Ano Novo”, a equipe de comunicação da 
empresa decidiu fazer uma pesquisa entre os funcionários sobre precon-
ceito. A intenção era conseguir captar como, no dia a dia, essas relações se 
dão, ou, pelo menos, como são percebidas por eles.
Para coletar os dados, um pequeno questionário foi estruturado com per-
guntas objetivas de escolha múltipla. Perguntava-se, dentre as questões, 
como a pessoa compreendia o preconceito e solicitava-se que ela identi-
fi casse exemplos de preconceitos, se já foi vítima de preconceito e se, em 
algum momento, agiu com preconceito ou se age sem perceber.
Para facilitar o interesse pela pesquisa, foi esclarecido que o nome do 
funcionário não constaria nas respostas e que sua participação era para 
contribuir com a campanhade comunicação de “Ano Novo”. Em relação 
à quantidade de entrevistados, o número de pessoas selecionadas repre-
senta signifi cativamente o total de profi ssionais da organização.
CAMPANHA INSTITUCIONAL DE 
COMBATE AO PRECONCEITO
As respostas de múltipla escolha foram construídas também com exemplos, 
para serem ilustrativas, no sentido de facilitar a compreensão do entrevista-
do. Uma questão, por exemplo, perguntava se a pessoa já se sentiu vítima de 
preconceito, e as opções eram sim ou não. A questão seguinte perguntava 
se a pessoa já havia se sentido constrangida em algum momento de sua vida 
devido à idade, à escolaridade, à cor da pele, ao tipo de cabelo, ao corpo, ao 
gênero, à roupa, à religião, à condição fi nanceira, ao modo de falar etc.
Após essas respostas, em que os entrevistados poderiam selecionar mais 
de uma opção (gênero, cor da pele, escolaridade), a pergunta a respeito 
de a pessoa já ter sofrido preconceito era refeita. Todos que responderam 
não na primeira vez respondiam sim na segunda vez. Dentre as percep-
ções de preconceito, tanto em relação a ser vítima quanto a como agir 
de maneira preconceituosa, o preconceito linguístico foi, com certeza, o 
menos identifi cado, apesar de estar presente.
O preconceito linguístico, aliás, está muito evidente em cada relato dado 
na pesquisa. Muitos dos pesquisados revelaram que o modo como falam, 
em algum momento de sua vida, foi utilizado por uma pessoa ou por um 
grupo de pessoas para os oprimirem. Geralmente, a ação envolve usar a 
norma culta da língua como sendo o padrão superior e ideal, menospre-
zando e, inclusive, desconsiderando as diferentes formas de uso da língua.
O preconceito linguístico é mais uma forma de preconceito social. A Socio-
linguística, que investiga os processos de variação e mudança da língua, 
CAMPANHA INSTITUCIONAL DE 
COMBATE AO PRECONCEITO
considera que existe uma forte relação entre os fatores sociais e a forma 
como as pessoas falam, ou seja, a origem geográfi ca, a idade ou o grupo 
social infl uencia o modo como se fala. Apesar da importância atrelada ao 
aprendizado da norma culta para os usos formais da língua, esta não pode 
ser instrumento de discriminação de pessoas ou de dominação social.
Falar “a gente fumo ali no rio” ou “nós fomos até o rio” proporciona a mes-
ma compreensão no modo de se comunicar. Nesses moldes, não há certo 
ou errado, o que há, nessas situações comunicativas informais, é a comu-
nicação efetiva. Estigmatizar ou oprimir uma pessoa pelo modo como ela 
fala é preconceito linguístico.
Fonte: rawpixel / 123RF.
CAMPANHA INSTITUCIONAL DE 
COMBATE AO PRECONCEITO
Por isso, o tema da campanha de “Ano Novo” escolhido pela equipe de 
comunicação da organização foi “A linguagem como forma de amor”, no 
sentido de combater o uso da linguagem como forma de opressão. As fra-
ses que estão inseridas na publicidade, em especial nos bunners digitais, 
exemplifi cam a campanha, como: “Marrapaz, amanhã eu vou te encontrar 
no Ano Novo” ou “Meu fi , o próximo ano vai mudar seu mundo”. A fonte 
de inspiração foi a campanha do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, 
2018, divulgada nos canais de comunicação, como o Twitter, pelo Institu-
to Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep – 
Ministério da Educação (MEC).
CAMPANHA INSTITUCIONAL DE 
COMBATE AO PRECONCEITO
Vamos Praticar
Faça uma pesquisa na internet elencando três conteúdos (vídeos, 
textos jornalísticos, literários) que demonstram preconceito linguísti-
co. Em cada conteúdo pesquisado, você deve descrever como e por 
que o preconceito linguístico se manifestou, justifi cando com base 
nas noções de preconceito linguístico delineadas no minicase.
Por exemplo, se o conteúdo selecionado por você for uma ima-
gem (cartaz, foto etc), descreva de que forma aquela imagem é um 
exemplo de manifestação de preconceito linguístico, ou seja, se 
for uma pessoa corrigindo a outra pela forma como ela fala deter-
minada palavra, você precisa justifi car que essa é uma manifesta-
ção de preconceito linguístico, porque não há certo ou errado em 
situações comunicativas informais, toda forma de comunicação é 
a comunicação efetiva. Se a forma como a pessoa se comunicou 
foi utilizada por outra pessoa como forma de opressão, portanto, 
houve preconceito linguístico.
Ao fi nal, disponibilize sua pesquisa no fórum da seção “Compartilhe”.
 
 
 
- -1
COMUNICAÇÃO
COMO EVITAR A FALTA 
DE COERÊNCIA 
TEXTUAL?
Autoria: Ma. Adriana Paula da Silva Amorim - 
Revisão técnica: Dra. Sandra Trabucco Valenzuela
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Introdução
A comunicação efetiva ocorre por meio de gêneros textuais. Cada situação comunicativa exige a utilização de
um gênero textual específico. As notícias, por exemplo, são produzidas para informar a população sobre fatos
ocorridos; enquanto que os anúncios, por sua vez, são elaborados com a finalidade de divulgar produtos e
serviços para um público específico.
Nesse contexto, é preciso se atentar para alguns aspectos relevantes na produção textual: a adequação ao meio
em que o texto é veiculado, a coesão e a coerência. Afinal, com o advento da internet, surgiram novas formas
de linguagem e novos gêneros textuais. A tela como suporte de textos digitais propicia maior dinamicidade na
comunicação virtual e possibilita a composição dos textos a partir de elementos verbais e não verbais, como
imagens, sons, vídeos, cores, ícones, entre outros.
Além da adequação ao suporte, é imprescindível que os textos possuam coerência e coesão, a fim de que
cumpram plenamente seu propósito comunicativo. A coerência diz respeito ao sentido: um texto coerente é
um texto que possui sentido. Para tanto, é necessário que as informações apresentadas na superfície textual
estejam coerentes entre si e coerentes com o mundo que nos cerca. A coesão, por sua vez, é a conexão entre as
ideias apresentadas em um texto, contribuindo substancialmente para a manutenção da coerência.
Sendo assim, ao longo deste capítulo, trataremos da forte relação entre gêneros discursivos e tecnologia, a
partir da análise de como essa relação ocorre na comunicação por meio das tecnologias digitais emergentes.
Ademais, trataremos da coerência e da coesão separadamente, com finalidade didática, reconhecendo que, na
prática comunicativa, elas se manifestam de forma complementar e simultânea.
Bons estudos!
 45 minutos.Tempo estimado de leitura:
2.1 Gênero e tecnologia
Com o advento das tecnologias digitais, a sociedade passou por substanciais transformações. A comunicação
se tornou consideravelmente mais ágil e as distâncias foram encurtadas com o uso da internet como meio de
transmissão de mensagens. Isso acarretou no surgimento do hipertexto, “[...] forma híbrida, dinâmica e
flexível de linguagem que dialoga com outras interfaces semióticas, adiciona e acondiciona à sua superfície
formas outras de textualidade” (XAVIER, 2000, p. 171).
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Figura 1 - A comunicação pela internet é ágil e prática Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2021.
 #PraCegoVer Na figura, temos uma ilustração com diversas pessoas na parte inferior, mostrando apenas suas 
silhuetas. Elas estão de pé, algumas reunidas em grupos, outras conversando com alguém ou mostrando algo 
em documentos. Na parte superior da figura, encontramos ilustrações retratando a comunicação, incluindo 
aspectos como web, compartilhamentos, downloads, Wi-Fi, conexão, globalização e redes sociais.
Como efeito, podemos exemplificar o hipertexto pelas mensagens instantâneas enviadas e recebidas através de
sites de relacionamentos, como o Facebook e o Twitter; ou de softwares e aplicativos de comunicação, como o
WhatsApp e o Telegram.
Dessa forma, surgem novos gêneros textuais, propiciados pela emergência das tecnologias digitais,
caracterizados por duas características: a hipertextualidade e a multimodalidade.
2.1.1 Gêneros discursivos digitais
O advento e a evolução das tecnologias digitais propiciaramo surgimento de novas formas de construir os
textos, a partir da utilização de elementos visuais e sonoros além da escrita, o que não é possível no texto
impresso. São exemplos de gêneros textuais digitais o e-mail, o blog, as mensagens instantâneas, o fórum, a
homepage e tantos outros que permitem, com a tecnologia de que dispõem, agilidade e eficiência na
comunicação.
Há alguns anos, era comum que as empresas utilizassem a carta como forma de comunicação
interinstitucional. No entanto, esse cenário começou a mudar. Atualmente, utiliza-se muito mais o e-mail com
essa finalidade. Por outro lado, a comunicação interna das empresas passou a ocorrer também por meio de
aplicativos de mensagens instantâneas. Esse tipo de comunicação, além de ser ágil, permite o
compartilhamento de imagens, vídeos, documentos, links e ícones que complementam a linguagem verbal.
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Figura 2 - Textos originalmente impressos se adequaram às tecnologias digitais Fonte: Zerbor, Shutterstock, 2021.
 #PraCegoVer Na figura, temos uma fotografia editada digitalmente. Do lado esquerdo, há um tablet ligado 
com um comunicado de imprensa em aberto, de modo ilustrativo. Encontramos uma mesa de madeira com 
uma xícara de café em cima, à direita, assim como um bloco de notas com uma caneta.
Outras áreas da sociedade também aderiram à tecnologia e adequaram seu conteúdo e os recursos textuais ao
chamado mundo virtual. De fato, atualmente, as grandes empresas de jornalismo possuem páginas na internet,
sendo que, a partir delas, veiculam notícias. Contudo, além de texto escrito e das imagens, essas notícias em
meio digital também ganham links, vídeos e áudios. O mesmo ocorre com outros textos, como os anúncios
publicitários, que antes eram produzidos somente para divulgação impressa, mas que, hoje, são desenvolvidos
para a mídia digital, explorando recursos de imagem e som.
Diante dessa realidade, é possível perceber o quanto nós, enquanto cidadãos da sociedade da informação,
estamos habituados a convivermos com gêneros textuais tão diversos. Utilizamos as tecnologias de
informação e comunicação diariamente para estudar, trabalhar, nos comunicar com familiares e amigos, nos
informar e nos entreter. Por isso, é comum utilizarmos os gêneros digitais, como o e-mail, as mensagens
instantâneas, o bate-papo, a vídeo chamada, o vídeo tutorial, entre tantos outros exemplos de textos
produzidos e veiculados digitalmente.
Essa gama de possibilidades da virtualidade é conhecida como hipertextualidade, da qual trataremos na
sequência.
2.1.2 Hipertextualidade
A virtualidade propicia a produção de uma linguagem mista e híbrida que une a linguagem verbal escrita a
outros recursos, como sons, imagens estáticas e com movimento e links. As páginas de internet que
costumamos acessar possuem propriedades específicas e mesclam gêneros textuais diversos em um mesmo
ambiente. Em um site cujo assunto principal é o mundo automobilístico, por exemplo, encontramos notícias,
reportagens, anúncios, infográficos, vídeos, tutoriais, resenhas e muitos outros textos referentes ao tema
central. Com efeito, a tela do computador, do tablet e do smartphone possibilitam essa heterogeneidade de
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informações ao alcance do usuário. Assim, “A hipertextualidade seria, então, um conjunto multienunciativo de
hipertextos, em razão de sua heterogeneidade” (CAVALCANTE, 2012, p. 56).
Ao abrirmos uma homepage no navegador de internet, são apresentados múltiplos caminhos que podemos
acessar com a ajuda dos links. Da mesma forma, quando utilizamos os meios tecnológicos para estudar, outras
possibilidades estão ao nosso dispor, a fim de que possamos explorar, navegar e adquirir conhecimento.
Figura 3 - Homepages reúnem vários elementos visuais além do texto escrito, como imagens, cores e sinais Fonte: Haywiremedia, 
Shutterstock, 2021.
 #PraCegoVer Na figura, temos uma fotografia editada digitalmente de um homem selecionando "notícias" que 
aparecem à sua frente, em formado de carrossel.
Sobre a definição de hipertexto, Koch (2007, p. 25) afirma que se trata de uma escrita “[...] não-sequencial e
não-linear, que se ramifica de modo a permitir ao leitor virtual o acesso praticamente ilimitado a outros textos,
na medida em que procede a escolhas locais e sucessivas em tempo real”. Em linha com a autora, o leitor,
conhecido como navegador, torna-se coautor do texto, visto que, diante das inúmeras possibilidades de acesso
e de leituras que a internet lhe proporciona, segue os links de seu interesse e se aprofunda nos temas que
atraírem a sua atenção.
Você mesmo, enquanto estudante de uma disciplina cursada a distância, tem nas mãos o poder de,
autonomamente, construir o conhecimento a partir da busca por informações em diversas fontes disponíveis na
rede. Sabemos, no entanto, que se faz necessário filtrar essas fontes para que as informações obtidas sejam
confiáveis e úteis aos seus objetivos de estudo.
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Outra característica marcante do texto da era digital é a multimodalidade, sobre a qual discutiremos a seguir.
2.1.3 Multimodalidade
Você já parou para pensar na evolução da linguagem ao longo dos tempos? Já analisou como, atualmente,
estamos nos comunicando muito mais pelo meio digital em detrimento do meio impresso? Notou como o texto
digital permite novas possibilidades de composição dos textos que a escrita no papel não possibilitava?
A multimodalidade é um conceito desenvolvido por Kress e Van Leeuwen (1996) para descrever os diversos
modos ou modalidades semióticas pelos quais os textos são compostos. São exemplos de elementos
multimodais o som, a imagem (estática ou em movimento), o texto escrito, o gesto, o uso das cores, entre
outros. Cada uma dessas modalidades possui potencial para a construção do sentido no texto.
Em relação ao hipertexto, facilmente percebemos a presença da multimodalidade nos gêneros digitais. Um
exemplo disso são os emoticons, ícones utilizados em conversas on-line para transmitir a emoção dos
indivíduos. O uso dos emoticons complementa as informações verbais digitadas e expressa a informação de
forma singular. Alguns, por exemplo, não teriam o mesmo sentido se fossem descritos com a linguagem
verbal. O mesmo ocorre com o uso de outros recursos multimodais. Em síntese, esses ícones possuem valor
complementar à escrita, já que, nos dias atuais, os recursos visuais têm ganhado relevância na comunicação.
Aliás, você deve ter notado que muitas informações no suporte digital, isto é, a tela, são representadas por
ícones, não é mesmo?
Você quer ler?
No artigo , de Gislaine Hipertexto e Gêneros Digitais: Modificações no Ler e Escrever?
Gracia Magnabosco, são discutidas as transformações que a internet trouxe para a leitura 
e para a escrita. Em seu texto, a autora enfatiza a importância do desenvolvimento de um 
letramento digital, ou seja, que os usuários sejam orientados — já na escola — sobre a 
utilização dessas ferramentas midiáticas como instrumento interativo de escrita e de 
leitura. Você pode ler o texto clicando no botão a seguir.
Acesse
http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conjectura/article/viewFile/14/13
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Figura 4 - O texto digital é composto pela mistura de diferentes modos enunciativos Fonte: Elaborado pela autora, baseado em 
XAVIER, 2002.
 #PraCegoVer Na figura, temos um esquema indicando a composição de um texto digital, em que temos 
elementos verbais, elementos visuais, links e elementos sonoros.
Assim, a hipertextualidade permite a exploração de recursos multimodais em textos conhecidos antes mesmo
da internet, como notícias, anúncios e tutoriais. Xavier (2002) chama a atenção para o fato de que, no texto
digital, os recursos multimodais coexistem — ou seja, som, imagem, texto escrito e outros recursos
disponíveis se sobrepõem e podem ser acessados de qualquer lugar a qualquer momento —, desde que haja as
condições técnicas necessárias, como a conexão com a internet.
Note que os anúncios digitais, por exemplo, são compostos poruma gama de cores, sons e imagens em
movimento, mas organizados em um determinado layout (design, esquema e arranjo), contribuem para a
produção de significados.
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Figura 5 - O suporte digital permite o uso de recursos multimodais em anúncios Fonte: Lissandra Melo, Shutterstock, 2021.
 #PraCegoVer Na figura, temos a fotografia de um local aberto, em que há uma construção com diversos tipos 
de anúncios. Também é possível observar pessoas caminhando nos arredores e barracas brancas.
A escolha e a organização desses recursos na composição do texto não ocorrem por acaso. O produtor do texto
seleciona os recursos para atender seus objetivos comunicativos e os organiza em um layout que atraia a
atenção do público-alvo. Nos anúncios da figura acima, o produto anunciado (ou algo que o represente)
aparece no centro, em posição de ênfase, enquanto que as informações verbais geralmente aparecem nas
bordas. Além disso, informações importantes — como os nomes das marcas — aparecem em destaque, com
fontes em tamanho e cores de evidência.
No entanto, vale ressaltar que isso só é possível com a coerência textual, competência extremamente relevante
para a comunicação verbal.
2.2 Coerência textual
O texto é a unidade básica da comunicação. Ao nos comunicarmos, o fazemos por meio de textos, seja um
requerimento, um pedido, uma prece, um bilhete, um anúncio, um relatório ou um artigo científico. Nesse
contexto, quando nos comunicamos, desejamos nos fazer entender pelos textos orais ou escritos que
produzimos. Da mesma forma, quem escuta ou lê um texto, qualquer que seja, procura nele um sentido.
Você quer ler?
O livro , de Ingedore Villaça Koch e Luiz Carlos Travaglia, publicado Coerência Textual
em 2009, trata do conceito de coerência, dos fatores de coerência e da relação entre 
coerência e ensino, sempre com exemplos de textos reais, o que torna a aprendizagem 
dos conceitos mais fácil e satisfatória.
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Tomaremos como objeto de análise o texto escrito por Carlos (26 anos, Ensino Superior), informante do
corpus Discurso & Gramática da cidade de Natal, ao narrar uma experiência pessoal:
A seguir, nos aprofundaremos sobre o conceito de coerência e os fatores envolvidos na interpretabilidade dos
textos, como no da citação anterior.
2.2.1 O que é coerência?
A coerência diz respeito à construção dos sentidos no texto, à sua interpretabilidade. Segundo Koch e
Travaglia (2009), embora existam textos com problemas de coerência, não existem textos totalmente
incoerentes, visto que, logicamente, todos desejam ser compreendidos. Portanto, essas incoerências
localizadas podem ser superadas por meio da reescrita.
Na fala, esse processo pode ser realizado com a correção verbal, como quando explicamos uma informação
mal interpretada usando outras palavras, de forma a deixá-la mais clara.
Eu ia para Pium em um jipe sem capota, aqueles de praia, com o meu irmão, meu pai, a empregada, que
ia grávida, e o motorista. Fui pela manhã e quando cheguei lá o pessoal tomou umas cervejas o dia todo,
quando foi à tarde, quase à noite nós saímos de Pium e quando vínhamos na BR 101 próximo à fábrica
Soriedem aconteceu o acidente. Nós vínhamos à esquerda da BR e um ônibus da empresa Nordeste pediu
para ultrapassar, porque as ultrapassagens são feitas pela esquerda, mas o motorista não, passou pela
direita, então o ônibus passou pela direita e trancou a gente e jogou todo mundo na estrada. Ficou todo
mundo espalhado pela BR 101, a sorte da gente foi que não passou nenhum carro na hora, apesar de ser
um horário de muito trânsito. Passaram alguns carros e nos socorreram na hora. Meu pai teve escoriações
leves pelo corpo, meu irmão, a empregada e o motorista também, apesar do motorista ter sofrido um
corte na testa de leve. A empregada que estava grávida mais tarde teve o menino lá em casa, nasceu vivo
e depois morreu no hospital, devido o susto que tomou. Eu fui o único que ficou internado no hospital
Valfredo Gurgel com escoriações e pancadas na cabeça, tive que fazer uma cirurgia plástica no rosto que
ficou aparecendo os ossos e as raízes dos dentes, no braço esquerdo também fiz uma plástica porque
arrastou no chão e comeu a carne. Passei mais ou menos um mês internado, só recebia visitas uma vez
por semana, eu ficava de um lado do prédio e os meus pais do outro sem poder se tocar. Fiquei em
cadeiras de rodas, porque pensava que não podia andar. Depois comecei a andar normalmente. (CUNHA,
1993, p. 13)
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Assim, a coerência é composta pelo domínio linguístico, que define a coerência interna do texto; e os
domínios pragmático e extralinguístico, que determinam a coerência externa no texto.
Domínio linguístico
No domínio linguístico, é possível perceber no texto do informante Carlos o uso coerente de recursos
gramaticais e a seleção adequada de palavras e expressões, a fim de esclarecer sobre o ocorrido, não havendo
contradição em nenhum momento. Além disso, o texto progride com novas informações sendo acrescentadas,
o que contribuiu para a progressão textual e, consequentemente, para a coerência textual.
Domínio pragmático
Já o domínio pragmático diz respeito à interação: o contexto, o tipo de ato de fala, os valores e as crenças dos
interlocutores. Assim, o texto de Carlos é coerente, visto que atende ao que é solicitado (uma narrativa de
experiência pessoal), e é adequado à situação comunicativa em questão.
Domínio extralinguístico
Por conseguinte, o domínio extralinguístico se relaciona ao conhecimento de mundo dos interlocutores e ao
conhecimento partilhado entre eles, o que confere sentido completo ao texto. Esse domínio também é
chamado de coerência externa, pois diz respeito à veracidade das informações, se elas condizem com o mundo
exterior ao qual pertence.
Desse ponto de vista, o texto produzido pelo informante é coerente, pois não contradiz o mundo real.
2.2.2 Fatores de coerência
A construção da coerência ocorre pela consonância de fatores linguísticos e extralinguísticos. Os principais
desses fatores são os elementos linguísticos, o conhecimento de mundo, o conhecimento compartilhado e a
inferência.
Você sabia?
Marcuschi (2008) considera que, sendo o texto um evento comunicativo, três aspectos se 
articulam para a produção de sentidos: aspectos linguísticos, aspectos sociais (o contexto 
sócio-histórico) e aspectos cognitivos (conhecimentos armazenados na memória dos 
participantes da comunicação).
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Sem dúvida, os elementos linguísticos são importantes para o desenvolvimento da coerência em um texto. A
seleção das palavras, sua organização sintática (em frases) e sua relação com outras palavras são pistas que
conduzem o leitor à plena interpretação dos sentidos do texto. Assim, para que possamos interpretar a escrita
com qualidade, o primeiro passo é conhecer o significado das palavras utilizadas e compreender a organização
das informações na superfície textual.
No entanto, é preciso reconhecer que o componente linguístico está apenas na superficialidade do texto, e que
a construção dos sentidos é um processo bem mais profundo, que ocorre na ativação do nosso conhecimento
de mundo. É quase impossível construir o sentido de um texto que trate de um assunto o qual desconheçamos
completamente. Para a maioria de nós, compreender um relatório técnico de viagem espacial, por exemplo,
constitui-se em uma tarefa muito complexa, pois esse tipo de experiência não faz parte de nosso conhecimento
de mundo.
Além disso, esse conhecimento de mundo ou repertório é adquirido ao longo de nossas vivências e de nossas
leituras. Essas experiências ficam arquivadas na memória e são resgatadas quando, ao nos depararmos com
um texto, procuramos sentido nas palavras a partir da semelhança do que é dito com o que já vivenciamos. No
texto em análise, Carlos relata uma ultrapassagem de carro que causou um acidente na estrada. Assim, se
tivermos o conhecimento de que toda ultrapassagem deve acontecer pela esquerda, inferimos que a
ultrapassagemforçada pela direita causou o acidente.
Dessa forma, podemos entender que o conhecimento compartilhado diz respeito ao conhecimento de
mundo comum ao produtor e ao receptor de um texto. Os participantes envolvidos em uma situação
comunicativa precisam ter o máximo de conhecimento compartilhado, a fim de que os dois se
compreendam mutuamente.
Você o conhece?
Ingedore Villaça Koch, autora alemã naturalizada brasileira, é professora do 
Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade de 
Campinas. É um dos principais expoentes da Linguística Textual no Brasil, com estudos 
sobre texto e interação por meio da linguagem. Vale a pena melhor conhecer tal 
personalidade para nos aprofundarmos em nossos estudos!
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No depoimento de Carlos, ele afirma que foi para Pium, sem apresentar mais nenhuma explicação
sobre esse termo. Isso significa que o seu interlocutor, nesse caso um entrevistador, partilha com ele o
conhecimento sobre o município de Pium, que fica na região metropolitana de Natal. Sem esse
conhecimento compartilhado, a compreensão do texto poderia ser prejudicada, pois o leitor teria
dúvidas sobre seu significado (embora linguisticamente ele saiba que se trata de nome próprio, ou seja,
possivelmente pertencente a uma pessoa ou a um lugar).
A inferência, por outro lado, é uma operação dedutiva por meio da qual o leitor chega a conclusões que não
estão explícitas no texto, mas que podem indicar um caminho para o que está implícito. Ao produzir um texto,
oral ou escrito, omitimos algumas informações que julgamos desnecessárias por considerarmos que o
interlocutor será capaz de realizar as inferências. No depoimento de Carlos, após narrar o acontecimento do
acidente, ele afirma que os feridos foram socorridos e faz uma espécie de salto para explicar o estado
hospitalar de cada um. Ele não explicita, por exemplo, como ocorreu o resgate: será que uma ambulância foi
acionada ou as próprias pessoas que passavam pelo local colocaram os feridos nos seus carros e os levaram
para suas respectivas casas? Essa informação não está explícita, mas é possível inferir, com base nas pistas
que o texto nos dá, que os feridos foram encaminhados ao hospital, menos a empregada, que deu à luz em casa.
Segundo Koch e Travaglia (2009, p. 79), “[...] todo texto assemelha-se a um iceberg – o que fica à tona, isto é,
o que é explicitado no texto, é apenas uma pequena parte daquilo que fica submerso, ou seja, implicitado”, por
isso, a coerência é considerada bem mais como um processo cognitivo do que linguístico.
A seguir, discutiremos outra competência importante para a eficiência da comunicação: a coesão textual.
2.3 Coesão textual
A coesão é a propriedade de articulação das ideias no texto. É “[...] o conjunto de estratégias de
sequencialização responsável pelas ligações linguísticas relevantes entre os constituintes articulados no texto”
(OLIVEIRA, 2017, p. 195). Em outras palavras, é o que faz do texto uma unidade, a fim de que não seja
apenas um grande emaranhado de informações desconexas.
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Figura 6 - A coesão é a ligação das ideias na tessitura textual Fonte: maradon 333, Shutterstock, 2021.
 #PraCegoVer Na figura, temos a fotografia de uma mesa de madeira com quatro peças de quebra-cabeça, 
também em madeira, se encaixando à direita.
A partir de agora, estudaremos o conceito de coesão, as estratégias utilizadas para que um texto seja
considerado coeso e falaremos da importante relação entre a coesão e a coerência textual.
2.3.1 O que é coesão?
Como dito anteriormente, a coesão é a conexão existente entre as ideias. Ela se manifesta por meio de
elementos linguísticos utilizados para relacionar as ideias, de forma a contribuir para a coerência textual. É o
caso do uso de conectivos, como preposições e conjunções, para articular as partes de um texto.
É a coesão que confere harmonia ao texto, que deixa de ser uma sequência de informações soltas e passa a
formar uma unidade de sentido. Para Koch e Travaglia (2009, p. 14), “[...] a coesão textual, mas não só ela,
revela a importância do conhecimento linguístico (dos elementos da língua, seus valores e usos) para a
produção do texto e sua compreensão e, portanto, para o estabelecimento da coerência”.
Vale destacar, contudo, que há algumas estratégias linguísticas de coesão e que se manifestam no texto que
estamos analisando como exemplificação, conforme Halliday e Hasan (1976). Vamos entender melhor sobre
essas estratégias na sequência.
Você quer ver?
O esquete em vídeo intitulado , produzido pelo grupo Porta dos Problemas Linguísticos
Fundos, trata de forma bem-humorada e exagerada os casos de uso inadequado de 
conectivos na comunicação verbal, o que interfere diretamente na coerência, podendo 
tornar o texto incompreensível. Assista clicando no botão a seguir.
Acesse
https://www.youtube.com/watch?v=j-PSnhvG5fQ&feature=youtu.be
- -14
2.3.2 Estratégias de coesão
Halliday e Hasan (1976) elencam cinco estratégias de coesão. São elas: a referência, a substituição, a elisão, a
conjunção e a coesão lexical.
Referência e anáfora
A referência é o processo de retomada ou antecipação de referentes no texto. No trecho “Eu ia para Pium em
um jipe sem capota, aqueles de praia”, o pronome “aqueles” retoma o referente citado anteriormente pela
expressão “jipe sem capota”. Esse procedimento é chamado de anáfora. A anáfora também pode ser indireta,
quando não retoma o referente em sua totalidade, mas parcialmente, como ocorre no trecho “[...] um ônibus da
empresa Nordeste pediu para ultrapassar [...], mas [...] o motorista passou pela direita e trancou a gente e
jogou todo mundo na estrada”, em que a palavra “motorista”, que retoma o referente “ônibus da empresa
Nordeste”, ainda que apenas parcialmente.
Referência e catáfora
Já no trecho “[...] na BR 101 próximo à fábrica Soriedem aconteceu o acidente”, o termo “acidente” antecipa
todo o relato posterior que descreverá o ocorrido, configurando-se como uma catáfora. A referência é
importante para o texto na medida em que contribui para sua manutenção temática e para a sequenciação de
ideias, evitando repetições excessivas e desnecessárias.
Substituição
A substituição também é um recurso eficaz na progressão textual, pois, ao substituir uma palavra ou expressão
já citada no texto, não ocorre somente a troca de um vocábulo por outro, mas novos sentidos podem surgir e
contribuir para a composição textual. No excerto “[...] então o ônibus passou pela direita e trancou a gente e
jogou todo mundo na estrada. Ficou todo mundo espalhado pela BR 101”, a expressão “BR 101” substitui a
palavra “estrada”, e – mais do que isso – especifica a informação dada anteriormente.
Elisão e anáfora zero
A elisão, ou elipse, é um processo linguístico interessante que consiste na recuperação de um referente sem
citá-lo. Esse fenômeno também é chamado de anáfora zero. Quando o informante diz que “[...] o ônibus
passou pela direita e trancou a gente e jogou todo mundo na estrada”, não se faz necessário repetir o sujeito
das ações, que é “o ônibus”, antes de cada um desses verbos. Na verdade, essa informação está clara, apesar
das omissões, evitando redundâncias.
Conjunção
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A conjunção, por sua vez, ocorre pela utilização de mecanismos coesivos que estabelecem vínculos entre
frases, sejam eles vínculos de tempo, causa, consequência, alternância, oposição, condição, finalidade, entre
outros. No trecho “[...] no braço esquerdo também fiz uma plástica porque arrastou no chão”, a palavra
“porque” estabelece uma relação de causa e consequência entre essas frases, sendo a segunda a causa da
primeira.
Coesão lexical
Por fim, a coesão lexical ocorre de forma mais sutil, pois se trata da seleção e do uso de palavras que se
relacionam entre si, articulando as ideias de maneira que a forma e o conteúdo do texto estejam
harmoniosamente organizados.
Veja o trecho:
Nele, percebemos que as informações (hospital, escoriações,

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