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Márcia Tereza Fonseca Almeida Ildisnei Medeiros da Silva Ilma Maria Fernandes Soares (Organizadores) Vol. 1 A educação na atualidade Percurso Acadêmico A educação na atualidade (vol. 1) Conselho Editorial Técnico-Científico Mares Editores e Selos Editoriais: Renato Martins e Silva (Editor-chefe) http://lattes.cnpq.br/4416501555745392 Lia Beatriz Teixeira Torraca (Editora Adjunta) http://lattes.cnpq.br/3485252759389457 Ilma Maria Fernandes Soares (Editora Adjunta) http://lattes.cnpq.br/2687423661980745 Chimica Francisco http://lattes.cnpq.br/7943686245103765 Diego do Nascimento Rodrigues Flores http://lattes.cnpq.br/9624528552781231 Dileane Fagundes de Oliveira http://lattes.cnpq.br/5507504136581028 Erika Viviane Costa Vieira http://lattes.cnpq.br/3013583440099933 Joana Ribeiro dos Santos http://lattes.cnpq.br/0861182646887979 José Candido de Oliveira Martins http://www.degois.pt/visualizador/curriculum.jsp?key=5295361728152206 Liliam Teresa Martins Freitas http://lattes.cnpq.br/3656299812120776 Marcia Tereza Fonseca Almeida http://lattes.cnpq.br/4865156179328081 Ricardo Luiz de Bittencourt http://lattes.cnpq.br/2014915666381882 Vitor Cei http://lattes.cnpq.br/3944677310190316 http://lattes.cnpq.br/4416501555745392 http://lattes.cnpq.br/3485252759389457 http://lattes.cnpq.br/2687423661980745 http://lattes.cnpq.br/7943686245103765 http://lattes.cnpq.br/9624528552781231 http://lattes.cnpq.br/5507504136581028 http://lattes.cnpq.br/3013583440099933 https://wwws.cnpq.br/cvlattesweb/PKG_MENU.menu?f_cod=F53926B302D68D4EEFD8275CA7A47362 http://www.degois.pt/visualizador/curriculum.jsp?key=5295361728152206 http://lattes.cnpq.br/3656299812120776 http://lattes.cnpq.br/4865156179328081 http://lattes.cnpq.br/2014915666381882 http://lattes.cnpq.br/3944677310190316 Percurso Acadêmico A educação na atualidade (vol.1) 1ª Edição Márcia Tereza Fonseca Almeida Ildisnei Medeiros da Silva Ilma Maria Fernandes Soares (Organizadores) Rio de Janeiro Dictio Brasil 2016 Copyright © da editora, 2016. Capa e Editoração Mares Editores Dados Internacionais de Catalogação (CIP) Percurso Acadêmico: A educação na atualidade/ Márcia Tereza Fonseca Almeida; Ildisnei Medeiros da Silva; Ilma Maria Fernandes Soares (Organizadores) – Rio de Janeiro: Dictio Brasil, 2016. 365 p. ISBN 978-85-92921-09-5 1. Análise e crítica literária. 2. Literatura I. Título. CDD 801.95 CDU 82 2016 Todos os direitos desta edição reservados à Mares Editores e seus selos editoriais Dictio Brasil é um selo editorial de Mares Editores Contato: dictiobrasil@gmail.com mailto:dictiobrasil@gmail.com Sumário Apresentação .............................................................................................. 9 Capítulo 1 - Um Ensaio Epistemológico sobre a Concepção de Educação na obra de Paulo Freire .................................................................................. 23 Capítulo 2 - A Formação do Professor de Ciências integrada à Proposta de Educação CTS ............................................................................................ 43 Capítulo 3 - O Ensino Médio e suas peculiaridades ................................ 137 Capítulo 4 -Currículo em formação ou formação em currículo: Desafios para formação docente ............................................................................ 43 Capítulo 5 - O Profissional da Educação Infantil no contexto das políticas educacionais ........................................................................................... 137 Capítulo 6 - Diferentes vozes sociais que emergem nas brincadeiras do tanque de areia ....................................................................................... 170 Capítulo 7 – Educação Infantil e inclusão escolar da pessoa com deficiência ................................................................................................................ 234 Capítulo 8 - Tecnologias assistivas: instrumentos para a inclusão dos deficientes visuais na educação básica ................................................... 257 Capítulo 9 - O ensino de Língua Portuguesa na atualidade: O que nos dizem os livros didáticos sobre a oralidade? ..................................................... 303 Capítulo 10 – Perfil dos docentes das licenciaturas no campus Erechim da UFFS: Formação e trabalho ...................................................................... 92 Capítulo 11 - A carne mais barata do mercado não é a carne negra: atividades na Educação Básica pública do DF contra o racismo ............ 286 Capítulo 12 –Como a Educação Básica se apresenta na concepção e prática dos formadores de professores ................................................................. 62 Capítulo 13 - Narrativas de professoras de Educação Infantil e a construção de suas identidades ................................................................................ 204 Sobre os Autores ..................................................................................... 355 - 9 - Apresentação A Editora Mares, através do seu Selo Editorial Dictio Brasil, traz ao público interessado na leitura e reflexão sobre temáticas relativas à educação contemporânea, o primeiro volume da obra intitulada: Percurso Acadêmico: A educação na atualidade (volume 1). Este primeiro tomo é fruto de investigações realizadas por pesquisadores de diferentes áreas e instituições que se propuseram a problematizar temas diversificados que vão desde uma análise da epistemologia presente na obra de Paulo Freire até a discussão sobre racismo em sala de aula, passando também por temas que dizem respeito ao currículo, à formação de professores, à educação inclusiva, à práticas pedagógicas lúdicas diferenciadas, e reflexões contundentes sobre a educação infantil e o ensino médio, dentre outros. Ao se predispor a publicar artigos decorrentes de investigações de temáticas educacionais relevantes no contexto contemporâneo, a presente editora, expressa sua aspiração em oferecer ao público interessado por questões pedagógicas uma diversidade de textos que possibilitam ao leitor fundamentar-se, refletir e repensar o contexto educacional na atualidade e suas próprias práticas. - 10 - Atualmente, a educação brasileira tem apresentado muitos percalços e desafios a serem enfrentados por todos nós que estamos diretamente envolvidos com as questões do ensino e da aprendizagem tanto na Educação Básica quanto no Ensino Superior. Basta olharmos com um pouco mais de atenção para percebermos nitidamente, que inúmeras são as mudanças que ocorrem no contexto atual e como essas mudanças afetam o ensino e as relações estabelecidas entre educador, educando, gestores escolares e as múltiplas demandas advindas da realidade vivenciada por esses agentes. O novo perfil dos estudantes que ingressam tanto na Educação Básica como no Ensino Superior, a presença das tecnologias de informação e comunicação, o cenário socioeconômico e as reflexões contemporâneas sobre o processo de aprendizagem têm lançado inúmeros desafios para professores e pesquisadores das diversas áreas do conhecimento. Para que a educação corresponda às necessidades e exigências apresentadas pelo mundo atual de modo a profissionalizarmos o ensino é necessário estarmos atentos a essas e outras questões que se apresentam nesse cenário que tem provocado muitas inquietações nos pesquisadores e professores. De modo que, se quisermos dar conta das demandas e exigências do mundo atual, precisamos desenvolver propostas de ensino que contribuam para a formação de profissionais críticos - 11 - para enfrentar as exigências impostas pelo cenário educacional vigente, de modo a problematizare subverter, quando possível, estas imposições. Nesse sentido, os capítulos que compõem à obra respondem a estas inquietações e apresentam reflexões pertinentes e que merecem leitura e investigação. E, nessa direção, o que conduz o movimento da escrita desta apresentação é a reconstrução, de forma breve, dos pensamentos dos organizadores partilhando das ideias dos autores que contribuíram com a publicação desta obra no que concerne aos desafios da educação frente ao cenário atual da nossa sociedade. O primeiro capítulo, intitulado Um Ensaio Epistemológico sobre a Concepção de Educação na obra de Paulo Freire, escrito pelos autores Tairone de Sousa e Jair Moisés de Sousa, entendendo que as atitudes dos sujeitos da educação, assim como os demais sujeitos, refletem suas concepções, conceitos, noções e ideias, questionam qual a concepção de conhecimento está presente na obra de Paulo Freire. Para tanto, buscaram em suas principais obras, compreender, não o conceito, mas a dinâmica da noção de conhecimento desse autor, visto que a incerteza, natural de todo ato de pensar, obscurecida pelas fragilidades dos sentidos, cria “sombras” e o conhecer se torna não o “real”, mas aquilo que pode ser interpretado. Nesse sentido, problematizam a forma como - 12 - Freire vê os sujeitos, como seres integrais, imersos na sociedade, e a sociedade imersa nos sujeitos. Os capítulos 2, 3, 4 e 5, apresentam reflexões sobre a formação de docente, embora cada um o faça pensando numa perspectiva diferente, um apresenta uma discussão relacionada ao currículo como desafio à formação de professores, outro apresenta uma discussão sobre a prática dos formadores de professores e a concepção que estes têm da educação básica, outro traz uma análise do perfil docente das licenciaturas de uma universidade específica, problematizando formação e trabalho. E ainda, outra escrita diz respeito à formação do professor de ciências numa perspectiva integrada à proposta de educação conhecida como CTS (Ciência e a Tecnologia nos assuntos da Sociedade). O capítulo 2, autoria de Eduardo Dias da Silva, Currículo em formação ou formação em currículo: Desafios para a formação docente, consiste em um estudo qualitativo interpretativista de análise documental acerca da produção publicada em artigos de periódico A Formação Docente – Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação de Professores entre os anos de 2009 a 2012. A presenta escrita faz uma análise da discussão sobre currículo e sua conexão com a formação do professor no âmbito dos cursos de licenciaturas, entendendo o currículo numa visão sociopolítica, ou seja, que busca compreender as questões curriculares como mecanismo essencial de constituição de identidades individuais e sociais atravessadas por - 13 - relações de poder. Reiterando a necessidade de não dissociar a reflexão teórica sobre currículo e sobre formação do professor da luta pela transformação das circunstâncias que vêm impedindo que ideias e teorias já formuladas se materializem nas salas de aula de nossas escolas e universidades. O capítulo 3, Como a Educação Básica se apresenta na concepção e prática dos formadores de professores, de autoria da Profa. Ilma Maria Fernandes Soares, é fruto de uma pesquisa de natureza qualitativa, que adotou como estratégia de coleta dos dados a entrevista semiestruturada realizada com onze formadores de professores, de um departamento, localizado no interior baiano, nos Cursos de Letras Vernáculas e História, de uma universidade pública do Estado da Bahia, por meio da qual verificou-se que muitos docentes exercem seu papel de modo restrito no que tange a ser exemplo de atuação profissional, pois, em suas ações e discurso transmitem uma desvalorização da escola e não contemplam o enfrentamento das fragilidades da Educação Básica por eles apontadas. Em seu texto, a autora objetiva discutir as concepções dos formadores de professores sobre a relação teoria e prática profissional, frente às exigências do currículo das licenciaturas e das políticas educacionais, os quais exigem que tal relação ocorra durante todo o percurso formativo, abrangendo todos os componentes disciplinares. A atenção entre a cultura da - 14 - Educação Básica e os conteúdos disciplinares são também analisados nesse texto. O quarto capítulo, Perfil dos docentes das licenciaturas no campus Erechim da UFFS: Formação e trabalho, de autoria do Prof. Robson Olivino Paim, partindo da compreensão de que educação escolar tem sido tomada, especialmente após a abertura democrática, como um dos canais necessários à construção da cidadania e, por consequência, aos profissionais desta área são imputadas responsabilidades que vão além do ensino dos conteúdos em si, levando à constituição de um cenário educativo novo (embora não inovador), apresenta uma análise do perfil dos professores dos cursos de licenciatura da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Erechim, estabelecendo uma problematização destes perfis em duas categorias que se relacionam: formação e trabalho. Valendo salientar que, os dados apresentados e discutidos pelo autor foram arrolados pelo GT 336 quando da primeira etapa da 1ª Conferência das Licenciaturas da UFFS37: Construindo a Política de Formação de Professores e o Fórum das Licenciaturas, etapa esta realizada no segundo semestre de 2015, visando compor um diagnóstico sobre vários aspectos da atuação docente nas licenciaturas do referido campus universitário. E, no capítulo 5, intitulado A formação do professor de Ciências integrada à proposta de educação CTS, os autores Maria da Conceição Andrade e Tairone Lima de Sousa discorrem sobre a - 15 - formação de professores de ciências considerando que a proposta de Educação CTS integrada na formação do professor de ciências é o princípio norteador para uma prática educativa e científica de qualidade, e também como forma de possibilitar um ensino de ciências que envolva a Ciência e a Tecnologia nos assuntos da Sociedade. Este trabalho parte da premissa de que a educação científica deve promover ao aluno sua inserção crítica na sociedade frente às questões que envolvem a Ciência e a Tecnologia e que a educação CTS pode oferecer os subsídios para a realização de tal aparato educacional. De acordo com os autores, as considerações acerca da formação de professores de ciências evidenciam o debate crítico acerca da importância de se ter uma boa formação inicial e continuada destes professores, ressaltando a importância da materialização de políticas públicas voltadas para a formação inicial e continuada, de modo a superar às necessidades formativas dos docentes com vistas a ensejar em sua formação a educação CTS. Os capítulos posteriores, 6, 7, 8 e 9, trazem discussões relevantes sobre a Educação Infantil, apresentando problematizações que dizem respeito às políticas educacionais para Educação Infantil, às práticas pedagógicas lúdicas, a construção das identidades das professoras de infância e ao processo de inclusão da pessoa com deficiência na Educação Infantil. Nesse sentido, o capítulo 10, complementa a discussão sobre a educação inclusiva, ao tratar das tecnologias assistivas no âmbito da educação básica, - 16 - de modo a promover a inclusão de deficientes visuais na educação básica. O capítulo 6, intitulado: O profissional da Educação Infantil no contexto das políticas educacionais, de autoria das pesquisadoras Michelle Fernandes Lima e Maria Letícia Neves, traz uma caracterização do profissional da Educação Infantil no contexto das políticas educacionais atuais, tendo como espaço de pesquisa a rede municipal de Irati (PR). Para realização da investigação, as autoras buscaram respaldo em autores que se dedicam ao tema, análise dos editais de Concurso Público para os professores da EducaçãoBásica do município de Irati (PR), contrastando estes editais às atuais leis que asseguram a carreira deste profissional, e por meio de questionários direcionados às professoras de Educação Infantil, que atuam tanto nos CMEI’s como nas escolas. O estudo constatou, segundo as pesquisadoras, que a grande maioria destas profissionais possui graduação em nível superior e especialização em diversas áreas, e que a questão do dom ainda está presente no cotidiano destas profissionais. O presente trabalho avalia ainda que a identidade profissional destas docentes bem como a valorização financeira e melhoria em suas condições de trabalho perpassa por maiores investimentos na área da educação em um contexto geral. O capítulo 7, Diferentes vozes sociais que emergem nas brincadeiras do tanque de areia, fora escrito a partir da compreensão do tanque de areia como um espaço que faz parte das - 17 - atividades realizadas na educação infantil, dada a sua importância no âmbito educacional e partindo do pressuposto de que ele contribui na socialização e trocas verbais. As autoras Viviane de Cássia Tassotti Barreira e Milena Moretto investigam que papéis sociais são assumidos pelas crianças da educação infantil nas interações ocorridas no tanque de areia e como essas crianças têm representado o mundo que as cerca. Para tal investigação, foram gravados os momentos de interação e brincadeira de 20 crianças no tanque de areia em uma escola municipal de Educação Infantil da região de Bragança Paulista. Segundo as pesquisadoras, foi possível constatar que os alunos assumem diferentes papéis sociais em suas brincadeiras e que o tanque de areia é um dos espaços em que vozes sociais emergem, vozes estas que as crianças se apropriaram na interação com o outro. O capítulo 8, intitulado Narrativas de professoras de Educação Infantil e a construção de suas identidades de autoria de Márcia Tereza Fonseca Almeida, traz o recorte de sua pesquisa de doutorado realizada com seis professoras que lecionavam nos grupos 3, 4 e 5 em um Centro Municipal de Educação Infantil da cidade de Salvador e a coordenadora pedagógica da referida instituição. Um dos objetivos da investigação foi analisar a relação entre o conhecimento teórico e a prática pedagógica das professoras e identificar em que medida as histórias de vida dessas profissionais influenciavam suas concepções e práticas na Educação - 18 - de crianças pequenas. Respaldado em estudiosos que discutem a formação de professoras de Educação Infantil e a utilização de entrevistas narrativas como instrumento de coleta de dados, o trabalho pretendeu dentre outras coisas discutir a relação entre a construção das identidades das professora de Educação Infantil e sua práxis pedagógica, tomando como base o princípio que cada docente constrói sua identidade mediada por práticas sociais específicas de acordo com a forma que cada uma se apropria do mundo circundante considerando os aspectos de sua subjetividade. O capítulo 9, de autoria dos professores Francisco Arrais Nascimento, Francisco Francinete Leite Júnior e Luciana Soares dos Santos, intitulado Educação Infantil e inclusão escolar da pessoa com deficiência, tem por objetivo compreender como a instituição de ensino pode criar ferramentas que possibilitem a inclusão de fato no espaço escolar da pessoa com deficiência. Para alcançar o objetivo proposto, metodologicamente os autores realizaram um de estudo caso, tendo como espaço uma Escola de médio porte localizada na zona rural do município de Jardim/CE. Foi constatado, através deste estudo, que o processo de inclusão da pessoa com deficiência apresenta-se como um desafio para as instituições de ensino. O capítulo 10, de certo modo, complementa a discussão iniciada no capítulo 9 no que concerne à educação inclusiva e a práticas pedagógicas e metodologias que visam a efetivação dessa - 19 - inclusão no âmbito da educação básica. Intitulado Tecnologias Assistivas: instrumentos para a inclusão dos deficientes visuais na educação básica, de autoria das professoras Miriam Alves de Oliveira e Eliane Miranda Machado, a presenta escrita defende as tecnologias assistivas em prol da inclusão dos deficientes visuais na educação básica, mostrando a relevância desses instrumentos no processo de disseminação da informação, e de inclusão no ensino regular diminuindo as barreiras informacionais encontradas pelos deficientes visuais. Para isso foi adotado pelas autoras um método sistêmico, através da pesquisa bibliográfica, que evidencia a importância do acesso à educação e a informação na construção da cidadania e da dignidade da pessoa cega ou com baixa visão. O capítulo retrata também a acessibilidade como parte integrante para a mobilidade dessas pessoas no acesso à educação, pois tem como propósito reduzir as barreiras que impossibilitam e/ou reduzem a locomoção e o acesso dos deficientes aos locais ou ambientes. O capítulo 11, de autoria do professor Eduardo Dias da Silva, intitulado A carne mais barata do mercado não é a carne negra: atividades na Educação básica pública do DF contra o racismo, objetiva indicar rumos, levantar possibilidades e favorecer discussões acerca do letramento na educação básica pública do Distrito Federal contra o racismo. Inspirados pelas leis federais 10.639/03 e 11.645/08 sobre o ensino de histórias e culturas - 20 - africana, afro-brasileira e indígena e pelas ideias advindas das teorias de novos letramentos e multiletramentos, o autor propõe nesse contexto, constituir caminhos pedagógicos capazes de indicar alternativas para a (re) construção da identidade racial dos alunos e dos professores que se quer cidadãos-críticos conscientes de seus direitos e deveres nesse caleidoscópio racial que é o Brasil. De modo que, as ações pedagógicas, exercidas de forma consciente e deliberada, se firmariam como o elo necessário para se alcançar esses objetivos. Continuando a discussão no que concerne à investigações relativas à educação básica, Ailma do Nascimento Silva e Francisco Romário Paz Carvalho problematizam o ensino de Português no contexto atual, em seu texto O ensino de Língua Portuguesa na atualidade: O que nos dizem os livros didáticas sobre a oralidade, capítulo 12 desta obra. Este estudo é resultado de reflexões desenvolvidas no projeto “O papel da Oralidade nos Manuais didáticos de Língua Portuguesa”, onde, reconhecida a sua importância, propõe-se com tal estudo visualizar como está inserida a temática na Oralidade na constituição dos Livros Didáticos, recurso que de forma mais recorrente, é utilizado pelas escolas públicas na condução do processo de ensino-aprendizagem de língua portuguesa, visando investigar como se dá a elaboração das atividades de oralidade nos livros. O estudo em pauta envolveu a análise de uma coleção de livros didáticos de Língua Portuguesa, - 21 - destinadas a crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental (volumes 1 a 4), aprovadas no PNLD (2013). E, é justificado pelos autores pelo fato de que a oralidade é o eixo de ensino menos prestigiado no currículo escolar da Educação Básica e nas práticas de ensino de todos os níveis de escolaridade. Finalizando as discussões dessa obra, o capítulo 12, intitulado O Ensino Médio e suas peculiaridades, de autoria das professoras Sônia Ferreira de Jesus e Maria Irene Miranda, apresenta parte do referencial teórico de uma pesquisa de Mestrado em Educação, tendo como objeto as dificuldades de aprendizagem e escolares no ensino médio técnico de uma escola pública federal. A pesquisa se pautou em uma perspectiva psicopedagógica, considerando a família, a escola, os profissionais que compõem a instituição e os próprios sujeitos em aprendizagem. Foram utilizados como instrumentos, a entrevista semiestruturada, a análise documentale técnicas projetivas psicopedagógicas, como o “Par Educativo” e a “Família Educativa”. Por meio da explanação desse recorte da pesquisa, as autoras mostram as peculiaridades do Ensino Médio no Brasil, ressaltando ademais os desafios vivenciados na implementação do ensino Médio Técnico Integrado. As autoras concluem que o Ensino Médio não tem uma identidade definida e passa por desafios, principalmente quanto aos objetivos de formação; ora a finalidade é propiciar a formação geral, ora a - 22 - especifica; no entanto o Ensino Médio Integrado surge como uma proposta de integração dessas duas vertentes. As falas reflexivas sobre as próprias experiências colocam em destaque a importância da reflexão crítica sobre a experiência, por vezes vista como pobre em relação à teoria e vice-versa, e das pesquisas em educação no mundo contemporâneo cuja velocidade de desenvolvimento tecnológico atinge diretamente o ambiente acadêmico. Diante da diversidade de temas e discussões presentes nessa obra e nos próximos volumes que virão, acreditamos que ela contribuirá significativamente para enriquecer os estudos no âmbito acadêmico e contribuirá como elemento motivador para repensar teorias e práticas educacionais. Nessa direção, desafiamos o leitor a emergir a dimensão polifônica, dialógica e plural no intercruzamento de vozes, corpos e escritas aqui presentes. Boa leitura! Ildisnei Medeiros da Silva Ilma Maria Fernandes Soares Márcia Tereza Fonseca Almeida - 23 - Capítulo 1 - Um Ensaio Epistemológico sobre a Concepção de Educação na obra de Paulo Freire Tairone Lima de Sousa1 Jair Moisés de Sousa2 Introdução: para a necessidade de uma psicanálise dos conceitos A dinâmica que articula a organização dos paradigmas em nível mental se dá, inicialmente, por meio de significados conceituais. Para Gilles Deleuze e Félix Guattari (1992), um conceito é uma cifra múltipla de vários componentes que representam um universo de contemplação, reflexão e comunicação. Ainda de acordo com esses autores, um conceito por si só, pode não representar a totalidade do significado que o enseja. Nesse aspecto, para Gaston Bachelard (2006, p. 165) “o conhecimento do real é uma luz que projeta algumas sombras”, pois um contexto de acontecimentos, cultura, experiências, relações com a história, ou seja, elementos mais pessoais que formam os conceitos são necessários para uma compreensão mais próxima do seu real sentido. 1 Mestrando em Educação, UFRN. 2 Professor Assistente na Universidade Federal de Campina Grande e Coordenador do Laboratório de Epistemologia e História da Biologia - LEHBio. Atualmente é Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. - 24 - O conhecimento cientifico é uma resposta a uma inquietação. Se não houver questão não há conhecimento científico. Nada é natural. Nada é dado. Tudo é construído pela relação do sujeito que pensa e o universo de relações que ele está inserido (BACHELARD, 1996). A compreensão dos significados dos conceitos é vital para a formação de um juízo e necessário a superação das “sombras” postas por Gaston Bachelard (1996; 2006). Para esse autor, o ato de conhecer é presidido por lentidões, conflitos e perturbações que causam estagnação, regressão e inércia, por ele denominado obstáculos epistemológicos. Na mesma linha teórica de Bachelard, Edgar Morin (2005) considera o pensamento um ato biológico, animal, humano e existencial. É em ato biológico, pois para Morin (2005) “o problema do conhecimento acha-se no coração da vida” (p. 44), sendo a organização celular uma dimensão cognitiva inscrita no programa genético vivo, mediante a qual a informação é armazenada. O conhecimento é também um ato animal e humano. Animal, pois nos organismos multicelulares pertencentes ao reino animalia, onde se encaixam os humanos, o conhecimento se processa nos aparelhos neurocerebrais. Constituídos por células nervosas denominadas neurônios, que juntas se especializam e formam o sistema nervoso (PURVES et al., 2005), aparelho biológico exclusivo desse grupo. - 25 - O conhecimento como um ato humano faz surgir uma humanidade do conhecimento. É sobretudo uma “pulsão cognitiva” que lança a vida humana para além dos horizontes do conhecimento animal, e instala nela uma nova dialética, evolutiva e multidimensional entre o cérebro, a técnica e a cultura (MORIN, 2005a). O aparecimento da consciência na história filogenética do homem permitiu “um engajamento múltiplo e total do ser concreto em todo o conhecimento” (MORIN, 2005, p. 140). Em outras palavras, filosoficamente o homem é um ser existencial, pois para Morin (2005, p. 140) a existência é definida em função da “precariedade e da incerteza próprias à vida de um ser cuja autonomia depende do meio”. Para esse autor, os aspectos da vida existencial são: a falta, o perigo, a insuficiência, as necessidades, os desejos, as inquietudes, os temores e a busca constante, tornando assim o homo sapiens cada vez mais sacudido pelas necessidades insaciáveis e os desejos infinitos. A existencialidade do conhecimento ocasionado pela humanidade e pela animalidade do ato de conhecer fez Edgar Morin (2005; 2013) e Gaston Bachelard (1996, 2006) nos alertar para a necessidade de uma psicanálise do conhecimento. Por essa razão, o reconhecimento dos obstáculos epistemológicos é essencial para a compreensão, aceitação ou negação de uma ideia, pois o “ato de - 26 - conhecer dá-se contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal estabelecidos” (BACHELARD, 1996, p. 17). Dessa ecologia entre a psique e a compreensão das coisas, somos levados e envolvidos por conceitos que marcam, dominam, conduzem e explicam nossa forma de pensar. Neles está a chave para o entendimento das proposições mais fundamentais que guiam as compreensões dos sujeitos e representam sua forma de ver e entender o mundo que o cercam. No presente trabalho temos o fito de apresentar a concepção freireana sobre a construção conhecimento por meio da noção de conhecimento desse autor. Como o sujeito constrói o conhecimento? Quais elementos são indispensáveis nessa construção dentro da concepção freireana de conhecimento? Nesse sentido, este trabalho se caracteriza como um estudo bibliográfico e por uma pesquisa qualitativa, apresentando um estudo das principais obras de Paulo Freire, objetivamos retirar da obra freireana a noção de conhecimento, e como ele é construído pelos sujeitos no processo educacional. Conhecimento e educação Desde seus primórdios o homem produz conhecimento, o fogo, o arco e flecha, a lança, o cobertor para se proteger do frio, a agricultura etc., ele produz com tudo isto sua história e sua cultura. - 27 - Todo o conhecimento produzido pelo homem nasceu de uma necessidade ontológica, física, espiritual ou psicológica. Tendo em vista sua historicidade, o homem necessita apropriar-se dos meios culturais dos seus antepassados, proporcionando a vivacidade da sua cultura, e enquanto se apropriam irão também produzindo suas próprias formas de comportamento culturais, reinventado seus modos de agir. A escola vem sendo palco deste “lugar de debates”, de saberes e de cultura, é por meio desta que o homem apropria-se de sua história e nela e com ela também produz novos significados. A educação é por onde o homem repassa e constrói/reconstrói seus conhecimentos às gerações subsequentes. O conhecimento é, portanto, algo inerente à historicidade do homem. É o seu maior legado. Segundo Paulo Freire, o homem é histórico, ele estar no mundo e com o mundo, e é por meio de sua intervenção no mundo que ele o conhece, o transforma e por ele também é transformado.[...] Ao ser produzido, o conhecimento novo supera outro que antes foi novo e se fez velho e se “dispõe” a ser ultrapassado por outro amanhã*. Daí que seja tão fundamental conhecer o conhecimento existente quanto saber que estamos abertos e aptos à produção do conhecimento ainda não existente. Ensinar, aprender e pesquisar lidam com esses dois momentos do ciclo gnosiológico: o em que se ensina e se aprende o conhecimento já existente - 28 - e o em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente. A “do- discência” – docência-discência – e a pesquisa, indicotomizáveis, são assim práticas requeridas por estes momentos do ciclo gnosiológico (FREIRE, 2005, p.28). A produção do conhecimento segundo Freire, perpassa então dois momentos do ciclo gnosiológico, conhecer o que já se conhece, mas também estarmos abertos a produzir um novo conhecimento, e para que isso seja concretizado, a educação é o meio pelo qual se produz e se repassa todo este conhecimento histórico produzido pelo homem às gerações futuras, e a escola é a instituição responsável por tal objetivo. Para Freire (1996), o ensino e a pesquisa são indissociáveis desse processo, pois proporcionam esta produção. Além disso, a do-discência, expressão cunhada por Freire, é fundamental neste processo, para ele não há como desvincular o ensino do aprendizado, afirma o mesmo que o professor será sempre aluno ao proporcionar um ensino vinculado à pesquisa e a promoção da curiosidade do educando. E o homem, segundo Freire, consegue construir conhecimento pela sua capacidade de ser um sujeito “curioso” e de “ad-miração” do mundo, que consiste na sua capacidade de abstrair criticamente de sua realidade e voltar-se para ela com um olhar crítico e diferente de sua situação primeira. Então, é essa capacidade do homem de sujeito curioso e de ad-mirar-se que o coloca na condição de conhecedor, pois o coloca em estado - 29 - constante de interação, favorecendo sua objetivação e a sua captação do saber do mundo real. Para Pereira (2010, p.65), é justamente essa capacidade de abstração que oferece ao homem conhecer e objetivar melhor o mundo. Esta busca pelo conhecimento perpassa um ponto nodal no pensamento freireano, por que o homem em sua busca por compreender o mundo, de conhecê-lo, ad-mirá-lo e objetivá-lo, não faz isso na individualidade, sozinho, mas em reciprocidade e dialeticamente com o outro, por que isso é parte indissociável de sua condição humana: a de ser sujeito histórico e dialógico. O homem por naturalidade é sócio-histórico e por isso mesmo não há como ele apreender e compreender a realidade e nem como haver conhecimento se não houver, como sinalizou Freire, a comunicação e o diálogo entre ambos os sujeitos que compõem esta história, ou seja, a comunicação é intrínseca e ontologicamente parte do homem. Só existe conhecimento do mundo quando existe um pensamento mútuo e compartilhado deste mundo por ambos os sujeitos que se inter-relacionam e se inter-comunicam. O conhecimento para Freire é então um ato gnosiológico entre sujeitos, que estão no mundo para conhecê-lo e para transformá-lo. Não há, portanto, produção de conhecimento se não existir reciprocidade, amor e fé no mundo e nos homens. Não há produção de conhecimentos se a prática da educação for imposição - 30 - de ideias, de palavras de um para o outro. A educação é uma via de mão dupla, é horizontal e não vertical. Professor e aluno são partícipes do processo de ensinar e aprender. Mas, o que se vê na prática da educação, segundo Paulo Freire, é uma educação que não favorece o encontro dos homens mediados pelo mundo, que não favorece a curiosidade do educando nem o reconhecimento da igualdade entre educador e educando. É este tipo de educação que necessita ser problematizada. Passaremos então a analisá-la no próximo tópico. Educação Bancária como negação do homem Produzir conhecimento segundo Freire, é assumir uma postura curiosa em frente ao mundo, e isso só é possível por que o homem é um ser inconcluso. Por isso o homem só produz conhecimento por que necessita suprir suas necessidades, e se reconhece como um ser inacabado, tornando-se um ser curioso. Educação para Freire é: uma resposta da finitude da infinitude. A educação é possível para o homem porque este homem é inacabado e sabe-se inacabado isto leva-o a sua perfeição. A educação, portanto, implica numa busca realizada por um sujeito que é o homem. O homem deve ser sujeito de sua própria educação. Não pode ser objeto dela por isso ninguém educa ninguém (FREIRE 2007, p. 28). - 31 - A educação em Paulo Freire perpassa uma concepção de construção do conhecimento pelo sujeito, sendo este conhecimento fruto da necessidade do homem em buscar suprir sua incompletude, por se reconhecer inacabado. Por isso a educação nesta ótica, surge e se constrói pelo próprio homem, pela sua própria busca. Ela é, portanto, produto histórico deste ser incompleto que busca sentido para sua existência, é objeto seu e não do outro. Para Edgar Morin (2012), os sujeitos seguem o princípio “hologramático” e estão inseridos em organizações complexas, em que não apenas a parte está no todo, ou seja, na relação entre sujeito e cultura, como o todo está inscrito na parte, cultura e sujeito. Por esse princípio o homem não pode ser visto como fragmento de seu mundo, pois a sociedade está presente no sujeito, e o sujeito está presente na sociedade. Entretanto, ser curioso não é suficiente para o homem buscar o conhecimento da sua realidade, como afirma Pereira (2010, p.67). Devemos considerar o homem histórico, que participa de um determinado momento sócio-histórico, e que, portanto, estar em meio a relações sociais complexas, que influenciam na condição ontológica de seu ser. [...] Seu estar no mundo com os outros homens, suas intrincadas relações sociais, não assegura um “estar consciente” ou um estar pleno que obrigatoriamente seria “dialético”. A dinamicidade das relações sociais, o permanente devir, a inconclusão própria do ser humano, a possibilidade de negação humana de sua - 32 - vocação ontológica do ser mais, de desumanizar- se, as construções sociais opressivas e dominadoras delineariam um horizonte sempre mutante da experiência humana e isto revela, por outro lado, a mutação constante porque passa o conhecimento e o ato de conhecer como um ato humano e sócio-histórico (Idem). Devemos levar em consideração, portanto, as relações sociais que negam ao homem sua condição histórica e ontológica, o ser curioso não favorece por si só o desvelamento ad-mirado da realidade. Freire destaca, segundo a autora, que aliado a isso, o homem tem que ser um ser da busca e do esforço. Ser inacabado é o que o faz educável, mas se reconhecer como tal é o que o faz buscar a completude, é então a consciência do inacabamento que faz do homem um ser a priori conhecedor de si e do mundo. É esse perceber-se em sua finitude que faz do homem um ser da busca, exigindo-lhe “esforço, luta, ação, superação da indiferença e da passividade, enfrentamento, enfim. Isso, porém, ele não realiza de modo solitário, pois é também naturalmente um ser social, político e de linguagem” (Ibidem, p.68). Portanto, que educação praticar? E qual estamos praticando? Esta educação tem de ser fruto de uma constante problematização da realidade do educando, favorecendo uma repensar crítico constante de sua realidade, consiste então na tarefa da dialogicidade em uma perspectiva crítica e libertadora, proposta esta defendida por Paulo Freire. - 33 - Mas, segundo Freire,o que se vê na prática da educação, é uma educação bancária, cujo objetivo primordial é depositar no educando conhecimentos e “enchê-los” de saberes que a sociedade opressora julga necessário. Por isso é que Em lugar de comunicar-se,o educador faz “comunicados” e depósitos que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a concepção “bancária” da educação, em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá- los (FREIRE, 2005, p.66). Este tipo de prática educacional é típico de uma sociedade opressora que vê na educação a maneira de manutenção de sua ideologia. O conhecimento neste tipo de educação não é produzido pelo educando, mas “depositado” nele pelo seu mestre, sem que exista significado algum com sua existência no mundo. O educando é visto como coisa, como objeto, sem vontade. Esta prática de educação, segundo Freire, nega a vocação ontológica do homem de Ser Mais, sendo que o objetivo da educação é justamente favorecer a ele a busca por sua vocação ontológica. Neste sentido, a educação adequada aos olhos da sociedade que oprime é uma educação bancária que promove a alienação do homem, não reconhece sua historicidade, e busca a conformação e manutenção do oprimido. A escola neste modo de pensar não é neutra, sendo vista como um importante instrumento de manutenção ideológica nas - 34 - mãos da classe opressora (ALTHUSSER, 1985), que reproduzindo sua ideologia e forma de interpretação da realidade, contribui veementemente para que os sujeitos tornem-se objetos. Diante disso, segundo Freire, a tarefa do educador será a de buscar a construção de uma educação problematizadora, único meio que garante ao homem a busca por realizar sua vocação ontológica. A educação bancária somente favorece a alienação e a domesticação do homem, negando, portanto, esta sua vocação ontológica, o considerando como objeto inerte ao fenômeno educativo. Neste prisma Freire (2005, p.78) irá firmar que: a educação libertadora, problematizadora, já não pode ser o ato de depositar, ou de narrar, ou de transferir, ou de transmitir “conhecimentos” e valores aos educandos, meros pacientes, à maneira da educação “bancária”, mas um ato cognoscente. Como situação gnosiológica, em que o objeto cognoscível, em lugar de ser o término do ato cognoscente de um sujeito, é o mediatizador de sujeitos cognoscentes, educador, de um lado, educandos, de outro, a educação problematizadora coloca, desde logo, a exigência da superação da contradição educador-educandos. Sem esta, não é possível a relação dialógica, indispensável à cognoscibilidade dos sujeitos cognoscentes, em torno do mesmo objeto cognoscível. A educação problematizadora não é um monólogo e nem se caracteriza apenas pela mera transmissão de saberes de quem tudo julga saber (o professor), para quem julga nada saber (o educando). - 35 - Ela favorece a prática de uma educação que supera a contradição educador-educandos, promove a conscientização dos sujeitos frente ao seu mundo, pois o desvela pela sua pronúncia, pela sua própria palavra que na educação bancária lhes é tomada, pois é seu direito existencial. A situação gnosiológica é, portanto, parte integrante de uma educação problematizadora, é o inicio do ato mesmo de conhecer, favorecendo a dialogicidade entre educador e educando, que para Freire, é indispensável à cognoscibilidade dos sujeitos que estão em frente ao mesmo objeto cognoscível para conhecê-lo. O educando na prática educativa bancária é negligenciado, não tem voz, não é sujeito. A pergunta também é negligenciada, é excluída do processo educativo, pois cabe ao educando receber passivamente todo o depósito do educador, com os conhecimentos já prontos. Porém,antes de tudo, o conhecimento começa pela pergunta, pela necessidade do homem inconcluso buscar sua completude. E se existe a pergunta é por que existe curiosidade, afirma Freire (1998). A curiosidade para Freire é o germe do conhecimento, por isso é a partir dela que o sujeito se propõe a buscar respostas para sua curiosidade, ela é então a força motriz do conhecimento. Entretanto, podemos observar que: No ensino esqueceram-se das perguntas, tanto o professor como o aluno esqueceram-nas, e no meu entender todo conhecimento começa pela pergunta. Começa pelo que você, Paulo, chama - 36 - de curiosidade. Mas a curiosidade é uma pergunta! (FREIRE, 1998, p.24). No entender de Freire toda a busca pelo conhecimento deveria começar pela pergunta, por isso, se não existir pergunta também não existirá conhecimento. Mas o que se nota é o ensino da resposta, o professor antes de tudo, já teme que o aluno pergunte, ele antes disso já traz as respostas antes mesmo de feitas às perguntas. Este tipo de educação é “castradora da curiosidade” do educando. A curiosidade do educando, é sufocada pelas respostas do professor, que desta forma não favorece a construção do conhecimento. Assim Freire defende que “o educando inserido num permanente processo de educação, tem de ser um grande perguntador de si mesmo. Quer dizer, não é possível passar de segunda a terça-feira sem se perguntar constantemente” (Idem, p.27). A educação nessa ótica tem a tarefa de proporcionar ao educando seu encontro com a pergunta, favorecendo sua curiosidade. O professor tem a tarefa de proporcionar a curiosidade de seus alunos buscando aliar em sua prática a prática da busca pelas perguntas, muito mais do que pelas respostas. O ensino proposto por Freire é justamente o ensino das perguntas. A proposta é então por uma pedagogia da pergunta e contra uma pedagogia da resposta. - 37 - E para que a educação favoreça a curiosidade do educando e consequentemente a busca pelo seu ser mais, Freire propõe então a construção do conhecimento a partir da uma perspectiva de uma educação problematizadora, aquela educação que emerge da existência do próprio educando e que a partir dos problemas enfrentados em sua realidade, problematizados, criticizados, dialogados, os façam compreendê-la em sua maior complexidade. Que sentido terá para o aluno discutir algo fora totalmente do seu contexto existencial? A tarefa do educador ganha, portanto, um novo direcionamento, não mais enxergará o educando como um simples receptáculo que necessita enchê-lo de conhecimentos. Sua tarefa agora será a de problematizar em sala de aula, os saberes que emergem da realidade de seus alunos e que transitam na prática educativa. Saberes estes que com eles são construídos e não mais lhes é imposto, mas sim, que ocorre a troca entre ambos em uma situação gnosiológica entre sujeitos cognoscentes que estão à procura de conhecer o objeto cognoscível. Conhecimento, educação e dialogicidade: últimas considerações Mas, qual o conceito de educação para Paulo Freire? A proposta freireana de educação consiste em possibilitar ao educando o desvelamento de sua situação existencial, a problematização da sua realidade favorecendo sua criticidade. - 38 - Somente assim ele conseguirá a busca do seu Ser Mais. Então, como promover uma educação problematizadora, que seja possibilitado ao educando sua curiosidade e a consequente busca do seu ser mais? Freire afirma que será por meio do diálogo profundo entre educador e educando. Como podemos observar a educação que favorece ao homem sua formação crítica e sua busca ontológica, tem que se pautar em pressupostos libertários e problematizadores de sua situação existencial. A educação bancária serve apenas para cercear a curiosidade do homem e sua constante busca de seus inacabamentos. Por isso Freire (2005) vai afirmar que não pode haver conhecimento neste tipo de educação, pois os educandos não são chamados a discutirem o conteúdo, a indagarem, a discordarem, mas sim, a memorizar o conteúdo repassado pelo professor. Pontua Freire, então, que, os educandos não realizam nenhum ato cognoscitivo, na medida em que o objeto cognoscente é de posse do educador e não faz parte de um diálogo, de uma discussão. Não háprodução de conhecimento por que o educador só comunica os seus conhecimentos ao educando. O educando somente os recebe passivo do seu mestre. Não há comunicação, há comunicados. Não existe nesta pratica bancária de educação um ciclo gnosiológico, mas um ato cognoscente apenas do educador. - 39 - Para que a educação se efetive em seu aspecto libertadora, será por meio da dialogicidade, que para Freire, é o momento de comunhão e da pronúncia do mundo pelos homens, não é apenas conversação, pois seria imposição. É o encontro dos homens mediatizados pelo mundo para pronunciá-lo. O diálogo entre os sujeitos do processo educativo é o possibilitador da curiosidade do educando, da pronúncia do mundo por eles próprios, do reconhecimento de sua condição histórica e da busca por sua vocação ontológica. A educação nesse sentido tem que ser uma educação como prática de liberdade e não uma educação que impõe uma realidade. A respeito disso, Freire acredita que somente por meio de uma educação para a conscientização que os homens alcançarão sua libertação, por que “[...] a conscientização implica, pois, que ultrapassemos a esfera espontânea de apreensão da realidade, para chegarmos a uma esfera crítica na qual a realidade se dá como objeto cognoscível e na qual o homem assume uma posição epistemológica (FREIRE, 1980, p.26). E uma educação para a conscientização apenas será efetivada se através da dialogicidade, por que O diálogo fenomeniza e historiciza a essencial intersubjetividade humana; ele é relacional e; nele, ninguém tem iniciativa absoluta. Os dialogantes “admiram” um mesmo mundo; afastam-se dele e com ele coincidem; nele - 40 - põem-se e opõem-se. Vimos que, assim, a consciência se existência e busca perfazer-se. O diálogo não é um produto histórico, é a própria historicização. É ele, pois, o movimento constitutivo da consciência que, abrindo-se para a infinitude, vence intencionalmente as fronteiras da finitude e, incessantemente, busca reencontrar-se além de si mesma (FREIRE, 2005, p.16). O diálogo é intrínseco do processo de educação libertadora, é apenas por meio dele que educador e educando pronunciam seu mundo, pronunciam sua realidade, encontram-se, e comunicam-se. A dialogicidade é parte integrante da educação como prática de liberdade ao favorecer aos sujeitos do processo educativo, a conscientização, e o acontecer do ciclo gnosiológico, proporcionando assim a produção do conhecimento. - 41 - Referências ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado: nota sobre os aparelhos ideológicos de estado (AIE). Tradução de Walter José Evangelista e Maria Laura Viveiros de Castro. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1982. 2ª edição. BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Traduzido por Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 1996. BACHELARD, Gaston. A epistemologia. Traduzido por Fátima Lourenço Godinho; Mario Carmino Oliveira. Lisboa: Edições 70, 2006. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? São Paulo: Editora 34, 1992. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2005. FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação. 3ª Ed. São Paulo: Moraes, 1980. FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 30ª Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 42ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. FREIRE, Paulo. FAUNDEZ, Antonio. Por uma pedagogia da pergunta. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998. MORIN, Edgar. O método 3: o conhecimento do conhecimento. Tradução Juremir Machado da Silva. Porto Alegre: Editora Sulina, 2005. - 42 - MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 20ª Ed. Tradução Eloá Jacobina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. PEREIRA, S.M.B. O ato pedagógico como ato gnosiológico em Paulo Freire: ensinar com uma aventura criadora. (Tese de Doutorado). UFRN, Natal, 2010. - 43 - Capítulo 2 -Currículo em formação ou formação em currículo: Desafios para formação docente Eduardo Dias da Silva3 Introdução O interesse em estudar as questões curriculares deriva de uma atenção especial em relação à conexão currículo e formação - temas que entrecruzam a trajetória dos professores - e à necessidade de questionar algumas faces dos processos educativos ligados ao currículo dos cursos de formação em licenciaturas. O currículo molda os docentes, mas é traduzido por eles mesmos, Sacristán (1998). A influência entre eles é recíproca, pois a atuação dos professores em geral, e em especial a de docentes universitários, está condicionada, em boa medida, ao papel que lhes é atribuído no desenvolvimento do currículo. O que aqui se compreende por conexão entre currículo e formação docente é que o professor é um dos mediadores decisivos entre o currículo estabelecido e os alunos (apesar de seu espaço de decisão estar prefigurado de algum modo dentro de um campo em que o professor atua, de sua instituição, da realidade local em que 3 Mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Brasília (UnB). Professor da Educação Básica na Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF). - 44 - trabalha, de suas raízes culturais e sociais). É ele, principalmente, quem vai analisar os significados mais substanciais da cultura na qual os alunos têm acesso. Diante disso, reconhecer que esse papel tem consequências no momento em que se vai pensar em modelos apropriados de formação de professores é pensar que o currículo, de algum modo, também orienta parte do tipo de formação que esse professor terá, na configuração de sua profissionalização, na sua atuação, na reconstrução dos conhecimentos e práticas prefiguradas pelos currículos escolares. Com isso, está-se apontando que discutir sobre currículo envolve também refletir sobre a formação docente, porque compreende-se a formação do professor como um campo de conhecimento, investigação e de propostas teóricas e práticas que, dentro da didática e organização escolar, estuda os processos mediante os quais os professores implicam-se, individualmente ou em equipe, em experiências de aprendizagem e por meio das quais adquirem seus conhecimentos, destrezas e disposições, que lhes permitem intervir profissionalmente no desenvolvimento de seu ensino, do currículo e da escola, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação que recebem os alunos (GARCÍA, 1995). Por isso o interesse em dirigir olhares para a análise de estudos sobre a discussão a respeito do currículo e a formação de professores, especialmente pelas seguintes questões: quais as - 45 - principais preocupações dessas produções quando o assunto é o currículo e a formação de professores? Que possibilidades, no processo de questionamento ao currículo, essas análises ajudam a apontar? O que a teoria curricular crítica sugere indagarmos com base na produção analisada? Diante disso, a pesquisa qualitativa interpretativista de análise documental (MOURA FILHO, 2000; CHIZOTTI, 2006; SANTOS, 2013; LÜDKE; ANDRÉ, 1986; FLICK, 2009) detém-se na investigação de uma temática em revista, constituindo-se do estudo da produção discursiva sobre o tema currículo e formação de professores em periódico de Educação. Isso não significa dizer que não se busca fazer a articulação com o material interno da Revista, contudo é importante evidenciar que o interesse do estudo não é analisar o papel da A Formação Docente – Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação de Professores na estruturação de seu campo. Para as pesquisas documentais qualitativas, a realidade é compreendida como fluente e contraditória, e os processos de investigação são vistos como dependentes das concepções, valorese objetivos do pesquisador, como defende Chizzotti (2006). Seguindo a mesma lógica, Moura Filho (2000) destaca que este tipo de pesquisa enfatiza a natureza da realidade socialmente construída, a relação entre o pesquisador e o contexto, e as restrições que podem ocorrer. - 46 - O valor “documental” não está intimamente ligado somente ao produto escrito, “o termo documental alude a materiais escritos, visuais ou físicos”, conforme afirma Merriam (1998, p. 112). Na análise documental há, caso necessário, a opção de analisar as informações contidas nos documentos concomitantemente com outros instrumentos de coletas (entrevistas) e/ou outros instrumentos de registros, que não foram aplicados a esta pesquisa. Em todos os casos, o primordial é que tais documentos sejam relevantes ao estudo em questão. No que tange ainda à definição de análise documental, Santos (2013) concebe que [...] é um meio de pesquisa e de geração de dados que, em pesquisas de natureza qualitativa, pode tanto servir para complementar informações já obtidas via outras técnicas quanto evidenciar novos aspectos ligados a uma temática específica (2013, p. 107). Nesta pesquisa, os documentos foram fontes que forneceram dados referentes ao tema currículo e formação de professores em periódico de Educação para serem analisados “sistematicamente”. Portanto, os documentos são como “quaisquer materiais escritos que possam ser usados como fonte de informação sobre o comportamento humano”, conforme Phillips (1974, p. 187 apud LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 38), tais quais leis, diários, jornais, revistas, discursos, livros, arquivos escolares, entre outros de acordo - 47 - com Lüdke e André (1986) e Flick (2009). Há outra definição, bastante relevante, para “documentos” que traduz melhor a concepção que se tem em relação a eles, que é a seguinte se tivermos que arcar com a natureza dos documentos, então precisaremos afastar-nos de um conceito que os considere como artefatos estáveis, estáticos e pré-definidos. Em vez disso, devemos considerá-los em termos de campos, de estruturas e de redes de ação. De fato, o status das coisas enquanto “documentos” depende precisamente das formas como esses objetos estão integrados nos campos de ação, e os documentos só podem ser definidos em relação a esses campos (PRIOR, 2003, p. 2 apud FLICK, 2009, pp. 230-231). É de se vislumbrar, a partir desta citação, que “documentos” são despidos de uma concepção estável, ou seja, eles são retirados de uma forma com molde fixo e preestabelecido, passando a significar registros escritos/visuais/auditivos inseridos em um momento sócio-histórico específico. Os significados dos documentos, nestes termos, são construídos a partir da inserção no social, momento em que “documentos” e “meio social” se relacionam dialeticamente. Os documentos enquanto discursos são restringidos pelo social, mas, também, o constitui. Assim, é nas práticas discursiva (quem produziu, onde, local de circulação, quem consome) e social - 48 - (relações de poder, ideologia, hegemonia) que os documentos são definidos. Tal concepção de documento apresentada leva a enxergá-los para além dos textos escritos em seus aspectos linguístico- estruturalistas, ajudando na tarefa de análise à medida que é lembrado de que analisar um documento é, segundo Flick, “mais do que mera análise de textos” (2009, p. 232). Portanto, na análise documental, os documentos são analisados como “dispositivos comunicativos em vez de contêineres de conteúdos” (p. 236). Formação docente e currículo: em análise A opção pelo estudo em periódicos deve-se por sua importância ser captada como instrumento privilegiado para a construção do conhecimento, constituindo-se em guia prático do cotidiano educacional e escolar, permitindo ao pesquisador estudar o pensamento pedagógico de um determinado setor ou grupo social, a partir do discurso veiculado, e a ressonância dos temas debatidos, dentro e fora do universo escolar (BASTOS, 1997). Destaca-se, como argumenta Maria Helena Camara Bastos, ao estudar a imprensa periódica educacional no Brasil (1808-1940), que esse corpus documental afigura-se como fonte privilegiada de estudo: jornais, boletins, revistas, magazines, feita por professores para professores, feita para alunos por seus pares ou professores, feita pelo Estado ou por outras instituições, como sindicatos, - 49 - partidos, associações e Igreja. O seu estudo possibilita avaliar a política das organizações, as preocupações sociais, os antagonismos e as filiações ideológicas, as práticas educativas e escolares. Na Educação, alguns estudos já têm tomado como fonte os periódicos. Focalizando o tema currículo no Brasil, um dos primeiros estudos desenvolvido sobre currículo em revistas educacionais brasileiras foi realizado por Marlucy Alves Paraíso. A autora indica, que, apesar do produtivo avanço teórico que tem ocorrido nas reflexões sobre currículo, nos últimos anos, muito ainda precisa ser estudado nessa área. Suas análises sobre a produção registrada em revistas da Educação revelam que ainda faltam estudos sobre o efeito dessas teorias curriculares críticas nas instituições educacionais brasileiras de todos os níveis (PARAÍSO, 1994). Sobre a formação de professores, recentes investigações têm focalizado esse tema com o estudo em periódicos (GODOY; SALLES, 1998; AUD, 1998; CARVALHO; SIMÕES, 1999, 2001). Um desses últimos estudos, realizado por Janete Magalhães Carvalho e Regina Helena Silva Simões, analisando as perspectivas e tendências da formação docente, registradas nas discussões de periódicos da Educação, na década de 90, aponta análises em torno de quatro eixos principais: i) a busca da articulação teoria e prática, tomando o trabalho pedagógico como núcleo fundamental desse processo; ii) a necessidade de integração entre o Estado, as agências formadoras e contratantes de profissionais de educação; iii) a construção de - 50 - competência profissional aliada ao compromisso social do professor; e iv) a exigência interdisciplinar na formação de professores (CARVALHO; SIMÕES, 2001). Este estudo ao focalizar análises sobre a conexão currículo e formação de professores, entendida aqui como uma importante relação a ser pensada entre os temas que entrecruzam a trajetória dos professores, focalizou a fonte documental no período de 2009 a 2012 (início da publicação da Revista até momentos mais recentes), em que, além de avaliar essas questões, pode penetrar em outras mais gerais, não só no que se refere a características do contexto em que os artigos se inserem (ciclo de vida Revista), como também em questões específicas relacionadas com o tema currículo e a formação de professores na A Formação Docente – Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação de Professores. A Formação Docente – Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação de Professores, publicação digital, veiculada semestralmente, é de responsabilidade editorial do Grupo de Trabalho Formação de Professores (GT08), da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd). A criação do GT08 – inicialmente denominado GT Licenciaturas – teve como cenário o final da década de 1970, início de 1980, momento histórico em que os movimentos sociais se constituíram de forma mais vigorosa e alcançaram legitimidade para abrir novos canais de debates e de participação nas decisões do Estado autoritário. - 51 - À medida que o governo militar começava a emitir difusos sinais de esgotamento, os movimentos sociais conquistaram alguma abertura democrática o que permitiu investidas, ainda que descontínuas, de novos atores que entravam em cena. Nesta ocasião, uma crise se enveredava pelas Licenciaturas visto que vigia um modelo de formação, sustentado na teoria tecnicista e atrelado ao chamadocurrículo mínimo nacional. Nesse contexto, os educadores formaram uma frente de resistência ao modelo tecnicista de formação de professores e passaram a apresentar propostas de mudanças no modelo vigente. Tais ações impulsionaram a mobilização de alguns profissionais da educação que, durante o I Encontro Nacional de Reformulação dos Cursos de Preparação de Recursos Humanos para a Educação, em Belo Horizonte, em novembro de 1983, firmaram um acordo com membros da Diretoria da ANPEd para se organizar um GT que viesse a tratar das questões que afetavam a formação de educadores. Lançada a proposta, o GT Licenciaturas se constituiu e, no ano seguinte, reuniu-se na 7ª Reunião Anual (RA) da ANPEd, em Brasília, no ano de 1984. Foram aprofundadas as discussões para elaborar propostas de formação para as licenciaturas e para o curso de Pedagogia com base nos princípios e orientações contidos no documento final do encontro nacional de Belo Horizonte e, em 1985, ocorreu, em São Paulo, a 8ª RA. Nesta, o GT estruturado de - 52 - forma mais compatível com as recomendações da ANPEd, organizou uma sessão para análise de pesquisas sobre o assunto. Em 1993, configurou-se uma nova identidade teórico- metodológica para o Grupo de Trabalho que passou a chamar-se GT08 Formação de Professores, delineando o ethos do renovado GT. As primeiras ideias sobre a Revista Formação Docente surgiram no começo da década 2000, no entanto, foi na 30ª RA que se conferiu maior materialidade à ideia e, em 2008, por ocasião do XIV Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE), em Porto Alegre, pesquisadores do GT08 encaminharam decisões substantivas sobre sua editoração. A Formação Docente pretende ser um canal de divulgação da produção na área específica, em diálogo interdisciplinar com as contribuições de pesquisas realizadas pelas áreas correlatas que tratam da mesma temática. Visa, em especial, fomentar e facilitar o intercâmbio nacional e internacional do seu tema objeto. A Revista é dirigida ao público de professores, pesquisadores e estudantes das áreas de Educação e ciências afins. Após este breve panorama histórico da revista, a tarefa de análise conduziu-se a partir da sistematização de dados acerca do periódico, em que se compreende a identificação de alguns contextos: num primeiro momento (2009 a 2010), os investimentos de participantes pela luta por um campo científico para a Educação e a preocupação da formação do professor ligada às ciências - 53 - entendidas legítimas para a Educação com os currículos devendo acompanhar essa definição; num segundo momento ( 2011 a 2012), registram-se preocupações em ampliar a discussão curricular a questões curriculares mais amplas em um processo político-social, com vistas à busca de paradigmas emergentes para a intervenção político-pedagógica dos profissionais de Educação nos diversos espaços educativos. Dos 52 artigos identificados abordando a temática currículo e formação de professores, apreendem-se alguns aspectos ligados a características dessa produção: a) quanto à classificação do tipo ou natureza do estudo: mais da metade dos artigos selecionados (29 de 52 artigos) classificam-se como apresentação de pesquisas; b) sobre a ênfase temática, 13 dos 52 artigos tratam de forma direta da temática Formação Profissional e os demais incidem análises de forma fluida entre outros temas correlacionados, como Estágio Supervisionado, Reforma Curricular; Disciplinas do Curso de Licenciatura, entre outros; c) as produções não apontam uma referência bibliográfica recorrente significativa quanto à utilização de autores curriculistas e à área de formação de professores, entretanto é possível sinalizar, a partir de 2011, o uso de produções estrangeiras, bem como de literaturas cada vez mais recentes no campo educacional. Sobre o conteúdo dos artigos, analisa-se que pouco pautaram suas associações a conceitos da discussão curricular - 54 - crítica. O método "inventado" por esta pesquisa buscou explorar cada documento (artigo) e, ao mesmo tempo, o conjunto dos documentos utilizando inicialmente o levantamento dos núcleos temáticos (com base na leitura dos resumos da produção e quando necessário, dos artigos), e também a construção das fichas de análise (dos artigos selecionados). Diante disso, foram criadas as categorias com a lógica de, a partir das perguntas centrais e norteadoras, explorar-se as fontes. Como categoria central, a unidade de registro: Currículo e Formação de Professores: uma das questões que trilham a identidade do professor. Dessa categoria, foi possível visualizar, três subunidades de registro: i) Formação do Professor nas Disciplinas e Conteúdos Curriculares; ii) Avaliação da Legislação Curricular e Teorias Curriculares no Contexto da Educação, Perfil e Características do Professor de Educação; iii) Possibilidades, Elementos Inovadores na Formação de Professores e Desafios. Os dados apontam que a análise da discussão sobre currículo e formação docente em Educação indica elementos para se pensar a identidade do professor, no que se refere à necessidade de se questionar os currículos quanto ao significado do conhecimento, das práticas pedagógicas e do perfil da formação acadêmico- profissional desenvolvido. A discussão dos dados, com base principalmente na teoria curricular crítica, identifica questões a serem pensadas sobre o currículo e a formação de professores: a) - 55 - no que se refere a analisar os estereótipos ligados ao gênero nos currículos e instituições educacionais; b) no que diz respeito a questionar os conceitos que se permitem compreender o currículo que se faz; c) ao indagar o significado das práticas pedagógicas no currículo e os elementos que precisam ser repensados neste; d) ao inquirir questões ligadas às reformulações curriculares e às possibilidades a serem pensadas nesse processo. No contexto dos temas enfatizados pelas teorias curriculares, ao discutir sobre a formação docente e currículo em Educação, considera-se como principal preocupação o ensino, especialmente relacionado com o significado das disciplinas no curso de formação de professores. As principais preocupações dessas produções, quando o assunto é o currículo e a formação de professores, consentem em admitir a necessidade de se repensar os currículos de Educação. Entre elementos pensados nesta discussão, estão a organização dos cursos, das disciplinas, dos programas e cuidados com metodologias que garantam novas relações entre universidade e escola, em um ensino reflexivo. Conforme a análise dos dados, algumas das possibilidades a serem consideradas no processo de questionamento e reformulação curricular a serem pensadas nesse contexto são a reconceptualização curricular e a indagação acerca da diferença e da diversidade. - 56 - Diante disso, é válido enunciar a necessidade de ampliar estudos na área, analisando a questão do currículo ligado a temas das teorias curriculares e a importantes categorias, como gênero, raça/etnia, geração, classe social e identidade. Nesse sentido, é relevante lembrar que uma fonte nunca está esgotada e que, enquanto houver perguntas, o material não estará suficientemente explorado, entendimento que inclui a necessidade de se estar apontando outras investigações, focalizando não só a temática aqui em pauta como outras que se referem ao trabalho com artigos da Revista A Formação Docente – Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação de Professores. Considerações finais Embora os artigos de periódicos enfatizem a necessidade de articulação entre teoria e prática, tomando o trabalho pedagógico como núcleo fundamental desse processo, a análise das pesquisas evidenciou um tratamento isolado das disciplinas específicas e pedagógicas, dos cursos de formação e da práxis, da formaçãoinicial e da continuada. Finalmente, os diversos artigos analisados mostram um excesso de discurso sobre o tema da formação docente e uma escassez de dados empíricos para referenciar práticas e políticas educacionais sobre currículo. - 57 - Partindo das discussões apresentadas, diríamos que o desafio que se impõe a qualquer docente é assumir que lhe compete gerir, inovadoramente, o currículo, para além do conjunto das disciplinas fragmentárias, mas como um todo coerente na formação dos alunos. Enfim, compreendemos que a relevância desta pesquisa para a área de currículo e da formação docente está na contribuição para a produção de conhecimento no campo teórico-curricular, favorecendo os recentes debates sobre prática curricular inovadora, os quais se lançam numa perspectiva de investigar a prática pedagógica e a formação dos professores e produzir conhecimento para a ampliação do debate educativo. Por fim, reitera-se, portanto, assim como faz Moreira (1995), a necessidade de não dissociar a reflexão teórica sobre currículo e sobre formação do professor da luta pela transformação das circunstâncias que vêm impedindo que ideias e teorias já formuladas se materializem nas salas de aula de nossas escolas e universidades. - 58 - Referências AROEIRA, K. P. Currículo e formação docente em periódico de educação física: trilhando algumas questões da identidade do professor. 2004. 380f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. Disponível em <file:///C:/Users/EDUARDO%20DIAS/Downloads/KallinePereiraAro eira.pdf> acesso em 26 de julho de 2016. AUAD, D. Os cadernos de pesquisa e a ausência da categoria gênero nos estudos sobre formação de professoras. Em: I congresso Luso- Brasileiro de História da Educação, 2., 1998. São Paulo. 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