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1 
 
 
 
 
 
 
Concurso Soldado 
PMMG 2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
‖Pessoas com metas triunfam pois sabem exatamente para onde vão‖ 
Earl Nightingale 
https://pensador.uol.com.br/autor/earl_nightingale/
 
2 
 
PROGRAMA DE MATÉRIAS CFSd/2017 
 
Língua Portuguesa e Redação: 
1. Linguagem: como instrumento de ação e interação presente em todas as 
atividades humanas; funções da linguagem na comunicação; diversidade linguística 
(língua padrão, língua não padrão). ............................................................................5 
2. Leitura: capacidade de compreensão e interpretação do contexto social, 
econômico e cultural (leitura de mundo). ..................................................................30 
3. Texto: os diversos textos que se apresentam no cotidiano, escritos nas mais 
diferentes linguagens verbais e não-verbais (jornais, revistas, fotografias, esculturas, 
músicas, vídeos, entre outros). .................................................................................44 
4. Estrutura textual: organização e hierarquia das ideias: ideia principal e ideias 
secundárias; relações lógicas e formais entre elementos do texto: a coerência e a 
coesão textual; defesa do ponto de vista: a argumentação e a intencionalidade; 
elementos da narrativa; discurso direto; discurso indireto e indireto livre; semântica: o 
significado das palavras e das sentenças: linguagem denotativa e conotativa; 
sinonímia, antonímia e polissemia.............................................................................55 
. 
 Noções de Direito Penal: 
1. Princípios Constitucionais do Direito Penal. ..........................................................95 
2. A lei penal no tempo..............................................................................................98 
3. A lei penal no espaço........................................................................................... 99 
4. Interpretação da lei penal.....................................................................................100 
5. Infração penal: espécies.......................................................................................101 
6. Excludentes de ilicitude e de culpabilidade e tipicidade.......................................124 
7. Sujeito ativo e sujeito passivo da infração penal..................................................126 
8. Tipicidade, ilicitude, culpabilidade, punibilidade...................................................127 
9. Imputabilidade penal............................................................................................139 
10. Concurso de pessoas.........................................................................................180 
11. Das Penas..........................................................................................................192 
12. Crimes contra a pessoa......................................................................................210 
13. Crimes contra o patrimônio.................................................................................221 
14. Crimes contra a administração pública...............................................................255 
 
Noções de Direito Constitucional: 
1. Dos princípios fundamentais.................................................................................287 
2. Dos direitos e garantias fundamentais (direitos e deveres individuais e 
coletivos)...................................................................................................................293 
3. Da organização do Estado (organização político-administrativa, União, Estados 
Federados, Municípios, Distrito Federal e Territórios, militares dos Estados, Distrito 
Federal e Territórios)................................................................................................319 
4. Da administração pública.....................................................................................350 
5. Da organização dos poderes (poder legislativo, poder executivo, poder 
judiciário).................................................................................................................395 
 
3 
 
6. Da defesa do Estado e das Instituições Democráticas (estado de defesa e estado 
de sítio, Forças Armadas, segurança pública)........................................................436 
 
Noções de Direito Penal Militar: 
1. Aplicação da lei penal militar...............................................................................461 
2. Do Crime.............................................................................................................465 
3. Concurso de agentes..........................................................................................469 
4. Das penas principais...........................................................................................470 
5. Das Penas acessórias.........................................................................................478 
6. Ação penal...........................................................................................................482 
7. Extinção da punibilidade......................................................................................483 
8. Dos crimes militares em tempo de paz................................................................485 
9. Dos crimes contra a autoridade ou disciplina militar............................................488 
10. Dos crimes contra o serviço e o dever militar....................................................493 
11. Dos crimes contra a Administração Militar.........................................................519 
 
Direitos Humanos 
1. Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela ONU, em 10 de 
dezembro de 1948...................................................................................................540 
2. Constituição da República Federativa do Brasil: Art. 1º, 3º ao 17, 197 ao 232. 
.................................................................................................................................544 
 3. Lei nº 9.459, de 10 de março de 1997, define os crimes de preconceito de raça e 
de cor.......................................................................................................................573 
4. Lei nº 9.455, de 07 de abril de 1997, define os crimes de tortura e dá outras 
providências.............................................................................................................573 
 5. Lei nº 9.807, de 13 de julho de 1999, estabelece normas para a organização e a 
manutenção de programas especiais de proteção a vítimas e a testemunhas 
ameaçadas: Art. 1º ao 15........................................................................................574 
6. Lei nº 10.741, de 01 de outubro de 2003, Estatuto do Idoso, Art. 1º ao 10, 15 ao 25, 
33 ao 42 e 95 ao 118...............................................................................................579 
7. Lei Estadual nº 14.170, de 15 de janeiro de 2002, determina a imposição de 
sanções a pessoa jurídica 51 por ato discriminatório praticado contra pessoa em 
virtude de sua orientação sexual............................................................................599 
8. Decreto nº 43.683, de 10 de dezembro de 2003, regulamenta a Lei Estadual nº 
14.170 de 15/01/2002.............................................................................................601 
 
Legislação Extravagante: 
1. Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/03)...................................................608 
2.Crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor (Lei nº 7.716/89)............618 
3. Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90)....................................620 
4. Juizados Especiais Criminais (Lei nº 9.099/95 e 10.259/2001)..........................6885. Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Lei nº 11.343/06). 
................................................................................................................................706 
 6. Código de Ética e Disciplina dos Militares do Estado de Minas Gerais – Lei 
Estadual 14.310/2002.............................................................................................722 
 
4 
 
7. Lei nº 4.898, de 09 de dezembro de 1965..........................................................743 
8.Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, dispõe sobre os crimes hediondos. 
........................................................................................................................ .......747 
9. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006, cria mecanismos para coibir a violência 
doméstica e familiar contra a mulher: Art. 1º ao 7º, 10 ao 12, 22 ao 24 e 34 ao 
45.............................................................................................................................750 
 
Noções de Estatística: 
1. Visão Conceitual Básica.......................................................................................768 
1.01. População ou Universo....................................................................................774 
1.02. Experimento Aleatório......................................................................................779 
1.03. Amostragem x Amostra....................................................................................821 
 
1.04. Amostragem Aleatória simples.........................................................................826 
1.05. Método Estatístico............................................................................................828 
2. Variáveis Aleatórias...............................................................................................781 
2.01. A Variável Aleatória Discreta............................................................................783 
2.02. A Variável Aleatória Contínua..........................................................................783 
2.03. A Variável Qualitativa.......................................................................................838 
3.Normas de Apresentação Tabular ........................................................................769 
3.01. Modelo de uma Tabela....................................................................................770 
3.02. Séries/Tabelas Estatísticas.............................................................................769 
3.03. Tipos de Séries Estatísticas.............................................................................845 
3.04. Estudo elementar de uma série temporal........................................................843 
3.05. As variações percentuais.................................................................................774 
4. Medidas de Tendência Central.............................................................................851 
4.01. Média Aritmética, simples e ponderada ..........................................................771 
4.02. Propriedades da Média Aritmética...................................................................771 
4.03. Vantagens da Média Aritmética.......................................................................772 
4.04. Desvantagens da Média Aritmética..................................................................772 
4.05. Média Típica ....................................................................................................773 
4.06. Média Atípica ...................................................................................................773 
4.07. Mediana............................................................................................................852 
4.08. Moda ................................................................................................................852 
5.Análise e Interpretação Matemática de Gráficos Estatísticos.................................846 
5.01. Gráfico de Colunas............................................................................................856 
5.02. Gráfico Pictórico ...............................................................................................861 
5.03. Gráfico de Setores............................................................................................858 
5.04. Gráfico de Linhas............................................................................................ 858 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Língua Portuguesa e Redação 
 
 
1. LINGUAGEM: COMO INSTRUMENTO DE AÇÃO E INTERAÇÃO PRESENTE EM TODAS 
AS ATIVIDADES HUMANAS; FUNÇÕES DA LINGUAGEM NA COMUNICAÇÃO; 
DIVERSIDADE LINGUÍSTICA (LÍNGUA PADRÃO, LÍNGUA NÃO PADRÃO) 
 
Linguagem Instrumento sem o qual seriam impossíveis a vida em sociedade e qualquer forma 
de cultura, a linguagem pode ser considerada o traço que melhor define a espécie humana. 
 
Você sabe o que é linguagem? Qual sua importância na sociedade? 
Sem linguagem, pode-se dizer o homem não é humano. Para exemplificar isso, leia a história 
de duas meninas que foram criadas por lobos: 
 
Meninas Lobas 
Na Índia, onde os casos de meninos lobos foram relativamente numerosos, descobriram-se, 
em 1920, duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma família de lobos. A 
primeira tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de 
idade, viveu até 1929. Pouco tinham de humano, e o seu comportamento era semelhante 
àquele dos seus irmãos lobos. Elas caminhavam de quatro, apoiando-se sobre os joelhos e 
cotovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés para os trajetos longos e 
rápidos. 
 
Eram incapazes de permanecer em pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre, comiam e 
bebiam como os animais, lançando a cabeça para a frente e lambendo os líquidos. Na 
instituição onde foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra; 
eram ativas e ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como lobos. Nunca 
choravam ou riam. 
 
Kamala viveu oito anos na instituição que a acolheu, humanizando- se lentamente. Ela 
necessitou de seis anos para aprender a andar e pouco antes de morrer só tinha um 
vocabulário de 50 palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos. Ela chorou pela 
primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que 
cuidaram dela e às outras com as quais conviveu. A sua inteligência permitiu- lhe comunicar-
se com outros por gestos inicialmente e, depois por palavras de um vocabulário rudimentar, 
apreendendo a executar ordens simples. 
 
As meninas Kamala e Amala foram abandonadas e viveram em isolamento — o que foi muito 
comum numa certa época na Índia, devido aos problemas sociais e econômicos de ampla 
maioria da população. A situação de viver com os lobos, se, por um lado, salvou-as da morte, 
de outro, as desumanizou, no sentido de que tinham não só deficiências nos sentidos e nos 
movimentos do corpo, mas tinham, principalmente, dificuldade nas relações com as pessoas 
e com o ambiente. 
 
Humanidade e linguagem 
A história de Kamala e Amala exemplifica como várias de nossas capacidades (algumas das 
quais mesmo tidas como "naturais" ao homem, como caminhar de pé) só são desenvolvidas 
 
6 
 
graças ao contato com outros seres humanos. Pelo fato de as duas meninas terem vivido com 
lobos, não aprenderam a falar, a usar objetos culturais (utensílios, por exemplo) e a 
desenvolver o pensamento lógico. O desenvolvimento humano e o pensamento estão inter-
relacionados com a linguagem. 
 
Realizar tarefas do cotidiano, planejar ações futuras e pensar sobre acontecimentos do 
passado são atos humanos constituídos pela linguagem e na linguagem. Emocionar-se ao ler 
um poema, identificar-se com uma personagem de ficção, gostar das cores e formas de uma 
pintura,fechar os olhos e retomar lembranças a partir da audição de uma música são atos 
humanos atravessados pela linguagem. 
 
Neste sentido, é possível afirmar que nos tornamos humanos na convivência social, por meio 
da qual não apenas sobrevivemos fisicamente (satisfação da fome, abrigo, integridade física), 
mas também, psicologicamente, o que significa proteção, segurança, afeto, conhecimentos 
etc. É no mundo da cultura que interagimos com o outro, construímos nossa identidade 
pessoal, social e desenvolvemos a linguagem. 
 
Enfim, a linguagem como interação pressupõe construção entre sujeitos que agem, por meio 
da própria linguagem. Você sabia que a palavra "texto", na sua origem está relacionada à 
ideia de tessitura ou tecido? Pensando em tudo que leu até aqui, analise o desenho a seguir, 
procurando compará-lo com a concepção de linguagem como interação social. 
 
O novelo pode ser comparado à situação de comunicação entre as pessoas e seu repertório 
linguístico? 
O tecido sendo tricotado pode ser a materialização do conceito de "texto"? A expressão 
"blábláblá" também pode representar uma conversa? Algumas vezes, até "conversa mole", a 
depender da situação, não é? Os sinais semicurvos nas extremidades das duas agulhas 
lembram sinais gráficos das histórias em quadrinhos, não é mesmo? Eles parecem dar 
movimento ao desenho, o que também pode apontar para a ideia de que um texto é 
negociação de sentidos entre as pessoas, em determinada situação de linguagem. Não há 
significação sem contexto, porque esse também constrói os sentidos. 
 
Relação entre linguagem, significação e contexto 
E o ponto de intersecção entre as duas agulhas? O que estaria indicando ele? Possivelmente, 
um ponto de contato entre as pessoas que estão na situação de linguagem, mas também 
lembram duas espadas em luta, o que pode indicar ideias em disputas. Há, assim, uma 
"arena" das palavras, no jogo social, confirmando as relações entre linguagem e poder. Você 
acredita que as palavras têm o mesmo significado, independente do lugar e das pessoas que 
as usam? Pense numa pessoa vestida de determinada maneira. Imagine-a inteira. Quem é 
ela? Como está vestida? Por que está vestida assim? Qual é o lugar em que ela está? Em 
 
7 
 
que momento/ tempo? Bem, sabemos que pessoas, em circunstâncias diferentes, usam 
roupas a depender da situação, não é mesmo? Sabemos que se vai à praia de maiô, mas não 
se vai trabalhar no escritório dessa forma. Seria inadequado, certo? 
 
Interação entre sujeitos 
Com a linguagem acontece algo bem parecido. Usamos a linguagem de forma diferente a 
depender de certas situações. Falamos de forma mais descontraída numa roda de amigos, na 
nossa casa, mas, num ambiente mais formal, numa entrevista para emprego, por exemplo, 
procuramos falar de forma mais elegante, para impressionar, para mostrar que estamos aptos 
para trabalhar, etc. 
 
Podemos afirmar que as palavras em situações diferentes, adquirem significados diversos. 
Assim também o significado de um texto está para além de suas formas, está também no 
contexto: na situação de comunicação e na relação dos interlocutores (quem fala e quem 
ouve; quem escreve e quem lê), ou seja, na interação entre as pessoas. 
 
Enfim, a linguagem não é apenas comunicação ou suporte de pensamento, é, principalmente, 
interação entre sujeitos. A linguagem é uma produção social não inocente, nem neutra, nem 
natural. A linguagem é lugar de negociação de sentidos, de ideologia, de conflito, e as 
condições de produção de um texto (para quê, o quê, onde, quem/ com quem, quando, como) 
constituem seus sentidos, para além de sua matéria formal -palavras, linhas, cores, formas, 
símbolos. 
 
Linguagem é todo sistema de expressão que permite a comunicação entre indivíduos por 
meio de signos convencionais, falados ou escritos. Por extensão, fora do âmbito linguístico, 
denomina-se linguagem todo sistema humano de comunicação baseado em determinadas 
convenções -- visuais, auditivas, tácteis etc. 
 
Todo homem é dotado da faculdade de exprimir intencionalmente sua vida interior, fato que 
resulta de condições específicas. Zoón politikón (animal social), como lhe chamou Aristóteles, 
ou Homo sapiens, de Lineu, ou Homo faber, de Bergson, o homem é principalmente Homo 
loquens. É social, sábio, obreiro, mas sobretudo falante. Nenhum ser humano, a menos que 
mergulhe em extrema idiotia, é desprovido da possibilidade de comunicar aos demais um 
pouco do que pensa e sente. 
 
Nunca se encontrou um agrupamento humano, por mais selvagem que fosse, privado dessa 
faculdade elementar. Nem se pode compreender que nos tempos primitivos a espécie 
humana se viesse a constituir em agrupamentos antes que seus membros pudessem 
expressar o que pensavam e o que sentiam. Ser homo e loquens é uma e a mesma coisa. 
Chama-se linguagem a expressão da faculdade comunicativa. 
 
Na sociedade em que vive, ou o homem se apropria de um instrumento que se lhe oferece já 
elaborado, o que é o caso comum, ou o elabora com todas as peças necessárias, o que 
sucede com os surdos-mudos. Esse instrumento de utilização coletiva é o que se chama de 
língua. Signos. Examinando-se de perto a tessitura da linguagem, verifica-se que ela é 
sempre um sistema de signos articulados. Tais signos podem ser sonoros, visuais, táteis ou 
de outra natureza. Diz-se então que a linguagem é oral, mímica, escrita etc. 
 
 
8 
 
Ordinariamente, nenhuma linguagem fica adstrita a um único campo da sensibilidade 
humana; o homem civilizado pratica uma linguagem predominantemente oral, com largas 
concessões à mímica, representada na gesticulação. Admite-se que o homem primitivo daria 
muito maior expansão à linguagem mímica, que oferece amplas possibilidades de 
comunicação. A superioridade da linguagem oral se evidencia, por exemplo, na escuridão, ou 
quando os interlocutores são incapazes de se ver. Já se observou que alguns indígenas 
americanos não podiam compreender-se bem à noite, a não ser junto à luz do fogo, por terem 
de recorrer a uma rica gesticulação. 
 
Exemplo de linguagem escrita (e, portanto, visual) é o chinês escrito, utilizado por nações que 
não se compreendem falando. Cerca de uma quarta parte da população do mundo comunica 
nessa linguagem, ainda que alguns tenham idiomas que nem são aparentados com os 
dialetos chineses. Os coreanos, que têm língua polissilábica, adotaram muito cedo os sinais 
ideográficos dos chineses, fazendo apenas algumas adaptações. No século V da era cristã, o 
mesmo sistema foi aceito pelos japoneses e entre eles reinou por muito tempo, 
até que influências europeias levassem à adoção de um silabário cujos compromissos com o 
critério antigo são mais do que evidentes. 
 
A linguagem ideográfica consiste em desenhar sinais correspondentes a ideias. A ideia de 
"homem", por exemplo, se figura por certo signo, independente do vocábulo que se possa 
ouvir. O mesmo para cada outra ideia, como "amar", "campo", "verde" etc. Conhecidos os 
valores de uma série de sinais, fica esclarecido o pensamento ou frase que se busca exprimir. 
É o mesmo que ocorre quando se escrevem números por meio de algarismos. Todos sabem 
o que significa 1999, ou MCMXCIX, qualquer que seja a língua em que o indivíduo se 
expresse. Quem não saiba o português, no entanto, não compreenderá o que venha a ser 
"mil novecentos e noventa e nove". Usam-se muitas linguagens ideográficas, limitadas a 
certos fins, como a música, a química, a astronomia. 
 
Também é visual a linguagem mímica dos surdos-mudos, em que há um gesto para cada 
ideia que se deseje transmitir. A escrita fonética da grande maioria das línguas, bem como a 
chamada linguagem dactiloscópica dos surdos-mudos educados, não é senão a visualização 
da linguagem oral. O mesmo se dá com a expressão telegráfica inventada por Morse. O 
sistema Braille, para cegos, é uma redução táctil da linguagem oral. 
 
Articulação. Noconceito da linguagem, é essencial a característica da articulação discursiva. 
A linguagem é articulada porque se compõe de signos que se ligam segundo convenções 
indiscutíveis. E é discursiva porque tais articulações se fazem em cadeia, formando um fio (ou 
frase, ou discurso) que acompanha e até certo ponto reflete a concatenação do pensamento. 
 
Um signo isolado, que exprima "perigo", como por exemplo o grito de alarme dos galináceos 
ao verem um gavião, não constitui linguagem, ainda que em certas circunstâncias possa 
constituir elemento da linguagem. No "miau" de um gato então todos os elementos 
necessários para a emissão da palavra "máiu" (que se escreve convencionalmente "maio"), 
mas o animal não pode articular esses elementos em outra ordem, pois carece da faculdade 
da linguagem. 
 
Os galos, onde quer que existam, cantam do mesmo modo; os homens, porém, falam 
diferentemente, segundo as coletividades em que se eduquem, e até imitam diferentemente a 
ave: enquanto um inglês repetirá cock-a-doodle-do, um falante do português dirá "cocorocó". 
 
9 
 
No zurro do jumento existe uma riqueza extraordinária de notas musicais, mas ele não as 
pode desarticular para articular outra frase musical que atenda a interesse de expressão. 
 
Origem. Há muito, filósofos e linguistas têm-se dedicado à questão de como e quando a 
linguagem teria surgido. No entanto, pouco se avançou nesse terreno. Para se determinar a 
origem da linguagem, seria necessário esclarecer vários pontos extremamente controversos. 
Por exemplo: falariam já, ainda que rudimentarmente, os primatas que um dia vieram a ser 
homens? Ou se tornaram homens antes de inventar a fala? Ou se transformaram em homens 
quando criaram a linguagem? 
 
Outra questão a se responder é: como seria primitivamente a linguagem? Um conjunto 
articulado de gritos e interjeições? Mas como poderiam as interjeições, que aproximam o 
homem da animalidade, passar de expressões de sentimentos a sinais ideológicos objetivos, 
a serviço do pensamento? Tem a linguagem origem na onomatopeia? Nesse caso o homem 
primitivo seria mais fino em sua capacidade auditiva do que o civilizado, que a refinou na 
música e na poesia? Pode-se, aliás, observar que as línguas modernas mais cultas são muito 
mais onomatopéicas do que as velhas, mesmo as mais elaboradas. É o caso do inglês, cuja 
capacidade imitativa é inexcedível. Trovão, trueno, tonnerre, troun, tuono são em português, 
castelhano, francês, provençal e italiano muito mais onomatopéicos do que o latim tonus. 
 
Línguas. Admite-se que primitivamente a espécie humana houvesse concretizado sua 
linguagem num sistema único de signos, possivelmente orais. No início do século XX, o 
italiano Alfredo Trombetti acreditou vislumbrar esse tronco comum e publicou L'Unitá d'origine 
del linguaggio (1905; A unidade de origem da linguagem). Mas como quer que os homens se 
disseminassem, e viessem a ocupar países estanques, criaram- se sistemas diferentes, 
denominados línguas. 
 
Língua é pois um instrumento oral de comunicação de pensamentos e sentimentos. Em Cours 
de linguistique générale (1916; Curso de linguística geral), o filólogo suíço Ferdinand de 
Saussure insiste em distinguir a "língua" daquilo a que ele chama "discurso". Disse ele: 
"Separando a 'língua' do 'discurso', separamos de uma vez: primeiro, o que é social do que é 
individual; segundo, o que é essencial do que é acessório e mais ou menos acidental." 
 
Essa tomada de posição nada acrescentou ao que já se sabia -- uma vez que "discurso" é 
aquilo que geralmente se conhece pelo nome de "linguagem" nos estudos linguísticos e 
literários --, mas teve a vantagem de salientar o papel do indivíduo na utilização desse 
instrumento social que é a "língua". Realmente, para cada indivíduo falante, a "língua" é um 
sistema já elaborado, que cumpre respeitar. Apesar disso, a "linguagem" (ou "discurso") em 
cada indivíduo falante é um princípio ativo da vontade e inteligência que intervém 
inelutavelmente na "língua" e a modifica. 
 
Como os animais e plantas, as línguas nascem, crescem, multiplicam-se e morrem. Tal 
sucede porque elas refletem a vida interior do homem. Nenhuma língua consegue manter-se 
rigorosamente a mesma numa grande extensão territorial. As modalidades que possam 
apresentar chamam-se em geral dialetos. A língua italiana apresenta diversos dialetos, 
praticamente línguas estanques (tanto assim que um siciliano não entende um veneziano, a 
menos que falem literariamente), enquanto a portuguesa é de extrema unidade, e as ligeiras 
variantes em nada prejudicam o diálogo. 
 
 
10 
 
Como o conceito de dialeto não é rigorosamente definido, diz-se às vezes que as línguas 
românicas (português, galego, castelhano, catalão, francês, provençal, italiano, romeno) são 
dialetos do latim. Não é raro ouvir-se que o galego, falado na Espanha, é dialeto do 
português, mas isso não é exato. Embora o galego esteja mais próximo do português do que 
do castelhano, trata-se de uma língua independente. 
 
Os dialetos tanto podem seguir um movimento divergente e virem a constituir línguas novas, 
como sucedeu com o latim, como podem convergir numa língua única, a exemplo do grego. 
De fato, até o século IV a.C. o grego apresentava vários dialetos literários, os quais fundiram-
se na koiné (língua comum), de que procede o atual romaico, ou grego moderno. 
 
Evolução. Muito já se falou sobre as transformações das línguas em termos da teoria 
evolucionista, como se se tratasse de organismos vivos. Pode-se, de fato, dizer que elas 
evoluem, desde que o verbo seja tomado figuradamente. 
 
Realmente, as línguas são passíveis de profundas alterações no tempo e no espaço, mas não 
se pode dizer que tais transformações representem sempre algum progresso. É evidente que 
a ação individual exerce às vezes importante papel, e hábitos particulares de pessoas 
influentes podem ser decisivos. 
 
Já se disse que o r grasseyé (uvular) francês surgiu na corte parisiense no século XVII, 
resultante da pronúncia viciosa de uma rainha estrangeira mas prestigiosa e imitada. Hábitos 
infantis não corrigidos e generalizados podem tornar-se moda de futuros adultos. O 
relaxamento e o menor esforço podem conduzir a modificações substanciais na pronúncia e 
na sintaxe. Até o habitat tem sido responsabilizado por algumas alterações. Tudo isso é 
explicação possível para as transformações linguísticas, mas não se pode verificar até que 
ponto essas causas realmente existem. 
 
Na segunda metade do século XIX, em consequência da publicação da obra de Friedrich 
Christian Diez intitulada Grammatik der romanieschen Sprachen (1836-1844; Gramática das 
línguas românicas) prevaleceu a ideia de que as línguas se modificavam segundo um 
processo biológico inelutável. Ficou demonstrado organicamente como o latim evolveu para 
importantes línguas românicas, inclusive o romeno. 
 
As leis fonéticas chamaram-se leis, como nas ciências naturais, porque foram consideradas, 
em cada ambiente, imutáveis, inflexíveis. Conforme Montesquieu definira, eram relações 
necessárias que derivavam da natureza das coisas. As exceções correspondiam a 
interferências inexplicadas, ou inexplicáveis, que não abalavam os fatos. Mas não tardou que 
surgissem os neogramáticos (Junggrammatiker), jovens que voltaram contraditoriamente a 
prestigiar princípios velhos, para os quais a analogia (como tinham sustentado os 
alexandrinos por volta do século II a.C.) era responsável pelas exceções às leis fonéticas. 
 
 Atualmente, admitem-se princípios gerais, que se observam em cada região, nas 
modificações linguísticas. Tais princípios, no entanto, são contingentes -- vigoram numa 
época, mas podem ser desprezados em outra, porque são disposições do espírito dominante. 
As línguas são um produto histórico, mas trabalhadas sempre por fatores psicológicos de 
diversas naturezas. 
 
 
11 
 
Outro ponto relacionadocom a evolução das línguas é a semântica, o estudo da evolução da 
significação dos vocábulos, que tem fortes vínculos com a história (que documenta as 
alterações) e com a psicologia (que as explica e justifica). Saussure insiste na necessidade de 
separar e classificar os fatos sincrônicos dos fatos diacrônicos, ambos observáveis nas 
línguas. "É sincrônico tudo quanto se refere ao aspecto estático de nossa ciência; diacrônico, 
tudo o que diz respeito à evolução". 
 
 Seus discípulos fizeram disso um ponto essencial nos modernos estudos de linguística. 
Como método de trabalho, a distinção é fecunda, mas a verdade é que em cada momento a 
língua apresenta elementos atuais e elementos passados, numa concomitância incômoda, do 
mesmo modo que a espécie humana tem, no concerto das nações, indivíduos que se 
convencionou chamar civilizados, e indivíduos primitivos. O presente testemunha o passado. 
Se alguém diz "depois", não pode se surpreender se seu vizinho profere "despois", como 
nossos mais recuados avós. Todos os fatos sincrônicos para a gramática de hoje são 
diacrônicos para a linguística de amanhã. 
 
Relações. As línguas não somente modificam-se por si mesmas, pois são sistemas sujeitos a 
desgastes, como também sofrem ações recíprocas, às vezes substanciais. Não se trata 
apenas de sua formação, que pode dever-se a duas ou mais línguas, como no caso do inglês 
e do persa. Depois de formadas, elas continuam a ter ação umas sobre as outras. Quanto 
maior for a área geográfica por que se divulguem, tanto maiores são as relações observáveis. 
Tais relações são sempre perceptíveis, não importa o grau de cultura dos povos que as falem. 
A cultura de um povo pode fazer sua língua influente, ainda que as influências sejam quase 
restritas ao vocabulário. 
 
No caso particular do português, com sua enorme área geográfica de expansão, registrem-se 
alguns dados: (1) o vocabulário vernáculo fundamental é constituído de palavras correntes, 
palavras cristãs (gregas, latinas e semíticas, com sentido especial), palavras germânicas 
introduzidas pelos bárbaros, e palavras árabes; (2) a esse caudal se devem juntar palavras 
das línguas primitivas, deixadas como substratos, faladas nas mesmas áreas geográficas: 
dialetos ibéricos, celtas e até gregos; (3) palavras de outras línguas praticadas nas mesmas 
áreas geográficas ocupadas, como as do tupi-guarani adotadas no Brasil; (4) palavras 
tomadas das línguas fronteiriças, como o castelhano e o galego; (5) palavras de cultura 
provenientes do latim culto, do grego, do francês, do inglês, do italiano etc. 
 
O vocabulário vernáculo fundamental é mínimo, comparado numericamente ao de cultura. Se 
este está em torno de umas cem mil palavras, aquele tem por volta de cinco mil. O vernáculo, 
contudo, tem sido o modelo, a norma afeiçoadora da língua. A tal ponto isso é verdade que o 
homem do povo, sem estudo particular, não se sente capacitado para distinguir entre o que é 
originário e o que foi adquirido. Ele não dirá que na frase que se segue todos os substantivos, 
epítetos e verbos são elementos adquiridos mais ou menos recentemente: 
 
"No amplo chalé a senhorita valsava, enquanto no jirau o tenor lanchava seu chá exótico." De 
fato, "amplo" é o latim amplus (correspondente ao português "ancho"); "chalé" é o francês 
chalet; "senhorita" é o castelhano señorita; "valsava", derivado de "valsa", é o alemão walzer; 
"jirau" procede do tupi; "tenor" é o italiano tenore; "lanchava", oriundo de "lanche", é o inglês 
lunch; "chá" é o vocábulo chinês; e "exótico" é o grego exotikós. 
 
 
12 
 
Quem tiver de classificar esta colcha de retalhos não hesitará um instante em dizer que se 
trata de um trecho em português. Existe aliás um vocabulário internacional em que, com leves 
modificações idiomáticas, se entendem os literatos, sábios, filósofos e políticos de grande 
parte da Europa e da América, desde que falem línguas latinas ou o inglês. 
 
Estrutura. Assim como o pensamento é uma associação de ideias, a língua é uma 
associação de palavras. Há mesmo um estreito paralelismo entre ambas as associações, a tal 
ponto que Aristóteles, desejando estudar as relações lógicas entre as ideias, não duvidou 
poder examinar as relações sintáticas entre as palavras. Nem é por outra razão que a análise 
sintática chegou até os dias atuais com o nome de "análise lógica". 
 
Realmente, para Aristóteles, o logos tinha dois aspectos: o interior, que se confundia com o 
pensamento, e o exterior, que era propriamente a língua. Não tardou muito, no entanto, para 
que seus discípulos separassem os dois campos de estudos, distinguindo a lógica da 
gramática. Eles verificaram que se a língua reflete o pensamento, por vezes o faz de modo 
muito imperfeito, como um espelho deformante. Se a cada ideia corresponde uma palavra, há 
palavras que não correspondem a nenhuma ideia. Não cabe, no entanto, acusar 
 
Aristóteles de grosseria de observação, e por dois motivos: primeiro, porque não parece que 
ele pretendesse escrever alguma gramática; segundo, porque, colocando-se do ponto de 
vista lógico, as palavras eram para ele os nomes (onómata) e os verbos (rhémata). Tudo o 
mais não passava de ligações (sýndesmoi). 
 
Todas as línguas são instrumentos orais, e se compõem de vocábulos. Estes, não raro, são 
extremamente complexos, mas ao espírito humano desempenham o papel de elementos 
linguísticos. Desde cedo, nos primórdios da escrita, os homens procuraram destacar os 
vocábulos, individualizando-os, separando-os por meios convencionais. O vocábulo, no 
entanto, não é geralmente um elemento simples. Compõe-se de sílabas, e estas de fonemas. 
(No chinês e em seus dialetos, todos os vocábulos são de uma única sílaba: vocábulo e 
sílaba coincidem.) 
 
Fonemas são sons elementares, alcançados com as articulações mais simples. Ainda assim, 
os registros feitos com aparelhos especializados demonstram que a simplicidade dos 
fonemas só existe na aparência. Por sua vez, os vocábulos guardam entre si relações 
estreitas e necessárias, a que se dá o nome de sintaxe. Um conglomerado sintático constitui 
a frase. 
 
O conhecimento de uma língua implica, pois, o estudo de três domínios: o léxico (que diz 
respeito ao vocabulário), o fonético (que se refere à pronúncia) e o sintático (relativo à 
construção). Além disso, cada língua tem em sua estrutura fatos particulares de suma 
importância. Nas línguas indo-europeias, como nas semíticas, os vocábulos são 
extremamente variáveis. Um verbo no português tem mais de cinquenta formas simples; no 
latim e no grego, esse número pode ser multiplicado algumas vezes. 
 
Nomes e pronomes são riquíssimos de formas. Tudo isso constitui a morfologia. Nos dialetos 
chineses, nos quais não há morfologia, pois as palavras são invariáveis, importa 
fundamentalmente conhecer a altura musical da palavra-monossílabo. Sem a altura 
conveniente, não se diz o que se quer. A palavra "má", por exemplo, conforme a nota musical 
 
13 
 
em que é proferida, pode significar "mãe", "cavalo", "linho" ou pode ser um sinal de 
interrogação. 
 
Entre algumas línguas indígenas sul-americanas há palavras que só podem ser usadas pelos 
homens, enquanto outras são privativas das mulheres. No tupi-guarani (onde o fato não é tão 
notável, talvez porque se trate de língua geral sistematizada pelos jesuítas) não há diferença 
entre "filho" ou "filha", já que não existe nela a preocupação de exprimir o sexo. Mas o pai dirá 
rayra, enquanto a mãe lhes chamará membyra. 
 
Aquisição. As crianças adquirem a linguagem por imitação dos adultos que os rodeiam e, em 
grande medida, através de jogos realizados com os sons e os vocábulos. Ao começar a 
balbuciar, a criança assimila os fonemas, e os primeiros que aprende são os oclusivos /p/, /t/, 
/k/ e o nasal /m/. A repetição de uma série de sons associados a um conteúdo dá lugar à 
aparição dos primeiros vocábulos -- geralmenteno final do primeiro ano de vida. Palavras 
como "papai" e "mamãe" procedem da linguagem infantil. 
 
A partir desse momento, a criança assimila paulatinamente todo o sistema fonológico e 
enriquece seu vocabulário, ao mesmo tempo em que desenvolve as primeiras construções 
oracionais, bastante rudimentares no início. Aos dois anos, o progresso na aquisição da 
linguagem se acelera consideravelmente, e a criança adota as normas impostas pelos 
adultos. 
 
Entre quatro e seis anos, ela domina virtualmente o idioma, embora algumas formas de 
subordinação e o emprego de certos tempos verbais só venham a ser adquiridos mais tarde, 
geralmente no período escolar. Linguagem e concepção do mundo. Cada língua reflete de 
maneira diferente o mundo no qual se acha inscrita. No vocabulário, por exemplo, é muito 
frequente o significado de uma palavra num idioma não corresponder de maneira exata ao de 
nenhuma palavra de outro, o que constitui um dos fatos que mais dificultam as traduções. 
Cada língua impõe uma determinada análise do mundo, sem que isso queira dizer que 
aprisione a mentalidade de seus falantes. 
 
A linguagem constitui também um elemento essencial de toda cultura, sem o qual ela não 
poderia existir, pois possibilita a transmissão oral ou escrita do passado de uma coletividade. 
A linguagem serve, da mesma maneira, de reflexo da cultura de um povo. Os progressos 
desta conduzem a um enriquecimento dos meios expressivos, especialmente da língua 
escrita, os quais se incorporam ao idioma e são herdados por toda a coletividade. 
 
Linguagem pode se referir tanto à capacidade especificamente humana para aquisição e 
utilização de sistemas complexos de comunicação, quanto à uma instância específica de um 
sistema de comunicação complexo . O estudo científico da linguagem, em qualquer um de 
seus sentidos, é chamado Atualmente, entre 3000 e 6000 línguas são usadas pela espécie 
humana, e um número muito maior era usado no passado. As línguas naturais são os 
exemplos mais marcantes que temos de linguagem. No entanto, ela também pode se basear 
na observação visual e auditiva, ao invés de estímulos. Como exemplos de outros tipos de 
linguagem, temos as línguas de sinais e a linguagem escrita. 
 
Os códigos e os outros tipos de sistemas de comunicação construídos artificialmente, tais 
como aqueles usados para programação de computadores, também podem ser chamadas de 
linguagens. A linguagem, nesse sentido, é um sistema de sinais para codificação e 
 
14 
 
decodificação de informações. A palavra portuguesa deriva do francês antigo langage. 
Quando usado como um conceito geral, a palavra "linguagem" refere-se a uma faculdade 
cognitiva que permite aos seres humanos aprender e usar sistemas de comunicação 
complexos. 
 
A linguagem humana enquanto sistema de comunicação é fundamentalmente diferente e 
muito mais complexa do que as formas de comunicação das outras espécies, já que se 
baseia em um diversificado sistema de regras relativas à símbolos para os seus significados, 
resultando em um número indefinido de possíveis expressões inovadoras a partir de um finito 
número de elementos. De acordo com os especialistas, a linguagem pode ter se originado 
quando os primeiros hominídeos começaram cooperar, adaptando sistemas anteriores de 
comunicação baseado em sinais expressivos a fim de incluir a teoria da mente, 
compartilhando assim intencionalidade. Nessa linha, este desenvolvimento pode ter 
coincidido com o aumento do volume do cérebro, e muitos linguistas veem as estruturas da 
linguagem como tendo evoluído a fim de servir a funções comunicativas específicas. 
 
A linguagem é processada em vários locais diferentes do cérebro humano, mas 
especialmente na área de Broca e na Área de Wernicke . Os seres humanos adquirem a 
linguagem através da interação social na primeira infância. As crianças geralmente já falam 
fluentemente quando estão em torno dos três anos de idade. O uso da linguagem tornou-se 
profundamente enraizado na cultura humana, além de ser empregada para comunicar e 
compartilhar informações. A linguagem também possui vários usos sociais e culturais, como a 
expressão da identidade, a estratificação social, a manutenção da unidade em uma 
comunidade e o entretenimento. 
 
 A palavra "linguagem" também pode ser usado para descrever o conjunto de regras que 
torna isso possível, ou o conjunto de enunciados que podem produzir essas regras. Todas as 
línguas contam com o processo de semiose que relacionam um sinal com um determinado 
significado. Línguas faladas e línguas de sinais contém um sistema fonológico que regem a 
forma como os sons ou os símbolos visuais são articulados a fim de formar as sequencias 
conhecidas como palavras ou morfemas; além de um sistema sintático para reger a forma 
como as palavras e os morfemas são utilizados a fim de formar frases e enunciados. 
 
Línguas escritas usam símbolos visuais para representar os sons das línguas faladas, mas 
elas ainda necessitam de regras sintáticas que governam a produção de sentido a partir das 
sequências das palavras. As línguas evoluem e se diversificam ao longo do tempo. Por isso, 
sendo a língua uma realidade essencialmente variável, não há formas de falar 
intrinsecamente erradas. A noção de certo e errado tem origem na sociedade, não na 
estrutura da língua. 
 
A história de sua evolução pode ser reconstruído a partir de comparações com as línguas 
modernas, determinando assim quais características as línguas ancestrais devem ter tido 
para as etapas posteriores terem ocorrido. Um grupo de idiomas que descendem de um 
ancestral comum é conhecido como família linguística. As línguas que são mais faladas no 
mundo atualmente pertencem à família indo-europeia, que inclui línguas como o Inglês, o 
espanhol, o português, o russo e o hindi; as línguas sino-tibetanas, que incluem o chinês, 
mandarim, cantonês e muitos outros; as línguas semíticas, que incluem o árabe, o amárico e 
o hebraico; e as línguas bantu, que incluem o suaíli, o Zulu, o Shona e centenas de outras 
línguas faladas em toda a África 
 
15 
 
 
AS CIÊNCIAS HUMANAS, AS CIÊNCIAS DA LINGUAGEM E A IDENTIDADE CULTURAL 
Maria Margarida de Andrade 
 
INTRODUÇÃO 
 
No mundo atual, em que a associação de todos os países numa só unidade global 
transformou-se em ideal de convivência pacífica entre os povos e globalização tornou-se 
sinônimo de progresso, cabe analisar as consequências desse movimento internacional 
diante da preservação da identidade cultural de cada povo, de cada país, e de cada indivíduo. 
 
A globalização traz implícita o ideal de união e confraternização entre os povos, porém, a 
identidade cultural deve ser preservada, ou seja, a globalização não pode excluir os aspectos 
particulares da cultura, das línguas, das tradições e costumes de cada povo. O grande 
desafio dos tempos atuais é justamente a preservação da identidade cultural frente aos 
inequívocos apelos do processo de globalização. 
 
Procura-se, neste trabalho analisar um dos aspectos desse problema, qual seja a influência 
das Ciências Humanas e das Ciências da Linguagem sobre a formação da identidade cultural. 
 
Cultura e identidade cultural 
Para estabelecer as relações entre Ciências Humanas, Ciências da Linguagem e identidade 
cultural, torna-se necessário tecer algumas considerações sobre cultura e identidade cultural. 
 
Cultura pode ser considerada como o conjunto de traços distintivos, espirituais e materiais, 
intelectuais e afetivos que caracterizam uma comunidade ou grupo social. Além das artes e 
das letras, esse conjunto abrange o modo de vida, a maneira de conviver dos membros dessa 
sociedade, os sistemas de valores, as crenças e tradições. Fazem parte da cultura aspectos 
visíveis e explícitos, como a língua, o modo de trajar, hábitos alimentares, religião e 
convenções éticas e estéticas e também aspectos invisíveis ou implícitos, como oquanto 
pode alguém atrasar-se, como expressar a dor física, que tópicos devem ser evitados numa 
conversação e outras atitudes que podem ser consideradas rudes ou inconvenientes. 
 
A cultura é um conhecimento adquirido e não se limita a grupos raciais, étnicos, como se 
cada uma dessas categorias compartilhassem, necessariamente, a mesma cultura. Os modos 
de sentir e agir, que se expressam em normas de comportamento, instituições, objetos 
artísticos, saberes transmitidos, constituem a materialização da cultura. A função básica da 
cultura é manter a coesão do grupo, resistindo às mudanças trazidas pelos processos 
econômicos e políticos, internos e externos. 
 
A cultura é dinâmica e se transforma em contato com outras culturas. Apesar de heterogênea 
e em constante mudança, as culturas são cenários de luta pelo poder e reconhecimento. 
Cada indivíduo de um grupo social precisa assegurar-se dos mesmos direitos dos outros 
membros de sua sociedade, mas ao mesmo tempo, precisa ser identificado como membro 
único, com suas necessidades, preferências, valores e particularidades. 
 
A identidade cultural pode ser considerada como uma identidade coletiva, característica de 
um grupo social que partilha as mesmas atitudes, ou seja, a identidade cultural é constituída 
 
16 
 
por sistemas de crença, atitudes e comportamentos compartilhados pelos indivíduos dentro 
de uma comunidade. 
 
A identidade é um processo de construção no tempo e no espaço. É forjada nas interações 
entre os diversos segmentos étnicos e sociais, considerados nas mais variadas formas de 
contato, informações e conhecimentos propiciados pela globalização dos padrões culturais 
escolhidos, na medida em que se relacionam com o mundo. Podem negar ou agregar valores 
àqueles já consolidados no ambiente cultural específico de cada sociedade, sugerindo uma 
situação segura de sobrevivência das tradições culturais. 
 
Manuel Carvalho (2003) aponta três acepções de identidade cultural: Para uns, com uma 
percepção objetiva, a identidade cultural de um indivíduo ou grupo definisse a partir de um 
conjunto de critérios determinantes: a origem comum, a língua, a cultura, a religião, a 
psicologia coletiva, a ligação a um território, etc. e um grupo sem estes critérios não pode 
reivindicar uma identidade cultural autêntica. Para outros, com uma percepção subjetiva, a 
identidade etnocultural não é mais que um sentimento de pertença ou uma identificação com 
uma coletividade mais ou menos imaginária. 
 
Para outros ainda, com uma percepção mais lata, a identidade de cada indivíduo não se 
restringe ou circunscreve à identificação com um grupo determinado mas é sim o somatório 
de todos os valores adquiridos ao longo da existência e está em constante construção e 
transformação. Pode-se dizer que as identidades culturais constituem-se de aspectos do 
―pertencimento‖ a culturas étnicas, raciais, religiosas e linguísticas. O ―sentimento de 
pertencer‖, decorrente do sentimento de identidade, satisfaz uma necessidade psicológica 
vital, criando uma sensação de conforto para os indivíduos. 
 
Segundo Hall (2005), o homem pós-moderno não tem uma identidade fixa ou permanente, 
assumindo diferentes identidades em momentos diferentes. Isto ocorre porque um tipo 
diferente de mudança estrutural está transformando as sociedades modernas, fragmentando 
as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que antes 
propiciavam sólidas localizações aos indivíduos. 
 
Para o autor citado, a ―crise de identidade‖ é vista como parte de um processo mais amplo de 
mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas 
e abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no 
mundo social. (Hall, 2005: 7). 
 
Gadotti (1991) acha mais adequado falar de identidade ‖étnico- cultural‖, pois ao referir-se à 
identidade de uma cultura torna-se necessário localizá-la em determinado tempo e espaço e 
no interior de um grupo étnico. Por sua vez, essa identidade estaria articulada à uma 
identidade nacional, historicamente determinada. Seria lícito afirmar que o nacionalismo é que 
cria a identidade cultural, desafiando a globalização. 
 
Em artigo sobre a tensão mal resolvida entre identidade cultural e identidade nacional, 
Bresser-Pereira (2004) relata que ―um amigo canadense e cientista político‖ afirmou que a 
identidade é forte entre os brasileiros, pois a língua comum, a raça mestiça, os imigrantes 
integrados, a arte barroca, as comidas típicas, a beleza da natureza tropical, a música, tudo 
isso torna os brasileiros conscientes do que são. 
 
 
17 
 
Observa que o Brasil é um país com forte identidade cultural, mas fraca identidade nacional. 
A identidade cultural está entranhada na sociedade, enquanto a identidade nacional é política 
e está mais relacionada com a capacidade das elites do que de seu povo, de interiorizar um 
conceito de nação. 
 
DIVERSIDADE CULTURAL E LINGUÍSTICA 
 
A moderna ideia de cultura está, desde o seu surgimento, associada à ideia de diversidade, 
passando a reunir, na mesma noção, a tradição humanista de cultivo das realizações 
consideradas superiores do espírito humano nas ciências e artes e a nova valorização, de raiz 
iluminista, da diversidade de costumes e crenças dos povos como via para o conhecimento. 
 
O conceito de diversidade cultural permite perceber-se que as identidades culturais nacionais 
não são um conjunto único e monolítico. Ao contrário, deve-se reconhecer e valorizar as 
diferenças culturais, enquanto fator importante para a coexistência harmoniosa das várias 
formas de nacionalidade. A riqueza de uma sociedade e o aumento de suas possibilidades 
vem do conhecimento do ―diferente‖, ou seja, da diversidade cultural. Em outras palavras, é a 
diversidade cultural que permite a uma sociedade buscar abordagens diferentes para seus 
problemas. Trazendo maiores possibilidades de aprendizagem, ela se torna parte da riqueza 
dessa sociedade, na medida em que valoriza a compreensão e o respeito mútuos. 
 
A diversidade cultural, portanto, enfatiza a importância do entendimento e respeito mútuos, 
essenciais em uma sociedade multicultural. No entanto, o primeiro passo para viver uma 
diversidade cultural é conhecer e valorizar a própria cultura. Segundo a psicologia social, a 
formação da identidade de um grupo é influenciada pela competência linguística e pelo uso 
de uma mesma língua. Os falantes da mesma língua frequentemente se sentem mais 
parecidos com o outro, do que aqueles que partilham o mesmo background cultural ou origem 
geográfica. 
 
Por outro lado, a diversidade linguística fornece pistas sobre a categoria do falante no mapa 
social, por esse motivo a língua e o dialeto podem ser apontados como as dimensões mais 
salientes da identidade do grupo. Entretanto, a língua, como marcador da identidade do grupo 
não pode ser diferente de outros símbolos de identificação étnica, tais como vestimentas, 
ornamentação, dança, música etc. 
 
As considerações sobre diversidade linguística levam a crer que possibilitar a um povo que 
aprenda outras línguas significa fazê-lo adquirir variados conhecimentos e desenvolver o 
pensamento crítico tão necessário para entender e resolver seus próprios problemas. 
Robinson (1977: 19) afirma que ―Pessoas confinadas a uma só cultura costumam ter grande 
dificuldade em conceitualizar outras culturas, salvo em termos de desvios da sua própria‖. 
Dominar outros idiomas, portanto, significa saber comparar as semelhanças e contrastes com 
outras culturas, valorizando as expressões culturais próprias. Vale lembrar que uma língua 
não existe separada de uma cultura que lhe corresponde e que lhe dá suporte. 
 
Influências das ciências humanas na identidade cultural 
A Ciência, no sentido lato, pode ser definida como um conjunto de conhecimentos 
socialmente adquiridos ouproduzidos, historicamente acumulados, dotados de universalidade 
e objetividade que permitem sua transmissão, e estruturados com métodos, teorias e 
linguagens próprias, que visam compreender e possivelmente orientar a natureza e as 
 
18 
 
atividades humanas. As Ciências Humanas, como a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia e 
a História, têm como objetivo de estudo o comportamento do homem e os fenômenos 
culturais humanos. 
 
O objetivo principal das Ciências Humanas é o de procurar constituir o humanismo em objeto 
de Ciência e, se não assumirem tal teoria como hipótese de trabalho, estarão negligenciando 
a mais importante de suas tarefas. Tendo como objetivo de estudo o comportamento e os 
fenômenos culturais humanos, logicamente as Ciências Humanas desempenharão papel 
fundamental na formação da identidade cultural. 
 
Talvez não seja exagero afirmar que o interesse de uma sociedade pelo cultivo das Ciências 
Humanas está diretamente associado ao grau de civilização e cultura alcançados por ela, pois 
as Ciências Humanas têm o Homem e suas atividades como objetivo principal de estudo. 
 
Linguagem e identidade cultural 
A maior parte dos conhecimentos adquiridos pelo homem pode ser armazenada segundo o 
sistema de codificação produzido pela linguagem, e só por meio da linguagem pode ser 
transmitida a outrem. Isto evidencia a importância das Ciências da linguagem na aquisição, 
armazenamento e transmissão dos conhecimentos historicamente acumulados pelo homem 
e, consequentemente, na formação de sua identidade cultural. 
 
O desenvolvimento da linguagem está visceralmente ligado ao da personalidade de cada 
indivíduo, da terra natal, da nação, da humanidade, da própria vida, constituindo-se a própria 
fonte do desenvolvimento dessas coisas. Tão relevante é a influência das Ciências da 
Linguagem na vida humana que leva o grande cientista da linguagem a se expressar do 
seguinte modo: A linguagem é o instrumento graças ao qual o homem modela seu 
pensamento, seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade e seus atos, o 
instrumento graças ao qual ele influencia e é influenciado, a base última e mais profunda da 
sociedade humana. (Hjelmslev, 1975: 1) 
 
A linguagem é a marca da personalidade, da terra natal, da nação e, ―mesmo quando é objeto 
da Ciência, a linguagem deixa de ser um fim em si mesma e torna-se um meio: meio de um 
conhecimento cujo objeto principal reside fora da própria linguagem, ainda que seja o único 
caminho para chegar até esse conhecimento, e que se inspira em fatos estranhos a este. Ela 
se torna, então, o meio de um conhecimento transcendental _ no sentido próprio, etimológico 
do termo _ e não o fim de um conhecimento imanente‖. (Hjelmslev, 1975: 2). 
 
Embora a linguagem represente apenas uma das fontes de informação relativas à identidade 
cultural e social, pode indicar o tipo de personalidade do usuário de uma língua, seus 
sentimentos, quem ele é. Alguns modos de falar são indicadores de características como 
idade, sexo, profissão, grau e tipo de educação, nação ou região de origem. Pode também 
denunciar traços da personalidade, ou seja características constantes, inferidas por meio de 
palavras empregadas, como inteligência, extroversão, neuroticidade etc. 
 
Escolhas lexicais e gramaticais aliadas aos sentidos peculiares de alguns itens e estruturas 
especiais também podem contribuir para a identificação de características particulares do 
usuário da língua. 
 
 
 
19 
 
Escola e identidade cultural 
A Escola é um espaço da construção e reconstrução simbólica, e os profissionais da 
educação também são profissionais da cultura. O ambiente escolar convive com as tradições, 
no momento em que globalização da cultura e dos padrões de comportamento instalou-se 
como tendência mundial. É na Escola que começa a ser construída a identidade social e 
cultural. Se é significativo o papel da instituição educacional, o modo como sua influência vem 
sendo exercida e como tem contribuído para a realização plena do ser humano deve estar 
presente nas bases filosóficas do sistema educacional. 
 
Questões como a exagerada ênfase na aquisição de ―conteúdos‖ e tecnologias, e a pouca 
preocupação com os fatores humanísticos, como o fomento de valores sociais, a descoberta 
do ―eu‘ e o desenvolvimento da socialização com outros membros da comunidade são apenas 
alguns pontos que ficam muito aquém do mínimo indispensável para a formação de um 
indivíduo preparado para enfrentar a vida, não só no campo profissional, mas principalmente 
no campo pessoal e afetivo. (Kramsch, In: Fórum, 2006). 
 
Conclusão 
Com base nos aspectos apresentados neste trabalho pode-se concluir: 
 
_que a história da cultura moderna descreve-se pela evolução das tensões entre o que hoje 
poderia denominar-se tendência globalizante e as expressões peculiares dos indivíduos, 
grupos ou povos. 
_ Os fundamentos culturais de uma sociedade sustentável são a diversidade cultural e a 
liberdade e autonomia dos indivíduos. 
_A identidade cultural define o que cada um é e o que diferencia os membros de uma 
sociedade uns dos outros. 
_ A preservação da cultura e da identidade desafiam os pressupostos da globalização, porém, 
há possibilidade de manter a identidade cultural, apesar dos impactos provocados pela 
globalização. Uma das medidas necessárias para que tal objetivo seja alcançado é a revisão 
das bases filosóficas do sistema educacional, revalorizando os aspectos humanistas. 
 
Funções da Linguagem e Comunicação 
As funções da linguagem apontam o direcionamento da mensagem para um ou mais 
elementos do circuito da comunicação. Qualquer produção discursiva, linguística (oral ou 
escrita) ou extralinguística (pintura, música, fotografia, propaganda, cinema, teatro etc.) 
apresenta funções da linguagem. 
 
Elementos da comunicação 
Ao elaborarmos uma redação, precisamos ter em mente que estamos escrevendo para 
alguém. Enquanto a redação literária destina-se à publicação em jornal, livro ou revista, e seu 
público é geralmente heterogêneo, a redação para vestibular tem em vista selecionar os 
candidatos cuja habilidade discursiva toma-os aptos a ingressar na vida acadêmica. 
 
Seja um texto literário ou escolar, a redação sempre apresenta alguém que o escreve, o 
emissor, e alguém que o lê, o receptor. O que o emissor escreve é a mensagem. O 
elemento que conduz o discurso para o receptor é o canal (no nosso caso, o canal é o papel). 
Os fatos, os objetos ou imagens, os juízos ou raciocínios que o emissor expõe ou sobre os 
quais discorre constituem o referente. A língua que o emissor utiliza (no nosso caso, 
obrigatoriamente, a língua portuguesa) constitui o código. 
 
20 
 
 
Assim, através de um canal, o emissor transmite ao receptor, em um código comum, uma 
mensagem, que se reporta a um contexto ou referente. 
 
Nesse mecanismo, temos: 
Num CONTEXTO, o EMISSOR (codificador) elabora uma MENSAGEM, através de um 
CÓDIGO, veiculada por um CANAL para um RECEPTOR (decodificador). 
 
Funções da linguagem 
A ênfase num elemento do circuito de comunicação determina a função de linguagem que lhe 
corresponde: 
 
ELEMENTO FUNÇÃO 
contexto _ referencial 
emissor _ emotiva 
receptor _ conativa 
canal _ fática 
mensagem _ poética 
código _ metalinguística 
 
Cada um desses seis elementos determina uma função de linguagem. Raramente se 
encontram mensagens em que haja apenas uma; na maioria das vezes o que ocorre é uma 
hierarquia de funções em que predomina ora uma, ora outra. 
 
Observe este trecho: 
Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos sobre o teclado, as 
letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão 
dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de 
toda natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a você, que está de olho na 
maquininha.O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginália, purê de 
palavras, reflexos no espelho (infiel) do dicionário. 
(Carlos Drummond de Andrade) 
 
No exemplo acima, predomina a função metalinguística (voltasse para a própria produção 
discursiva) e a poética (produz efeito estético através da linguagem metafórica); porém, 
menos evidentes, aparecem as funções referencial (evidencia o assunto) e emotiva (revela 
emoções do emissor). A classificação das funções da linguagem depende das relações 
estabelecidas entre elas e os elementos do circuito da comunicação. Esquematicamente, 
temos: 
 
 
21 
 
 
Função referencial ou denotativa 
Certamente a mais comum e mais usada no dia-a-dia, a função referencial ou informativa, 
também chamada denotativa ou cognitiva, privilegia o contexto. Ela evidencia o assunto, o 
objeto, os fatos, os juízos. É a linguagem da comunicação. Faz referência a um contexto, 
ou seja, a uma informação sem qualquer envolvimento de quem a produz ou de quem a 
recebe. Não há preocupação com estilo; sua intenção é unicamente informar. E a linguagem 
das redações escolares, principalmente das dissertações, das narrações não fictícias e das 
descrições objetivas. Caracteriza também o discurso científico, o jornalístico e a 
correspondência comercial. Exemplo: 
 
Todo brasileiro tem direito à aposentadoria. Mas nem todos têm direitos iguais. Um milhão e 
meio de funcionários públicos, aposentados por regimes especiais, consomem mais recursos 
do que os quinze milhões de trabalhadores aposentados pelo INSS. Enquanto a média dos 
benefícios aos aposentados do INSS é de 2,1 salários mínimos, nos regimes especiais tem 
gente que ganha mais de 100 salários mínimos. (Programa Nacional de Desestatização) 
 
Função emotiva ou expressiva 
Quando há ênfase no emissor (lª pessoa) e na expressão direta de suas emoções e 
atitudes, temos a função emotiva, também chamada expressiva ou de exteriorização 
psíquica. Ela é linguisticamente representada por interjeições, adjetivos, signos de pontuação 
(tais como exclamações, reticências) e agressão verbal (insultos, termos de baixo calão), que 
representam a marca subjetiva de quem fala. Exemplo: 
 
Oh? como és linda, mulher que passas 
Que me sacias e suplicias 
Dentro das noites, dentro dos dias? 
(Vinícius de Moraes) 
 
Observe que em ―Luís, você é mesmo um burro!‖, a frase perde seu caráter informativo (já 
que Luís não é uma pessoa transformada em animal) e enfatiza o emotivo, pois revela o 
estado emocional do emissor.. As canções populares amorosas, as novelas e qualquer 
expressão artística que deixe transparecer o estado emocional do emissor também 
pertencem à função emotiva. Exemplos: 
 
E aí me dá uma inveja dessa gente… 
(Chico Buarque) 
Não adianta nem tentar 
Me esquecer 
Durante muito tempo em sua vida 
Eu vou viver 
(Roberto Carlos & Erasmo Carlos) 
 
Sinto que viver é inevitável. Posso na primavera ficar horas sentada fumando, apenas sendo. 
Ser às vezes sangra. Mas não há como não sangrar pois é no sangue que sinto a primavera. 
Dói. A primavera me dá coisas. Dá do que viver E sinto que um dia na primavera é que vou 
morrer De amor pungente e coração enfraquecido. 
(Clarice Lispector) 
 
 
22 
 
Função conativa ou de apelo 
A função conativa é aquela que busca mobilizar a atenção do receptor, produzindo um 
apelo ou uma ordem. Pode ser volitiva, revelando assim uma vontade (―Por favor, eu 
gostaria que você se retirasse.‖), ou imperativa, que é a característica fundamental da 
propaganda. Encontra no vocativo e no imperativo sua expressão gramatical mais autêntica. 
 
Exemplos: 
Antônio, venha cá! 
Compre um e leve três. 
Beba Coca-Cola. 
Se o terreno é difícil, use uma solução inteligente: 
Mercedes-Benz. 
 
Função fática 
Se a ênfase está no canal, para checar sua recepção ou para manter a conexão entre os 
falantes, temos a função fática. Nas fórmulas ritualizadas da comunicação, os recursos 
fáticos são comuns. Exemplos: 
Bom-dia! 
Oi, tudo bem? 
Ah, é! 
Huin… hum… 
Alô, quem fala? 
Hã, o quê? 
 
Observe os recursos fáticos que, embora característicos da linguagem oral, ganham 
expressividade na música: 
 
Alô, alô marciano 
Aqui quem fala é da Terra. 
(Rita Lee & Roberto de Carvalho) 
Blá, Blá, Blá, Blá, Blá 
Blá, Blá, Blá, Blá 
Ti, Ti, Ti, Ti, Ti, 
Ti, Ti, Ti, Ti 
Tá tudo muito bom, bom! 
Tá tudo muito bem, bem! 
(Evandro Mesquita) 
 
Atente para o fato de que o uso excessivo dos recursos fáticos denota carência 
vocabular, já que destitui a mensagem de carga semântica, mantendo apenas a 
comunicação, sem traduzir informação. Exemplo: 
— Você gostou dos contos de Machado? 
— Só, meu. Valeu. 
 
Função metalinguística 
A função metalinguística visa à tradução do código ou à elaboração do discurso, seja 
ele linguístico (a escrita ou a oralidade), seja extralinguístico (música, cinema, pintura, 
gestualidade etc. — chamados códigos complexos). Assim, é a mensagem que fala de sua 
própria produção discursiva. Um livro convertido em filme apresenta um processo de 
 
23 
 
metalinguagem, uma pintura que mostra o próprio artista executando a tela, um poema que 
fala do ato de escrever, um conto ou romance que discorre sobre a própria linguagem etc. são 
igualmente metalinguísticos. O dicionário é metalinguístico por excelência. Exemplos: 
 
— Foi assim que sempre se fez. A literatura é a literatura, Seu Paulo. A gente discute, briga, 
trata de negócios naturalmente, mas arranjar palavras com tinta é outra coisa. Se eu fosse 
escrever como falo, ninguém me lia. 
(Graciliano Ramos) 
Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. 
(Carlos Drummond de Andrade) 
A palavra é o homem mesmo, Estamos feitos de palavras. 
Elas são a única realidade ou, ao menos, o único testemunho de nossa realidade. 
(Octávio Paz) 
 
―Anuncie seu produto: a propaganda é a arma do negócio.‖ 
Nesse exemplo, temos a função metalinguística (a propaganda fala do ato de anunciar), a 
conativa (a expressão aliciante do verbo anunciar no imperativo) e a poética (na renovação de 
um clichê, conferindo-lhe um efeito especial). 
 
Função poética 
Quando a mensagem se volta para seu processo de estruturação, para os seus próprios 
constituintes, tendo em vista produzir um efeito estético, através de desvios da norma ou de 
combinatórias inovadoras da linguagem, temos a função poética, que pode ocorrer num texto 
em prosa ou em verso, ou ainda na fotografia, na música, no teatro, no cinema, na pintura, 
enfim, em qualquer modalidade discursiva que apresente uma maneira especial de elaborar o 
código, de trabalhar a palavra. 
Exemplos: 
Que não há forma de pensar ou crer 
De imaginar sonhar ou de sentir 
Nem rasgo de loucura 
Que ouse pôr a alma humana frente a frente 
Com isso que uma vez visto e sentido 
Me mudou, qual ao universo o sol 
Falhasse súbito, sem duração 
No acabar.. 
(Fernando Pessoa) 
Observe, entretanto, que o discurso desviatório necessita de um contexto para produzir 
sensação estética, como no poema abaixo, cujo nonsense é altamente poético no contexto de 
Alice no País das Maravilhas: 
Pois então tu mataste o Jaguadarte! 
Vem aos meus braços, homenino meu! 
Oh dia fremular! Bravooh! Bravarte! 
Ele se ria jubileu. 
Era briluz. As lesmolisas touvas 
Roldavam e relvian nos gramilvos. 
Estavam mimsicais as pintalouvas 
E os momirratos davam grilvos. 
(Lewis Carrol, traduzido por Augusto de Campos.) 
Por: Renan Bardine 
 
24 
 
 
Variação linguística 
Variação linguística de uma língua é o modo pelo qual ela se usa, sistemática e 
coerentemente, de acordo com o contexto histórico, geográfico e sociocultural no qual os 
falantes dessa língua se manifestam verbalmente. É o conjunto das diferenças de realização 
linguística falada pelos locutores de uma mesma língua. Tais diferenças decorrem do fato de 
um sistema linguístico não ser unitário,mas comportar vários eixos de diferenciação: 
estilístico, regional, sociocultural, ocupacional e etário. A variação e a mudança podem 
ocorrer em algum ou em vários dos subsistemas constitutivos de uma língua (fonético, 
morfológico, fonológico, sintático, léxico e semântico). O conjunto dessas mudanças constitui 
a evolução dessa língua. 
 
A variação é também descrita como um fenômeno pelo qual, na prática corrente de um dado 
grupo social, em uma época e em certo lugar, uma língua nunca é idêntica ao que ela é em 
outra época e outro lugar, na prática de outro grupo social. O termo variação pode também 
ser usado como sinônimo de variante. Existem diversos fatores de variação possíveis -
associados a aspectos geográficos e sociolinguísticos, à evolução linguística e ao registro 
linguístico. 
 
Variedade ou variante linguística se define pela forma pela qual determinada comunidade de 
falantes, vinculados por relações sociais ou geográficas, usa as formas linguísticas de uma 
língua natural. É um conceito mais forte do que estilo de prosa ou estilo de linguagem. 
Refere-se a cada uma das modalidades em que uma língua se diversifica, em virtude das 
possibilidades de variação dos elementos do seu sistema (vocabulário, pronúncia, sintaxe) 
ligadas a fatores sociais ou culturais (escolaridade, profissão, sexo, idade, grupo social etc.) e 
geográficos (tais como o português do Brasil, o português de Portugal, os falares regionais 
etc.). A língua padrão e a linguagem popular também são variedades sociais ou culturais. Um 
dialeto é uma variedade geográfica. 
 
Variações de léxico, como ocorre na gíria e no calão, podem ser consideradas como 
variedades mas também como registros ou, ainda, como estilos - a depender da definição 
adotada em cada caso. Os idiotismos são às vezes considerados como formas de estilo, por 
se limitarem a variações de léxico. 
 
Utiliza-se o termo 'variedade' como uma forma neutra de se referir a diferenças linguísticas 
entre os falantes de um mesmo idioma. Evita-se assim ambiguidade de termos como língua 
(geralmente associado à norma padrão) ou dialeto (associado a variedades não 
padronizadas, consideradas de menor prestígio ou menos corretas do que a norma padrão). 
 
O termo "leto" também é usado quando há dificuldade em decidir se duas variedades devem 
ser consideradas como uma mesma língua ou como línguas ou dialetos diferentes. Alguns 
sociolinguistas usam o termo leto no sentido de variedade linguística - sem especificar o tipo 
de variedade. As variedades apresentam não apenas diferenças de vocabulário mas também 
diferenças de gramática, fonologia e prosódia. 
 
Nenhuma língua permanece a mesma em todo o seu domínio e, ainda num só local, 
apresenta um sem-número de diferenciações.[...] Mas essas variedades de ordem geográfica, 
de ordem social e até individual, pois cada um procura utilizar o sistema idiomático da forma 
que melhor lhe exprime o gosto e o pensamento, não prejudicam a unidade superior da 
 
25 
 
língua, nem a consciência que têm os que a falam diversamente de se servirem de um 
mesmo instrumento de comunicação, de manifestação e de emoção. 
— Celso Cunha Uma política do idioma. 
 
A sociolinguística procura estabelecer as fronteiras entre os diferentes falares de uma língua. 
O pesquisador verifica se os falantes apresentam diferenças nos seus modos de falar de 
acordo com o lugar em que estão (variação diatópica), com a situação de fala ou registro 
(variação diafásica) ou de acordo com o nível socioeconômico do falante (variação 
diastrática). 
 
• Variedades geográficas: dizem respeito à variação diatópica e são variantes devido à 
distância geográfica que separa os falantes. Assim, por exemplo, a mistura de cimento, água 
e areia, se chama betão em Portugal; no Brasil, se chama concreto. 
 
As mudanças de tipo geográfico se chamam dialetos (ou mais propriamente geoletos), e o 
seu estudo é a dialetologia. Embora o termo 'dialeto' não tenha nenhum sentido negativo, 
acontece que, erroneamente, tem sido comum chamar dialeto a línguas que supostamente 
são "simples" ou "primitivas". Dialeto é uma forma particular, adotada por uma comunidade, 
na fala de uma língua. Nesse sentido, pode-se falar de inglês britânico, inglês australiano, etc. 
É preciso também ter presente que os dialetos não apresentam limites geográficos precisos - 
ao contrário, são borrados e graduais – daí se considerar que os dialetos que constituem uma 
língua formam um continuam sem limites precisos. 
 
Diz-se que uma língua é um conjunto de dialetos cujos falantes podem se entender. Embora 
isto possa ser aproximadamente válido para o português, não parece valer para o alemão, 
pois há dialetos desta língua que são ininteligíveis entre si. Por outro lado, fala-se de línguas 
escandinavas, quando, na realidade, um falante sueco e um dinamarquês podem se entender 
usando cada um a sua própria língua. 
 
No que diz respeito ao português, além de vários dialetos e subdialetos, falares e subfalares, 
há dois padrões reconhecidos internacionalmente: o português de Portugal e o português do 
Brasil. 
 
• Variedades históricas: relacionadas com a mudança linguística, essas variedades 
aparecem quando se comparam textos em uma mesma língua escritos em diferentes épocas 
e se verificam diferenças sistemáticas na gramática, no léxico e às vezes na ortografia 
(frequentemente como reflexo de mudanças fonéticas). Tais diferenças serão maiores quanto 
maior for o tempo que separa os textos. Cada um dos estágios da língua, mais ou menos 
homogêneos circunscritos a uma certa época é chamado variedade diacrônica. Por exemplo, 
na língua portuguesa pode-se distinguir claramente o português moderno (que, por sua vez, 
apresenta diversidades geográficas e sociais) e o português arcaico. 
 
• Variedades sociais: compreendem todas as modificações da linguagem produzidas pelo 
ambiente em que se desenvolve o falante. Neste âmbito, interessa sobretudo o estudo dos 
socioletos, os quais se devem a fatores como classe social, educação, profissão, idade, 
procedência étnica, etc. Em certos países onde existe uma hierarquia social muito clara, o 
socioleto da pessoa define a qual classe social ela pertence. Isso pode significar uma barreira 
para a inclusão social. 
 
 
26 
 
• Variedades situacionais: incluem as modificações na linguagem decorrentes do grau de 
formalidade da situação ou das circunstâncias em que se encontra o falante. Esse grau de 
formalidade afeta o grau de observância das regras, normas e costumes na comunicação 
linguística. 
 
Os três tipos de variações linguísticas são: 
 
• Variações diafásicas 
Representam as variações que se estabelecem em função do contexto comunicativo, ou seja, 
a ocasião é que determina a maneira como nos dirigimos ao nosso interlocutor, se deve ser 
formal ou informal. 
 
• Variações diatópicas 
São as variações ocorridas em razão das diferenças regionais, como, por exemplo, a palavra 
―abóbora‖, que pode adquirir acepções semânticas (relacionadas ao significado) em algumas 
regiões que se divergem umas das outras, como é o caso de ―jerimum‖, por exemplo. 
 
• Variações diastráticas 
São aquelas variações que ocorrem em virtude da convivência entre os grupos sociais. Como 
exemplo podemos citar a linguagem dos advogados, dos surfistas, da classe médica, entre 
outras. 
• Dialetos: variantes diatópicas, isto é, faladas por comunidades geograficamente definidas. O 
Idioma é um termo intermediário na distinção dialeto-linguagem e é usado para se referir ao 
sistema comunicativo estudado (que poderia ser chamado tanto de um dialeto ou uma 
linguagem) quando sua condição em relação a esta distinção é irrelevante (sendo, portanto, 
um sinônimo para linguagem num sentido mais geral); 
 
• Socioletos: variedades faladas por comunidades socialmente definidas, ou seja, por grupos 
de indivíduos que, tendo características sociais

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