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TCC TRANSFUSÃO DE SANGUE O Direito do Paciente Decidir - Aluna Aldinne Maynara da Silva

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20
FACULDADE DOM BOSCO 
Credenciada através da Portaria nº 2.387, D.O.U. em 12/08/2004 
Cornélio Procópio/Paraná 
 
 
 
 
 
 
 
ALDINNE MAYNARA DA SILVA 
 
 
 
 
 
 	 
TRANSFUSÃO DE SANGUE: O DIREITO DO PACIENTE DECIDIR.
Cornélio Procópio - PR- PR 
2016
 
ALDINNE MAYNARA DA SILVA 
 
 
 
 
 	 
TRANSFUSÃO DE SANGUE: O DIREITO DO PACIENTE DECIDIR
 
 
 
 
Trabalho de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito, da Faculdade de Ensino Superior Dom Bosco de Cornélio Procópio – PR, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado (a) em Bacharel em Direito. 
 
Orientador (a): Prof. Dra. Alessandra Trevisan Ferreira
 
 
 
 
 
Cornélio Procópio - PR- PR 
2016
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, pois estiveste sempre comigo. Aos meus queridos pais e familiares, que sempre me deram força e incentivo para realização desse trabalho. Ao meu tão querido amor, pelo apoio, amor e compreensão pelas horas roubadas do seu convívio. Aos mestres, por dividirem comigo muitos saberes acumulados ao longo da história de vida de cada um. E, finalmente, a todos que de uma forma ou de oura contribuíram para que este sonho fosse enfim realizado, minha eterna gratidão.
RESUMO
O presente trabalho tem a finalidade de mostrar os dois lados de um tema que sempre foi polêmico em relação a religião e o direito à vida. Vimos que por um lado temos a crença num Deus, onde segundo a interpretação da Bíblia, devemos abster-se do sangue. Por outro lado, temos a medicina e o Direito resguardando e garantindo o direito â vida de todo e qualquer cidadão. Nesse conflito de crença contra medicina o direito aparece para descomplicar, e até mesmo salvar vidas. Podemos concluir que nos casos em que o paciente, adepto da seita Testemunha de Jeová, se encontrar lúcido para decidir sobre receber ou não o procedimento de transfusão de sangue, deve o médico ouvi-lo e respeitar sua decisão. No caso de o paciente não poder responder e estiver desacompanhado, deve o médico agir obedecendo à todos os procedimentos necessários para salvar sua vida. O método de pesquisa para tal conclusão foi através de doutrinas, estudos sobre o tema e jurisprudências. 
Palavras-chave: Religião - Medicina – Testemunha de Jeová – Direito à Vida – Direitos Fundamentais 
ABSTRACT
This work aims to show both sides of an issue that has always been controversial in relation to religion and the right to life. We saw that on one hand we have a belief in God, which according to the interpretation of the Bible, we should abstain from blood. On the other hand, we have the medicine and the law protecting and guaranteeing the right to life of every citizen. In this belief conflict with the right medicine appears to untangle, and even save lives. We can conclude that in cases where the patient, cult follower of Jehovah's Witnesses meet lucid to decide to receive or not the blood transfusion procedure, the physician should listen to him and respect his decision. If the patient can not answer and is unattended, the doctor should act in compliance with all procedures necessary to save his life. The research method for this conclusion was through doctrines studies on the subject and jurisprudential
Keywords: Religion - Medicine - Jehovah's Witness - Right to Life - Fundamental Rights
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 07
2 TRANSFUSÃO DE SANGUE E SEUS CONCEITOS MÉDICOS .......................... 09
2.1 A TRANSFUSÃO DE SANGUE E SUA IMPORTÂNCIA ...................................... 11
3 TESTEMUNHAS DE JEOVÁ E O SANGUE ....................................................... 13
3.1 CONSENTIMENTO EM CONFLITO COM O TRATAMENTO AUTORITÁRIO .... 14
3.2 A CRENÇA RELIGIOSA E A ÉTICA MÉDICA ....................................................... 16
4 DIREITO À VIDA E LIBERDADE RELIGIOSA ..................................................... 18
5 ALTERNATIVAS MÉDICAS AO SANGUE ........................................................... 28
6 RESPONSABILIDADE PENAL DO MÉDICO ...................................................... 33
6.1 PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE: DIREITOS FUNDAMENTAIS EM CONFLITO .............................................................................. 34
7 A RECUSA DE RECEBER A TRANSFUSÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS ......41
8 CONCLUSÃO........................................................................................................ 45
9 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 46
1 
2 INTRODUÇÃO
O presente trabalho apresenta algumas discussões envolvendo o tema da transfusão de sangue em seguidores da crença Testemunhas de Jeová. Será exposto a história e as fundamentações religiosas explicando o porquê de os seguidores dessa crença não aceitarem o procedimento médico, em alguns casos, em hipótese alguma, levando o paciente a morte. 
 O consentimento e a crença religiosa batem de frente ao tratamento autoritário e a ética médica, onde a medicina fica de mãos atadas diante esses casos na perspectiva jurídico-penal, confrontando a proteção constitucional do direito à vida. 
O tema proposto, com respeito a liberdade de religião e crença, é tratado na doutrina e na jurisprudência com posições diversas, de forma a enriquecer o estudo e a opinião a respeito da temática. 
A questão refere-se principalmente a uma aparente colisão de direitos fundamentais, em especial o direito à vida e direito à liberdade, que engloba as liberdades de crença, religião e culto. Há conflitos entre médicos e pacientes sobre a questão da autonomia no tocante à transfusão de sangue, isso porque a comunidade médica não concorda com a vontade do paciente, alegando que o mesmo não tem conhecimento necessário sobre o tema, tão pouco entende a gravidade do quadro clinico e ainda afirmam que os seguidores dessa seita dão grande importância as convicções e valores morais e religiosos, dentre outros, tendo como base passagens bíblicas.
Divulgar os riscos ligados a transfusão de sangue e os tratamentos alternativos para salvaguardar o direito do paciente. 
A visão dos médicos sobre esse caso especifico da transfusão de sangue ou qualquer outra forma que necessite dessa substância, onde muitas vezes é preciso agir de maneira rápida para salvar a vida de seu paciente, mas ele se depara com a religião e não aceitação do procedimento de transfusão, extremamente necessário. 
À luz do direito penal, tem responsabilidade do médico que agir com base apenas no que aprendeu em toda sua trajetória de estudos: salvar vidas, independentemente de qualquer circunstância? Esse médico, poderia responder juridicamente por exercer seu papel, de acordo com os princípios da ética médica, quando se deparar com um paciente que por crenças religiosas não aceitar a transfusão de sangue, mesmo em eminente perigo de vida?
Com todas essas questões, muitos princípios se confrontam, para responder essas e outras perguntas devemos estar atentos a cada caso concreto. Um exemplo dos princípios que estão em conflito seria o da razoabilidade e o da proporcionalidade, direitos fundamentais que batem de frente com a realidade deste empasse de ética e crença religiosa. 
Debater sobre a conduta do especialista e do paciente em casos que podem serem vistos como omissão de socorro, levando até a morte aqueles que, pela sua religião não aceitam procedimentos que poderiam salvar suas vidas. 
Por fim, salientar que há muito o que deixar claro diante deste tema, não se pode julgar os seguidores desta seita sem conhecer seus princípios religiosos, tão pouco julgar a medicina por seu Código de Ética que visa unicamente o dever de salvar vidas.
3 TRANSFUSÃO DE SANGUE E SEUS CONCEITOS MÉDICOS
Podemos chamar de transfusão de sangue a transferência de sangue ou de um hemocomponente de um doador para um receptor. Esse é um procedimento realizadocom o intuito de aumentar a capacidade do sangue de transportar o oxigênio, restaurar os níveis de sangue no organismo, melhorar a imunidade ou corrigir distúrbio da coagulação sanguínea.
A transfusão de um hemocomponente é escolhida sempre que possível, porque ela supre a necessidade específica do paciente, é mais segura e evita o desperdício dos demais.
Um hemocomponente pode ser: Eritrócitos; Plaquetas; Fatores de coagulação; Plasma fresco congelado; Leucócitos;
A coleta, o armazenamento e o transporte do sangue são regulamentados por autoridades federais e locais, bem como algumas instituições possuem suas próprias normas adicionais.
Por isso os doadores são examinados para se constatar boas condições de saúde. São verificado pulso, pressão arterial, temperatura e, através de um exame, a existência ou não de anemia.
Um doador pode ser desqualificado permanentemente caso se constate hepatite, cardiopatia, alguns tipos de câncer, asma grave, malária, distúrbios hemorrágicos, AIDS, entre outras doenças.
Já em constatação de gravidez, cirurgias de grande porte recente, hipertensão mal controlada, hipotensão, uso de drogas ou determinados medicamentos e anemia, o doador será temporariamente desqualificado.
Por ser um potencial instrumento de contágio, o sangue do doador passa por uma investigação rigorosa que faz uma varredura à procura de hepatites virais, Aids, sífilis e outros vírus selecionados.
Todo o processo de doação sanguínea dura aproximadamente uma hora, sendo que a doação propriamente dita demora cera de 10 minutos e, com exceção da sensação de picada, é indolor.
O sangue doado, aproximadamente 450ml é vedado em bolsas plásticas conservantes que possuem um composto anticoagulante. Esse sangue é refrigerado e pode ser usado em até 42 dias e, em circunstâncias especiais, os eritrócitos podem ser congelados e armazenador por até 10 anos. Devido ao fato de que a incompatibilidade entre o sangue do doador e do receptor, é feita uma classificação por tipo sanguíneo (A, AB, B ou O) e por RH ( positivo e negativo).
Como precaução, antes do início de uma transfusão, é misturada uma gota do sangue do doador com uma gota do sangue do receptor para assegurar a compatibilidade.
Existe uma transfusão em que o doador também é o receptor. Esse tipo de procedimento dá-se o nome de “transfusão autóloga”. Considerada a forma mais segura, a transfusão autóloga pode ser feita por intermédio de duas possibilidades de coleta do sangue:
· Na primeira o doador faz a coleta um mês antes da cirurgia que poderá acarretar a necessidade de transfusão.
· Na segunda o sangue é coletado a partir de um sangramento ou oriundo de um procedimento cirúrgico.
Para reduzir a possibilidade de alguma reação durante a transfusão, o profissional da saúde deve tomar precauções. As reações mais comuns são a febre e a hipersensibilidade, e pode acontecer entre 1 a 2% do total de transfusões realizadas.
2.1 A TRANSFUSÃO DE SANGUE E SUA IMPORTÂNCIA
 A transfusão de sangue é um procedimento médico requerido em casos de anemias profundas, problemas de coagulação, alguns casos de imunidade fragilizada e sangramentos, decorrentes de cirurgias ou não; em situações nas quais não há alternativas para o tratamento do paciente.
Para que ela seja feita, é necessário que o sangue a ser transfundido tenha dado resultado negativo para doenças crônicas e infecciosas (Hepatite B, Hepatite C, HIV, HTLV, Sífilis e Doença de Chagas), e também é preciso verificar sua compatibilidade com a do paciente.
Sempre é optado por transfundir sangue de igual grupo sanguíneo e fator Rh ao paciente. Em casos em que bolsas que obedeçam a esse critério não se encontram disponíveis, outros tipos compatíveis podem ser utilizados. O sangue do tipo O negativo, por exemplo, pode doar para todos os tipos sanguíneos, enquanto o do tipo AB positivo, pode receber todos os tipos de sangue.
A tabela abaixo demonstra a relação de compatibilidade entre eles:
	TIPO
SANGUÍNEO
	DOA PARA
	RECEBE DE
	O-
(O negativo)
	O - , O +,
A - , A +,
B - ,  B+
AB - , AB +
	O -
 
	O +
(O positivo)
	O + , A + , AB +
	O + , O -
	A -
(A negativo)
	A - , A + ,
AB - , AB +
	A - , O -
	A +
(A positivo)
	A + , AB +
	A + , A - ,
O + , O -
	B -
(B negativo)
	B - , B + ,
AB - , AB +
	B - , O -
	B +
(B positivo)
	B + , AB +
	B + , B - ,
O + , O -
	AB -
(AB negativo)
	AB - , AB +
	AB - , A - ,
B - , O -
	AB +
(AB positivo)
	AB +
	AB +, AB - ,
A + , A - ,
B + , B - ,
O + , O -
Todo sangue a ser transfundido vem de doações de pessoas que se submeteram, previamente, a uma triagem clínica e cujo sangue foi analisado, a fim de detectar infecções e quadro anêmico.
Embora seja proibida a comercialização de sangue em nosso país, atendimentos particulares e com plano de saúde geralmente cobram esse serviço, sendo o valor referente à coleta do sangue, triagem, execução de testes, armazenamento e deslocamento; além do procedimento propriamente dito.
O material sanguíneo a ser utilizado pode ser o sangue completo ou somente um ou mais de seus componentes: plaquetas, hemácias, plasma e crioprecipitados. Esses últimos são requeridos, principalmente, para casos de hemofilia, uma vez que desse material é que são retirados os fatores coagulantes.
Uma única bolsa demora em torno de duas horas para ser transfundida ao paciente.
4 TESTEMUNHAS DE JEOVÁ E O SANGUE
A seita cristã Testemunha de Jeová foi criada em 1870, por Charles Russel, em Pittsburgh (Pensilvânia — EUA).
Os seguidores dessa seita, baseados na interpretação bíblica, fundamentados nos livros da Bíblia cristã — Genesis 9:3.4; Levíticos 7.27; 17.:10 e Deuteronômio 12.25-28 — não admitem que ninguém de sua família se submeta a transfusão de sangue em intervenções cirúrgicas, nem mesmo para salvar a vida de alguém em circunstâncias especiais. 
“Tudo o que se move e vive vos servirá de alimento; eu vos dou tudo isto, como vos dei a erva verde.
Somente não comereis carne com a sua alma, com seu sangue.” Genesis, Capitulo 9, versículos 3 e 4. 
“Toda a pessoa que comer algum sangue, aquela pessoa será extirpada do seu povo.” Levíticos, Capitulo 7, versículo 27. 
“E qualquer homem da casa de Israel, ou dos estrangeiros que peregrinam entre eles, que comer algum sangue, contra aquela alma porei a minha face, e a extirparei do seu povo.” Levíticos, Capitulo 17, versículo 10. 
“Não o comerás; para que bem te suceda a ti, e a teus filhos, depois de ti, quando fizeres o que for reto aos olhos do Senhor.
Porém, as coisas santas que tiveres, e os teus votos tomarás, e virás ao lugar que o Senhor escolher.
E oferecerás os teus holocaustos, a carne e o sangue sobre o altar do Senhor teu Deus; e o sangue dos teus sacrifícios se derramará sobre o altar do Senhor teu Deus; porém a carne comerás.
Guarda e ouve todas estas palavras que te ordeno, para que bem te suceda a ti e a teus filhos depois de ti para sempre, quando fizeres o que for bom e reto aos olhos do Senhor teu Deus.” Deuteronômio Capitulo 12, versículos 25 à 28.
A crença das Testemunhas de Jeová, por séculos, tem sido a de que Deus Jeová, o criador dos céus e terra, e de todo o ser vivente, tem um propósito para a vida de todos nós. O fundamento de tal alegação encontra-se no livro de Provérbios 16.24 da Bíblia cristã e é com esta convicção que os fiéis mantêm sua esperança de vida apenas no criador de todas as coisas: Deus. 
Segundo a Bíblia, o sangue é mais que um complexo líquido biológico, sendo mencionado mais de 400 vezes no livro sagrado, algumas dessas referências envolvem a salvação de vidas, como a que Deus declara que tudo aquilo que é vivo poderá servir de comida e que o homem deve comer da carne com vida, ou seja, com sangue. O sangue humano tem grande significado e não deve ser mal-empregado. O Criador acrescenta pormenores, por meio dos quais podemos facilmente depreender as questões morais a ele vinculadas.
De acordo com a norma descrita no livro de Deuteronômio 12.23, o Criador ordenou aos homens que derramassem o sangue na terra como se fosse água. Diferentemente das ideias hojedefendidas de que a lei Divina sobre o sangue não deveria ser considerada em situação de emergência, embora naquele tempo, o uso medicinal do sangue não existisse, por mais ou menos dois mil anos, o sangue era utilizado como remédio para lepra e, em Roma, como tratamento contra epilepsia. Mas, aqueles que eram cristãos, já naquele tempo, entendiam que não podiam aceitar tal tratamento para curar suas doenças. 
As Testemunhas de Jeová dão à vida um valor muito alto em relação ao respeito às leis de Deus e por isso não aceitam este tipo de tratamento.
3.1 CONSENTIMENTO EM CONFLITO COM O TRATAMENTO AUTORITÁRIO 
Os seguidores desta seita religiosa chamada Testemunha de Jeová, por concepções puramente religiosas se recusam a receber o procedimento de transfusão de sangue, mesmo em cirurgias de caráter eletivo e de urgência. 
O principal problema que encontram é o de ter sua vontade respeitada perante a comunidade médica e jurídica, uma vez estas duas esferas tendo por base o Código de ética médica e as legislações vigentes, se veem obrigadas a salvar vidas, independe de concepções religiosas e/ou particulares. 
Todos sabemos que a liberdade é um bem juridicamente protegido, não pode ela ser tolerada de forma irresponsável e contra o interesse comum.
O Estado protege a liberdade social, liberdade esta que assegura a qualquer cidadão o exercício da própria vontade, não ultrapassando os limites impostos pelas normas reguladoras, sendo chamada de liberdade responsável. 
Mesmo uma enfermidade grave, mas sem perigo imediato ou risco remoto de morte, não justifica tal intervenção médica. Para caracterizar a exclusão da sanção penal é preciso que haja o estado de necessidade de terceiro. A legislação brasileira exclui duas situações a antijuricidade do constrangimento ilegal: tratamento médico arbitrário diante do eminente perigo de vida e no impedimento ao suicídio, com base no artigo 146, incisos I e II do Código Penal. 
Nesse sentido entende-se que se sacrifica um bem – a liberdade, para salvar outro de maior interesse e significativo que é a vida. 
Deve-se deixar claro que em casos de não emergência o médico deve ter o consentimento expresso ou tácito de seu paciente ou familiares.
Perigo de vida está ligado a uma situação com possibilidades concretas de êxito letal, que exige uma atuação rápida, decisiva e inadiável, tendo como finalidade evitar a morte.
No caso das testemunhas de Jeová, há correntes que afirmam ser a liberdade o primeiro direito na hierarquia dos direitos fundamentais do indivíduo, chegando até a enfatizar que entre a escolha do direito à liberdade e o direito à vida, deve ao titular, e apenas ele, a escolha desse privilégio. 
Partindo dessa premissa, teria o paciente o direito de aceitar ou não um tratamento por imperativo religioso, mesmo que ele fosse o único meio de salvar-lhe a vida, por isso estaria constitucionalmente consagrado na Carta Magna em seus incisos VI e X do artigo 5º, referente à liberdade de consciência e de crença.
Para os adeptos desta religião, os médicos cumpririam suas obrigações apenas informando ao paciente ou responsável lega da necessidade ou da conveniência de uma conduta ou tratamento, deixando claro suas consequências pela não aceitação. Em contrapartida, no Código de Ética da Medicina, em seus artigos 46, 47 e 56, está expressamente claro dizendo que “é vedado ao médico efetuar qualquer procedimento sem o esclarecimento e o consentimento do paciente ou de seu responsável legal, salvo em eminente perigo de vida”.
Deve o médico entender que se tratando de Testemunhas de Jeová, em muitas ocasiões o sangue deve ser substituído por outros fluídos ou não ser usado e, por isso, desenvolver uma forma de tratamento que não sacrifique a vida nem comprometa seus princípios religiosos. Não devem esquecer também, que esses adeptos não abriram mão da vida e não desacreditam na medicina, mas apenas face a sua convicção religiosa solicitam abster-se de sangue. 
Mas esse entendimento muitas vezes não é possível, e tal conciliação é inaceitável. É previsto como crime na legislação penal atual deixar de prestar assistência às pessoas em grave e eminente perigo de morte (artigo 135) e exclui da categoria de delito a intervenção medica ou cirúrgica, sem consentimento do paciente ou responsável legal, quando justificada por eminente perigo de vida (artigo 146). 
Em casos assim, deve o médico agir, pois está amparado no exercício regular de seus direitos e no cumprimento de seu dever legal, com base no artigo 23, inciso III do Código Penal. 
O Código de Ética Médica ainda orienta os médicos que quando estiverem diante de situações em que haja risco de vida ao paciente e este esteja inconsciente, devem os mesmos optar por salvar a vida do paciente, valorizando a vida biológica em detrimento aos princípios religiosos. 
4.2 A CRENÇA RELIGIOSA E A ÉTICA MÉDICA 
Em diversos países os profissionais da área médica enfrentam muitos casos de transfusão de sangue em pacientes seguidores da crença Testemunha de Jeová. 
O que direciona, complementa e limita a atividade da medicina é o Código de Ética Médica, para que não se perca os valores humanos, conduzindo a um bom relacionamento médico e paciente, médico e médico e do médico com a sociedade. 
As técnicas hoje empregadas pela medicina devido ao seu desenvolvimento material, passam por averiguações para que cumpram com suas funções, contribuam para a assistência da saúde e atendam a sua função social. 
Prevê no seu artigo 5º, a Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos do Homem e da Dignidade do Ser Humano, a necessidade do consentimento livre e esclarecido de qualquer intervenção no domínio da saúde. 
O artigo 8º destaque que em casos de urgência, quando não for possível colher a autorização do paciente, poderão ser feitas todas as intervenções médicas necessárias para garantir a saúde do mesmo. 
Contudo, tais posicionamentos geram conflitos entra a consciência do paciente Testemunha de Jeová e o dever do médico, amparado pelo artigo 56 do Código de Ética Médica, que mesmo desrespeitando a decisão tomada pelo seu paciente no que diz respeito aos atos que devem ser praticados, em que o mesmo se encontre em eminente perigo de vida. 
Esse consentimento é caracterizado como uma decisão e um ato, não tem restrições internas ou externas, se esclarecido com as informações necessárias à situação do paciente. 
Tal assunto está na pauta de discussões sobre a ética médica na atualidade, objetiva-se com o propósito de requerer esse consentimento é promover a autonomia do indivíduo na tomada de decisões em relação aos assuntos de saúde e tratamento médico. Para que esse consentimento seja uma autorização válida, ele deve ter como base a compreensão e a voluntariedade.
5 DIREITO À VIDA E LIBERDADE RELIGIOSA 
Sendo a dignidade da pessoa humana principal direito fundamental e constitucionalmente garantido, juntamente com o direito à vida. 
O direito à vida está intimamente ligado com a dignidade, sendo além da sobrevivência. Neste contexto a autora Luciana Mendes Pereira Roberto tem-se que:
A dignidade nasce com o indivíduo e é a ele inata, fazendo parte da sua essência. Ocorre que, inserta na vida em sociedade, a dignidade da pessoa humana pode ser acrescida de outros elementos e deve ser respeitada imagem, religião, liberdade. O direito à vida possui uma intima ligação com a dignidade, ou se poderia dizer, ainda, com a plenitude da vida. Isto significa que o direito à vida não é apenas o direito de sobreviver, mas de viver dignamente. Dessarte, o direito à vida digna, garantido pela Constituição Federal, na realidade é um princípio constitucional, bem como um direito e uma garantia fundamental. O Estado tem que garantir esse direito a um nível de vida adequado com as condições humana, com o respeito aos princípios fundamentais traçados na CF. (art. 3º) .... Se faz sentir no consentimento informado, isto é, no ato jurídico justificador da intervenção médica.[footnoteRef:1] [1: ROBERTO, Luciana Mendes Pereira – Responsabilidade Civildo Profissional de Saúde e Consentimento Informativo – Curitiba: Juruá, 2005.] 
A autora supramencionada afirma que havendo a necessidade de uma transfusão de sangue em pessoas da seita Testemunha de Jeová, estando em eminente risco de vida, os médicos devem realizar o procedimento, pois o bem maior tutelado é a vida, e deve ser resguardada. 
Nota-se tal assertiva através de muitas jurisprudências encontradas, assim sendo, observar-se-á abaixo na Apelação Cível nº. 2003.71.02.000155-6/ RS, 3º Turma do STF da 4º Região, em relação ao procedimento que envolve menores da crença Testemunhas de Jeová, e a necessidade de transfusão sanguínea, para manter-se com vida: 
DIREITO À VIDA. TRANSFUSÃO DE SANGUE. TESTEMUNHAS DE JEOVÁ. DENUNCIAÇÃO DA LIDE INDEFERIDA. LEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO. LIBERDADE DE CRENÇA RELIGIOSA E DIREITO À VIDA. IMPOSSIBILIDADE DE RECUSA DE TRATAMENTO MÉDICO QUANDO HÁ RISCO DE VIDA DE MENOR. VONTADE DOS PAIS SUBSTITUÍDA PELA MANIFESTAÇÃO JUDICIAL.O recurso de agravo deve ser improvido porquanto à denunciação da lide se presta para a possibilidade de ação regressiva e, no caso, o que se verifica é a responsabilidade solidária dos entes federais, em face da competência comum estabelecida no art. 23 da Constituição federal, nas ações de saúde.
A legitimidade passiva da União é indiscutível diante do art. 196 da Carta Constitucional.
O fato de a autora ter omitido que a necessidade da medicação se deu em face da recusa à transfusão de sangue, não afasta que esta seja a causa de pedir, principalmente se foi também o fundamento da defesa das partes requeridas.
A prova produzida demonstrou que a medicação cujo fornecimento foi requerido não constitui o meio mais eficaz da proteção do direito à vida da requerida, menor hoje constando com dez anos de idade.
Conflito no caso concreto dois princípios fundamentais consagrados em nosso ordenamento jurídico-constitucional: de um lado o direito à vida e de outro, a liberdade de crença religiosa.
A liberdade de crença abrange não apenas a liberdade de cultos, mas também a possibilidade de o indivíduo se orientar segundo posições religiosas estabelecidas.
No caso concreto, a menor autora não detém capacidade civil para expressar sua vontade. A menor não possui consciência suficiente das implicações e da gravidade da situação pata decidir conforme sua vontade. Esta é substituída pela de seus pais que recusam o tratamento consistente em transfusões de sangue.
Os pais podem ter sua vontade substituída em prol de interesses maiores, principalmente em se tratando do próprio direito à vida.
A restrição à liberdade de crença religiosa encontra amparo no princípio da proporcionalidade, porquanto ela é adequada à preservar à saúde da autora: é necessária porque em face do risco de vida a transfusão de sangue torna-se exigível e, por fim ponderando-se entre vida e liberdade de crença, pesa mais o direito à vida, principalmente em se tratando não da vida de filha menor impúbere.
Em consequência, somente se admite a prescrição de medicamentos alternativos enquanto não houver urgência ou real perigo de morte.
Logo, tendo em vista o pedido formulado na inicial, limitado ao fornecimento de medicamentos, e o princípio da congruência, deve a ação ser julgada improcedente. Contudo, ressalva-se o ponto de vista ora exposto, no que tange ao direito à vida da menor. (Apelação Cível nº 2003.71.02.000155-6/RS, 3ª Turma do TRF da 4ª Região, Rel. Vânia Hack de Almeida. J.24.10.2006, DJU 01.11.2006). [footnoteRef:2] [2: Setor de Jurisprudência – Editora PLENUM. – www.editorapremium.com.br, - visitado nos dias 18 e 19 de abril de 2016.] 
A Constituição Federal tem-se como maior fonte de defesa, em relação à liberdade, seu artigo 5º, e a enumeração dos direitos à liberdade, tais como, liberdade política, religiosa, civil. Sexual etc. Desta feita necessário se faz abordar tal tema, conhecer primeiramente o seu significado, estando certo de que vários são os conceitos deparados com relação a palavra liberdade, o que impede muito a inclusão em semelhança ao tema. Juridicamente sujeitando a liberdade é a faculdade que cada indivíduo tem em agir conforme a sua vontade, de forma individual. Neste compasso assevera-se o que preceitua Mário Ferreira dos Santos:
LIBERDADE – (do lat. libertas). Simplesmente falando, liberdade significa imunidade à necessidade. Ela pode ser ativa ou passiva. A ativa é a indiferença ativa, a que pode realizar indiferentemente atos diversos. A passiva é a que consiste em que consiste em receber atos diversos, sofre-los; a que não oferece coação eficiente a atuação de outrem. Chama-se de liberdade sem coação, a espontaneidade, a sem necessidade, a que pode realizar-se por impulso intrínseco. Os animais brutos a tem quando seguem seus impulsos naturais. A liberdade de arbítrio é a liberdade de indiferença, que consiste em seguir imune sem necessidade natural. Ela se distingue em liberdade de exercício e liberdade de especificação. A de exercício é a que pode exercer ou não um ato. A de especificação é a que pode eleger um, escolher este, preterir aquele, entre diversos objetos, entre o bem e o mal. Ela inclui a liberdade de exercício. A liberdade de arbítrio, de escolha (o livre arbítrio) é, por tanto, a ativa indiferença de origem intrínseca, com poder de vontade que pode agir ou não agir. Inclui-se nela a vontade com a característica de cognição no fim. Por isso ela pode errar, porque pode errar no juízo que faz, na escolha que procede, preferindo o que lhe é inconveniente ao que lhe conveniente. Não segue, portanto, a mesma ordem do extinto, porque neste não há erro. O extinto manifesta-se numa seleção espontânea, cuja logica é orgânica (o extinto é a “lógica dos órgãos”). No livre arbítrio há a presença da escolha do homem, cuja cognição intelectual pode falhar, portanto errar. O tender para o erro por vicio intrínseco, é uma prova de liberdade de livre arbítrio pois escapa ao mero campo da ordenação biológica. A natureza não peca; quem peca é o homem, enquanto homem. Mas para ver o pecado como o instituem as religiões, é imprescindível que se de o afastamento do fim justo para uma finalidade injusta e inconveniente, com conhecimento da diferença entre ambos. No pecado há a escolha deliberada e inconsciente do mal, do contrário, não. O poder de contrariar a própria lógica dos órgãos prova a liberdade de exercício; e a liberdade de especificação da prova, portanto, o livre arbítrio. É por dispor dele que o homem pode dizer não à natureza. É nessa capacidade de contrariar a natureza que muitos colocam a diferença essencial do homem. Vide arbítrio (livre). [footnoteRef:3] [3: Santos, Mario Ferreira dos, - Dicionário Filosófico e das ciências culturais – Ed. Logus, 1º ed.; 1969.] 
Ciente que o conceito de liberdade é vasto faz-se necessário, através de jurisprudências analisar qual é o posicionamento dos tribunais diante deste conceito em face a crença religiosa nos casos em que estão em cheque a salvação do paciente e o uso por parte dos médicos de todos os meios possíveis para salvar uma vida humana. Dispõe o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul nesse sentido: 
CAUTELAR. TRANSFUSÃO DE SANGUE. TESTEMUNHAS DE JEOVÁ. NÃO CABE AO PODER JUDICIÁRIO, NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO, AUTORIZAR OU ORDENAR TRATAMENTO MÉDICO-CIRÚRGICOS E/OU HOSPITALARES, SALVO CASOS EXCEPCIONALÍSSIMOS E SALVO QUANDO ENVOLVIDOS OS INTERESSES DE MENORES. Se iminente o perigo de vida, é direito e dever do médico empregar todos os tratamentos, inclusive cirúrgicos, para salvar o paciente, mesmo contra a vontade deste, e de seus familiares e de quem quer que seja, ainda que a oposição seja ditada por motivos religiosos. Importa ao médico e ao hospital e demonstrar que utilizaram a ciência e a técnica apoiadas em séria literatura médica, mesmo que haja divergências quanto ao melhor tratamento. O judiciário não serve para diminuir os riscos da profissão médica ou da atividade hospitalar. se transfusão de sangue for tida como imprescindível, conforme sólida literatura médico-científica(não importando naturais divergências), deve ser concretizada, se para salvar a vida do paciente, mesmo contra a vontade das testemunhas de jeová, mas desde que haja urgência e perigo iminente de vida (art. 146, § 3º, inc. i, docódigo penal). Caso concreto em que não se verificava tal urgência. O direito à vida antecede o direito à liberdade, aqui incluída a liberdade de religião; é falácia argumentar com os que morrem pela liberdade pois, aí se trata de contexto fático totalmente diverso. Não consta que morto possa ser livre ou lutar por sua liberdade. Há princípios gerais de ética e de direito, que aliás norteiam a carta das nações unidas, que precisam se sobrepor as especificidades culturais e religiosas; sob pena de se homologarem as maiores brutalidades; entre eles estão os princípios que resguardam os direitos fundamentais relacionados com a vida e a dignidade humanas. Religiões devem preservar a vida e não exterminá-la. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 595000373, SEXTA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: SÉRGIO GISCHKOW PEREIRA, JULGADO EM 28/03/1995). [footnoteRef:4] [4: Idem 2.] 
 A liberdade, assim como direito à vida, é um direito adquirido pelo indivíduo, nos casos de transfusão de sangue, havendo o consentimento informado por parte do paciente, depara-se nos contornos do fundamento da dignidade da pessoa humana, que, por sua vez, precisa de vida para sobreviver, pois se assim não fosse, do que adiantaria a liberdade. 
Liberdade, igualdade, saúde, integridade pessoal e outros direitos sucedem do princípio da dignidade pessoa humana, sem respeito a vida, não se teria o que falar em respeito à dignidade da liberdade de crença.
Esboçando um paralelo entre a dignidade e a liberdade, notório é que o elemento fundamental do paciente no tratamento de saúde é o consentimento. Deve ser livremente comunicado, para que tenha validez, e o paciente deve ter toda a informação possível sobre seu tratamento de saúde. Bastos, neste contexto, alega:
A dignidade da pessoa humana traz em si todos os demais direitos fundamentais, individuais, econômicos ou sociais, além da dimensão moral. Portanto, o que ele (constituinte) está a indicar é que um dos fins do Estado é propiciar as condições para que as pessoas se tornem dignas.[footnoteRef:5] [5: Bastos, Celso Ribeiro. Direito de recusa de pacientes submetidos a tratamento terapêutico às transfusões de sangue por razões cientificas e convicções religiosas. São Paulo: RT 787/493] 
No entanto, quando há eminente perigo à vida, não há que se falar em uma necessidade na obrigação de não fazer de não produzir provas para a concordância do paciente em realizar o procedimento de transfusão de sangue. Exemplo claro foi exposto na jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Agravo de Instrumento nº. 2007.002.09293, o qual explana:
TJRJ2007.002.09293 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 1ª Ementa DES. CLAUDIO DE MELLO TAVARES - Julgamento: 27/06/2007 - DECIMA PRIMEIRA CAMARA CIVEL OBRIGACAO DE NÃO FAZER ESTABELECIMENTO HOSPITALAR TRANSFUSAO DE SANGUE TESTEMUNHAS DE JEOVA PRODUCAO DE PROVAS DESNECESSIDADE. Agravo de Instrumento. Ação de cumprimento de obrigação de não fazer. Estabelecimento hospitalar. Pedido de antecipação de tutela para permitir o procedimento de transfusão sanguínea em paciente praticante da seita denominada "Testemunhas de Jeová". Produção de provas. Trata-se de ação de cumprimento de obrigação de não fazer, com pedido de liminar "inaudita altera pars", pleiteando o estabelecimento hospitalar autor, a antecipação dos efeitos da tutela, no intuito de obstar que os réus oponham qualquer obstáculo à realização da transfusão sanguínea, imprescindível para salvar a vida da paciente/1a agravante, visto que, como os demais agravantes, professa a seita denominada como "Testemunhas de Jeová" e, por este motivo, não permitem a prática de transfusão sanguínea. Os réus/agravantes requerem que o hospital/agravado comprove nos autos a origem do sangue e hemoderivados transfundidos à paciente e a realização dos testes mínimos obrigatórios quanto aos males decorrentes da hemotransfusão. Entretanto, conforme corretamente decidiu o magistrado "a quo", ao indeferir a pretensão dos agravantes, tal prova é desnecessária à solução da lide posto que, não restou demonstrado nos autos ter a 1a. agravante contraído doenças decorrentes da transfusão sanguínea. Registre-se, que o artigo 130 do Código de Processo Civil confere poderes ao Magistrado para, de ofício ou a requerimento da parte, determinar os meios probantes necessários à instrução do processo, indeferindo diligências inúteis ou protelatórias, e sendo ele o destinatário da prova, encontra-se dentro do seu juízo aferir a necessidade, ou não, de sua realização. Recurso conhecido e improvido.[footnoteRef:6] [6: Idem 2. ] 
 A liberdade não é absoluta, seja ela a de crença religiosa ou todas as outras liberdades. Aplica-se o princípio da proporcionalidade para resolver a situação, onde o que deve valer-se é o direito à vida, inclusive porque deriva do próprio ordenamento pátrio, assegurado desde o fenômeno da Nidação, ou seja, desde o nascimento com vida até o direito de a pessoa manter-se viva. 
Os direitos fundamentais têm se tornado o grande fator determinante de civilizações desenvolvidas. Pode-se dizer até que o grau de desenvolvimento de uma nação mede-se a partir da constatação com que os direitos fundamentais são positivados e efetivamente protegidos.
É nesse mesmo sentido a lição de Gilmar Mendes (2003: 231) quando diz que o avanço que o Direito Constitucional tem passado deve muito à afirmação dos direitos fundamentais.
Assim, eles têm um papel decisivo na sociedade moderna, pois confere legitimidade para a atuação de todos os Poderes Constituídos.
Antes, porém, de adentrar ao seu estudo, convém pontuar questões terminológicas, pois são várias as acepções utilizadas para designar esses direitos, sendo muito comum na doutrina, bem como na jurisprudência, a utilização de nomes distintos.
Como foge aos objetivos deste trabalho, passa-se a uma exposição sucinta das expressões mais encontradas na doutrina para designar os direitos da pessoa humana.
a) Liberdades Públicas: Essas liberdades estão mais ligadas à noção dos direitos de defesa, que são aqueles pelo qual o individuo se protege das interferências estatais. Peca por deixar de fora de seu conteúdo os chamados direitos econômicos e sociais, que exigem uma prestação.
b) Direitos individuais: Está associada aos indivíduos isoladamente considerados, essencialmente direitos civis. Por sua vez, peca por deixar de fora as concepções sociais dos direitos do homem, muito em voga na sociedade moderna.
c) Direitos humanos: Esses direitos compreendem as prerrogativas que conferem a todos, indistintamente, o poder de existência digna.
Manifestamos aqui, nossa preferência pela expressão Direita Fundamentais, por ser ela mais abrangente do que as demais e por ter sido a adotada pela Constituição das Republica. Por direitos fundamentais, podem-se entender aqueles direitos que, determinada época e lugar, são tidos como essenciais para o desenvolvimento das potencialidades do ser humano, garantindo-lhe existência digna.
Várias são as classificações dos direitos fundamentais, sendo a mais conhecida delas aquela que as divide em gerações.
Passando ao largo da crítica que essa classificação já sofreu por parte de doutrinadores, que entenderam que ela mais presta um desserviço ao seu estudo do que auxilia sua compreensão, passaremos a expô-la.
Direitos de primeira geração são aquelas liberdades públicas, fruto do ideal libertário da revolução francesa pelo qual os indivíduos devem ser protegidos das interferências do Estado. São assim, direitos negativos, também denominados direitos de defesa contra o Estado. É considerado de primeira geração levando-se em conta a ordem cronológica de positivação nas Constituições.
Os direitos de segunda geração, por sua vez, são aqueles embasados pelo espírito de igualdade. São os chamados direitos sociais e econômicos. Aqui,o indivíduo passa a exigir não uma abstenção estatal mas sim um comportamento positivo a fim de promover a igualdade real entre os membros da coletividade.
Por fim, fala-se em direitos de terceira geração para designar aqueles direitos de uma coletividade, são os direitos difusos e coletivos. Salienta-se aqui o espírito de fraternidade.
Assim destaca Celso de Mello em seu voto no MS 22.164/SP:
“Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) – que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais – realçam o principio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais), que se identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas – acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota essencial de uma essencial inexauribilidade”.
De mais a mais, diante dessa classificação e das diversas formas de denominar essa proteção a ser outorgada ao ser humano, o que se percebe é uma crescente consciência de se proteger o homem de acordo com as necessidades históricas de cada momento.
De acordo com a Constituição da República, é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias. (art. 5º, VI)
A Constituição protege todas as crenças, consagrando um grande respeito à liberdade religiosa, que compreende a liberdade de aderir a alguma religião, e a liberdade de realizar os cultos respectivos.
Antes de seguir adiante, cumpre salientar que o direito a manifestar uma dada religião compreende também a liberdade para não professar qualquer uma. É uma ampla liberdade.
Salienta Gilmar Mendes (2008: 231) que o “Estado brasileiro não é confessional, mas tampouco é ateu, como se deduz do preâmbulo da Constituição, que invoca a proteção de Deus.”
Assim, pode-se constatar que não há qualquer religião oficial ou obrigatória que determine uma ou outra religião.
Há, de fato, uma separação entre Estado e Igreja. Mas isso não significa que o Estado cumpre seu papel simplesmente não impedindo que os indivíduos manifestem suas crenças. Outros dispositivos da Constituição não avalizam esse entendimento. Observem-se a respeito os artigos 210, parágrafo primeiro (O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental), bem como o direito à assistência religiosa previsto no artigo 5º (é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva).
Assim, cabe ao Estado promover condições para que a liberdade de crença possa ser desenvolvida nestes ambientes.
É certo que o Brasil é um Estado Laico, por não adotar uma religião certa. Contudo, apesar de não adotar uma determinada religião não se pode chegar à conclusão de que a nossa Constituição fundou um Estado ateu. Essa interpretação é rechaçada levando em consideração a invocação à proteção de Deus constante do preâmbulo da Carta Política de 1988.
MENDES, Gilmar. (2008) “na liberdade de religião inclui-se a liberdade de organização religiosa. O Estado não pode interferir sobre a economia interna das associações religiosas. Não pode, por exemplo impor a igualdade de sexos na entidade ligada a uma religião que não a acolha”.
O que importa investigar é o que pode ser considerado como abrangido pela liberdade de religião, em outras palavras, qual seria o âmbito de proteção desse direito fundamental.
A jurisprudência do STF, nesse sentido, já decidiu que a pratica de curandeirismo não pode ser considerada como inclusa sob o âmbito de abrangência deste direito a professar uma religião, conforme se constata do RHC 62240.
Tão pouco poderia ser considerado como liberdade de crença e culto a execução de outro ser humano a título de “sacrifício para os Deuses”.
E isso porque tais práticas configuram crime, ilícitos penais que foram eleitos pelo legislador como condutas altamente lesivas ao convívio em sociedade.
Um dos preceitos constitucionais que mais encarecem o mencionado direito fundamental é o inciso VIII, do artigo 5º pelo qual “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.”
Nesse sentido, vê-se o respeito dado pela Constituição aos indivíduos que professam determinada religião. Até mesmo diante de uma obrigação legal imposta a todos, pode o indivíduo alegar imperativo de consciência fundamentado em sua crença religiosa para que não seja compelido a observar tal conduta, não podendo sofrer consequências por esse ato.
Assim, ninguém pode ser compelido pelo Estado, nem mesmo por obrigação imposta em Lei, a fazer algo que seja contrário à sua crença religiosa. De certo haverá de cumprir uma prestação alternativa, mas deixa claro o valor que a Constituição decidiu dar a esse direito fundamental.     Esclarecedoras as palavras de Kildare Gonçalves, deixando claro que todas as obrigações legais podem ser objeto da escusa de consciência:
GONÇALVES, Kildare.(2007):
“É a recusa ao tratamento médico e a tratamentos sanitários obrigatórios impostos pelo estado para prevenir determinada enfermidade. O Código de Ética Médica, referindo-se aos direitos do paciente, em seu art. 48 veda ao médico exercer sua autoridade de maneira a limitar o direito do paciente de decidir livremente sobre sua pessoa ou seu bem estar. E pelo art. 51, tem o paciente o direito de recusar tratamento para atender às suas convicções, em que o médico é proibido de: ...b) efetuar qualquer procedimento médico sem o esclarecimento e o consentimento prévios do paciente ou de seu responsável legal, salvo em iminente perigo de vida, notando-se que nesses casos há uma hierarquia de valores entre o dever do médico e o direito do paciente, devendo-se salientar que a vida vale mais que a crença religiosa”.
Como todo direito, ele não é absoluto, devendo ser realizado uma ponderação com outros direitos fundamentais ou valores constitucionais que eventualmente sejam colidentes entre si.
Mas é somente no caso concreto que pode ser realizada essa atividade de ponderação, pois é da avaliação de todas as peculiaridades e especificidades do caso real que pode ser determinado qual direito a prevalecer.
Demonstrando o caráter elevado desse direito fundamental:
MENDES, Gilmar. (2008):
“O reconhecimento da liberdade religiosa pela Constituição denotar haver o sistema jurídico tomado a religiosidade como um bem em si mesmo, como um valor a ser preservado e fomentado. Afinal, as normas jus fundamentais apontam para valores tidos como capitais para a coletividade, que devem não somente ser conservador e protegidos, como também ser promovidos e estimulados.”
6 ALTERNATIVAS MÉDICAS AO SANGUE 
A atitude das Testemunhas de Jeová de abdicar às transfusões de sangue muitas vezes chama à atenção da mídia e causa acalorados debates, muitas vezes são mal interpretadas e acabam sendo tachadas de "fanáticas" e "suicidas".
No entanto, a coerência e o bom censo instruem que antes de se fazer uma crítica deve-se analisar com calma os fatos sem preconceitos ou ódio.
Muitos profissionais da Medicina e do Direito têm explanado este sábio espírito. Ainda que não seja do conhecimento do público leigo, o fato é que nas últimas décadas a medicina tem evoluído a ponto de propiciar alternativas seguras e eficazes às transfusões de sangue. Do mesmo modo, às Testemunhas de Jeová organizaram uma rede internacional de "Comissões de Ligação com Hospitais" (COLIH), a qual atualmente trabalha com cercade 100.000 médicos ao redor do globo em programas de desenvolvimento de tratamentos e técnicas cirúrgicas sem sangue.[footnoteRef:7] [7: Setor de artigos – www.jus.com.br – visitado em 29 de abril de 2016. ] 
Nas últimas quatro décadas vem aumentando o interesse em boa parte da classe médica nas alternativas às transfusões. No dia 16 de maio de 1962, o Dr. Denton Cooley realizou a primeira cirurgia de coração aberto, sem sangue, em uma Testemunha de Jeová. No ano de 1977 o Dr. Cooley publicou um relatório de 542 cirurgias cardiovasculares em Testemunhas de Jeová sem realizar transfusão de sangue, no qual ele declarou que os riscos eram baixos e aceitáveis.[footnoteRef:8] [8: Vídeo "Estratégias Alternativas à Transfusão: Simples, Seguras e Eficazes", Associação Torre de Vigia, Cesário Lange, SP.] 
Uma delas é a Eritropoetina [Humana] recombinante, a qual é uma forma biossintética de um hormônio humano natural que estimula a medula óssea a produzir hemácias. Este fármaco pode ser administrado antes, durante ou depois do tratamento ou cirurgia, bem como para pacientes com câncer que recebem quimioterapia ou para tratar pacientes anêmicos portadores de insuficiência renal crônica. Aplica-se também ferro e hematínicos para dar suporte a produção de hemácias estimulada pela eritropoietina.
Em casos de emergência, no qual se perde muito plasma (parte líquida do sangue), utilizam-se os Expansores do volume do Plasma, tais como os Cristalóides (incluindo a solução salina, lactato de Ringer e a solução salina hipertônica), os quais são fluidos intravenosos compostos de água, com vários sais e açucares, que têm a função de manter o volume circulatório do sangue no corpo. Do mesmo modo, os Colóides são fluidos compostos de água misturada com partículas bem diminutas de proteínas, os quais mantêm os níveis de proteína sanguínea, estabilizando o equilíbrio dos fluidos e o volume circulatório do sangue no corpo. Entre estes incluem o “pentastarch”, “hetastarch” (hidroxietila de amido) e o “dextran”.
Os instrumentos cirúrgicos Hemostáticos são utilizados tanto em cirurgias convencionais a céu aberto como na cirurgia minimamente invasiva[footnoteRef:9].  Quando utilizados com habilidade reduzem o sangramento e facilitam o manejo dos tecidos, e permitem que haja maior visibilidade, graças a um campo cirúrgico mais seco, o que pode abreviar o tempo cirúrgico bem como reduzir a exposição da equipe médica ao sangue. [9: "Cirurgia minimamente invasiva" são aquelas realizadas com instrumentos especializados, feitos para serem inseridos no paciente através de pequenas incisões ou pelas aberturas naturais do corpo. Isto evita a necessidade de grandes incisões, minimizando o sangramento e o trauma da cirurgia para o corpo. Instrumentos do tipo telescópico, miniaturizados, permitem que os cirurgiões observem seus passos num monitor de TV (o que melhora a visualização do campo operatório permitindo maior grau de precisão e exatidão), em vez de ficarem olhando diretamente para a parte do corpo tratada.
Em geral, por se eliminarem as grandes incisões e extensivas dissecações, reduz a perda de sangue, a dor, o tempo de recuperação e as cicatrizes cirúrgicas, abreviando a hospitalização e diminuindo custos.
Várias operações, até mesmo complexas cirurgias cardíacas, estão sendo realizadas com tecnologia minimamente invasiva.] 
Nos casos de pacientes que dão entrada no hospital com uma variedade de ferimentos, utilizam-se os equipamentos de Recuperação intra-operatória de sangue. Assim, recupera-se parte do sangue derramado (o qual é lavado ou filtrado pelo equipamento) e depois ele é reinfundido no paciente. O sangue pode ser desviado do paciente para um aparelho de hemodiálise ou para uma bomba coração-pulmão. O sangue flui para fora através de um tubo até o órgão artificial que o bombeia e filtra (ou oxigena) e daí volta para o sistema circulatório do paciente. Há também instrumentos para a Recuperação pós-operatória do sangue (tubo de drenagem, no qual o sangue derramado é processado e devolvido ao paciente).
A Hemodiluição, quando é usado um circuito fechado e não se faz coleta de sangue pré-operatório é aceitável para muitas Testemunhas de Jeová.[footnoteRef:10] [10: MARINI, Bruno. O caso das testemunhas de Jeová e a transfusão de sangue:. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 661, 28 abr. 2005. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/6641 - visitado em 28 e 29 de abril de 2016.] 
De fato, há uma vasta lista de tratamentos e artifícios isentos de sangue (os quais podem beneficiar não somente às Testemunhas de Jeová, mas a todo paciente independente de opção religiosa). Os que citamos são apenas alguns exemplos. Quem sabe o grande interesse que estes medicamentos vêm despertando em vários campos da categoria médica está conexo a impedir os riscos decorrentes das transfusões de sangue. 
Nos últimos 15 anos, as comissões de ligações com hospitais para as testemunhais de Jeová em todo o mundo distribuíram à comunidade médica, milhares de cópias do programa em vídeo intitulado estratégias alternativas à transfusão: simples seguras, eficazes, em cerca de 25 idiomas.
Desde modo médicos de renome analisaram, e desde então tem o “crescente reconhecimento de que uma das metas do bom tratamento médico é evitar a transfusão sempre que possível”.
Munidos com tal conhecimento, um crescente número de profissionais da área de saúde está encarando a medicina transfusional de modo mais criterioso, pois passaram a avaliar se o sangue produz um resultado melhor para o paciente.
As decisões que os médicos tomam em relação às transfusões baseiam-se naquilo que lhes foi ensinado, na sua formação cultural e na sua opinião clínica, e que pode ser contrário no caso concreto ao direito religioso das testemunhas de Jeová que não aceitam a transfusão.
Com o uso das alternativas médicas já foram feitas várias cirurgias como a de coração, operação do cérebro, cirurgias ortopédicas entre outras. O risco da cirurgia em pacientes do grupo das Testemunhas de Jeová não tem sido significantemente maior do que no caso de outros.
No entanto, quando o paciente perde de 25% a 30% do volume sanguíneo, está em risco de sofrer um choque hipovolêmico e morrer. Neste caso a transfusão de sangue seria importante para voltar o transporte de oxigênio, o que atualmente para esse caso não existe alternativa.
No que concerne a transfusão de sangue, que diz respeito ao conflito presente entre direitos fundamentais de notória grandeza (direito à vida versus direito de recusa por convicções religiosas), faz com que o aludido tema possua larga amplitude. E tal embate entre direitos fundamentais se dá quando, no momento do exercício destes direitos, há o confronto entre os mesmos ou, entre eles e outros bens jurídicos protegidos constitucionalmente. Além disso, o referido tema envolve ainda, não apenas aspectos jurídicos, mas também questões de ética profissional, saúde pública, crença, psicologia, entre outros, por isso parece óbvio, pois, afirmar que a matéria posta em exame, extremamente delicada.
Deste modo, em recente entendimento, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que é possível transfusão de sangue em testemunha de Jeová, em risco eminente de morte, conforme julgado a seguir:
Habeas Corpus nº 268.459/SP (2013/0106116-5):
Atente ilegalidade. Reconhecimento. (3) liberdade religiosa. Âmbito de exercício. Bioética e biodireito: princípio da autonomia. Relevância do consentimento atinente à situação de risco de vida de adolescente. Dever médico de intervenção. Atipicidade da conduta. Reconhecimento. Ordem concedida de ofício (SUPERIOR12, 2014).
A Justiça brasileira decide: risco iminente de morte obriga médico a fazer transfusão de sangue em testemunha de Jeová, mesmo contra a vontade da família. Diante disso explica o Professor Eduardo Hoffmann (2014):
Não cometem crime os pais que impedem médicos de realizar transfusão de sangue em seu filho por razões religiosas. Assim decidiram dois ministros da 6ª turma do STJ ao analisar o polêmico caso envolvendo amorte da menina Juliana Bonfim da Silva, de 13 anos, devido à oposição de seus pais à realização do procedimento.
Ao conceder HC aos progenitores, testemunhas de Jeová, os ministros Sebastião Reis Júnior e Maria Thereza de Assis Moura destacaram que os médicos devem realizar a transfusão independentemente da objeção dos pais, conforme determina a ética médica. O julgamento foi suspenso em razão de pedido de vista. Outros dois ministros ainda votarão.
O caso ocorreu em 1993, em São Vicente/SP. Juliana sofria de anemia falciforme e, durante uma crise, ficou dois dias internada sem receber as transfusões de sangue porque seus pais – o militar aposentado Hélio Vitória dos Santos e Ildelir Bonfim de Souza – impediram o procedimento.
Em 2010, o TJ/SP decidiu que os réus deveriam ir a júri popular por homicídio doloso. A alegação do MP era de que os pais da garota tinham participação na morte da filha por não autorizar a transfusão devido às questões religiosas.
O advogado do casal, Alberto Zacharias Toron, destacou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo que o julgamento é histórico, “porque reafirma a liberdade religiosa e a obrigação que os médicos têm com a vida. Os ministros entenderam que a vida é um bem maior independentemente de questão religiosa“. (HOFFMANN13, 2014).[footnoteRef:11] [11: http://npa.newtonpaiva.br/letrasjuridicas/?p=1015 – visitado em 28 e 29 de abril de 2016. ] 
	
7 RESPONSABILIDADE PENAL DO MÉDICO
Em relação a pacientes menores de idade, a questão da transfusão de sangue é mais polêmica, tendo em vista que os pais querem ter a sua crença respeitada. Segunda Tereza Rodrigues Vieira'. 
As Questões constitucionais e legais referentes a tratamento médico sem transfusão de sangue “Sustentam as Testemunhas de Jeová que a decisão do menor amadurecido deve ser respeitada, visto que já compreende as implicações advindas do seu ato, por ser oriundo de uma comunidade que respeita os seus ditames”. (...) Data venia 60s entendimentos em sentido contrário, o nosso entendimento é pela aceitação da recusa do menor conscientizado, devendo os casos relativos às crianças ser levados ao conhecimento do Judiciário objetivando dirimir o conflito. 
Os pais não podem dispor da vida dos filhos. Por vezes, ao atingirem a maioridade, estes vêm a professar outro credo, diverso daqueles dos pais. De acordo com o art. 52 do Código Civil, a menoridade cessa aos dezoito anos, momento em que a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Nesse sentido, cabe aos pais o direito de decidir por elas, até que finalmente, atinjam a maioridade. 
Segundo José Maria da Costa Orlando, "isto significa que a decisão de continuar ou parar com o auxílio médico é aquela que os pais estabelecem como sendo a mais justa, e tomada sempre em favor da criança". 
O Novo Código Civil antecipou a maioridade para os dezoito anos, reforçando ainda mais a questão de Manoel Gonçalves. Analisando o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art. 15 c/c. art. 16, II e III, os quais afirmam que a criança tem direito à liberdade de opinião, expressão, crença e culto religioso, demonstrando que, sempre que possível, em matéria de ordem médica, é necessário ouvir o menor, na medida da sua maturidade. 
Nos dizeres de Valderez Bosso “(...) ninguém pode ser constrangido a consultar um médico ou submeter-se a um tratamento terapêutico específico contra sua vontade livre e consciente manifestada". 
Em contrapartida, no que tange às crianças e adolescentes, primeiramente é preciso saber quais as consequências pela orientação adotada pelas pessoas responsáveis pelo menor de idade. E depois é preciso configurar a responsabilidade do profissional médico. 
A família que recebe a proteção estatal não tem apenas direitos, mas possui também o dever de juntamente com a sociedade e o Estado, assegurar com absoluta prioridade, os direitos fundamentais da criança e do adolescente enumerados no art. 227 da Constituição Federal. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe em seu art. 1 2 proteção integral à criança e ao adolescente. Segundo Celso Bastos, tal proteção baseia-se no reconhecimento de direitos especiais e específicos de toda criança e adolescente, reiterando o disposto no art. 227 da Constituição.
6.1 PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE: DIREITOS FUNDAMENTAIS EM CONFLITO 
A colisão de direitos fundamentais dá-se a partir do seu exercício, havendo confronto entre si ou entre outros bens jurídicos protegidos pela Carta Ápice. Segundo Luciano Sampaio, antes de se falar em conflito aparente de normas, cabe uma observação: "Considerando que não há hierarquia entre as diversas normas constitucionais e que o sistema jurídico é um todo harmônico, o conflito entre aquelas é apenas aparente. Assim, por exemplo, não há conflito, no plano normativo, entre as normas que garantem o direito à liberdade de imprensa e o direito à intimidade. Porém, no plano fático, a incidência delas sobre uma dada situação pode gerar uma colisão real entre os mencionados direitos constitucionais”. 
O tema da recusa à transfusão de sangue por parte das Testemunhas de Jeová implica em uma aparente colisão de tais direitos, pois envolve, de um lado, a vida e, de outro, a liberdade religiosa, ou seja, o direito do paciente de recusar tratamento por causa de convicções religiosas, sendo ambos os princípios regidos pela Constituição, não tendo o legislador estabelecido a cláusula de reserva. 
Nesse sentido, necessário se faz saber se há hierarquia entre os princípios constitucionais considerados em si mesmo. Como existe mais de um princípio em conflito é impossível se faz usar a técnica da subsunção, pois não é dado ao intérprete o poder de optar por uma norma, desprezando a outra em tese aplicável, criando desta forma, certa hierarquia entre elas. 
Luciano Sampaio qualifica esse conflito de direitos fundamentais entre o direito à vida e o direito à liberdade de crença como sendo um tipo de colisão excludente, "em que a realização concomitante dos direitos em colisão, conforme visto, é impossível, vez que o exercício de um deles exclui a do outro, incumbe perquirir qual direito fundamental expõe-se, no caso concreto, a um perigo de lesão mais grave". George Marmelstein de Lima) afirma que: "Do ponto de vista jurídico é forçoso admitir que não há hierarquia entre os princípios constitucionais. Ou seja, todas as normas constitucionais têm igual dignidade; em outras palavras: não há normas constitucionais meramente formais, nem hierarquia de supra ou infra ordenação dentro da Constituição". 
Nesse sentido, os direitos fundamentais não devem se sobrepor, mas sim serem aplicados em conjunto, visando o preceito maior garantido pela Constituição, que é a dignidade da pessoa humana. Valeschka e Silva Braga entende que a colisão dos princípios não se resolve pelo método do tudo ou nada, tendo em vista que os princípios colidentes devem ter seus pesos dimensionados, sendo eles igualmente valorados, prevalecendo no caso concreto aquele que tem maior polpa.
 Isto posto, Ana Carolina Paes Leme preconiza que "é imprescindível considerar a força do princípio da dignidade humana como valor preponderante, com vistas a guiar decisão final acerca da prevalência de um direito fundamental". Uma das funções do princípio da proporcionalidade tem sido empregada no sentido de interpretação das normas constitucionais, incluindo-se neste rol a resolução de conflitos entre princípios. 
Diante disto, o princípio da proporcionalidade é dotado de dupla dimensionalidade, pois tanto limita como impõe a atuação estatal, garantindo a eficácia e observância deste, sendo, portanto, um princípio vinculante do intérprete do Direito, estando implícita na Constituição a sua obrigatoriedade.
 O princípio da proporcionalidade caminha junto com o princípio da razoabilidade, significando que a ponderação entre os meios empregados e os fins atingidos é a busca do razoável. 
Os direitos fundamentais não são de maneira alguma absolutos, pois devem conviver harmonicamente,sendo passíveis de limitação (nunca de aniquilamento), diante de outro bem jurídico de igual valor. 
Nesse sentido, os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade validam as escolhas do poder público, tendo em vista que tal princípio tem a função de regular conduta e estabelecer normas que sejam aceitas pela sociedade, mesmo que por receio de uma suposta sanção pelo seu não cumprimento. Finalizando tal pensamento, Maria Christina de Almeida cita que: "Em caso de colisão de direitos fundamentais, a técnica correta para aferição da proporcionalidade em sentido estrito é a ponderação de bens, pela qual se estabelece uma relação de precedência condicionada, que vale como lei para determinado conflito. Esse procedimento é bastante útil para se aferir a compatibilidade de uma norma legal restritiva de direito ao princípio em exame não somente quando a finalidade da lei foi a de limitar o âmbito de proteção de um direito, mas quando, a pretexto de regular determinada matéria, por via reflexa se a restrição a um outro direito." 
A proporcionalidade, em sentido estrito, implica o máximo benefício com o mínimo sacrifício, sendo postos de um lado da balança os interesses protegidos com a medida, e do outro, os bens jurídicos que serão restringidos ou sacrificados por ela. 
Neste diapasão, o correto domínio do princípio da proporcionalidade certamente terá o condão de tornar a vida do operador do direito bem mais fácil, conforme se pôde verificar através do presente estudo, onde foram analisadas, à luz da proporcionalidade, a validade ou não das mais diversas situações em que há limitações ao direito fundamental à ação. Sobretudo aos juizes é fundamental a compreensão desse princípio. 
Antes de aplicar acriticamente os "rigores da lei", desde a primeira instância até os mais altos tribunais, deve-se fazer uma análise tópica, empírico-dialética do caso concreto, buscando, com base na proporcionalidade, a máxima efetivação dos princípios consagrados na Constituição, nunca temendo decidir contra legem, mas pro pricipium. 
Deve, assim, o julgador, como corolário lógico de seu nobre mister, aplicar, sempre que se confrontar com uma situação em que se necessite preservar direitos fundamentais, o princípio da proporcionalidade. Se a lei, por acaso, não está em consonância com o princípio, não deve o magistrado temer em relegar a lei a um segundo plano e concretizar o preceito constitucional em jogo.
 A função jurisdicional, portanto, só terá sentido se comprometida com os postulados constitucionais; do contrário, melhor não a ter. E sempre deve estar presente na atividade diária do profissional do Direito o princípio da proporcionalidade. 
Afinal, de nada valem apelos doutrinários sem a devida e concreta acolhida da teoria pelos verdadeiros operadores das normas jurídicas. 
Nem todas as condutas consideradas ilícitas pelos demais ordenamentos (civil, administrativo, tributário) que lesam direitos podem ser consideradas criminosas, pois o Direito Penal somente tipifica as condutas que violam ou expõem a perigo bens jurídicos de elevado valor sociais, como a vida e a integridade física. 
Por isso, é correto afirmar que o Direito Penal é composto do mínimo ético necessário à convivência humana, podendo ser definido como um conjunto de normas jurídicas que tem por objeto a determinação de infrações de natureza penal e suas sanções correspondentes. 
Primeiramente, necessário elucidar e analisar o conceito da omissão de socorro prevista no art. 135 do Código Penal: Foi analisado no presente artigo a responsabilidade penal do médico nos casos de transfusão de sangue em pacientes menores de idade perten: É vedado ao médico: efetuar qualquer procedimento médico sem o esclarecimento e o consentimento prévio do paciente ou de seu responsável legal, salvo em iminente perigo de vida. Art. 135. 
Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, a criança abandonada ou extraviada, ou a pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena — detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. 
O sujeito ativo deste delito é aquele que tem o dever de prestar assistência (no caso da transfusão de sangue, é o médico). Em relação à não realização da transfusão de sangue, em respeito à autodeterminação do paciente, "há quem sustente a possibilidade de prevalência da vontade manifesta pela recusa em submeter-se à transfusão, inclusive com questionamento da constitucionalidade do art. 146, § 3s , I e II, do Código Penal"(38) . 
No caso em tese, fica uma dúvida para o médico que realiza a transfusão de sangue, se incorre nas penas do art. 146. De acordo com Aldir Guedes Soriano e Carlos Ernani Constantino, a intervenção médica realizada sem o consentimento do paciente ou seu representante legal é justificável em face do iminente perigo de vida, conduta essa que inclusive está chancelada pelo Código de Ética Médica, em seu art. 46. 
Sobre o assunto, interessa tratar do inciso primeiro, pois segundo consta, a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justifica por iminente perigo de vida.
 Assim sendo, mesmo sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal o médico poderia atuar sem que incorresse em infração penal alguma. 
Se assim ainda não fosse, ou seja, se não existisse previsão legal como a citada, esse ato do médico adequar-se-ia às elementares do artigo mencionado (art. 146) e sua conduta seria abraçada pela excludente de ilicitude do estado de necessidade, tendo em vista que da leitura do art. 24 do Código Penal extrai-se que age em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade e, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
Com base na pesquisa bibliográfica que se empreendeu é possível agora, esboçar algumas considerações que esclarecem os resultados de estudos, podendo concluir que, a questão que envolve a indicação médica de transfusão de sangue em pacientes Testemunha de Jeová é das mais polêmicas e conhecidas. 
Esta situação envolve um confronto entre um dado objetivo com uma crença, entre um benefício médico e o exercício da autonomia do paciente. Num Estado de Direito Democrático e Social, a liberdade é requisito da democracia. A autonomia individual deve ser respeitada e, com ela, o direito de consciência e de crença. 
As manifestações religiosas não se limitam ao exercício da religião em templos. Entende-se que pressupõe a prática religiosa, com respeito aos seus dogmas, em todas as circunstâncias da vida. 
Não existem verdades inabaláveis, teorias indestrutíveis, impressões irrefutáveis e que é saudável, senão fundamental ao jurista saber mudar de opinião quando lhe seja demonstrado que outra tese é mais coerente, mais perspicaz ou simplesmente mais justa para a solução do caso concreto. Portanto, faz-se necessária a ponderação dos valores envolvidos, com aplicação dos princípios específicos de Hermenêutica Constitucional, optando-se, finalmente, pelo direito que melhor assegure a dignidade da pessoa humana. 
A vontade manifesta do paciente 'Testemunha de Jeová", no sentido da recusa da transfusão de sangue, encontra respaldo no disposto no art. 5.", 11, VI, VI11 e X, da Constituição Federal de 1988, inserindo-se em sua esfera de liberdade, que abrange inclusive a disponibilidade do direito á vida. Esta mesma liberdade não se refere em aniquilar direito de igual envergadura e garantido a todo e qualquer cidadão que, amparado na dignidade da pessoa humana e no seu pressuposto (intangibilidade da vida), atua em favor de terceiros, ainda que contra suas próprias vontades. 
Em se tratando daqueles que possuem dever legal de agir (art. 13, s 2.", CP), a intervenção em favor da vida não pode ser recusada sob pretexto algum, quando tal intervençãoé a única capaz de impedir a ocorrência do evento danoso. Desta forma, todo profissional deve que trabalhar com a realidade de que nem sempre seus clientes concordarão com o seu modo de pensar. 
Este é um fato 40 natural da vida. Por isso, é de fundamental importância que o médico tenha uma mente democrática, não levando para o lado pessoal, e ser versátil em aprimorar seus conhecimentos. Não existe uma regra definitiva para ser aplicada à questão, pois a discussão já se inicia ao tentar-se definir se há ou não uma verdadeira colisão de direitos fundamentais, neste contexto cabe ao julgador valorar o caso concreto e analisar os direitos em jogo.
 A orientação da doutrina é no sentido de não sacrificar totalmente um direito em virtude do outro. No caso de paciente inconsciente e desacompanhado de familiares precisar de transfusão de sangue, a transfusão deve ser feita sem demora, pois trata-se de um iminente perigo de vida, e salvar vidas humanas é dever do médico Mas quando se trata de paciente lúcido que se negar à transfusão, o médico possui a alternativa de buscar todos os métodos de tratamento ao seu alcance, respeitando a vontade do paciente. 
O assunto é multifacetado e complexo. Talvez esteja nas mãos da ciência médica a solução para o problema, uma vez que a ciência jurídica costuma ficar à mercê de uma lenta evolução. Ademais, não se pode esquecer que um dos objetivos do Estado Democrático de Direito é respeitar a posição dos diferentes grupos sociais que o compõem. 
Dessa forma, os direitos fundamentais precisam ser analisados com vistas à evolução histórica e cultural, devendo o Estado intervir somente quando não existir outra forma de se resolver um problema.
8 A RECUSA DE RECEBER A TRANSFUSÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS 
Conforme já se mencionou ao longo deste trabalho, para a nossa Constituição, tanto o direito à vida como o direito à crença em uma religião são valores muito caros para a nossa sociedade. Assim, ambos estão positivados no catalogo do artigo 5º da Carta Política.
Como o tema é polêmico e não há como solucioná-lo de forma peremptória a ponto de inadmitir qualquer solução em contrário, alguns entendimentos antagônicos entre si despontaram nos que se debruçaram sobre o tema.
De um lado, há aqueles que defendem que o direito à liberdade religiosa deve ser respeitado a todo custo, pois é uma escolha do paciente que tem suas crenças, suas convicções e com base nelas quer viver. Assim, alguns defendem que sua autonomia de decidir se querem ou não serem submetidos à transfusão de sangue é uma escolha livre.
Postulam ainda, em seu favor, que a medicina está em constante evolução e que, certamente, outras técnicas são também eficientes para o tratamento, não havendo necessariamente que se submeterem ao método que não é compatível com sua religião.
Ainda na defesa da recusa, existe o argumento no sentido de que a dignidade da pessoa humana é protegida respeitando-se a escolha do paciente. Isso porque caso fosse submetido, contra a sua vontade, à transfusão, isso seria uma afronta à sua condição de crente em suas convicções.
Neste sentido, há o conhecido caso da mulher que após ter sido submetida ao tratamento contrário à sua religião fora rejeitada pela sua comunidade, assim relatado: “para salvar a vida de uma paciente, que se recusava terminantemente, por motivos religiosos, a consentir em transfusão, após difícil parto, praticou tal ato, contra a vontade da parturiente e de seu marido. A mulher, após obter alta, não foi aceita em seu lar, pelo cônjuge, nem pôde mais frequentar a Igreja, sendo repudiada por todos".
Esse caso ilustra muito bem a situação daqueles que defendem que deve prevalecer a liberdade religiosa. Pois a vida seria preservada com o tratamento, mas a vida seria indigna a partir de então, pois aquele paciente tinha suas crenças, que foram sumariamente desrespeitadas.
Ressalte-se que, como é intuitivo, quando não haja o risco para a vida do paciente, sua vontade de não submeter à transfusão de sangue deve ser estritamente observada.
Logicamente, se o paciente está em condições mentais de manifestar sua opção, não há porque desrespeitá-la e, mesmo contra a sua vontade realizar a intervenção médica.
Em sentido contrário, desponta o entendimento que defende que nesse especifico conflito, deve prevalecer o direito à vida pois é o mais básico de todos os direitos.
Caso exista o fundado risco de morte da pessoa, defendem que a intervenção deva ser realizada mesmo contra a vontade do paciente, ainda mesmo que estiver em condições mentais para manifestar a recusa.
É esse o entendimento do Conselho Federal de Medicina (apud TOKARSKI):
 “O paciente se encontra em iminente perigo de morte e a transfusão é a terapêutica indispensável para salvá-lo. Em tais condições, não deverá o médico deixar de praticá-la apesar da oposição do paciente ou de seus responsáveis em permiti-la“.
Logicamente esse estatuto do Conselho não resolve qualquer problema, simplesmente é uma instrução para os profissionais da área.
O médico poderia realizar o tratamento mesmo contra a vontade do paciente caso existisse o risco de morte. Essa é a conclusão a que chegam aqueles que defendem a primazia da vida à liberdade religiosa.
Há o entendimento manifestado por Pablo Stolze e Rodolfo Pampolona (2003) que dizem que:
“Nenhum posicionamento que se adotar agradará a todos, mas parece-nos que, em tais casos, a cautela recomenda que as entidades hospitalares, por intermédio de seus representantes legais, obtenham o suprimento da autorização judicial pela via judicial, cabendo ao magistrado analisar, no caso concreto, qual o valor jurídico a preservar”.
A posição de Flávio Tartuce (2009) é no sentido de proteger e preserva o direito á vida, são essas suas palavras:
“Como todo o respeito ao posicionamento em contrario, entendemos que, em casos de emergência, deverá ocorrer a intervenção cirúrgica, eis que o direito à vida merece maior proteção do que o direito à liberdade, particularmente quanto àquele relacionado com a opção religiosa. Em síntese, fazendo uma ponderação entre direitos fundamentais – direito á vida X direito à liberdade ou opção religiosa-, o primeiro deve prevalecer.”
É lógico, que essa é uma opinião pessoal dos juristas citados, tão respeitáveis quanto a opinião de um leigo que nunca estudou o assunto de forma aprofundada. Com isso estamos querendo demonstrar, conforme já mencionamos, que não há qualquer resposta verdadeira, real.
Não pode o estudioso outorgar ao seu ponto de vista a condição de “melhor argumento” refutando aos demais.
Isso demonstra que o tema é complexo e não há solução que possa ser denominada de correta.
Alguns casos já chegaram aos nossos tribunais, que aqui serão devidamente transcritos:
(TJSP, Ap. Civ. 123.430-4 – Sorocaba – 3ª Câmara de Direito privado – relator Flávio Pinheiro – 07.05.2002 “Indenizatória – Reparação de danos – Testemunhas de Jeová – Recebimento de transfusão de sangue quando de sua internação – Convicções religiosas que não podem prevalecer perante o bem maior tutelado pela Constituição Federal que é a vida – Conduta dos médicos, por outro lado, que pautou-se dentro da lei e ética profissional, posto que somente efetuaram as transfusões sanguíneas após esgotados todos os tratamentos alternativos – Inexistência, ademais, de recusa expressa ao receber transfusão de sangue quando da internação da autora – Ressarcimento, por outro lado, de despesas efetuadas com exames médicos, entre outras, que não merece ser acolhido, posto não terem sido os valores despendidos pela apelante – Recurso não provido”.
E ainda há outro julgado:
TJRS, Apelação Cível 70020868162, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS “Apelação cível. Transfusão de sangue. Testemunha de Jeová. Recusa de tratamento. Interesse em agir. Carece de interesse processual o hospital ao ajuizar demanda no intuito de obter provimento jurisdicional que determine à paciente que se submeta à transfusão de sangue. Não há necessidade de intervenção judicial, pois o profissional

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