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75 CAPÍTUL0 VIII PERMEABILIDADE DOS SOLOS l - Introdução Como já se viu, o solo é constituído de uma fase sólida e de uma fase fluida (água e/ou ar). A fase fluida ocupa os vazios deixados pelas partículas sólidas que compõem o esqueleto do solo. Particularmente, em se tratando da água, esta pode estar presente no solo sob as mais variadas formas. Nos solos grossos, em que as forças de superfície são inexpressivas, essa água se encontra livre entre as partículas sólidas, podendo estar sob equilíbrio hidrostático ou podendo fluir. sob a ação da gravidade, desde que haja uma carga hidráulica. Para os solos finos, a situação se torna mais complexa, uma vez que passam a atuar forças de superfície de grande intensidade. Assim, nesses solos, existe uma camada de água adsorvida, a qual pode estar sujeita a pressões muito altas., por causa das forças de atração existentes entre as partículas. Próximo às partículas essa água pode se encontrar solidificada, mesmo a temperatura ambiente, e, a medida que vai aumentando a distancia, a água tende a tornar-se menos viscosa, graças ao decréscimo de pressões. Esses filmes de água adsorvida propiciam um vinculo entre as partículas, de forma que lhes confira uma resistência intrínseca chamada coesão verdadeira. O restante de água existente nesses solos finos se encontra livre, podendo fluir por entre as partículas, desde que haja um potencial hidráulico para tal. A maior ou menor facilidade que as partículas de água encontram para fluir por entre os vazios do solo, constitui a propriedade chamada permeabilidade do solo. 2 - Leis de Darcy e de Bernouilli Existem dois tipos de escoamento para os fluidos reais, laminar e o turbulento, os quais são regidos por leis diferentes da Mecânica dos Fluidos. No âmbito da Mecânica dos Solos, interessa apenas o escoamento laminar, no qual as partículas do fluido se movem em camadas, segundo trajetórias retas e paralelas. O escoamento laminar fica determinado por uma velocidade crítica, abaixo da qual toda a tendência à turbulência é absorvida pela viscosidade do fluido. Verificou-se, experimentalmente, que a velocidade crítica, para escoamento em tubos, corresponde a um número de Reynolds de cerca de 2000. A lei de Darcy, válida para escoamento laminar, pode ser expressa da seguinte forma (Figura 51): iKv ⋅= , na qual 76 v - velocidade de descarga K - coeficiente de permeabilidade de Darcy i = AH/L - gradiente hidráulico: representa a perda de carga (h) que decorreu da percolação da água numa distancia L. Essa lei pode ser expressa, também, da seguinte forma: AiKQ ⋅⋅= na qual Q - vazão A - área normal (secção) à direita do escoamento. É importante notar que a velocidade (v) da lei de Darcy representa a velocidade de descarga e não a velocidade de percolação (vp) da água através dos poros do solo. Conquanto haja algumas restrições quanto à sua aplicação, essa lei é utilizada, com muita freqüência, em muitos tópicos da Mecânica dos Solos, dada a sua simplicidade e razoável precisão. A lei de Bernouilli resulta da aplicação do principio de conservação de energia ao escoamento de um fluido, e, em nosso caso a água. A energia que um fluido incompressível, em escoamento permanente, possui, consiste em parcelas ocasionadas pela pressão (piezométrica) , pela velocidade (cinética) e pela posição (altimétrica). Assim, na direção do escoamento, é possível sintetizar o princípio de conservação da energia, por meio da seguinte expressão, que constitui a lei de Bernouilli: ctez g vuz g vuHT =++=++= 2 2 22 1 2 11 22 γγ . 77 Nessa expressão, tem-se uma altura de carga de pressão (u/γw); uma carga cinética v2/2g e uma carga altimétrica (z). A figura 52 mostra um esquema da carga total atuante em determinada secção de um escoamento. Nos solos, a velocidade de percolação da água é pequenas par cela de carga cinética é quase desprezível, assim a carga total existente numa determinada seção é igual à soma das parcelas de carga de pressão e de carga altimétrica: zuH w += γ Por outro lado, quando da percolação ocorre: uma perda de carga (∆H) por causa do atrito viscoso da água com as partículas de solo. Esse atrito proporciona o aparecimento das chamadas forças de percolação, ás quais serão ventiladas mais adiante. Assim a equação de Bernouilli se resume a: HzuzuH ∆++=+= 2211 γγ A Figura 53 mostra uma linha de fluxo de água através de um solo. Dessa forma entre as duas secções (1),e (2) ocorre uma perde carga por causa do atrito viscoso igual a: +− +=∆ 2 2 1 1 zuzuH γγ 78 3 - Determinação do Coeficiente de Permeabilidade O coeficiente de permeabiIidade de um soIo pode ser obtido por meio de métodos diretos e indiretos. Os métodos diretos baseiam-se em ensaios de laboratório sobre amostras representativas ou em ensaios de campo. Os métodos indiretos se utilizam de correlações com características do solo facilmente determináveis. 3.1 - Métodos Diretos Dentre os métodos diretos, destacam-se os permeâmetros que são aparelhos destinados a medir a permeabilidade dos solos, em laboratório e o ensaio de bombeamento, realizado "in situ". Ambos utilizam a lei de Darcy, para o cálculo do Coeficiente de permeabilidade. A Figura 54 mostra um esquema do ensaio de permeabilidade, a carga Constante: O corpo de prova, convenientemente colocado no permeâmetro, e submetido a uma altura h de carga (diferença de nível entre o reservatório e inferior e tem área A e largura L. A água percolada pelo corpo de prova é recolhida numa proveta graduada, tomando-se medida de tempo. Pela lei de Darcy: AiK t vQ ⋅⋅== mas L hi = , então A L hK t v ⋅⋅= , donde thA vLK ⋅⋅ = 79 Este tipo de ensaio é empregado para solos de permeabilidade alta (areias e pedregulhos), uma vez que nos solos pouco permeáveis, o intervalo de tempo necessário para que percole uma quantidade apreciável de água e bastante grande. Neste caso, utiliza-se o ensaio, à carga variável, que está esquematizado na Figura 55. Anota-se o tempo necessário para o nível de água ir no tubo de área (a), de ho até h1. O volume de água, em virtude de uma variação de nível (dh), será: hdadv ⋅⋅−= 80 Pela Lei de Darcy, o volume correspondente à água que percolará pela amostra, será: dtAiKdv ⋅⋅⋅= onde L hi = Dessa forma: dtA L hKdha ⋅+=⋅− Integrando entre (ho, to) e (h1, t1), tem-se: ∫ ∫=− 1 1h h t to o dt L KA h dha donde: t L KA h ha o ∆=⋅ 1 ln Assim, 1 0ln h h tA LaK ∆⋅ ⋅ = Ou, como é mais freqüente: 1 0log3,2 h h tA LaK ∆⋅ ⋅ = É freqüente, também obter o coeficiente de permeabilidade diretamente, em laboratório, no ensaio de adensamento, obedecendo basicamente ao mesmo princípio, à carga variável. Deve-se frisar que tais ensaios são realizados sobre amostras de pequenas dimensões, as quais não representam as características gerais do solo no campo, com suas descontinuidades e particularidades. A maneira mais realista de obter o coeficiente de permeabilidade é mediante ensaios “in situ”, tais como o ensaio de perda de água sob pressão (bombeamento), que é bastante utilizado para o estudo da permeabilidade de maciços rochosos que servirão de fundação para barragens. A descrição, mais pormenorizada de alguns métodos para obtenção do coeficiente de permeabilidade “in situ” pode ser encontrada nas referências 7 e 15. 81 3.2 - Métodos Indiretos Pode-se estimar o coeficiente de permeabilidade de areias por intermédio de diversas fórmulas, como por exemplo, a desenvolvida por Hazen: 2 eDCK ⋅= (cm/s), em que: De - é o diâmetro efetivo do solo, em centímetros; C - é um coeficiente que varia entre 90 e 120, sendo 100 um valor frequentemente utilizado . Uma restrição que se impõe para utilização dessa formula é a de que o coeficiente de não uniformidade (Cu) seja menor que 5. Em se tratando de siltes e argilas, pode-se obter o coeficiente de permeabilidade, indiretamente, por meio de dados fornecidos pelo ensaio de adensamento(CAPÍTUL0 IX): wv d m t HTK γ⋅⋅⋅=2 , em que: T - fator tempo, para a porcentagem de adensamento; Hd - distância de drenagem; t - tempo necessário para que ocorra a porcentagem de adensamento; mv - coeficiente de deformação volumétrica; γw - massa específica da água. 4 - Fatores que Interferem na Permeabilidade Os fatores que exercem papel decisivo na permeabilidade de um solo estão ligados às características do fluido, que está percolando e ao tipo de solo. O peso especifico e a viscosidade (normalmente a água) são duas propriedades do fluido que exercem influência significativa. Sabe-se que essas duas propriedades variam, em função da temperatura, entretanto, a viscosidade é muito mais afetada. Quando se determina o coeficiente de permeabilidade de um solo, costuma-se apresentá-lo em referência à temperatura de 2OO°C, para padronizar o efeito da variação da viscosidade com a temperatura, por meio da expressão: T T KK ⋅= 20 20 µ µ , em que: K20 - coeficiente de permeabilidade a 20°C; KT - coeficiente de permeabilidade a T° C; 82 µT - viscosidade da água a T° C; µ2O - viscosidade da água a 20°C. As principais características do solo que afetam a permeabilidade são o tamanho das partículas, o índice de vazios, o grau de saturação e a estrutura. Pode-se notar que qualquer tentativa no sentido de procurar avaliar o efeito isolado de cada uma das características enumeradas é difícil, porquanto elas, em geral, são interdependentes. A titulo de informação vamos apresentar alguns aspectos qualitativos, referentes à interferência das características citadas: a. tamanho das partículas: a permeabilidade varia grosseiramente com o quadrado do tamanho das partículas(K = f(D2)). Tal constatação apóia-se na lei de Poiseuille, e foi utilizada por Hazen, para avaliar o coeficiente de permeabilidade das areias a contar do diâmetro efetivo; b. Índice de vazios: constatações experimentais e mesmo a equação de Kozeny-Carman parecem mostrar que o coeficiente de permeabilidade pode ser colocado como uma reta, em função do índice de vazios: 2 23 11 eK e eK e eK ⋅= + = + = γβα Tem-se notado que a relação e x logK aproxima-se bastante de uma reta, para quase todos os tipos de solos; c. grau de saturação: quanto maior o grau de saturação do solo que esta sendo ensaiado, maior será a sua permeabilidade, pois a presença de ar nos vazios tende a impedir a passagem da água; d estrutura: amostra de mesmo solo, com mesmos índices de vazios tenderão a apresentar permeabilidades diferentes, em função da estrutura. A amostra no estado disperso terá uma Permeabilidade menor que a amostra de estrutura floculada. Tal pode ser aplicado ao caso dos maciços compactados (barragens de terra, por ex.) em que o arranjo das partículas condiciona a permeabilidade. Neste caso, verifica-se que a permeabilidade na direção horizontal é maior que na vertical. Finalizando este item, são apresentadas as equações de Poiseuille e de Kozeny-Carman, as quais auxiliam a entender a influência das características citadas. A lei de Poiseuille aplica-se ao escoamento através de ca pilares e foi estendida aos solos por Taylor, com a fórmula: e eCDK s + = 1 3 2 µ γ em que: 83 K - coeficiente de permeabilidade de Darcy; C - fator de forma; Ds - um diâmetro efetivo das partículas; γ - peso específico do fluido; µ - viscosidade do fluido; e - índice de vazios do solo. A equação de Kozeny-Carman aplica-se à avaliação da permeabilidade dos meios porosos: e e Sk K +⋅ = 1 1 3 2 0 µ γ , em que: ko - fator que depende da forma dos poros e da tortuosidade da trajetória da linha de fluxo; S - superfície específica. 5 - Forças de Percolação Havendo um movimento de água através de um solo, ocorre uma transferência de energia da água para as partículas sólidas do solo, por causa do atrito viscoso que se desenvolve. A energia transferida é medida pela perda de carga e a força correspondente à essa energia é chamada de força de percolação. Tal força transfere-se de grão a grão (é, portanto, uma força efetiva) e tem o mesmo sentido do fluxo d água. O conhecimento do mecanismo e a determinação do valor dessa força é de fundamental importância para a Engenharia, uma vez que ela 6 responsável, muitas vezes, por problemas de instabilidade em cortes, aterros e barragens. Deve-se ainda a essa força o aparecimento dos fenômenos de "piping" e de areia movediça, bem como a instabilidade do fundo de escavações em areias ("heive"). A Figura 56 permite visualizar como a energia se transmite para as partículas de solo. A amostra de areia de comprimento (L) e de área (A) está submetida à força (P1) graças à carga (h1) do reservatório da esquerda e a força (P2), em virtude de (h2). As forças P1 e P2 serão: AhP w ⋅⋅= 11 γ e AhP w ⋅⋅= 22 γ A força resultante, que deve ser consumida por atrito, será: ( )2121 hhAPPF w −⋅⋅=−= γ Na Figura 56, o gradiente hidráulico é: L h L hhi ∆=−= 21 84 Portanto a força de percolação será: viLAiF wwp ⋅⋅=⋅⋅⋅= γγ , a qual é aplicada uniformemente num volume (V) igual a A x L. Dessa forma, a força por unidade de volume corresponderá a: LA LAif wp ⋅ ⋅⋅⋅ = γ ou wp if γ⋅= Surge agora uma nova alternativa para o calculo do equilíbrio estático de massa de solo sujeita à percolação de água. Assim duas opções podem ser seguidas: a. utilizar o peso total do elemento de solo combinado com força neutra atuante, na superfície desse elemento; b. utilizar o peso efetivo combinado com a força efetiva, por causa da percolação, aplicada ao elemento de solo, no sentido do fluxo. Essas duas alternativas serão utilizadas no capítulo seguinte, referente às areias movediças. 6 - Areia Movediça As tensões efetivas são as que realmente controlam todas as características de deformação e resistência dos solos. No caso dos solos arenosos, é a tensão efetiva, atuando em determinado plano, que determina a 85 resistência ao cisalhamento desses solos (CAPÍTULO XIII). Essa tensão efetiva (σ'), multiplicada pelo correspondente coeficiente de atrito (tg φ') fornece a resistência do cisalhamento do solo (s). s = σ‘ tg φ = (σ - u) tg φ‘ O fenômeno da areia movediça pode ocorrer sempre que a areia a submetida a um fluxo ascendente de água, de forma que a força de percolação gerada venha a igualar ou superar a força efetiva graças ao solo. A Figura 57 mostra um esquema explicando como isso poderá ocorrer. A areia está submetida a um fluxo ascendente de água, ou seja, a água percola do ramo, da esquerda para a direita, em virtude da carga h, que é dissipada, por atrito, na areia. A tensão total no ponto A é: Lh satwA ⋅+⋅= γγσ 1 , e a pressão neutra vale: ( )Lhhu w ++= 1γ Ora, se a altura da carga (h) for aumentada até que a pressão neutra iguale a tensão total, obviamente a tensão efetiva será zero (s = (σ - u) tg φ‘ = 0). A partir daí o solo terá as propriedades de um líquido, não fornecendo condições de supor te, para qualquer sólido que se venha a apoiar sobre ele. O valor da carga h, nesse instante, é denominado de altura de carga crítica (hc), e para sua obtenção basta igualar a tensão total e a pressão neutra: 86 ( )LhhLh cwsatw ++=⋅+⋅ 11 γγγ ( ) ww wsatc c L hi γ γ γ γγ ' = − == O valor do gradiente hidráulico crítico (ic = hc/L) será, fazendo γw = 1 g/cm3, numericamente igual à massa específica submersa. O mesmo valor poderá ser obtido, pensando em termos de tensões efetivas, ou seja, combinando a força efetiva graças ao solo, com a força de percolação atuando no sentido ascendente: ( ) vLAF wsat ⋅=⋅⋅−= '' γγγ viF w ⋅⋅= γ w cii γ γ ' == A ocorrência da areia movediça pode ser evitada pela construção de algum elemento que proporcione um acréscimo de tensões efetivas, sem que haja aumento das pressões neutras. Tais elementos denominados filtros, são compostos, normalmente, por camadas de solos granulares e devem alimentar a tensão efetiva e manter as partículas da areia em suas posições originais. 7- Filtros de Proteção Freqüentemente, há necessidade de drenar a água que percola através de, um solo, e issooriginal forças de percolação, fonte de sérios problemas. Dentre esses problemas, destaca-se a erosão que pode conduzir a situações catastróficas, como no caso de ruptura de barragens por "piping". Portanto, quando da drenagem de solos passíveis de erosão. há necessidade de protege-los fazendo construir camadas de proteção, que permitam a livre drenagem de água, porém mantenham em suas posições as partículas de solo. Tais camadas, denominadas filtros de proteção, deveria ser construídos com materiais granulares (areia e pedregulho) e satisfazer duas condições básicas, a saber: a. os vazios do material de proteção devem ser suficientemente pequenos, de forma que impeça a passagem das partículas de solos a ser protegido. b. os vazios do material devem ser suficientemente grandes de forma que propiciem a livre drenagem das águas e o controle das forças de percolação, impedindo o desenvolvimento de altas pressões hidrostáticas, isto é, a carga dissipada no) filtro deve ser pequena. Para atender a essas condições básicas, Terzaghi estipulou duas relações bastante empregados para a escolha de um material de filtro. 87 A condição a é satisfeita por: D15f < 4 a 5 D85s e a combinação b por: D15f > 4 a 5 D15s Na Figura 58, tem-se um exemplo de como escolher a curva granulométrica de um filtro, para proteger um solo, do qual se conhece a curva granulométrica. Estabelecidos os limites para D15f (pontos A e B) devem-se desenhar curvas granulométricas de coeficiente de não uniformidade, aproximadamente igual ao do solo a ser protegido. Um solo que se situe nessa faixa assim determinada poderá servir de filtro para o solo a ser protegido. É importante notar que o critério de Terzaghi não fornece as dimensões do filtro, mas apenas uma faixa de variação para a sua composição granulométrica. Para estabelecer as dimensões, é necessário atentar para as condições hidráulicas: do problema. A Figura 59 apresenta dois casos de utilização de filtros. No caso a, temos uma barragem de terra através da qual há um fluxo de água, graças às diferenças de carga entre montante e jusante. Com o intuito de proteger a barragem do fenômeno de erosão interna (piping) e para permitir limei rápida drenagem da água que percola através da barragem, usa-se construir filtros, como, por exemplo, o filtro horizontal esquematizado no desenho. 88 No caso b, a água percola através do solo arenoso da fundação do reservatório. Pelo desenho, pode-se notar que próximo a face de jusante das estacas-prancha, o fluxo é vertical e ascendente, o que, pode originar o fenômeno de areia movediça. Para combater esse problema, faz-se construir um filtro de material granular, que tenderá a contrapor-se às forças de percolação, pelo aumento do peso efetivo, e que permitirá a livre drenagem das águas. Após o critério de Terzaghi, foram estipulados outros critérios, alguns dos quais são listados a seguir: U.S. Army D15f < 5 D85s D50f > 25 D50s Esse critério presta-se a qualquer tipo de solo, exceto para as argilas médias a altamente plásticas. Para essas argilas D15f pode chegar até 0,4 mm, e o critério de D50 pode ser desprezado. Entretanto, o material de filtro deve ser bem graduado para evitar segregação e para tanto é necessário um coeficiente de não uniformidade menor que 20. Sherard Quando o material a proteger contiver pedregulhos, o filtro devera ser projetado com base na curva correspondente ao material menor que 1". 89 Araken Silveira Este critério, baseado numa concepção diferente das tradicionais, utiliza a curva de distribuição de vazios do filtro, obtida estatisticamente a partir da curva de distribuição granulométrica, para os estados fofo e compacto. A partir da curva de vazios, determina-se a possibilidade de penetração das partículas do solo no material de filtro. Estabelecidas as probabilidades de penetração, para determinados níveis de confiança, é possível determinar sua espessura de filtro capaz de reduzir ao mínimo a possibilidade de passagem das partículas do solo pelo material de filtro. Atualmente, tem crescido a utilização de mantas sintéticas, como material de filtros, sobretudo na execução de drenos longitudinais, em estradas, Figura 60. Em que pese não ter havido tempo suficiente para um teste completo desse material, o comportamento tem sido satisfatório e o seu uso tende a generalizar-se. É desnecessário frisar que, havendo necessidade de o filtro ser construído por duas ou mais camadas de materiais diferentes, deve-se obedecer aos critérios estabelecidos para duas camadas adjacentes. 8 - Capilaridade Denomina-se capilaridade à propriedade que os líquidos apresentam de atingirem, em tubos de pequeno diâmetro, pontos acima do nível freático. O nível freático é a superfície em que atua a pressão atmosférica e, na Mecânica dos Solos, é tomada como origem do referencial, para as pressões neutras, e no nível freático a pressão neutra e igual a zero. Os fenômenos de capilaridade estão associados diretamente à tensão superficial, sendo a que atua em toda a superfície de um líquido, como decorrência da ação da energia superficial livre. Um líquido, e no nosso caso a água, por causa da atração existente entre suas moléculas, tende a atrair qualquer molécula que se encontro a 90 superfície, para seu interior, originando uma tendência para diminuir a sua superfície (e isso explica a forma esférica das gotas de líquido). A energia superficial livre é definida como o trabalho necessário para aumentar a superfície livre de um líquido em 1cm2. Quando em contato com um sólido, uma gota de líquido tende a molhar o sólido, dependendo da atração molecular entre o líquido e o sólido. No caso da água, esta molha o vidro, dando origem a meniscos Pode-se provar que, por força da tensão superficial, a pressão no lado côncavo de um menisco é maior que a do lado convexo, e que a diferença dessas pressões está relacionada com a tensão superficial, de acordo com a seguinte expressão: a Tp s2=∆ Ts - tensão superficial a - raio de curvatura do menisco Como decorrência dessa diferença de pressões, tem-se a ascensão de água, num tubo capilar. Segundo a Figura 61.a, para que haja equilíbrio, a água tem que se elevar no tubo capilar até uma altura hc, tal que a pressão hidrostática equilibre a diferença de pressões: cw s h a Tp ⋅==∆ γ2 θcos ra = r Th w s c ⋅ ⋅⋅ = γ θcos2 Para o caso de água pura e vidro limpo, o ângulo de contato (θ) é zero e a expressão para a altura de ascensão capilar fica: 91 r Th w s c ⋅ ⋅ = γ 2 A mesma expressão para hc pode ser obtida de outra forma. Consideremos a Figura 61.c: Fazendo o equilíbrio de forças verticais, e como pa, é o referencial para as pressões neutras vem: 0cos2 2 =⋅⋅+⋅⋅ urTr s πθπ r Tu s θcos2 ⋅−= Veja o ponto a da Figura 61.c. As pressões têm que ser equilibradas, para que não haja fluxo: 0cos2 ==⋅−= atmscw Pr Th θγ r Th w s c ⋅ ⋅⋅ = γ θcos2 Na Figura 61.b, tem-se o diagrama de pressões neutras e pode-se notar aí um importante efeito por causa da capilaridade. A pressão neutra graças à ascensão capilar é negativa pois, como atua Patm no lado côncavo do menisco, e esta e tomada como origem do referencial, para medida das pressões neutras, decorre que u < O, porquanto as pressões no lado convexo são menores que as do lado côncavo). No caso dos solos, pode-se imaginar os seus poros interligados e formando canalículos, que funcionam como tubos capilares. Assim, pode-se explicar, dentro da massa, a ocorrência de zonas saturadas de solo, que estão situadas acima do lençol freático. A água em contato com o solo também tenderá a formar meniscos. Nos pontos de contacto dos meniscos com os grãos (Figura 62) evidentemente, agirão pressões de contacto, tendendo a comprimir os grãos. Essas pressões de contato (pressões neutras negativas) somam-se as tensões totais: σ ‘ = σ - (-u) = σ +u, fazendo com que a tensão efetiva realmente atuante seja maior que a total. Esse acréscimo de tensão proporciona um acréscimo de resistência conhecidocomo coesão aparente, responsável, por ex., pela estabilidade de taludes em areia úmida e pela construção de castelos com areia úmida nas praias. Uma vez eliminada a ação das forças capilares (como, por exemplo, pela saturação) desaparece a vantagem de coesão aparente. Outra decorrência importante refere-se às argilas, quando submetidas à secagem. À medida que se processa a secagem, diminui consideravelmente o raio de curvatura dos meniscos, fazendo com que as pressões de contato aumentam e tendam a aproximar as partículas, o que provoca uma contração do solo. 92
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