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Marina Cardoso Dermatologia 1 Introdução Dermatites eczematosas são um conjunto de dermatoses inflamatórias que compartilham o fato de apresentarem, no início do seu desenvolvimento, a espongiose (edema intercelular da epiderme), podendo evoluir com liquenificação. No exame físico aparece como vesiculação ou até mesmo bolhas. Sua gênese é multifatorial. Duas ou mais formas de eczema podem estar presentes simultaneamente. Independente do tipo, são resultado da interação entre fatores intrínsecos ao organismo e elementos externos: Exposição Predisposição Eczema atópico + ++++ Eczema seborreico ++ +++ Eczema de contato alérgico +++ ++ Eczema de contato primário ++++ + Dessa forma, dividimos em dois grupos: • Endógenos: Eczema atópico e eczema seborreico, eczema esteatótico e eczema discoide • Exógenos: eczema de contato alérgico e eczema de contato primário. Dermatite atópica (Eczema atópico) • Processo inflamatório cutâneo crônico, pruriginoso e recorrente. • 80% tem outras manifestações de atopia (asma, rinite alérgica). • Em 80% dos casos apresenta-se antes dos 5 anos de idade • Fatores Genéticos: história familiar em 70% dos casos. • Fatores Fisiológicos: Tendência à hiperatividade; Prurido autoperpetuador, que se agrava a noite, traz desconforto e altera o padrão de sono. Sudorese, assim como xerodermia, agrava ou incita o prurido. Reatividade vascular anômala: vasoconstricção periférica, dermografismo branco. • Fatores Imunológicos: Elevação de IgE (associada a manifestações respiratórias) → gravidade da doença Deficiência seletiva de IgA Depressão imune celular: maior frequência de infecções. ATENÇÃO: Contaminação por S. aueros ocorre em 75-90% dos pacientes. Quadro Clínico História de atopia + • Prurido intenso (agrava à noite); • Xerose cutânea (aumenta perda de água transepidérmica e diminui retenção da camada córnea); • Lesões com >6 semanas, cursando com remissões e exacerbações • Liquenificação A apresentação típica pode ser dividida em três estágios: • Lactente: Lesões eritematosas, papulosas ou papulovesiculares. Descamação com exsudato seroso. Principalmente em face, couro cabeludo, pescoço e superfícies extensoras. Geralmente poupa a área da frauda. • Infantil (2-12 anos): lesões vesiculosas subagudas com menos exsudação (pele muito seca e liquenificação residual persistente). Preferência por áreas flexoras (fossas poplítea e cubital), 2 nádegas, base posterior da coxa, dorso das mãos, tornozelo e pescoço. • Adolescente e adulto (>12 anos): placas mais localizadas e com predomínio da liquenificação (liquenoide). Acometem principalmente as superfícies de flexão, punhos, dorso das mãos, pescoço e pálpebras inferiores. Diagnóstico *United Kingdom Work Group (Willians e col. – mais recentes): Presença de prurido cutâneo somado a três ou mais dos critérios a seguir: 1- História de prurido envolvendo áreas flexurais, cervical, palpebral, tornozelos; 2- História de pele seca generalizada no último ano; 3- Início das lesões de pele antes dos dois anos de idade (esse critério somente é aplicado para pacientes com quatro anos ou mais); 4- Dermatite atual envolvendo áreas flexurais (ou região malar/fronte/face externa dos membros em pacientes menores de quatro anos). Os critérios de Hanifin e Rajka (1980) são os clássicos. Para o diagnóstico, são necessários três critérios maiores e três critérios menores. Tratamento • Cuidados Gerais: Cuidados gerais: - Ambientais: banhos, vestuário, cortinas, brinquedos e almofadas, animais domésticos, cama. Todos os materiais devem ser de fácil lavagem para evitar acúmulo de ácaros; - Emolientes (cremes hidratantes) - Alimentares: prova da exposição/exclusão; - Apoio psicológico aos pais, orientando quanto à história natural de períodos de exacerbação e acalmia; • Farmacológico: - Corticoide tópico de média a alta potência. (Evitar os de alta potência em crianças pelo risco de absorção e efeito sistêmico). - Antibioticoterapia sistêmica: nas formas extensas, mesmo sem evidência clara de infecção secundária. - Anti-histamínicos sedativos (melhora o prurido e ajuda a dormir). - Imunomoduladores: talidomida, pimecrolimus, tracolimus, fototerapia; - Imunossupressores: azatioprina, ciclosporina A. Dermatite DE Contato Dermatite de Contato por Irritante Primário (DCIP) Causada por qualquer irritante químico capaz de causar inflamação quando aplicado sobre a pele na concentração e tempo suficientes. Não há sensibilização prévia. A DCIP é grande causa de doença ocupacional: mecânicos, lavadeiras, serventes, professores, auxiliares de limpeza etc. Dois exemplos importantes: • Dermatite das mãos das donas de casa causada pelo uso de produtos de limpeza: xerodermia, fissura, descamação. 3 • Dermatite de fraldas (amonical): causada pelo com urina e pelo PH alcalino das fezes. Resumo: • Não há reconhecimento de antígeno • Teste de contato negativo • Substâncias ácidas e alcalinas • Pode ocorrer no primeiro contato • Geralmente limita-se à região do contato • Depende de concentração e de tempo de exposição Dermatite de Contato Alérgico A reação alérgica ocorre em pessoas predispostas, caracterizando uma reação de hipersensibilidade do tipo IV. Após a exposição e sensibilização, as manifestações ocorrem num período cada vez mais curto, mais grave e de forma mais extensa ao contato contínuo ou por reação cruzada. O diagnóstico é baseado na morfologia e topografia da lesão + TESTE PROVOCATIVO ou teste de contato epicutâneo. Quando o teste é positivo observa-se o desenvolvimento de lesões de eczema naquela região: eritema, vesículas, exsudação. Orientações para o exame: Não deve ser feito na fase aguda, nem após exposição solar intensa. O uso de imunomoduladores pode ocasionar falsos- negativos, mas anti-histamínicos não. Resumo: • Há reconhecimento de antígeno • Teste de contato positivo • Necessita contato prévio • Dissemina à distância • Menor dependência de concentração ou tempo de exposição. Dermatites alérgicas importantes: • Sulfato de níquel (brincos, piercing...): causa frequente de eczema de contato alérgico em mulheres • Dicromato de K+: couro, cimento • Formalina: Esmalte de unha. Geralmente o eczema se localiza nas pálpebras. Tratamento 1. Lesões Localizadas Na fase aguda ou subaguda: - Compressas ou banhos de permanganato, água boricada. - Corticoide - ANTB se infecção Na fase crônica (liquenificada): - Emolientes, corticoides, ceratolíticos. 2. Lesões Disseminadas - Corticoides sistêmicos em baixas doses Eczema Numular (discoide) Presença de placas ovais ou circulares de contornos bem definidos. Etiologia indeterminada, parece estar associada a: xeratose cutânea, umidade ambiente, sensibilidade ao estafilococo, atopia, etilismo, fatores psicológicos e sensibilidade ao ouro e a metildopa. Acomete mais adultos, tem início em MMII, dorso das mãos e superfície extensora dos braços. Lesões discoides com aspecto eritematoso com vesículas e crostas sobrejacentes. Enquanto novas lesões surgem, as antigas crescem de forma centrípeta. Causam prurido intenso. Em geral é crônico e piora nos meses mais frios e menos úmidos. Tratamento: Emolientes e corticoides tópicos. Dermatite de Estase Associada a insuficiência venosa dos membros inferiores. Gênese: tromboflebite, obesidade, artrites e deformidades congênitas, gravidez. É sede frequente de infecções secundárias e celulite de repetição, que pode culminar em linfedema. Lesões eritematoesxudativas, liquenificadas, pruriginosas, associadas a dermatite ocre, ectasia vascular e lipodermatoesclerose (perna em 4“garrafa de Champagne”). Cuidado! Pode ser confundido com erisipela. Eczema Desidrótico (Pompholyx) São 5-20% dos eczemas recidivantes em mãos e pés. Aparecimento súbito de vesículas claras, profundas, pruriginosas (sem eritema) nas bordas dos dedos. Melhora espontânea em 3 semanas. Pode haver prurido intenso. Parece estar relacionada a fatores emocionais. Eczema Seborreico (Caspa) Doença inflamatória superficial crônica com predileção por couro cabeludo, sobrancelhas, bordos palpebrais, sulco nasolabial e região pré-esternal. Ocorre em 5% da população, no grupo das pessoas vivendo com HIV essa porcentagem é maior e as lesões mais inflamatória, extensas e de difícil tratamento. Tem relação com estresse e ansiedade. Outros fatores associados são: • Malassezia sp. (fungo da pele) • Doença de Parkinson • Obesidade • Diabetes Cuidado! No recém-nascido: acometimento intenso do couro cabeludo, formação de escamas amareladas e espeças: “capuz de leite” Tratamento: - Xampu de enxofre, coaltar, ácido salicílico, zinco, sulfeto de selênio ou antifúngico (azol); - Corticosteroides ou antifúngico em creme; - Prednisona oral: casos graves. Eczema Esteatótico Eczema de inverno, eczema craquelé ou eczema senil. É uma dermatose associada à diminuição do teor lipídico da pele. É mais comum em idosos no período do inverno. Geralmente nos membros, lesões eritematodescamativas sem limites precisos. Pode evoluir com fissuras e prurido de intensidade variável. Associação ao eczema numular. Tratamento: Evitar o uso excessivo de sabões/sabonetes nos banhos, aplicação de emolientes.
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