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3U.T.I.Unidade Técnica de ImersãoLLINGUAGENSE CÓDIGOS C © Hexag Sistema de Ensino, 2018 Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino. São Paulo, 2019 Todos os direitos reservados. Autores Emily Cristina dos Ouros Lucas Limberti Murilo de Almeida Gonçalves Pércio Luis Ferreira Diretor geral Herlan Fellini Coordenador geral Raphael de Souza Motta Responsabilidade editorial Hexag Editora Diretor editorial Pedro Tadeu Batista Programação visual Hexag Editora Editoração eletrônica Arthur Tahan Miguel Torres Eder Carlos Bastos de Lima Felipe Lopes Santos Iago Kaveckis Letícia de Brito Matheus Franco da Silveira Raphael de Souza Motta Raphael Campos Silva Projeto gráfico e capa Raphael Campos Silva Foto da capa pixabay (http://pixabay.com) Impressão e acabamento Gráfica BMK Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto, a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições. O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra está sendo usado apenas para fins didáticos, não represen- tando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora. 2019 Todos os direitos reservados por Hexag Sistema de Ensino. Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP CEP: 04043-300 Telefone: (11) 3259-5005 www.hexag.com.br contato@hexag.com.br CARO ALUNO Você está recebendo o terceiro caderno da U.T.I. (Unidade Técnica de Imersão) do Hexag Vestibulares. Este material tem o objetivo de verificar se você aprendeu os conteúdos estudados nos livros 5 e 6, oferecendo-lhe uma seleção de questões dissertativas ideais para exercitar suas memória e escrita, já que é fundamental estar sempre pronto a realizar as provas de 2ª fase dos vestibulares. Além disso, este material também traz sínteses do que você observou em sala de aula, ajudando-lhe ainda mais a compreender os itens que, possivelmente, não tenham ficado claros e a relembrar os pontos que foram esquecidos. Aproveite para aprimorar seus conhecimentos. Bons estudos! SUMÁRIO U.T.I. - LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS ENTRE LETRAS Gramática 5 Literatura 33 ENTRE TEXTOS ENTRE FRASES BETWEEN ENGLISH AND PORTUGUESE ENTRE ASPAS Interpretação de textos 55 Redação 77 Estudo da língua inglesa 89 Obras literárias 99 Gramática L C 0 3 U.T.I. 7 CONCORDÂNCIA NOMINAL A concordância nominal baseia-se na relação entre um substantivo e as palavras que a ele se referem para caracterizá-lo (artigos, adjetivos, pronomes adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Em suma, a concordância nominal se ocupa basicamente da relação entre nomes. a) Crianças barulhentas (concordância entre o substantivo feminino crianças, no plural, e seu qualificador barulhentas também no plural e no feminino). b) A criança está agitada. (concordância feita entre o substantivo feminino criança, no singular, e seus qualificadores a e agitada, também no singular e feminino). Observação: Em geral, o substantivo funciona como núcleo de um termo da oração e o adjetivo, o artigo, o pronome ou o numeral, como adjunto adnominal. Dessa forma, é o núcleo que determina se as palavras relacio- nadas a si devem ficar no singular ou no plural, no feminino ou no masculino. CONCORDÂNCIA VERBAL Observe estas frases: O autor aprovou a biografia. Os autores aprovaram as biografias. No primeiro exemplo, o verbo “aprovar” encontra-se na terceira pessoa do singular, concordando com o seu sujeito, “o autor”, também no singular. No segundo exemplo, o sujeito “os autores” está concordando em número (plural) com o verbo. Nesses dois exemplos, as flexões de pessoa e número correspondem-se. A concordância verbal ocorre quando o verbo está flexionado para concordar com seu sujeito. Regra geral O sujeito simples (com apenas um núcleo) concordará com o verbo em número e pessoa. Exemplos: A promotora divulgou o evento. As promotoras divulgaram o evento. Oitenta e cinco por cento dos entrevistados não aceitam a alteração da lei. * Se a expressão que indicar porcentagem não for seguida de substantivo, o verbo deve concordar com o número. Exemplos: Vinte e cinco por cento querem aumento de salário. Um por cento conhece bem a matéria. 1. Sujeito formado pelo pronome relativo "que": a concordância em número e pessoa é feita com o ante- cedente do pronome. Exemplos: Fui eu que paguei e saí mais cedo. Fomos nós que compramos o carro. 2. Sujeito formado pela expressão “um dos que”: o verbo deve assumir a forma plural. Exemplo: Se você é um dos que cantam em karaokê, certamente terá seu repertório favorito. 8 Importante Na linguagem corrente, a tendência é a concor- dância no singular: Exemplo: Ele foi um dos deputados que mais lutou para a aprovação da proposta. Ao comparar com um caso em que se use um adjetivo: Exemplo: Ela é uma das alunas mais aten- ta da sala. A análise dessa construção mostra que a forma no singular é inadequada para a língua es- crita. Portanto, as formas aceitáveis gramatical- mente são: Exemplos: Das alunas mais atentas da sala, ela é uma. Dos deputados que mais lutaram pela apro- vação da proposta, ele é um. CONCORDÂNCIA VERBAL II 1. A palavra ”se” Dentre as diversas funções exercidas pelo se, há duas de particular interesse para a con- cordância verbal. o se como índice de indeterminação do sujeito; e o se como partícula apassivadora. Como índice de indeterminação do sujeito, o se acompanha os verbos intransitivos, tran- sitivos indiretos e de ligação, que obrigato- riamente são conjugados na terceira pessoa do singular. Exemplos: Precisa-se de vendedores com prática. Confia-se demais em pesquisas de opinião. Como pronome apassivador, o se acompa- nha verbos transitivos diretos e transitivos di- retos e indiretos na formação da voz passiva sintética. Nesse caso, o verbo deve concordar com o sujeito da oração. Exemplos: Construiu-se um enorme edifí- cio onde ficava a velha casa. Construíram-se novos edifícios onde ficava a velha casa. Aluga-se quarto para estudantes. Alugam-se quartos para estudantes. 2. O verbo ser A concordância verbal dá-se sempre entre o verbo e o sujeito da oração. No caso do verbo ser, essa concordância pode ocorrer também entre o verbo e o predicativo do sujeito. O verbo ser concorda com o predicativo do su- jeito: a) se o sujeito for representado pelos prono- mes isto, isso, aquilo, tudo, o e o predica- tivo estiver no plural. Exemplos: Isso são lembranças que de- vem ser esquecidas. Aquilo eram problemas ur- gentes. b) se empregado na indicação de horas, dias e distâncias, o verbo ser concorda com o numeral. Exemplo: É uma hora. São três da manhã. Eram 13 de setembro quan- do partimos. Daqui até o shopping são dois quarteirões. Importante Na indicação de dia, o verbo ser admite as seguintes concordâncias: 1. No singular, concordando com a palavra ex- plícita dia. Exemplo: Hoje é dia quatro de junho 2. No plural, concordando com o numeral (sem a palavra dia). Exemplo: Hoje são quatro de junho. c) se o sujeito indicar peso, medida, quanti- dade e for seguido de palavras ou expres- sões como pouco, muito, menos de, mais de, etc., o verbo ser fica no singular. Exemplo: Cinco quilos de arroz é mais do que suficiente. Três metros de tecido é pouco para fazer o vestido. Duas semanas de férias é pouco para viajar. d) se o sujeito for uma expressão de sen- tido partitivo ou coletivo e o predicativo 9 estiver no plural, o verbo “ser” concorda com o predicativo. Exemplo: A grande maioria no protes- to eram jovens. O resto foram atitudes im- pensadas. REGÊNCIA Para compreender o conceitode regência é fun- damental entender que as palavras, ao ocuparem suas posições nas estruturas sintáticas da língua, podem estabelecer vínculos de subordinação com outras pala- vras. Nas estruturas subordinadas, há sempre um termo que subordina outro. O primeiro chama-se subordinan- te, termo que determina e do qual depende o segundo, seu subordinado. Essa relação em que uma palavra funciona como complemento da outra chama-se regência. Diz-se que as palavras que dependem de outras são por elas regi- das. As palavras que regem as outras são chamadas de regentes. Esses vínculos de subordinação vêm, por vezes, marcados por preposições, semanticamente escolhidas por determinados nomes e verbos para marcar a relação que eles estabelecem com os complementos nominais e verbais que regem. Exemplos a) Gosto de viajar. (O verbo gostar rege um ob- jeto indireto, a ele subordinado no interior do predicado-verbal. A preposição de marca a regência desse verbo). b) Tenho medo de avião. (O substantivo medo rege um complemento nominal, a ele subor- dinado. A preposição de marca a regência desse substantivo). Portanto, o estudo que segue refere-se às rela- ções que se estabelecem entre nomes e seus comple- mentos (regência nominal) e entre verbos e seus com- plementos (regência verbal). Regência nominal É a denominação dada à relação semântica que se estabelece entre substantivos, adjetivos e determina- dos advérbios e seus respectivos complementos nomi- nais. Essa relação vem sempre marcada por preposição. Alguns nomes listados a seguir costumam vir acompanhados de um complemento nominal e exigem o uso de determinadas preposições para que o enun- ciado construído tenha sentido enquanto estrutura do Português. impróprio para semelhante a contrário a indeciso em sensível a descontente com insensível a desejoso de liberal com suspeito de diferente de natural de vazio de Regência de alguns advérbios longe de perto de Regência verbal É a denominação dada à relação semântica que se estabelece entre verbos e seus respectivos comple- mentos (objetos direto e indireto). No caso dos objetos indiretos, essa relação vem sempre marcada por uma preposição. 10 Atenção Para melhor compreender os principais as- pectos envolvidos na questão da regência verbal, é fundamental relembrarmos a noção de transitivi- dade (argumentação) verbal. Quanto à predicação, os verbos podem ser classificados em intransitivos e transitivos. Verbos intransitivos apresentam sentido com- pleto e não necessitam de complemento (obje- to direto ou indireto). Verbos transitivos necessitam de um com- plemento de valor substantivo (objeto di- reto ou indireto) para integrar-lhes o sen- tido. Nesse caso, a transição entre o verbo e seu complemento pode ser direta (caso dos verbos transitivos diretos, que regem objetos diretos) ou indireta (caso dos ver- bos transitivos indiretos, que regem objetos indiretos). Exemplos: A garota comprou uma maçã. (verbo transitivo direto rege um objeto direto). A garota gosta de maçã. (verbo transitivo indireto rege um objeto indireto). Observação: Para que seu sentido fique completo, alguns verbos exigem um objeto direto e um objeto indireto, sequencialmente. A esses ver- bos chamamos bitransitivos. A garota deu uma maçã de presente ao amigo. (uma maçã é objeto direto do verbo dar e ao amigo é objeto indireto do mesmo verbo, intro- duzido pela preposição a). Nesse exemplo, a preposição de, que apa- rece diante do termo “presente”, não apresenta relação com a noção de transitividade verbal, mas introduz um adjunto adnominal do objeto direto, qualificando-o apenas. Assim, para a discussão de regências nominal e verbal são relevantes apenas aquelas preposições que ligam complementos a um verbo (objetos indiretos) ou a um nome (com- plementos nominais). É transitivo direto no sentido de acariciar. Exemplos: Sempre agrada a criança quando a vê. / Sempre a agrada quando a vê. É transitivo indireto no sentido de causar agrado a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento introduzido pela preposição a. Exemplos: A peça de teatro não agradou aos espectadores. / A peça de teatro não lhes agradou. Aspirar É transitivo direto no sentido de sorver, inspirar (o ar), inalar. Exemplo: Aspirava o suave aroma do perfume. (Aspirava-o.) É transitivo indireto no sentido de desejar, ter como ambição. Exemplo: Aspirávamos a uma viagem para a Europa. (Aspirávamos a ela.) Observação: Como o objeto indireto do verbo aspirar não é pessoa, mas uma coisa, não são usadas as formas pronominais átonas lhe e lhes, mas as formas tôni- cas a ele(s), a ela(s), conforme a gramática norma- tiva (exemplo anterior). CRASE É o nome que se dá à junção de duas vogais idênticas. É de grande importância a crase da prepo- sição a com o artigo feminino a(s); com o pronome demonstrativo a(s); e com o a inicial dos pronomes aquele(s), aquela(s), aquilo e com o a do relativo a qual (as quais). Na escrita, a crase é indicada pelo acento gra- ve ( ` ). Para o entendimento da crase, é fundamental também dominar a regência dos verbos e nomes que exigem a preposição a. Aprender a empregar a crase, portanto, consiste em aprender a verificar a ocorrência simultânea de uma preposição e de um artigo ou pro- nome. Exemplos: Vou a + a França. Vou à França. Nesse exemplo, há ocorrência da preposição a, exigida pelo verbo ir (ir a algum lugar) e a ocorrência do 11 artigo a que está determinando o substantivo feminino França. Se ocorrer esse encontro e a fusão dessas duas vogais, essa fusão é indicada pelo acento grave. Exemplos: Conheço a estudante. Refiro-me (a + a) à estudante. No primeiro exemplo, o verbo é transitivo direto (conhecer algo ou alguém), logo, não exige preposição e não há ocorrência de crase. No segundo exemplo, o verbo é transitivo indireto (referir-se a algo ou a alguém) e exige a preposição a. Portanto, a crase é possível, des- de que o termo seguinte seja feminino e admita o artigo feminino a ou um dos pronomes já especificados. REGRAS DE ACENTUAÇÃO Monossílabas Levam acento agudo ou circunflexo as palavras monossílabas terminadas em: a(s) – já; lá; vás e(s) – fé; lê; pés o(s) – pó, dó; pós Oxítonas São as palavras que possuem a última sílaba tônica. Levam acento agudo ou circunflexo as palavras oxítonas terminadas em: a(s) – vatapá; carajás; cajás e(s) – você; café; cafunés o(s) – jiló; avô; carijós em / ens – também; ninguém; armazéns Paroxítonas São as palavras que possuem a penúltima sílaba tônica. Levam acento agudo ou circunflexo as palavras paroxítonas terminadas em: i(s) – júri; lápis; tênis us – vênus; vírus; ônus r – caráter; revólver; mártir l – útil; amável; têxtil x – tórax; fênix; ônix n – éden; hífen; líquen um/uns – álbum; álbuns; médium ão(s) – órgão; órgãos; órfão ã(s) – órfã; ímã; imãs ps – bíceps; fórceps on(s) – rádon; rádons Proparoxítonas São as palavras que possuem a antepenúltima sílaba tônica. Todas as palavras proparoxítonas levam acento agudo ou circunflexo. Casos especiais São sempre acentuadas as palavras oxítonas com os ditongos abertos grafados “éis”, “éu(s)” ou “ói(s)”. Exemplos: anéis; herói; chapéu. Não são acentuadas as palavras paroxítonas com os ditongos abertos “ei” e “oi”, uma vez que existe oscilação em muitos casos en- tre a pronúncia aberta e fechada. Exemplos: assembleia; proteico; alcaloide. Não se acentuam os encontros vocálicos fechados. Exemplos: pessoa; canoa; voo. Observação: Se o verbo estiver no futuro (mesóclise), pode- rá haver dois acentos: amá-lo-íeis. Não levam acento gráfico as palavras paroxíto- nas que, tendo respectivamente vogal tônica aberta ou fechada, são homógrafas de arti- gos, contrações, preposições e conjunções átonas. Exemplos: para (verbo e preposição); pelo (substantivo e preposição) Levam acento agudo o “i” e “u”, quando repre- sentama segunda vogal tônica de um hiato, desde que não formem sílaba com “r”, “l”, “m”, “n” e “z” ou não estejam seguidos de “nh”. Exemplos: viúva; raízes (raiz); faísca. 12 Não leva acento a vogal tônica dos ditongos “iu” e “ui”. Exemplos: caiu; retribuiu; tafuis. Não serão acentuadas as vogais tônicas “i” e “u” das palavras paroxítonas quando essas vogais estiverem precedidas de ditongo decrescente. Exemplos: maoista; baiuca; bocaiuva. Serão acentuadas as vogais tônicas “i” e “u” das palavras oxítonas quando, mesmo precedidas de ditongo decrescente, estão em posição final, sozinhas na sílaba, ou seguidas somente de “s”. Exemplos: Piauí; teiú; tuiuiús. A 3a pessoa de alguns verbos se grafa da seguinte maneira: quando termina em “em” (monossílabas). Exemplos: tem / têm; vem / vêm. quando termina em “ém”. Exemplos: contém / contêm; convém / convêm quando termina em “ê” e derivados: Exemplos: crê / creem; revê / reveem Levam acento agudo ou circunflexo as palavras terminadas por ditongo oral (que não é nasal) átono cres- cente ou decrescente. Exemplos: ágeis; espontâneo; ignorância. Leva acento agudo ou circunflexo a forma verbal terminada em “a”, “e” e “o” tônicos, seguidas de “la(s)” e “lo(s)”. Exemplos: movê-lo; fá-los; sabê-lo-emos. Leva acento agudo a vogal tônica “i” das formas verbais oxítonas terminadas em “air” e “uir”, quando seguidas de “la(s)” e “lo(s)”, caso em que perdem o “r” final. Exemplos: atraí-los; possuí-lo. Não levam acento os prefixos paroxítonos terminados em “r” e “i”. Exemplos: super-homem; semicírculo. Leva acento circunflexo diferencial a sílaba tônica da 3a pessoa do singular do pretérito perfeito “pôde”, para distinguir-se de “pode”, forma da mesma pessoa do presente do indicativo. FUNÇÕES DE “A”, “QUE” E “SE” Durante o curso, estudamos diversas categorias gramaticais operadas por termos que são semelhantes (por exemplo, usos variados para o termo “que”). Agora, chega o momento de organizarmos esses elementos (e conhe- cermos alguns outros novos) a fim de nos prepararmos de modo adequado, seguro e eficaz para os vestibulares 13 Funções de “A” a) Artigo Classe de palavras variável que determina subs- tantivos Será encontrado sempre antecedendo subs- tantivos de gênero feminino de modo que, ao pronunciá-los, seja possível notarmos seu con- tato morfológico com esse substantivo, especial- mente em seu papel de particularização/espe- cificação (“a casa”, “a porta”, “a tristeza”, “a Cláudia”). b) Preposição Classe de palavras invariável que conecta ter- mos, podendo estabelecer entre eles algum sentido A preposição “a” pode ser encontrada como re- sultado de um processo de regência verbal ou regência nominal. Vejamos Ex.: Ela se referiu ao documento da casa (o verbo pronominalizado “referir-se” solicita pre- posição “a”, que será colocada diante do termo “documento”). Ex.: Tenho horror a hospitais (o substantivo “horror” solicita preposição “a”, que será colo- cada diante do termo “hospitais”) Atenção: Em nenhum dos dois casos apresentados ante- riormente, o “a” poderia ser classificado como Artigo, pois ele antecede as palavras “documen- to” e hospitais, que são masculinas. c) Pronome oblíquo Classe de palavras variável que ocupar o lugar de um substantivo que está em posição de complemento O termo “a” será pronome oblíquo quando fun- cionar como complementador de sentido de ver- bos transitivos diretos, em processos de regência em que esses verbos não sejam encerrados pelas consoantes “s”, “r” ou “z”; ou sons nasais. Ex.: Passe a palavra abaixo para o infinitivo e encontre-a no jogo de caça-palavras (o verbo “encontrar solicita como complemento o prono- me “a” logo a sua frente) Ex.: Eu a vi no cinema na semana passada (o verbo “ver” solicita como complemento o “a” que foi colocado em posição anterior a esse ver- bo) Atenção: Como pronome oblíquo, o “a” pode ser coloca- do em posição anterior ou posterior ao verbo, dependendo de regras específicas de colocação pronominal (consultar livro 4). Em posição pos- terior, irá se conectar ao verbo por meio de hífen. d) Pronome demonstrativo Classe de palavras variável que indica o lugar, a po- sição ou a identidade dos seres em relação às três pessoas do discurso, podendo situá-los no espaço, no tempo ou no próprio texto. O termo “a” funcionará como pronome demons- trativo quando for substituível na sentença pelos pronomes “aquele”, “aquela” ou “aquilo”. Ex.: Leve a (= aquela) que está em cima da mesa Atenção: O termo “a” com função de pronome demons- trativo, costuma vir antecedido dos termos “que” e “do(a)”. Funções de “QUE” a) Substantivo O “que” será substantivo quando vier antece- dido de um artigo (definido ou indefinido), seguido de preposição “de” Ex.: Esse menino tem um quê de artista! Atenção: O “que”, na função de substantivo, deverá rece- ber acento circunflexo. b) Pronome interrogativo É encontrado no início frases interrogativas. Ex.: Que aconteceu com os vendedores am- bulantes? 14 c) Pronome relativo Serve para recuperar termos que foram anterior- mente mencionados, fazendo-lhes referência. Ex.: O livro que você me emprestou é muito bom! Atenção: O “que”, na função de pronome relativo, pode ser substituído pelas construções “o(s) qual(is)” ou “a(s) qual(is)” d) Preposição O “Que” é utilizado aqui para substituir o “de” após o verbo “ter” Ex.: Ele tem que sair no horário hoje. e) Conjunção INTEGRANTE: introduz oração substantiva (subs- tituível pelo pronome “isso”) Ex.: É necessário que façamos algumas altera- ções no sistema. COMPARATIVA: trata-se de um “que” antecedi- do de marca comparativa de superioridade ou inferioridade Ex.: Não há maior prova de amor que doar a vida pelo irmão. CAUSAL: trata-se de um “que” substituível por “pois”, “porque” ou “já que” Ex.: Tenho que tomar cuidado, que esse chão é muito escorregadio. CONSECUTIVA: trata-se de um “que” antecedi- do de elemento de intensidade (“tão”, “tanto”, “tal”, “tamanho”...) Ex.: É tão pequeno que não alcança a geladeira. EXPLICATIVA: trata-se de um “que” substituível por “pois”, “porque” ou “já que”, diante de ver- bos em condições de imperativo ou incerteza Ex.: Vocês precisam escutar, que é muito impor- tante. INTERJEIÇÃO: geralmente utilizado em expres- são de espanto Ex: Quê! Não acredito que vai custar tudo isso! f) advérbio O “que” pode ser substituído pelo advérbio mo- dal “como”. Ex.: Que roupa mal costurada era aquela! (Como aquela roupa era mal costurada!) O “que” pode ser substituído pelo advérbio de intensidade “tão” Ex.: Que enganados andam os homens! (Tão enganados andam os homens!) g) Partícula expletiva Não tem função na oração. Serve apenas para realçar determinado termo. Ex.: Há muito tempo que não vou visito meus avós. h) pronome adjetivo Trata-se de um pronome “que” que irá acompa- nhar um substantivo em situações interrogativas, excla- mativas ou indefinidas. Ex.: Que horas são? (interrogativo) Ex.: Que bonita sua roupa! (exclamativo) Funções de “SE” a) Conjunção Conjunção subordinativa integrante: introduz orações subordinadas substantivas (o “se” pode ser substituído pelo pronome “isso”). Ex.: Quero saber se ela realmente me ama. Conjunção subordinativa condicional Ex.: Alugue um veículo se precisar chegar mais cedo ao local. b) Pronome reflexivo: Sujeito pratica e sofre ação verbal Ex.: A garoto cortou-se com a tesoura escolar. Atenção: Como pronome reflexivo, o “se” também funcionará como objeto direto, objeto indire- to ou sujeito do infinitivo. 15 c) Partícula apassivadora Quando se liga a verbos transitivos diretos, cons- tituindo uma voz passiva sintética. Ex.: Entregaram-se as correspondências d) Índice de indeterminação do sujeito O sujeito se tornará indeterminado quando se liga: verbos transitivos indiretos verbos intransitivos verbos de ligação Ex.: Discorda-se dos fatos apresentados no processo. Atenção:O fenômeno do Índice de indeterminação do su- jeito obriga o verbo a ficar sempre no singular. e) Partícula expletiva Não desempenha nenhuma função sintática ao se associar a verbos. Ex.: Ele acabou de se sentar f) Partícula integrante do verbo Trata-se de um “se” que é parte integrante do verbo para que ele possa exercer suas relações de sen- tido. Ex: Ele se queixou com o departamento pessoal PONTUAÇÃO I Os sinais de pontuação são recursos gráficos próprios da linguagem escrita. Embora não consigam reproduzir toda a prosódia da linguagem oral, estrutu- ram os textos e procuram estabelecer as pausas e as entonações da fala. Basicamente, têm como finalidade: 1. assinalar as pausas e as entoações na leitura; 2. separar palavras, expressões e orações que devem ser destacadas; e 3. esclarecer o sentido da frase, afastando qual- quer ambiguidade. Os principais sinais de pontuação são: Vírgula ( , ) Indica uma pausa pequena e, geralmente, é usa- da: a. em datas, para separar o nome da localidade, Exemplo: São Paulo, 29 de julho de 2015. b. após os advérbios sim ou não, usados como resposta no início da frase; Exemplo: Você gostou do presente? – Sim, adorei! c. após a saudação em correspondência (social e comercial); Exemplos: Com carinho, Atenciosamente, d. para separar termos de uma mesma função sintática; Exemplo: O apartamento tem dois quartos, dois banheiros, uma sala e um quintal. Obs.: A conjunção e substitui a vírgula entre o último e o penúltimo termo. e. para destacar elementos intercalados como; Uma conjunção; Exemplo: Viajaremos nas férias, logo, temos que nos organizar. Um adjunto adverbial; Exemplo: Estes relatórios, com certeza, fo- ram bem feitos. Um vocativo; Exemplo: Diga-me, Ana, com quem andas, que te direis quem és. Um aposto; Exemplo: Matemática, uma das disciplinas mais exigentes, deve ser estudada com afin- co. Uma expressão explicativa (isto é, a saber, ou melhor etc.); Exemplo: A prova consta de 20 questões dissertativas, isto é, questões que devem ser redigidas. 16 f. Para indicar a elipse de um termo; Exemplo: Ana foi mais cedo; eu, mais tarde. g. Para separar orações intercaladas; Exemplo: O importante, ressaltou o ator, é con- tracenar da melhor forma possível. h. para separar orações coordenadas assindéti- cas; Exemplo: Ela correu pela manhã, malhou à tar- de, meditou à noite. i. para separar orações coordenadas adversati- vas, conclusivas, explicativas e algumas ora- ções alternativas; Exemplos: Esforçou-se muito; porém, não con- seguiu a aprovação. Vá devagar, que a estrada é perigo- sa. Viaje muito, pois será recompensa- do com belas lembranças. As pessoas ora dançavam, ora can- tavam. Importante! Se a conjunção e assumir valor de adversida- de, o uso da vírgula é obrigatório, de acordo com a gramática normativa. Exemplo: Nadou muito, e morreu na praia. j. Para separar orações subordinadas adver- biais; Exemplo: Quando chegou, encontrou a carta em cima da mesa. k. Para isolar as orações subordinadas adjetivas explicativas. Exemplo: O grande prédio, que ainda estava em construção, dominava toda a paisagem. Ponto e vírgula ( ; ) Indicam uma pausa maior que a vírgula, uma entoação descendente em relação à prosódia da frase, mas assinalam que o período não terminou. Empregam- -se nos seguintes casos: a. para separar orações coordenadas não uni- das por conjunção e que guardem relação entre si; Exemplo: O show está lotado; a plateia está animada. b. para separar orações coordenadas, desde que haja pelo menos uma delas separando elementos por vírgula; Exemplo: O painel informava o seguinte: dez deputados votaram a favor do acordo; nove, contra. c. para separar itens de uma enumeração; Exemplo: Para a receita do bolo serão necessá- rios: ovos; trigo; chocolate. d. para alongar a pausa de conjunções adver- sativas (mas, porém, contudo, todavia, entre- tanto etc.), em substituição à vírgula; Exemplo: Gostaria de partir hoje; todavia, o ônibus só sairá amanhã. e. para separar orações coordenadas adversati- vas inseridas no meio da oração. Exemplo: Esperava encontrar todos os amigos no reencontro; revi, porém, apenas alguns. PONTUAÇÃO II Reticências ( ... ) Marcam uma suspensão da frase, revelando ele- mentos de natureza emocional. Empregam-se: a. para indicar continuidade de uma ação ou fato; Exemplos: O professor ficou falando... b. para indicar suspensão ou interrupção do pensamento; Exemplo: Foi até lá achando que... c. para representar, na escrita, hesitações co- muns na língua falada; Exemplo: Não comi chocolate... porque... por- que estou de regime. d. para deixar o sentido da frase em aberto, permitindo uma interpretação pessoal do lei- tor. 17 Exemplo: Se você soubesse a metade da história... Observação: Além do amplo valor sugestivo em matizes prosódicos, as reticências e o ponto de exclamação são auxiliares da linguagem afetiva e poética. Aspas ( “ ” ) Têm a função de destaque do texto. São empregadas: a. antes e depois de citações ou transcrições textuais; Exemplo: Como diz o ditado, “água mole, pedra dura; tanto bate até que fura”. b. para assinalar gírias populares. Exemplo: A bola “beijou” o travessão. Observação: Se houver necessidade de usar aspas em trechos já entre aspas, empregam-se aspas simples. Exemplo: “Tinha-me lembrado da definição que José Dias dera deles, ‘olhos de cigana oblíqua e dissimula- da’. Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou- -se fitar e examinar.” (Machado de Assis) 18 U.T.I. - SALA TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o poema de Manuel Bandeira (1886-1968) para responder à(s) questão(ões) a seguir. Poema tirado de uma notícia de jornal João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem nú- mero. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. (Libertinagem & Estrela da manhã, 1993.) 1. (Unesp 2019) a) Em que verso se verifica um desvio em relação à norma-padrão da língua escrita (mas recorren- te na língua oral)? Reescreva o verso, corrigindo esse desvio. b) Cite duas características, uma de natureza temática e outra de natureza formal, que afastam esse poema da tradição parnasiano-simbolista. 2. (Fuvest 2017) Considere a imagem abaixo, extraída da apresentação do filme A Amazônia, que faz parte da campanha “A natureza está falando”. No áudio desse filme, a atriz Camila Pitanga interpreta o seguinte texto: Eu sou a Amazônia, a maior floresta tropical do mundo. Eu mando chuva quando vocês precisam. Eu mantenho seu clima estável. Em minhas florestas, existem plantas que curam suas doenças. Muitas delas vocês ainda nem descobriram. Mas vocês estão tirando tudo de mim. A cada segundo, vocês cortam uma das minhas árvores, enchem de sujeira os meus rios, colocam fogo, e eu não posso mais proteger as pessoas que vivem aqui. Quanto mais vocês tiram, menos eu tenho para oferecer. Menos água, menos curas, menos oxigênio. Se eu morrer, vocês também morrem, mas eu crescerei de novo... a) Por estar em primeira pessoa, o texto constitui exemplo de uma determinada figura de lin- guagem. Identifique essa figura e explique seu uso, tendo em vista o efeito que o filme visa alcançar. b) No referido áudio, é possível perceber, no final da locução da atriz, uma entonação especial, representada na transcrição por meio de reticências. Tendo em vista que uma das funções desse sinal de pontuação é sugerir uma ideia não expressa que cabe ao leitor inferir, identifique a ideia sugerida, neste caso. 19 3. (Unicamp 2004) Por ocasião da comemora- ção do dia dos professores, no mês de outu- bro de 2003, foi veiculada a seguinte propa- ganda, assinada por uma grande corporação de ensino: Parabéns [Pl. de parabém] S. m. pl. 1. Felici- tações, congratulações.2. Oxítona terminada em "ens", sempre acentuada. Acentuam-se também as terminadas em "a", "as", "e", "es", "o", "os", e "em". Para a homenagem ao Dia do Professor ser completa, a gente precisava ensinar alguma coisa. a) Observe os itens 1 e 2 do verbete PARA- BÉNS. Há diferenças entre eles. Aponte- -as. b) Levando em conta o enunciado que está abaixo do verbete, a quem se dirige essa propaganda? c) Diferentes imagens da educação escolar sustentam essa propaganda. Indique pelo menos duas dessas imagens. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: MAÍRA Maíra só descobriu todo o seu poder um dia quando brincava com Micura na praia. Cada um deles tinha, levantada, uma mão cheia de vaga-lumes para alumiar, mas a lu- zinha era muito pouca. Maíra desenhou, as- sim mesmo, ali na areia da praia, uma arraia com seu ferrão e tudo. Mas naquela penum- bra se distraiu pisou na arraia desenhada. Foi aquela ferroada! Compreendeu, então, que podia fazer qualquer coisa: - Sou Maíra - lembrou - sou o arroto de Deus-Pai. Ele, ambir, agora tem nome: é Mai- rahú, meu pai. Meu filho será Mairaíra. - Pe- gou então a conversar com o irmão, Micura, sobre o que podiam fazer. Maíra: - O mundo de Mairahú, meu pai, é feio e triste. Não um mundo bom para a gente viver. Podemos melhorá-lo. Micura: - Não vá o Velho se ofender! Maíra: - Pode ser. É melhor não fazer nada. Micura: - Bobagem. Alguma coisinha po- demos fazer. Maíra: - Vamos, então, tomar dos que têm, o que eles têm, para dar aos que não têm. Micura saltou alegre: - Sim, vamos, pri- meiro o fogo. Ando com frio e com muita vontade de comer um churrasco. O fogo era do Urubu-rei que mandava na aldeia grande das gentes urubus. Eles só co- miam corós de carniça tostados no borralho. Não precisavam tanto do fogo. Usavam mais era luz para ver bem a carniça e o calor para esquentar o corpo nu quando se desvestiam das penas para brincar de gente. O jeito que os gêmeos encontraram para roubar o fogo foi matar um veado grande, muito grande, deixá-lo apodrecer para criar bastante bicho-coró e, então, mandar levar uma moqueca de corós para o Urubu-rei e convidá-lo para vir à comilança. Assim fize- ram. Maíra desenhou um cervo enorme, so- prou para que vivesse e o matou ali mesmo. Quando estava bem podre e bichado, manda- ram o passarinho que fala mais línguas, um papagaio, maracanã, atrás do Urubu-rei. Eles ficaram escondidos debaixo da carniça para agarrar o reizão bicéfalo quando ele pousas- se. Assim fizeram. Quando o Urubu-rei esta- va bem preso, Maíra gritou: - Calma, meu rei. Não tenha medo. Só quero o fogo pro meu povinho. Todos andam com frio. Só comem o cru. Mas se armou a maior das confusões por- que o Urubu-rei começou a responder com as duas cabeças, falando ao mesmo tempo, cada qual dizendo uma coisa. Maíra não en- tendia nada. Aí uma cabeça do Urubu-rei virou-se para a outra e as duas caíram numa discussão cerrada. O tempo ia passando sem que Maíra soubesse o que fazer. Afinal, teve a ideia de mandar Micura agarrar o rei-fa- lador. Levantou, então, suas duas mãos e fez de cada uma delas uma cabeça de urubu com bico e tudo e passou, assim, a conversar duro com as duas cabeças do reizão. Só des- te modo conseguiu que ele mandasse trazer o fogo, mas o rei ainda quis enganar Maíra entregando fogos que queimavam pouco e não davam luz. Felizmente ali estava Micura experimentando tudo. Provava um e dizia: - Não, este não serve não; não é o fogo que precisamos. Não, este também não é o fogo que precisamos. Não, este também não é o fogo de verdade. - Afinal, conseguiram o fogo verdadeiro e fizeram o trato. Maíra: - Vocês urubus vão comer carniça com fartura; o chefão de duas cabeças vai ficar com uma só, para não enganar mais ninguém, mas nesta vai usar esse diadema vermelho e branco que eu lhe dou agora. Urubu-rei: - Fiquem com o fogo vocês, mairuns. Mas façam muita carniça pra nós. (Darcy Ribeiro. Maíra.) PROMETEU ACORRENTADO Ésquilo (A cena é o pico duma montanha deserta. Chegam Poder e Vigor, que trazem preso Pro- meteu; segue-os, coxeando, Hefesto, carre- gando correntes, cravos e malho.) PODER. Eis-nos chegados a um solo lon- gínquo da terra, caminho da Cítia, deserto 20 ínvio. Hefesto, é mister te desincumbas das ordens enviadas por teu pai, acorrentando este celerado, com liames inquebráveis de cadeias de aço, aos rochedos de escarpas abruptas. Ele roubou uma flor que era tua, o brilho do fogo, vital em todas as artes, e deu-a de presente aos mortais; é preciso que pague aos deuses a pena desse crime, para aprender a acatar o poder real de Zeus e re- nunciar o mau vezo de querer bem à Huma- nidade. HEFESTO. Poder e Vigor, a incumbên- cia de Zeus para vós está terminada; nada mais vos embarga. Eu, porém, não me animo a agrilhoar à força um deus meu parente a um píncaro aberto às intempéries. Todavia, é imperioso criar essa coragem; é grave ne- gligenciar as ordens de meu pai. (...) PODER. Basta! Para que te atardares em lástimas perdidas? Por que não abominas o deus mais odioso aos deuses, que entregou aos mortais um privilégio teu? HEFESTO. O parentesco e a amizade são forças formidáveis. PODER. Concordo, mas como se podem transgredir as ordens de teu pai? Isso não te infunde medo? HEFESTO. Tu és sempre cruel e audacioso. PODER. Lamentos não curam os teus ma- les; não te canses à toa em lástimas inefica- zes. HEFESTO. Oh! que ofício detestável! (...) HEFESTO. Podemos ir. Seus membros já estão amarrados. PODER. (a Prometeu) Abusa, agora! Fur- ta aos deuses seus privilégios para entregá- -los aos seres efêmeros! Que alívio te podem dar deste suplício os mortais? Errados anda- ram os deuses em te chamarem Prometeu; tu mesmo precisas de alguém que te prometa um meio de safar-te destes hábeis liames! (Retiram-se Poder, Vigor e Hefesto.) PROMETEU. Éter divino! Ventos de asas ligeiras! Fontes dos rios! Riso imensurável das vagas marinhas! Terra, mãe universal! Globo do sol, que tudo vês! Eu vos invoco. Vede o que eu, um deus, sofro da parte dos deuses! Contemplai quão ignominiosamente estracinhado hei de sofrer pelas miríades de anos do tempo em fora! Tal é a prisão avil- tante criada para mim pelo novo capitão dos bem-aventurados! Ai! Ai! Lamento os sofri- mentos atuais e os vindouros, a conjeturar quando deverá despontar enfim o termo des- te suplício. Mas que digo? Tenho presciência exata de todo o porvir e nenhum sofrimento imprevisto me acontecerá. Cumpre-me su- portar com a maior resignação os decretos dos fados, sabendo inelutável a força do Des- tino. Contudo, não posso calar nem deixar de calar minha desdita. Por ter feito uma dádiva aos mortais, estou jungido a esta fa- talidade, pobre de mim! Sou quem roubou, caçada no oco duma cana, a fonte do fogo, que se revelou para a Humanidade mestra de todas as artes e tesouro inestimável. Esse o pecado que resgato pregado nestas cadeias ao relento. (Teatro Grego. Seleção, introdução, notas e tradução direta do grego por Jaime Bruna. São Paulo: Cultrix, 1964.) 4. (Unesp 2006) Muitos verbos, como é o caso de "renunciar", apresentam mais de uma regência, por vezes sem alteração relevante de significado, de modo que a realização da regência em cada frase se torna dependente da escolha estilístico-expressiva do escritor. Com base nesse fato, a) considerando que na frase "e renunciar o mau vezo de querer bem à Humanidade" o verbo "renunciar" aparece como tran- sitivo direto, escreva uma frase em que o mesmo verbo apareça como transitivo indireto e outra em que apareça como in- transitivo; b) reescreva a seguinte frase de Micura tor- nando o verbo "precisar" transitivo indi- reto: "Não, este também não é o fogo que precisamos". 5. (Unicamp) Matte a vontade. Matte Leão. Este enunciado faz partede uma propaganda afixada em lugares nos quais se vende o chá Matte Leão. Observe as construções a seguir, feitas a partir do enunciado em questão: Matte à vontade. Mate a vontade. Mate à vontade. a) Complete cada uma das construções aci- ma com palavras ou expressões que expli- citem as leituras possíveis relacionadas à propaganda. b) Retome a propaganda e explique o seu funcionamento, explicitando as relações morfológicas, sintáticas e semânticas en- volvidas. 21 U.T.I. - E.O. 1. (Unicamp) O texto abaixo é parte de uma campanha promovida pela ANER (Associação Nacional de Editores de Revistas). Surfamos a Internet, Nadamos em revistas A Internet empolga. Revistas envolvem. A Internet agarra. Revistas abraçam. A Internet é passageira. Revistas são permanentes. E essas duas mídias estão crescendo. Um dado que passou quase despercebido em meio ao barulho da Internet foi o fato de que a circu- lação de revistas aumentou nos últimos cinco anos. Mesmo na era da Internet, o apelo das revistas segue crescendo. Pense nisto: o Google existe há 12 anos. Durante esse período, o número de tí- tulos de revistas no Brasil cresceu 234%. Isso demonstra que uma mídia nova não substitui uma mídia que já existe. Uma mídia estabelecida tem a capacidade de seguir prosperando, ao oferecer uma experiência única. É por isso que as pessoas não deixam de nadar só porque gostam de surfar. (Adaptado de Imprensa, n. 267, maio 2011, p. 17.) a) O verbo surfar pode ser usado como transitivo ou intransitivo. Exemplifique cada um desses usos com enunciados que aparecem no texto da campanha. Indique, justificando, em qual des- ses usos o verbo assume um sentido necessariamente figurado. b) Que relação pode ser estabelecida entre o título da campanha e o trecho reproduzido a seguir? Como essa relação é sustentada dentro da campanha? A Internet empolga. Revistas envolvem. A Internet agarra. Revistas abraçam. A Internet é passageira. Revistas são permanentes. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: TEXTO 1 A REVOLUÇÃO DO CÉREBRO O seu cérebro é capaz de quase qualquer coisa. Ele consegue parar o tempo, ficar vários dias numa boa sem dormir, ler pensamentos, mover objetos a distância e se reconstruir de acordo com a necessidade. Parecem superpoderes de histórias em quadrinhos, mas são apenas algumas das descobertas que os neurocientistas fizeram ao longo da última década. Algumas dessas façanhas sempre fizeram parte do seu cérebro e só agora conseguimos perceber. Outras são frutos da ciência: ao decifrar alguns mecanismos da nossa mente, os pesquisadores estão encontrando maneiras de realizar coisas que antes pareciam impossíveis. O resultado é uma revolução como nenhuma outra, capaz de mudar não só a maneira como entendemos o cérebro, mas também a imagem que fazemos do mundo, da realidade e de quem somos nós. [...] O seu corpo, ao que parece, é muito pequeno para conter uma máquina tão poderosa quanto o cérebro. Prova disso veio em julho, quando foram divulgadas as aventuras de Matthew Nagle, um americano que ficou paralítico em uma briga em 2001. Três anos depois, cientistas da Universi- dade Brown, EUA, e de quatro outras instituições implantaram eletrodos na parte do cérebro dele responsável pelos movimentos dos braços e registraram os disparos de mais de 100 neurônios. Enviados a um computador, esses sinais permitiram que ele controlasse um cursor em uma tela, abrisse e-mails, jogasse videogames e comandasse um braço robótico. Somente com o pensamento, Nagle conseguiu mover objetos. [...] 1Foi [...] uma prova de que o nosso cérebro é capaz de coman- dar objetos fora do corpo - uma ideia que pode mudar nossa relação com o mundo. Extraído da Revista Superinteressante, Editora Abril, agosto de 2006, pp.50-59. 22 TEXTO 2 O SÉCULO LOUCO Do século XX, no futuro, se dirá que foi louco. 1Um século que usou ao máximo o po- der do cérebro para manipular as coisas do mundo e não usou o coração para fazer isso com sentimento solidário. Um século no qual a palavra "inteligên- cia" perdeu o seu sentido pleno, porque o raciocínio foi capaz de manipular a nature- za nos limites da curiosidade científica, mas não foi usado para fazer um mundo melhor e mais belo para todos. A inteligência do sé- culo XX foi burra. Foi capaz de fabricar uma bomba atômica, liberar a energia escondida dentro dos átomos, mas incapaz de evitar que se usassem duas delas, matando cente- nas de milhares de pessoas. O que se pode dizer da bomba atômica, como símbolo do século XX, vale para o con- junto das técnicas usadas nestes cem anos loucos: fomos capazes de tudo, menos de fa- zer o mundo mais decente - como teria sido possível. Vivemos um tempo em que a inteligência humana conseguiu fazer robôs que substi- tuem os trabalhadores, mas no lugar de li- bertar o homem da necessidade do trabalho, os robôs provocam a miséria do desemprego. Inventamos a maravilha do automóvel e au- mentamos o tempo perdido para ir de casa ao trabalho. Fizemos armas inteligentes, que acertam os alvos sem necessidade de arriscar a vida de pilotos, mas põem em risco a paz entre os povos.[...] BUARQUE, Cristovam. Os instrangeiros. A aventura da opinião na fronteira dos séculos. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2002, pp. 113-115. TEXTO 3 A BOMBA ATÔMICA (fragmento) A bomba atômica é triste Coisa mais triste não há Quando cai, cai sem vontade Vem caindo devagar Tão devagar vem caindo Que dá tempo a um passarinho De pousar nela e voar... Coitada da bomba atômica Que não gosta de matar! Coitada da bomba atômica Que não gosta de matar Mas que ao matar mata tudo Animal e vegetal Que mata a vida da terra E mata a vida do ar Mas que também mata a guerra... Bomba atômica que aterra! Pomba atônita da paz! Pomba tonta, bomba atômica Tristeza, consolação Flor puríssima do urânio Desabrochada no chão Da cor pálida do hélium E odor de rádium fatal Loelia mineral carnívora Radiosa rosa radical. Nunca mais oh bomba atômica Nunca em tempo algum, jamais Seja preciso que mates Onde houve morte demais: Fique apenas tua imagem Aterradora miragem Sobre as grandes catedrais: Guarda de uma nova era Arcanjo insigne da paz! MORAES, Vinicius de. Antologia Poética. Rio de Janeiro: José Olympio, 1976, pp. 147-8. *Loelia - Nome que designa uma família de orquídeas TEXTO 4 POESIA NA SALA DE AULA DE CIÊNCIAS? A LITERATURA POÉTICA E POSSÍVEIS USOS DIDÁTICOS [...] Ciência e poesia pertencem à mes- ma busca imaginativa humana, embora liga- das a domínios diferentes de conhecimento e valor. A visão poética cresce da intuição criativa, da experiência humana singular e do conhecimento do poeta. A Ciência gira em torno do fazer concreto, da construção de imagens comuns, da experiência compar- tilhada e da edificação do conhecimento co- letivo sobre o mundo circundante. Tem como vínculo restritivo, ao contrário da poesia, o representar adequadamente o comporta- mento material; tem, mais profundamente que a leitura poética do mundo, a capacida- de de permitir a previsão e a transformação direta do entorno material. As aproximações entre Ciência e poesia revelam-se, no en- tanto, muito ricas, se olhadas dentro de um mesmo sentimento do mundo. A criativida- de e a imaginação são o húmus comum de que se nutrem. [...] Nos tempos atuais, em que a Ciência e a tecnologia impregnam profundamente nos- sa cultura e permeiam nosso cotidiano, com seus benefícios extraordinários mas também com suas mazelas, a poesia poderia parecer um anacronismo. Mas, talvez, as muitas pe- quenas verdades científicas constituam ape- nas uma abordagem incompleta e limitada 23 do mundo. Relembremos Einstein: Não su- perestimem a ciência e seus métodos quando se trata de problemas humanos! A poesia e a arte, que parecem constituir necessidades urgentes de afirmação da experiência indi- vidual, umavisão complementar e indispen- sável da experiência humana, não podem fi- car de fora das atividades interdisciplinares com os jovens nas escolas, mesmo aquelas ligadas ao aprendizado de Ciências. [...] MOREIRA, Ildeu de Castro. Poesia na sala de aula de ciências? Física na Escola, v. 3, nº 1, 2002. 2. (Pucrj) a) Retire, do Texto 1, uma expressão que tem um caráter excessivamente informal em relação ao restante do mesmo. b) Fazendo todas as modificações necessá- rias, reescreva o período a seguir sem empregar a conjunção integrante "QUE". "Enviados a um computador, esses sinais permitiram que ele controlasse um cur- sor em uma tela, abrisse e-mails, jogasse videogame e comandasse um braço robó- tico." c) Reescreva o período a seguir, utilizando a conjunção "embora" para marcar a rela- ção estabelecida entre as duas orações. "Inventamos a maravilha do automóvel e aumentamos o tempo perdido para ir de casa ao trabalho." TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A China detonou uma bomba e pouca gen- te percebeu o estrago que ela causou. Assim que abriu as portas para as multinacionais oferecendo mão de obra e custos muito ba- ratos, o país enfraqueceu as relações de tra- balho no mundo. Em uma recente análise, a revista inglesa The Economist mostra que a entrada da China, da Índia e da ex-União So- viética na economia mundial dobrou a força de trabalho. Com isso, o poder de barganha de sindicatos do mundo inteiro teria se esfa- celado. Provavelmente por isso, diz a revista, salários e benefícios tenham crescido apenas 11% desde 2001 nas empresas privadas dos Estados Unidos, ante 17% nos cinco anos an- teriores. (Você s/a, setembro de 2005) 3. (Fgv) a) Transcreva uma oração do texto introdu- zida pelo pronome relativo "que". b) Qual é o antecedente desse pronome, isto é, a palavra a que ele se refere? c) Qual é a função sintática desse pronome na oração em que se encontra? TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: TEXTO I 1Durante mais de trinta anos, o bondezinho das dez e quinze, que descia do Silvestre, pa- rava como burro ensinado em frente à casi- nha de José Maria, e ali encontrava, almoça- do e pontual, o velho funcionário. Um dia, porém, José Maria faltou. O motor- neiro batia a sirene. Os passageiros se impa- cientavam. Floripes correu aflita a avisar o patrão. Achou-o de pijama, estirado na pol- trona, querendo rir. – Seu José Maria, o senhor hoje perdeu a hora! Há muito tempo o motorneiro está a dar sinal. – Diga-lhe que não preciso mais. A velha portuguesa não compreendeu. – Vá, diga que não vou... Que de hoje em diante não irei mais. A criada chegou à janela, gritou o recado. E o bondezinho desceu sem o seu mais antigo passageiro. Floripes voltou ao patrão. Interroga-o com o olhar. – Não sabes que estou aposentado? (...) Interrompera da noite para o dia o hábito de esperar o bondezinho, comprar o jornal da manhã, bebericar o café na Avenida, e insta- lar-se à mesa do Ministério, sisudo e calado, até às dezessete horas. Que fazer agora? Não mais informar processos, não mais pre- ocupar-se com o nome e a cara do futuro Mi- nistro. Pela primeira vez fartava a vista no cenário de águas e montanhas que a bruma fundia. (...) 4Floripes serviu-lhe o jantar, deixou tudo ar- rumado, e retirou-se para dormir no barraco da filha. 2Mais do que nunca, sentiu José Maria na- quela noite a solidão da casa. Não tinha ami- gos, não tinha mulher nem amante. E já lera todos os jornais. Havia o telefone, é verda- de. Mas ninguém chamava. Lembrava-se que certa vez, há uns quinze anos, aquela fria coisa, pendurada e morta, se aquecera à voz de uma mulher desconhecida. A máquina que apenas servia para recados ao armazém e informações do Ministério transformara-se então em instrumento de música: adquirira alma, cantava quase. De repente, sem moti- vo, a voz emudecera. E o aparelho voltou a ser na parede do corredor a aranha de metal, 3sempre calada. O sussurro da vida, o sangue de suas paixões passavam longe do telefone de Zé Maria... Como vencer a noite que mal começava? (...) 24 O telefone toca. Quem será? (...) Era engano! Antes não o fosse. A quem estaria destinada aquela voz carregada de ternura? Preferia que dissesse desaforos, que o xingasse. (...) Atirou-se de bruços na cama. E sonhou. Sonhou que conversava ao telefone e era a voz da mulher de há quinze anos... Foi andando para o passado... Abriu-se-lhe uma cidade de montanha, ponti- lhada de igrejas. E sempre para trás – tinha então dezesseis anos –, ressurgiu-lhe a cidadezinha onde encontrara Duília. Aí parou. E Duília lhe repetiu calmamente aquele gesto, o mais louco e gratuito, com que uma moça pode iluminar para sempre a vida de um homem tímido. Acordou com raiva de ter acordado, fechou os olhos para dormir de novo e reatar o fio de sonho que trouxe Duília. Mas a imagem esquiva lhe escapou, Duília desapareceu no tempo. (...) Toda vez que pensava nela, o longo e inexpressivo interregno* do Ministério que chegava a con- fundir-se com a duração definitiva de sua própria vida apagava-se-lhe de repente da memória. O tempo contraía-se. Duília! Reviu-se na cidade natal com apenas dezesseis anos de idade, a acompanhar a procissão que ela seguia cantando. Foi nessa festa da Igreja, num fim de tarde, que tivera a grande revelação. Passou a praticar com mais assiduidade a janela. Quanto mais o fazia, mais as colinas da outra margem lhe recordavam a presença corporal da moça. Às vezes chegava a dormir com a sensação de ter deixado a cabeça pousada no colo dela. As colinas se transformavam em seios de Duília. Espantava-se da metamorfose, mas se comprazia na evocação. (...) Era o afloramento súbito da namorada (...). ANÍBAL MACHADO A morte da porta-estandarte e Tati, a garota e outras histórias. Rio de Janeiro: José Olympio, 1976. * Interregno: intervalo 4. (Uerj) No trecho transcrito a seguir há quatro orações, cujos limites estão assinalados por uma barra: Floripes serviu-lhe o jantar, / deixou tudo arrumado, / e retirou-se / para dormir no barraco da filha. (ref. 4) Reescreva esse trecho, passando a primeira oração para a voz passiva e convertendo a segunda em oração adjetiva introduzida por pronome. Em seguida, indique a classificação sintática e semântica da última oração. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o texto para responder à(s) questão(ões). Havia já quatro anos que Eugênio se achava no seminário sem visitar sua família. Seu pai já por vezes tinha escrito aos padres pedindo-lhes que permitissem que o menino viesse passar as férias em casa. Estes porém, já de posse dos segredos da consciência de Eugênio, receando que as sedu- ções do mundo o arredassem do santo propósito em que ia tão bem encaminhado, opuseram-se formalmente, e responderam-lhe, fazendo ver que aquela interrupção na idade em que se achava o menino era extremamente perigosa, e podia ter péssimas consequências, desviando-o para sempre de sua natural vocação. Uma ausência, porém de quatro anos já era excessiva para um coração de mãe, e a de Eugênio, principalmente depois que seu filho andava mofino e adoentado, não pôde mais por modo nenhum conformar-se com a vontade dos padres. Estes portanto, muito de seu mau grado, não tiveram remédio senão deixá-lo partir. (Bernardo Guimarães. O Seminarista, 1995) 25 5. (Fgv) Observe as reescritas do texto e responda conforme solicitado entre parênteses. a) Seu pai já por vezes tinha escrito aos padres pedindo-lhes à permissão para que o menino viesse passar as férias em casa. / ... opuseram-se formalmente à ideia, e responderam de for- ma negativa inicialmente. (Justifique se os usos do acento indicativo da crase estão ou não de acordo com a norma-padrão.) b) Para um coração de mãe porém uma ausência de quatro anos já era excessiva... (Pontue o texto e justifique a pontuação realizada.) 6. (Uff) A prática da gramáticanão deve estar desvinculada da percepção das diferenças na produção de sentido, encaminhadas pela língua no processo de comunicação. Explique as diferentes regências do verbo "combater" e as decorrentes produções de sentido no contexto em que se inserem: "Combateremos a sombra. Com crase e sem crase." TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O artista Juan Diego Miguel apresenta a exposição Arte e Sensibilidade, no Museu Brasileiro da Escultura (MUBE) de suas obras que acabam de chegar no país. Seu sentido de inovação tanto em temas como em materiais que elege é sempre de uma sensa- ção extraordinária para o espectador. Juan Diego sensibiliza-se com os materiais que nos rodeam e lhes da vida com uma naturalida- de impressionante, encontrando liberdade para buscar elementos no fauvismo de Henri Matisse, no cubismo de Pablo Picasso e do contemporâneo de Juan Gris. Uma arte que está reservada para poucos. Exposição: de 03 de agosto à 02 de setembro das 10 às 19h. 7. (Fgv) Comente o emprego do sinal indicativo de crase no trecho - Exposição: de 03 de agosto à 02 de setembro das 10 às 19 h. 8. (Uema) Leia o poema “Quadrilha”, de Carlos Drummond de Andrade. QUADRILHA João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história. Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. 26 A tira reescreve o poema “Quadrilha”. Nela, é recontada a segunda parte do referido poema. Responda às seguintes questões: a) No último quadro da tira, como se pode interpretar “(...) um poema terrivelmente trágico, e que parece de humor”, considerando o poema. b) No terceiro quadro: “Raimundo morreu num desastre, depois de beber muito a fim de esquecer Maria, que não lhe amava”, ocorre um desvio da norma culta em relação à regência verbal. Re- escreva esse período, adequando-o às regras da sintaxe do padrão culto. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Geração Canguru Gilberto Dimenstein Ao mapear novas tendências de consumo no Brasil, publicitários acreditam ter detectado a "Ge- ração Canguru". São jovens bem-sucedidos profissionalmente, têm entre 25 e 30 anos de idade e vivem na casa dos pais. O interesse neles é óbvio: compõem um nicho de consumidores com alto poder aquisitivo. Ainda na "bolsa" da mãe, eles mostram que mudaram as fronteiras entre o jovem e o adulto. Até pouquíssimo tempo atrás, um marmanjão de 30 anos, enfiado na casa dos pais, seria visto como uma anomalia, suspeito de algum desequilíbrio emocional que retardou seu crescimento. O efeito "canguru" revela que pais e filhos estão mutuamente mais compreensivos e tolerantes, capazes de lidar com suas diferenças. Para quem se lembra dos conflitos familiares do passado, marcados pelo choque de gerações, os "cangurus" até sugerem um grau de civilidade. Não é tão simples assim. Estudos de publicitários divulgados nas últimas semanas indicam um lado tumultuado – e nem um pouco saudável – dessa relação familiar. Por trás das frias estatísticas sobre tendência do mercado, a pergunta que aparece é a seguinte: até que ponto os brasileiros mais ricos estão paparicando a tal ponto seus filhos que produzem indivíduos com baixa autonomia? Ao investigar uma amostra de 1.500 mães e filhos, no Rio e em São Paulo, a TNS InterScience con- cluiu que 82% das crianças e dos adolescentes influenciam fortemente as compras das famílias. A pressão é especialmente intensa nas classes A e B, cujas crianças, segundo os pesquisadores, empregam cada vez mais a estratégia das birras públicas para ganhar, na marra, o objeto de desejo. Com medo das birras, as mães tentam, segundo a pesquisa, driblar os filhos e não levá-los às com- pras, especialmente nos supermercados, mas, muitas vezes, acabam cedendo. Os responsáveis pelo levantamento da InterScience atribuem parte do problema ao sentimento de culpa. Isso porque, devido ao excesso de trabalho, os pais ficam muito tempo longe de casa e querem compensar a ausência com presentes. Uma pesquisa encomendada pelo Núcleo Jovem da Abril detectou que muitos dos novos consumi- dores vivem uma ansiedade tamanha que nem sequer usufruem o que levam para casa. Já estão esperando o produto que vai sair. É ninfomania consumista. Jovens relataram que nunca usaram, nem mesmo uma vez, roupas que adquiriram. Aposentam aparelhos eletrodomésticos comprados recentemente porque já estariam defasados. Psicólogos suspeitam que essa atitude seja uma fuga para aplacar a ansiedade e a carência, pro- vocadas, em parte, pela falta de limite. Imaginando-se modernos, pais tentam ser amigos de seus filhos e, assim, desfaz-se a obrigação de dizer não e enfrentar o conflito. O resultado é, no final, uma desconfiança, explicitada pelos entrevistados, ainda maior em relação aos adultos. 27 Outro estudo, desta vez patrocinado pela MTV, detectou um início de tendência entre os jovens de insatisfação diante de pais ex- tremamente permissivos. Estão demandando adultos mais pais do que amigos. Para com- plicar ainda mais a insegurança das crianças e dos adolescentes, a violência nas grandes cidades leva os pais, compreensivelmente, a pilotar os filhos pelas madrugadas, para sa- ber se não sofreram uma violência. Brincar nas ruas está desaparecendo da paisagem urbana, ajudando a formar seres obesos, presos ao computador. Há pencas de estudo mostrando como a brin- cadeira, dessas em que nos sujamos, rala- mos o joelho na árvore, ajuda a desenvolver a criatividade, o senso de autonomia e de cooperação. É um espaço de estímulo à ima- ginação. Todos sabemos como é difícil alguém pros- perar, com autonomia, se não souber lidar com a frustração. Muito se estuda sobre a importância da resiliência – a capacidade de levar tombos e levantar como um elemento educativo fundamental. Professores contam, cada vez mais, como os alunos não têm paciência de construir o co- nhecimento e desistem logo quando as tare- fas se complicam um pouco. Por isso, entre outras razões, os alunos decepcionam-se ra- pidamente na faculdade que exige mais foco em poucos assuntos. Os educadores alertam que muitos jovens têm dificuldade de postergar o prazer e bus- cam a realização imediata dos desejos; res- pondem exatamente ao bombardeamento publicitário, inclusive na ingestão de álcool, como vamos testemunhar, mais uma vez, nas propagandas de cerveja neste verão. Daí o risco de termos "cangurus" que fiquem cada vez mais na bolsa (e no bolso) dos pais. P.S. – Em todos esses anos lidando com edu- cação comunitária, posso assegurar que uma das melhores coisas que as escolas de elite podem fazer por seus alunos é estimulá-los ao empreendedorismo social. É um notável treino para enfrentar desafios. Enfrentam- -se em asilos, creches e favelas os limites e as carências. Conheci casos e mais casos de alunos problemáticos que mudaram sua ca- beça ao desenvolver uma ação comunitária e passaram, até mesmo, a valorizar o aprendi- zado curricular. http://www1.folha.uol.com.br/folha/ dimenstein/colunas/gd121205.htm 9. (Ufjf) Leia novamente: “Todos sabemos como é difícil alguém pros- perar, com autonomia, se não souber lidar com a frustração.” a) Explique a concordância entre o sujeito e o verbo na parte acima destacada. b) Compare a concordância acima (Todos sabemos) com: “Todos sabem como é di- fícil...”. Qual é a principal diferença no impacto discursivo produzido pelas duas formas? Justifique sua resposta. 10. (Ita) Leia o texto seguinte: Antes de começar a aula - matéria e exercí- cios no quadro, como muita gente entende -, o mestre sempre declamava um poema e fa- zia vibrar sua alma de tanta empolgação e os alunos ficavam admirados.Com a sutileza de um sábio foi nos ensinando a linguagem po- ética mesclada ao ritmo, à melodia e a pró- pria sensibilidade artística. Um verdadeiro deleite para o espírito, uma sensação de paz, harmonia. (Osório, T. Meu querido professor. "Jornal Vale Paraibano", 15/10/1999.) a) Qual a interpretação que pode ser dada à ausência da crase no trecho "a própria sensibilidade artística"? b) Qual seria a interpretação caso houvesse a crase? TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Texto 1 O conceito de Trabalho Decente Trabalho Decente, para a OIT (Organização Internacional do Trabalho), é um trabalho produtivo e adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equida- de e segurança, e que seja capaz de garantir uma vida digna a todas as pessoas que de- pendem do seu trabalho para viver. Trata-se, portanto, do trabalho que permite satisfazer às necessidades pessoais e familiares de ali- mentação, educação, moradia, saúde e segu- rança. É também o trabalho que garante pro- teção social nos impedimentos ao exercício do trabalho (desemprego, doença, acidentes, entre outros) e assegura renda ao chegar à época da aposentadoria (Conferencia Inter- nacional del Trabajo, 1999). É um trabalho no qual as relações entre cada trabalhador ou trabalhadora e seus empre- gadores ou empregadoras estão devidamen- te regulamentadas por lei, especialmente no que se refere aos direitos fundamentais no trabalho, e autorreguladas através de acor- dos negociados em um processo de diálogo social em diversos níveis, o que implica o ple- no exercício do direito da liberdade sindical, 28 assim como o fortalecimento das diferentes instituições da administração do trabalho e das formas de representação e organização dos atores sociais (MARTINEZ, 2005). A noção de Trabalho Decente integra, por- tanto, as dimensões quantitativa e qualita- tiva do emprego. Ela propõe não só medi- das de geração de postos de trabalho e de enfrentamento do desemprego, mas também de superação de formas de trabalho que se baseiam em atividades insalubres, perigo- sas, inseguras e/ou degradantes ou que ge- ram renda insuficiente para que os indiví- duos e suas famílias superem situações de pobreza. Tal conceito de trabalho afirma a necessidade de que o emprego esteja tam- bém associado à proteção social e à noção de direitos do trabalho, entre eles os de repre- sentação, associação, organização sindical e negociação coletiva. A noção de Trabalho Decente é uma tentativa de expressar, numa linguagem cotidiana, a integração de objetivos sociais e econômi- cos, reunindo as dimensões do emprego, dos direitos no trabalho, da segurança e da re- presentação, em uma unidade com sentido e coerência interna quando considerada na sua totalidade. Qual é a diferença entre o conceito de Tra- balho Decente e conceitos mais tradicio- nais, como o de trabalho de qualidade? Sua principal novidade é ser multidimensional, ou seja, acrescentar à dimensão econômica, representada pelo conceito de um emprego de qualidade, novas dimensões de caráter normativo, de segurança e de participação/ representação (MARTINEZ, 2005). É importante assinalar que essa diferença conceitual determina diferentes políticas, ou melhor, uma diferente articulação de políticas em termos de emprego e mercado de trabalho e destas com as políticas eco- nômicas e sociais. A integração e a coerên- cia entre a política sociolaboral e a política econômica são essenciais para a geração de Trabalho Decente. Enquanto a política eco- nômica cria condições para o crescimento e a geração de empregos, a política sociolaboral, integrada com a política econômica, cria as condições para que o emprego gerado incor- pore as distintas dimensões do conceito de Trabalho Decente (LEVAGGI, 2006). Ao definir a promoção do Trabalho Decente como o aspecto central e integrador de toda a sua estratégia, a OIT reafirma o seu com- promisso com o conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras e não apenas com aqueles que têm um emprego regular, estável, protegido – no setor formal ou estruturado da economia. A promoção do Trabalho Decente (ou a redu- ção dos déficits de Trabalho Decente) é um objetivo que deve ser perseguido também em relação ao conjunto das pessoas – homens, mulheres e jovens – que trabalha à margem do mercado de trabalho estruturado: assala- riados não regulamentados, tradutores por conta própria, terceirizados ou subcontrata- dos, trabalhadores a domicílio, etc. Todas as pessoas que trabalham têm direitos – assim como níveis mínimos de remuneração, pro- teção e condições de trabalho –, que devem ser respeitados. Essa noção, portanto, inclui o emprego assalariado, o trabalho autônomo ou por conta própria, o trabalho a domicílio, assim como a ampla gama de atividades rea- lizadas na economia informal e na economia de cuidado (RODGERS, 2002). Existe uma forte relação entre o conceito de Trabalho Decente e a noção da dignidade humana. Com efeito, tal como discutido por Rodgers (2002), o trabalho é o âmbito para o qual confluem os objetivos econômicos e so- ciais das pessoas. O trabalho supõe produção e rendimentos. Mas significa, também, inte- gração social, identidade e dignidade pesso- al. O vocábulo decente expressa algo que é ao mesmo tempo suficiente e desejável. Um Trabalho Decente significa um trabalho no qual o seu rendimento e as condições em que este se exerce estão de acordo com as nossas expectativas e as da comunidade, mas não são exageradas, estão dentro das aspirações razoáveis de pessoas razoáveis. [...] Trata-se do trabalho exercido atualmente e de suas expectativas de futuro; das con- dições em que este se exerce; do equilíbrio entre a vida doméstica e a vida familiar; de um trabalho que permita manter os filhos na escola, evitando que eles sejam levados ao trabalho infantil. Trata-se da igualdade de gênero e raça/etnia, da igualdade de re- conhecimento e da possibilidade de que as mulheres, os negros e outros grupos discri- minados possam optar e assumir o controle sobre as suas próprias vidas. Trata-se das capacidades pessoais para competir no mer- cado, manter-se em dia com as novas tecno- logias e preservar a saúde – física e mental. Trata-se de desenvolver as qualificações em- presariais, de receber uma parte equitativa da riqueza que se ajuda a criar e de não ser objeto de discriminação. Trata-se de poder expressar-se e ser ouvido no lugar de traba- lho e na comunidade. Adaptado de ABRAMO, Laís. Trabalho Decente, informalidade e precarização do trabalho. IN: DAL ROSSO, Sadi e FORTES, José Augusto Abreu Sá (org.). Condições de trabalho no limiar do século XXI. Brasília: Épocca, 2008. p. 40-41. 29 TEXTO 2 Olhou as cédulas arrumadas na palma, os ní- queis e as pratas, suspirou, mordeu os bei- ços. Nem lhe restava o direito de protestar. Baixava a crista. Se não baixasse, desocu- paria a terra, largar-se-ia com a mulher, os filhos pequenos e os cacarecos. Para onde? Hem? Tinha para onde levar a mulher e os meninos? Tinha nada! Espalhou a vista pelos quatro cantos. Além dos telhados, que lhe reduziam o horizon- te, a campina se estendia, seca e dura. Lem- brou-se da marcha penosa que fizera através dela, com a família, todos esmolambados e famintos. Haviam escapado, e isto lhe pa- recia um milagre. Nem sabia como tinham escapado. Se pudesse mudar-se, gritaria bem alto que o roubavam. Aparentemente resignado, sentia um ódio imenso a qualquer coisa que era ao mesmo tempo a campina seca, o patrão, os soldados e os agentes da Prefeitura. Tudo na verdade era contra ele. Estava acostumado, tinha a casca muito grossa, mas às vezes se arreliava. Não havia paciência que suportas- se tanta coisa. Um dia um homem faz besteira e se desgra- ça. Pois não estavam vendo que ele era de carne e osso?Tinha obrigação de trabalhar para os outros, naturalmente, conhecia o seu lugar. Bem. Nascera com esse destino, ninguém ti- nha culpa de ele haver nascido com um des- tino ruim. Que fazer? Podia mudar a sorte? Se lhe dissessem que era possível melhorar de situação espantar-se-ia. Tinha vindo ao mundo para amansar brabo, curar feridas com rezas, consertar cercas de Inverno a Ve- rão. Era sina. O pai vivera assim, o avô tam- bém. E para trás não existia família. Cortar mandacaru, ensebar látegos - aquilo estava no sangue. Conformava-se, não pretendia mais nada. Se lhe dessem o que era dele, es- tava certo. Não davam. Era um desgraçado, era como um cachorro, só recebia ossos. Por que seria que os homens ricos ainda lhe to- mavam uma parte dos ossos? Fazia até nojo pessoas importantes se ocuparem com seme- lhantes porcarias. Na palma da mão as notas estavam úmidas de suor. Desejava saber o tamanho da ex- torsão. Da última vez que fizera contas com o amo o prejuízo parecia menor. Alarmou- -se. Ouvira falar em juros e em prazos. Isto lhe dera uma impressão bastante penosa: sempre que os homens sabidos lhe diziam palavras difíceis, ele saía logrado. Sobres- saltava-se escutando-as. Evidentemente só serviam para encobrir ladroeiras. Mas eram bonitas. Às vezes decorava algumas e empre- gava-as fora de propósito. Depois esquecia- -as. Para que um pobre da laia dele usar con- versa de gente rica? Sinhá Terta é que tinha uma ponta de língua terrível. Era: falava quase tão bem como as pessoas da cidade. Se ele soubesse falar como Sinhá Terta, pro- curaria serviço noutra fazenda, haveria de arranjar-se. Não sabia. Nas horas de aperto dava para gaguejar, embaraçava-se como um menino, coçava os cotovelos, aperreado. Por isso esfolavam-no. Safados. Tomar as coisas de um infeliz que não tinha onde cair mor- to! Não viam que isso não estava certo? Que iam ganhar com semelhante procedimento? Hem? Que iam ganhar? RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 1986. p.95-97. 11. (Pucrj 2017) a) Explique a diferença de sentido entre as frases abaixo: i) Os homens sabidos diziam palavras di fíceis a Fabiano. ii) Os homens, sabidos, diziam palavras difíceis a Fabiano. b) Destaque, do último parágrafo do Texto 1, a frase que, considerando a noção de Tra- balho Decente, atenderia às inquietações de Fabiano na seguinte passagem: “Se ele soubesse falar como Sinhá Terta, procuraria serviço noutra fazenda, have- ria de arranjar-se. Não sabia. Nas horas de aperto dava para gaguejar, embaraça- va-se como um menino, coçava os coto- velos, aperreado. Por isso esfolavam-no. Safados.” (último parágrafo do Texto 2) c) Identifique o referente do pronome de- monstrativo isso em “Não viam que isso não estava certo?”, no último parágrafo do Texto 2. 30 TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: TEXTO IV O dia abriu seu para-sol bordado O dia abriu seu para-sol bordado De nuvens e de verde ramaria. E estava até um fumo, que subia, Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado. Depois surgiu, no céu azul arqueado, A Lua – a Lua! – em pleno meio-dia. Na rua, um menininho que seguia Parou, ficou a olhá-la admirado... Pus meus sapatos na janela alta, Sobre o rebordo... Céu é que lhes falta Pra suportarem a existência rude! E eles sonham, imóveis, deslumbrados, Que são dois velhos barcos, encalhados Sobre a margem tranquila de um açude.. MARIO QUINTANA. Prosa e verso. Porto Alegre: Globo, 1978. 12. (Uerj) Há no poema de Mario Quintana um mesmo sinal de pontuação – o ponto de exclamação – que aparece em versos diferentes e com sentidos distintos. Explicite o valor semântico atribuído a esse sinal em cada um dos versos. 13. (Pucrj) a) Reescreva duas vezes a segunda oração do período a seguir, substituindo o verbo "VIVER" por cada um dos seguintes verbos: I) lidar II) depender "Ele é nossa principal tecnologia social, por meio da qual vivemos hoje." b) Pontue o período a seguir, empregando apenas um sinal de vírgula e um de dois pontos. É aquela velha história se você coloca coisas caras em casa vai precisar pôr trancas nas portas e grades nas janelas. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o poema de Manuel Bandeira (1886-1968) para responder à(s) questão(ões) a seguir. Poema só para Jaime Ovalle1 Quando hoje acordei, ainda fazia escuro (Embora a manhã já estivesse avançada). Chovia. Chovia uma triste chuva de resignação Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite. Então me levantei, Bebi o café que eu mesmo preparei, Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando... – Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei. (Estrela da vida inteira, 1993.) 1Jaime Ovalle (1894-1955): compositor e instrumentista. Aproximou-se do meio intelectual carioca e se tornou amigo íntimo de Villa-Lobos, Di Cavalcanti, Sérgio Buarque de Hollanda e Manuel Bandeira. Sua mú- sica mais famosa é “Azulão”, em parceria com o poeta Manuel Bandeira. (Dicionário Cravo Albin da música popular brasileira) 31 14. (Unesp 2016) O verso inicial do poema (“Quando hoje acordei, ainda fazia escuro”) pode ser vis- to como uma espécie de abertura narrativa, já que nele se observam dados indicadores de tempo (“quando”) e espaço (“fazia escuro”). Identifique no poema dois outros termos que também indi- cam circunstância temporal e acabam por reforçar seu caráter narrativo. Justifique sua resposta. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 15. (Ueg) As manchetes jornalísticas caracterizam-se pela objetividade, evitando comentários avalia- tivos e/ou explicações causais e descrições. Reescreva o texto em um período, explicitando infor- mações avaliativas e descritivas subentendidas na manchete. Literatura L ENTRE LETRAS C 0 3 U.T.I. 35 PARNASIANISMO Escola literária exclusiva da França e do Brasil, o Parnasianismo originou-se com as antologias poéticas publicadas na França a partir de 1866, sob o título Le Parnasse contemporain (O Parnaso contemporâneo). Os parnasianos interessaram-se apenas por poesia e foram guiados pela estética da “arte pela arte”, pro- posta pelo precursor da escola, o poeta francês Théophile Gautier (1811-1872). A “arte pela arte” estava voltada para o ideal clássico de beleza e harmonia de formas. Para os parnasianos, a estrutura métrica e sonora de seus versos era perfeita, uma vez que predominava neles a técnica do bom verse- jarcem vez da inspiração. No Brasil, o movimento é contemporâneo ao Realismo-Naturalismo, uma vez que os poetas parnasianos compuseram suas obras entre o final do século XIX e o começo do século XX, adotando a moda importada da França. A partir de 1878, no Diário do Rio de Janeiro, os simpatizantes do Realismo entraram em polêmica aberta contra os do Parnasianismo. Esse desentendimento ficou conhecido como Batalha do Parnaso e acabou servindo para divulgar a estética parnasiana, logo alcunhada de “ideia nova”, nos meios artísticos do País. CARACTERÍSTICAS DA POESIA PARNASIANA Objetividade no tratamento dos temas abordados, baseados na realidade sem subjetivismo e emoção. Impessoalidade do escritor que não interfere na abordagem dos fatos. Valorização da estética e busca da perfeição, da beleza em si e da perfeição estética. Preferência pelas rimas esteticamente ricas. Linguagem rebuscada e vocabulário vernáculo. Temas frequentes ligados à mitologia grega e à cultura clássica. Preferência pelos sonetos. Valorização da metrificação rigorosa dos versos. Valorização da descrição de cenas e objetos. PARNASIANOS NO BRASIL “A estética parnasiana cristalizou-se entre nós depois da publicação de Fanfarras, de Teófilo Dias, livro em que o movimento antirromântico começa a se definir no espírito e na forma dos parnasianos franceses”, explica Manuel Bandeira, em estudo dedicado ao movimento. Coube, no entanto, à chamada tríade parnasiana, formada por Alberto de Oliveira, Raimundo Correia
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