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Fundamentos da Educação Especial Marcia Regina Zemella Luccas Revisada por Marcia Regina Zemella Luccas (setembro/2012) É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Fundamentos da Educação Especial, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autô- nomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma apresentação do conteúdo básico da disciplina. A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidis- ciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail. Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br, a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso, bem como acesso a redes de informação e documentação. Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suple- mento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal. A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar! Unisa Digital APRESENTAÇÃO SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................................... 5 1 EDUCAÇÃO ESPECIAL .............................................................................................................................. 7 1.1 Política Educacional ............................................................................................................................................................7 1.2 Quem são os Sujeitos da Educação Especial ............................................................................................................9 1.3 Resumo do Capítulo ........................................................................................................................................................ 10 1.4 Atividades Propostas ....................................................................................................................................................... 11 2 UM POUCO DA HISTÓRIA DO ATENDIMENTO AOS DEFICIENTES ....................... 13 2.1 História da Deficiência .................................................................................................................................................... 14 2.2 A História da Educação Especial no Brasil ............................................................................................................... 15 2.3 Resumo do Capítulo ........................................................................................................................................................ 17 2.4 Atividades Propostas ....................................................................................................................................................... 17 3 DOCUMENTOS ORIENTADORES DA EDUCAÇÃO NO ÂMBITO INTERNACIONAL 19 3.1 Declaração Universal dos Direitos Humanos - 1948 ........................................................................................... 19 3.2 Declaração Mundial sobre Educação para TODOS - 1990 ................................................................................ 20 3.3 Declaração de Salamanca - 1994 ................................................................................................................................ 21 3.4 Convenção de Guatemala - 1999 ............................................................................................................................... 23 3.5 Resumo do Capítulo ........................................................................................................................................................ 24 3.6 Atividades Propostas ....................................................................................................................................................... 24 4 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA - MARCOS LEGAIS ....................................................................... 25 4.1 Constituição Federal - 1988 .......................................................................................................................................... 25 4.2 Estatuto da Criança e do Adolescente ..................................................................................................................... 26 4.3 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) - 1996 ................................................................... 26 4.4 Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica - Res. CNE/CEB n° 2. 2001........ 27 4.5 Resolução n° 4 de 2010 - Define Diretrizes Curriculares Gerais para a Educação Básica ..................... 28 4.6 Organização da Educação Especial e seus Objetivos ......................................................................................... 29 4.7 Resumo do Capítulo ........................................................................................................................................................ 32 4.8 Atividades Propostas ....................................................................................................................................................... 32 5 DEFICIÊNCIA, INCAPACIDADE OU MENOS-VALIA ............................................................ 33 5.1 Resumo do Capítulo ........................................................................................................................................................ 34 5.2 Atividades Propostas ....................................................................................................................................................... 34 6 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ............................................................................................................... 35 6.1 Níveis da Deficiência Intelectual ................................................................................................................................. 36 6.2 Causas da Deficiência Intelectual ............................................................................................................................... 37 6.3 Quais as maiores Dificuldades do Deficiente Intelectual e como Auxiliar seu Desenvolvimento? 38 6.4 Resumo do Capítulo ........................................................................................................................................................ 40 6.5 Atividades Propostas ....................................................................................................................................................... 40 7 DEFICIÊNCIA VISUAL ............................................................................................................................... 41 7.1 Como Funciona a Visão .................................................................................................................................................. 41 7.2 As Patologias da Visão e suas Características ........................................................................................................ 43 7.3 Causas da Deficiência Visual ......................................................................................................................................... 44 7.4 Como Trabalhar com estas Crianças? ....................................................................................................................... 45 7.5 Resumo do Capítulo ........................................................................................................................................................ 46 7.6 Atividades Propostas .......................................................................................................................................................46 8 DEFICIÊNCIA AUDITIVA/SURDEZ ................................................................................................... 47 8.1 O Ouvido .............................................................................................................................................................................. 47 8.2 Quais são os Graus de Surdez: o que se sente? .................................................................................................... 48 8.3 Os Graus de Perda Auditiva .......................................................................................................................................... 49 8.4 Tipos de Perda Auditiva .................................................................................................................................................. 51 8.5 Como a Surdez Evolui? ................................................................................................................................................... 52 8.6 Como é o Tratamento? ................................................................................................................................................... 53 8.7 Como se Previne? .............................................................................................................................................................. 53 8.8 O Trabalho com o Surdo ................................................................................................................................................ 54 8.9 Resumo do Capítulo ........................................................................................................................................................ 55 8.10 Atividades Propostas .................................................................................................................................................... 55 9 DEFICIÊNCIA FÍSICA ................................................................................................................................. 57 9.1 Quais os Tipos de Deficiência Física .......................................................................................................................... 57 9.2 As Causas .............................................................................................................................................................................. 57 9.3 Tipos de Deficiência Física ............................................................................................................................................. 58 9.4 Distrofia Muscular Progressiva .................................................................................................................................... 59 9.5 Mielomeningocele ........................................................................................................................................................... 60 9.6 Considerações Pedagógicas ......................................................................................................................................... 60 9.7 Resumo do Capítulo ........................................................................................................................................................ 61 9.8 Atividades Propostas ....................................................................................................................................................... 62 10 DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA E SURDOCEGUEIRA .................................................................... 63 10.1 Surdocegueira ................................................................................................................................................................. 63 10.2 Considerações sobre o Trabalho Pedagógico .................................................................................................... 64 10.3 Resumo do Capítulo ...................................................................................................................................................... 65 10.4 Atividades Propostas .................................................................................................................................................... 65 11 TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO ..................................................... 67 11.1 Como Trabalhar com estas Crianças? ..................................................................................................................... 69 11.2 Autismo Infantil ............................................................................................................................................................... 69 11.3 Sugestões de Trabalho Pedagógico ....................................................................................................................... 70 11.4 Síndrome de Asperger ................................................................................................................................................. 71 11.5 Síndrome de RETT .......................................................................................................................................................... 73 11.6 Resumo do Capítulo ...................................................................................................................................................... 74 11.7 Atividades Propostas .................................................................................................................................................... 74 12 ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO ................................................................................. 75 12.1 Resumo do Capítulo ...................................................................................................................................................... 77 12.2 Atividades Propostas .................................................................................................................................................... 77 13 ADAPTAÇÕES DO CURRÍCULO ..................................................................................................... 79 13.1 Resumo do Capítulo ...................................................................................................................................................... 80 13.2 Atividade Proposta ........................................................................................................................................................ 80 14 INCLUSÃO X ALTERAÇÃO ................................................................................................................. 81 14.1 Resumo do Capítulo ...................................................................................................................................................... 83 14.2 Atividade Proposta ........................................................................................................................................................ 84 15 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................. 85 RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS .......................................... 87 REFERÊNCIAS..................................................................................................................................................... 93 Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 5 INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a) É com prazer que apresento a você, aluno(a) do curso de graduação em Pedagogia da Unisa, na modalidade a distância, a apostila de Fundamentos da Educação Especial. Este material foi pensado e redigido tentando apontar os aspectos mais significativos no trabalho com alunos que tenham necessi- dades educacionais especiais. A diversidade educacional é significativa em nossas escolas, e, portanto, hoje é necessário que o professor possua conhecimentos que há alguns anos não eram importantes para o desenvolvimentodo trabalho em escolas de ensino regular. Esta disciplina irá discutir aspectos funda- mentais sobre a legislação da educação especial e inclusiva e as características das diferentes deficiên- cias. Iremos estudar também as possibilidades de adaptação curricular para os alunos com deficiência. Lembramos que o conteúdo aqui apresentado é introdutório e que, durante sua vida profissional, a cada desafio em sua classe, será necessária a busca por aprofundamento nos conhecimentos. Gostaría- mos de ressaltar que o foco desta disciplina é o de propor questionamentos e apontar possibilidades so- bre sua prática pedagógica e beneficiar o trabalho com seu aluno. Temos a certeza de que cada conteúdo aqui discutido irá beneficiar a sua reflexão e o trabalho com seu(sua) aluno(a). Bom trabalho! Profa. Marcia Regina Zemella Luccas ESCOLA Escola é... o lugar onde se faz amigos não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, O coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem amizade a ninguém nada de ser como o tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se ‘amarrar nela’! Ora, é lógico... numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz. Paulo Freire Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 7 EDUCAÇÃO ESPECIAL1 Estamos sós, sem escusas. O homem está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou a si mes- mo e, no entanto, por outro lado, livre, pois uma vez lançado ao mundo é responsável por tudo aquilo que faz. Jean-Paul Sartre numerosa parcela de excluídos por esse sistema, sem possibilidade de acesso à escolarização, ape- sar dos esforços empreendidos para a universali- zação do ensino. Enfrentar o desafio da educação na diver- sidade é uma condição para responder à expec- tativa de democratização da educação em nosso país. A escola que se espera para o século XXI deve responder à aspiração da sociedade, no sen- tido de produzir e difundir o saber já constituído e de formar cidadãos críticos e participativos, que possam responder às demandas cada vez mais complexas da sociedade moderna. 1.1 Política Educacional Você sabe como a educação mudou seus parâmetros? A pedagogia da exclusão tem origens re- motas, e desde então os deficientes são vistos como “doentes”, incapazes. Esses indivíduos “ocu- pam no imaginário coletivo das pessoas a posição de alvos de caridade popular e não de sujeitos de direito” (BRASIL, 2002, p. 20). Constatam-se, ainda hoje, dificuldades de aceitação de crianças com deficiências ou dificuldades de aprendizagem, por parte dos familiares, da sociedade e da escola, mesmo que esta permita que o aluno a frequente. As crianças com necessidades educacionais especiais são um “fato novo” em nossas escolas de ensino regular. Os professores explicitam por meio de seus discursos que os alunos por eles atendidos, no caso, os alunos com alguma defi- ciência, não fazem parte do grupo que eles ima- ginavam que trabalhariam. Os professores res- saltam que sua opção de trabalho foi, sim, com crianças, porém não com crianças deficientes. Essa é uma observação legítima, pois, em nossa sociedade, os deficientes, doentes, ou dife- rentes estão excluídos da convivência social. Caro(a) aluno(a), O direito de todas as pessoas à educação é resguardado pela Constituição Federal de 1988 e também pelas diretrizes da política nacional de educação, independentemente de gênero, et- nia, idade ou classe social. O acesso à escola vai além do ato da matrícula e significa que o aluno deve aprender a desenvolver suas habilidades e competências a partir das oportunidades educa- cionais oferecidas a ele e a todos os alunos com o objetivo de atingir as finalidades da educação previstas. A perspectiva de educação para TODOS constitui um grande desafio para os sistemas edu- cacionais. A realidade brasileira aponta para uma Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 8 A modernidade explica a sociedade atra- vés da classificação, a partir dos atos de inclusão e de exclusão (o que não forma uma classe é excluído). Na modernida- de, tempo de designação e denotação, surgem novas ambivalências. A partir de novas ambivalências aparecem os que podem ser chamados de inomináveis. Os inomináveis são os que não são nem isto nem aquilo. Os inomináveis são aqueles que desordenam, que deixam a ordem sem efeito (SCLIAR, 2003, p. 55). Os defi- cientes são aqueles que nunca são o que deveriam ser, e se sabe que alguém é na medida do desejo dos outros... (LARA apud SCLIAR, 2003, p. 12). Este é um fato historicamente criado, [...] os valores e as normas praticadas sobre as deficiências formam parte de um discurso historicamente construído, onde a deficiência não é simplesmente um objeto, um fato natural, uma fatalida- de... esse discurso, assim construído, não afeta somente as pessoas com deficiên- cia, regula também a vida das pessoas consideradas normais, incapacitação e normalidade pertencem, assim, a uma mesma matriz de poder (SILVA, 1997 apud SCLIAR, 2003, p. 155). A instituição educativa, chamada escola, é uma invenção, um produto do que denominamos modernidade. No início do século XIX, a infância já era tida como algo obtido através da constru- ção. No texto “A infância na cidade de Gepeto ou possibilidades do neopragmatismo para pensar- mos os direitos da criança na cultura pós-moderna”, Ghiraldelli (1999, p. 11-12), faz uma comparação entre o conto “As aventuras de Pinóquio” com a constituição da criança, aquele que não é criança, mas pode tornar-se. Como conhecemos, Pinóquio é um boneco de madeira, que, para se tornar um menino de verdade, deveria ser bom para seu pai e para com os outros, ter responsabilidade e ter sua própria consciência. O pai de Pinóquio entende que é ne- cessário que este vá para a escola, que fica na ci- dade. Escola e Cidade são dois lugares entendidos como em parte responsáveis pela constituição da infância. Fica claro que a infância pode acontecer nesse espaço, mas não necessariamente aconte- cerá, pois existem diversas possibilidades nessa vivência. Pinóquio não é bom e nem mau, é ape- nas um boneco de madeira que sofre diversas in- fluências de outros personagens que não são, ne- cessariamente, cidadãos. Ao término da narrativa ele se transforma em menino de verdade na me- dida em que contraria os não cidadãos e desen- volve comportamentos que aos olhos do pai e da fada são de bondade e responsabilidade. Gepeto, pai de Pinóquio, acreditava que a cidade oferecia um espaço próprio para todos os meninos. Na es- cola, entendia Gepeto, viver-se-ia como “menino de verdade” para enfim se tornar “menino de ver- dade”. Gepeto esculpiu Pinóquio em um pedaço de madeira falante. Nessa relação, uma possibili- dade de hominização foi dada ao que antes era boneco, porém só a relação com o pai não era su- ficiente, ele precisava viver com outros humanos em outros lugares diferentes para poder realizar escolhas e ser reconhecido pelo pai e pela socie- dade como “menino de verdade”. Entendo que essa reflexão pode nos auxiliar a compreender o processo que marca a ideia de inclusão escolar de alunos deficientes. A educação especial, hoje, pensada a par- tir do paradigma de apoios/suportes, e visando à inclusão, entende que a diversidade é fator de enriquecimento social e que o sujeito vai se cons- tituir a partir das relações estabelecidas nessa so- ciedade. AtençãoAtençãoA educação especial hoje visa à inclusão das pes- soas com necessidades especiais, entende que a diversidade é fator de enriquecimento e mudan- ça do paradigma social. Fundamentos da Educação Especial Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 9 Hoje nos questionamos: será que esse alu- no deve estar na escola regular? Ele não deveria estar em uma escola especial? No Brasil, a educação especial hoje é vista como uma modalidade de educação escolar que está a serviço da formação dos alunos que pos- suem alguma deficiência como um indivíduo, vi- sando ao exercício da cidadania. Como elemento integrante e indistin- to do sistema educacional, realiza-se transversalmente, em todos os níveis de ensino, nas instituições escolares, cujo projeto, organização e prática pedagó- gica devem respeitar a diversidade dos alunos, a exigir diferenciações nos atos pedagógicos que contemplem as neces- sidades educacionais de todos. Os servi- ços educacionais especiais, embora di- ferenciados, não podem desenvolver-se isoladamente, mas devem fazer parte de uma estratégia global de educação e vi- sar suas finalidades gerais. (BRASIL, 1999, p. 21). A educação especial, portanto, é vista como uma modalidade de ensino que atua transver- salmente em todos os níveis – educação infantil, ensinos fundamental, médio e superior, educa- ção de jovens e adultos e educação profissional –, tendo como objetivo auxiliar o pleno desenvolvi- mento das capacidades de cada sujeito de direito. A legislação brasileira aponta que a socie- dade e as instituições de educação devem respei- tar a diversidade humana; e que os diferentes, en- tre estes os deficientes, também têm o direito de acesso à escola e que esta deve visar à qualidade de ensino para todos, sem restrições, bem como deve proporcionar a todos os alunos o desenvol- vimento cognitivo e a socialização. A escola, pen- sada a partir dessa perspectiva, busca consolidar o respeito às diferenças, e estas não devem servir de obstáculo para a aprendizagem, mas devem ser fator de enriquecimento da ação educativa. 1.2 Quem são os Sujeitos da Educação Especial A diversidade contempla uma ampla di- mensão de características, entre elas as necessi- dades educacionais especiais. As necessidades educacionais especiais podem ser identificadas em diversas si- tuações representativas de dificuldades de aprendizagem, como decorrência de condições individuais, econômicas ou socioculturais dos alunos. Podemos citar algumas, crianças com condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais e senso- riais diferenciadas; crianças com deficiên- cia e bem dotadas; crianças trabalhadoras ou que vivem nas ruas; crianças de popu- lações distantes ou nômades; crianças de minorias lingüísticas, étnicas ou culturais; crianças de grupos desfavorecidos ou marginalizados. A expressão necessida- des educacionais especiais pode ser uti- lizada para referir-se a crianças e jovens cujas necessidades decorrem de sua ele- vada capacidade ou de suas dificuldades para aprender. Está associada, portanto, a dificuldades de aprendizagem, não ne- cessariamente vinculada a deficiência(s). (BRASIL, 1999, p. 21). A Declaração de Salamanca, de 1994 (UNESCO, 1996), aponta uma interessante e de- safiadora concepção ao utilizar o termo necessi- dades educacionais especiais. Esse termo esten- de a possibilidade de acolher em seu âmbito a todos que possuam necessidades diferenciadas de aprendizagem, a partir de suas características pessoais ou sociais. As escolas devem acolher a todas as crianças, incluindo as deficientes, super- dotadas, de rua, de populações distantes e nôma- des, pertencentes a minorias linguísticas, étnicas ou culturais. A partir dessa concepção, entende- -se que deve ser desenvolvida uma pedagogia centrada na relação com a criança, que seja capaz de educar todos os alunos, atendendo às necessi- dades de cada um, considerando suas diferenças e necessidades individuais. Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 10 E quanto à educação especial, deve atender a toda essa demanda? Não. A educação especial aponta para uma definição de prioridades no que se refere ao atendimento especializado a ser ofe- recido para a escola. Segundo os Parâmetros Cur- riculares Nacionais de Educação Especial (BRASIL, 1999): Nessa perspectiva, define como aluno portador de necessidades especiais aque- le que ‘[…] por apresentar necessidades próprias e diferentes dos demais alunos no domínio das aprendizagens curricula- res correspondentes à sua idade, requer recursos pedagógicos e metodologias educacionais específicas’. A classificação desses alunos, para efeito de prioridade no atendimento educacional especializa- do (preferencialmente na rede regular de ensino), consta da referida Política e dá ênfase a: • portadores de deficiência mental, vi- sual, auditiva, física e múltipla; • portadores de condutas típicas (proble- mas de conduta); • portadores de superdotação/altas habi- lidades (BRASIL, 1999, p. 21). Atualmente, a Resolução nº 4, de 13 de ju- lho de 2010, ratifica o que foi apontado pelos Pa- râmetros Curriculares Nacionais, porém modifica a nomenclatura, passando de alunos com condu- tas típicas para alunos com Transtornos Globais do Desenvolvimento, conforme segue: Art. 29. A Educação Especial, como mo- dalidade transversal a todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, é parte integrante da educação regular, devendo ser prevista no projeto político-pedagó- gico da unidade escolar. § 1º Os sistemas de ensino devem ma- tricular os estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimen- to e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado [...] (BRASIL, 2010). É importante salientar que o fato de um alu- no ter deficiência, Transtornos Globais do Desen- volvimento ou superdotação/altas habilidades, não quer dizer que ele necessariamente possui necessidades educacionais especiais; só serão assim considerados quando estes exigirem res- postas específicas e adequadas. O que se quer resgatar com essa expressão é a necessidade de um olhar singular para todos os alunos, de modo que suas necessidades educacionais sejam satis- feitas. Falar em necessidades educacionais espe- ciais, portanto, deixa de ser pensar nas dificulda- des específicas dos alunos e passa a significar o que a escola pode fazer para dar respostas às suas necessidades, de um modo geral, bem como aos que apresentam necessidades específicas muito diferentes dos demais. É importante ressaltar que, nesse contexto, a ajuda pedagógica não deve restringir ou preju- dicar os trabalhos dos alunos, mas potencializar sua participação e aprendizagem. 1.3 Resumo do Capítulo Neste capítulo, ressaltamos a importância da escola enquanto instituição social. Apontamos que é nesse espaço que as crianças se desenvolvem, aprendem e apreendem conceitos e comportamentos da nossa sociedade. É importante ressaltar que a família também possui sua parcela de responsabilidade para com seus filhos. Os autores e a legislação mostram que as pessoas com deficiência devem frequen- tar a escola como qualquer outra criança. Vamos, agora, avaliar a sua aprendizagem. Fundamentos da Educação Especial Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 11 1.4 Atividades Propostas Agora, responda: 1. Quem são os alunos considerados para a atuação da educação especial, segundo a Resolução nº 4/2010? 2. Quais os objetivos da escola inclusiva? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 13 UM POUCO DA HISTÓRIA DO ATENDIMENTO AOS DEFICIENTES2 A história tem o hábito de não permanecer no passado. Apple e Teitelbaun Caro(a) aluno(a), pudemos observar que a educação tem passado por modificações signi- ficativas. Agora, iremos entender um pouco os elementos que propiciaram essas mudanças, por meio da história do atendimento às pessoas com deficiência. Ao longo da história dacivilização ociden- tal, a conquista dos direitos das pessoas “excep- cionais” (ou seja, aquele em que constitui ou en- volve exceção) foi ocorrendo de forma gradativa, assim como a conceituação de infância e escola. Foram ocorrendo mudanças nas formas de cons- tituição dos espaços e tempos sociais, bem como na constituição dos espaços públicos e privados. Ainda hoje, apesar dos movimentos sociais e edu- cacionais existentes, vivemos com o preconceito em relação às pessoas com deficiência. O sentimento da infância foi sendo culti- vado a partir de mudanças na estrutura familiar, pois a formação dos estados nacionais foi deman- dando a necessidade de se instituírem comporta- mentos integrados aos fins da vida social (CAMBI, 1999 apud LABRIOLA, 2002). Para que esses comportamentos fossem consolidados, foram criadas instituições voltadas a produzir essa convergência de comportamen- tos. O espaço criado para a criança foi a escola. Esse espaço, em conjunto com a família, deveria desempenhar um papel fundamental na forma- ção dos indivíduos e na reprodução cultural, ideo- lógica e profissional da sociedade. AtençãoAtenção ...a escola é, portanto, o lugar de reconstrução da vida social, de conexão de passado, presente e futuro, entre teoria e práxis e entre indivíduo e sociedade. A escola moderna foi também um lugar de emancipação dos indivíduos, princi- palmente das classes populares, elevan- do-as da condição de governadas à de potenciais governantes; foi um lugar so- cial complexo e ambíguo, onde ideologia e cultura se enfrentam, se opõem. (CAM- BI, 1999 apud LABRIOLA, 2002, p. 193). Conforme citado, o autor observa que a es- cola é, portanto, o lugar de reconstrução da vida social, de conexão de passado, presente e futuro, entre teoria e práxis e entre indivíduo e socieda- de. Nesse espaço, portanto, as perguntas sobre a natureza da infância são inseparáveis. A infância não é uma fase natural dos seres humanos, mas algo que vai sendo montado, cria- do a partir das novas formas de falar e sentir dos adultos em relação ao que fazer com as crianças. A escola é um elemento que concorre para forjar a infância. Se na infância é necessária a família e a ins- tituição social escola para forjá-la, como podemos entender o deficiente (segundo Dicionário Auré- lio: falto, falho, carente; imperfeito, incompleto) nesse espaço? Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 14 Como a nossa sociedade encarava os defi- cientes. Na Antiguidade, os excepcionais eram en- carados como uma aberração que deveria ser descartada da sociedade. Em Esparta, assim como em Atenas, a criança só ficava sob os cuidados da mãe após uma inspeção do Estado, já que a crian- ça era propriedade dele a partir do nascimento. Nessa inspeção, verificava-se se a criança era sau- dável e forte; se fosse doente, fraca, ou deficiente, deveria morrer. Era costume deixar vivos somente os filhos sadios e robustos; entretanto, essa deci- são ficava sob a responsabilidade do pai, e não só do Estado. Para os gregos, a grande preocupação era o desenvolvimento de um adulto saudável e forte que pudesse atuar na defesa da pátria, obter êxito nos jogos e ter boa prática nas ciências. Verifica- -se, então, que não havia lugar nessa sociedade para o “deficiente”, visto como “problema”. A me- lhor forma de erradicá-los era, então, a morte. Na Roma Antiga, a criança após oito ou nove dias sofria uma verificação. O pai tinha o direito de decidir sobre a vida e a morte de suas esposas e filhos. A criança era colocada sob os pés do pai: se ele a erguesse seria aceita, caso permanecesse indiferente seria repudiada e abandonada, fato fre- quente quando a criança era deficiente (EMMEL, 2001, p. 142). Esses fatos nos permitem compreender que os deficientes, ao longo da história ocidental, eram considerados um estorvo para a sociedade e, sendo assim, deveriam ser eliminados. A Lei das 12 Tábuas, que vigorava no início da Repúbli- ca Romana, permitia que o pai matasse os filhos “anormais”. Essa foi a primeira vez na história em que apareceu o deficiente. Na Idade Média, aproximadamente no sé- culo XVI, sob a influência da Igreja, a sociedade passou a adotar uma consciência mais humana. Entendia-se que os homens eram criaturas “divi- nas” e que, portanto, os “excepcionais ou anor- 2.1 História da Deficiência mais” não poderiam mais ser eliminados e deve- riam ser deixados livres. A Igreja Católica começa, então, a se responsabilizar pelos leprosos, vaga- bundos e mutilados, colocando-os em locais se- parados da sociedade. O corpo do ‘deficiente’, fugindo ao padrão, trazia o desafio do trato diferenciado. A falta de conhecimento de como atender às necessidades do portador de deficiên- cia serviu, então, como justificativa para enclausurá-los em espaços ditos ‘especia- lizados’. [...] o preconceito demonstrava claramente que a função desse espaço era evitar que a população fosse conta- minada por aquela terrível doença: a de- ficiência. (EMMEL, 2001, p. 142). Do século XIV até o XVII, a exclusão dos in- divíduos indesejados foi uma prática constante. A sociedade pregava, por meio dos valores éticos e morais, que o melhor era retirar do convívio social todos os deficientes, enviando-os em embarca- ções marinhas para alto mar e deixando-os à pró- pria sorte, fechando-os em celas e calabouços, ou colocando-os em asilos e hospitais. A internação aparece como um grande movimento em um período de segregação e categorização dos in- divíduos, pois internar a loucura, a devassidão e a libertinagem era um meio de manter “normal” toda a sociedade. Aqueles cujas potencialidades pudessem vir a se concretizar em atos danosos à sociedade deveriam ser excluídos, pois seu comportamen- to poderia prejudicar o fim previamente traçado para ela. O objetivo alegado seria que essas insti- tuições, onde são confinados os excluídos, fossem instrumentos de reinserção do indivíduo, reajus- tando-os ao convívio social. Para diversos autores, o fim maior seria o de transformar e pesquisar o homem transformando-o em objeto científico; a ciência quer moldá-lo e controlar suas potencia- lidades. O importante deixa de ser punir e passa a ser vigiar, controlar, antes que o ato criminoso Fundamentos da Educação Especial Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 15 aconteça. O objetivo secundário seria reinseri-lo; para isso, ele teria de se moldar ao predetermina- do como socialmente aceitável. Focault, em seu livro – Vigiar e punir –, apon- ta que os manicômios, as escolas, os hospitais e as prisões fazem parte de uma rede de exclusão, em nome do progresso. A sociedade industrial leva o homem a uma homogeneidade. Nessa época, foi desenvolvida a ciência estatística que cria o con- ceito de normalidade. Nessa ciência, tudo o que é diferente, ou seja, que fica fora da média, é ruim e deve ser excluído. No século XIX, a sociedade ainda reflete nos seus atos uma posição preconceituosa que conti- nua confinando os excepcionais em instituições especiais, porém, modifica o trabalho e começa a introduzir propostas fundadas na prática médica que visam à habilitação, à reabilitação e à profis- sionalização. No século XX, a educação modifica seu pa- radigma e passa a ter uma visão inclusiva. Esta tem como objetivo modificar o percurso da ex- clusão histórica, que, em nome de aprimorar o ser humano, somente o tornou mais distante de seus pares e de uma forma cada vez mais hipócrita, porque em vez de incluí-lo na sociedade, esta o segregou mais. A Educação Especial é dirigida a pessoas “excepcionais”, isto é, àquelas que apresentam deficiências mentais, físicas, sensoriais, múltiplas deficiências, desajuste emocional, distúrbios de conduta, bem como aos superdotados, ou seja, todos aqueles que fogem da norma. Embora existam diferenças, a Educação Es- pecial faz parte da educação geral, já que suas finalidades são as mesmas (a autorrealização, a qualificaçãopara o trabalho e a cidadania escla- recida). O despreparo de algumas instituições e educadores faz com que muitos excepcionais te- nham o seu desenvolvimento em um nível bem abaixo do que suas reais capacidades física, emo- cional, social e mental permitem. Há o preconcei- to de que todo excepcional é incapaz e limitado, e, por isso, o potencial desses indivíduos não é explorado. A grande dificuldade que encontramos hoje é que os deficientes são pessoas “um pouco diferentes”. Essas diferenças são correspondentes às diversas áreas de manifestação da excepciona- lidade e de vários graus. Para alguns, pequenas modificações na sala de aula e/ou enriquecimen- to do programa regular já são suficientes para facilitar seu ajustamento no processo ensino- -aprendizagem. Outros não podem ser educados dentro do sistema-padrão utilizado por crianças ditas “normais”, pois dependerá do grau de dife- rença do indivíduo. Tal estágio, quanto mais alto for, acarretará a necessidade de professores es- pecializados, metodologia especial, currículos apropriados, recursos instrucionais específicos e instalações adequadas. 2.2 A História da Educação Especial no Brasil A história da educação especial no Brasil acontece seguindo o que ocorreu no mundo oci- dental... A História da Educação no Brasil nos mostra que quando a economia começou a necessitar de mão de obra qualificada, as massas populares fo- ram chamadas à escola, enquanto os segmentos dominantes da sociedade, por sua vez, podiam estudar na Europa. A educação popular, assim, foi sendo concedida à medida que tornou-se ne- cessária para a subsistência do sistema dominante, até o momento em que se estruturaram os movimentos populares que passaram a reivindicar a educação como um direito. (FONTES, 2002, p. 507). Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 16 Mazzotta (2001, p. 31) aponta que a evolu- ção da Educação Especial no Brasil pode ser divi- dida em dois períodos, a saber: �� de 1854 a 1956, quando acontecem ini- ciativas oficiais e particulares; �� de 1957 a 1993, quando acontecem ini- ciativas oficiais de âmbito nacional. O primeiro período, apontado por Mazzot- ta, tem início quando, em 1854, o Imperador Dom Pedro II funda, na cidade do Rio de Janeiro, o Im- perial Instituto de Meninos Cegos, sendo hoje co- nhecido como Instituto Benjamim Constant (IBC). Em 1857, D. Pedro II funda o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos, hoje conhecido como Instituto Na- cional de Educação de Surdos (INES). Apesar de serem precários os atendimentos, o IBC e o INES, em 1883, realizaram o 1º Congresso de Instrução Pública, visando a discutir a educação dos portadores de deficiência no Brasil. Na década de 1920, a Reforma Francisco Campos, Decreto-Lei nº 7.870 A, de 15 de outubro de 1927, prescreveu a obrigatoriedade do Ensino Primário para crianças de 7 a 14 anos, que podia ser ampliada até 16 anos para os que não con- seguissem concluir o primário aos 14 anos. Fica- vam isentos dessa obrigatoriedade, entre outros, aqueles que tivessem “[...] incapacidade física ou mental verificada por médico escolar ou outro meio idôneo. Na incapacidade física além das de- formações do corpo incluíam-se moléstias conta- giosas ou repulsivas [...]” (FONTES, 2002, p. 507). Em 1932, a legislação fica mais específica e na IV Conferência da Associação Brasileira de Educação a legislação federal passa a entender que os alunos “anormais do físico (débeis, cegos e surdos-mudos), anormais de conduta [...] e anor- mais de inteligência” deveriam ser atendidos em escolas separadas dos “débeis mentais ligeiros”. Essa Lei chamou-se Ensino Emendativo (PRIETO, 1996, p. 32). A expressão Ensino Emendativo, que vem de emendare (latim) e significa corrigir falta, tirar defeito, traduziu o sentido desse trabalho. Ele vi- sava a suprir as falhas decorrentes da anormalida- de, buscando trazer o deficiente para a normali- dade. A partir da década de 1930, a sociedade civil começa a organizar-se em associações de pessoas preocupadas com o problema da defi- ciência, principalmente instituições filantrópicas como Pestallozzi (1934) e APAE (1954). O governo continua a desencadear algumas ações criando escolas junto a hospitais e ao ensino regular. Em 1961, a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Lei nº 4.024/1961, coloca a educação de excepcionais como título no capí- tulo X, com dois Artigos: 88 e 89. Nesses dois Arti- gos, segundo Carvalho (1997, p. 64), o direito à educação está garantido aos excepcionais entendendo-se que, para contribuir para sua integração na comu- nidade, seu processo educacional deve enquadrar-se no sistema geral de edu- cação. A esta diretriz segue-se outra que condiciona o referido direito à integração ao ‘no que for possível’. Na Constituição de 24/01/1967, no Título IV, Da Família, da Educação e da Cultura, os artigos 175, 176 e 177 definem que a lei especial disporá sobre a educação dos excepcionais; a educação é direito de todos e dever do estado, devendo ser dada no lar e na escola; obrigatoriamente cada sistema terá serviços de assistência educacional que assegurem aos alunos necessitados condi- ções de eficiência escolar. No título III, da Ordem Econômica e Social, o artigo Único incluído entre os artigos 165 e 166 dispõe: É assegurado ao deficiente a melhoria de sua condição social e econômica, espe- cialmente mediante: I – educação especial e gratuita; II – assistência, reabilitação e reinserção na vida econômica e social do país (BRA- SIL, 1978). Fundamentos da Educação Especial Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 17 A Lei nº 5.692/1971 continua deixando cla- ro que o atendimento aos alunos com deficiência deveria ser realizado com tratamento especial. A diretriz desse atendimento atribui um sentido clínico e/ou terapêutico à Educação Especial, na medida em que a educação assume um caráter preventivo e corretivo. A Constituição de 1988, no artigo 208, Inci- so III, prevê “atendimento educacional especializa- do aos portadores de deficiência preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 1988). Em 1996, foi sancionada, pelo Presidente Fernando Henri- que Cardoso, a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Lei nº 9.394/1996, de cujo Capítulo V – Da Educação Especial, ressaltamos o artigo 58, conforme segue: Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencial- mente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais (BRASIL, 1996). O que podemos observar é uma tentativa de modificação na forma de atendimento, bus- cando erradicar a segregação das salas especiais e das instituições especializadas. AtençãoAtenção A Educação Brasileira busca, por meio de sua le- gislação, garantir que os deficientes não sejam segregados e possam ter uma vida educacional mais plena. Neste capítulo, estudamos que os deficientes foram vistos de diversas formas ao longo da história da humanidade, como demônios, como anjos, porém dificilmente foram vistos como pessoas. Normal- mente, essas pessoas têm seu desenvolvimento em um nível bem abaixo do que suas reais capacidades física, emocional, social e mental permitem, pois a família e a sociedade não permitem seu pleno de- senvolvimento. Há o preconceito de que todo excepcional é incapaz e limitado, e, por isso, o potencial desses indivíduos não é explorado. No Brasil, temos tido diversos movimentos para educar e cuidar dos deficientes, iniciados no Im- pério com a construção de escolas especiais para surdos e cegos. Varias modificações ao longo dos anos ocorreram. Hoje, nossa legislação aponta para o trabalho de educação Inclusiva, porém ainda há muitas dificuldades e preconceitos a serem superados. Vamos, agora, avaliar a sua aprendizagem. 2.3 Resumo do Capítulo 2.4 Atividades Propostas Agora, responda: 1. Ao longo da história da civilização ocidental,os deficientes foram tratados de diversas formas. Podemos apontar quais diferenças entre a proposta de educação do século XIX para o XX? 2. O que a LDBN nº 9.394/1996 aponta como diretriz para o atendimento do aluno com deficiên- cia? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 19 DOCUMENTOS ORIENTADORES DA EDUCAÇÃO NO ÂMBITO INTERNACIONAL 3 Há momentos na vida em que a questão de saber se podemos pensar de outro modo que não pensamos e perceber de outro modo que não vemos é indispensável para continuar a olhar e refletir. Michel Foucault 3.1 Declaração Universal dos Direitos Humanos - 1948 A Assembleia Geral das Nações Unidas pro- clamou a Declaração dos Direitos Humanos, na qual reconhece que: Artigo 1º “Todos os seres humanos nas- cem livres e iguais, em dignidade e direi- tos”. Artigo 26, inciso I, ‘toda a pessoa tem di- reito à educação. A Educação deve ser gratuita, ao menos a correspondente ao ensino elementar é obrigatória [...]’. Artigo 27, no inciso I, proclama que ‘toda a pessoa tem o direito de tomar parte li- vremente na vida cultural da comunida- de, de usufruir as artes e de participar do progresso científico e nos benefícios que deles resultam’ (BRASIL, 2004, p. 14). Essa Declaração, de modo geral, assegura às pessoas com deficiência os mesmos direitos à liberdade, à educação fundamental e ao desen- volvimento social. Prezado(a) aluno(a), para compreendermos melhor o processo pelo qual nossa sociedade pas- sou para que houvesse transformações na educa- ção das pessoas com deficiência, vamos resgatar diversos documentos internacionais. A educação de pessoas com deficiência foi modificando-se ao longo da história, a partir da transformação social, caracterizando-se pelos di- ferentes paradigmas vividos socialmente. A deficiência foi inicialmente tratada como possessão demoníaca ou escolha divina de pes- soas para purgação de seus pecados. À medida que a medicina foi avançando, a deficiência pas- sou a ser vista como doença. Tais ideias marcam práticas sociais de segregação em instituições vi- sando à proteção e ao cuidado do deficiente. Esse conjunto de ideias denominou-se Paradigma da Institucionalização (BRASIL, 2004). Esse paradigma se mantém no Brasil como modelo de atendimento aos deficientes até me- tade do século XX. Com o advento da Segunda Guerra mun- dial, os países membros da Organização das Na- ções Unidas (ONU) elaboram um documento que passa a nortear os movimentos de definição de políticas públicas em seus países membros. Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 20 3.2 Declaração Mundial sobre Educação para TODOS - 1990 Em 1990, o Brasil participou da Conferência Mundial sobre Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia. Essa Conferência teve como objetivo discutir a realidade dos países e, apesar de a dis- paridade entre as nações, relembrar de que TO- DOS têm direito à Educação. Para responder a essa demanda, foram rea- lizados alguns encaminhamentos: Artigo 1º – Satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem – as crian- ças, os jovens e os adultos devem desen- volver plenamente suas capacidades; a educação deve possibilitar à sociedade a busca da justiça e a preservação do meio ambiente, enriquecer os valores culturais. Artigo 2º – Expandir o enfoque – desen- volver novas estruturas, recursos e pos- sibilidades de comunicação, promover a equidade e articular a educação aos con- juntos de conhecimentos relevantes na sociedade. Artigo 3º – Universalizar o acesso à educação e promover a equidade – educação básica para todos; melhorar a qualidade, alcançar e manter um padrão mínimo de qualidade; eliminar os pre- conceitos e estereótipos, priorizar as mu- lheres e meninas; superar a disparidade com grupos excluídos: meninos de rua, nômades, minorias étnicas, etc.; ter me- didas especiais com portadores de defi- ciência. Artigo 4º – Concentrar a atenção na aprendizagem – A educação básica deve estar voltada para a efetiva apren- dizagem – abordagem de aprendizagens diferentes, definir níveis desejáveis de aprendizagem, implementar sistemas de avaliação e desempenho. Artigo 5º – Ampliar os meios e o raio de ação da educação básica – a diver- sidade de modos de aprendizagem deve ser relevada. A aprendizagem começa na infância, na família e fora dela; criar siste- mas de apoio; implementar programas próprios para jovens e adultos; ter pro- gramas de capacitação técnica. Artigo 6º – Propiciar ambiente adequa- do à aprendizagem – a aprendizagem não ocorre de maneira isolada, devem ser garantidos aos educandos cuidados em nutrição, médicos, apoio físico e emo- cional. Artigo 7º – Fortalecer as alianças – é necessário que as autoridades de todos os níveis se preocupem com a educação e com a valorização dos seus profissio- nais. É importante também implementar alianças com outros órgãos, governa- mentais ou não. Artigo 8º – Desenvolver uma política contextualizada de apoio – é necessário o apoio de setores econômico, cultural e social para a promoção da educação bá- sica; desenvolver uma política econômi- ca de comércio, trabalho, etc., visando ao desenvolvimento da sociedade; garantir ambiente intelectual e científico à educa- ção básica. Artigo 9º – Mobilizar os recursos – é ne- cessário mobilizar e disponibilizar recur- sos financeiros e humanos, para viabilizar a aprendizagem para todos. Artigo 10 – Fortalecer a solidariedade internacional – satisfazer necessidades básicas de educação é compromisso comum e universal, visando a corrigir disparidades, devendo haver aumento dos recursos destinados à educação; as necessidades básicas de aprendizagem devem ser atendidas, e os países menos desenvolvidos deverão ser auxiliados. As nações devem agir conjuntamente para acabar com guerras, conflitos, etc., visan- do a garantir as necessidades de aprendi- zagem (UNESDOC, 1998). Como pudemos observar, a Declaração de Jomtien busca modos de encaminhar as ques- tões de aprendizagem, pois se acredita que a educação é fundamental para o desenvolvimento das pessoas e da sociedade de forma que possa contribuir para o progresso social, econômico e cultural e a para a cooperação internacional. Fundamentos da Educação Especial Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 21 Ao assinar a Declaração de Jomtien, o Bra- sil assumiu, perante a comunidade internacional, o compromisso de erradicar o analfabetismo e universalizar o ensino fundamental no País. Ten- do esse compromisso, o Brasil tem desenvolvido 3.3 Declaração de Salamanca - 1994 Os delegados das Nações Unidas, em Sala- manca, Espanha, entre 7 e 10 de junho de 1994, reafirmam o compromisso para com a Educação para Todos, reconhecendo a necessidade e a ur- gência de providências de educação para crian- ças, jovens e adultos com necessidades educa- cionais especiais dentro do sistema regular de ensino. Os países signatários, dos quais o Brasil faz parte, acreditam e proclamam que: �� toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportu- nidade de atingir e manter o nível ade- quado de aprendizagem; �� toda criança possui características, in- teresses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas; �� os sistemas educativos devem ser pen- sados, e os programas implementados levando em consideração a diversidade educacional; �� as pessoas com necessidades educacio- nais especiais devem ter acesso à escola regular, que deverá pensar em uma Pe- dagogia centrada na criança, capaz de atender às suas necessidades; �� escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitu- des discriminatórias criando-se comu- nidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando edu- cação para todos. Incita os governos a: �� atribuir prioridade política e financei- ra ao aprimoramento de seus sistemas educacionais para se tornarem aptos a incluíremtodas as crianças, indepen- dentemente de suas diferenças ou difi- culdades individuais; �� adotar o princípio de educação inclusi- va em forma de lei ou de política, por meio da matrícula de todas as crianças em escolas regulares, a menos que haja fortes razões para agir de outra forma; �� estabelecer mecanismos de participa- ção descentralizados para planejamen- to, supervisão e avaliação educacional para crianças e adultos com necessida- des educacionais especiais; �� promover e encorajar a participação de pais, comunidades e organizações de pessoas portadoras de deficiências nos processos de planejamento e tomada de decisão para atender os alunos com necessidades educacionais especiais; �� investir esforços em estratégias de iden- tificação e intervenção precoces; �� garantir que haja programas de treina- mento para professores, tanto inicial como contínuo, visando a atender às necessidades educacionais especiais em escolas inclusivas (UNESCO, 1996). Os participantes também conclamam que agências internacionais governamentais e não governamentais auxiliem, apoiem o desenvol- programas e criado instrumentos norteadores vi- sando a apoiar e dar subsídios nas diferentes esfe- ras públicas: municipal, estadual e federal (BRASIL, 2004). Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 22 vimento da Educação Especial como parte inte- grante dos programas educacionais relativos ao aprimoramento de professores, e estimulem a comunidade acadêmica no desenvolvimento de pesquisa e tecnologia, mobilização e criação de fundos para programas de apoio comunitário. Estrutura de Ação em Educação Especial Portanto, caro(a) aluno(a), é necessário que a escola possa visualizar os alunos com necessi- dades educacionais especiais como população- -alvo do seu trabalho. Qualquer pessoa com deficiência tem o di- reito de expressar seus desejos com relação à sua educação, tanto quanto estes possam ser realiza- dos. Os pais têm o direito inerente de ser consul- tados sobre a forma de educação mais apropriada às necessidades, às circunstâncias e às aspirações de suas crianças. Vamos saber um pouco mais sobre o assun- to lendo um excerto da Declaração de Salamanca. AtençãoAtenção A Declaração dos Direitos Humanos aponta para uma mudança na visão das pessoas com deficiência. Anos mais tarde, a Declaração de Jomtien e de Salamanca apontam para a importância de a escola modificar-se para atender satisfatoriamente a TODOS os alunos. Saiba maisSaiba mais 3. O princípio que orienta esta Estrutura é o de que escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. Aquelas deveriam incluir crianças defi- cientes e super-dotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias lingüísticas, étnicas ou culturais, e crianças de outros grupos desavantajados ou marginaliza- dos. Tais condições geram uma variedade de diferentes desafios aos sistemas escolares. No contexto desta Estrutura, o termo ‘necessidades educacionais especiais’ refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades educacio- nais especiais se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem. Muitas crianças experimentam dificuldades de aprendizagem e portanto possuem necessidades educacionais especiais em algum ponto durante a sua escolarização. Escolas devem buscar formas de educar tais crianças bem-sucedidamente, incluindo aquelas que possuam desvantagens severas. Existe um consenso emergente de que crianças e jovens com necessidades educacio- nais especiais devam ser incluídas em arranjos educacionais feitos para a maioria das crianças. Isto levou ao conceito de escola inclusiva. O desafio que confronta a escola inclusiva é no que diz respeito ao desenvolvimento de uma pedagogia centrada na criança e capaz de bem-sucedidamente educar todas as crianças, incluindo aquelas que possuam desvanta- gens severa. O mérito de tais escolas não reside somente no fato de que elas sejam capazes de prover uma educação de alta qualidade a todas as crianças: o estabelecimento de tais escolas é um passo crucial no sentido de modificar atitudes discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras e de desenvolver uma sociedade inclusiva. 4. Educação Especial incorpora os mais do que comprovados princípios de uma forte pedagogia da qual todas as crian- ças possam se beneficiar. Ela assume que as diferenças humanas são normais e que, em consonância com a apren- dizagem de ser adaptada às necessidades da criança, ao invés de se adaptar a criança às assunções pré-concebidas a respeito do ritmo e da natureza do processo de aprendizagem. Uma pedagogia centrada na criança é beneficial a todos os estudantes e, consequentemente, à sociedade como um todo. A experiência tem demonstrado que tal peda- gogia pode consideravelmente reduzir a taxa de desistência e repetência escolar (que são tão características de tantos sistemas educacionais) e ao mesmo tempo garantir índices médios mais altos de rendimento escolar. Uma pedagogia centrada na criança pode impedir o desperdício de recursos e o enfraquecimento de esperanças, tão frequentemente conseqüências de uma instrução de baixa qualidade e de uma mentalidade educacional baseada na idéia de que ‘um tamanho serve a todos’. Escolas centradas na criança são além do mais a base de treino para uma sociedade baseada no povo, que respeita tanto as diferenças quanto a dignidade de todos os seres humanos. Uma mudança de perspectiva social é imperativa. Por um tempo demasiadamente longo os problemas das pessoas portadoras de deficiências têm sido compostos por uma sociedade que inabilita, que tem prestado mais atenção aos impedimentos do que aos poten- ciais de tais pessoas. (UNESCO, 1996). Fundamentos da Educação Especial Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 23 Conforme observamos na Declaração de Salamanca, o princípio fundamental da escola in- clusiva é o de que todas as crianças devem apren- der juntas, sempre que possível, independente- mente de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter. As escolas inclusivas devem reconhecer e responder às necessidades de seus alunos, acomodando estilos e ritmos de aprendi- zagem e assegurando uma educação de qualida- de a todos, por meio de um currículo apropriado, arranjo organizacional, estratégias de ensino, uti- lização de recursos e parceria com a comunidade. Os alunos com necessidades educacionais especiais devem receber qualquer suporte extrar- requerido para assegurar uma educação efetiva. Educação inclusiva é o modo mais eficaz para construção de solidariedade entre crianças com necessidades educacionais especiais e seus cole- gas. O encaminhamento de crianças a escolas especiais ou classes especiais e a sessões espe- ciais dentro da escola, em caráter permanente, deveria constituir exceções, sendo recomendado somente nos casos em que fique claramente de- monstrado que a educação na classe regular seja incapaz de atender às necessidades educacionais ou sociais da criança. Para que esses pressupostos possam ser co- locados em prática, é necessário ter um plano de ação, que estabeleça as metas a serem alcança- das. Entendendo que a educação é um direito hu- mano e fator fundamental para reduzir a pobre- za e as desigualdades sociais e promover a paz, fica estabelecido que até o ano de 2015 todas as crianças tenham acesso ao ensino primário de qualidade, gratuito e obrigatório, e que terminem seus estudos. O Brasil se comprometeu com to- dos os objetivos aqui propostos (BRASIL, 2004). 3.4 Convenção de Guatemala - 1999 Na convenção da Guatemala todos os mem- bros participantes reafirmam que: as pessoas com deficiência têm os mes- mos direitos humanos e liberdades fun- damentais que outras pessoas, e que es- tes direitos, inclusive o direito de não ser submetidas à discriminação combase na deficiência, emanam da dignidade e da igualdade que são inerentes a todos ser humano (BRASIL, 2001). No primeiro artigo da Convenção, define-se o termo ‘deficiência’, sendo que: “deficiência signi- fica uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades es- senciais da vida diária causada ou agravada pelo ambiente econômico e social.” (BRASIL, 2001). Os efeitos dessa Convenção são fundamen- tais, pois tratam da necessidade de não se res- tringir ou impedir o exercício das pessoas com deficiência de seus direitos humanos e suas liber- dades fundamentais. Define, também, que não constitui discrimi- nação a diferenciação adotada para promover a integração social ou o desenvolvimento pessoal dos deficientes. Esse é um passo importante, uma vez que a diferença deve ser vista e respeitada. Existem vários documentos internacionais anteriores e posteriores aos citados, porém esses são marcos na mudança de paradigma da socie- dade. A partir deles, a sociedade teve que modifi- car seu modo de encarar o deficiente. Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 24 Neste capítulo, pudemos analisar os diversos documentos internacionais que buscam orientar nos- sa sociedade para uma mudança de paradigma em relação às pessoas com necessidades educacionais especiais. Ainda há muito que a sociedade deve fazer para que essas crianças, esses adolescentes e adul- tos sejam realmente vistos e aceitos pela sociedade, porém fica claro a importância e o trabalho que a educação deve realizar. Vamos, agora, avaliar a sua aprendizagem. 3.5 Resumo do Capítulo 1. O que a Declaração dos Direitos Humanos aponta em seus artigos 1º e 26? 2. A Declaração de Jomtien aponta que todas as crianças aprendem. Para que isso ocorra, é ne- cessário satisfazer quais demandas? 3. A Declaração de Salamanca mostra-nos que é necessário modificar as escolas para que pos- sam atender com qualidade aos alunos com necessidades educacionais especiais. Quem deve mudar? 3.6 Atividades Propostas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 25 Para mim, o utópico não é o irrealizável; a utopia não é o idealismo; é a dialeti- zação dos atos de denunciar a estrutura desumanizante e de anunciar a estrutura humanizante. Por essa razão, a utopia é, também, um compromisso histórico. Paulo Freire Caro(a) aluno(a), como você pôde observar, estamos fazendo um percurso histórico para en- tender a educação dos alunos com deficiência na LEGISLAÇÃO BRASILEIRA - MARCOS LEGAIS4 rede regular de ensino. Vamos, agora, entender a repercussão dos movimentos internacionais no Brasil. O Brasil é membro da Organização das Na- ções Unidas, portanto signatário de todas as de- clarações observadas anteriormente. Para colocar em prática os princípios que explicitam sua opção política de uma sociedade para todos, são neces- sárias leis que orientem as políticas públicas e sua prática social. 4.1 Constituição Federal - 1988 A Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, assumiu os princípios observados na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Na Constituição, o art. 6º diz: “são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segu- rança [...]” (BRASIL, 1988). Fica instituída a obriga- toriedade do Ensino Fundamental de no mínimo oito anos, e este é de responsabilidade dos pais e do poder público. Garantir a possibilidade de término da escolaridade é obrigatório, inclusive àqueles que não tiveram acesso em idade própria. Em relação à educação especial, houve uma modificação, que pode ser observada no art. 208: [...] o dever do Estado para com a educa- ção será efetivado mediante garantia de ensino fundamental obrigatório, gratuito inclusive para aqueles que não tiveram acesso na idade própria; atendimento educacional especializado a portado- res de deficiência preferencialmen- te na rede regular de ensino (BRASIL, 1996). A partir da promulgação dessa Constitui- ção, tivemos uma descentralização das tomadas de decisão; os municípios passam a ter autono- mia política para tomar decisões. Cabe aos muni- cípios mapear as necessidades de seus cidadãos, planejar e implementar recursos necessários para atender à população (MEC/SEESP, 2004). AtençãoAtenção A Constituição Federal, lei maior do Brasil, aponta para a importância de que as pessoas com defi- ciência não sejam vistas de modo diferente, mas que frequentem a escola regular como qualquer outro cidadão do Brasil. Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 26 O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que foi promulgado em 1990, Lei nº 8.069, estabelece que as crianças e os adolescentes te- nham garantidos os direitos fundamentais ine- rentes à pessoa humana, assegurando-lhes as oportunidades e facilidades que visem ao desen- volvimento físico, mental, espiritual e social. Afirma, no art. 4º, que é dever da família, da sociedade e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação de seus direitos quanto à vida, à saúde, à alimentação, à educa- ção, ao esporte e ao lazer, à profissionalização e à liberdade. Em relação à educação, estabelece em seu art. 53: A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvol- vimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando: I – Igualdade de condições para aces- so e permanência na escola; 4.2 Estatuto da Criança e do Adolescente II – Direito de ser respeitado por seus educadores; III – Direito à escola pública e gratuita próximo de sua residência. O Artigo 54 diz: é dever do Estado asse- gurar à criança e ao adolescente: I – ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II – atendimento educacional espe- cializado aos portadores de deficiên- cia preferencialmente na rede regular de ensino [...] (BRASIL, 1990). O art. 55 reafirma que os pais e/ou respon- sáveis têm o dever de matricular seus filhos na rede regular de ensino. Como pudemos observar, a legislação vem organizar a prática social a partir das opções políticas assumidas pela Nação. Com relação aos portadores de deficiência, fica claro que a segregação não deve mais acontecer, mas que eles possam passar a conviver em espaços socialmente constituídos junto à sociedade. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- cional – Lei nº 9.394/1996 foi sancionada em de- zembro de 1996. Ela responsabiliza os municípios pela universalização do ensino para os cidadãos de 0 a 14 anos. Sendo o Brasil signatário da ONU, nessa lei aparecem formuladas as políticas que preveem o atendimento de alunos com deficiên- cia, assim como podemos observar no Capítulo V – Da Educação Especial, do qual destacamos os arts. 58, 59 e 60. Artigo 58 Entende-se por Educação Espe- cial, para os efeitos desta Lei, a modalida- de de educação escolar oferecida prefe- rencialmente na rede regular de ensino, 4.3 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) - 1996 para educandos portadores de necessi- dades especiais. § 1° Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da cliente- la de Educação Especial. § 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços es- pecializados sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes de ensino regular. § 3º A oferta de Educação Especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa de zero a seis anos, durante a Edu- cação Infantil. Fundamentos da Educação Especial Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 27 Artigo 59 Os sistemas de ensino assegu- rarão aos educandos com necessidades especiais: I – currículos, métodos, técnicas, re- cursos educativos e organização especí- ficos, para atender àssuas necessidades; II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do Ensino Fun- damental, em virtude de suas deficiên- cias, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os super- dotados; III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular ca- pacitados para a integração desses edu- candos nas classes comuns; IV – Educação Especial para o trabalho visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições ade- quadas para os que não revelam capaci- dade de inserção no trabalho competiti- vo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomoto- ra; V – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do en- sino regular. Artigo 60 Os órgãos normativos dos siste- mas de ensino estabelecerão critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em Educação Especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo Poder Público. Parágrafo Único. O Poder Público adota- rá, como alternativa preferencial, a am- pliação do atendimento aos educandos com necessidades especiais na própria rede pública regular de ensino, indepen- dentemente do apoio às instituições pre- vistas neste artigo (BRASIL, 1996). A nova LDB reafirma a preferência do aten- dimento dos portadores de necessidades educa- cionais especiais (PNEE) na rede regular de ensino, prevendo, para que isso possa acontecer, serviços de apoio especializado na escola regular. Obser- vando bem, há uma mudança significativa no modo de atendimento, anteriormente realizado a partir da Lei nº 5.692/1971, que previa o atendi- mento de forma segregada, em escolas especiais ou classes especiais. Apesar do avanço da nova lei, ela acaba por não determinar quem são as pessoas com necessidades educacionais especiais ou que pro- fissionais irão realizar a identificação desse grupo. Portanto, são necessários outros decretos que possam especificar melhor aquelas determina- ções que ficaram abrangentes. AtençãoAtenção A nova LDB incorpora em seus pressupostos as Declarações de Jomtien e de Salamanca, apon- tando para a necessidade de a escola se modifi- car para atender aos alunos que possuam neces- sidades educacionais especiais. 4.4 Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica - Res. CNE/CEB n° 2. 2001 Como pudemos verificar até agora, o Brasil vem seguindo o caminho da inclusão dos porta- dores de necessidades educacionais especiais no ensino regular; porém, para explicitar como esse processo deve acontecer, foi realizado um estudo aprofundado da questão, publicado em 2001, o Parecer nº 17, que visa a “subsidiar o estudo e nor- matização de políticas sobre a Educação Especial”. A Resolução CNE/CEB nº 2 representa um avanço na perspectiva da universalização do en- sino e um marco na atenção à diversidade, ratifi- cando a obrigatoriedade da matrícula de todos os alunos, declarando: Os sistemas de ensino devem matricu- lar todos os alunos, cabendo às escolas Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 28 organizarem-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacio- nais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de quali- dade para todos (BRASIL, 2001). Para que se efetive o exposto nesse pará- grafo, é necessário que a escola elabore projetos pedagógicos que sejam orientados pela política de inclusão e também pelo compromisso com a educação escolar desses alunos. Dessa forma, modificamos o paradigma da educação: “não é mais o aluno que deve adaptar-se à escola, mas é ela que, consciente de sua função, coloca-se à disposição do aluno, tornando-se um espaço in- clusivo” (BRASIL, 2001). A proposição da política expressa nas dire- trizes traduz o conceito de escola inclusiva. A Resolução nº 4 de 2010 define as Diretri- zes Curriculares gerais para a Educação Básica. Na Seção II, aponta o caminho que a modalidade da Educação Especial deve tomar. Art. 29. A Educação Especial, como mo- dalidade transversal a todos os níveis, etapas e modalidades de ensino, é parte integrante da educação regular, devendo ser prevista no projeto político-pedagó- gico da unidade escolar. § 1º Os sistemas de ensino devem ma- tricular os estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimen- to e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE), complementar ou suplementar à escolarização, ofertado em salas de re- cursos multifuncionais ou em centros de AEE da rede pública ou de instituições co- munitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos. § 2º Os sistemas e as escolas devem criar condições para que o professor da classe comum possa explorar as potencialida- des de todos os estudantes, adotando uma pedagogia dialógica, interativa, in- terdisciplinar e inclusiva, e, na interface, o professor do AEE deve identificar habi- lidades e necessidades dos estudantes, organizar e orientar sobre os serviços e recursos pedagógicos e de acessibilidade para a participação e aprendizagem dos estudantes. 4.5 Resolução n° 4 de 2010 - Define Diretrizes Curriculares Gerais para a Educação Básica § 3º Na organização desta modalidade, os sistemas de ensino devem observar as se- guintes orientações fundamentais: I - o pleno acesso e a efetiva participação dos estudantes no ensino regular; II - a oferta do atendimento educacional especializado; III - a formação de professores para o AEE e para o desenvolvimento de práticas educacionais inclusivas; IV - a participação da comunidade esco- lar; V - a acessibilidade arquitetônica, nas co- municações e informações, nos mobiliá- rios e equipamentos e nos transportes; VI - a articulação das políticas públicas in- tersetoriais. (BRASIL, 2010). Essa legislação reafirma o caminho da Edu- cação Inclusiva nas escolas regulares e mostra a necessidade de os alunos com deficiência, Trans- tornos Globais do Desenvolvimento e Superdota- ção terem atendimento Educacional Especializa- do (AEE). As normas do AEE foram instituídas pela Resolução nº 4 de 2009, que apontam as Diretri- zes Operacionais para o Atendimento Educacio- nal Especializado na Educação Básica na modali- dade Educação Especial. Fundamentos da Educação Especial Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 29 A Resolução nº 4 de 2009 institui: Art. 1º Para a implementação do Decreto nº 6.571/2008, os sistemas de ensino de- vem matricular os alunos com deficiên- cia, transtornos globais do desenvolvi- mento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especiali- zado (AEE), ofertado em salas de recur- sos multifuncionais ou em centros de Atendimento Educacional Especializa- do da rede pública ou de instituições co- munitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos. Art. 2º O AEE tem como função comple- mentar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e es- tratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem. Parágrafo único. Para fins destas Diretri- zes, consideram-se recursos de aces- sibilidade na educação aqueles que asseguram condições de acesso ao currículo dos alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, promovendo a utilização dos materiais didáticos e pe- dagógicos, dos espaços, dos mobiliários e equipamentos, dos sistemas de comu- nicação e informação, dos transportes e dos demais serviços (BRASIL, 2009). Aponta como população-alvo da Educação Especial e que devem ser encaminhados ao AEE, art. 4º:
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