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TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” Responsável pelo conteúdo: Carlos Xavier. Confira o “Direito Sem Juridiquês” no YouTube, no Facebook e em www.direitosemjuridiques.com. https://www.facebook.com/carloserxavier https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg http://facebook/ http://www.direitosemjuridiques.com/ https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................... 8 INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 10 1 CONCEITOS BÁSICOS ........................................................................................................... 11 1.1 “Teoria Geral do Processo” ou “Teoria do Processo Civil”? ................................................. 11 1.2 Direito material e direito processual. Autonomia do processo civil .................................. 12 1.3 Pressupostos processuais e relação jurídica processual ................................................ 15 1.4 Processo, procedimento e técnicas processuais ............................................................. 16 1.5 Fases processuais ........................................................................................................... 17 1.6 Graus de jurisdição .......................................................................................................... 22 1.7 Decisão interlocutória e sentença. Agravo de instrumento e apelação ........................... 24 1.8 Noções gerais sobre “sentenças” .................................................................................... 25 1.8.1 Extinção do processo com solução do mérito (artigo 487 do novo CPC) .................... 25 1.8.2 Extinção do processo sem solução de mérito (artigo 485 do novo CPC) – sentenças terminativas ............................................................................................................................. 26 1.8.3 Coisa julgada material e coisa julgada formal .............................................................. 28 1.8.4 Julgamento conforme o estado do processo e “sentença parcial” ............................... 29 1.9 Procedimento comum e procedimentos especiais .......................................................... 31 2 TEORIA ECLÉTICA DA AÇÃO E CONDIÇÕES DA AÇÃO .................................................... 34 2.1 As condições da ação no CPC de 1973 .......................................................................... 38 2.1.1 Possibilidade jurídica do pedido.................................................................................... 38 2.1.2 Legitimidade das partes ................................................................................................ 39 2.1.3 Interesse processual ..................................................................................................... 39 2.2 As condições da ação no novo CPC ............................................................................... 40 2.3 Regime processual de reconhecimento da ausência de condições da ação .................. 42 2.3.1 Matéria de ordem pública .............................................................................................. 42 2.3.2 Ausência de coisa julgada material............................................................................... 42 2.4 Análise crítica. Teoria da asserção .................................................................................. 43 3 O IMPACTO DO ESTADO CONSTITUCIONAL SOBRE O PROCESSO CIVIL ..................... 47 3.1 O fim do Estado Legislativo e o início do Estado Constitucional ..................................... 47 3.2 Neoconstitucionalismo ..................................................................................................... 48 3.3 Hermenêutica jurídica no Estado Constitucional ............................................................. 49 3.3.1 Ideologia dinâmica da interpretação ............................................................................. 49 3.3.2 Técnicas decisórias do controle de constitucionalidade ............................................... 50 3.3.2.1 Interpretação de acordo com a Constituição ............................................................. 50 3.3.2.2 Interpretação conforme à Constituição ...................................................................... 51 3.3.2.3 Declaração de nulidade parcial sem redução de texto .............................................. 51 3.3.2.4 Aplicação direta de um direito fundamental ao caso concreto .................................. 52 3.4 Funções do Estado. Dar tutela aos direitos, especialmente aos fundamentais .............. 52 3.5 Do princípio da inafastabilidade da jurisdição ao direito fundamental de acesso à justiça e ao direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva ............................................................. 53 3.6 Dizendo as coisas de outro modo. Três ondas renovatórias de acesso à justiça (Cappelletti e Garth) ................................................................................................................ 57 4 PRINCÍPIOS PROCESSUAIS (OU “NORMAS FUNDAMENTAIS” DO PROCESSO CIVIL) .. 59 4.1 Introdução ........................................................................................................................ 59 4.1.1 A importância dos princípios para o Direito contemporâneo ........................................ 59 4.1.2 O novo Código de Processo Civil e as “normas fundamentais do processo civil” ....... 62 4.2 Artigo 5º, LIV, da Constituição. Devido processo legal .................................................... 64 4.3 Artigo 5º, LV, da CRFB. Princípios do contraditório e da ampla defesa .......................... 65 4.3.1 Conteúdo do princípio do contraditório ......................................................................... 66 4.3.2 A ampla defesa e os “meios e recursos a ela inerentes” .............................................. 66 4.3.2.1 Possibilidade de restrição aos “meios” de defesa ..................................................... 67 4.3.2.2 Possibilidade de restrição a “recursos” (ou: é o duplo grau de jurisdição, em matéria cível, um direito fundamental?) ............................................................................................... 67 4.4 Artigo 5º, XXXV, da CRFB. Inafastabilidade da jurisdição, acesso à justiça e direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva ................................................................................ 69 4.4.1 Meios alternativos de solução de controvérsias: arbitragem, mediação e conciliação 70 4.4.2 Direito fundamental à razoável duração do processo .................................................. 72 4.4.2.1 Princípios da economia e da celeridade .................................................................... 72 4.5 Princípios da publicidade do processo e da fundamentação das decisões .................... 73 4.6 Inércia da Jurisdição: princípios dispositivo, da demanda e do impulso oficial ............... 74 4.7 Princípios da boa-fé e da cooperação ............................................................................. 75 4.8 Quadro Esquemático ....................................................................................................... 77 5 JURISDIÇÃO ............................................................................................................................ 78 5.1 Os conceitos de jurisdição formulados no contexto do Estado Legislativo ..................... 78 5.2 Em busca de um conceito de jurisdição no Estado Constitucional .................................80 6 TUTELA DOS DIREITOS. TUTELA JURISDICIONAL DOS DIREITOS. PROCESSO E PROCEDIMENTO. TÉCNICA PROCESSUAL ........................................................................... 82 6.1 Introdução. Função do Estado Constitucional. Dar tutela aos direitos ............................ 82 6.2 Compreensão do direito material no Estado contemporâneo. Estabelecimento de “posições juridicamente protegidas.” Formas de tutela .......................................................... 82 6.3. Tutela declaratória........................................................................................................... 83 6.4 Tutela constitutiva ............................................................................................................ 83 6.5 Esclarecimento necessário. Diferença entre ilícito e dano .............................................. 84 6.6 Formas de tutela que objetivam evitar o acontecimento do dano: tutelas inibitória e tutela de remoção do ilícito ............................................................................................................... 85 6.7 Forma de tutela diante do dano já realizado. Tutela ressarcitória ................................... 86 6.8 Um exemplo para ajudar a fixar os conceitos .................................................................. 87 6.9 Processo, procedimento e técnica processual ................................................................ 88 6.10 O estudo das classificações das ações (trinária e quinária) .......................................... 90 6.10.1 Tutela declaratória ...................................................................................................... 93 6.10.2 Tutela constitutiva ....................................................................................................... 93 6.10.3 Tutelas inibitória e de remoção do ilícito ..................................................................... 94 6.10.4 Tutela ressarcitória ...................................................................................................... 94 6.11 Retomando o exemplo ................................................................................................... 95 6.12 Um breve olhar sobre o Código de Processo Civil ........................................................ 96 6.13 Algumas noções adicionais sobre as “tutelas provisórias” ............................................ 97 6.13.1 Tutela antecipada ........................................................................................................ 98 6.13.2 Tutela cautelar........................................................................................................... 100 6.13.3 Tutela da evidência ................................................................................................... 103 6.13.4 Tutela de urgência antecedente................................................................................ 105 7 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS....................................................................................... 108 7.1 Introdução ...................................................................................................................... 108 7.2 Definição tradicional de pressupostos processuais ....................................................... 108 7.3 Primeira aproximação legislativa e classificações ......................................................... 108 7.4 Menção aos pressupostos processuais em espécie ..................................................... 110 7.5 Pressupostos processuais de existência ....................................................................... 111 7.5.1 Pedido e investidura na jurisdição .............................................................................. 111 7.5.2 Citação ........................................................................................................................ 111 7.5.3 Capacidade postulatória ............................................................................................. 112 7.6 Pressupostos processuais de validade .......................................................................... 115 7.6.1 Aptidão da petição inicial ............................................................................................ 115 7.6.2 Imparcialidade do juiz ................................................................................................. 117 7.6.2.1 Impedimento (artigo 144 do novo CPC) .................................................................. 118 7.6.2.2 Suspeição (artigo 145 do novo CPC) ...................................................................... 118 7.6.2.3 Procedimento para verificação e consequências .................................................... 119 7.6.3 Capacidade processual ............................................................................................... 121 7.6.4 Validade da citação ..................................................................................................... 123 7.6.5 Litispendência e coisa julgada .................................................................................... 123 7.7 Vícios decorrentes da inobservância dos pressupostos processuais. Panorama geral 124 7.8 Apreciação crítica ........................................................................................................... 125 8 COMPETÊNCIA E ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA ................................................................. 127 8.1 Introdução ...................................................................................................................... 127 8.1.1 Competência. Fundamentos e definição .................................................................... 127 8.2 Classificações ................................................................................................................ 128 8.2.1 Competência absoluta ................................................................................................ 128 8.2.2 Competência relativa .................................................................................................. 130 8.2.3 A competência no âmbito do microssistema dos Juizados Especiais ........................ 130 8.3 Regime de reconhecimento de incompetência .............................................................. 131 8.4 Conflitos de competência ............................................................................................... 132 8.5 Organização Judiciária. Noções Gerais ......................................................................... 133 8.5.1 O “duplo grau de jurisdição” e as competências dos tribunais ................................... 133 8.5.2 Justiças Estadual e Federal, Comum e Especializada ............................................... 135 8.6 Organização Judiciária e Competência ......................................................................... 136 8.6.1 Justiça Comum Estadual ............................................................................................ 136 8.6.1.1 Justiça Militar Estadual ............................................................................................ 137 8.6.2 Justiça Comum Federal .............................................................................................. 137 8.6.3 Justiça Eleitoral ........................................................................................................... 138 8.6.4 Justiça Militar Federal ................................................................................................. 139 8.6.5 Justiça do Trabalho ..................................................................................................... 139 9 NOÇÕES SOBRE TEORIA DOS PRECEDENTES ............................................................... 142 9.1 Introdução ......................................................................................................................142 9.2 Aspectos preliminares de teoria do Direito. Ideologia estática X ideologia dinâmica da interpretação .......................................................................................................................... 144 9.2.1 Ideologia estática da interpretação. Funções dos “Tribunais Superiores.” Jurisprudência e súmulas ...................................................................................................... 144 9.2.2 Ideologia dinâmica da interpretação. Funções das “Cortes Supemas” ...................... 145 9.3 Aproximação entre as tradições de civil law e de common law ..................................... 147 9.4 Operacionalização de precedentes. Ratio decidendi e obiter dicta. Precedente X jurisprudência e súmula. Distinguishing e overruling ............................................................ 149 9.5 Os precedentes no âmbito do controle de constitucionalidade brasileiro...................... 154 9.5.1 O modelo de controle difuso de constitucionalidade brasileiro e a necessidade – que sempre existiu – de que os precedentes do Supremo Tribunal Federal fossem de observância obrigatória ......................................................................................................... 155 9.5.2 A importação do modelo de controle concentrado e o papel que a “reclamação” passou a desempenhar a fim de tentar agregar coerência ao sistema misto de controle de constitucionalidade brasileiro ................................................................................................ 157 9.6 A perspectiva de “racionalização da jurisdição” introduzida pelas alterações constitucionais e legislativas brasileiras mais recentes ........................................................ 160 9.7 A forma como o novo Código de Processo Civil disciplina o assunto da “estabilidade, integridade e coerência da jurisprudência” (artigos 926 e 927) ............................................ 162 9.8 “Julgamentos de casos repetitivos” (artigo 928 do NCPC) e incidente de assunção de competência .......................................................................................................................... 164 9.8.1 Recursos especial e extraordinário repetitivos. Aspectos gerais ............................... 165 9.8.2 Incidentes de resolução de demandas repetitivas e de assunção de competência. Aspectos gerais ..................................................................................................................... 167 9.9 O papel conferido pelo novo Código de Processo Civil à reclamação .......................... 169 9.10 Apreciação crítica final à disciplina dada pelo novo CPC aos precedentes em conjunto com a da reclamação ............................................................................................................ 171 APÊNDICE I .............................................................................................................................. 176 A) Introdução: apresentação da pergunta-chave ................................................................. 176 B) Antecedentes históricos .................................................................................................. 177 C) A controvérsia entre Windscheid e Muther ..................................................................... 177 C.1) Tese. Windscheid. Actio romana = pretensão moderna .............................................. 177 C.2) Antítese. Muther. Direito privado versus direito à fórmula ........................................... 179 C.3) Síntese – Windscheid. Pretensão de direito material versus ação processual ........... 180 APÊNDICE II ............................................................................................................................. 182 A) Direito de agir “abstrato”. Degenkolb/Plósz, Mortara, Couture e Wach .......................... 182 B) A teoria de Chiovenda ..................................................................................................... 184 APÊNDICE III ............................................................................................................................ 186 A) Mas o que a Revolução Francesa tem a ver com o processo civil mesmo? .................. 186 B) Antecedentes históricos .................................................................................................. 186 C) Teoria da separação de poderes estrita. Supremacia da lei. Juiz “boca da lei” ............. 187 D) Liberdade como valor máximo. Limitação dos poderes executórios do juiz ................... 188 E) O papel desempenhado pelo .......................................................................................... 189 F) Correlação das ideias desenvolvidas ao longo deste apêndice com a noção de “processo civil autônomo” ...................................................................................................................... 190 G) Conclusão ....................................................................................................................... 192 APÊNDICE IV ............................................................................................................................ 194 A) A escola austríaca de economia ..................................................................................... 194 B) A “história libertária” norte-americana ............................................................................. 195 C) Coletivismo X individualismo ........................................................................................... 197 D) Fundamento do libertarianismo: o princípio da não agressão ........................................ 198 E) O déficit ético do Estado em razão do “monopólio da violência” .................................... 198 F) Uma questão mais profunda – o triunfo do iluminismo e a consequente idolatria do Estado ................................................................................................................................... 199 G) A solução: uma sociedade libertária, ou “anarco-capitalista” ......................................... 200 TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 8 de 200 APRESENTAÇÃO Esta apostila foi produzida originalmente para a disciplina de “Teoria Geral do Processo” do curso de Direito da Faculdade Educacional Araucária – FACEAR. Com o surgimento do canal “Direito Sem Juridiquês” no YouTube, seu conteúdo passou a ser divulgado por ali. Assim, a apostila já vem servindo para ajudar várias pessoas que procuram estudar o processo civil “sem juridiquês.” Esta versão da apostila mescla o conteúdo original com aquele produzido para o YouTube, o que inclui o conteúdo dos vídeos e dos resumos disponibilizados no google drive. Assim, seu conteúdo vai além do mero “programa” da disciplina de Teoria Geral do Processo para a qual originalmente foi concebida. Mas isso de maneira nenhuma é um problema, porque o objetivo do documento é ajudar na compreensão do processo civil e de seus conceitos gerais (aliás, é isso mesmo o que procuramos fazer em sala de aula). E isso deixando o “juridiquês” de lado, trabalhando de forma objetiva e direta com os termos técnicos, imprescindíveis para o aprendizado do Direito. Essa proposta está exposta nos dois primeiros vídeos do “Direito Sem Juridiquês” no YouTube: o vídeo “piloto” do Canal e “ajuizar ou interpor?”. Portanto, a apostila abordará tanto o conteúdo básico de Teoria Geral do Processo ou de Teoria do Processo Civil (para a discussão específica desse problema terminológico, ver o item 1.1, abaixo) quanto noções básicas. Aliás, é mesmo um tanto difícil tentar estudar a teoria de uma determinada matéria sem a compreensão de certos conceitos básicos. Por isso, a Lição 1, abaixo, tratará destes conceitos básicos, que podem ser relativosapenas à estrutura e desenvolvimento do processo (como o estudo das fases processuais ou a diferença entre uma sentença e uma decisão interlocutória), ou mesmo teóricos, como a diferença entre direito material e direito processual, que é uma premissa básica para compreensão do processo civil e da teoria do processo. https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg http://www.facear.edu.br/ http://www.facear.edu.br/ https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://goo.gl/08IFJt https://goo.gl/4DLgWZ TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 9 de 200 O assunto da autonomia do processo civil também será abordado na Lição 1, da forma mais simples possível. Mas é evidente que há um aprofundamento teórico por trás desses conceitos básicos com os quais trabalhamos aqui. Eles são apenas a “ponta do iceberg.” Por isso, um maior aprofundamento teórico pode ser encontrado nos apêndices da apostila, que tratam da controvérsia entre Windscheid e Muther (Apêndice I, abaixo), das teorias da ação (Apêndice II, abaixo), e do impacto da ideologia pós-Revolução Francesa, sobre o processo civil (Apêndice III, abaixo). A própria apostila, portanto, conta com duas camadas: a primeira, composta pelas lições, que permite uma aproximação mais direta e objetiva aos conceitos básicos do processo e à teoria do processo civil, e a segunda, composta pelos apêndices, que permite um maior aprofundamento teórico, para quem necessitar ou tiver interesse em fazê-lo. Como já foi possível notar, as referências a sites da internet e, especialmente, aos vídeos do YouTube serão feitas diretamente no texto da apostila, por meio de hiperlinks. Por sua vez, as expressões “abaixo” e “acima”, quando fizerem menção ao conteúdo da apostila, trazem referências cruzadas (basta clicar sobre a palavra para ser remetido diretamente ao conteúdo em questão). Exatamente por isso recomenda-se que a apostila seja utilizada em meio eletrônico, para maior aproveitamento de todos os seus recursos.1 Por outro lado, como se trata de uma apostila, não se tem qualquer pretensão de ineditismo ou inovação, e a sua disponibilização não tem qualquer finalidade comercial. Trata-se, apenas, de um resumo dos assuntos, com uma abordagem que – imagina-se – permitirá a melhor compreensão do conteúdo. 1 Nada impede, obviamente, que o material seja impresso por aqueles que têm preferência por ler em papel. A observação apenas destaca que a apostila tem o seu uso potencializado em meio eletrônico. https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg http://wiki.fbits.com.br/o-que-e-link-e-hiperlink/ TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 10 de 200 INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS Qualquer livro contemporâneo que trate sobre Teoria do Processo Civil, Processo de Conhecimento e Teoria dos Precedentes, qualquer obra de Comentários ao Novo Código de Processo Civil ou qualquer Novo Código de Processo Civil Comentado podem auxiliar no estudo, na compreensão e no acompanhamento da matéria. Recomendam-se, no entanto, os seguintes livros: - Marinoni, Arenhart e Mitidiero. Novo Curso de Processo Civil, volumes 1 (Teoria do Processo Civil) e volume 2 (Tutela dos Direitos Mediante Procedimento Comum) - Idem. O Novo Processo Civil - Idem. Novo Código de Processo Civil Comentado - Luiz Guilherme Marinoni. Precedentes Obrigatórios - Carlos Eduardo Rangel Xavier. Reclamação Constitucional e Precedentes Judiciais https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.livrariart.com.br/produto/novo-curso-de-processo-civil-v-1-teoria-geral-do-processo-civil-3-edicao-48091 https://www.livrariart.com.br/produto/novo-curso-de-processo-civil-v-2-tutela-dos-direitos-mediante-procedimento-comum-3-edicao-48092 https://www.livrariart.com.br/produto/novo-curso-de-processo-civil-v-2-tutela-dos-direitos-mediante-procedimento-comum-3-edicao-48092 https://www.livrariart.com.br/produto/o-novo-processo-civil-3-edicao-78076 https://www.livrariart.com.br/produto/novo-codigo-de-processo-civil-comentado-3-edicao-48070 https://www.livrariart.com.br/produto/precedentes-obrigatorios-5-edicao-48032 https://www.livrariart.com.br/produto/reclamacao-constitucional-e-precedentes-judiciais-1-edicao-29564 https://www.livrariart.com.br/produto/reclamacao-constitucional-e-precedentes-judiciais-1-edicao-29564 TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 11 de 200 1 CONCEITOS BÁSICOS Como já mencionado, esta primeira lição será dedicada a lidar com conceitos básicos, necessários tanto para compreensão do processo civil e seu funcionamento quanto para uma primeira aproximação à teoria do processo. 1.1 “Teoria Geral do Processo” ou “Teoria do Processo Civil”? Já podemos começar com uma pergunta: vamos estudar “Teoria Geral do Processo” ou “Teoria do Processo Civil”? A pergunta pode parecer sem maior sentido, mas há muita coisa por trás de uma simples terminologia. Como alguém já disse, “ideias têm consequências.” A ideia de desenvolver “teorias gerais” é típica do positivismo jurídico tradicional. Tratando o Direito como uma ciência exata, o jurista, descrevendo a ordem jurídica, poderia demonstrar a existência de categorias gerais nas quais enquadraria os diversos conceitos por ele também demonstrados. Essa peculiar forma de ver o Direito não se manteve após a segunda metade do século passado, mas grande parte da influência da ideologia positivista ainda se faz sentir nos dias de hoje. Esse assunto é melhor aprofundado no Apêndice III, abaixo, e na Lição 3, abaixo. Neste momento basta nós refletirmos que o abandono do positivismo jurídico tradicional e de suas pretensões de universalização, de generalidade e de abstração no campo científico deveria levar a abandonarmos, também, a terminologia que é própria a esse tipo de mentalidade. E esse já seria um bom motivo para deixarmos o adjetivo “geral” de lado. Mais especificamente, hoje, no Brasil, a ideia uma Teoria “Geral” do Processo está ligada à pretensão de demonstrar uma teoria que seja comum ao processo civil, criminal, trabalhista e administrativo. Não se tem, aqui, tamanha pretensão. Por isso ficamos com a ideia de uma “Teoria do Processo Civil” – somente isso. Mas não devemos esquecer que muitas disciplinas nas https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://goo.gl/tJ4Cu9 https://goo.gl/tJ4Cu9 TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 12 de 200 Faculdades de Direito, inclusive aquela que adota esta apostila como “livro- texto,” ainda usam a terminologia “Teoria Geral do Processo.” Esse é também o motivo pelo qual até mesmo em alguns vídeos do Canal no YouTube é utilizada a expressão “Teoria Geral do Processo.” 1.2 Direito material e direito processual. Autonomia do processo civil A compreensão da diferença entre direito material e direito processual está diretamente ligada à ideia de autonomia do processo civil. Na verdade, até a segunda metade do Século XIX, não fazia sentido falar na diferença entre direito material e direito processual, porque o processo era compreendido como um simples desdobramento do direito material. Em outras palavras, as pessoas não viam, até aquele momento, diferença entre direito material e direito processual. Foi a controvérsia entre Windscheid e Muther, entre os anos 1856 e 1857, que marcou a separação entre o direito material e o direito processual. A esse assunto é dedicado o Apêndice I, abaixo.Posteriormente, desenvolveram-se as chamadas “teorias da ação,” que são tratadas no Apêndice II, abaixo. O fato de as pessoas agora teorizarem em cima do que acontece quando uma ação é proposta demonstra a autonomia do processo civil. Mas disso trataremos no momento próprio. Vamos avançar para compreendermos a diferença entre direito material e direito processual. Na verdade, já andamos metade do caminho, pois já compreendemos que só faz sentido falar nessa diferença a partir do momento em que compreendemos que o processo civil é autônomo em relação ao direito material. A primeira coisa que precisamos fazer para entender o que é o direito material é não confundir direito material com direito real. Os direitos reais são direitos que uma pessoa tem em relação a uma coisa, como o direito de propriedade. O direito real é apenas uma espécie de direito material. https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://goo.gl/L3hc3M https://goo.gl/ZAfMyz https://goo.gl/L3hc3M https://goo.gl/ZAfMyz TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 13 de 200 Direito material, também chamado de direito substancial, é aquele direito que diz respeito aos bens da vida, ou, simplesmente, bens jurídicos. Se nós começarmos na Constituição, com os direitos fundamentais materiais, nós vamos pensar em direito à vida, direito à saúde, direito ao trabalho, e assim por diante. Se nós formos para o Código Civil, que é um exemplo de lei de direito material, nós vamos pensar no direito de família, nos direitos reais (sobre coisas), nos direitos de personalidade, nas obrigações, nos contratos, e assim por diante. Em resumo, o direito material trata do conteúdo dos direitos. Trata dos bens da vida, e da titularidade destes bens da vida por uma pessoa. Outra maneira de compreender, também, é que o direito material trata dos fatos jurídicos, que são aquelas situações que o Direito separa, dentre todos os fatos que ocorrem no dia-a-dia, para que sobre eles incidam normas jurídicas. O processo, por sua vez, é apenas um instrumento por meio do qual os bens da vida, os bens jurídicos, são protegidos. Grave isso, por favor: o processo é um instrumento do direito material. Na verdade, o processo é um dentre vários meios pelos quais os bens jurídicos são protegidos. Para entendermos melhor isso, devemos compreender o conceito de “jurisdição” (ver a Lição 5, abaixo). Já sabemos que o processo é esse instrumento de proteção do direito material. O direito processual é o conjunto de regras que regulamenta o processo. Já tratamos do Código Civil como uma lei de direito material. Podemos compará-lo, agora com o Código de Processo Civil para compreendermos que este último, o Código de Processo Civil, é uma lei de direito processual. Graficamente, então, podemos visualizar, de um lado, o direito material e, de outro, o processo e o direito processual. Já se mencionou que a controvérsia entre Windscheid e Muther foi o marco inicial da autonomia do processo, e ela fez isso ao permitir que se visualizasse, de um lado, a pretensão de direito material e, de outro, a ação processual. Novamente, remete-se ao Apêndice I, abaixo. https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://goo.gl/Wx3zrG TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 14 de 200 Direito material “conteúdo” do direito Direito processual instrumento do direito material Exemplo de lei de direito material: Código Civil Exemplo de lei de direito processual Código de Processo Civil Mas a melhor maneira de visualizarmos a autonomia relativa do processo civil é pensarmos na sentença de improcedência do pedido (e calma, se você já está se perguntando o que é isso, clique no hiperlink ou confira o item 1.8.1, abaixo), que é um dos alicerces das teorias da ação tratadas no Apêndice II, abaixo. Se o juiz pode julgar o pedido do autor improcedente (e isso acontece todos os diais), então é óbvio que o autor não precisa ter o direito material para ajuizar a ação. Isso nos demonstra que a ação é abstrata. “Abstrata” porque a sua existência não depende da existência do direito material. Se a ação é abstrata, então o processo civil é autônomo em relação ao direito material. Mas cuidado, essa autonomia é apenas relativa. Relativa, em primeiro lugar, porque toda autonomia científica, no Direito, é sempre relativa. E, em segundo lugar, porque o processo não pode ser um fim em si mesmo. Essa observação é importante porque a ideologia pós-Revolução Francesa (Apêndice III, abaixo) e o positivismo jurídico praticamente transformaram o processo num "fim em si mesmo”. Dizer que o processo é um “fim em si mesmo” é dizer que nós estamos apenas preocupados em estudar o processo e aplicar as normas processuais sem nos preocuparmos com o direito material, sem darmos importância para as necessidades do direito material. Isso é tratar o processo como um fim em si mesmo. https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://goo.gl/ZAfMyz https://goo.gl/ZAfMyz https://goo.gl/4DLgWZ https://goo.gl/6s2nkn https://goo.gl/6s2nkn https://goo.gl/tJ4Cu9 TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 15 de 200 O que permitiu que nós repensássemos o processo a partir das necessidades do direito material foi a chegada do Estado Constitucional, o que é considerado na Lição 3, abaixo. 1.3 Pressupostos processuais e relação jurídica processual Em 1868, Oskar Büllow demonstrou, a partir da análise dos pressupostos processuais, a existência de uma relação jurídica processual, envolvendo autor, Estado e réu, e que é diferente do direito material. Registra-se que os sujeitos dessa relação jurídica processual seriam as partes (autor e réu) e o juiz. Não é nosso objetivo aprofundarmos a ideia de pressupostos processuais neste momento. Isso será feito na Lição 7, abaixo. Por ora, basta sabermos que Büllow demonstrou que o processo tem requisitos próprios para sua formação e desenvolvimento, e que estes requisitos, previstos na lei processual, não se confundem com o direito material. Novamente vemos, de forma gráfica, o direito material de um lado e o processo e o direito processual de outro. Direito material Direito processual Relação jurídica material Pressupostos processuais + Relação jurídica processual Note-se que a tese de Büllow é de 1868, dez anos após a controvérsia entre Windscheid e Muther (Apêndice I, abaixo). Assim, os pressupostos https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://goo.gl/sVdo8C https://goo.gl/N8rrCB https://goo.gl/N8rrCB TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 16 de 200 processuais e a relação jurídica processual desempenharam um papel importante no desenvolvimento histórico da autonomia do processo civil. Ambas as ideias, tanto de pressupostos processuais quanto de relação jurídica processual, são muito questionadas hoje em dia, por estarem ligadas a uma visão excessivamente formalista do processo. Mas não é nosso objetivo aprofundarmos essa abordagem crítica neste momento, exatamente porque o assunto apenas foi mencionado para demonstrar o desenvolvimento histórico da noção de autonomia do processo civil e auxiliar na visualização gráfica da separação entre processo e direito material. 1.4 Processo, procedimento e técnicas processuais É importante estudarmos ainda, neste início, os conceitos de processo, procedimento e técnica processual. Processoé uma sequência de atos ordenados visando a um fim. O fim de todo o processo é entregar aquilo que o direito material promete. Em outras palavras, o objetivo do processo é efetivar a tutela jurisdicional dos direitos (ou seja, possibilitar que as formas de tutela prometidas pelo direito material se concretizem processualmente). Procedimento é a forma em que o processo se estrutura. Normalmente, os diferentes procedimentos são previstos em lei, atendendo-se às peculiaridades do direito material. A lei prevê, por exemplo, o procedimento comum (ordinário e sumário) e diversos procedimentos especiais (como os procedimentos para tutela da posse, para a desapropriação, etc.). Técnicas processuais, por fim, são os mecanismos destinados à produção de resultados úteis por meio do processo. Ou seja, a maneira como o processo vai, efetivamente, alterar a realidade dos fatos. Esses assuntos serão retomados no item 6.9, abaixo, para maior aprofundamento. https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 17 de 200 1.5 Fases processuais Neste nosso estudo de conceitos básicos, chegamos agora ao momento de termos uma visão panorâmica do processo. Vamos ver o processo do início ao fim. Para isso, vamos estudar as chamadas fases processuais. Em outras palavras, nós estudamos as fases processuais para compreendermos o que é necessário, normalmente, para que um processo se desenvolva até o fim. Registra-se que quando um processo não se desenvolve até o seu fim, chamamos isso de “julgamento conforme o estado do processo.” Esse “julgamento conforme o estado do processo” pode resolver o mérito do processo ou não (veja-se o item 1.8, abaixo). Por ora, basta sabermos que a extinção sem solução de mérito ocorre quando acontece alguma coisa não esteja de acordo com as exigências da lei processual (como a falta de um pressuposto processual, assunto já mencionado). Quando um processo tem uma falha desse tipo e é encerrado, chamamos isso de extinção sem solução de mérito (artigo 485 do novo CPC).2 O contrário da extinção sem solução de mérito, a extinção com solução de mérito, ocorre quando o juiz diz qual das partes tem razão (artigo 487, I, do novo CPC).3 Resolver o mérito da ação, então, é dizer quem tem razão, se o autor ou o réu. Aqui vamos considerar o que deve acontecer para que um processo chegue ao final e o juiz resolva o mérito, aprecie o conteúdo do direito material, embora seja possível, também, que haja o chamado “julgamento antecipado do mérito” (então aqui nós estamos tratando da regra geral, do 2 “Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: I - indeferir a petição inicial; II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias; IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada; VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual; VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência; VIII - homologar a desistência da ação; IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal; e X - nos demais casos prescritos neste Código.” 3 “Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção;” https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://goo.gl/s4DL05 https://goo.gl/s4DL05 https://goo.gl/2QlKxl https://goo.gl/NYvPRA https://goo.gl/N8rrCB https://goo.gl/NYvPRA https://goo.gl/NYvPRA https://goo.gl/HZUBAI https://goo.gl/HZUBAI https://goo.gl/2QlKxl https://goo.gl/2QlKxl https://goo.gl/NYvPRA https://goo.gl/Q7fAw8 https://goo.gl/HZUBAI TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 18 de 200 desenvolvimento do processo por todas as suas fases; se você quiser saber como é possível o julgamento antecipado do mérito, basta clicar no hiperlink). Até aqui fizemos um parêntesis para mencionar o julgamento conforme o estado do processo e as ideias de resolver ou não o mérito. Agora vamos considerar, propriamente, as fases processuais. Um processo tem as seguintes fases: postulatória, organizatória (ou ordinatória),4 instrutória, decisória, recursal e executória (ou executiva), que hoje o pessoal gosta de chamar de fase de “cumprimento de sentença.” Na fase postulatória, o autor apresenta o seu pedido, o que ele faz na petição inicial. Na petição inicial o autor apresenta os fatos e os fundamentos jurídicos do pedido (ao que se dá o nome de “causa de pedir”), e formula o pedido. Após o protocolo da petição inicial pelo autor, o réu é citado. Citação é o ato processual que dá conhecimento do processo ao réu e o chama para apresentar defesa. A citação é um ato processual muito importante, porque está diretamente ligada aos direitos fundamentais à ampla defesa e ao contraditório. Para poder se defender adequadamente, o réu precisa tomar conhecimento da ação. Hoje, o novo CPC prevê, obrigatoriamente, a realização de uma audiência de conciliação (artigo 334),5 então o réu é citado para comparecer a esta audiência de conciliação. Assim, o prazo de 15 dias que o réu tem para contestar o pedido será contado em função da audiência de conciliação. Se ocorrer a audiência, mas não ocorrer a conciliação, o prazo de 15 dias para a contestação do réu conta da data da audiência. Se a audiência não ocorrer porque ambas as partes expressaram manifestamente não terem 4 O primeiro vídeo do canal, sobre as fases processuais, não abordou a fase ordinatória, como forma de simplificar a exposição. Assim, posteriormente a fase ordinatória foi objeto de um vídeo específico. 5 “Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.” https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://goo.gl/s4DL05 https://goo.gl/8XzKSf https://goo.gl/ckTvfy https://goo.gl/sWUYQn https://goo.gl/5ipfNH https://goo.gl/s4DL05 https://goo.gl/8XzKSf https://goo.gl/8XzKSf TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 19 de 200 interesse na conciliação, então o prazo para contestação passa a contar da data em que o réu protocolou sua petição dizendo que não tinha interesse. A apresentação da contestação, pelo réu, encerra a fase postulatória. Entre a fase postulatória e a fase instrutória, é o momento de o processo ser organizado. Por isso, temos aquela que é chamada de fase organizatória – ou fase ordinatória. Após a organização do processo, temos, se for o caso (já que pode ocorrer o julgamento conforme o estado do processo), a fase instrutória, na qual os fatos delimitados pelo autor e pelo réu serão objeto de prova. Se a prova for documental, os documentos deverão ser juntados já com a petição inicial e com a contestação. Mas outros tipos de prova podem ser produzidos: podem ser ouvidas as partes e testemunhas (o que acontece numa outra audiência, chamada de audiência de instrução), pode ser necessária a realização de uma perícia, e assim por diante. Se os documentos juntados pelas partes já forem suficientes para provar os fatos, ou se não houver discordância das partesa respeito dos fatos, então não será necessário ingressar na fase instrutória e será proferida, imediatamente, a sentença. O nome disso, segundo o Código de Processo Civil, como já mencionamos é “julgamento antecipado do mérito,” uma das modalidades de “julgamento conforme o estado do processo.” Após a fase instrutória, vem a fase decisória. Na fase decisória, o juiz vai proferir a sentença, resolvendo o mérito do processo, dizendo quem tem razão. Como regra geral, o juiz apenas vai resolver o mérito após a observância da ampla defesa e do contraditório (quer dizer, o réu tem que ter tido a possibilidade de se defender e as partes devem debater a respeito dos fatos e do direito) e após a realização de provas. A isso se chama de cognição exauriente. Cognição exauriente porque houve toda a possibilidade de que as partes discutissem e que os fatos fossem provados. Mas o processo não termina na fase decisória. Após essa, vem a fase recursal. A parte prejudicada pode interpor recurso ao 2º grau de jurisdição. No processo comum, o nome do recurso interposto contra a sentença é apelação. https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://goo.gl/8XzKSf https://goo.gl/bSYuVm https://goo.gl/2QlKxl https://goo.gl/ch4tRC https://goo.gl/ch4tRC https://goo.gl/ch4tRC TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 20 de 200 No 2º grau, os recursos são apreciados por Tribunais e, normalmente, sempre por mais de um juiz (nos tribunais de 2º grau, os juízes são chamados de “Desembargadores”). Mas a fase recursal não para por aí, pois pode haver recurso para as chamadas “cortes de sobreposição,” que no processo comum são o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal. Para um maior aprofundamento do assunto dos graus de jurisdição, veja-se o item seguinte. Apenas após esgotarem-se todas as possibilidades de recurso é que ocorre o chamado “trânsito em julgado.” Trânsito em julgado é sinônimo da impossibilidade de interposição de recursos. Após o trânsito em julgado da sentença segue a fase de execução (ou, se preferir, o “cumprimento de sentença”), na qual a realidade fática vai ser alterada. É possível, no entanto, que seja feita a “execução provisória da sentença” (antes do trânsito em julgado), ou mesmo que a realidade fática seja alterada, pelo processo, antes da sentença, naquilo que chamamos de antecipação de tutela. https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg http://www.stj.jus.br/portal/site/STJ http://www.stj.jus.br/portal/site/STJ http://www.stf.jus.br/portal/principal/principal.asp https://goo.gl/6zRnyG https://goo.gl/6zRnyG https://goo.gl/8Z1DQX TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 21 de 200 Fases Processuais 1) Fase Postulatória Petição inicial + Citação do réu + Audiência de conciliação + Contestação 2) Fase Ordinatória “Organização” do processo, antes da produção de provas 3) Fase Instrutória Produção de provas [audiência de instrução] 4) Fase Decisória Sentença [cognição exauriente] 5) Fase Recursal Recurso ao 2° grau (apelação) e aos “tribunais de sobreposição” (STJ – Recurso especial; STF – Recurso extraordinário) 6) Fase Executória, ou Executiva (“cumprimento de sentença”) Alteração da realidade dos fatos, após o “trânsito em julgado” [exceções: “execução provisória” da sentença e antecipação de tutela] https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://goo.gl/s4DL05 https://goo.gl/8XzKSf http://www.stj.jus.br/portal/site/STJ http://www.stf.jus.br/portal/principal/principal.asp TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 22 de 200 Essa é a visão panorâmica do processo. Mas esse estudo nos introduz a necessidade de considerarmos, ainda, algumas outras ideias básicas (você já assistiu aos vídeos sobre estes assuntos se clicou nos hiperlinks...). A primeira é a ideia de graus de jurisdição e é segunda é o conceito de sentença, com todas as implicações para sua melhor compreensão (diferença entre sentença e decisão interlocutória, solução ou não do mérito, julgamento conforme o estado do processo e coisa julgada material e formal). Vamos considerar esses assuntos logo na sequência do texto. Já a antecipação de tutela não será considerada especificamente neste momento, porque será estudada em conjunto com as demais “tutelas provisórias” no item 6.13, abaixo – no entanto, caso você esteja curioso(a), o hiperlink vai levá-lo(a) diretamente para a playlist do Canal sobre o tema. 1.6 Graus de jurisdição O processo inicia no 1º grau de jurisdição, que é exercido por um único juiz (“juiz singular”). Os recursos contra as decisões de 1º grau (sentenças ou decisões interlocutória – ver o item seguinte) são apreciados pelos tribunais de 2º grau. Para um maior detalhamento sobre o funcionamento do 1º e do 2º graus, ver o item 8.5, abaixo. No Brasil, a grande característica do 2º grau de jurisdição é que nele é possível não somente a revisão ampla do direito (tese jurídica) reconhecido pelo juiz de 1º grau, mas também o reexame dos fatos e das provas. É claro que isso depende de provocação da parte prejudicada em seu recurso, o que se chama de “efeito devolutivo.” “Devolutivo” porque o recurso “devolve” ao tribunal a matéria impugnada pela parte (“devolver” aqui funciona como “submeter à apreciação”). Isso significa que o juiz de 1º grau pode apreciar as provas de uma maneira, entendendo que a situação fática foi uma, e o tribunal de 2º grau pode, examinando as mesmas provas, entender que os fatos foram outros, ou mesmo considerar provas que não tenham sido avaliadas pelo juiz de 1º grau. https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/watch?v=M4Blybl8Nfo&list=PLYXudd4-x8GijXB1zvy2CRpXCqNcBMs-r https://www.youtube.com/watch?v=M4Blybl8Nfo&list=PLYXudd4-x8GijXB1zvy2CRpXCqNcBMs-r TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 23 de 200 Por exemplo, numa ação que discute responsabilidade civil por acidente de trânsito o juiz de 1º grau pode entender que o réu é culpado pelo acidente e condená-lo a indenizar o autor e o tribunal de 2º grau, apreciando a apelação do réu, pode entender que a responsabilidade pelo acidente foi do autor e reformar a sentença para julgar improcedente o pedido. Nos tribunais, as decisões normalmente são colegiadas (quer dizer, tomadas por mais de um juiz, que nos tribunais de 2º grau são chamados de “desembargadores”, e nos “tribunais superiores,” de “ministros”). As decisões colegiadas dos tribunais são chamadas de “acórdãos”. Mas possível, em situações expressamente previstas na lei (artigo 932, III, IV e V, do novo CPC)6 que o recurso seja resolvido pelo próprio relator. Essa decisão do relator que resolve o recurso é chamada de “decisão monocrática” (“monocrática” porque é singular; não é colegiada). Após o julgamento pelo 2º grau, pode caber recurso aos tribunais de sobreposição. Esses tribunais, no processo comum, são o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF). O recurso ao STJ é chamado de recurso especial (REsp) e o recurso ao STF é chamado de recurso extraordinário (RE). É importante sabermos que o STJ e o STF não funcionam (ao menos não na teoria) como 3º ou 4º graus de jurisdição. Por isso, é lamentável a cultura que há entre os advogados brasileiros de tentar levar, a todo custo, a sua causa a ser apreciada por estes tribunais. Se o STJ e o STF nãosão 3º e 4º graus de jurisdição, isso significa que eles não podem reexaminar, em recursos especial e extraordinário, os fatos e as provas do processo. Na verdade, estes recursos têm hipóteses de 6 “Art. 932. Incumbe ao relator: [...] III - não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida; IV - negar provimento a recurso que for contrário a: a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; V - depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a decisão recorrida for contrária a: a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência;” https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://goo.gl/n8Aq5o https://goo.gl/4DLgWZ https://goo.gl/f1rhnn https://goo.gl/ITgEhW http://www.stj.jus.br/portal/site/STJ http://www.stj.jus.br/portal/site/STJ http://www.stf.jus.br/portal/principal/principal.asp http://www.stj.jus.br/portal/site/STJ http://www.stf.jus.br/portal/principal/principal.asp http://www.stj.jus.br/portal/site/STJ http://www.stf.jus.br/portal/principal/principal.asp https://goo.gl/n8Aq5o TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 24 de 200 cabimento bem específicas. Não é nosso objetivo estudarmos cada uma delas aqui, mas, para termos uma noção geral, basta sabermos que a principal função do STJ é interpretar a lei federal e a principal função do STF é interpretar a Constituição. Assim, a principal hipótese de cabimento do recurso especial (STJ) é a contrariedade à legislação federal e a do recurso extraordinário (STF) é a contrariedade à Constituição. Para um maior aprofundamento do perfil atual destes tribunais, veja-se a Lição 9, mais especificamente, o item 9.2.2, abaixo. 1.7 Decisão interlocutória e sentença. Agravo de instrumento e apelação Vamos retornar agora ao 1º grau de jurisdição para aprofundarmos a diferença entre os dois tipos de decisões que podem ser proferidas nesta fase do processo: decisões interlocutórias e sentenças. A sentença é o tipo de decisão que põe fim ao processo com base nos artigos 485 e 487 do novo CPC, hipóteses que serão estudadas no item seguinte. Outra hipótese de prolatação de sentença é a extinção da execução. A fase executória, portanto, também se encerra com uma sentença. O recurso cabível contra a sentença, no processo comum, é o recurso de apelação. As decisões interlocutórias são decisões que resolvem questões incidentais, mas que não implicam a extinção do processo. Exemplos de decisões interlocutórias são as decisões que concedem antecipação de tutela ou que indeferem produção de determinada prova. O recurso cabível contra decisões interlocutórias é chamado de agravo de instrumento. O novo Código de Processo Civil implementou sensíveis diferenças no assunto da recorribilidade das decisões interlocutórias (possibilidade de interposição de recurso contra decisões interlocutórias): ele acabou com um recurso chamado agravo retido, e limitou o agravo de instrumento a hipóteses taxativas. Isso significa que somente pode ser interposto agravo de instrumento contra as decisões previstas expressamente no artigo 1.015 do novo CPC. https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg http://www.stj.jus.br/portal/site/STJ http://www.stf.jus.br/portal/principal/principal.asp http://www.stj.jus.br/portal/site/STJ http://www.stf.jus.br/portal/principal/principal.asp https://goo.gl/9DedDl https://goo.gl/9DedDl https://goo.gl/8Z1DQX TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 25 de 200 Assim, nas situações que mencionamos antes como exemplo, a decisão que concede antecipação de tutela pode ser objeto de agravo de instrumento (artigo 1.015, I), mas a decisão que indefere a produção de determinada prova, não (não está prevista no artigo 1.015). Nessa última hipótese, caso a parte que teve a prova indeferida for sucumbente (quer dizer, derrotada), ela deverá levantar a questão no seu recurso de apelação, contra a sentença. A taxatividade das hipóteses de cabimento do agravo de instrumento é algo que tem sido muito discutido pelos autores de processo civil. Registra-se aqui, por parecer a mais ponderada, a corrente que defende admitir uma ampliação das hipóteses de cabimento do agravo de instrumento ao menos por analogia. 1.8 Noções gerais sobre “sentenças” Para que esta abordagem inicial faça total sentido, falta ainda aprofundar algumas outras ideias que estão ligadas ao conceito de “sentença” e que já foram mencionadas de passagem ao longo do texto. 1.8.1 Extinção do processo com solução do mérito (artigo 487 do novo CPC) A ideia básica por trás da diferença entre resolver ou não o mérito é simples: quando o juiz resolve o mérito, ele diz quem tem razão, ele aprecia a relação de direito material. Se o autor tiver razão, o pedido será julgado procedente; se o réu tiver razão, o pedido será julgado improcedente; se cada uma das partes tiver um pouco de razão, o pedido será julgado parcialmente procedente. Essas hipóteses estão no inciso I do artigo 487 do novo CPC. Mas a solução do mérito não trata apenas de procedência do pedido. O reconhecimento da prescrição ou da decadência, o acordo realizado pelas partes, o reconhecimento da procedência do pedido pelo réu ou a renúncia do autor à pretensão são outras hipóteses de resolução do mérito. Elas estão nos incisos II e III do artigo 487 do novo CPC. https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://goo.gl/ITgEhW https://goo.gl/ITgEhW https://goo.gl/2VFCPn https://goo.gl/2VFCPn TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 26 de 200 1.8.2 Extinção do processo sem solução de mérito (artigo 485 do novo CPC) – sentenças terminativas Por outro lado, quando o processo tem algum tipo de vício, algum tipo de defeito formal que não pode ser resolvido, temos então a extinção sem solução de mérito. Por causa de alguma falha processual o juiz não pode apreciar o mérito, não pode resolver a relação de direito material, e o processo precisa ser extinto. A extinção do processo sem solução de mérito está prevista no artigo 485 do novo CPC. Os processualistas chamam a sentença que extingue o processo sem solução de mérito de sentença terminativa. Se for possível corrigir o defeito formal que levou à extinção do processo, então a ação pode ser proposta novamente (ver o item seguinte). Por exemplo, se o processo for extinto sem solução de mérito por falta de representação por advogado, esse vício pode ser corrigido. Mas se o processo for extinto por ofensa à coisa julgada (o que ocorre quando se repete uma ação que já foi encerrada), então é óbvio que este vício não tem como ser corrigido numa outra ação. A primeira hipótese de extinção sem solução de mérito ocorre quando o juiz indeferir a petição inicial (inciso I do artigo 485). As hipóteses de indeferimento da petição inicial estão previstas no artigo 330 do Código.7 Neste momento destacamos a falta de legitimidade e de interesse (incisos II e III). Essas mesmas hipóteses estão previstas aqui no inciso VI do artigo 485, etratam daquelas situações que tradicionalmente são chamadas de “condições da ação.” A esse respeito, ver a Lição 2, abaixo. 7 Art. 330. A petição inicial será indeferida quando: I - for inepta; II - a parte for manifestamente ilegítima; III - o autor carecer de interesse processual; IV - não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321. § 1º Considera-se inepta a petição inicial quando: I - lhe faltar pedido ou causa de pedir; II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico; III - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; IV - contiver pedidos incompatíveis entre si. § 2º Nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação decorrente de empréstimo, de financiamento ou de alienação de bens, o autor terá de, sob pena de inépcia, discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, além de quantificar o valor incontroverso do débito. § 3º Na hipótese do § 2º, o valor incontroverso deverá continuar a ser pago no tempo e modo contratados.” https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://youtu.be/IuWa3bcN7pE https://youtu.be/IuWa3bcN7pE https://goo.gl/hHR9GC https://goo.gl/YKgsdJ https://goo.gl/vxQSl7 https://goo.gl/vxQSl7 https://goo.gl/hHR9GC https://goo.gl/hHR9GC https://goo.gl/YKgsdJ TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 27 de 200 Os incisos II e III do artigo 485 tratam, respectivamente, da paralisação do processo por 1 ano por negligência das partes (e, preste atenção, é de ambas as partes, porque mesmo que o autor não faça mais nada para o processo andar o réu pode ter interesse na solução da causa, para obter uma sentença de improcedência) e por abandono da causa pelo autor (agora sim, só pelo autor). O abandono da causa acontece quando o autor, intimado para fazer algo no processo, fica inerte por 30 dias. A perempção, mencionada no inciso V e objeto de previsão expressa no artigo 486, § 3º, ocorre quando o autor abandonar a causa três vezes. Nessa hipótese ele não poderá propor novamente a ação, e é isso que é chamado de “perempção.” O inciso IV trata da falta dos pressupostos processuais, assunto objeto da Lição 7, abaixo. Por ora, é suficiente mencionar que os pressupostos processuais, tradicionalmente, são vistos como requisitos formais do próprio processo, mas já vimos que também essa compreensão tradicional é passível de críticas. Pense num exemplo simples. Para o autor promover a ação, como regra geral, ele precisa contratar um advogado. Isso está ligado ao pressuposto processual chamado de “capacidade postulatória.” Se o juiz verificar que o autor não está representado por advogado, ele vai intimar o autor para regularizar a situação. Mas, se o autor não regularizar essa situação, então o processo será extinto sem solução de mérito. O inciso V do artigo 485 também trata de pressupostos processuais, mas dos pressupostos processuais chamados negativos (que tem que estar ausentes para que o processo possa ser válido), a perempção, a litispendência e a coisa julgada. Note a diferença: o inciso IV fala da extinção do processo quando estiverem ausentes os pressupostos processuais e o inciso V fala da extinção do processo quando estiverem presentes a perempção, a litispendência e a coisa julgada. A “legitimidade e o interesse,” previstos no inciso VI do artigo 485, são as tradicionais condições da ação. Nós vamos estudar esse assunto na Lição 2, abaixo, mas podemos notar desde já a conjugação desse inciso do artigo 485 com os incisos II e III do artigo 330 nos aponta para a teoria da asserção https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://goo.gl/Q7fAw8 https://goo.gl/Q7fAw8 https://goo.gl/N8rrCB https://goo.gl/Q7fAw8 https://goo.gl/Q7fAw8 TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 28 de 200 (segundo a qual a presença das condições da ação tem que ser verificada pelo juiz no começo do processo, a partir das afirmações do autor). A escolha das partes pela arbitragem, se o direito material for do tipo patrimonial e disponível, afasta a possibilidade de prestação jurisdicional a respeito do mérito do direito. Por isso nós temos o inciso VII do artigo 485. Sobre a arbitragem, ver o item 4.4, abaixo. O inciso VIII do artigo 485 trata da desistência da ação pelo autor. A respeito da diferença entre desistência da ação e renúncia a pretensão, veja, adiante, o item sobre coisa julgada material e coisa julgada formal. Se uma das partes morrer e a ação for intransmissível aos herdeiros, então o processo também deve ser extinto sem solução de mérito. É isso que diz o inciso VIII do artigo 485. A intransmissibilidade da ação é algo que tem que ser verificado no plano do direito material. Diz-se nesse caso o direito é personalíssimo. Um exemplo é a ação de divórcio. Se os pais estiverem no meio de uma ação de divórcio e um deles morrer, os filhos, que são os herdeiros, não vão poder dar continuidade à ação no lugar do pai que morreu. A ação tem que ser extinta. Por fim, o rol do artigo 485 não é taxativo, como nos demonstra o seu inciso X. Há, espalhados pelo Código, outras hipóteses de sentenças terminativas. A não inclusão de litisconsortes necessários no polo passivo, prevista no artigo 115, parágrafo único,8 por exemplo, é uma hipótese de extinção sem solução de mérito que não está contemplada expressamente no artigo 485. 1.8.3 Coisa julgada material e coisa julgada formal As situações de extinção do processo com solução de mérito, previstas no artigo 487 do novo CPC, produzem aquilo que os processualistas chamam 8 “Parágrafo único. Nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o juiz determinará ao autor que requeira a citação de todos que devam ser litisconsortes, dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção do processo.” https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://goo.gl/L3hc3M https://goo.gl/6zRnyG TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 29 de 200 de coisa julgada material. Quando temos coisa julgada material, significa que a relação de direito material não pode mais ser discutida em outro processo. Assim, quando o juiz resolve o mérito em favor de uma das partes (inciso I do artigo 487), quando o juiz reconhece a prescrição ou a decadência (inciso II), ou quando as partes fazem um acordo, o réu reconhece o pedido do autor, ou o autor desiste da pretensão (inciso III), então a mesma relação de direito material não poderá ser discutida em outro processo. Teremos coisa julgada material. A extinção do processo sem solução de mérito, prevista no artigo 485 do CPC não produz coisa julgada material. Diz-se que a extinção sem resolução de mérito produz apenas coisa julgada formal. Isso quer dizer apenas que, dependendo do tipo de problema processual, pode ser proposta uma nova ação, desde que corrigido o defeito. É disso que trata o artigo 486 do CPC. E aqui nós precisamos diferenciar a renúncia à pretensão da simples desistência da ação. A pretensão é um instituto de direito material. Então, quando o autor renuncia a ela, ele abre mão de discutir a relação de direito material em outro processo. Por isso é que, neste caso, a sentença é de extinção com solução do mérito e será produzida coisa julgada material. Mas se o autor apenas desiste da ação, o processo é extinto sem solução de mérito, e isso não faz coisa julgada material, apenas faz coisa julgada formal. Quer dizer que a ação pode ser proposta novamente. 1.8.4 Julgamento conforme o estado do processo e “sentença parcial” Comoregra geral, o julgamento conforme o estado do processo ocorre quando não é necessário entrar na fase instrutória (ver o item 1.5, acima), quando não é necessário produzir provas. A primeira situação, então, é quando, imediatamente após a fase postulatória, o processo é extinto. Mas pode ser que, simplesmente, o processo não se desenvolva até o final e, por um problema formal, pela vontade das partes, ou até mesmo porque o juiz se deu conta de algo que ele tinha deixado passar despercebido, o https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://goo.gl/bSYuVm TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 30 de 200 processo não siga todas as suas fases. Aí nós também teremos julgamento conforme o estado do processo. O julgamento conforme o estado do processo está previsto nos artigos 354 a 356 do novo CPC. A primeira hipótese de julgamento conforme o estado do processo está no artigo 354 do CPC,9 que une situações de extinção com solução de mérito com situações de extinção sem solução de mérito. As situações de extinção com solução do mérito previstas no artigo 354 são aquelas do artigo 487, II e III: prescrição ou decadência, acordo, reconhecimento do pedido pelo réu ou renúncia da pretensão pelo autor. As outras hipóteses do artigo 354 são as de extinção sem solução do mérito, previstas no artigo 485. O artigo 35510 trata do “julgamento antecipado do mérito,” que é exatamente a hipótese em que o juiz pode resolver a relação de direito material sem necessidade de produção de provas. Isso pode acontecer em duas situações: a primeira é quando a situação de direito material não comporta prova diferente da documental. A segunda é quando não existe controvérsia das partes a respeito dos fatos (diz-se que os fatos são incontroversos). Nós já vimos que o recurso cabível contra a sentença é a apelação. Acontece que o julgamento conforme o estado do processo pode ser apenas parcial: uma parte do processo é extinta e outra parte prossegue (artigos 354, parágrafo único11 e 356 do novo CPC).12 Por exemplo: o autor faz dois pedidos, e o juiz reconhece que a pretensão de um deles está prescrita. Nesse caso, teremos aquilo que é chamado de “sentença parcial:” uma decisão que tem natureza de sentença, mas forma de decisão interlocutória, porque o 9 “Art. 354. Ocorrendo qualquer das hipóteses previstas nos arts. 485 e 487, incisos II e III, o juiz proferirá sentença. Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput pode dizer respeito a apenas parcela do processo, caso em que será impugnável por agravo de instrumento.” 10 “Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de mérito, quando: I - não houver necessidade de produção de outras provas; II - o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver requerimento de prova, na forma do art. 349.” 11 “Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput pode dizer respeito a apenas parcela do processo, caso em que será impugnável por agravo de instrumento.” 12 “Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles: I - mostrar-se incontroverso; II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355.” https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://goo.gl/bSYuVm https://goo.gl/2VFCPn https://goo.gl/2VFCPn https://goo.gl/NYvPRA TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 31 de 200 processo prossegue. Contra a “sentença parcial” o recurso cabível é o agravo de instrumento, exatamente porque o processo prossegue. 1.9 Procedimento comum e procedimentos especiais Podemos encerrar esta nossa lição introdutória estudando a diferença entre o procedimento comum e os procedimentos especiais. A origem histórica da diferença é melhor explicada na letra F do Apêndice III, abaixo. Assim, aqui iremos nos ater aos aspectos práticos da distinção. O procedimento comum é o "procedimento padrão," o procedimento básico do processo civil. Ele é usado para a generalidade das situações de direito material – e aqui é interessante lembrar a diferença entre direito material e direito processual (item 1.2, acima). Agora, existem determinadas situações de direito material que, pela sua relevância, ou por alguma peculiaridade, foram escolhidas pelo legislador, ao longo da história, para serem objeto de procedimentos especiais. Então, o procedimento comum é a "regra geral" do processo civil, e os procedimentos especiais, como o próprio adjetivo já indica, dizem respeito a situações especiais E assim fica fácil saber quando usamos um ou outro: usamos o procedimento comum ou o especial de acordo com a situação de direito material. Na verdade, quando para aquela situação de direito material estiver previsto na legislação processual um procedimento especial, utilizamos o procedimento especial. Se não estiver previsto nenhum procedimento especial, usamos o comum. Podemos dizer que o procedimento comum é utilizado de forma "subsidiária": quando não for cabível um procedimento especial Com exemplos fica mais fácil de verificar isso. Se a questão de direito material for a proteção da posse, será utilizada uma ação possessória (procedimento especial), e não o procedimento comum. O mesmo vale se for o caso, por exemplo, de interdição, ou de pedido de alimentos, de desapropriação pelo Poder Público, de mandado de segurança contra ato de https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg http://bit.ly/comumXespecial TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 32 de 200 autoridade quando o direito admitir apenas prova pré-constituída (direito líquido e certo), e assim por diante. Note que todas essas situações, no plano material, têm uma peculiaridade que demanda uma resposta rápida ou uma simplificação no procedimento, e é isso que está na origem do estabelecimento de um procedimento especial pela legislação. O desenho, a estrutura de um processo, é chamado, pelos processualistas, de “módulo legal.” O módulo legal do procedimento comum é o mais amplo possível. Tudo o que pode acontecer num processo pode acontecer no procedimento comum. Já o módulo legal dos procedimentos especiais será determinado, como eu já mencionado, pelas peculiaridades da relação de direito material. Isso significa, basicamente, duas coisas. A primeira são os chamados “cortes cognitivos,” o que significa restrição à matéria que pode ser apreciada pelo juiz. Quando isso acontece, o nome que é dado é cognição parcial. Votemos aos exemplos: o mandado de segurança só admite prova documental; nas ações possessórias, você não pode discutir propriedade, e na ação de desapropriação, só pode discutir o preço do imóvel. A segunda são as chamadas técnicas processuais diferenciadas. No âmbito dos procedimentos especiais, normalmente são liminares. Mas temos que ter bem presente que isso vem de um tempo em que não existia a antecipação de tutela no procedimento comum, mas isso mudou com a reforma processual de 1994. Mas tudo isso, na verdade, é apenas um ponto de partida. Isso porque, como decorrência do direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva (veja-se o item 3.5, abaixo), o juiz não está preso à letra da lei para prestar tutela jurisdicional aos direitos. https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://www.youtube.com/channel/UCRJooxeIg3O29IDIcPZPaCg https://goo.gl/8Z1DQX https://goo.gl/VN0jl0 TEORIA DO PROCESSO CIVIL “sem juridiquês” 33 de 200 Procedimento Comum Procedimentos Especiais para a generalidade dos casos para situações
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