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IVAIR JUNIOR REINALDIM Arte e crítica de arte na década de 1980 vínculos possíveis entre o debate teórico internacional e os discursos críticos no Brasil Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, PPGAV- EBA/UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Artes Visuais, com ênfase em História e Crítica de Arte. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria da Glória de Araujo Ferreira RIO DE JANEIRO 2012 ii Arte e crítica de arte na década de 1980 vínculos possíveis entre o debate teórico internacional e os discursos críticos no Brasil IVAIR JUNIOR REINALDIM Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, PPGAV- EBA/UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Artes Visuais, com ênfase em História e Crítica de Arte. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria da Glória de Araujo Ferreira RIO DE JANEIRO 2012 REINALDIM, Ivair Junior. Arte e crítica de arte na década de 1980: vínculos possíveis entre o debate teórico internacional e os discursos críticos no Brasil / Ivair Junior Reinaldim. – Rio de Janeiro, 2012. xvi. 269 f.: 71 il. Tese: Doutorado em Artes Visuais, com ênfase em História e Crítica de Arte – Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes, PPGAV-EBA, 2012. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria da Glória de Araujo Ferreira. 1. crítica de arte 2. discursos críticos 3. debate teórico 4. década de 1980 5. arte contemporânea II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes. III. Título. iii FOLHA DE APROVAÇÃO Arte e crítica de arte na década de 1980 vínculos possíveis entre o debate teórico internacional e os discursos críticos no Brasil IVAIR JUNIOR REINALDIM Tese submetida ao Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, PPGAV-EBA/UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Artes Visuais, com ênfase em História e Crítica de Arte. ___________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Maria da Glória de Araujo Ferreira, orientadora Escola de Belas Artes – Universidade Federal do Rio de Janeiro (EBA/UFRJ) ___________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Maria Luisa Luz Tavora Escola de Belas Artes – Universidade Federal do Rio de Janeiro (EBA/UFRJ) ___________________________________________________ Prof. Dr. Milton Machado da Silva Escola de Belas Artes – Universidade Federal do Rio de Janeiro (EBA/UFRJ) ___________________________________________________ Prof. Dr. Ricardo Roclaw Basbaum Instituto de Artes – Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iartes/Uerj) ___________________________________________________ Prof. Dr. Fernando França Cocchiarale Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) Rio de Janeiro 2012 iv SUPLENTES ___________________________________________________ Prof. Dr. Paulo Venancio Filho Escola de Belas Artes – Universidade Federal do Rio de Janeiro (EBA/UFRJ) ___________________________________________________ Prof. Dr. Marcelo Gustavo Lima de Campos Instituto de Artes – Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iartes/Uerj) v AGRADECIMENTOS À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes, que me distinguiu com uma Bolsa de pesquisa durante praticamente todo o período de realização do curso de Doutorado, intercalada por outra Bolsa, referente ao Programa de Doutorado no País com Estágio no Exterior - PDEE, por meio da qual foi possível meu séjour pelo período de 12 meses em Paris, França. Ao Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro - PPGAV-EBA/UFRJ, na figura de sua coordenadora Dr.ª Maria Cristina Volpi Nacif (gestão 2010-2012), extensível a todos os professores e colegas com quem convivi durante esse longo período. Agradeço, em particular, às professoras doutoras Ana Maria Tavares Cavalcanti (coordenadora do PPGAV, gestão 2008-2010) e Maria Luisa Tavora, com as quais realizei um intenso trabalho colaborativo na equipe editorial da revista Arte & Ensaios, entre 2008 e 2010. À École Doctorale d’Arts plastiques, esthétique & sciences de l’art da Université Paris I - Panthéon Sorbonne / Centre St. Charles, e, em especial, ao Dr. Jacinto Lageira, que gentilmente me recebeu em Paris e supervisionou meu Estágio PDEE. À Bibliothèque Kandinsky - Centre Georges Pompidou e ao Institute national de histoire de l’art - INHA, em Paris, cujas bibliotecas foram de suma importância para a realização desta pesquisa. Enfatizo o mesmo em relação aos Archives de la critique d’art, em Rennes, onde estive pelo período de 5 dias e fui atenciosamente acolhido por Emmanuelle Rossignol, responsável pela biblioteca, Laurence Le Poupon, arquivista, e Sylvie Mokhtari, pesquisadora local. Ao Centro de Pesquisa e Documentação do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, na pessoa do ex-funcionário Mário Marques, que na época da realização de meu Mestrado ajudou-me com todo o material que utilizei nesta e em muitas outras pesquisas, à Biblioteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo, na pessoa da bibliotecária Léia Carmen Cassoni, e, por fim, ao artista Daniel Senise, que cedeu seu rico arquivo pessoal quando trabalhei na cronologia crítica do livro Vai que nós levamos as partes que te faltam, publicado em 2011. À minha orientadora, professora Dr.ª Maria da Glória de Araujo Ferreira, que, com sua integridade ética e generosidade intelectual, acompanhou esse longo trabalho, contribuindo para que encontrasse um lugar de fala em meio a tantas vozes do passado e do presente. Mais do que uma relação entre orientador e orientando, em muitos momentos tive o privilégio de ser tratado como pesquisador e parceiro. Aos membros da banca, professores doutores Maria Luisa Luz Tavora, Milton Machado, Ricardo Basbaum e Fernando Cocchiarale, por gentilmente haverem aceitado o convite para participar da defesa de minha tese de doutorado. Igualmente agradeço aos professores doutores Cecília Cotrim e Paulo Venancio Filho, por participarem de minha vi banca de qualificação, muito contribuindo para o desenvolvimento posterior de minhas análises. Aos professores doutores Felipe Scovino, Guilherme Bueno e Luiz Camillo Osorio, que, na época, também leram meu projeto de qualificação. A Marcelo Campos por gentilmente haver aceito o convite para suplente e em especial à professora Lisette Lagnado. À minha família, pelo apoio incondicional, e, em especial, aos meus pais, Ivair Antonio Reinaldim e Maria Glaci Reinaldim, que formaram meu caráter e acompanharam, mesmo à distância, todo processo para conclusão desta etapa importante de minha formação. Em especial, a Paulo Roberto Stolz, companheiro incondicional nessa grande aventura, que a cada dia tem contribuído com sua calma e perseverança para meu crescimento pessoal e profissional. À sempre gentil Fernanda Lopes, não só por todo auxílio durante a redação da tese, mas, acima de tudo, pelo incentivo, compreensão e parceria intelectual. Agradeço igualmente aos importantes comentários dos críticos (e amigos) Fernando Cocchiarale e Paulo Reis, à interlocução privilegiada, no Rio e em Paris, de Inês de Araújo, assim como ao apoio afetuoso e à “amizade de todas as horas” de Ana Beatriz Vieira, Doroti Jablonski, Rebeca Rasel, Laercio Redondo e Birger Lipinski (Billy). Aos parceiros do Centro Cultural do Instituto Brasil-Estados Unidos - Ibeu, com quem tenho convivido intensamente nos últimos anos, em particular, ao Dr. Cezar Antonio Elias e à gerente, Renata Pinheiro Machado, bem como aos companheiros de Comissão Cultural, Bernardo Mosqueira, Fernanda Pequeno, Humberto Farias, Marcos Nogueira e Toyoko Lepesqueur, e aos membros da equipe, Alexandre Faccin, Ana Paula Alves e Rebeca Rasel. Finalmente, aos amigos que partilharam, colaboraram (em alguma medida) ou simplesmente cruzaram de modo afetuoso meu caminho nesses quatro intensos anos: Adelaide de Souza, Alberto Saraiva, Alessandra Porto, Ana Lúcia Vasquez, Ana Paula Carneiro da Silva, Ana Paula Darriba, Analu Cunha, Andreas Valentin, Anna Corina, Beatriz Moraes, Bianca Bernardo, Carolina Martinez, Cezar Bartholomeu, Claudia Saldanha, Claudio Floriano, Dalila Cerqueira Pinto, Danielle Carcav, Denize Bruno, Douglas Cortes, Elizabeth Varela, Elisa Castro, Eloá de Carvalho, Fabiano Devide, Gisele Camargo, Giselle Macedo, Isabelle Dória Reis, Katia Chavarry, Leila Danziger, Leo Ayres, Leonardo Motta Campos (AoLeo), Luane Aires, Luiz Cláudio da Costa, Manoel Novello, Marcela Antunes, Marcelo Diego, Marcelo Zanchetta, Maria Carlota de Carvalho, Maria Helena Hermes, Maria Mattos, Maria Paula van Biene, Nelson Ricardo Martins, Patrizia D’Angello, Raul Leal, Ricardo Dias, Rodrigo Krul, Ronald Duarte, Rosangela Malucelli Andersen, Sílvia Borges, Suzana Queiroga, Tania Queiroz, Tathyane Höfke, Thierry Renaudin, Vera Lins, Viviane Matesco e Viviane Teixeira. vii “A questão dos historiadores, por exemplo; tenho por eles todo respeito, mas eles mentem muito, deixam o testemunho de uma época que não é verdadeiro.” Paulo Bruscky, Em outra vida acho que fui arquivista, Arte & Ensaios, n. 19, 2009. “Mentiras sinceras me interessam” Cazuza e Frejat, Maior abandonado, 1984. viii RESUMO REINALDIM, Ivair. Arte e crítica de arte na década de 1980: vínculos possíveis entre o debate teórico internacional e os discursos críticos no Brasil. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria da Glória de Araujo Ferreira. Rio de Janeiro: UFRJ/PPGAV-EBA, 2012. Tese (Doutorado em Artes Visuais, com ênfase em História e Crítica de Arte). Este estudo apresenta uma análise dos discursos críticos da década de 1980, procurando investigar os vínculos entre o debate crítico internacional – centrado, sobretudo, em duas posições dialéticas, assumidas, por um lado, pelos defensores da retomada da produção pictórica, e por outro, pelos críticos que condenavam essa mesma produção, a partir do projeto crítico-historiográfico da revista October – e o argumento discursivo dos críticos brasileiros – cujas particularidades relacionavam-se, em especial, com a problemática em torno do termo ‘Geração 80’ e com o modo como este veio a ser considerado pela história da arte nacional. Levando-se em consideração o argumento corrente de que imagens migraram de um canto a outro do planeta, a partir da reprodutibilidade técnica e da expansão alcançada pelos meios de comunicação, reforça-se que fenômeno similar pode ser averiguado no que tange à abrangência dos discursos críticos. Vistos de modo amplo, sobretudo se seus posicionamentos ideológicos puderem ser localizados, esses discursos constituem um corpus teórico capaz de fornecer indícios mais precisos do modo como tentaram delinear certo número de projetos, voltados, de modo geral, para a construção de uma identidade temporal, focada no presente, tanto quanto, uma preocupação em constituir parâmetros para uma operatividade artística, a partir do confronto com o reservatório imagético da história e da cultura de massa. Com a modificação do ponto de vista sobre o objeto, este estudo apresenta um novo olhar para a década de 1980, seja pela abordagem de aspectos pouco conhecidos, muitas vezes deficitariamente considerados ou mesmo recalcados por completo pela história da arte, seja pelo redimensionamento de leituras amplamente reproduzidas pela historiografia. O simples fato de clarificar um vasto conjunto de discursos, (re)criando uma rede de vínculos, referências, tensões, reações, etc., contextualiza esta análise no âmbito das reavaliações recentes do período. Palavras-chave: crítica de arte; discursos críticos; debate teórico; década de 1980; arte contemporânea. ix RESUMÉ REINALDIM, Ivair. L'Art et la critique d'art dans les années 1980 : les liens possibles entre le débat théorique international et les discours critiques au Brésil. Directrice de thèse: Dr. Maria da Glória de Araujo Ferreira. Rio de Janeiro: UFRJ/PPGAV-EBA, 2012. Thèse (Doctorat en arts visuels, avec une spécialisation en histoire de l'art et la critique d'art). Cette étude présente une analyse des discours critiques des années 1980, en essayant d'enquêter sur les liens entre le débat critique internationale - centré, principalement, dans deux positions dialectiques, supposées, d'une part, par les partisans de la reprise de la production picturale, par les partisans de la reprise de la production picturale, et de l'autre par les critiques qui ont condamné cette même production a partir du projet critique historiographique de la revue Octobre- et de l'argument discursive de les critiques brésiliens - dont les caractéristiques sont liés, en particulier, à des questions autour du terme 'Generation 80' et avec la façon comme ce terme a été consideré par l'histoire de l'art national. En tenant compte l'argument courant que les images ont migré d'un coin à l'autre de la planète, a partir de la reproductibilité technique et de l'expansion réalisée par les médias, on renforce qu’un phénomène similaire peut être verifié en ce qui concerne la couverture des discours critiques. Considérée de façon générale, surtout si ses positions idéologiques peuvent être situés, ces discours sont une base théorique capable de fournir une indication plus précise de la façon dont on a essayé de tracer un certain nombre de projets, dirigés généralement à la construction d'une identité temporel, concentré sur le présent, aussi tant qu’une préoccupation dans la mise en place des paramètres pour une opérabilité de l'art, a partir de la confrontation avec le réservoir de l'imagerie de l'histoire et de la culture de masse. En modifiant le point de vue de l'objet, cette étude présente un nouveau regard sur les années 1980, soit pour l'approche des aspects peu connus, souvent considérés d’une façon deficitaire ou même complètement réprimée par l'histoire de l'art, soit par le redimensionnement des lectures reproduite par l'historiographie. Le simple fait de clarifier une large gamme de discours en (re) créant un réseau de liens, de références, des tensions, des réactions, etc., contextualise cette analyse dans le contexte de réévaluations récentes de la période. Mots-clés: la critique d'art ; des discours critiques ; le débat théorique ; les années 1980 ; l'art contemporain. x ABSTRACT REINALDIM, Ivair. Art and art criticism in the 1980s: possible bonds between the international theoretical discussion and critical discourses in Brazil. Orientation: Dr. Maria da Glória de Araujo Ferreira. Rio de Janeiro: UFRJ/PPGAV-EBA, 2012. Thesis (Doctorate in Visual Arts with emphasis in Art History and Criticism). This study presents an analysis of the critical discourses of the 1980s, attempting to investigate the links between international critical debate – focused mainly on two dialectical positions, taken on one hand, by the defenders of resumption of pictorial production, and on the other hand, by critics who condemned this same production, from the critical-historiography project of the journal October – and the discursive argument of Brazilian critics – whose characteristics were related in particular to the problems surrounding the term ‘Geração 80’ [‘Generation 80’] and the way how this was regarded by the history of national art. Taking into account the current argument that images migrated from one corner to another around the planet, from the technical reproducibility and expansion achieved by the media, one may reinforce that similar phenomenon can be verified regarding the coverage of the critics speeches. Seen broadly, especially if its ideological positions can be located, these statements are a theoretical base capable of providing more accurate indication of how they tried to outline a certain number of projects directed generally to the construction of a temporal identity, focused on the present as much as a concern in setting up parameters for an operability of art, from the confrontation with the imagery reservoir of history and of mass culture. By modifying the point of view of the object, this study presents a new look to the 1980s, either for the approach of the less known aspects often considered with deficiency or even completely repressed by the history of art, or by resizing readings widely reproduced by historiography. Simply clarifying a wide range of discourses (re)creating a network of links, references, tensions, reactions, etc., contextualizes this analysis within the recent reevaluations of the period. Key-words: art criticism; critical discourses; theoretical discussion; the 1980s; contemporary art. xi LISTA DE ILUSTRAÇÕES Il. 1 – Capa da edição especial da revista ARTFORUM International, 40th Anniversary Special Issue, The 1980s: Part One, XLI, n. 7, March 2003. Il. 2 – Capa da edição especial da revista ARTFORUM International, 40th Anniversary Special Issue, The 1980s: Part Two, XLI, n. 8, April 2003. Il. 3 – Página inicial do debate “The Mourning After” [Depois do luto]. ARTFORUM International, 40th Anniversary Special Issue, The 1980s: Part One, XLI, n. 7, March 2003. Il. 4 – Capa do catálogo Flashback: Eine Revision der Kunst der 80er Jahre / Revisiting the Art of the 80s. Il. 5 – Registro da mesa-redonda realizada em 18 de junho de 2005, Basel/Suíça, referente à exposição Flashback: Eine Revision der Kunst der 80er Jahre / Revisiting the Art of the 80s. Il. 6 – Capa do catálogo Anos 80: Uma Topologia. Il. 7 – Imagem do projeto expográfico de Ulrich Loock para Anos 80: Uma Topologia. Il. 8 – Capa do catálogo Espèces d’Espace: Les Années 1980. Il. 9 – Capa do catálogo Images et (Re)Présentations: Les Années 1980. Il. 10 – Capa do catálogo 2080. Il. 11 – Vista com a referência curatorial às quatro exposições históricas da década de 1980 para a mostra 2080. Il. 12 – Capa do catálogo Onde Está Você, Geração 80?. Il. 13 – Capa do material de apoio do Programa Educativo do CCBB-RJ, referente à exposição Onde Está Você, Geração 80?. Il. 14 – Capa do catálogo 80/90, Modernos, Pós-Modernos, Etc.. Il. 15 – Imagem da página do catálogo 80/90, Modernos, Pós-Modernos, Etc., com registro da expografia. Il. 16 – Cartaz da Documenta 7. xii Il. 17 – Fachada do Fridericianum, com o trabalho 7000 Oaks, de Joseph Beuys, durante a Documenta 7. Il. 18 a 21 – Annunciation after Titian (Verkündigung nach Tizian), Gerhard Richter, 1973, óleo sobre tela, 150cm x 200cm (cada), Hirshhorn Museum and Sculpture Garden, Washington D.C./USA. Presentes na mostra A New Spirit in Painting, na Royal Academy of Arts, Londres/Reino Unido, 1981. Il. 22 – Catálogo de Zeitgeist. Il. 23 – Vista geral do pátio central do Martin-Gropius Bau, durante a exposição Zeitgeist, Berlim/Alemanha,1982. Destaques para o trabalho Man With Briefcase, de Jonathan Borofsky, e para a instalação “Hirschdenkmäler”, de Joseph Beuys. Visualizar o vídeo: http://vimeo.com/10394534. Il. 24 – Página de Artforum,com texto de Max Wolfgang Faust. Il. 25 a Il. 30 – Registros da montagem e da exposição Grande Tela – 18ª Bienal Internacional de São Paulo, 1985. Projeto expográfico de Haron Cohen, a partir da concepção curatorial de Sheila Leirner. Il. 31 – Untitled, Willem de Kooning, 1979, óleo sobre tela, 195,5cm x 223,5cm, Col. Xavier Fourcade Inc., Nova York/EUA. Il. 32 – St. Francis in Ecstasy, Julian Schnabel, 1980, óleo e pratos sobre madeira, 244 x 213,5cm, Col. Mary Boone, Nova York/EUA. Il. 33 – Galicíneo galhardeado, Jorge Guinle Filho, 1982, óleo sobre tela, 160cm x 140cm, Col. Particular. Il. 34 – Registro fotográfico da Campanha das Diretas Já!, Avenida Presidente Vargas e Candelária, Rio de Janeiro-RJ. Il. 35 – Registro fotográfico da Campanha das Diretas Já!, Praça da Sé, São Paulo-SP. Il. 36 e Il. 37 – Registros fotográficos da Campanha das Diretas Já!. Il. 38 – Cartaz da exposição-evento Como Vai Você, Geração 80?. Il. 39 – Registro fotográfico da abertura da exposição-evento Como Vai Você, Geração 80?, Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, 14 de julho de 1984. Ver o registro videográfico (Anexos I) Il. 40 – Capa da edição especial da revista Módulo, Rio de Janeiro, edição especial, julho/agosto 1984, Catálogo da exposição-evento Como Vai Você, Geração 80?. xiii Il. 41 – Capa do livro Explode Geração!, do crítico Roberto Pontual, lançado durante a abertura da exposição-evento Como Vai Você, Geração 80?. Il. 42 – Thira, Brice Marden, 1979-1980, óleo e cera sobre tela, 244cm x 460cm, Musée National d’art moderne, Paris/França. Il. 43 – Die Mädchen von Olmo II, Georg Baselitz, 1981, óleo sobre tela, 259cm x 249cm, Musée National d’art moderne, Paris/França. Il. 44 – Registro fotográfico da abertura de exposição Esculturas e Desenhos, de Tunga, no Espaço ABC - Funarte, Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1980. Ver os textos de Ronaldo Brito e de Frederico Moraes sobre os trabalhos expostos (Anexos I) Il. 45 – Untitled, from Lieber Maler, male mir… (Querido pintor, pinte para mim...), Martin Kippenberger, 1983, acrílica sobre tela, 200 x 130cm. Il. 46 – Capa e página da revista Flash Art International, com o ensaio Transvanguarda Italiana, de Achille Bonito Oliva, n. 92-93, October-November 1979. Il. 46 (b) – Capa do livro The Italian Trans-avantgarde/La Transavanguardia Italiana, 1980, de Achille Bonito Oliva. Il. 47 – Capa do livro Trans-avantgarde International, 1982, de Achille Bonito Oliva. Il. 48 – Capa do livro The Anti-Aesthetic: essays on postmodern culture, 1983, organizado por Hal Foster. Il. 49 – Capa da primeira edição da revista October, Spring 1976. Il. 50 – Registro fotográfico da exposição Pictures, organizada por Douglas Crimp, em 1977, Artists Space, Nova York/EUA. Il. 51 – Capa do catálogo da exposição Pictures, organizada por Douglas Crimp, em 1977, Artists Space, Nova York/EUA. Il. 52 – Untitled Film Still #21, Cindy Sherman, 1978, fotografia, The Museum of Modern Art – Nova York/EUA. Il. 53 – Pollock and Tureen, Arranged by Mr. and Mrs. Burton Tremaine, Connecticut, Louise Lawler, 1984, cibachrome, 71cm x 99cm, The Horace W. Goldsmith Foundation – Nova York/EUA. Il. 54 – The Exile, Julian Schnabel, 1980, óleo, galhadas, folhas de ouro e técnica mista, sobre madeira, 228,6cm x 304,8cm. Il. 55 – Capa do Caderno especial do periódico Arte em Revista n. 7, 1983 xiv Il. 56 – Rabbit for Dinner, Sandro Chia, 1981, óleo sobre tela, 205,5cm x 339cm, Stedelijk Museum – Amsterdam/Holanda. Il. 57 – Midnight Sun II, Francesco Clemente, 1982, óleo sobre tela, 201cm x 250,7cm, Tate Gallery – Londres/Inglaterra. Il. 58 – Registro fotográfico do evento do coletivo A Moreninha, realizado na Ilha de Paquetá, em 1º de fevereiro de 1987 (foto de Márcia Costa Dias, publicada no Jornal do Brasil). Il. 59 – Registro fotográfico do evento do coletivo A Moreninha, realizado na Ilha de Paquetá, em 1º de fevereiro de 1987 (foto de Ricardo Leoni, publicada no O Globo). Il. 60 – Panfleto (frente e verso), com composição da Dupla Especializada (Alexandre Dacosta e Ricardo Basbaum). Il. 61 – Panfleto da Dupla Especializada (Alexandre Dacosta e Ricardo Basbaum). Il. 62 – Panfleto de lançamento do vídeo Egotrip, de Sandra Kogut e Andréa Falcão (sobre trabalhos de Alexandre Dacosta e Ricardo Basbaum). Il. 63 – Sem título, Eduardo Kac, performance de telepresença. Abertura da exposição Brasil High-Tech, Galeria de Arte do Centro Empresarial Rio, Rio de Janeiro, 1986. Il. 64 – Satori Three Inches within Your Heart, David Salle, acrílica e óleo sobre tela, 1988, 214,2cm x 291cm, Tate Gallery – Londres/Inglaterra. Il. 65 – Nuremberg, Anselm Kiefer, acrílica, emulsão e palha sobre tela, 1982, 280cm x 380cm, Eli and Edythe Broad Collection – Los Angeles/EUA. Il. 66 – Untitled (Skull), Jean-Michel Basquiat, acrílica e pastel oleoso sobre tela, 1981, 206cm x 176cm, Eli and Edythe Broad Collection – Los Angeles/EUA. Il. 67 – Registro fotográfico da projeção sobre o edifício AT&T, Tribeca, Nova York/EUA, Krzysztof Wodiczko, em 2 de novembro de 1984, entre 21h30 e meia-noite. Il. 68 – Untitled (After Walker Evans #3), Sherrie Levine, 1981, fotografia. Il. 69 – Onça Pintada I (Jaguar I), Leda Catunda, 1984, acrílica sobre cobertor, 185cm x 150cm, MAC-USP. Il. 70 – Sem Título, Ricardo Basbaum, 1985, intervenção urbana com adesivos, dimensões variadas. Registro fotográfico de Pedro Tebyriça. Il. 71 – Os Cem, Jac Leirner, 1986, dinheiro com estrutura de poliuretano, 7cm x 15cm x 300cm (cada módulo), Reprodução fotográfica de Romulo Fialdini. xv SUMÁRIO Introdução .......................................................................................................... 1 1 A construção de uma consciência histórica na produção teórica da arte durante os anos 1980: em busca da especificidade de uma geração ................ 34 1.1 A identidade histórica proclamada da década: o sentimento de Zeitgeist ................................................................................................................. 39 1.1.1 O papel das grandes exposições internacionais do início da década na constituição de um “espírito da época” ............................... 41 1.1.2 O projeto político-estético de Zeitgeist ...................................... 48 1.1.3 Reverberações no meio artístico brasileiro e a contribuição nacional para o debate em torno do “espírito da época” ..................... 54 1.2 A auto-referencialidade de um período: em torno da Geração 80 ......... 62 1.2.1 A questão geracional nas exposições europeias do início da década .................................................................................................... 64 1.2.2 Variações no uso do conceito de geração, a partir das exposições referentes à produção pictórica brasileira, entre 1982 e 1983 ............. 67 1.2.3 A exposição-marco ‘Como vai você, Geração 80?’ e o surgimento de um conceito-síntese ........................................................................... 74 1.3 A dialética entre as décadas: conceito versus expressão ........................ 81 1.3.1 Estratégicas teóricas, ideológicas e políticas, a partir da produção pictórica da década de 1980 .................................................. 83 1.3.2 Dialética entre as décadas na crítica de arte brasileira dos anos 1980 ........................................................................................................ 88 1.3.3 Análises à posteriori da década de 1980 e a oposição ideológica entre conceito e expressão ..................................................................... 96 2 A teoria crítica da década de 1980 frente ao arquivo imagético da história: a noção de apropriação como operatividade e prática artística .......................... 101 2.1 O debate em torno da teoria pós-modernista: o fim da vanguarda? ..... 107 2.1.1 A transvanguarda como “única vanguarda possível” ............. 109 2.1.2 O debate acerca do pós-modernismo ....................................... 115 2.1.3 O projeto político de October e as relações estabelecidas com o pensamento pós-modernista ................................................................. 123 xvi 2.1.4 A morte da vanguarda e a dimensão institucional da arte contemporânea como preocupações críticas no Brasil ....................... 134 2.2 A abordagem historicista da arte: prós e contras do pluralismo .......... 142 2.2.1 Nomadismo cultural e ecletismo estilístico como princípios artísticos frente ao reservatório imagético dos anos 1980 .................. 144 2.2.2 Reverberações discursivas e práticas artísticas no contexto brasileiro .............................................................................................. 153 2.2.3 Apropriação e alegoria como práticas artísticas na década de 1980 ...................................................................................................... 173 Considerações Finais ..................................................................................... 187 Anexos I – Textos ........................................................................................... 206 Anexos II – Tabelas ........................................................................................ 241 1 Introdução “O passado é, também, ficção do presente.”1 A escrita da história consiste em uma relação temporal que se institui entre um passado a ser analisado e o presente que suscita a investigação (estando implícita aí uma instância futura em latência). Sendo assim, se for correto afirmar que cada época elege o(s) passado(s) que lhe convé(ê)m, evidente está que a prática da história permite não só conhecer aquilo que ocorreu num dado momento, como também refletir sobre o que está acontecendo, no instante mesmo em que essa relação se estabelece. Ou seja, tal prática não só tece, estrutura, constrói um discurso sobre o passado, mas igualmente reforça um lugar, um ponto de vista, o presente que se quer possível. Não seria um acaso, então, que entre as inumeráveis (re)avaliações artísticas ocorridas nos últimos anos, muitas delas tenham sido dedicadas exclusivamente à arte produzida na década de 1980, seja nos Estados Unidos, na Europa, ou no Brasil. Exposições, catálogos, monografias, reedição de textos, revistas especiais, mesas-redondas, teses; mais do que 1 CERTEAU, Michel de. A escrita da história [1975]. Tradução de Maria de Lourdes Menezes. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008, p. 21. 2 nunca, tornou-se necessário e urgente o propósito (projeto) historiográfico de repensar o período. Pode-se logo constatar que se trata de um daqueles momentos diante dos quais é difícil permanecer indiferente. Tanto as pessoas que viveram aqueles anos, quanto as mais jovens, que apenas tardiamente tomaram conhecimento daquilo que se pensou, produziu ou transcorreu na década de 1980, apresentam uma tendência a assumir posicionamentos claramente parciais sempre que a ela se referem, muitas vezes a partir de leituras e interpretações pré-concebidas, que se estabeleceram de modo determinante, seja na história, seja na memória coletiva. As nuanças de opinião, assim, transitam da negação compulsória, aludindo-se à década como uma época a ser esquecida, até mesmo a certa fascinação, sendo percebida com grande nostalgia, em relação àquilo que se viveu e igualmente ao não vivido. Esses sentimentos contraditórios manifestam-se e podem ser identificados em diferentes esferas: política, economia, filosofia, moda, teatro, música, cinema, televisão, literatura, artes visuais, comportamento, etc. A título de exemplo, pode-se citar o epíteto de “década perdida” a ela particularmente atribuído no Brasil, devido ao fato de compreender um período histórico marcado por estagnação econômica, elevados índices de inflação e desemprego, além de perda do poder de consumo da população, enquanto na Europa e Estados Unidos ocorria processo inverso, tendo-se o acelerado crescimento econômico das nações capitalistas como uma das características mais marcantes do decênio. Por isso, é igualmente considerada, até mesmo no complexo contexto econômico brasileiro, como uma época em que a arte esteve fortemente submetida aos interesses do mercado, a partir do retorno generalizado (e comemorado) da pintura, cujos preços e vendas atingiram patamares mundialmente inéditos, tanto em relação aos trabalhos de artistas chamados ‘emergentes’ quanto nos leilões de pinturas dos mestres impressionistas e pós-impressionistas. Outro aspecto a se ponderar é que o afastamento histórico tem favorecido, em alguns casos, o desenvolvimento de uma compreensão distinta de fatos e posicionamentos que, no calor da hora, foram apreendidos a partir de uma perspectiva mais localizada, na maior parte das vezes, matizados por forte impulsividade, entusiasmo generalizado por mudanças (mais do que desejadas), além de considerável 3 radicalidade nas posições teóricas adotadas – isso sem esquecer-se da peculiar ironia que marcou, em geral, aqueles anos. Desse modo, tem sido importante a diferenciação entre a identificação da historicidade dos discursos de época – por meio da consulta às fontes primárias – e sua análise crítica distanciada – através da construção histórica propriamente dita –, evitando-se assim que a história constitua-se apenas como simples repetição daquilo que representou o debate ideológico (explícito) de um período dado. A partir desse posicionamento revisionista – o que constitui para nós uma primeira hipótese de trabalho –, tem sido corrente o argumento de que certas conjunturas políticas e econômicas atuais, bem como transformações na ordem do sistema das artes, tiveram sua origem num processo de média e longa duração iniciado na década de 1970, processo este que teria adquirido corpo e gerado grande repercussão durante os anos 1980, para só recentemente, nas duas últimas décadas, constituir, em efetivo, diretrizes e aspectos de grande representatividade no cenário mundial. Ao que parece, enfim, a década de 1980 passou a ser compreendida como um problemático período de transição, em que questões essenciais, trazidas à tona durante os anos 1960 e 1970 – em termos políticos, sociais, econômicos e culturais –, teriam sido reelaboradas e confrontadas com formas específicas de apreensão do passado histórico e com as novas exigências de um contexto cada vez mais globalizado. São essas perspectivas atuais, em especial, que inicialmente nos interessam, seja pelo modo como abordam e iluminam novos aspectos identificados na arte produzida e no contexto mais amplo da década de 1980, seja pela constatação de que em certos momentos apresentam diferenciações em relação ao debate crítico da época, enquanto em outros continuam a reforçar algumas leituras historicamente estabelecidas. Acreditamos que o contato com essas iniciativas nos permite assumir como objetivo o confronto investigativo-reflexivo tanto com a estrutura e o núcleo ideológico em torno da diversidade de discursos provenientes do período em questão, no âmbito expandido da crítica de arte e da prática curatorial (a importância de voltar-se efetivamente para as fontes primárias), quanto com o modo como esses discursos têm sido interpretados e redimensionados (ou não) à medida que sua historicidade vem sendo estruturada através de uma pluralidade de estratégias metodológicas e posicionamentos críticos. Nesse sentido, partiremos de um levantamento prévio de algumas dessas abordagens recentes, 4 separando-as entre as propostas ocorridas em âmbito internacional e aquelas desenvolvidas no Brasil, para averiguar a relação por elas assumida frente à arte e à teoria da década de 1980. Em última instância e de modo sucinto, pretendemos também examinar de que modo a produção artística brasileira, a partir do recorte específico proposto, foi e vem sendo considerada em relação ao contexto global de apreensão e circulação da arte contemporânea, seja cá (olhar de dentro para fora) ou lá (de fora para dentro). Assim, na primeira década do século XXI ocorreram importantes propostas de (re)avaliação da produção artística e do contexto da década de 1980, motivadas por questões atuais do sistema de arte, que, passados mais de vinte (ou trinta) anos, parece agora reivindicar uma necessária retomada do período. Por isso, todas as principais iniciativas aqui analisadas insistem, nas mais diferentes modulações, em instituir uma visão histórica para os anos 1980, rearticulando alguns aspectos que nortearam o debate crítico e a produção curatorial do decênio. E embora haja pontos de contato entre tais ações, cabe reforçar que segue prevalecendo a condição histórica de que (re)avaliações ocorridas no Brasil concentram-se apenas na arte nacional, enquanto as propostas internacionais procuram ‘abordar’ uma noção de arte Ocidental centralizada na produção norte-americana e europeia, desconsiderando completamente a arte brasileira (exceto pela mostra realizada no Porto, Portugal, mas que em si, sob circunstâncias mais amplas, não representa uma mudança realmente expressiva dessa situação), bem como a produção em geral do que na época chamou-se Terceiro Mundo. A partir desses aspectos, entre 2003 e 2009, quatro foram as principais proposições internacionais voltadas para a avaliação crítica dos anos 1980. A primeira delas, e mais importante, por claramente haver motivado a realização das demais, ocorreu com o lançamento de duas edições especiais da revista Artforum International, em março e abril de 2003, em celebração ao 40º aniversário da publicação, sob o sintomático título “The 1980s/Now they’re History” [“Anos 80/Agora eles são História”]. O conjunto das duas edições compreendeu um amplo dossiê sobre aquela década: ensaios a respeito de suas principais etapas e características históricas, realização de entrevistas com artistas que adquiriram destaque na época, conjuntamente 5 a comentários de outros, pertencentes a gerações posteriores, e que reconheciam a influência do período sobre suas respectivas produções, cronologia histórica detalhada e a realização de duas mesas-redondas com críticos e artistas. Apesar de assumir a cena norte-americana como parâmetro, dedicando-se quase que exclusivamente a ela, a iniciativa representou o primeiro e mais amplo saldo disponível sobre o assunto, debruçando-se sobre a diversidade de ferramentas críticas e estéticas da época. Il. 1 e Il. 2 – Capas das edições especiais da revista ARTFORUM International, 40th Anniversary Special Issue, The 1980s: Part One, XLI, n. 7, March 2003; The 1980s: Part Two, XLI, n. 8, April 2003. Para o editor da revista, Jack Bankowsky (no cargo de 1992 a 2003), reconhecendo que a proposta de Artforum constituía uma espécie de rascunho para “uma história ainda a ser escrita”, A verdade maior é que os anos 80 permanecem uma espécie de ferida aberta – e não apenas em termos do resíduo tóxico da ganância e do glamour (o “excesso” do clichê jornalístico), mas simplesmente devido à proximidade da década: há um aspecto traumático, para o processo de entrar em acordo com um período cujos desenvolvimentos, como observou [Jeff] Wall, estão “ainda em desenvolvimento”.2 2 BANKOWSKY, Jack. Editor’s Note. In: ARTFORUM International, 40th Anniversary Special Issue, The 1980s: Part One, XLI, n. 7, p. 27, March 2003. Tradução livre, a partir do original em língua inglesa. 6 Il. 3 – Páginas iniciais do debate “The Mourning After” [Depois do luto], ARTFORUM International, 40th Anniversary Special Issue, The 1980s: Part One, XLI, n. 7, March 2003. Na mesa-redonda intitulada The Mourning After [Depois do luto] – talvez a maior contribuição dessas duas edições –, um grupo expressivo de críticos avaliou o debate sobre a morte da pintura e como o mesmo tornou-se recorrente ao longo da década. Partindo do diagnóstico de Douglas Crimp (1944-), no texto The End of Painting [O fim da pintura, 1981], o filósofo e crítico norte-americano Arthur C. Danto (1924-), mediador do debate, afirmoava que “a morte da pintura foi uma tese excessivamente postulada, tendo muito menos a ver com o estado da arte em torno de 1980 (...) do que com uma pesada atmosfera da teoria pós-moderna”.3 Desse modo, sugeria que o debate suscitado por Crimp não incidia sobre trabalhos propriamente ditos, mas, mais acentuadamente, consistia numa tomada de posição teórica, uma vez que o crítico, um dos editores da representativa revista October, era fortemente 3 Introdução à mesa-redonda, por Arthur C. Danto. In: DANTO, Arthur C.; BOIS, Yve-Alain; DUVE, Thierry de; GRAW, Isabelle; REED, David; JOSELIT, David; SUSSMAN, Elisabeth. The Mourning After [Depois do luto. Livre tradução de Célia Euvaldo (com revisão de Isabel Löfgren e colaboração de Carlos Zilio), ainda inédita]. ARTFORUM International, Op. cit., p. 207, March 2003. Essa era uma conclusão comum entre todos os participantes da mesa-redonda e, apesar de discordarem em diferentes aspectos levantados no debate, não havia nenhuma posição realmente contrária à produção pictórica. Deve-se considerar, nesse sentido, a ausência de críticos ligados à October que questionassem a qualidade daquela produção, como Douglas Crimp e Benjamin H. D. Buchloh – embora Yve-Alain Bois estivesse presente, acabou assumindo uma posição muito mais pessoal nesse sentido (ou acabou se eximindo). O confronto mais direto permitiria avaliar em que medida os argumentos de Crimp tomados como ponto de partida para o debate modificaram-se (ou não), a partir do distanciamento histórico. 7 influenciado pelas ideias do artista Marcel Duchamp (“em seu desprezo pelo olho e pela mão do artista”) e pelo filósofo alemão Walter Benjamin (“com suas ruminações sobre a arte e a reprodução mecânica”). Era preciso também considerar, segundo Danto, que Crimp estava engajado na promoção do fenômeno da fotografia (em detrimento da pintura), pois acreditava que artistas que trabalhavam a partir desse medium apresentavam uma forte implicação política em suas propostas, sobretudo em relação à crítica às instituições do mundo da arte, como o museu.4 O curador David Joselit, partindo de alguns aspectos desenvolvidos pelo crítico Yve-Alain Bois (1952-), no texto para a mostra Endgame: Reference and Simulation in Recent Painting and Sculpture [Jogo Final: Referência e Simulação na Pintura e Escultura Recentes], realizada em 1986 (ver Anexos II), da qual Joselit foi o curador, e igualmente do ensaio A morte do autor, do filósofo francês Roland Barthes (1915-1980), questionava o argumento de Crimp, indagando-se: Se a ‘morte da pintura’ da década de 1980 correspondeu à morte do jogo chamado ‘pintura moderna’ (e isso não é de forma alguma evidente por si mesmo), essa morte seria então também potencialmente um nascimento de um tipo diferente de jogo?5 Some-se a essa consideração o adendo de Danto, ao alegar que “a ‘morte da pintura’ teria dado acesso à vontade de poder irrestrita do crítico, e à liberdade de interpretação que a acompanhava”.6 Assim, tanto quanto o reconhecimento de que a 4 Cf.: CRIMP, Douglas. Sobre as ruínas do museu [1993]. Tradução de Fernando Santos. São Paulo: Martins Fontes, 2005. 5 In. DANTO, Arthur C.; BOIS, Yve-Alain; DUVE, Thierry de; GRAW, Isabelle; REED, David; JOSELIT, David; SUSSMAN, Elisabeth. The Mourning After, Op. cit., p. 208. Para Joselit, as “táticas de apropriação” poderiam evidenciar um deslocamento do “descritível” [writerly] para o “legível” [leaderly], constituindo novas regras para o “jogo pintura”, levando-se em conta ao mesmo tempo a influência exercida pelas ideias do filósofo francês Jean Baudrillard (1929-2007), pois a noção de “simulação” fora um dos aspectos mais característicos da década de 1980. Contudo, essa não era uma conclusão comum entre os debatedores, considerando-se o argumento do historiador belga Thierry de Duve (1944-), como resposta imediata à colocação de Joselit, ao afirmar que a expectativa de mudar as regras do jogo não necessariamente representa a mudança por completo desse mesmo jogo. 6 Segundo Danto, a declaração “‘O pintor está morto. Viva o crítico!’ encerra muito bem a inversão que foi anunciada pela teoria pós-estruturalista.” Já para Thierry de Duve, “os críticos incluíram a questão [da morte da pintura] na agenda porque ela fomentou sua vontade de poder – o que hoje ainda é um grande problema”, argumentando que “os pintores da década de 80 foram vítimas colaterais dos ataques a Greenberg que era o dogma reinante – e ainda é para muitos”, reforçando, por exemplo, que “É um mistério intolerável para [Benjamin H. D.] Buchloh o fato de [Gerhard] Richter ser um grande artista 8 teoria adquiriu certa ‘celebridade’ na década de 1980, houve uma maneira quase monolítica de se referir ao período, seja desconsiderando sua pluralidade artística, seja reduzindo a produção de arte ao reflexo dos desenvolvimentos políticos gerais, como se, em resumo, a pintura figurativa de caráter expressivo da década fosse simplesmente fruto da era Reagan. A conclusão geral do debate pode ser sintetizada nas falas de Arthur C. Danto, para quem “a verdadeira história da arte da década de 80 ainda não começou a ser abordada”, assim como, em sentido mais profundo, na afirmação de Thierry de Duve de que “o que permanecerá da pintura, ou da arte, da década de 80 será, em longo prazo, produto da jurisprudência estética, não da ‘teoria’”, argumentando que “é bem possível que o pré-requisito para lidar com uma história da arte dos anos 80 seja uma mudança de teoria que abra espaço para o conceito de jurisprudência estética”. A partir dessas considerações, Yve-Alain Bois acentuou a urgência em “iniciar uma crítica muito necessária dessa recusa deliberada de julgar.”7 Em resposta à provocação que concluiu o debate realizado por Artforum, nos anos seguintes é possível identificar um conjunto de exposições revisionistas realizadas na Europa (e não nos Estados Unidos, o que também é sintomático). A primeira delas ocorreu em Bale, Suíça, sob o título Flashback: Eine Revision der Kunst der 80er Jahre [Flashback: Revisitando a Arte dos Anos 80], em 2005 (ver Anexos II), tendo como principal mote a consideração de que todo aprofundamento em relação à arte produzida nos anos 1980 só pode revelar que a mesma teria sido inconcebível sem as experiências seminais das décadas anteriores, tanto quanto a constatação de que muitos projetos artísticos atuais constroem-se em constante diálogo com as realizações artísticas daquela década. Segundo o curador suíço Philipp Kaiser (1972-), a exposição “foi concebida como um ensaio, uma instalação experimental aberta”, com o propósito principal de assumir “um olhar crítico em relação ao passado” e, assim, “traçar uma imagem da sendo um grande pintor, e não a despeito do fato de ele pintar. Do ponto de vista neo-adorniano de Buchloh, a pintura devia estar morta, e ele exige do entrevistado – de forma repetida e quase agressiva – que justifique sua contradição.” In. Ibid., pp. 208 e 268. [Grifos no original] 7 Ibid., p. 270. 9 década de 1980 que, em certo sentido, é representativa da arte do período, evitando o pluralismo sem causas do ‘vale tudo’.”8 Il. 4 e Il. 5 – Capa do catálogo Flashback: Eine Revision der Kunst der 80er Jahre / Revisiting the Art of the 80s e Registro da mesa-redonda realizada em 18 de junho de 2005, Basel/Suíça. Partindo de documentos da época, a proposta levou em consideração a fórmula binária, dialética, que caracterizou o período, entre, por um lado, a pintura figurativa expressiva, predominante em movimentos como a Transvanguarda e os Novos Fauves e, por outro, o círculo de críticos da revista October, cuja repulsa em relação à “pintura regressiva” vinha ao encontro da defesa e promoção de artistas mais próximos à ideia de uma continuidade das práticas conceitualistas. Porém, vistas em retrospecto, ambas as tendências, de uma forma ou de outra, fundamentaram-se na prática de apropriação e desconstrução de imagens provenientes do mass-media, o que, para o curador, evidenciava o fato de que as duas abordagens nada mais seriam “que dois lados da mesma moeda”9, ou mesmo, que a forte oposição entre elas, em verdade, representaria 8 Sendo “uma técnica de montagem cinematográfica, flashback implica um ponto de observação entre o aqui e o agora, a partir do qual ocorre a investigação das influências artísticas.” KAISER, Philipp. Introduction. In: KAISER, Philipp (cur.). Flashback: Eine Revision der Kunst der 80er Jahre / Revisiting the Art of the 80s. Basel: Kunstmuseum Basel, Museum für Gegenwartskunst, Hatje Cantz Verlag, 2005, p. 15. Tradução livre, a partir do original em língua inglesa. 9 Ibid., p. 17. Tradução livre, a partir do original em língua inglesa. 10 uma manobra crítica para reforçar a posição de Nova York como centro das pesquisas mais avançadas naquele momento, em detrimento da arte que era produzida na Europa Ocidental. O argumento principal da exposição, então, concentrou-se na afirmação de que práticas ‘pop-conceituais’, como a “apropriação”, respeitando-se as ambiguidades e descontinuidades históricas, nunca foram abandonadas, nem nos Estados Unidos nem na Europa, passando a ser continuamente reformuladas no decorrer das décadas, o que, em suma, colocava em xeque o argumento de uma “regressividade” dos anos 1980. Em consonância com o argumento curatorial, uma mesa-redonda com críticos e artistas – do mesmo modo que ocorreu nas edições especiais de Artforum – evidenciou como certas características dos discursos críticos dos anos 1980 permanecem constantes nos dias de hoje. A crítica alemã Isabelle Graw (1962-), por exemplo, questionava o pensamento oposicionista entre as décadas de 1970 e 1980, enquanto seu conterrâneo, radicado nos Estados Unidos, Benjamin H. D. Buchloh (1941-), reforçava que não se tratava de “um problema de décadas, mas de um grupo ou formação geracional”, o que justificava a ideia de uma oposição.10 Desse modo, as falas de Graw e de Buchloh referem-se, por um lado, ao questionamento frente à reprodução de uma historiografia caracterizada pela polarização entre arte conceitual e neoexpressionismo e, por outro, à defesa da manutenção dessas mesmas abordagens (elaboradas há trinta anos). Enquanto Buchloh defendia que a prática artística conceitual era mais radical em suas ‘consequências’ do que a pintura da década de 1980, Graw afirmava que a problemática não devia recair sobre o medium em si, mas em seus usos e abordagens. A discussão que se segue, reforça as diferentes posições adotadas: John M. Armleider: (...) Certos artistas representam determinadas conquistas, mas vinte ou cem anos depois, um aspecto diferente de seu trabalho pode, de repente, tornar-se relevante. A descrição linear da história é apenas uma forma de leitura. A realidade dos anos 1980 nada tem a ver com a forma como pensamos aquela década. E é isso que estamos debatendo hoje. Nós não estamos reconstruindo a década de 1980, mas tentando descobrir o que ela pode representar na atualidade. É bizarro acreditar que a década de 1980 consistia apenas em pintura. Havia tantas práticas diferentes, basta 10 ARMLEDER, John M.; BUCHLOH, Benjamin H. D.; BÜTTNER, Werner; GRAW, Isabelle; KÖNIG, Kasper; KOETHER, Jutta; RUFF, Thomas; KAISER, Philipp (moderator). The 80s Are in Our Midst. In: Ibid., p. 23. Tradução livre, a partir do original em língua inglesa. 11 pensar o boom da fotografia ou de artistas como Peter Halley. No curto período de tempo de uma exposição, pode-se ativar todas essas lembranças e apresentá-las, a partir de certa perspectiva. Isabelle Graw: Desenvolvo frequentemente um jogo com amigos em Nova York, que consiste em lembrar nomes de artistas que eram ubíquos nos anos 1980, mas que agora estão completamente esquecidos. A construção retrospectiva da década é brutal, porque está baseada em exclusão. John M. Armleder: Há duas maneiras diferentes de determinar períodos. Tendemos sempre a querer saber como era antes para que possamos ver como mudou depois. Com o objetivo de desenvolver uma ideia sobre os anos oitenta, talvez fosse melhor perguntar sobre a década de noventa. Vamos tomar Daniel Buren para ilustrar o que quero dizer. Nos anos setenta, ele não é o mesmo que nas décadas de oitenta ou noventa. Se se segue uma construção linear, então é preciso perguntar como seu trabalho mudou. Benjamin H. D. Buchloh: Buren em 1970 é como Picasso em 1912, e em 1980, como Picasso em 1930. Na década de 1990, Buren é como Picasso nas décadas de 1950 e 1960. Se eu penso que Buren é melhor artista? Sim, com certeza. Absolutamente, até 1975. John M. Armleder: Meu objetivo não foi estabelecer um valor moral. Há uma transformação no trabalho que acho interessante. Benjamin H. D. Buchloh: Não é uma questão moral, mas de estética. O que me interessa é o que uma prática estética significa naquela época. Isabelle Graw: Mas, para além da reconstrução sempre aproximada de certas condições, critérios estéticos mudam com o tempo, em referência a situações cambiantes.11 Desse modo, percebe-se que a mesma problemática explicitada na mesa-redonda de Artforum reaparece na realizada por Flashback, reforçando que a questão “como historicizar a década de 1980?”, intimamente atrelada à condição da “jurisprudência estética” no contexto contemporâneo, apresenta-se como dado crucial para qualquer pesquisa que se propõe a abordar o período. Em 2006 esse ponto de vista centro- europeu (alemão-suíço) expresso em Flashback foi ressaltado ainda mais com a realização da mostra Anos 80: Uma Topologia, no Museu Serralves, no Porto, Portugal (ver Anexos II), organizada pelo curador alemão Ulrich Loock (1953-), que estudou na Kunstakademie de Düsseldorf e foi diretor da Kunsthalle de Berna durante a década de 1980. Com a exposição, o curador propôs-se não só a delinear uma “topologia”, mas a apresentar um ponto de vista singular sobre o período, sem que o recorte se pretendesse representativo da década como um todo. Por isso, optou por excluir paradigmaticamente todas as estratégias de legitimação reconhecidas e consagradas na década de 1980, o que vale dizer, a maior parte dos pintores atuantes no período, sobretudo aqueles ligados 11 Ibid., pp. 54-57. Tradução livre, a partir do original em língua inglesa. 12 à transvanguarda, ao neoexpressionismo e à cena norte-americana, o que em suma, mais do que constituir “um ponto de vista singular”, encobria a reprodução do discurso crítico de alguns teóricos ligados à revista October.12 Il. 6 e Il. 7 – Capa do catálogo Anos 80: Uma Topologia e Imagem do projeto expográfico de Ulrich Loock Embora tenha recusado abordar certos movimentos e tendências mais próximos do “mercado de arte”, Loock acreditava, paradoxalmente, que o interesse cada vez maior sobre a década de 1980 recaia sobre o fato de ter sido um período de euforia econômica, próximo ao que se denomina atualmente como mundo globalizado da arte, onde as especificidades da criação artística e da reflexão por ela suscitada muitas vezes se dissolvem nos momentos de apresentação e representação social dos eventos (influência do mercado, do colecionismo, do aparecimento constante de novos artistas, 12 “Problemático é que, numa reação anti-moderna, um importante conjunto de artistas tenha tomado, em finais da década de 70 e início da de 80, a decisão de opor certezas recém-adquiridas a uma situação política e cultural de ausência de evidência. Problemáticas são as tentativas de reconquistar terra firme através de movimentos violentos visando um regresso a paradigmas locais e regionais, a adoção de padrões de figuração, a reintrodução de solidez táctil e visual (cor e matéria), a reanimação de uma mitologia do artista (masculino) e a confiança em categorias estabelecidas da arte, em especial ‘a pintura’. Igualmente problemáticas, e em boa verdade não muito diferentes das anteriores, são as práticas de uma cínica ou provocadora, senão apenas visceral, revolta contra versões do moderno que tinham sido estabelecidas nos anos 60 e 70.” LOOCK, Ulrich. Introdução: a evidência da arte. Tradução, a partir do inglês, de Rui Parada-Cascais. In: LOOCK, Ulrich (ed.). Anos 80: uma topologia. Porto: Fundação de Serralves, 2006, p. 12. Cabe ressaltar que o único artista brasileiro participante dessa exposição foi Tunga (1952-). 13 da profusão de feiras de arte, bienais e grandes exposições coletivas). Desse modo, “os anos 80 são particularmente privilegiados, uma vez que anunciam uma significativa viragem no curso da história”, vindo inquestionavelmente a “pôr em questão a validade predominante das constelações políticas, sociais e culturais do ‘Ocidente’.”13 Propondo- se a considerar as obras não como documentos históricos, mas “realidades que atravessam a história”, Loock acreditava, então, que a “apropriação” poderia ser vista como uma das características mais marcantes da década, por esta prática “ter encontrado formas de recuperar a imagem depois da anterior ‘viragem linguística’ da arte conceitual”, reconhecendo ser esse o “contributo mais importante dos artistas da geração (americana) ‘Pictures’.”14 Por fim, nos anos de 2008 e 2009, em Grenoble, França, desenvolveu-se a quarta proposição revisionista, através da realização de duas exposições (acompanhadas de dois catálogos, contendo uma representativa antologia crítica da década de 1980), intituladas Espèces d’Espace: Les Années 1980 [Espécies de Espaço: Os Anos 1980] e Images et (Re)Présentations: Les Années 1980 [Imagens e (Re)Presentações: Os Anos 1980], ambas tendo Yves Aupetitallot (1955-) como curador (ver Anexos II). Recusando, assim como suas antecessoras, uma concepção curatorial que tivesse por origem uma seleção de artistas e obras a partir de critérios de excelência e representatividade atribuídos pelo mercado de arte e pelas instituições, ou mesmo, por outro lado, a preocupação de “resgatar” artistas ignorados ou rejeitados pela história, Aupetitallot optou por uma “pesquisa que encontrasse as raízes nas questões teóricas da 13 “A história não é um espaço fechado sujeito ao presente como seu antecedente. Antes encontramos na história obras e momentos que superam distâncias temporais para alcançar o nosso próprio tempo e que desse tempo retiram o seu real significado. ‘Contemporâneo’ não é, então, tudo aquilo que ocorre no nosso próprio tempo, mas antes aquilo que faz sentido no nosso tempo. Trata-se de alcançar um presente no nosso próprio tempo.” Ibid., p. 11. [Grifo nosso] 14 “A imagem na arte dos anos 80 já não é a imagem contra a qual a arte minimal e conceitual se insurgiu. Não é a imagem da representação. É reprodução (de novo o que já está aí) ou reorganização (tudo menos o que já está aí). Ao recusar a representação, ao reclamar a realidade, duas distantes concepções artísticas encontram-se.” Ibid., p. 14. Ulrich Loock assumia, desse modo, uma posição claramente “americanista”, em concordância com os argumentos dos críticos ligados à October, como já ressaltado. 14 época e que pudesse permitir tornar inelegível o conjunto considerado”15, chegando, enfim, a duas temáticas principais: as relações entre espaço público e espaço privado ou comunitário e as questões referentes a imagens e representações. Il. 8 e Il. 9 – Capas dos catálogos Espèces d’Espace: Les Années 1980 e Images et (Re)Présentations: Les Années 1980 Durante a década de 1980, frente ao discurso pós-modernista e ao proeminente “fim das narrativas”, muitos artistas esforçaram-se em enfatizar a necessidade de reativação da esfera pública, reduzida ao privado e ao doméstico. Para Aupetitallot, há no período uma modificação, ou mesmo uma exaustão, da dialética entre ‘público’ e ‘privado’, uma vez que a década é marcada pela emergência de um espaço midiático onipresente, que conduziria à aparição e ascensão da internet. Em decorrência, graças ao fluxo contínuo de imagens e representações investidas num crescente processo generalizado de espetacularização da sociedade, surgiria um “terceiro espaço”, estimulando o deslocamento dos limites formais e perceptuais da produção artística em direção a uma afiliação mais próxima da indústria cultural e dos chamados ‘novos 15 AUPETITALLOT, Yves. Avant-propos. In: AUPETITALLOT, Yves (ed.). Espèces d’espace: les années 1980, première partie. Grenoble: Magasin, Les presses du réel, 2008, p. 9. Tradução livre, a partir do original em língua francesa. Ver também: Id. Images et (re)présentations: les années 1980, seconde partie. Grenoble: Magasin, Les presses du réel, 2009. 15 media’. As imagens são então ‘confiscadas’ e submetidas a modos e ferramentas de produção diversificadas, o que reforçaria a ideia da “apropriação” como a mais importante prática artística do período, uma vez que essas imagens midiatizadas passavam a ser reproduzidas, copiadas, transformadas, simuladas, mediante a recorrência a procedimentos comuns às vanguardas históricas, como a colagem, a fotomontagem, a assemblagem, etc. A abordagem francesa, desse modo, ao considerar textos de época (e discursos neles contidos) como parâmetro investigativo, veio sintetizar, afinal, as principais questões temáticas da década de 1980. Junto às outras três iniciativas anteriores, constituiu um corpus representativo para o entendimento mais amplo da arte daquele período, nas suas mais variadas dimensões (crítica, estética, institucional, política, social, filosófica, histórica, etc.). Em relação às (re)avaliações da arte brasileira dos anos 1980 ocorridas na última década, por sua vez, ressaltam-se três propostas principais: a exposição 2080, sob curadoria de Felipe Chaimovich (1968-), realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2003, mesmo ano da edição especial de Artforum (ver Anexos II); Onde Está Você, Geração 80?, sob curadoria de Marcus de Lontra Costa (1954-), ocorrida no ano seguinte, no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (ver Anexos II); e, em 2007, a mostra 80/90, Modernos, Pós-modernos, Etc., sob curadoria de Agnaldo Farias (1955-), no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, a partir do ciclo de exposições ‘Meio Século de Arte Brasileira’ (ver Anexos II). Il. 10 e Il. 11 – Capa do catálogo 2080 e Vista com a referência curatorial às quatro exposições históricas da década de 1980 16 Ao mesmo tempo em que propunha estabelecer um olhar retrospectivo para a década de 1980, o curador de 2080 tinha como objetivo organizar uma ação conjunta com o setor educativo do museu, argumentando que a mostra deveria, por natureza, ser “democrática” (era o ano em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumia seu primeiro mandado), isto é, voltar-se para um público socialmente heterogêneo (retomando o discurso de que a arte brasileira dos anos 1980 estava atrelada à noção de democracia, devido à reabertura política ocorrida naquele momento). Assim, desde a sua concepção, a mostra apresentou um caráter didático que concorria com a própria iniciativa de avaliação do período. Na pesquisa que realizou, Felipe Chaimovich procurou logo de início compreender o sentido do termo ‘Geração 80’, para, a partir dele, definir uma abordagem historiográfica para a década, o que o levou a considerar como paradigma curatorial a importância de quatro exposições históricas: Pintura Como Meio (São Paulo, 1983), Como Vai Você, Geração 80? (Rio de Janeiro, 1984), Grande Tela (São Paulo, 1985) e Imagens de Segunda Geração (São Paulo, 1987). A partir do cruzamento das principais questões suscitadas e do levantamento dos artistas brasileiros que participaram das mesmas (reforçando o papel desempenhado pelas mostras coletivas na divulgação de tendências e no desenvolvimento de abordagens teóricas), o curador evidenciou a compreensão de Geração 80 como um termo que designa uma agenda de questões num debate amplo: nacionalidade federativa brasileira versus globalização no Fim da Guerra Fria, inclusão de todas as mídias e estilos experimentais na categoria de arte contemporânea, exercício programático da pintura contra qualquer tipo de exclusão.16 Por ter sido uma mostra ‘encomendada’ pelo MAM-SP, a seleção de obras pretendeu explicitar a representação da história da arte em coleções consagradas, entre elas a do próprio museu paulistano e a Coleção Gilberto Chateaubriand, em comodato no MAM-RJ, o que, em última instância, objetivava demonstrar a importância das coleções “públicas” para a produção da história da arte nacional.17 Entendendo que “a 16 CHAIMOVICH, Felipe (cur.). 2080. São Paulo: Museu de Arte Moderna, 2003, p. 12. 17 Segundo o curador, “o modelo de ‘Geração 80’ baseado nas quatro coletivas mostrou-se coerente com as aquisições de arte brasileira dos anos 80 em duas coleções de reconhecido mérito. Corresponde à imagem pública representada por ambos museus.” Complementaria ainda que “a seleção de ‘2080’ é democrática no sentido de evidenciar a imagem de ‘Geração 80’ formada por instituições 17 exibição pública de patrimônios artísticos reflete os poderes políticos a que os museus servem”, Chaimovich afirmava, sem de fato problematizar tal consideração, que o curador “deve auxiliar o público a buscar em sua história os termos de comparação para a experiência da arte como continuidade e ruptura.”18 O número de críticas endereçadas a esses critérios, à falta de qualidade estética de muitos dos trabalhos expostos (em detrimento de outros, em posse de “colecionadores particulares”), à reprodução de discursos de época (reforçando certas abordagens históricas), contribuiu para que 2080 reabilitasse no Brasil o debate público acerca do contexto e da arte produzida nos anos 1980. A realização de uma mesa-redonda, com artistas e curadores atuantes na década, pareceu ter sido uma tentativa de conferir outro status à exposição. Rebatendo as críticas endereçadas à curadoria, Marcus de Lontra Costa argumentaria que A década de 80 foi perdida para quem não soube viver. (...) foi uma época em que o país começou a se redescobrir. Foi uma luta intensa de reconquista democrática. Havia um certo romantismo, uma certa expectativa de que passado o grande pai repressor da ditadura, o país fosse maravilhoso. Aprendemos que não é. Existia um pai repressor e esse pai impedia que víssemos nossos próprios defeitos. Nesse sentido, a década de 80 foi uma década de consciência brasileira. Aprendemos o que não é, aprendemos com nossos erros. Demoramos três eleições para perdermos o medo. Tivemos fracassos e decepções com a classe política. (...) Na questão das artes plásticas, há uma terrível má vontade com o estabelecimento teórico, dito supostamente vanguarda, dos anos 80. Li algumas vezes que o discurso dos anos 80 não é legitimado, não é competente. O discurso é produzido por uma crítica. O que acontece é que talvez a produção dos anos 80 não estivesse interessada naquele discurso legitimado. Estaria interessada em outro tipo de discurso, que hoje ainda acho válido.19 consagradas.” Ibid., pp. 13 e 14. [Grifos nossos]. Essa relação entre “arte dos anos 1980” e institucionalização de discursos críticos é uma das principais problemáticas da mostra 2080. 18 “A curadoria de uma exposição coletiva numa instituição oficial da cultura transforma um conjunto selecionado de obras de arte em representação de uma época”, assim como “a aquisição de acervos públicos permanentes cria parâmetros interpretativos sobre o valor do passado.” Ibid., pp. 10 e 15. [Grifos nossos] 19 COSTA, Marcus de Lontra. Transcrição da fala realizada em 13 de março de 2003. CHAIMOVICH, Felipe (mediador); ÁQUILA, Luiz; COSTA, Marcus de Lontra; ROMAGNOLO, Sergio; CHIARELLI, Tadeu. In: 2080 [mesa-redonda]. Publicação complementar ao catálogo. São Paulo: Museu de Arte Moderna, 2003, p. 5. Esse debate também pareceu reforçar certa visão da arte da década de 1980, a partir da escolha dos integrantes da mesa-redonda. 18 Embora os critérios metodológicos adotados pelo curador e pela instituição fossem foco principal das críticas a que menciona Marcus de Lontra Costa, questões pertinentes à abordagem historiográfica do período, como a levantada pela crítica Lisette Lagnado (1961-) – “Como historicizar o passado recente, sobretudo quando o período escolhido careceu de uma sólida elaboração teórica?”20 – procuravam redimensionar a discussão, aproximando-a do enfoque dado nos debates internacionais. É fato que muitas críticas assumiam uma clara aversão ao período, condenando o sucesso ocasional, assim como a suposta falta de qualidade estética daquela produção: Hoje, 20 anos depois daquela primeira exposição-exaltação, o que restou é muito pouco, ainda mais se considerado relativamente. A maioria daqueles pintores então endeusados desapareceu, e sua pintura aparece nos livros como um capítulo de história, não como um exemplo de grande arte. As características de suas obras – grandes dimensões, pinceladas gestuais, colorido berrante – têm mais a ver com o espírito de época do que com a trajetória da técnica. E os poucos que restaram, que seguiram em busca de uma obra consistente (além de alguns como Leonilson, já morto), mudaram o estilo para uma clave bem mais contida e séria.21 Contudo, para o artista Ricardo Basbaum (1961-) o problema era outro, não só pelo fato da proposta não fazer “justiça à efervescência e diversidade do período”, mas também porque haveria uma persistente influência do mercado de arte na (re)afirmação de certos discursos de época, salientando que, agindo-se desse modo, Cai-se na armadilha de acreditar que a verdade da produção artística de um período da arte se dá através do mercado, como se o mercado, em suas decisões, fosse sempre um elemento referencial absoluto (argumento neoliberal que se faz presente na arte brasileira a partir dos anos 80, sobretudo, mas que, devido às condições locais de um 20 LAGNADO, Lisette. 2080: o futuro da História. Intuito educativo predomina em exposição do MAM-SP sobre a arte brasileira dos anos 80. In: Trópico [publicação eletrônica]. Disponível em: http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/1585,1.shl; 2080 [mesa-redonda]. Op. cit., p. 25. 21 “De qualquer forma, não há unidade na geração e o único modo de reavaliá-la é optando por corte de conteúdo. A história do surgimento dessa geração respondia muito mais às circunstâncias do que à estética. A Geração 80 foi um fenômeno do campo dos costumes, uma moda lançada por galeristas e professores vinculados ao Parque Lage no Rio e à Faap em São Paulo e amplificada por certa parcela da imprensa, naqueles anos em que os cadernos culturais dos grandes jornais tinham sido criados e procuraram ‘tendências’ para nomear em suas manchetes.” PIZA, Daniel. Depois da festa. Os (poucos) sobreviventes da Geração 80. In: Bravo!, n. 64, ano 6, janeiro 2003; 2080 [mesa-redonda]. Op. cit., p. 18. 19 capitalismo e uma economia de mercado bastante problemáticos, deve ser sempre relativizado).22 É esse debate ocasional – e a conversa “à boca pequena” – então, que parece de fato promover uma análise mais efetiva da década de 1980. Se a ênfase sobre aspectos como “retorno da pintura”, “prazer de pintar”, “retomada da democracia” persistiam em muitos desses discursos, a avaliação recorrente de que a maior parte dos jovens artistas que surgiram naquele momento desapareceram antes mesmo da década ter chegado ao fim pode ser vista como a provocação principal para as duas outras exposições ocorridas em 2004 e 2007. Il. 12 e Il. 13 – Capa do catálogo Onde Está Você, Geração 80? e Capa do material de apoio do Programa Educativo do CCBB-RJ 22 Do mesmo modo, Basbaum questionava a evidência de que a exposição 2080 “já nasce ‘discutida’ e comentada, quase que concluída, em forma de pacotão em revista de circulação nacional. Trata-se de uma estratégia de construção do evento, regularmente praticada, que deixa muito pouco espaço para pensá-lo, uma vez que, frente a tantas ‘potências da comunicação’ (patrocinador, museu, revista), a conversa que se quer mais intensa sobrevive apenas ‘à boca pequena’ entre aqueles que se posicionam como mais interessados no debate crítico, movimentação que não se expande com a mesma propulsão.” [comentário referente ao fato da revista Bravo! publicar um conjunto de análises, antes mesmo de a exposição ter sido inaugurada]. BASBAUM, Ricardo. “2080”: muito mercado e pouca arte. A exposição do Museu de Arte Moderna de SP não faz justiça aos trabalhos da Geração 80. In: Trópico [publicação eletrônica]. Disponível em: http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/1590,1.shl; 2080 [mesa-redonda]. Op. cit., pp. 27-28. 20 Exatos vinte anos após a inauguração do paradigmático evento ocorrido na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Marcus de Lontra Costa propôs-se a fazer o “resgate histórico de um movimento cultural”, a partir da realização de outra mostra de caráter explicitamente comemorativo, cujo título também era uma pergunta retórica: Onde Está Você, Geração 80?. Ao fazê-la, o curador pretendia ressaltar o argumento de que muitos dos jovens artistas participantes do evento realizado em 1984, com o passar das décadas, tornaram-se “presenças afirmativas”, representantes inquestionáveis no meio artístico contemporâneo brasileiro.23 Ao procurar validar a trajetória de um grupo de artistas, Lontra Costa pretendia, em última instância, também legitimar um discurso (que não era considerado por certos agentes do meio de arte como verdadeiro comentário crítico), tanto quanto validar sua própria capacidade de ter “apostado” nos artistas “certos”, promovendo, portanto, a ampla manutenção dos discursos da época. Dos anos 1980 para cá, praticamente pouco mudou na sua abordagem crítica do período, como fica explícito no trecho seguinte: Entre o barroco e a pop, entre o drama e a comédia, essa nova geração de artistas sonhava com a rua, com o sucesso popular: o Brasil era a fonte de inspiração e diálogo e se a influência dos movimentos artísticos internacionais do momento, como a transvanguarda italiana e o neoexpressionismo alemão, já se fizessem presente nas obras dos artistas brasileiros, a verdade é que aqui não se pintava a tradição e nas telas pintadas não transparecia em momento algum tensas relações entre o Eu e o Mundo. Pintava-se pelo prazer, com a suave inocência da infância, um pouco naif e prenhe de romantismo e coragem. O momento era de extroversão e era preciso ocupar as ruas, os espaços, “arte por toda parte”, festa do olhar. Para isso era necessário, antes de tudo, seduzir o espectador, envolvê-lo na realidade da arte, fazer-se entender. Em consonância com os tempos atuais, com a sociedade pós-industrial e pela regência da informação, os artistas incorporaram imagens do mass media e a elas aliam ícones da história da arte, numa espécie de citação histórica onde os aspectos de comunicabilidade da obra de arte são mais valorizados do que os seus valores essencialmente plásticos.24 23 Contudo, incluiu na mostra de 2004 artistas que faziam parte do coletivo Casa 7 – Carlito Carvalhosa (1961-), Fábio Miguez (1962-), Nuno Ramos (1960-), Paulo Monteiro (1961-) e Rodrigo Andrade (1962-) –, assim como o escultor Angelo Venosa (1954-), que não haviam participado originalmente do evento Como Vai Você, Geração 80?. 24 “Nas artes, perpassava um sentimento de liberdade, um desejo de ser feliz, de pintar a vida com cores fortes e vibrantes, valorizando o gesto, a ação. (...) um desejo de fazer da arte um local das emoções, um caldeirão borbulhante de odores, prazeres e sensações. Esse compromisso hedonista, essa ânsia de ser feliz vai encontrar suas raízes no desejo coletivo de ‘participar’, de integrar a coletividade democrática que se sonhava.” COSTA, Marcus de Lontra. Os anos 80: uma experiência brasileira. In: 21 Esse posicionamento acarretaria um número menor de críticas, se comparado ao conjunto de questões suscitadas por 2080, destacando-se a avaliação do crítico Luiz Camillo Osorio (1963-), ao afirmar “que há uma reincidência em enxergar aquele momento apenas sob a ótica da volta à pintura, e esta como mera reação a um suposto hermetismo da arte experimental”. Comentaria, então: Por que não mostrar artistas importantes que apareceram naquele
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