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DIREITO CIVIL DIREITO DE FAMÍLIA DIREITO PATRIMONIAL ALIMENTOS A palavra alimento vem do latim alimentum, “que significa sustento, ali- mento, manutenção, subsistência, do verbo alo, is, ui, itum, ere (alimentar, nutrir, desenvolver, aumentar, animar, fomentar, manter, sustentar, favore- cer, tratar bem)” (AZEVEDO, Álvaro Villaça. Curso..., 2013, p. 304). Nesse contexto, os chamados alimentos familiares representam uma das principais efetivações do princípio da solidariedade nas relações sociais, sendo essa a própria concepção da categoria jurídica. 1) Conceito – é a prestação fornecida a uma pessoa, em dinheiro ou em es- pécie, para que possa atender às necessidades da vida, tais como, alimenta- ção, vestuário, habitação, tratamento médico, diversões, e , se for menor de idade, o valor necessário para sua instrução e educação, e ainda as parcelas despendidas com sepultamento, por parentes legalmente responsáveis pelos alimentos. 2) Pressupostos a) existência de companheirismo, vínculo de parentesco (ascendentes, des- cendentes maiores, irmãos (colaterais de 2º grau, germanos ou unilaterais) ou conjugal entre alimentando e alimentante). A legislação que regula a união estável deve ser interpretada de forma expansiva e igualitária, permitindo que as uniões homoafetivas tenham o mesmo regime jurídico protetivo conferido aos casais heterossexuais, trazendo efetividade e concreção aos princípios da dignidade da pessoa humana, da não discriminação, igualdade, liberdade, solidariedade, autodeterminação, proteção das minorias, busca da felicidade e ao direito 2 fundamental e personalíssimo à orientação sexual. (...). O direito a alimentos do companheiro que se encontra em situação precária e de vulnerabilidade assegura a máxima efetividade do interesse prevalente, a saber, o mínimo existencial, com a preservação da dignidade do indivíduo, conferindo a satisfação de necessidade humana básica. O projeto de vida advindo do afeto, nutrido pelo amor, solidariedade, companheirismo, sobeja obviamente no amparo material dos componentes da união, até porque os alimentos não podem ser negados a pretexto de uma preferência sexual diversa. No caso ora em julgamento, a cautelar de alimentos provisionais, com apoio em ação principal de reconhecimento e dissolução de união estável homoafetiva, foi extinta ao entendimento da impossibilidade jurídica do pedido, uma vez que „não há obrigação legal de um sócio prestar alimentos ao outro‟. Ocorre que uma relação homoafetiva rompida pode dar azo ao pensionamento alimentar e, por conseguinte, cabível, em processo autônomo, que o necessitado requeira sua concessão cautelar com a finalidade de prover os meios necessários ao seu sustento durante a pendência da lide” (STJ, REsp 1.302.467/SP, 4.ª Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 03.03.2015, DJe 25.03.2015). “Direito civil. Família. Recurso especial. Ação de alimentos ajuizada pelos sobrinhos menores, representados pela mãe, em face das tias idosas. Conforme se extrai da descrição dos fatos conferida pelo Tribunal de origem, que não pode ser modificada em sede de recurso especial, o pai sempre enfrentou problemas com alcoolismo, mostrando-se agressivo com a mulher e incapaz de fazer frente às despesas com a família, o que despertou nas tias o sentimento de auxiliar no sustento dos sobrinhos. Quanto à mãe, consta apenas que é do lar e, até então, não trabalhava. Se as tias paternas, pessoas idosas, sensibilizadas com a situação dos sobrinhos, buscaram alcançar, de alguma forma, condições melhores para sustento da 3 família, mesmo depois da separação do casal, tal ato de caridade, de solidariedade humana, não deve ser transmutado em obrigação decorrente de vínculo familiar, notadamente em se tratando de alimentos decorrentes de parentesco, quando a interpretação majoritária da lei tem sido no sentido de que tios não devem ser compelidos a prestar alimentos aos sobrinhos. A manutenção do entendimento firmado, neste Tribunal, que nega o pedido de alimentos formulado contra tios deve, a princípio, permanecer, considerada a cautela que não pode deixar jamais de acompanhar o Juiz em decisões como a dos autos, porquanto os processos circunscritos ao âmbito do Direito de Família batem às portas do Judiciário povoados de singularidades, de matizes irrepetíveis, que absorvem o Julgador de tal forma, a ponto de uma jurisprudência formada em sentido equivocado ter o condão de afetar de forma indelével um sem número de causas similares com particularidades diversas, cujos desdobramentos poderão inculcar nas almas envolvidas cicatrizes irremediáveis. Condição peculiar reveste este processo ao tratar de crianças e adolescentes de um lado e, de outro, de pessoas idosas, duas categorias tuteladas pelos respectivos estatutos protetivos – Estatuto da Criança e do Adolescente, e Estatuto do Idoso, ambos concebidos em sintonia com as linhas mestras da Constituição Federal. Na hipótese em julgamento, o que se verifica ao longo do relato que envolve as partes é a voluntariedade das tias de prestar alimentos aos sobrinhos, para suprir omissão de quem deveria prestá-los, na acepção de um dever moral, porquanto não previsto em lei. Trata-se, pois, de um ato de caridade, de mera liberalidade, sem direito de ação para sua exigibilidade. O único efeito que daí decorre, em relação aos sobrinhos, é o de que, prestados os alimentos, ainda que no cumprimento de uma obrigação natural nascida de laços de solidariedade, não são eles repetíveis, isto é, não terão as tias qualquer direito de serem ressarcidas das parcelas já pagas. 4 Recurso especial provido” (STJ, REsp 1.032.846/RS, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18.12.2008, DJe 16.06.2009). Entretanto, a respeito da afinidade na linha reta descendente, há uma tendência de se reconhecer alimentos, notadamente na relação entre padrasto ou madrasta e enteado ou enteada, caso exista vínculo socioafetivo entre eles. Isso porque entrou em vigor no Brasil a Lei 11.924/2009, que possibilita que a enteada ou o enteado utilize o sobrenome do padrasto ou madrasta, desde que exista justo motivo para tanto (art. 57, § 8.º, da Lei 6.015/1973). Ora, parece insuficiente pensar que o vínculo estabelecido entre tais pessoas será apenas para os fins de uso do nome, principalmente em tempos de valorização da socioafetividade, presente muitas vezes em tais relacionamentos. Desse modo, a tendência, é de se reconhecer dever de alimentos nessas relações, se houver a posse de estado de filhos, valorizando-se o princípio jurídico da afetividade. Alguns poucos julgados trazem tal debate, podendo ser colacionado o seguinte, que reconhece tal direito: “Agravo de instrumento. Ação de reconhecimento e dissolução de união estável c/c alimentos. Decisão que fixou o dever alimentar à ex- companheira e à enteada. Decisão extra petita. Tese rechaçada. Legitimidade ativa da genitora para requerer alimentos em prol da filha menor, ainda que esta não conste como parte no processo. Mera irregularidade processual. Nulidade afastada. A legitimidade ativa da genitora em pleitear alimentos, enquanto guardiã da menor, advém do próprio exercício do poder familiar e do dever de sustento e educação à descendente. Assim, o deferimento de alimentos em favor de menor quando requeridos por sua mãe, ainda que não seja parte do processo, não retrata decisão extra petita, representando simples irregularidade processual. União estável. Configuração demonstrada em cognição 5 sumária. Coabitação, dependência financeira e intenção de constituir família evidenciadas. Exegese dos arts. 1.694 e 1.724 do Código Civil. Necessidade comprovada. Binômio necessidade x possibilidade. Ainda que em sede de cognição sumária, comprovada a existência de união estável entre as partes, devem ser fixados alimentos provisóriosem prol da ex- companheira quando cabalmente demonstrada a sua necessidade, principalmente até a sua completa reinserção no mercado de trabalho, para que possibilite sua subsistência. Alimentos à enteada. Possibilidade. Vínculo socioafetivo demonstrado. Parentesco por afinidade. Forte dependência financeira observada. Quantum arbitrado compatível com as necessidades e as possibilidades das partes. Comprovado o vínculo socioafetivo e a forte dependência financeira entre padrasto e a menor, impõe-se a fixação de alimentos em prol do dever contido no art. 1.694 do Código Civil. Demonstrada a compatibilidade do montante arbitrado com a necessidade das alimentadas e a possibilidade do alimentante, em especial os sinais exteriores de riqueza em razão do elevado padrão de vida deste, não há que se falar em minoração da verba alimentar. Decisão mantida. Recurso improvido” (TJSC, Agravo de Instrumento 2012.073740-3, 2.ª Câmara de Direito Civil, São José, Rel. Des. João Batista Góes Ulysséa, j. 18.02.2013, DJSC 22.02.2013, p. 106). b) necessidade do alimentário. (não possui bens, inválido, doente, velho etc.) c) possibilidade do alimentante. (tem que ter o suficiente para seu sustento) d) proporcionalidade, entre as necessidades do alimentário e os recursos econômicos do alimentante. (cada caso) Em julgado paradigmático, o Superior Tribunal de Justiça analisou os alimentos a partir dessa perspectiva social, merecendo destaque o seguinte trecho da decisão da Ministra Fátima Nancy Andrighi: 6 “No que toca à genérica disposição legal contida no art. 1.694, caput, do CC/2002, referente à compatibilidade dos alimentos prestados com a condição social do alimentado, é de todo inconcebível que ex-cônjuge, que pleiteie alimentos, exija-os com base no simplista cálculo aritmético que importe no rateio proporcional da renda integral da desfeita família; isto porque a condição social deve ser analisada à luz de padrões mais amplos, emergindo, mediante inevitável correlação com a divisão social em classes, critério que, conquanto impreciso, ao menos aponte norte ao julgador que deverá, a partir desses valores e das particularidades de cada processo, reconhecer ou não a necessidade dos alimentos pleiteados e, se for o caso, arbitrá-los. Por restar fixado pelo Tribunal Estadual, de forma induvidosa, que a alimentanda não apenas apresenta plenas condições de inserção no mercado de trabalho como também efetivamente exerce atividade laboral, e mais, caracterizada essa atividade como potencialmente apta a mantê-la com o mesmo status social que anteriormente gozava, ou ainda alavancá-la a patamares superiores, deve ser julgado procedente o pedido de exoneração deduzido pelo alimentante em sede de reconvenção e, por consequência, improcedente o pedido de revisão de alimentos formulado pela então alimentada. Recurso especial conhecido e provido” (STJ, REsp 933.355/SP, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 25.03.2008, DJ 11.04.2008, p. 1). Tal decisão inaugurou, naquele Tribunal, a conclusão segundo a qual os alimentos entre os cônjuges têm caráter excepcional, pois aquele que tem condições laborais deve buscar o seu sustento pelo esforço próprio. O caso ficou conhecido como psicóloga dos Jardins, sendo certo que uma ex-mulher recebia pensão do ex-marido por longos vintes anos, sendo o último valor pago de R$ 6.000,00. Ingressou ela em juízo para pleitear o aumento do valor, sustentando a falta de condições para manter o padrão de vida anterior com os rendimentos do seu trabalho. Almejava dobrar o valor 7 da pensão alimentícia, sob a alegação de que não vinha mais aceitando convites para eventos sociais, que teve de dispensar seu caseiro, que não mais trocava de carro com a frequência anterior e que não viajava para o exterior anualmente. Além da contestação, o ex-marido apresentou reconvenção, sob a premissa de que a ex--mulher tinha condições de sustento próprio, notadamente por suas atividades como psicóloga em clínica própria e como professora universitária, bem como pela locação de dois imóveis de sua propriedade. Após os trâmites no Tribunal Paulista, a Corte Estadual aumentou o valor da pensão para R$ 10.000,00, incidindo a ideia de manutenção do padrão social. Porém, de forma correta, a Ministra Nancy Andrighi acolheu o pleito de exoneração do ex-marido, julgando que, “não existindo nenhum tipo de dúvida quanto à capacidade da recorrida de prover, nos exatos termos do art. 1.695 do CC/02, sua própria mantença, impende, ainda, traçar considerações relativas ao teor do disposto no art. 1.694 do CC/02, do qual se extrai que os alimentos prestados devem garantir modo de vida „compatível com a sua condição social‟. A genérica disposição legal não pode ser entendida como parâmetro objetivo, mesmo porque seria virtualmente impossível o estabelecimento da exata condição socioeconômica anterior, para posterior reprodução por meio de alimentos prestados pelo ex-cônjuge devedor de alimentos. O conceito deve ser interpretado com temperança, fixando-se a condição social anterior dentro de patamares razoáveis, que permitam acomodar as variações próprias das escolhas profissionais, dedicação ao trabalho, tempo de atividade entre outras variáveis”. A votação foi unânime, na linha da justa relatoria. Outras decisões da Corte e de Tribunais Estaduais passaram a seguir tal correto entendimento, consentâneo com a plena inserção da mulher no mercado de trabalho e com o afastamento de alimentos com caráter parasitário. 8 Também com base no trinômio alimentar, recente acórdão do Superior Tribunal de Justiça considerou que os alimentos podem ser fixados de forma diferente com relação aos filhos, caso eles estejam em situação econômica discrepante, sem que isso represente violação ou desrespeito ao princípio da igualdade, previsto no art. 227, § 6.º, da CF/1988 e no art. 1.596 do CC/2002. Vejamos trecho dessa importante ementa: “Do princípio da igualdade entre os filhos, previsto no art. 227, § 6.º, da Constituição Federal, deduz-se que não deverá haver, em regra, diferença no valor ou no percentual dos alimentos destinados à prole, pois se presume que, em tese, os filhos – indistintamente – possuem as mesmas demandas vitais, tenham as mesmas condições dignas de sobrevivência e igual acesso às necessidades mais elementares da pessoa humana. A igualdade entre os filhos, todavia, não tem natureza absoluta e inflexível, devendo, de acordo com a concepção aristotélica de isonomia e justiça, tratar-se igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades, de modo que é admissível a fixação de alimentos em valor ou percentual distinto entre os filhos se demonstrada a existência de necessidades diferenciadas entre eles ou, ainda, de capacidades contributivas diferenciadas dos genitores. Na hipótese, tendo sido apurado que havia maior capacidade contributiva de uma das genitoras em relação a outra, é justificável que se estabeleçam percentuais diferenciados de alimentos entre os filhos, especialmente porque é dever de ambos os cônjuges contribuir para a manutenção dos filhos na proporção de seus recursos” (STJ, REsp 1.624.050/MG, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 19.06.2018, DJe 22.06.2018). Com relação à possibilidade de quem paga os alimentos, esclareça-se que na VI Jornada de Direito Civil foi aprovado o Enunciado n. 573, prescrevendo que “na apuração da possibilidade do alimentante, observar- se-ão os sinais exteriores de riqueza”. 9 Esses sinais exteriores de riqueza, geralmente, são colhidos em redes sociais na internet, caso do Facebook e do Instagram, servindo a ata notarial para demonstrar os fatos correlatos. Como é notório, o CPC/2015 tratou especificamente desse documento, estabelecendo o seu art. 384 que “a existência e o modo de existir de algum fato podemser atestados ou documentados, a requerimento do interessado, mediante ata lavrada por tabelião. Parágrafo único. Dados representados por imagem ou som gravados em arquivos eletrônicos poderão constar da ata notarial”. Essa previsão expressa deve incrementar o seu uso nos próximos anos, especialmente nas demandas de Direito de Família. Cumpre destacar que a jurisprudência também já tem admitido provas extraídas de sites de relacionamentos e de redes sociais, como se retira do seguinte aresto, dentre muitos que poderiam ser trazidos à colação: “Agravo de instrumento. Ação de alimentos. Elevação. Adolescente com treze anos de idade. Necessidades presumidas. Agravado que demonstra sinais exteriores de riqueza condizentes com a fixação de um salário mínimo para o dever alimentar. Afinal de contas, em redes sociais ele mesmo intitula-se sócio-proprietário de imobiliária, além de ser proprietário de dois veículos automotores. Parecer pelo improvimento. Agravo provido. Unânime” (TJRS, Agravo de Instrumento 0116433- 24.2016.8.21.7000, 8.ª Câmara Cível, Gravataí, Rel. Des. Ivan Leomar Bruxel, j. 08.09.2016, DJERS 13.09.2016). “Agravo de instrumento. Alimentos provisórios. Liminares. Majoração. Indeferimento. Caso de alguma prova de sinal exterior de riqueza exibido pelo alimentante em rede social que deve ser considerada. Alimentos liminares majorados para meio salário mínimo. Deram parcial provimento” (TJRS, Agravo de Instrumento 210386-13.2014.8.21.7000, 8.ª Câmara Cível, Capão da Canoa, Rel. Des. Rui Portanova, j. 21.08.2014, DJERS 26.08.2014). 10 Portanto a tem que obedecer ao trinômio, possibilidade, necessidade e pro- porcionalidade. “Elucidando no campo prático, vejamos uma pequena história, geralmente utilizada em minhas aulas e palestras, para demonstrar que esse montante de um terço dos rendimentos do alimentando não é fixo, muito menos obrigatório. Imagine-se um caso em que um cantor sertanejo está fazendo shows por todo o Brasil. Certo final de semana esse cantor vai até uma cidade do interior mineiro para uma apresentação e conhece uma fã muito bonita. Apaixonam-se por um instante e têm um relacionamento sexual sem as devidas proteções. Uma aventura... No caso descrito a fã engravida. Nove meses depois do nascimento da criança e após a realização de um exame de DNA em laboratório privado o cantor reconhece o filho como seu, no cartório de Registro das Pessoas Naturais, no momento do nascimento. Entretanto, por um descuido de seus empresários, o pai não vem pagando os alimentos pactuados livremente, em acordo entre as partes, o que motiva a propositura de ação de alimentos com base na Lei 5.478/1968. Para ilustrar, esse cantor tem um ganho mensal de cerca de R$ 240.000,00 reais e gasta cerca de R$ 5.000,00 mensais com a manutenção de um filho, havido de outra aventura, e que reside na Capital de São Paulo, cidade onde os gastos são maiores. Surge então a pergunta: qual o valor dos alimentos definitivos a ser fixado nessa ação proposta pelo filho que reside no interior? Logicamente, deve ser afastado de imediato o montante correspondente a um terço do salário do alimentante (R$ 80.000,00), o que é demais para manter essa criança, ainda mais em uma pequena cidade do interior mineiro. Essa fixação conduz ao enriquecimento sem causa do interessado, sendo, portanto, inadmissível, pela vedação constante do art. 884 do CC. 11 Alguns poderiam defender a fixação em R$ 5.000,00, assim como recebe o outro filho da Capital de São Paulo, diante da igualdade entre filhos constante do art. 227, § 6.º, da CF/1988 e do art. 1.596 do CC. Para afastar essa tese, atente-se que os dois filhos, no que tange à especial situação de necessidade alimentar, não estão em situação de igualdade estrita, pois residem em locais diversos, onde os gastos mensais são totalmente diferentes. Como visto anteriormente, a possibilidade de se analisar a situação alimentar dos filhos de maneira diferente foi reconhecida por recente julgado superior (STJ, REsp 1.624.050/MG, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 19.06.2018, DJe 22.06.2018). Concluindo, imperioso entender que o valor deve ser fixado com razoabilidade, uma vez que o montante de R$ 2.000,00 ou de R$ 2.500,00 mensais pode até ser justo e razoável para manter esse filho, residente na pequena cidade do interior mineiro, com o mesmo padrão do outro que reside na Capital de São Paulo. Razoabilidade e proporcionalidade sempre devem estar presentes, portanto. Não se pode admitir, em hipótese alguma, que os alimentos sejam utilizados como punição. Muito ao contrário, não é esse o seu fundamento, mas sim a manutenção das pessoas que deles necessitam.” Direito Civil - Direito de Família - Vol. 5 - TARTUCE, Flávio 3) Características do direito à prestação a) personalíssimo – tutelar a integridade física do individuo b) transmissível – (art.1700) – herdeiros do alimentante terão a obrigação, quanto aos herdeiros do alimentário deverão requerer alimentos de quem seja obrigado a prestá-los c) incessível – em relação ao credor (1707) – as vincendas, as vencidas po- dem (dívidas). d) irrenunciável – (art. 1707) – pode deixar de exercer, mas não renunciar. 12 Apesar do choque doutrinário e jurisprudência, é forçoso concluir que, realmente, os alimentos são irrenunciáveis, pois o art. 1.707 está em sintonia com o art. 11 do CC/2002. Ora, os alimentos são inerentes à dignidade da pessoa humana, sendo o direito aos mesmos um verdadeiro direito da personalidade. “Tendo os conviventes estabelecido, no início da união estável, por escritura pública, a dispensa à assistência material mútua, a superveniência de moléstia grave na constância do relacionamento, reduzindo a capacidade laboral e comprometendo, ainda que temporariamente, a situação financeira de um deles, autoriza a fixação de alimentos após a dissolução da união. De início, cabe registrar que a presente situação é distinta daquelas tratadas em precedentes do STJ, nos quais a renúncia aos alimentos se deu ao término da relação conjugal. Naqueles casos, o entendimento aplicado foi no sentido de que, „após a homologação do divórcio, não pode o ex-cônjuge pleitear alimentos se deles desistiu expressamente por ocasião do acordo de separação consensual‟ (AgRg no Ag 1.044.922-SP, Quarta Turma, DJe 02.08.2010). No presente julgado, a hipótese é de prévia dispensa dos alimentos, firmada durante a união estável, ou seja, quando ainda existentes os laços conjugais que, por expressa previsão legal, impõem aos companheiros, reciprocamente, o dever de assistência. Observe-se que a assistência material mútua constitui tanto um direito como uma obrigação para os conviventes, conforme art. 2.º, II, da Lei 9.278/1996 e arts. 1.694 e 1.724 do CC. Essas disposições constituem normas de interesse público e, por isso, não admitem renúncia, nos termos do art. 1.707 do CC: „Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora‟. Nesse contexto, e não obstante considere-se válida e eficaz a renúncia manifestada por ocasião de acordo de separação judicial ou de 13 divórcio, nos termos da reiterada jurisprudência do STJ, não pode ela ser admitida na constância do vínculo familiar. Nesse sentido há entendimento doutrinário e, de igual, dispõe o Enunciado 263, aprovado na III Jornada de Direito Civil, segundo o qual: „O art. 1.707 do Código Civil não impede seja reconhecida válida e eficaz a renúncia manifestada por ocasião do divórcio (direto ou indireto) ou da dissolução da „união estável‟. A irrenunciabilidade do direito a alimentos somente é admitida enquanto subsista vínculo de Direito de Família‟. Com efeito, ante o princípio da irrenunciabilidade dos alimentos, decorrente do dever de mútua assistênciaexpressamente previsto nos dispositivos legais citados, não se pode ter como válida disposição que implique renúncia aos alimentos na constância da união, pois esses, como dito, são irrenunciáveis” (STJ, REsp 1.178.233/RJ, Rel. Min. Raul Araújo, j. 18.11.2014, DJe 09.12.2014). e) imprescritível – alimentário tem o direito de exigir a qualquer tempo, mas fixado prescreve em 2 anos (art.206§ 2º) f) impenhorável – mantença do necessitado (1707 e 648CPC) g) incompensável – priva-se o alimentário dos meios de sobrevivência. h) intransacionável – direito de pedir alimentos (art. 841), somente o quan- tum é transacionável. i) divisível. Ex. 4 filhos para o pai, cada 1 e responsável por ¼ (art. 1698 2ª parte); litisconsórcio (provocado pelo autor ou ulterior). Para o idoso é so- lidária, pode escolher (art. 12 EI). j) atual – visa satisfazer necessidades atuais e não passadas exceto por con- venção, testamento ou ato ilícito. k) irreversíveis – pagos não serão restituídos, por qualquer motivo que te- nha possibilitado a cessação. 4) Características da obrigação de prestar alimentos 14 a) condicionalidade – surge somente com a ocorrência dos pressupostos legais, faltando um deles cessa a obrigação. b) mutabilidade do valor – conforme se alterem os pressupostos (possibili- dadeXnecessidades). (art. 1699) c) reciprocidade – (arts. 1696 e 1697, 1698) 5) Classificação a) finalidade - Provisionais (concomitantes ou antes das ações de família) – tutela provisória, de urgência ou de evidência, entre os arts. 300 a 311 do CPC/2015. - Provisórios (art.4º Lei 5478) – início litis - Regulares ou definitivos– fixados por sentença judicial - Transitórios - reconhecidos pela jurisprudência do STJ, são aqueles fixa- dos por determinado período, a favor de ex-cônjuge ou ex-companheiro, para que volte ao mercado de trabalho, e fixando-se previamente o seu ter- mo final. Conforme se extrai de importante ementa daquele Tribunal Supe- rior, “a obrigação de prestar alimentos transitórios – a tempo certo – é ca- bível, em regra, quando o alimentando é pessoa com idade, condições e formação profissional compatíveis com uma provável inserção no mercado de trabalho, necessitando dos alimentos apenas até que atinja sua autono- mia financeira, momento em que se emancipará da tutela do alimentante – outrora provedor do lar –, que será então liberado da obrigação, a qual se extinguirá automaticamente” (STJ, REsp 1.025.769/MG, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 24.08.2010, DJe 01.09.2010, ver Informativo n. 444). b) natureza - Naturais estritamente o necessário (alimentos, vestuário) (1694 § 2º e 1704) 15 3 correntes: A primeira corrente sustenta a total impossibilidade de discussão de culpa para a dissolução do casamento, incluindo a questão de alimentos, estando revogados tacitamente os arts. 1.702 e 1.704, caput, do CC.). (IBDFAM) Para a segunda corrente, não há possibilidade de se discutir a culpa para a dissolução do casamento em sede de ação de divórcio. Todavia, a culpa pode ser debatida em sede de ação especial de alimentos, podendo os ali- mentos ser fixados nos parâmetros dos arts. 1.694, § 2.º e 1.704, caput e parágrafo único, do Código Civil. Assim, não haveria revogação de tais comandos legais. Por fim, a terceira corrente alega que em algumas situações, de maior gra- vidade, a culpa pode ser debatida em sede de ação de divórcio, inclusive para a análise da fixação dos alimentos necessários. Destaque-se que tais alimentos também podem ser pleiteados em ação autônoma, o que depende da opção processual dos requerentes. Do mesmo modo, não houve revoga- ção dos arts. 1.694, § 2.º, e 1.704, caput e parágrafo único, do Código Civil. Mantém-se um sistema dual, com e sem culpa, podendo esta ser mitigada em algumas situações. O art. 1.702 do CC somente terá aplicação aos sepa- rados judicialmente até a Emenda do Divórcio, eis que a separação jurídica foi banida do sistema; mesmo tendo sido reafirmada pelo CPC/2015. Pode- se até ler no dispositivo menção à ação de divórcio e não mais à separação judicial. - Civis (educação, instrução, assistência) c) quanto à causa jurídica - Voluntários (declaração de vontade inter vivos ou causa mortis) - Ressarcitórios – indenizar vítimas de ato ilícito (art.948 II) - Legítimos ou legais– imposto pela lei – art. s 1694, 1702 e 1704. - Direito de família só esses geram prisão. 16 - compensatórios - “uma prestação periódica em dinheiro, efetuada por um cônjuge em favor do outro na ocasião da separação ou do divórcio vincular, onde se produziu um desequilíbrio econômico em comparação com o estilo de vida experimentado durante a convivência matrimonial, compensando deste modo, a disparidade social e econômica com a qual se depara o alimentando em função da separação, comprometendo suas obrigações materiais, seu estilo de vida e a sua subsistência pessoal” Rolf Madaleno (Curso..., 2008, p. 725). A hipótese típica é de escolha pelas partes do regime de separação convencional de bens, em que não há a comunicação de qualquer bem. Finda a sociedade conjugal ou convivencial, é possível que um dos consortes pleiteie do outro uma verba extra, a título de alimentos compensatórios. “No caso dos autos, executa-se a verba correspondente aos frutos do patrimônio comum do casal a que a autora faz jus, enquanto aquele se encontra na posse exclusiva do ex-marido. Tal verba, nestes termos reconhecida, não decorre do dever de solidariedade entre os cônjuges ou da mútua assistência, mas sim do direito de meação, evitando-se, enquanto não efetivada a partilha, o enriquecimento indevido por parte daquele que detém a posse dos bens comuns. A definição, assim, de um valor ou percentual correspondente aos frutos do patrimônio comum do casal a que a autora faz jus, enquanto aquele encontra-se na posse exclusiva do ex- marido, tem, na verdade, o condão de ressarci-la ou de compensá-la pelo prejuízo presumido consistente na não imissão imediata nos bens afetos ao quinhão a que faz jus. Não há, assim, quando de seu reconhecimento, qualquer exame sobre o binômio „necessidade-possibilidade‟, na medida em que esta verba não se destina, ao menos imediatamente, à subsistência da autora, consistindo, na prática, numa antecipação da futura partilha. Levando-se em conta o caráter compensatório e/ou ressarcitório da verba 17 correspondente à parte dos frutos dos bens comuns, não se afigura possível que a respectiva execução se processe pelo meio coercitivo da prisão, restrita, é certo, à hipótese de inadimplemento de verba alimentar, destinada, efetivamente, à subsistência do alimentando” (STJ, RHC 28.853/RS, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. p/ Acórdão Min. Massami Uyeda, j. 01.12.2011, DJe 12.03.2012). - gravídicos (lei 11804/08) – art. 1º e 2º desnecessário e inaceitável neologismo, pois alimentos são fixados para uma pessoa e não para um estado biológico da mulher – desconhece que o titular do direito a alimentos é o nascituro, e não a mãe, partindo de premissa errada, o que repercute no teor da lei” (CHINELLATO, Silmara Juny. Código Civil..., 2009, p. 29). A ação de alimentos gravídicos não se extingue ou perde seu objeto com o nascimento da criança, pois os referidos alimentos ficam convertidos em pensão, até eventual ação revisional em que se solicite a exoneração, redu- ção ou majoração do valor dos alimentos; ou mesmo até quando se obtenha o resultado sobre o eventual vínculo que une as partes em ação de investi- gação ou negatória de paternidade (STJ, REsp 1.629.423/SP, publicado no seu Informativo n. 606). Fixação – art. 6º - 6) Extinção a) pela morte do alimentando. b) pelo desaparecimento de um dos pressupostos. c) art. 1708 d) Sumula 358 STJ – “O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisãojudicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.”
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