Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Direito Empresarial Autoria Isaac Rodrigues Cunha DIREITO EMPRESARIAL Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, total ou parcialmente, por quaisquer métodos ou processos, sejam eles eletrônicos, mecânicos, de cópia fotostática ou outros, sem a autorização escrita do possuidor da propriedade literária. Os pedidos para tal autorização, especificando a extensão do que se deseja reproduzir e o seu objetivo, deverão ser dirigidos à Reitoria. Reitor: Prof. Cláudio Ferreira Bastos Pró-reitor administrativo financeiro: Prof. Rafael Rabelo Bastos Pró-reitor de relações institucionais: Prof. Cláudio Rabelo Bastos Pró-reitor acadêmico: Prof. Valdir Alves de Godoy Coordenação Pedagógica: Profa. Maria Alice Duarte G. Soares Coordenação NEAD: Profa. Luciana R. Ramos Duarte Supervisão de produção NEAD: Francisco Cleuson do Nascimento Alves EXPEDIENTE Ficha técnica Autoria: Isaac Rodrigues Cunha Designer instrucional: Jasson Matias Pedrosa / João Paulo de Souza Projeto gráfico e diagramação: Francisco Cleuson do N. Alves Capa: Francisco Erbínio Alves Rodrigues Tratamento de imagens: Francisco Cleuson do N. Alves Revisão textual: Ana Carla Ponte FICHA CATALOGRÁFICA CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO BIBLIOTECA CENTRO UNIVERSITÁRIO ATENEU CUNHA, Isaac Rodrigues. Direito Empresarial. / Isaac Rodrigues Cunha – Fortaleza: Centro Universitário Ateneu, 2018. 128 p. ISBN: 978-85-64026-44-5 1. Direito Empresarial 2. Títulos de crédito 3. Direito industrial 4. Direito do consumidor Centro Universitário Ateneu. Seja bem-vindo! Prezado estudante, A presente obra propõe-se a norteá-lo e auxiliá-lo na aquisição de informa- ções das mais diversas no âmbito do Direito de Empresa, a fim de permear didati- camente suas atividades no Ambiente Virtual de Aprendizagem desenvolvido pela Faculdade Ateneu. Esforçamo-nos no sentido de disponibilizar um conteúdo rico e adequado às necessidades do curso de Ciências Contábeis, meio formador de pro- fissionais que diuturnamente vivenciam a dinâmica das atividades empresariais. A proposta consiste numa abordagem universal, porém seletiva, das ma- térias de Direito Empresarial, encimando, obviamente, assuntos que vão desde noções introdutórias da própria ciência jurídica às especificidades do Direito Fa- limentar e do Direito do Consumidor, todavia tratando com maior meticulosidade os assuntos mais ligados à prática contábil e apenas pincelando assuntos menos relevantes. Não se pretendeu, desde o início, dilapidar todas as nuances jurídicas dos temas ora elencados, no entanto, o presente material há de aparelhar perfei- tamente os seus estudos. Atendendo ao que consta no ementário pedagógico para a presente dis- ciplina, este material contém abordagens do Direito de Empresa, dos Títulos de Crédito, do Direito Falimentar, do Direito Industrial e do Direito do Consumidor, re- correndo, sempre que necessário, a noções essenciais da Teoria Geral do Direito e do Direito Constitucional, mas com a didática e o objetivismo de sempre. A obra divide-se, destarte, em quatro unidades. Para encerrar, como é comum o latinismo no estudo do Direito, que daqui a pouco será iniciado por você, remeto a Horácio, que dizia: “dimidium facti qui coepit habet: sapere aude” (“metade faz aquele que começa: ouse saber”). É com tal sentimento que iniciamos nossa disciplina de Direito Empresarial. Ouse saber. Bom estudo! Sumário UNIDADE 01 DIREITO EMPRESARIAL 1. INTRODUÇÃO AO DIREITO EMPRESARIAL ............................................................... 8 1.1. Conceito, objeto e princípios ...................................................................................... 12 1.2. Fontes do Direito Empresarial .................................................................................... 21 1.3. Empresário ................................................................................................................. 23 1.3.1. O conceito legal de empresário ............................................................................... 23 1.3.2. Atores econômicos não considerados empresários ................................................ 25 1.3.3. Empresário individual .............................................................................................. 28 1.3.4. Capacidade do empresário ..................................................................................... 30 1.3.5. Obrigações do empresário ...................................................................................... 33 1.3.6. Estabelecimento comercial e aviamento ................................................................ 40 1.3.7. Nome empresarial .................................................................................................. 44 1.3.8. Prepostos do empresário ....................................................................................... 46 1.3.9. A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) ............................... 50 Referências ....................................................................................................................... 53 UNIDADE 02 TÍTULOS DE CRÉDITO RECUPERAÇÕES E FALÊNCIAS 1. INTRODUÇÃO AOS TÍTULOS DE CRÉDITO .............................................................. 56 1.1. Breve histórico do Direito Cambiário .......................................................................... 58 1.2. Conceito, características e princípios dos títulos de crédito ....................................... 60 1.2.1. Cartularidade ........................................................................................................... 62 1.2.2. Literalidade .............................................................................................................. 64 1.2.3. Autonomia ............................................................................................................... 64 1.3. Classificações dos títulos de créditos ......................................................................... 65 1.3.1. Quanto à circulação ................................................................................................. 65 1.3.2. Quanto ao modelo ................................................................................................... 69 1.3.3. Quanto à estrutura ................................................................................................... 69 1.3.4. Quanto à hipótese de emissão ................................................................................ 70 2. TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE ......................................................................... 71 2.1. Letra de câmbio .......................................................................................................... 71 2.2. Nota promissória ........................................................................................................ 74 2.3. Cheque ....................................................................................................................... 77 2.4. Duplicata ..................................................................................................................... 82 2.5. Atos cambiários .......................................................................................................... 84 Referências ....................................................................................................................... 89 UNIDADE 03 DIREITO INDUSTRIAL 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 92 1.1. Direito de Propriedade Intelectual .............................................................................. 94 1.2. Direito de Propriedade Industrial .............................................................................. 102 1.3. Histórico do Direito Industrial .................................................................................... 103 1.4. Evoluçãolegislativa brasileira em matéria de propriedade industrial ....................... 105 2. ASPECTOS PRÁTICOS DO DIREITO DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL ................ 107 2.1. A Lei nº 9.279/96 – Lei de Propriedade Industrial .................................................... 107 2.2. Funcionamento do Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI ................... 109 Referências ..................................................................................................................... 112 UNIDADE 04 DIREITO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO 1. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO DO CONSUMIDOR ........................................... 116 1.1. Fundamentos constitucionais da defesa do consumidor .......................................... 116 1.2. A relação jurídica de consumo ................................................................................. 119 1.3. Princípios do Direito do Consumidor ........................................................................ 122 Referências ..................................................................................................................... 125 Direito Empresarial Apresentação O Direto Empresarial é disciplina dinâmica por excelência. A energia das práticas comerciais, que se modificam e se adaptam às necessidades humanas diuturnamente, imprime a este ramo do direito certa prolixidade, de tão diversos os conceitos e institutos que o compõem. À primeira vista, isso tende a desalentar o estudo do Direito de Empresa pelos alunos, o que pode, todavia, ser evitado por meio de uma abordagem mais prática e mais voltada à realidade profissional – no nosso caso, à praxe contabilista. Nesta unidade, serão estudados os principais institutos do Direito de Empresa, seus aspectos introdutórios e históricos, pautando sempre a evolução legislativa sobre a matéria, sobretudo no que concerne à relevância conferida pela Constituição Federal de 1988 à livre iniciativa. Veremos quais as fontes do Direito Empresarial, o conceito legal de empresário fornecido pelo Código Civil e os principais tipos de sociedades empresárias e operações societárias. Dedicaremos, também, algumas linhas ao polêmico debate acerca da desconsideração da personalidade jurídica, tema que será novamente abordado quando estivermos estudando o Direito do Consumidor. Em seguida, trazemos alguns aspectos práticos da atividade empresarial, notadamente no que concerne ao estabelecimento empresarial, ao registro das sociedades empresariais e a dinâmica das Juntas Comerciais, ao nome empresarial, aos prepostos e à escrituração mercantil, destacando o papel do contabilista. Você poderá acompanhar o estudo desta unidade pela leitura do Livro II da Parte Especial do Código Civil, que trata do Direito de Empresa, do art. 966 ao art. 1.195. Bom estudo! Uni 8 DIREITO EMPRESARIAL Objetivos de aprendizagem • Conhecer as origens e a evolução legislativa do Direito Empresarial no Brasil; • Identificar as principais fontes do Direito de Empresa no ordenamento jurídico brasileiro; • Analisar os conceitos legais de empresário, empresa individual e sociedade empresária; • Identificar os principais tipos de sociedades empresárias reconhecidas pelo Código Civil; • Abordar aspectos da prática empresarial, sobretudo na atividade contabilista. 1. Introdução ao Direito Empresarial A palavra “comércio” provém do latim commercium, significando literalmente “troca de mercadorias”. Transformando-o em conceito, o comércio consistiria na permuta voluntária e onerosa de produtos, serviços ou valo- res definidos em pecúnia (dinheiro) por outros produtos, serviços ou valores. É o ato de negociar, vender ou comprar alguma coisa, entre outras tantas relações comerciais. As relações de comércio são, portanto, espécie do grande gênero das relações sociais. É certo que o desenvolvimento do comércio se dera num momento já um pouco desenvolvido da civilização, no período em que a agricultura, a extração silvícola e a pecuária deixaram de destinar seus frutos apenas à subsistência, quando se passou a realizar a troca dos excedentes entre as comunidades. Tal fenômeno, todavia, se dera gradativamente, evoluindo com o tempo, conforme ensinava o saudoso comercialista cearense Fran Martins (2014, p.1): No início da civilização, os grupos sociais procuravam bastar-se a si mesmos, produzindo material de que tinham necessidade ou se utilizando daquilo do que poderiam obter facilmente da natu- reza para a sua sobrevivência – alimentos, armas rudimentares, utensílios. O natural crescimento das populações, com o passar dos DIREITO EMPRESARIAL 9 tempos, logo mostrou a impossibilidade desse sistema, viável apenas nos pequenos aglomerados humanos... Passou-se, então, à troca dos bens desnecessários, excedentes ou supérfluos para certos gru- pos, mas necessários a outros [...]. Inegavelmente, a troca melho- rou bastante a situação de vida de vários agrupamentos humanos. Nisso consistia o escambo, uma modalidade antiga de comércio, a qual consistia na troca de mercadorias excedentes – o que sobrava de um agricultor era trocado pelo excedente de um criador de ovelhas, por exemplo. Com o tempo, os grupos sociais que participavam dessas trocas começaram a angariar riquezas e a aproveitá-las melhormente, o que foi permitindo a produção de novos materiais para suprir as necessidades que surgiam. Com o surgimento da moeda, o comércio recebeu bem maior dinamicidade, expandindo-se por todo mundo então conhecido: o que quer que fosse considerado mercadoria seria comercializado (in- clusive pessoas, enquanto escravos!). A relevância socioeconômica do comércio foi-se intensificando, o que levou, com o tempo, ao surgimento de práticas comuns, de costumes mercantis, que se reproduziam e repetiam entre os comerciantes. Na Grécia Antiga, onde o comércio se perfazia por meio desses costumes, surgiram também os primeiros contratos comerciais e o uso das leis para a orientação do comércio marítimo. Na Roma Antiga, o jus gentium, ou “direito das gentes”, regulamentava a atividade comercial, praticada pelos estrangeiros – os cidadãos romanos (estes considerados apenas os homens, romanos, livres e ricos) não praticavam o comércio, por considerá-lo uma prática depreciativa, subalterna. É na Idade Média que advém o primeiro esboço de princípios e regras jurídicas destinadas ao comércio, quando se pode falar de um ramo do Direito especificamente organizado para o trato das atividades comerciais, a fim de ordenar a dinâmica de trocas mercantis entre as sociedades medievais. É nessa época que surgem as famigeradas corporações de ofício, gérmen do Direito Comercial, que se fundamentavam em costumes e tradições dos comerciantes de então. 10 DIREITO EMPRESARIAL Figura 01: Comércio em Danzig, Polônia, século XVII, de Wojciech Gerson. Fonte: <https://bit.ly/2Lzgcny>. Já na Idade Moderna, com a unificação dos Estados Nacionais em monarquias absolutistas, que passariam a patrocinar as empreitadas da nascente burguesia – como as Grandes Navegações – as normas de Direito Comercial tornaram-se de interesse Estatal, adquirindo, também, um caráter nacional: o monarca estipulava as normas sobre o comércio de seu reino. Com a queda do Antigo Regime, no contexto das revoluções burguesas, os ideais do liberalismo, de limitação dos poderes do rei e de liberdade econômica dos particulares, afastaram o Estado da dinâmica comercial. Por outro lado, com a elevação da função do legislador na Idade Contemporânea, pela relevância que a lei passara a ter, como fruto racional da vontade geral dos cidadãos, exercida por meio de seus representantes políticos – democracia representativa –, têm início as primeiras codificações. Exemplos mais emblemáticos desse período, foram promulgados o Código Civil Francês, de 1804, e o Código Comercial Francês, de 1807, texto este que possibilitou a definição do Direito Comercial como disciplina autônoma. Os primeiros códigos franceses,nascidos ao início da Era Napoleônica, influenciaram substancialmente as legislações posteriores – como o primeiro DIREITO EMPRESARIAL 11 Código Comercial do Brasil, publicado em 1850, por meio da Lei Imperial nº 556, de 25 de junho de 1850. Antes disso, o comércio no Brasil se regia mais pelos cos- tumes adotados entre os comerciantes ou por antigos regramentos portugueses, as famosas “Ordenações”. Figura 02: Código de 1850, em edição de 1878. Fonte: <http://goo.gl/k4PgNZ>. O Código Comercial de 1850 teve um longo período de vigência, haven- do sido uma das legislações mais duradouras da história legislativa brasileira. O Código vigorou por mais de cento e cinquenta anos, até que foi parcialmente revogado pela Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que instituiu o Novo Código Civil Brasileiro, revogando o Código Civil de 1916 e dispondo, no Livro II de sua Parte Especial, sobre o Direito de Empresa – do art. 966 ao art. 1.195. Vale salientar, contudo, que a Parte Segunda do antigo Código Comercial, que trata sobre comércio marítimo (arts. 457 a 913), está ainda em vigor. Está em trâmite, porém, o Projeto de Lei nº 1.572/2011, de um Novo Código Comercial. O projeto intenta reunificar a disciplina da atividade comercial, retirando do Código Civil as normas atinentes à atividade empresarial, e revogando alguns dispositivos da legislação mais específica. 12 DIREITO EMPRESARIAL Link para WEB Para conferir as ideias lançadas para o Novo Código, podendo contribuir também com sugestões, críticas e comentários, acesse o endereço na rede do Anteprojeto do Novo Código Comercial, disposto no “Portal e-Cidadania” do Senado Federal: <http://goo.gl/yavoRp>. 1.1. Conceito, objeto e princípios O Direito Comercial pode ser definido “como o conjunto de regras jurídicas que regulam as atividades das empresas e dos empresários comerciais, bem como os atos considerados comerciais, mesmo que esses atos não se relacionem com as atividades das empresas” (MARTINS, 2014, p. 43). Você certamente deve estar-se perguntando se haveria alguma diferença na nomenclatura, entre Direito Comer- cial e Direito de Empresa ou Empresarial. Sobre o assunto, é sóbria a exposição de Fábio Ulhoa (2014, p. 22): Direito comercial é a designação tradicional do ramo jurídico que tem por objeto os meios socialmente estruturados de su- peração dos conflitos de interesse entre os exercentes de atividades econômicas de produção ou circulação de bens ou serviços de que necessitamos todos para viver. Note-se que não apenas as atividades especificamente comerciais (intermediação de mercadorias, no atacado ou varejo), mas também as industriais, bancárias, securitárias, de prestação de serviços e outras, estão sujeitas aos parâmetros (doutrinários, jurisprudenciais e legais) de superação de conflitos estudados pelo direito comercial. Talvez seu nome mais adequado, hoje em dia, fosse direito empresarial. No mesmo sentido, assevera André Luiz Ramos (2014, p. 41): Não se pode negar que o uso da expressão direito comercial se consagrou no meio jurídico acadêmico e profissional, sobretudo porque foi o comércio, desde a Antiguidade, como dito, a atividade precursora deste ramo do direito. Ocorre que, como bem destaca a doutrina comercialista, há hoje outras atividades negociais, além do comércio, como a indústria, os bancos, a prestação de serviços, entre outras. DIREITO EMPRESARIAL 13 Hodiernamente, portanto, o direito comercial não cuida apenas do comércio, mas de toda e qualquer atividade econômica exercida com profissionalismo, intuito lucrativo e finalidade de produzir ou fazer circular bens ou serviços. Dito de outra forma: o direito comer- cial, hoje, cuida das relações empresariais, e por isso alguns têm sustentado que, diante dessa nova realidade, melhor seria usar a expressão direito empresarial. Essa aparente confusão entre as expressões “comercial” e “empresarial”, mais que representando mera opção de nomenclatura, resgata, na verdade, o longo debate entre duas importantes teorias, que foram fundamentais na evolução do Direito Empresarial: a teoria dos atos de comércio e a teoria da empresa, sendo esta a mais recente e a adotada pela atual sistemática juscomercial brasileira (Código Civil de 2002). A chamada teoria dos atos de comércio teve surgimento na França, com as primeiras codificações em matéria de Direito Comercial, especialmente com o advento do Código Comercial Francês de 1807. Esta teoria se propunha a “atribuir, a quem praticasse os denominados atos de comércio, a qualidade de comerciante, o que era pressuposto para a aplicação das normas do Código Comercial” (RAMOS, 2014, p. 30). Era a definição em lei dos atos de comércio o fator determinante para a aplicação das normas de Direito Comercial então vigentes, com bem expunha Fran Martins (2014, p. 46): [...] ao ser votado o Código de Comércio, promulgado em 1807 para entrar em vigor em 1808, depois de declarar, no art. 1º, que “são comerciantes os que exercem atos de comércio e deles fazem profissão habitual” , passou a enumerar, no art. 632, os atos que, por natureza, caracterizavam a profissão comercial, e no artigo 633 os que eram considerados comerciais ainda que aqueles que os praticassem não o fizessem profissionalmente, isto é, ainda que os que os praticassem não fossem comerciantes. Passou, desse modo, o Direito Comercial a ser aplicável aos atos de comércio, e a essa orientação se dá o nome de Direito Comercial objetivo. O mesmo autor aduzia, também, ao caráter não-científico da escolha dos “atos de comércio” pelos legisladores, tornando a atividade legiferante inepta para o trato da dinâmica comercial: 14 DIREITO EMPRESARIAL Dada a inexistência de um critério exato ou científico para se dizer que tal ou tal ato é comercial, difícil é admitir-se cientificamente o Direito Comercial como o direito que ampara os atos de comércio, pois não se tem uma limitação dos atos que podem ser caracteriza- dos como comerciais. O critério, assim, para conceituar-se o Direito Comercial como o que ampara os atos de comércio não pode ser aceito, porque os atos de comércio carecem de uma caracterização científica (MARTINS, 2014, p. 46). O fato é que “a distinção entre atos de comércio e atos puramente ci- vis mostrava-se de suma importância, sobretudo para permitir, ou não, a proteção da legislação comercial e, ainda, para fixar a competência judicial da matéria discutida pelos litigantes em juízo” (NEGRÃO, 2014, p. 23). Tal diferenciação, contudo, pelas limitações teóricas e práticas que apresentara desde sempre, veio perdendo prestígio. Contrapondo-se a essa perspectiva, a teoria da empresa surgiu na Itália, já na metade do Século XX: Em 1942, ou seja, mais de um século após a edição da codificação napoleônica, a Itália edita um novo Código Civil, trazendo enfim um novo sistema delimitador da incidência do regime jurídico comercial: a teoria da empresa. Embora o Código Civil italiano de 1942 tenha adotado a chamada teoria da empresa, não definiu o conceito jurídico de empresa. Na formulação desse conceito, merece destaque a contribuição doutrinária de Alberto Asquini, brilhante jurista italiano que analisou a empresa como um fenômeno econômico poliédrico que, transposto para o direito, apresentava não apenas um, mas variados perfis: perfil subjetivo, perfil funcional, perfil objetivo e perfil corporativo. Além disso, o Código Civil italiano promoveu a unificação formal do direito privado, disciplinando as relações civis e comerciais num único diploma legislativo. O direito comercial entra, enfim, na terceira fase de sua etapa evolutiva, superando o conceito de mercantilidade e adotando, como veremos, o critério da empresa- rialidade como forma de delimitar o âmbito de incidência da legisla- ção comercial (RAMOS, 2014, p. 34). DIREITO EMPRESARIAL 15 Essa é a teoria adotada pela legislação empresarial brasileira, uma vez que o legislador civil utilizouo sistema italiano para a definição de quais atos seriam ou não empresariais, sendo considerada como empresarial “a atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”, e empresário, “aquele que exercer profissionalmente esta atividade” (NEGRÃO, 2014, p. 23). Fran Martins, citando Juaquín Garrigues, asseverava que, para a teoria da empresa, a profissão comercial é caracterizada como “a repetição de atos ou a prática de atos em massa; e para a prática desses atos, necessário é que exista ‘uma organização adequada, e esta organização se chama empresa’” (MARTINS, 2014, p. 46). Fique atento O Direito Empresarial não se ocupa de regular apenas aquelas atividades normalmente encaradas como empresariais, comerciais ou apenas o comércio em si. Na atual sistemática do Código Civil, que adotou a teoria da empresa italiana, toda atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços merece atenção do Direito de Empresa. Parte da doutrina critica a teoria da empresa, não a aceitando como plenamente válida, apesar de adotada pela legislação em vigor. As críticas estão quase sempre relacionadas ao conceito jurídico de empresa, à inexistência de um conceito legal (que também ocorre no Brasil, posto que o CC/2002 só define o empresário). Críticas à parte, estas duas teorias em muito contribuíram para a consolidação de muitas normas comerciais, além da maturação de muitos dos Princípios do Direito Empresarial, matéria que passamos a analisar. Há diferentes sentidos por meio dos quais se expressam as normas jurídicas, ora entendidas como princípios, ora expressas como regras jurídicas, categorias do mesmo gênero normativo cuja distinção ainda encontra imperfeições teóricas. Sobre o assunto, Robert Alexy (2008, p. 87) alerta para a existência de “uma pluralidade desconcertante de critérios distintivos”, não havendo na doutrina consenso sobre tais definições, problema que não abordaremos neste livro. 16 DIREITO EMPRESARIAL Por outro lado, ao diferenciar princípios de regras, discorre Alexy (2008, p. 90-91) que: [...] princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes. Princípios são, por conseguinte, mandamentos de otimização, que são caracterizados por poderem ser satisfeitos em graus variados e pelo fato de que a medida devida de sua satisfação não depende somente das possibilidades fáticas, mas também das possibilidades jurídicas [...] Já as regras são normas que são sempre ou satisfeitas ou não satisfeitas. Se uma regra vale, então, deve se fazer exatamente aquilo que ela exige; [...] Regras contêm, portanto, determinações no âmbito daquilo que é fática e juridicamente possível. Assim, os princípios corresponderiam um mandamento genérico, apriorís- tico, amplo – orientando uma postura jurídica ou política num sentido ou em outro –, ao passo que as regras consubstanciam ordenamentos diretos, incisivos, es- pecíficos, restritos, que norteiam uma situação jurídica já perfeitamente determina- da – obrigando ou permitindo uma conduta, por exemplo. Nesse sentido, entre os princípios norteadores do Direito de Empresa, daremos maior atenção à liberdade de iniciativa, à livre concorrência, à proteção e à garantia da propriedade privada, à preservação da empresa e à função social da empresa. Memorize As normas jurídicas tradicionalmente se dividem entre princípios e regras. Inúmeros são os teóricos e as teorias que se propõe a diferenciar uma categoria da outra, não existindo ainda um consenso. Em linhas gerais, entenda como princípios aqueles mandamentos mais genéricos, mediatos, abstratos; e como regras, aquelas normas mais específicas, imediatas, concretas. Tal distinção é fundamental não só para o Direito de Empresa como também para os demais ramos jurídicos. O princípio da liberdade de iniciativa é a pedra-angular do Direito Em- presarial, não sendo possível vislumbrar a dinâmica do mercado sem um con- texto que valorize o interesse de empreender, diante de todos os riscos que a atividade impõe. Vale mencionar que a livre inciativa figura como fundamento da República Federativa do Brasil (art. 1º, inciso IV, da Constituição Federal de 1988). DIREITO EMPRESARIAL 17 O mesmo preceito é reiterado mais à frente, no texto constitucional, que também elege a liberdade de iniciativa como princípio da Ordem Econômica (art. 170, caput e Parágrafo Único). Pode-se dizer que a livre iniciativa empresarial também estaria englobada pelo direito fundamental de liberdade de profissão (art. 5º, XIII): “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”. Em linhas gerais, a livre iniciativa consistiria numa postura absenteísta do Estado, de não-intervenção, que garantisse o livre desenvolvimento das atividades de comércio, nos termos constantes do parágrafo único do art. 170 da CF/88: “É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei”. A ressalva legal, certamente, consiste na supervisão Estatal, de modo a garantir o equilíbrio da liberdade de iniciativa com outros princípios fundamentais, como a dignidade humana, o valor social do trabalho, etc. ?? Curiosidade Pode-se dizer que a livre iniciativa estava incluída entre as liberdades civis reivindicadas pelas revoluções burguesas – Revolução Americana de 1776 e Revolução Francesa de 1789. Os mantras do “laissez faire, laissez aller, laissez passer”, que significavam literalmente “deixai fazer, deixai ir, deixai passar”, eram ideais do nascente liberalismo econômico, que se opunha ao absolutismo do Antigo Regime – a burguesia, que lucrara com os investimentos do rei, agora desejava livrar-se do controle monárquico. No mesmo sentido, o princípio da livre concorrência também tem fundamento constitucional, estando expresso no inciso IV do art. 170 e no § 4º do art. 173, ambos da Constituição: “§ 4º – A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros”. A garantida livre concorrência importaria, assim, no equilíbrio comercial, em que os envolvidos das atividades de comércio não fossem prejudicados por excessos ou abusos de concorrentes. O princípio da livre concorrência é também fundamento do chamado Direito Antitruste, sobre o qual teceremos mais alguns comentários ao tratar do Direito Industrial. 18 DIREITO EMPRESARIAL O princípio da proteção e garantia da propriedade privada é direito funda- mental insculpido no art. 5º, caput e incisos, da Constituição Federal: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXII - é garantido o direito de propriedade; [...] LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; O direito de propriedade é direito fundamental histórico, reclamado nos primeiros esboços constitucionais que o Ocidente teve, com a irrupção das revoluções burguesas (Independência Americana de 1776 e Revolução Francesa de 1789). Era uma garantia contra os poderes de confisco do Estado, especialmente do Monarca, antes tido como suserano de todos – portanto, dono de tudo –, passando a ser tido como mero representante nobiliárquico – com poderes limitados por uma constituição. A garantia da propriedade estaria, destarte, entre os chamados Direitos Fundamentais de Primeira Geração, correspondentes às liberdades civis mais básicas. Cumpre salientar, contudo, que a perspectiva social, característica da CF/1988, empregou à propriedade privada determinados limites, tendo em vista interesses coletivos, públicos, sociais. A ideia defunção social da propriedade, por exemplo, constante do inciso XXIII do art. 5º e inciso III do art. 170 (também é princípio da ordem econômica), indica que o particular deverá, ao explorar individualmente o bem que lhe pertence, gerar desenvolvimento também à sociedade, ao corpo social. Logo mais, você verá que essa perspectiva também é aplicada à atividade empresária, quando se fala em função social da empresa. Antes, vale mencionar, ainda que superficialmente, o princípio da preservação da empresa, que, como desdobramento dos princípios anteriores, corresponde à necessidade de amparo à atividade empresarial com o tempo, reconhecendo seu valor social e econômico, sobretudo tendo em vista as consequências negativas de seu comprometimento. Tal princípio será mais bem explorado no capítulo atinente às recuperações e falências. DIREITO EMPRESARIAL 19 Já o princípio da função social da empresa, que tem recebido ultimamente bastante destaque, refere-se à exigência de que a atividade empresária acarrete algum retorno social. O conceito, todavia, ainda carece de melhor especificação. Há quem defenda que tal princípio incorre apenas na obri- gação de que os lucros sejam distribuídos equanimemente, na forma que a lei e o contrato social estabelecem. Outros, a cuja interpretação aderimos, entendem que a empresa não se deve resumir ao lucro ou à repartição destes, devendo também buscar atingir positivamente a sociedade que a cerca. A ideia de função social foi inicialmente atrelada à propriedade privada. Nas Constituições Brasileiras de 1824 e de 1891, apesar de estipularem o direito à propriedade, que, por sinal, perdia seu caráter absoluto apenas em caso de desapropriação, não versavam, em qualquer momento, acerca de uma função social referente a esse direito. Apenas com a Constituição de 1934, a ideia de função social da propriedade adentrou no ordenamento jurídico nacional, através de seu art. 125. ?? Curiosidade Na Lei das Sociedades Anônimas ou S.A.s (Lei nº 6.404/76) há previsão legal expressa de que a empresa – no caso, uma sociedade empresária por ações, como estudaremos mais adiante – deve cumprir sua função social. É o que consta do parágrafo único do art. 116 do referido diploma: “O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir a sua função social [...]”. E, pouco depois, no art. 154: “O administrador deve exercer as atribuições que a lei e o estatuto lhe conferem para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as exigências do bem público e da função social da empresa”. Tal dispositivo não trazia, todavia, a expressão “função social” em seu bojo, mas apenas a ideia por ela expressada, ao autorizar que os cidadãos brasileiros requeressem a usucapião de terra que utilizassem por período igual ou superior há 10 (dez) anos contínuos, desde que nela residissem e que fizessem dela produtiva. Nota-se que, ao relacionar o direito de usucapião com o uso produtivo da terra, a ordem constitucional de 1934 queria dizer que aqueles que não tornavam a terra produtiva não eram dignos de tornarem-se proprietários dela. Com o Estado Novo, a Carta de 1937, infelizmente, representou um retrocesso, não sendo estipulado qualquer vínculo entre a função social e a propriedade. 20 DIREITO EMPRESARIAL É na redemocratização, com a Constituição de 1946, que a função social volta a ser objeto de interesse constitucional, todavia, ainda de maneira implícita, mas já seguindo os passos do constitucionalismo contemporâneo do Estado Social. Em 1967, a constituição que passava a inaugurar um novo plano constitucional, apesar de inserida dentro de um contexto de regime militar, pas- sou a prever a expressão “função social” em seu art. 157 (compreendido dentro do título “Da Ordem Econômica e Social”), estipulando-a como um princípio que deve ser obedecido, sob o fito de se alcançar a concretização da justiça social, o que demonstra grande passo para a fixação desse verdadeiro valor em nosso ordenamento jurídico. Com a CF/1988, a já mencionada função social da propriedade assume lugar de direito fundamental (art. 5º, XXIII) e princípio (art. 170, III). A função social, assim, ergue-se como importante princípio constitucional, atrelado ao direito de propriedade, condicionando-o ao interesse social. A mais de tais previsões constitucionais (que se repetem na disciplina das propriedades urbanas e rurais, que também precisam de exercer sua função social), tal ideia foi também recepcionada pelo Código Civil vigente, em que se vislumbram a função social dos contratos e uma própria função social da propriedade: Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. § 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. O princípio da função social da empresa desponta, assim, como consequência lógica da aplicação de tais preceitos, constitucionais e civilis- tas, à realidade jurídica empresarial. Essa função social importa à empresa um algo mais que da mera busca pela obtenção do máximo de lucro, mas sem renunciar a esta ou prejudicá-la. A empresa não perde sua perspectiva natural de lucratividade, todavia, passa também a observar as consequências da atividade empresarial para o bem-estar da sociedade em que está inserida. DIREITO EMPRESARIAL 21 1.2. Fontes do Direito Empresarial Vale resgatar o conceito basilar de fonte do direito, na didática acepção de Miguel Reale (2011, p. 140): Por “fonte do direito” designamos os processos ou meios em virtude dos quais as regras jurídicas se positivam com legítima força obrigatória, isto é, com vigência e eficácia no contexto de uma estrutura normativa. O direito resulta de um complexo de fatores que a Filosofia e a Sociologia estudam, mas se manifesta, como ordenação vigente e eficaz, através de certas formas, diríamos mesmo de certas fôrmas, ou estruturas normativas, que são o processo legislativo, os usos e costumes jurídicos, a atividade jurisdicional e o ato negocial. E, retomando o debate acerca do grau de exigibilidade das normas jurídicas, o mesmo autor aduz à necessidade de um poder que confira vigência e eficácia às normas decorrentes de uma determinada fonte do direito, visto que, para ele, é o poder que define a espécie de fonte: Para que se possa falar, por conseguinte, de “fonte de direito”, isto é, de fonte de regras obrigatórias, dotadas de vigência e de eficácia, é preciso que haja um poder capaz de especificar o conteúdo do devido, para exigir o seu cumprimento, não sendo indispensável que ele mesmo aplique a sanção penal. É por isso que se diz que o problema das fontes do direito se confunde com o das formas de produção de regras de direito vigentes e eficazes, podendo ser elas genéricas ou não. Por ora, podemos fixar esta noção essencial: toda fonte de direito implica uma estrutura normativa de poder, pois a gênese de qualquer regra de direito (nomogênese jurídica) - tal como pensamos ter demonstrado em nossos estudos de Filosofia do Direito - só ocorre em virtude da interferência de um centro de poder, o qual, diante de um complexo de fatos e valores, opta por dada solução normativa com caracterís- ticas de objetividade. À luz desse conceito, quatro são as fontes de direito, porque quatro são as formas de poder: o processo legislativo, expressão do Poder Legislativo; a jurisdição, que corresponde ao Poder Judiciário; os usos e costumes jurídicos, que exprimem o poder social, ou seja, o poder decisório anônimodo povo; e, finalmente, a fonte negocial, expressão do poder negocial ou da autonomia da vontade. (REALE, 2011, p. 141). 22 DIREITO EMPRESARIAL Fique atento Fonte do direito é o meio pelo qual a norma jurídica se expressa, é o veículo por meio do qual uma norma jurídica chega ao conhecimento da população e passa a exigir dela seu cumprimento. As fontes podem ser formais, quando dizem respeito à forma ou ao ambiente no qual se expressa a norma, onde pode ser ela encontrada, podendo ser divididas em fontes formais estatais, aquelas relativas aos poderes (leis, decretos, jurisprudência), e não-estatais, como o costume e a doutrina. Fontes materiais, relativas às razões que antecedem as normas jurídicas, aos motivos sociais, políticos, filosóficos que fundamentam tais normas. Assim, a lei é tida como a fonte de direito obtida por meio do Poder Legislativo, sendo tal poder o qual lhe confere vigência e eficácia, diferentemente do que ocorre com o costume, advindo das práticas sociais, e com a jurisprudência, das práticas forenses, isto é, do Poder Judiciário. Tais conceitos terão sua relevância denotada quando passarmos a estudar, especificamente, as fontes do Direito Empresarial, na próxima Unidade. A abordagem a agora desvia seu foco dos debates da Teoria Geral do Direito para o Direito Privado, ramo do direito em que se inclui o Comercial, conforme se depreenderá nos tópicos seguintes. Do exposto, temos que a principal fonte do direito Empresarial é Novo Código Civil, lei promulgada, em cujos artigos 966 a 1.196. ?? Curiosidade O Novo Código Civil, vigente desde 2003, em substituição ao anterior, de 1916, possui 2.046 artigos, organizados da seguinte maneira: Parte Geral: Livro I - Das Pessoas; Livro II - Dos Bens; Livro III - Dos Fatos Jurídicos; Parte Especial: Livro I - Do Direito das Obrigações; Livro II - Do Direito de Empresa (onde se encontram os princípios e regras que estudamos neste livro); Livro III - Do Direito das Coisas; Livro IV - Do Direito de Família; Livro V - Do Direito das Sucessões; Livro Complementar: Disposições Finais e Transitórias. DIREITO EMPRESARIAL 23 Vale ainda lembrar a parcela vigente do Código Comercial de 1850, doze dos treze títulos da Parte Segunda, relativa ao Comércio Marítimo (arts. 457-756), além de leis específicas em matéria comercial (Lei nº 4.886/65, sobre representantes comerciais; Lei nº 8.934/94, sobre o registro público de empresas etc.). Figurariam como fontes secundárias/subsidiárias a jurisprudência em matéria empresarial, aí incluídas súmulas, súmulas vinculantes e orientações jurisprudenciais, e a doutrina juscomercialista. 1.3. Empresário Até aqui você estudou os fundamentos do Direito de Empresa, sua evolução histórica e legislativa, bem como seus conceitos e princípios mais relevantes, além de alcançar a disciplina constitucional sobre o assunto. Importa agora verificar os principais aspectos da atividade empresarial individual, ou melhor, o que dispõe o Código Civil, no Livro dedicado ao Direito de Empresa, sobre a atividade do empresário. 1.3.1. O conceito legal de empresário Conforme mencionamos anteriormente, no Código Civil Brasileiro em vigor não há definição de empresa. Por outro lado, existe uma definição legal de empresário constante de seu art. 966, o qual corresponde a uma tradução do art. 2.022 do Código Civil italiano: “Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circula- ção de bens ou de serviços”. Desta definição, depreende-se que há alguns fatores que qualificam a atividade empresarial, os quais condicionam a aplicação ou não das normas do Direito Empresarial numa situação econômica. Em verdade, com a adoção da teo- ria da empresa, o conceito legal de empresário abrangeu muitas mais situações do que as alcançadas pela teoria dos atos de comércio. É o que afirma Ricardo Negrão (2014, p. 24): O termo empresário substitui o vocábulo comerciante, mas, como deflui do conceito legal – art. 966 do CC –, é mais abrangente que este. Entre os atos de comércio que caracterizavam a atividade empresarial, somente alguns se referiam à prestação de serviços, como, por exemplo, o transporte e a atividade bancária. No sistema empresarial, toda e qualquer produção ou circulação de serviços está submetida ao conceito de empresa, desde que não exercida pessoalmente por profissional intelectual, ou de natureza científica, literária ou artística. 24 DIREITO EMPRESARIAL Memorize Segundo o conceito legal, presente no Código Civil (art. 966, caput), para uma pessoa ser considerada empresária deve ela exercer profissionalmente atividade econômica organizada, voltada à produção/circulação de bens ou serviços. Assim, poderíamos elencar como requisitos da atividade empresária: a atividade econômica de produção de bens e serviços, a organização e o profissionalismo no desempenho da atividade. No âmbito da atividade econômica de produção de bens e serviços, discute-se quanto à exigência ou não de lucro, como condição de enquadramento. Filiamo-nos à corrente que não considera o lucro imprescindível, caso contrário não consideraríamos atividade empresarial aquela desenvolvida por cooperativas ou empresas estatais. Quanto à exigência da organização, expressa no artigo 966 do Código Civil ― atividade econômica organizada ―, é cristalina sua relevância, ou seja, não é qualquer atividade econômica de produção ou circulação de bens ou de ser- viços que será considerada empresarial. Demanda-se um mínimo de organização. Lemos Júnior (2009, p. 132), sobre o assunto explana: Apesar de a absoluta maioria das empresas existentes apresentarem uma organização perfeitamente identificável, é mediante um estudo de casos limites, onde há níveis mínimos de organização, que se permite uma exata e plena compreensão do fenômeno empresarial. Assim se estabelece, precisamente, onde termina o trabalho individual e começa a empresa, pois, mesmo as pequenas empresas, para serem consideradas como tais, devem apresentar um grau mínimo de organização. [...] Como se sabe, segundo a categorização majoritariamente aceita, a organização poderá ser: a) pessoal (de pessoas) ou real (de bens ou meios de produção). O critério do profissionalismo, por último, corresponde a um resquício do Código Napoleônico, que influenciou muitos códigos pelo mundo, inclusive o nosso antigo Código Comercial. Nesse sentido, Lemos Júnior (2009, p. 140) aduz que: DIREITO EMPRESARIAL 25 Presentemente, o profissionalismo é identificado com o exercício habitual, estável, da atividade produtiva. Entretanto, torna-se impor- tante estabelecer limites para a exigida habitualidade e estabilida- de, que certamente não excluem as atividades exercidas sazonal- mente, como é o caso de certos hotéis e restaurantes situados em instâncias rurais ou em cidades litorâneas. Não se exige que a atividade seja ininterrupta, bastando que não seja meramente eventual e aleatória. 1.3.2. Atores econômicos não considerados empresários O mesmo art. 966 do Código Civil, mais precisamente em seu parágrafo único, excepciona expressamente algumas atividades do conceito de atividade empresarial, ou seja, alguns atores econômicos não são considerados empresários: “Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce pro- fissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa”. Sobre o assunto, expõe André Ramos que: [...] o conceito de empresário previsto no art. 966 do Código Civil, que, em princípio, parece englobar toda e qualquer pessoa, física (empresário individual) ou jurídica (sociedade empresária), que exerça toda e qualquer atividade econômica organizada, não é, na verdade, tão abrangente assim. Com efeito, existem agentes econômicos que, a despeito de exercerem atividades econômicas, não são considerados empresários pelo legislador,o que nos permite concluir também que existem atividades que, a despeito de serem atividades econômicas, não configuram empresa (2014, p. 66-67). Nesse sentido, não são considerados empresários nem empresas: “o profissional intelectual (profissional liberal), a sociedade simples, o exercente de atividade rural e a sociedade cooperativa” (RAMOS, 2014, p. 67), entre outros que exerçam atividade econômica não empresarial. Fique atento Os chamados profissionais liberais não são considerados empresários. A atividade econômica por eles praticada, de exploração exclusiva de seu intelecto – professores, advogados, médicos, engenheiros etc. – não consiste em uma atividade empresarial. O serviço é simplesmente prestado e ressarcido. 26 DIREITO EMPRESARIAL No que se refere à atividade intelectual, Lemos Júnior (2009, p. 146) aduz que: Nas profissões intelectuais, o fator determinante para a contratação é a própria pessoa do profissional encarrega- do da execução do serviço. A existência de uma organização real ou pessoal é eminentemente acessória, não possuindo a necessária autonomia funcional para o desempenho da atividade, que é essencial para a caracterização de um estabelecimento empresarial. A organização (escritório e colaboradores), sem a pessoa do profissional, de muito pouco ou nada serve, carecendo de outros requisitos que caracterizam o estabelecimento. Ainda que entregue a um outro profissional, à organização faltará a mesma eficiência, salvo se eventualmente o substituto tiver idêntico renome. Do exposto, ocorre atividade empresária quando a organização for mais importante do que a pessoa do profissional, quando a atividade puder ser exe- cutada independentemente da pessoa que a realiza. Isto posto, até mesmo as atividades excluídas do conceito legal de empresário poderão configurar-se de maneira empresarial, como bem expõe Ricardo Negrão (2014, p. 23): Não se deve perder de vista, entretanto, que sempre haverá atividades empresariais que compreendem serviços da natureza daqueles excluídos conceitualmente. Ao fornecer planos de saúde para a população, a administradora de serviços médicos está oferecendo serviços de natureza intelectu- al, de um oftalmologista, geriatra, urologista etc. Embora não se transmude a natureza desse serviço, a atividade da administradora de serviços médicos é empresarial porque o exercí- cio da atividade intelectual de medicina é elemento de sua empresa. Percebe-se, assim, que as atividades excluídas do conceito [de empresário] são aquelas exercidas pessoalmente pelo profissional intelectual, pelo cientista, pelo escritor ou artista. Ao se constituírem elementos de empresa, explorada por terceiro que administra e coordena essas atividades, serão necessariamente empresariais. O mesmo autor, desta sorte, conceitua alguns requisitos da atividade empresarial, valendo conferir: Serão empresariais as atividades que tenham as seguintes carac- terísticas: 1) economicidade: criação ou circulação de riquezas e de bens ou serviços patrimonialmente valoráveis; 2) organização: compreende tanto o trabalho, a tecnologia, os insumos e o capital, próprios ou alheios; 3) profissionalidade: refere-se à atividade não ocasional e à assunção em nome próprio dos riscos da empresa (NEGRÃO, 2014, p. 23). DIREITO EMPRESARIAL 27 Vale mencionar, também, que o Código Civil em vigor, a exemplo da legislação italiana, também traz a definição de estabelecimento como “todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária” (art. 1.142). A ideia de organização para ex- ploração é, destarte, determinante para a conceituação da atividade empresarial. A atividade dos profissionais intelectuais está sujeita, assim, à sua legislação específica (e. g., o Estatuto da Advocacia e da OAB, no caso dos advogados). No caso das chamadas sociedades simples, ou mesmo sociedades uniprofissionais, a regra excludente atuaria no mesmo sentido de desvencilhá-las das atividades típicas das sociedades empresárias, ou seja, de atividades comerciais: Ora, se nem sempre o exercente de atividade econômica é considerado empresário, haja vista a regra excludente do pará- grafo único do art. 966 do Código Civil, isso nos leva à conclu- são de que também nem sempre uma sociedade será empresá- ria, haja vista a possibilidade de se constituírem sociedades cujo objeto social seja a exploração da atividade intelectual dos seus sócios. Essas sociedades, antes chamadas de sociedades civis, são denominadas pelo atual Código Civil de sociedades simples. O Código Civil estabelece, em seu art. 982, que “salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por obje- to o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais”. Isso mostra que o que define uma sociedade como empresária ou simples é o seu objeto social. Há apenas duas exceções a essa regra, contidas no seu parágrafo único, o qual prevê que “independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa” (RAMOS, 2014, p. 72). Assim, da própria exceção disposta no art. 967, parágrafo único, as cooperativas também não são consideradas sociedades empresárias, mas, sim, sociedades simples, sendo-lhes aplicadas as normas do Código Civil para as sociedades simples (arts. 997 a 1.038). No caso das sociedades (simples) de advogados, a regulamentação é feita pelo Estatuto da Advocacia e da OAB (Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994): “Art. 15. Os advogados podem reunir-se em sociedade civil de prestação de serviço de advocacia, na forma disciplinada nesta lei e no regulamento geral”. 28 DIREITO EMPRESARIAL 1.3.3. Empresário individual Consoante o que dispõe o já mencionado art. 966 do Código Civil, empresário individual é toda pessoa física que se dedique profissionalmente a uma atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Há falar, no entanto, nos precisos impedimentos legais, cons- tantes da legislação em vigor, que embargam que a atividade empresarial seja exercida pelos respectivos impedidos. Sobre o assunto, ilustra André Ramos (2014, p. 77): O Código Civil de 2002 não trouxe nenhum dispositivo normativo semelhante ao art. 2. ° do Código Comercial de 1850, que arrolava diversos casos de impedimento legal ao exercício do comércio. Pode-se mencionar apenas o art. 1.011, § 1.°, do Código Civil, o qual prevê que “não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação”. Não obstante o dispositivo se referir aos administradores de sociedades, há autores que estendem esses impedimentos aos empresários individuais. Atualmente, portanto, afora a regra acima transcrita, os impedimentos legais ao exercício de atividade empresarial estão espalhados pelo arcabouço jurídico-normativo. Vale mencionar que “esses impedimentos estão em normas de direito público e visam a proteger a coletividade, evitando que esta negocie com determinadas pessoas em virtude de sua função ou condição ser incompatível com o exercício livre de atividade empresarial” (RAMOS, 2014, p. 77). Podemos mencionar, como exemplos de profissionais impedidos: o art. 117, inciso X, da Lei nº 8.112/1990, que veda a atividade aos servidores públicos federais; o art. 36, I, da Lei Complementar nº 35/1979, que faz o mesmo em relação aos juízes e desembargadores; o art. 44, III, da Lei nº 8.625/1993, impedindo os promotores e procuradores de justiça; e o art. 29 da Lei 6.880/1980, que embarga a atividade empresária aos militares.DIREITO EMPRESARIAL 29 Vale mencionar também, como impedidos, o empresário falido, empós decretada a sentença de falência (abordaremos mais o assunto no próximo Módulo), só podendo voltar a exercer a atividade após o decurso do prazo legal, no caso de crime falimentar, quando pleiteará declaração de extinção das obrigações e reabilitação penal. Os devedores do INSS também são impedidos (Lei nº 8.212/91, art. 95, §2°, “d”). Membros das câmaras legislativas – vereadores, deputados e senadores – não podem ser empresários que gozem de contrato com o governo. Os condenados pela prática de crime que vede o acesso à atividade empresarial também não podem exercer a atividade empresarial até a reabilitação penal. Como consequências, o exercício de atividade empresarial pelo impedido pode acarretar sanções administrativas ou penais, a depender das circunstâncias, respondendo pessoalmente também pelas obrigações que assumira (Art. 973), não podendo alegar o impedimento em sua própria defesa – a máxima do nemo auditur propriam turpitudinem allegans, de que “ninguém pode se beneficiar da própria torpeza”. Memorize São legalmente proibidos de exercerem atividade empresarial: a) o empresário falido, ainda não reabilitado judicialmente; b) o condenado por crime comercial, antes da reabilitação penal; c) o leiloeiro; d) o funcionário público, aí incluídos magistrados, promotores e procuradores; e) o devedor do INSS, nos termos da Lei nº 8.212/91. Releva mencionar, por último, que os impedimentos não se transmitem aos parentes do impedido, salvo nos casos de juízes e membros do Ministério Público, quando num processo figura interesse de empresa de parente, por exemplo, sendo isto, todavia, um impedimento processual, e não comercial. Ainda, mesmo não podendo ser empresários individuais, administradores ou gerentes de empresas, os impedidos podem, sim, ser sócios: 30 DIREITO EMPRESARIAL É preciso atentar para o fato de que a proibição é para o exercí- cio de empresa, não sendo vedado, pois, que alguns impedidos sejam sócios de sociedades empresárias, uma vez que, nesse caso, quem exerce a atividade empresarial é a própria pessoa jurídica, e não seus sócios. Em suma: os impedimentos se dirigem aos empresários individuais, e não aos sócios de sociedades empresárias. Nesse sentido, pode-se afirmar então que os impedidos não podem se registrar na Junta Comercial como empresários individuais (pessoas físicas que exercem atividade empresarial), não significando, em princípio, que eles não possam participar de uma sociedade empresária como quotistas ou acionistas, por exemplo. No entanto, a possibilidade de os impedidos participarem de sociedades empresárias não é absoluta, somente podendo ocorrer se forem sócios de responsabilidade limitada e, ainda assim, se não exercerem funções de gerência ou administração (RAMOS, 2014, p. 76-77). Em se tratando de casamento, o empresário casado pode constituir sociedade com seu cônjuge, exceto se for casado com comunhão universal de bens ou separação obrigatória de bens (Art. 977). Ou seja, quando os nubentes optarem pela comunicação de todos os seus bens – anteriores e posteriores ao casamento – ou se lhes for imposto o regime de separação (separação compulsória ou obrigatória) nos casos previstos pelo art. 1.641 do Código Civil, por exemplo, quando uma maior de 70 (setenta) anos casar (inciso II). Por outro lado, não necessita o empresário de outorga conjugal para dispor dos bens imóveis da empresa, por força do art. 978 do CC/2002. O pacto antenupcial e os termos de reconciliação ou divórcio devem ser averbados no registro público de empresas (arts. 979 e 980). 1.3.4. Capacidade do empresário Você percebeu que o legislador comercialista não se preocupou em somente conceituar o empresário individual, tratando também de prescrever regras gerais para a disciplina do exercício individual de empresa: Nesse sentido, por exemplo, o Código Civil estabeleceu algumas vedações ao exercício individual de empresa. Essas vedações decorrem ou de proibições que a legislação estabelece (impedimentos legais), ou da incapacidade do agente econômico. Nesse sentido, dispõe o Código Civil, em seu art. 972, que “podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos” (RAMOS, 2014, p. 77). DIREITO EMPRESARIAL 31 A capacidade do empresário consiste, do exposto, não num impedimento, mas num pré-requisito essencial à prática dos atos mercantis. A legislação, con- tudo, aduz a hipóteses em que o incapaz pode atrelar-se à atividade empresária, no âmbito das empresas (jamais individualmente): Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devi- damente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança. § 1º Nos casos deste artigo, precederá autorização judicial, após exame das circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da conveniência em continuá-la, podendo a autorização ser revogada pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros. § 2º Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao acervo daquela, devendo tais fatos constar do alvará que conceder a autorização. § 3º O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais deverá registrar contratos ou alterações contratuais de sociedade que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de forma conjunta, os seguintes pressupostos: I. o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade; II. o capital social deve ser totalmente integralizado; III. o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente incapaz deve ser representado por seus representantes legais. No mesmo sentido, prevê o Código os casos em que, mesmo tendo o incapaz titular de uma quota empresarial um representante, é este impedido: Art. 975. Se o representante ou assistente do incapaz for pessoa que, por disposição de lei, não puder exercer atividade de empresário, nomeará, com a aprovação do juiz, um ou mais gerentes. § 1º Do mesmo modo será nomeado gerente em todos os casos em que o juiz entender ser conveniente. § 2º A aprovação do juiz não exime o representante ou assistente do menor ou do interdito da responsabilidade pelos atos dos gerentes nomeados. 32 DIREITO EMPRESARIAL ?? Curiosidade O Código Civil em vigor aborda as incapacidades estabelecendo duas categorias, os absolutamente incapazes, aqueles que não podem (nem devem) participar autonomamente de qualquer ato da vida civil, e os relativamente incapazes, que podem, sim, exercer sua vontade, desde que assistidos por responsáveis legais: Art. 3° São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I. os menores de dezesseis anos; II. os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III. os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Art. 4° São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I. os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II. os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por defici- ência mental, tenham o discernimento reduzido; III. os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV. os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial. Já o art. 976, trata da “prova da emancipação e da autorização do incapaz”, assim como sua revogação, que devem ser inscritas ou averbadas no Registro Público de Empresas Mercantis. Há falar também na exclusão de sócio por incapacidade superveniente, ou seja, o sócio era capaz à época da criação da empresa, mas, por qualquer razão, perdera sua capacidade plena de exercício dos atos da vida civil (e empresarial): Os sócios que compõema maioria deverão suscitar em juízo a exclusão do incapaz, dando-se, então, a liquidação de sua partici- pação, com base na situação patrimonial da sociedade, à data da declaração da incapacidade, verificada em balanço especialmente levantado (NEGRÃO, 2014, p. 37-38). DIREITO EMPRESARIAL 33 1.3.5. Obrigações do empresário Há que se falar em, basicamente, três deveres principais do empresário individual, que são necessários para o amparo legal de suas atividades co- merciais, sendo eles o dever de registro perante a Junta Comercial; o dever de escrituração nos livros empresariais obrigatórios; e o dever de levantar balanços patrimoniais e econômicos da empresa, periodicamente. Vale frisar que o não cumprimento de tais obrigações acarreta sanções administrativas e criminais, além da não-aplicação das normas de Direito Comercial (o empre- sário desobediente não tem as mesmas regalias que um colega que cumpriu com suas obrigações). O dever de inscrição na Junta Comercial está previsto no art. 967 do Código Civil, aduzindo que “é obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade” (nosso grifo), devendo tal inscrição contar com as informações necessárias, arroladas pelo dispositivo seguinte – art. 968: Art. 968. A inscrição do empresário far-se-á mediante requerimento que contenha: I. o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens; II. a firma, com a respectiva assinatura autógrafa; III. o capital; IV. o objeto e a sede da empresa. § 1° Com as indicações estabelecidas neste artigo, a inscrição será tomada por termo no livro próprio do Registro Público de Empresas Mercantis, e obedecerá a número de ordem contínuo para todos os empresários inscritos. § 2° À margem da inscrição, e com as mesmas formalidades, serão averbadas quaisquer modificações nela ocorrentes. Já o § 3º deste mesmo dispositivo aduz à possibilidade de admissão de sócios, em que “o empresário individual poderá solicitar ao Registro Público de Empresas Mercantis a transformação de seu registro de empresário para registro de sociedade empresária”, em atenção às normas do Código em relação aos constitutivos das sociedades. 34 DIREITO EMPRESARIAL Figura 03: Junta Comercial do Estado do Ceará/JUCEC, na Rua 25 de Março, em Fortaleza. Fonte: <https://bit.ly/2wmA34R>. Nesse sentido, a inscrição do empresário individual se dá no Registro Público das Empresas Mercantis, disciplinado pela Lei nº 8.934, de 18 de novembro de 1994, como obrigação legal para funcionamento, sendo realizada mediante requerimento à Junta Comercial competente. O requerimento conta- rá com os elementos constantes do já mencionado art. 968 do CC/2002 (nome, nacionalidade, firma, capital, etc.). No caso de ser aberta sucursal, filial ou agência em outro lugar, na jurisdição de outra Junta Comercial, deve também ser requerido registro (art. 969). O estabelecimento secundário deve ser também averbado na Junta Comercial em que se registrou a sede. Esses documentos e informações hão de ser apresentados à Junta Comercial no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da data da lavratura dos atos constitutivos, como a assinatura do contrato social (art. 1.151, § 1º). Se o registro for requerido depois desse prazo, só produzirá efeitos a partir de sua concessão pela Junta, ao invés de a partir da data da lavratura do ato constitutivo: Art. 1.151. O registro dos atos sujeitos à formalidade exigida no artigo antecedente será requerido pela pessoa obrigada em lei, e, no caso de omissão ou demora, pelo sócio ou qualquer interessado. § 1º Os documentos necessários ao registro deverão ser apre- sentados no prazo de trinta dias, contado da lavratura dos atos respectivos. § 2º Requerido além do prazo previsto neste artigo, o registro somente produzirá efeito a partir da data de sua concessão. § 3º As pessoas obrigadas a requerer o registro responderão por perdas e danos, em caso de omissão ou demora. DIREITO EMPRESARIAL 35 Do exposto, a obrigação de arquivamento dos atos constitutivos nas Juntas Comerciais é pré-requisito da legalidade da atividade empresarial, condi- cionando também, no caso das sociedades empresárias, a obtenção de sua per- sonalidade jurídica. Aquele empresário – ou aquela sociedade empresária – que faltar com esse dever, não procedendo o devido registro ante a Junta competente, será considerado empresário irregular ou de fato (no caso das sociedades, socie- dades irregulares ou de fato), o que lhe acarretará determinadas sanções. Entre as consequências do descumprimento do dever de registro empre- sarial, podemos destacar: a) não poder pleitear recuperação judicial, caso es- teja em crise, nos termos da legislação falimentar (Lei nº 11.101/2005, art. 48); b) não poder requerer a falência de devedor seu, podendo, contudo, declarar-se credor do e requerer autofalência (Lei nº 11.101/2005, art. 97); c) não poder utilizar os livros mercantis como prova (perda da eficácia probatória dos livros mercantis), uma vez que não serão autenticados; d) não poder partici- par de licitações nem de contratos com o Poder Público (Lei nº 8.666/1993); e) não poder a sociedade empresária possuir nº de CNPJ, respondendo pelas sanções fiscais (tributos não pagos) decorrentes, como no caso de não se emitir nota fiscal (necessita do CNPJ da empresa), o mesmo valendo no caso das contribuições devidas ao INSS; f) não poder configurar-se como microempresa ou empresa de pequeno porte, não podendo, assim, beneficiar-se das simplifi- cações tributárias e benefícios fiscais. O dever de escriturar os livros mercantis é também obrigação do empresário, e do administrador da sociedade empresária. Tais documentos devem ser perfeitamente conservados, guardados em conjunto com a correspondência oficial e com outros documentos importantes (notificações, contratos, registros, inventários, etc.), enquanto não prescreverem ou decaírem os atos escritura- dos, nos termos do art. 1.194. Já o art. 1.179 estabelece que “o empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico”. Mecânicos ou digitais, tais livros hão de ser autenticados, e sua escritura- ção ficará a cargo de profissional contabilista habilitado, a não ser no caso de o local onde se situa e empresa não possuir profissional com esta qualificação, sendo sua função exercida por alguém que compreenda tal dinâmica (art. 1.182), sendo realmente necessária uma expertise contábil, requerendo conhecimentos próprios das Ciências Contábeis, para a escrituração necessária dos livros obrigatórios e dos livros facul- tativos, caso o queira(m) o(s) empresário(s): 36 DIREITO EMPRESARIAL Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode ser substituído por fichas no caso de escritura- ção mecanizada ou eletrônica. Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o lançamento do balanço patrimonial e do de resultado econômico. Art. 1.181. Salvo disposição especial de lei, os livros obrigatórios e, se for o caso, as fichas, antes de postos em uso, devem ser autenticados no Registro Público de Empresas Mercantis. Parágrafo único. A autenticação não se fará sem que esteja ins- crito o empresário, ou a sociedade empresária, que poderá fazer autenticar livros não obrigatórios. Entre os livros obrigatórios, exigidos pela legislação comercial, há o Livro Diário, comum a toda e qualquer atividade empresária, e livros obrigatórios específicos, atinentes a cada atividade mercantil ou tipo societário. Exemplos: Livro de Registro de Duplicatas, Livro de Ações Nominativas das Sociedades Anônimas, Livro de Atas de Assembleias Gerais. Como exemplos de livros facultativos, cujo preenchimento,escrituração há de ser optado pelo empresário ou pela sociedade empresária, em razão de não serem exigidos pela lei, mas servindo para o aprimoramento da escrituração, podemos citar o Livro de Contas-Correntes e o Livro de Caixa. Memorize O Livro Diário ou simplesmente Diário é livro de escrituração obrigatória, segundo a legislação em vigor, comum a toda atividade empresarial. Destaque para os critérios de escrituração do Livro Diário estabelecidos no corpo do próprio Código Civil: Art. 1.183. A escrituração será feita em idioma e moeda corrente nacionais e em forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem entrelinhas, bor- rões, rasuras, emendas ou transportes para as margens. Parágrafo único. É permitido o uso de código de números ou de abreviaturas, que constem de livro próprio, regularmente autenticado. Art. 1.184. No Diário serão lançadas, com individuação, clareza e caracterização do documento respectivo, dia a dia, por escrita di- reta ou reprodução, todas as operações relativas ao exercício da empresa. DIREITO EMPRESARIAL 37 § 1º Admite-se a escrituração resumida do Diário, com totais que não excedam o período de trinta dias, relativamente a contas cujas operações sejam numerosas ou realizadas fora da sede do estabelecimento, desde que utilizados livros auxiliares regularmente autenticados, para registro individualizado, e conservados os documentos que permitam a sua perfeita verificação. § 2º Serão lançados no Diário o balanço patrimonial e o de resultado econômico, devendo ambos ser assinados por técnico em Ciências Contábeis legalmente habilitado e pelo empresário ou sociedade empresária. Já a norma do art. 1.185 aduz que “o empresário ou sociedade empresária que adotar o sistema de fichas de lançamentos poderá substituir o livro Diário pelo livro Balancetes Diários e Balanços, observadas as mesmas formalidades extrínsecas exigidas para aquele”, constando no dispositivo seguinte os critérios de escrituração do Livro de Balancetes Diários: Art. 1.186. O livro Balancetes Diários e Balanços será escriturado de modo que registre: I - a posição diária de cada uma das contas ou títulos contábeis, pelo respectivo saldo, em forma de balancetes diários; II - o balanço patrimonial e o de resultado econômico, no encerra- mento do exercício. Vale salientar que, se não forem cumpridos tais deveres de escrituração, po- dem incorrer os responsáveis em crime falimentar, caso seja decretada a falência do empresário ou sociedade empresária sem que hajam sido devidamente escri- turados os livros obrigatórios (Lei nº 11.101/2005, art. 178). Os livros, uma vez autenticados, têm eficácia probatória, ou seja, funcionam como prova das ativi- dades realizadas, gozando de probabilidade perante a Justiça, nos termos do art. 226 do Código Civil: Art. 226. Os livros e fichas dos empresários e sociedades provam contra as pessoas a que pertencem, e, em seu favor, quando, escri- turados sem vício extrínseco ou intrínseco, forem confirmados por outros subsídios. Parágrafo único. A prova resultante dos livros e fichas não é bastante nos casos em que a lei exige escritura pública, ou escrito particular revestido de requisitos especiais, e pode ser ilidida pela comprovação da falsidade ou inexatidão dos lançamentos. 38 DIREITO EMPRESARIAL Essas formalidades intrínsecas e extrínsecas dos livros mercantis, a que faz menção o caput do art. 226 do Código, são, portanto, elementos relevantes para a sua eficácia probatória, não sendo admitidos vícios de escrituração, sob pena de serem por eles invalidados os dados escriturados. Nesse sentido, são requisitos intrínsecos dos livros comerciais os rela- cionados com a forma de escrituração, quais sejam: idioma e moeda nacio- nal, técnica contábil, ordem cronológica dos atos, sem intervalos temporais, a ausência de lacunas, falhas, rasuras, borrões ou emendas no texto (art. 1.183). Já os requisitos extrínsecos se referem à segurança necessária à es- crituração, como a conservação física dos livros e sua autenticação pela Junta Comercial competente. Fique atento Os requisitos intrínsecos dos livros comerciais se referem ao que “está dentro” do livro, ao que é em suas páginas registrado, na forma que a lei exige: idioma nacional (português brasileiro), moeda nacional (real), técnica contábil, ordem cronológica, ausências de rasuras, etc. Os requisitos extrínsecos se referem ao que se vê “por fora” do livro comercial, à sua conservação, autenticação, segurança. Figura 04: Livro diário antigo (Séc. XIX). Fonte: <https://bit.ly/2PKIaA0>. DIREITO EMPRESARIAL 39 Há que se falar também, como desdobramento dos direitos fundamentais de privacidade e intimidade (previstos no art. 5º, incisos X e XII, da Constituição Federal), que o acesso aos livros mercantis por terceiros é restringido, uma vez que, “ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou tribunal, sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário ou a sociedade empresária observam, ou não, em seus livros e fichas, as formalidades prescritas em lei” (art. 1.190, Código Civil): Art. 1.191. O juiz só poderá autorizar a exibição integral dos livros e papéis de escrituração quando necessária para resolver ques- tões relativas a sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou gestão à conta de outrem, ou em caso de falência. § 1º O juiz ou tribunal que conhecer de medida cautelar ou de ação pode, a requerimento ou de ofício, ordenar que os livros de qualquer das partes, ou de ambas, sejam examinados na presença do empresário ou da sociedade empresária a que pertencerem, ou de pessoas por estes nomeadas, para deles se extrair o que interessar à questão. § 2º Achando-se os livros em outra jurisdição, nela se fará o exame, perante o respectivo juiz. Art. 1.192. Recusada a apresentação dos livros, nos casos do artigo antecedente, serão apreendidos judicialmente e, no do seu § 1o, ter-se-á como verdadeiro o alegado pela parte contrária para se provar pelos livros. Parágrafo único. A confissão resultante da recusa pode ser elidida por prova documental em contrário. Art. 1.193. As restrições estabelecidas neste Capítulo ao exame da escrituração, em parte ou por inteiro, não se aplicam às autoridades fazendárias, no exercício da fiscalização do pagamento de impostos, nos termos estritos das respectivas leis especiais. Acerca do dever de levantar balanços patrimoniais e econômicos, obrigação esta que se deve revestir de periodicidade, vale colacionar a norma dos arts. 1.188 e 1.189: Art. 1.188. O balanço patrimonial deverá exprimir, com fidelidade e clareza, a situação real da empresa e, atendidas as peculiaridades desta, bem como as disposições das leis especiais, indicará, distintamente, o ativo e o passivo. Parágrafo único. Lei especial disporá sobre as informações que acom- panharão o balanço patrimonial, em caso de sociedades coligadas. Art. 1.189. O balanço de resultado econômico, ou demonstração da conta de lucros e perdas, acompanhará o balanço patrimonial e dele constarão crédito e débito, na forma da lei especial. 40 DIREITO EMPRESARIAL 1.3.6. Estabelecimento comercial e aviamento O Código Civil dedica o Título III de seu Livro de Direito de Empresa à disciplina do estabelecimento comercial, entendido como “todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade em- presária” (art. 1.142). Este é o conceito legal de estabelecimento comercial, pre- sente no Código Civil. Tal definição aproxima-se do conceito de universalidade de bens, podendo constituir-se como universalidade de fato (art. 90, do Código Civil), como expõe Ricardo Negrão (2014, p. 94): O Código Civil define estabelecimento empresarial no art. 1.142: “todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária”. O conceito merece alguns desdobramentos. A palavra “bens” com- preende coisas
Compartilhar