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Geografia Econômica

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pONTA gROSSA - pARANÁ
2009
LiceNciATuRA em
KARIN LINETE HORNES
LUIZ ALEXANDRE GONÇALVES CUNHA
REINALDO ANSBCH
eNSiNO A DiSTÂNciA
GeografiaGeografia
GEOGRAFIA ECONÔMICA 1
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância - NUTEAD
Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4748 - CEP 84030-900 - Ponta Grossa - PR
Tel.: (42) 3220-3163
www.nutead.uepg.br
2009
Todos os direitos reservados ao Ministério da Educação
Sistema Universidade Aberta do Brasil
Pró-Reitoria de Assuntos Administrativos
Ariangelo Hauer Dias - Pró-Reitor
Pró-Reitoria de Graduação
Graciete Tozetto Góes - Pró-Reitor
Divisão de Educação a Distância e de Programas Especiais
Maria Etelvina Madalozzo Ramos - Chefe
Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância
Leide Mara Schmidt - Coordenadora Geral
Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Pedagógica
Sistema Universidade Aberta do Brasil
Hermínia Regina Bugeste Marinho - Coordenadora Geral
Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Adjunta
Edu Silvestre de Albuquerque - Coordenador de Curso
Colaborador Financeiro
Luiz Antonio Martins Wosiak
Colaboradora de Planejamento
Silviane Buss Tupich
cRÉDiTOS
João Carlos Gomes
Reitor
Carlos Luciano Sant’ana Vargas
Vice-Reitor
Colaboradores de Informática
Carlos Alberto Volpi 
Carmen Silvia Simão Carneiro
Adilson de Oliveira Pimenta Júnior
Juscelino Izidoro de Oliveira Júnior
Osvaldo Reis Júnior
Kin Henrique Kurek
Thiago Luiz Dimbarre
Thiago Nobuaki Sugahara
Colaboradores em EAD
Dênia Falcão de Bittencourt
Jucimara Roesler
Colaboradores de Publicação
Maria Beatriz Ferreira - Revisão
Sozângela Schemim da Matta - Revisão
Anselmo Rodrigues de Andrade Júnior - Diagramação
Paulo Henrique de Ramos - Ilustração
Colaboradores Operacionais
Edson Luis Marchinski
Joanice de Jesus Küster de Azevedo
João Márcio Duran Inglêz
Maria Clareth Siqueira
Mariná Holzmann Ribas
 
 H816g Hornes, Karin Linete
 Geografia Econômica 1. / Karin Linete Hornes, Luiz Alexan-
 dre Gonçalves Cunha e Reinaldo Ansbach. 
 Ponta Grossa : Ed.UEPG, 2009.
 73p. il.
 Licenciatura em Geografia - Educação a distância. 
 1 . Geografia econômica - formação. 2. Geografia econômica
capitalista-monopolista. I. Cunha, Luiz Alexandre Gonçalves
 CDD : 330.981
Ficha catalográfica elaborada pelo Setor de Processos Técnicos BICEN/UEPG.
ApReSeNTAÇÃO iNSTiTuciONAL
Prezado estudante
Inicialmente queremos dar-lhe as boas-vindas à nossa instituição e ao curso que escolheu.
Agora, você é um acadêmico da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), uma 
renomada instituição de ensino superior que tem mais de cinqüenta anos de história no Estado do 
Paraná, e participa de um amplo sistema de formação superior criado pelo Ministério da Educação 
(MEC) em 2005, denominado Universidade Aberta do Brasil (UAB).
O Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) não propõe a criação de uma nova 
instituição de ensino superior, mas sim, a articulação das instituições públicas já 
existentes, possibilitando levar ensino superior público de qualidade aos municípios 
brasileiros que não possuem cursos de formação superior ou cujos cursos ofertados 
não são suficientes para atender a todos os cidadãos.
Sensível à necessidade de democratizar, com qualidade, os cursos superiores em nosso país, 
a Universidade Estadual de Ponta Grossa participou do Edital de Seleção UAB nº 01/2006-SEED/
MEC/2006/2007 e foi contemplada para desenvolver seis cursos de graduação e quatro cursos de 
pós-graduação na modalidade a distância. 
Isso se tornou possível graças à parceria estabelecida entre o MEC, a CAPES e as universidades 
brasileiras, bem como porque a UEPG, ao longo de sua trajetória, vem acumulando uma rica tradição 
de ensino, pesquisa e extensão e se destacando também na educação a distância. 
A UEPG é credenciada pelo MEC, conforme Portaria nº 652, de 16 de março de 2004, para 
ministrar cursos superiores (de graduação, seqüenciais, extensão e pós-graduação lato sensu) na 
modalidade a distância.
Os nossos programas e cursos de EaD, apresentam elevado padrão de qualidade e têm 
contribuído, efetivamente, para a democratização do saber universitário, destacando-se o trabalho 
que desenvolvemos na formação inicial e continuada de professores. Este curso não será diferente 
dos demais, pois a qualidade é um compromisso da Instituição em todas as suas iniciativas. 
Os cursos que ofertamos, no Sistema UAB, utilizam metodologias, materiais e mídias 
próprios da educação a distância que, além de facilitarem o aprendizado, permitirão constante 
interação entre alunos, tutores, professores e coordenação.
Este curso foi elaborado pensando na formação de um professor competente, no 
seu saber, no seu saber fazer e no seu fazer saber. Também foram contemplados aspectos 
éticos e políticos essenciais à formação dos profissionais da educação.
Esperamos que você aproveite todos os recursos que oferecemos para facilitar o seu 
processo de aprendizagem e que tenha muito sucesso na trajetória que ora inicia. 
Mas, lembre-se: você não está sozinho nessa jornada, pois fará parte de uma ampla rede 
colaborativa e poderá interagir conosco sempre que desejar, acessando nossa Plataforma Virtual 
de Aprendizagem (MOODLE) ou utilizando as demais mídias disponíveis para nossos alunos e 
professores. 
Nossa equipe terá o maior prazer em atendê-lo, pois a sua aprendizagem é o nosso principal 
objetivo.
 
 EQUIPE DA UAB/UEPG
SumÁRiO
PALAVRAS DOS PROFESSO ■ RES 7
OBJETIVOS E EMENT ■ A 9
A fORmAÇÃO De umA NOvA geOgRAfiA ecONômicA 
NO cONTiNeNTe euROpeu NA iDADe mODeRNA 11
SEçãO ■ 1- A AGONIA DE UMA SOCIEDADE ABALADA – A CRISE FEUDAL 14
SEçãO ■ 2- ANOS DE MUDANÇAS E TRANSFORMAÇÕES: A TRANSIÇÃO FEUDAL-
CAPITALISTA E O ESPAÇO RURAL EUROPEU 21
SEçãO ■ 3- ANOS DE MUDANÇAS E TRANSFORMAÇÕES: A TRANSIÇÃO FEUDAL-
CAPITALISTA NO ESPAÇO URBANO EUROPEU 30
geOgRAfiA ecONômicA cApiTALiSTA mONOpOLiSTA: 
umA NOvA gLObALizAÇÃO NA iDADe cONTempORÂNeA
 45
SEçãO ■ 1- O CAPITALISMO MONOPOLISTA E A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO 
ESPAÇO ECONÔMICO MUNDIAL 47
SEçãO ■ 2- A GEOGRAFIA ECONÔMICA DO IMPERIALISMO 51
SEçãO ■ 3- A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO ECONÔMICO CAPITALISTA 
MONOPOLISTA: TEORIAS BURGUESAS DE LOCALIZAÇÃO 56
PALAVRAS FINAI ■ S 69
REFERÊNCIAS ■ 71
NOTAS SOBRE OS AUTO ■ RES 73
pALAvRAS DOS pROfeSSOReS
Caro (a) aluno(a):
Você está iniciando o estudo de uma das disciplinas mais importantes 
da Geografia, que lhe permitirá uma compreensão ampliada do mundo em 
que você vive e o ajudará a se tornar um profissional qualificado a exercer 
o magistério, atuando como professor de Geografia no ensino básico. É 
um período de muito estudo e trabalho intenso, mas que valerá a pena, 
pois lhe abrirá novos horizontes no estudo do conhecimento geográfico.
O objetivo é proporcionar os pré-requisitos necessários para que você 
compreenda a geografia econômica contemporânea, que corresponde ao 
conteúdo da disciplina Geografia Econômica II, ministrada no segundo 
semestre deste curso. 
A geografia econômica que você estudará, começou a tomar forma 
na Europa, ainda no século XIV, mas se consolidou apenas no século 
XIX. Ela tem como uma de suas características a incorporação de novos 
espaços geográficos que antes abrigavam sistemas não-capitalistas. 
Esses espaços foram transformados de forma avassaladora pelo sistema 
capitalista e todo o modo de vida que o acompanha. Passaram a fazer 
parte de uma geografia econômica que hoje abarca todo o mundo. 
Na unidade I, você estudará as origens da evolução do capitalismo, 
pois para que você possa compreender o mundo atual é preciso resgatar 
os fundamentos histórico-geográficos que o sustentam. O mergulho que 
se faz na história é seletivo. Em primeiro lugar, aborda-se, em especial, 
o processo histórico-geográfico na Europa, pois é neste continente que o 
sistema capitalista estrutura-se e se expande para os demais. Em segundo 
lugar, os eventos históricossão desconsiderados em favor de se tentar 
entender apenas os movimentos conjunturais e estruturais relacionados 
especificamente aos fatores econômico-sociais do sistema. 
A unidade II aborda uma das etapas da evolução do capitalismo, 
suas reestruturações ao final do século XIX e as influências que exerceu 
no sistema mundial. Você precisa conhecer este processo histórico-
geográfico para que possa entender a geografia econômica que se formou 
a partir dele.
O importante é que você aproveite ao máximo esta disciplina. Todo 
início é difícil, mas com dedicação e entusiasmo você irá superar esta 
etapa inicial dos seus estudos. Você esta motivado a seguir em frente? A 
intenção é ajudar você a ser um professor de Geografia preparado para a 
profissão do magistério, que tem como missão formar jovens conscientes 
e capazes de exercer plenamente a cidadania.
Então, vamos começar a estudar?
Os autores
ObJeTivOS e emeNTA
ObjetivOs
Ao final desta disciplina você terá condições de: 
Identificar os elementos da crise feudal que contribuíram para o surgimento ■
de um padrão capitalista no espaço geográfico europeu.
Analisar a consolidação do capitalismo como agente fundamental na ■
reestruturação do espaço rural da Europa.
Relacionar as transformações produtivas na indústria européia como fator ■
determinante na organização de um espaço urbano capitalista no continente 
europeu.
Analisar a formação de uma nova geografia econômica mundial a partir da ■
expansão do capitalismo monopolista europeu.
Descrever o imperialismo como o conceito que permite entender a lógica ■
geográfica do capitalismo monopolista.
Criticar as teorias burguesas de localização como tentativa de explicar a ■
organização do espaço econômico que resulta da consolidação de um capitalismo 
monopolista.
ementa
As origens do espaço econômico capitalista. O espaço econômico no ■
capitalismo concorrencial e monopolista. O imperialismo e a geografia econômica 
do capitalismo monopolista. As teorias clássicas de organização econômica do 
espaço geográfico.
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UNIDADE 1
A formação de uma nova 
geografia econômica no 
continente europeu na 
idade moderna
ObjetivOs De aPRenDiZaGem
Entender o surgimento de elementos do capitalismo no espaço geográfico ■
europeu;
Estudar a consolidação do capitalismo no espaço rural e urbano da ■
Europa;
Compreender a formação da geografia econômica do capitalismo ■
tradicional. 
ROteiRO De estUDOs
SEçãO 1: A agonia de uma sociedade abalada – a crise feudal ■
SEçãO 2: Anos de mudanças e transformações: a transição feudal-capitalista ■
e o espaço rural europeu
SEçãO 3: Anos de mudanças e transformações: a transição feudal-capitalista ■
e o espaço urbano europeu
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KARIN LINETE HORNES
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UNIDADE 1
pARA iNÍciO De cONveRSA
Você já parou para pensar como se constituiu a geografia econômica 
no continente europeu? Sabia que a Europa Ocidental marca a origem da 
nossa sociedade contemporânea? Assim, a nova geografia econômica, 
que vai dar o padrão da organização do espaço econômico até os dias 
atuais, em praticamente todos os continentes, começou como um 
fenômeno europeu. Trata-se de uma geografia econômica que incorporou 
os novos padrões econômicos e sociais inaugurados pela era capitalista. 
O que é fundamental para que você possa entender essa nova geografia 
é compreender o surgimento dos novos padrões econômico-sociais que 
se consolidam com o advento do capitalismo. 
Capitalismo - O capitalismo é um novo modo de vida que começou 
a se formar na Europa, a partir do século XIV. Economicamente, esse 
modo de vida vai ser definido pela expansão do trabalho assalariado, pela 
relativa diminuição do número de trabalhadores agrícolas em relação à 
expansão dos trabalhadores das indústrias, pela diminuição da população 
que residia no campo em comparação aos novos moradores das cidades, 
pela expansão da burguesia industrial em detrimento da aristocracia 
rural.
Os elementos econômicos e sociais mais diretamente relacionados 
com a consolidação do capitalismo no século XVIII surgiram durante a 
crise do feudalismo. Essa crise foi um fenômeno histórico-geográfico que 
se abateu sobre a Europa e provocou o início da transição entre o feudalismo 
e o capitalismo. Os processos histórico-geográficos correspondentes às 
transições entre sistemas sociais ou modos de produção que se sucedem, 
caracterizam-se, normalmente, por apresentarem situações bastante 
complexas, nas quais se podem observar “remanescentes de outras 
formas de produção, bem com os germes de formas futuras.” (KAUTSKY, 
1986, p.13). No caso, os remanescentes são relacionados ao feudalismo; 
os germes, ao capitalismo. 
Você gostaria de participar de um fórum de discussão?Na plataforma moodle existe 
um local destinado ao fórum. O tema é a Globalização. A discussão partirá das 
teorias elaboradas por Milton Santos (2008), divulgadas no livro “Por uma outra 
globalização”. 
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UNIDADE 1
Feudalismo – O feudalismo corresponde a um sistema social que 
predominou na Europa Ocidental no período anterior ao capitalismo. 
Esse sistema era de base agrária, pois a maior parte da população vivia 
e produzia no campo. A relação produtiva fundamental ocorria entre os 
servos e os senhores feudais. Os servos tinham acesso a uma parcela das 
terras, mas pagavam por isso, normalmente cedendo trabalho ou parte da 
produção
A VidA NOS cAStelOS
A principal função de um castelo (ver figura 1) era a defesa. Por esse motivo 
eles geralmente se localizavam em locais de difícil acesso, como ilhas, penhascos e 
apresentavam, na maioria das vezes, muros de proteção e fosso. 
Mas, diferentemente da idéia luxuosa de tesouros e requinte, os castelos não 
eram nada confortáveis. Neles, as pessoas passavam muito frio, porque não havia 
aquecedores e eram poucas as lareiras disponíveis. Os banhos eram tomados em 
barris de madeira aquecidos naturalmente pelo sol.
O dia de trabalho iniciava com o amanhecer. Após o despertar do senhor, os 
empregados dirigiam-se ao quarto, esvaziavam o urinol, variam os aposentos e 
lavavam a roupa. 
Posteriormente à ingestão do café da manhã, o senhor se dirigia à capela para 
a missa da manhã. terminada a missa, o senhor começava seus afazeres. Sua 
principal função era a de administrar o feudo. A esposa do senhor feudal era 
servida por suas damas de companhia e camareiras. ela passava o maior tempo do 
dia na cozinha, supervisionando seus empregados. 
As cidades medievais possuíam péssimas instalações higiênicas. A maioria das 
casas, com exceção das dos ricos não tinham latrinas e fossas. Os excrementos 
eram jogados na própria rua. As ruas não tinham pavimentação e tampouco obras de 
drenagem. Assim, com toda sorte de refugos e imundícies, o cheiro era insuportável. 
Os ratos e animais domésticos, e até mesmo porcos, circulavam livremente por 
todos os cômodos do castelo. A maior parte da água disponibilizada nas cidades era 
poluída e se concentrava em certos pontos, não sendo distribuídas nas casas.
A famosa tapeçaria era utilizada para esconder as paredes que viviam cheias 
de infiltrações e mofos. Diante de toda esta descrição, dá para perceber que a vida 
não era nada fácil. O trabalho era árduo e os dias ocupados por uma rotina bastante 
cansativa.
Figura 1 
castelo Feudal
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UNIDADE 1
SeÇÃO 1
A AgONiA De umA SOcieDADe 
AbALADA – A cRiSe feuDAL
A crise que se abateu sobre o feudalismo europeu tem seu marco 
inicial no século XIV. Até esse século, o feudalismo não apresentou 
conjunturas que significassem condições intransponíveis para a 
manutenção dos padrões econômicos e sociais que caracterizavam 
os modos de vida europeus durante muitos séculos. Mas os processos 
histórico-geográficossão normais em qualquer estrutura ou sistema social 
e eles indicam um movimento permanente de transformações que afetam 
a vida de todos nós. Você já parou para pensar nisso? Pesquise sobre a 
vida que seus antepassados (bisavós, avós) levavam no campo e compare 
com a realidade do campo nos dias de hoje. Então, você deve refletir 
também sobre as mudanças que aconteceram no continente europeu, 
para que possa compreender o mundo em que vive. Veja, a seguir, quais 
são os aspectos mais importantes dessas mudanças. 
No feudalismo, a esmagadora maioria da população vivia do cultivo 
da terra, o que o caracteriza como uma sociedade agrária típica, mas uma 
parte menor da população habitava nas pequenas vilas, as cidades da 
época, chamadas de burgo. De qualquer forma, os modos de vida giravam 
em torno dos padrões de ruralidade e de suas mentalidades.
Os burgos
Burgo - O burgo, normalmente, era um pequeno povoado, no 
qual, na maioria das vezes, localizavam-se instituições administrativas, 
religiosas e comerciais. Em alguns lugares, correspondiam a aldeias, nas 
quais se erguiam castelos fortificados.
Você consegue perceber como seria uma sociedade agrária 
típica? Procure pensar nisso, pois o ajudará a entender o feudalismo. 
Comece procurando compreender o que eram os domínios ou feudos 
(Ver figura 2), pois se pode afirmar que o espaço rural do feudalismo 
era caracterizado pela existência desses domínios. Neles havia uma 
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UNIDADE 1
configuração territorial predominante, baseada na divisão das terras em 
dois elementos territoriais:
A 1. reserva senhorial (Ver figura 2) era uma extensão de terra 
explorada diretamente pelo senhor, onde ficava a residência 
dele. Além disso, abrigava também oficinas, celeiros, estábulos, 
moinhos, pastos, bosques e terra cultivada.
A outra área, formada pelo conjunto de 2. mansos (ver figura 
2), correspondia às pequenas explorações camponesas. Os 
mansos eram unidades fiscais, pois seus detentores pagavam 
aos seus senhores pela concessão, que poderia ser em espécie 
(dinheiro), trabalho, produtos ou serviços. Eles serviam também 
como unidades de exploração agrícola familiar, como um lote 
a partir do qual uma família camponesa buscava conseguir 
sua subsistência. Os mansos eram constituídos de casa, horta, 
pomares e terra de cultivo. 
O uso da terra no sistema feudal
É muito importante você fixar que a posse dos mansos dava direito 
de acesso aos bosques e pastos e a sua exploração, pois eram de uso 
Figura 2 - Sistema Feudal 
do norte da Alemanha
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UNIDADE 1
comunal. Os trabalhadores rurais que habitavam nos mansos, na sua 
maior parte, eram servos, pois viviam em regime de servidão. Eles 
tinham a posse da terra, mas eram terras que pertenciam aos senhores. 
Esse regime era fundado em obrigações e direitos. Por exemplo, o 
servo não podia abandonar sua parcela de terra, mas, por outro lado, 
não podia ser privado desse acesso. Pelo usufruto hereditário do manso, 
o servo devia duas obrigações principais: pagamento de rendas em 
produto ou em dinheiro ao senhor e prestação de trabalho e favores na 
reserva senhoril ou diretamente aos senhores. Essa estrutura funcionou 
de forma satisfatória, pelo menos até o século XIII. É evidente que o 
modelo descrito apresentou-se com bastantes variações, dependendo dos 
diversos processos histórico-geográficos regionais. De qualquer forma, 
para que você atinja o objetivo relacionado à compreensão das origens 
do capitalismo, é um ponto de partida válido. Mas, como você já sabe, a 
crise dessa estrutura torna-se inevitável a partir do século XIV e é isso 
que você vai estudar a partir de agora.
A crise feudal
O século XIV é conhecido como o momento em que se iniciou a 
crise feudal. Na verdade, desde o século XIII já era possível identificar 
movimentos que indicavam certo desgaste dessa estrutura. Como 
estrutura econômica, ela se assentava sobre o processo de exploração do 
trabalho servil. Os servos trabalhavam para dispor dos recursos mínimos 
necessários à sobrevivência, mas parte dos seus esforços produtivos 
resultava em bens que eram cedidos aos senhores feudais. Além disso, 
os servos trabalhavam diretamente nas terras senhoriais, numa relação 
chamada de corvéia1. Assim, para que a estrutura feudal funcionasse, 
os recursos vinham do trabalho dos servos, os quais também prestavam 
serviços diretamente às famílias da nobreza feudal. 
Silva (1986) destaca a corvéia como relacionada, principalmente, à 
forma de exploração da “senhoria territorial”, que se baseava não apenas 
na posse das famílias camponesas, mas também na posse da terra e do solo 
1 Corvéia - Trabalho coletivo não-remunerado que os servos deviam aos senhores e que 
era prestado durante alguns dias do ano nas lavouras, no conserto de estradas e pontes, 
no transporte de produtos, entre outras atividades.
Um filme interessante, a 
que você talvez já tenha 
até assistido, é “Robin 
Hood – O príncipe dos 
ladrões”, com direção de 
Kevin Reynolds. Vale a 
pena assistir (ou assistir 
novamente) a esse filme, 
que retrata um pouco 
da vida nas cidades 
medievais e que mostra 
detalhes da época, como 
os conflitos entre os 
camponeses e senhores 
feudais. 
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UNIDADE 1
como meio de produção. O autor afirma que “a principal forma de extração 
de riquezas se dava sob a forma de corvéias (trabalho compulsório) e do 
pagamento de parte da produção obtida pelo camponês na terra cedida 
pelo senhor (pagamento feito em moeda ou em produto, dependendo de 
época e lugar).” (SILVA, 1986, p. 30). A riqueza gerada nesta relação era 
usada para pagar, em grande parte, as despesas dos senhores, clérigos, 
reis e todos que não trabalhavam diretamente a terra. Ora, um aumento 
de despesa precisava, necessariamente, ser acompanhado pelo aumento 
das rendas auferidas por essa classe dominante. Você concorda com 
essa conclusão? E, na nossa sociedade atual, apresenta-se esse tipo de 
problema? 
Procure refletir sobre essa questão, porque nos primeiros séculos 
do segundo milênio d.C. ocorreu o aumento dos gastos necessários para 
implementar os novos projetos ligados aos segmentos dominantes. Entre 
esses, podem-se citar as cruzadas2, a construção de grandes catedrais, a 
sofisticação do consumo das elites, etc. Assim, para fazer frente ao aumento 
de despesas, era necessário aumentar as receitas, ou seja, os recursos que 
se poderiam arrecadar da população em geral. Os camponeses, os grandes 
explorados, mostravam-se cada vez mais fragilizados economicamente, 
pois diminuía o excedente econômico-produtivo que poderia ficar nas 
mãos desses trabalhadores. Dessa forma, sem reservas e trabalhando no 
limite dos recursos disponíveis, os trabalhadores rurais e suas famílias 
tornaram-se “presa fácil” da conjuntura de crise que se instalou na Europa 
a partir do início do século XIV.
Elementos fundamentais da crise feudal
 
Você precisa entender que a conjuntura de crise tomou todo o século 
XIV e deu início a uma longa transição entre o feudalismo e o capitalismo, 
2 Cruzadas - Expedições militares organizadas pelos cristãos europeus a partir do 
século XI e que se sucederam até o século XIII. Lideradas pela igreja católica, as 
cruzadas aconteceram como movimentos que visavam libertar as terras santas do jugo 
muçulmano.
leia mais a respeito das cruzadas e escreva um pequeno resumo de no máximo dez 
linhas sobre o assunto.
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UNIDADE 1
que, no caso da Inglaterra, primeiro país a apresentar um modo de vida 
capitalista consolidado, durou até a segunda metade do século XVIII.
Os elementos fundamentais da conjuntura da crise feudal do século 
XIV foram:
as •	 intensas chuvas que se abateram sobre algumas regiões da 
Europa, entre 1315 e 1317;
oaparecimento de •	 doenças epidêmicas, com destaque para a 
peste negra, que atingiu seu auge em 1348;
as violentas •	 revoltas camponesas, principalmente na Inglaterra, 
que era o país que apresentava as maiores transformações, entre 
1378 e 1381;
a •	 guerra nacionalista entre Inglaterra e França, denominada 
Guerra dos Cem Anos (1337-1453). 
Esses elementos podem ser considerados os que se relacionam com 
as questões diretamente econômicas e produtivas.
O desastre climático e as epidemias
As chuvas, em intensidade muito acima da média, devastaram as 
áreas cultivadas e levaram a uma perda acentuada das colheitas. Com 
isso, foi interrompido um movimento de queda dos preços dos cereais, 
resultado de uma sucessão de anos bons, que determinou maior oferta e 
menores preços. Assim, instalou-se um movimento de carestia, agravado 
pela crise produtiva, dando origem à chamada “fome européia”, que 
atingiu inúmeros países, abriu as portas para as doenças epidêmicas e 
agravou a ocorrência das endêmicas. Nesse contexto, a grande pandemia 
que se destacou foi a peste negra, que atingiu seu ápice no século XIV, 
mas se manteve através de ondas epidêmicas por quase todo o período de 
transição, atingindo praticamente todas as regiões do continente europeu 
desse período.
Com a peste negra, ocorreu uma “fratura demográfica” provocada 
por um número de mortos extremamente elevado, alcançando índices 
que podem ter variado de 30% a 40% da população total da Europa, com 
algumas regiões sendo mais fortemente atingidas. Comparativamente, as 
cidades sofreram mais diretamente que os campos, pois apresentavam 
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a população concentrada em pequenos espaços, que não possuíam as 
condições mínimas de infra-estrutura sanitária. A peste não se relacionava 
com subnutrição, mas se alastrou com facilidade, após a sua transmissão 
a partir do Oriente, em virtude das condições médico-sanitárias 
precárias.
O agravamento da crise
O impacto desta epidemia foi devastador. A partir de 1348, ano em 
que as mortes foram especialmente concentradas, a população disponível 
para o trabalho reduziu-se drasticamente, e os salários subiram de forma 
significativa, em razão da grave escassez de mão-de-obra. O problema 
da pressão altista sobre os salários foi tão grave que gerou a primeira 
lei para controlar os aumentos salariais, ainda em 1349, na Inglaterra. 
Em 1350, na França também surgiu uma ordenação que visava regular 
o preço da mão-de-obra. Ao contrário do que acontece nos dias atuais, 
em que é fixado um salário mínimo, aquelas leis definiam um salário 
máximo, proibindo, sob pena de prisão, que o empregador pagasse um 
salário acima do máximo, e a lei era mais rigorosa com quem aceitava 
receber além do máximo.
Revoltas camponesas
Outro elemento importante da crise constituiu-se nas revoltas 
camponesas. Elas foram mais violentas na Inglaterra, entre os anos 
de 1378 e 1381, porque era o país onde as transformações mais se 
intensificaram, o que ocasionou uma insatisfação muito grande entre 
os camponeses. Pelo menos por duas vezes, Londres foi tomada pelos 
revoltosos, motivando uma reação extremamente violenta do rei Ricardo 
II (1377-1399), que atacou os rebeldes durante as negociações, nas quais 
os camponeses tentavam retomar os costumes tradicionais de usufruto 
das terras comunais que permitiam a utilização coletiva dos recursos 
disponíveis como os pastos, açudes, peixes, caça e lenha.
Peste negra - a peste 
bubônica ou febre 
bubônica. doença muito 
contagiosa, transmitida 
ao homem através 
de picadas de pulgas 
que se hospedam em 
ratos. No século XX, 
tornou-se uma doença 
passível de tratamento 
pela substância 
estreptomicina, um tipo 
de antibiótico. Mas a 
peste bubônica não 
ameaçou apenas aos 
humanos. ela também 
atingiu os animais. O 
gado Frisben (raça 
holandesa) quase 
foi dizimado. cães, 
gatos, porcos, ovelhas 
também sofreram. e 
como a peste atacava 
também os animais de 
rebanho, isso acabou 
prejudicando ainda 
mais os humanos, que 
acabavam passando 
fome.
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Guerras nacionalistas
Nesse mesmo contexto, o que agravou a situação foi o surgimento 
das primeiras guerras nacionalistas. A mais importante aconteceu entre 
dois grandes Estados que buscavam se fortalecer e começavam a valorizar 
o sentimento de nação que se liga a um determinado território, formando 
um Estado-nação. O povo que habita esse território sente-se unido através 
de uma identidade que é partilhada pela maioria da população.
Esses dois Estados eram a Inglaterra e a França, que travaram a 
guerra dos Cem Anos (1337-1453). A guerra contribuiu para o processo 
de centralização política de ambos os países, o que significou a retomada 
de poderes pelos soberanos, em detrimento dos poderes locais e regionais 
dos senhores feudais. Mas, antes de tudo, a guerra agravou a conjuntura 
de crise, através dos seguintes elementos:
aumentou a mortalidade e o despovoamento de inúmeras •	
regiões, piorando a crise de mão-de-obra;
agravou a perda de colheitas e rebanhos e, destarte, a fome;•	
acelerou as mudanças nas relações sociais, enfraquecendo o •	
instituto da servidão;
favoreceu a mobilidade social, gerando o empobrecimento de •	
muitos, mas permitindo que outros enriquecessem;
agravou a situação fiscal das monarquias, que passaram a •	
buscar empréstimos junto aos banqueiros italianos, o que gerou 
inflação e desvalorização monetária.
Tudo isso ajudou a formar a conjuntura da crise feudal, indicando 
que a estrutura social, que se reproduzia satisfatoriamente há séculos, 
começava a apresentar abalos que afetavam o seu dinamismo. Esses 
abalos indicavam que as transformações começavam a acontecer, porque 
os padrões normais de reprodução social da estrutura feudal já não 
conseguiam se manter.
Neste ponto, surge uma grande questão sobre a qual você deve 
refletir: quais foram os novos elementos sociais que indicavam os 
rumos que tomaria a longa transição para uma nova estrutura social? 
Na próxima seção, você irá estudar os aspectos principais ligados a tal 
questão.
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SeÇÃO 2
ANOS De muDANÇAS e TRANSfORmAÇÕeS: A 
TRANSiÇÃO feuDAL-cApiTALiSTA e O eSpAÇO 
RuRAL euROpeu
Como você estudou os elementos básicos da estrutura social, 
que juntos formavam o corpo sobre o qual se sustentava o feudalismo, 
apresentavam, cada um deles, problemas difíceis de serem superados. 
Com isto, tais elementos começaram a ser substituídos por outros, que 
Você conseguiu verificar que foram diversos os elementos histórico-
geográficos que contribuíram para formar a conjuntura de crise e agravá-la cada 
vez mais? Procure enriquecer seus conhecimentos, através de leituras, vídeos e 
pesquisas na internet. Segue uma sugestão: O filme “Lutero”, com a direção de Eric 
ti, que relata esta conjuntura de crise em diversas situações. elabore a seguir um 
comentário a respeito do filme.
Há vários livros e discussões sobre alguns reformistas como Martin lutero 
(2005), João Calvino (2006), Menno Simons. Procure saber mais a respeito 
deles. Há também um livro denominado “A ética protestante e o espírito capitalista”, 
escrito por Max Weber, que faz referência a este período.
É interessante relatar a respeito desta conjuntura religiosa, porque a europa 
passava por uma crise de valores que estava atrelada à transição do sistema feudal 
para o capitalismo.
durante a idade Média a igreja desempenhava o poder tanto do estado 
quanto religioso e isso acabava prejudicando os senhores feudais, principalmente 
com relação à cobrança de impostos. 
 toda a arrecadação de capital vinha da cobrança de impostos e também das 
indulgências. Muitos senhores, fartos de dividir a riqueza com a igreja, e pensando 
na separação dela do Estado, acabaram auxiliando no financiamento e proteção de 
pensadoresque propunham reformas religiosas. A intenção do primeiro não era 
As modificações que ocorreram foram de bases ideológicas. Há princípios 
com influências econômicas nas doutrinas da igreja católica que não favoreciam 
acumulação de bens. entre eles, pode-se destacar a divisão da riqueza com os 
pobres e a realização de “boas obras” neste mundo, ligadas, principalmente, a 
caridade. Há uma frase bíblica que justifica tais princípios: “é mais fácil um camelo 
passar por um vão da agulha do que um rico entrar no reino dos céus”. 
com o advento de uma nova igreja, o principal princípio é o de que o justo 
viverá pela fé e não por suas obras. Portanto, não é necessário se fazer “boas obras” 
para obter a salvação. Outro principio desta nova igreja é que o trabalho dignifica 
o homem e se alguém enriqueceu pelo trabalho, não deve envergonhar-se, menos 
ainda se preocupar em dividir sua riqueza com os mais pobres (WeBeR, 2004). 
É inegável que está nova doutrina favoreceu o surgimento e a consolidação do 
capitalismo.
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significaram os germes ou embriões de uma nova estrutura. Reunidos, os 
novos elementos formavam um conjunto que indicaria o “pontapé” inicial 
de uma transição social que só terminaria com a consolidação de uma 
nova estrutura social chamada capitalismo, denominação predominante 
até os dias atuais. Na verdade, a grande transição deve ser vista reunindo 
os diversos processos histórico-geográficos que deram características 
diferentes às transições específicas a países e regiões da Europa.
 Uma nova estrutura social
Você deve refletir, a partir deste ponto, sobre os novos elementos 
econômicos e sociais que inauguraram uma nova conjuntura, os quais 
foram, basicamente, os seguintes:
os •	 cercamentos (enclousures) das terras comunais, provocados 
pela reação senhorial, que impedia o acesso dos camponeses 
aos recursos existentes nessas áreas;
o surgimento da •	 segunda servidão;
o crescimento do •	 trabalho assalariado e dos arrendamentos de 
terras no campo;
a consolidação de uma •	 burguesia rural formada por alguns 
estratos de ex-camponeses;
a •	 especialização produtiva voltada para o mercado.
Você já deve ter percebido que, nos processos histórico-geográficos, 
nenhum elemento pode ser pensado isoladamente. Assim, quando 
aludimos à noção de conjuntura, buscamos enfatizar o caráter integrado 
com o qual os elementos se manifestam nesses processos. No entanto, 
não se pode analisá-los de forma didática, a não ser considerando-os 
individualmente.
Você deve começar refletindo sobre os cercamentos, que, sem 
dúvida, constituíram-se no elemento mais importante daquela conjuntura. 
Procure recordar a referência feita às terras comunais no espaço rural 
feudal.
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Os cercamentos
Você viu que nos domínios ou feudos havia uma divisão em duas 
grandes áreas: as terras exploradas diretamente pelos senhores feudais e 
um conjunto de pequenos lotes que eram explorados, cada um deles, por 
uma família de camponeses. Como os terrenos das famílias camponesas 
eram pequenos, a sobrevivência dependia também dos recursos que elas 
podiam conseguir nas chamadas terras comunais, nas quais se localizavam 
os bosques que forneciam alimento e lenha, os pastos que alimentavam 
as criações e as fontes de água. É fácil perceber que o acesso a esses 
recursos era indispensável aos camponeses, pois eles não contavam com 
isso nos seus pequenos lotes, que eram reservados para produção agrícola 
tanto para o consumo familiar quanto para pagar as rendas em espécie, 
definidas conforme os costumes locais.
Os cercamentos correspondiam à apropriação privada pelos senhores 
das terras comunais. Em outras palavras, os senhores passaram a proibir 
aos servos o acesso aos recursos contidos em tais terras, porque tinham 
interesse em ampliar a exploração direta que já faziam em outras áreas, 
incorporando terras que antes dividiam com os camponeses. O que deu 
um caráter absolutamente devastador sobre o meio de vida dos servos foi 
a opção de uso principal que os proprietários passaram a dar as terras, 
que era a criação de ovelhas. 
Na Inglaterra, os senhores ampliaram as criações de ovelhas (a lã 
tornou-se uma matéria-prima muito valorizada), que, como praticamente 
todo o tipo de criação animal, não necessitava de muita mão-de-obra, 
mas de uma quantidade cada vez maior de terras. Com isso, tornou-se 
vantajoso expulsar os camponeses e fazer a exploração produtiva direta 
das terras comunais.
Êxodo Rural
Você deve ter percebido que, neste novo contexto, os camponeses 
não conseguiam sobreviver da exploração dos seus pequenos lotes, 
como também não havia empregos nas novas fazendas; só restando, a 
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muitos, o êxodo rural3, o abandono do campo e a busca de novas formas 
de sobrevivência. A opção era partir para outras regiões e cidades, mas 
muitos engrossaram os ”exércitos” dos revoltosos ou dos bandos de 
salteadores que assolavam as estradas da época. Outros foram jogados à 
mendicância ou à prática de diversos crimes. 
Esse grande êxodo rural, gerado pela falta de opções produtivas 
para uma massa enorme de 
ex-servos, tornava-se cada vez 
mais grave nas décadas que 
se seguiram. O resultado foi o 
surgimento das chamadas Leis 
dos Pobres, que se sucederam 
desde o final do século XV até o 
século XIX, na Inglaterra e em 
outros países da Europa. Essas 
leis buscavam manter o controle 
sobre as multidões dos excluídos 
dos espaços produtivos rurais e 
que não conseguiam encontrar 
outras ocupações econômicas. 
Quando se perdia o controle, 
partia-se para a repressão pura 
e simples.
Desigualdades sociais
Karl Marx produziu uma obra intelectual das mais influentes, 
dedicada às origens e evolução do capitalismo. Denominam-se marxistas 
os estudiosos que se baseiam nesta obra para produzir os seus trabalhos. 
Para começar a conhecer as propostas marxistas, sugerimos os livros que 
tratam da história do pensamento econômico, em especial o de Hunt; 
Sherman (1990). No capítulo citado anteriormente, Marx descreve a 
acumulação primitiva de capital que teria ocorrido antes da consolidação 
3 Êxodo Rural – Migração da população moradora das áreas rurais em direção às cidades 
(Figura 3). Esse movimento populacional tem sido ao longo dos últimos séculos, o grande 
causador da chamada urbanização, que gerou a concentração da população nas cidades.
Figura 3 - Êxodo Rural
Para entender melhor 
esses fatos, sugerimos 
a leitura do texto 
“legislação sanguinária 
contra os expropriados”, 
um dos mais famosos 
capítulos do livro “O 
Capital” (1867), a principal 
obra de Karl Marx. 
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do capitalismo. Ele destaca, por exemplo, um item da lei que vigorava em 
1572, na Inglaterra, no reinado de Elizabeth I:
“os mendigos sem permissão e maiores de 
14 anos deverão ser severamente açoitados e 
marcados com ferro em brasa na orelha esquerda, 
se ninguém quiser tomá-los a seu serviço durante 
dois anos. Em caso de reincidência, os maiores de 
dezoito anos deverão ser executados se ninguém 
quiser empregá-los durante dois anos. Mas na 
terceira vez, serão executados sem misericórdia 
como traidores.” (MARX, 1989, p.61-62).
Mesmo após milhares de execuções todos os anos na Inglaterra, a 
criminalidade não arrefecia, pois, segundo um observador da época, que 
é destacado por Marx (1989), os punidos não eram responsáveis nem pela 
“quinta parte dos crimes cometidos, graças à negligência dos juízes de 
paz e a estúpida compaixão do povo”. Na verdade, não havia, de forma 
efetiva, meios de se ganhar a vida honestamente que pudesse atender a 
toda a população desalojada dos campos naquela época, mas se cobrava 
mais e mais repressão. 
A empresa capitalista no campoEnquanto isso, os campos eram povoados de ovelhas, visando 
à produção de lã, produto valorizado no comércio internacional e que 
garantia os lucros monetários indispensáveis à nova economia. O mercado 
capitalista que começava a ser montado dependia da moeda como um 
elemento indispensável para intermediar as trocas. A riqueza passa a ser 
algo que dependia antes de tudo da posse da moeda, pois ela materializa 
a realização dos lucros. Não adiantava ter terra, sem ter renda monetária. 
É assim que as terras, antes reservadas ao usufruto das comunidades, 
passaram a ser de exploração individual. 
leia mais a respeito do tema do êxodo rural e suas conseqüências sociais. depois 
elabore uma comparação entre o que sucedeu na inglaterra nos últimos cinco 
séculos e no Brasil nas últimas cinco décadas. Assim, você poderá refletir sobre a 
seguinte questão: quais são as semelhanças e diferenças entre o êxodo rural que 
aconteceu na inglaterra e o que ocorreu no Brasil? escreva pelo menos dez linhas 
a respeito do assunto.
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Esse processo altera totalmente a organização do espaço rural, 
transformando as fazendas em empresas produtivas e comerciais de 
tipo mercantil, pois a produção era dirigida para o mercado. Tratava-se, 
inegavelmente, do surgimento de uma empresa capitalista no campo. 
Isso pressupunha uma nova definição contratual da propriedade privada 
de caráter individual, o que modificava completamente a forma de 
apropriação do solo produtivo que predominava no sistema feudal.
Começava assim a apropriação produtiva do espaço rural nos 
moldes capitalistas, num processo histórico-geográfico que tomaria 
características específicas de acordo com cada país e região. A partir da 
Inglaterra, ele se expande pela Europa Ocidental, através dos emigrantes 
europeus que vão se espalhar por diversos continentes, em especial na 
América do Norte surge um padrão capitalista bem marcado na ocupação 
dos espaços rurais.
Especialização produtiva
Sem dúvida, os cercamentos foram o processo mais importante 
daquela conjuntura e estão na raiz do que denominamos de 
especialização produtiva voltada para o mercado. Isso significava uma 
forma de cada região ou país se especializar em algum segmento da 
produção agroindustrial, em que ele se mostrava mais competitivo, em 
virtude de vantagens comparativas que lhe eram favoráveis em relação a 
outros países e regiões. Por exemplo, os produtores ingleses preferiam a 
criação de ovelhas porque conseguiam produzir a melhor lã. Países como 
a Dinamarca e a Noruega também se especializaram na criação, mas 
voltada para a produção de carnes salgadas e laticínios, principalmente 
a manteiga. A Toscana (Itália) especializou-se em plantas industriais, 
notadamente as tintoriais. Regiões da Alemanha tornavam-se produtoras 
de corantes, linhos e vinhos, bebida que também marcava algumas regiões 
de Portugal e da França. 
Novos estudos indicam que, na maior parte dos casos, essa 
especialização produtiva foi posterior a algum tipo de cercamento que 
transformava o solo em mais um meio de produção capitalista. (SILVA, 
1986). 
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A diferenciação econômica e regional
Para você, é importante entender que a especialização produtiva 
contribuiu para o surgimento de uma nova geografia econômica, pois 
gerou regiões econômicas diferenciadas, já que cada produto tem seu 
padrão produtivo, com regras territoriais próprias. Com o país ou região 
se especializando em poucos produtos, intensifica-se a necessidade de 
trocas, e as regiões buscam, no mercado internacional, aquilo que não 
produziam, enquanto ofereciam ao mesmo mercado o que produziam. 
A esse processo, a teoria econômica marxista chamou de divisão 
social do trabalho ou, como preferem alguns geógrafos marxistas, divisão 
territorial do trabalho. Para esses teóricos, trata-se do mecanismo que gera 
a regionalização no capitalismo, com as regiões tomando as características 
que lhe são reservadas pela lógica produtiva do sistema.
Uma especialização produtiva que merece um comentário especial 
foi a que aconteceu a leste do Rio Elba, na Europa Oriental. Nas planícies 
que abrangem territórios das atuais Alemanha e Polônia, e, posteriormente, 
da Rússia e países bálticos, expandiu-se uma agricultura voltada para a 
produção de cereais, principalmente o trigo, visando à exportação para os 
países da Europa Ocidental. 
A divisão social do trabalho
Esse processo não aconteceu através da dissolução da servidão, mas, 
justamente, a partir do reforço dos laços feudais. Os grandes fazendeiros 
alemães e poloneses procuraram intensificar a exploração de suas terras 
recorrendo a uma relação social – servidão – que, como você já estudou, 
estava em dissolução na Europa Ocidental. Tal processo ficou conhecido 
como a segunda servidão. A servidão na Rússia, por exemplo, só vai 
terminar com a Revolução Socialista de 1917.
No entanto, na Europa Ocidental, a servidão estava em decadência 
e dava lugar a outras relações de trabalho, como o assalariamento e o 
arrendamento4 que cresciam bastante no campo. Na exploração rural, 
4 Arrendamento - Contrato pelo qual o proprietário rural cede temporariamente ao 
arrendatário a exploração de frações de suas terras mediante o pagamento em espécie, 
produto ou trabalho.
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os diferentes produtos requerem padrões produtivos diversos. Alguns 
demandam mais mão-de-obra, outros menos. Alguns precisam de mão-
de-obra de forma concentrada em certos momentos da produção, outros 
não apresentam picos tão marcados. Assim, o produto que exige mão-
de-obra de uma forma regular durante todo o ciclo produtivo pode 
favorecer a utilização de assalariamento. Por outro lado, produtos que 
demandam muita mão-de-obra, mas de forma sazonal, podem favorecer 
a utilização dos arrendamentos, que levam as famílias dos arrendatários 
a se localizarem nas próprias terras que estão sendo exploradas, gerando 
força de trabalho concentrada que pode ser mobilizada nos momentos de 
maior demanda de braços, como as fases de plantio e colheita.
Na conjuntura da crise feudal, o trabalho assalariado tornava-se 
mais procurado, mas passa a ser regulado por leis que vão tentar mantê-
lo em níveis vantajosos para os empregadores. Inicia-se, então, uma 
luta entre patrões e empregados, relacionada ao preço da mão-de-obra. 
Os patrões, apoiados em leis repressivas, venceram a luta até meados 
do século XIX, quando se transformou em direito dos trabalhadores a 
organização sindical e a utilização das greves como forma de lutar por 
melhores salários e condições de trabalho (MARX, 1989). Todo esse 
processo foi mais importante nas cidades do que na zona rural.
No campo, os arrendamentos foram mais comuns na Europa 
Ocidental e geraram o aparecimento de um elemento fundamental no 
período de transição, que foi o burguês rural.
A burguesia5 rural
A burguesia rural surge do sucesso econômico de muitas 
explorações produtivas que se voltaram para atender às demandas do 
crescente mercado capitalista de produtos agropecuários, resultado 
da especialização. Entre esses bem-sucedidos capitalistas rurais, não 
estavam apenas os grandes fazendeiros, que expulsaram seus servos e 
passaram a explorar individualmente suas terras, mas também antigos 
5 Burguesia – Denominação dada ao conjunto dos proprietários dos meios de produção 
no capitalismo. Esses proprietários são os empresários ou capitalistas, os quais, para os 
marxistas, dominam as relações econômicas e sociais do sistema, o que os transforma em 
classe social dominante, em detrimento da classe social dominada, formada pelos não-
proprietários dos meios de produção, também chamada de proletariado.
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camponeses, que arrendaram terrasde senhores feudais arruinados e 
conseguiram acumular capital, favorecidos pelas qualidades de alguns 
solos, pela localização privilegiada de algumas terras ou por contratos 
de arrendamentos com pagamentos corroídos por uma inflação crescente 
que atingiu alguns países e regiões. 
Essa burguesia rural, formada por grandes, médios e pequenos 
produtores, contribuiu para consolidar a apropriação privada das terras, 
mudando a organização do espaço rural europeu de um modelo feudal, 
onde a propriedade era mitigada pela posse e o usufruto coletivo das terras, 
para um modelo capitalista, no qual se aboliu qualquer uso comunal das 
terras em favor da exploração individual.
Você constatou que, com todos esses novos elementos, estão 
lançadas as bases de um espaço rural de tipo capitalista, no qual se 
tornam fundamentais a existência de empresas rurais especializadas, 
administradas em moldes capitalistas, e formas não-servis de relações 
sociais, como o assalariamento e os arrendamentos. Esses novos elementos 
surgiram através da apropriação privada das terras comunais e tiveram 
como principal conseqüência, na Europa Ocidental, a decadência da 
aristocracia feudal, substituída pela burguesia rural. Na Europa Oriental, 
o processo foi diferente: a exploração mais intensa das terras dependeu do 
reforço dos laços feudais, através da intensificação da servidão (segunda 
servidão). Mas as transformações que acometeram a Europa não foram 
exclusivas do espaço rural, pois atingiram também as cidades ou os 
espaços urbanos. Você poderá analisar essas transformações urbanas na 
próxima seção. 
Você deve procurar refletir sobre as transformações que atingiram o espaço rural 
europeu, elaborando um texto sobre o que julgou mais interessante, no que foi 
abordado até este ponto. O texto deve ter no máximo trinta linhas (uma lauda).
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SeÇÃO 3
ANOS De muDANÇAS e TRANSfORmAÇÕeS: 
A TRANSiÇÃO feuDAL-cApiTALiSTA NO eSpAÇO 
uRbANO euROpeu
 
Até agora, você conheceu as transformações que afetaram o 
espaço geográfico feudal, no seu espaço rural, e entendeu como ele foi 
assumindo as características capitalistas. A partir daqui, você verificará 
as transformações econômicas ocorridas no espaço urbano. 
Você concorda que, ao estudar a estruturação da geografia 
econômica do mundo capitalista, abordando os elementos internos das 
transformações ocorridas no primeiro continente no qual essa estruturação 
se consolidou, constata-se que as mudanças nasceram, em grande parte, 
de contradições internas das diversas sociedades européias? 
Você concorda também que essas sociedades podem ser vistas como 
diferentes nações, regionalmente caracterizadas, que desenvolveram 
vários processos histórico-geográficos, mas todos eles inseridos no 
contexto de transformação que envolveu o continente europeu? 
Não se preocupe em responder ainda. Antes, reflita bastante e 
acompanhe o que será abordado a seguir. Observe que as questões gerais 
serão enfocadas a partir de questionamentos específicos.
As transformações que atingiram o mundo da produção industrial
Você que vive numa civilização mercantil e trabalha de uma forma 
especializada, normalmente permanece muito distante do processo 
produtivo efetivo das mercadorias que consome e não pensa muito nesse 
processo. É certo que você não está sozinho, pois a maioria das pessoas 
nunca se preocupou com isso. 
Mas, de qualquer forma, você deve tentar refletir um pouco sobre o 
processo de produção de mercadorias. Pense sobre isso: o que acontece, 
efetivamente, quando se produz uma mercadoria? Ao se analisar a 
produção de uma tábua, por exemplo, pode-se afirmar que primeiro uma 
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árvore foi derrubada e depois o seu tronco foi serrado para produzir várias 
tábuas. Assim, uma matéria-prima inicial (a árvore) sofreu a ação humana, 
potencializada pela ajuda de máquinas e ferramentas, permitindo a 
criação de um produto final, no caso, a tábua. Esse produto pode ser a 
matéria-prima básica para uma série de outros produtos, cuja matéria-
prima inicial é a madeira. Podemos citar como produtos derivados da 
madeira: os móveis, os pregadores de roupas, os cabos de vassouras, as 
urnas funerárias (caixões), entre outros. Há alguns produtos que muitos 
desconhecem e que podem ter as árvores como matéria-prima inicial. É 
o caso do papel e papelão. É isso mesmo! O papel deriva da madeira. Por 
isso, afirma-se que reciclar papel usado para produzir papel novo evita a 
derrubada de árvores.
Transformação da natureza
Nesse ponto, você deve pensar sobre mais uma questão: desde 
quando o homem é capaz de transformar uma matéria-prima em um 
bem ou produto que possa ser utilizado por ele mesmo? Os estudos 
e pesquisas indicam que faz bastante tempo. Os homens primitivos 
lascavam rochas, pegavam pedaços dessas rochas que apresentassem 
uma forma de “machadinha”, amarravam esses pedaços de rochas com 
cipós e acabavam criando um bem que poderia servir para caçar ou atacar 
seus inimigos. Da mesma forma, começaram a produzir vestimentas com 
pele de animais e canoas, utilizando troncos de árvores. Assim, parece 
estar confirmado que, realmente, faz muito tempo que existe atividade 
artesanal, manufatureira ou industrial nas comunidades humanas. Mas 
é evidente que a produção de bens evoluiu muito desde a época das 
cavernas.
 Deve-se destacar que a produção de bens, durante muitos séculos, 
foi feita, predominantemente, como uma atividade doméstica, pois era 
realizada como um trabalho ligado à vida das famílias, que produziam 
bens para serem consumidos diretamente pelos seus membros ou para 
serem utilizados também pelos trabalhadores familiares na produção 
de outros bens. É evidente que em alguns lugares e em determinados 
momentos, escravos e servos também trabalhavam para outros e não 
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propriamente para suas famílias. Mas o importante aqui é que a maior 
parte da produção era para o auto-consumo: o bem produzido não era 
uma mercadoria, não havia alguém lucrando com aquela produção. 
A indústria doméstica
No feudalismo e no capitalismo sempre houveram produtores 
especializados que viviam dos bens que fabricavam e vendiam. 
Assim viviam os ferreiros, os carpinteiros e os artesãos. Nos campos, 
os camponeses, na sua grande maioria, produziam quase tudo que 
consumiam, nos moldes do que se denominou de indústria doméstica, 
porque fabricavam nas suas residências suas roupas, móveis, calçados e 
ferramentas e pode-se afirmar também que conseguiram avançar muito 
na produção de bens que estão na base da atual indústria alimentícia. Isso 
porque, em muitas regiões da Europa, o inverno é muito longo e rigoroso. 
São mais de seis meses por ano nos quais os solos permanecem cobertos 
por neve. Não há como cultivar muitos tipos de alimentos nesse período. 
Com isso, houve necessidade de produzir alimentos que pudessem ser 
conservados para que fossem consumidos no inverno. Assim, surgiram os 
salames, presuntos, carnes salgadas, conservas de legumes e verduras e 
as compotas de frutas. Os descendentes de alemães, italianos, poloneses, 
entre outros que vieram para o Brasil trouxeram essa tradicional indústria 
doméstica e a desenvolveram nas colônias rurais que aqui implantaram. 
A evolução da produção artesanal
A produção manufaturada com objetivo comercial, como um 
sistema corporativo6, começou ainda na Idade Média ou, como se 
6 Sistema Corporativo – A base desse sistema eram as corporações de ofício, que cor-
respondiam a associações profissionais de artesãos, como sapateiros, alfaiates, ferreiros, 
etc. Essas associações tinham normas rígidas para controlar o exercício profissional. O 
sistema, embora de origem medieval, progrediu muito no período de transição do feuda-
lismo ao capitalismo,quando dominou o intervencionismo estatal mercantilista, típico do 
Estado absolutista. 
Pesquise sobre a existência da indústria doméstica nas colônias agropecuárias dos 
municípios que são tipicamente rurais. dessa forma você entenderá a origem destas 
atividades que são muito comuns entre os colonos do sul do Brasil. cite e comente 
algumas delas.
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prefere denominar, no feudalismo. Esse sistema, também chamado de 
indústria artesanal corporativa ou sistema artesanal tradicional, era 
totalmente controlado por mestres artesãos e suas famílias, os quais 
detinham a direção de todas as etapas do processo produtivo, desde a 
compra da matéria-prima, passando pela produção em si, até chegar 
à comercialização, que também era reservada ao próprio artesão. Esse 
sistema perdurou de forma equilibrada durante muitos séculos, nos quais 
a demanda manteve-se em padrão regular. Até porque uma boa parte 
do que se produzia era voltada para o mercado de luxo e atendia a uma 
demanda restrita às elites.
Mas essa realidade mudou após a crise dos séculos XIV e XV. Como 
você já estudou, a crise gerou o êxodo rural, levando uma boa parte 
da população das áreas rurais a se deslocar em direção às cidades. A 
população que deixou os campos não tinha mais condições de produzir 
para seu autoconsumo uma infinidade de produtos ligados à indústria 
doméstica. Assim, intensificava-se a procura por produtos manufaturados, 
resultando na expansão de um mercado capitalista que começava a se 
formar. Você já deve ter compreendido que os momentos de pressão sobre 
estruturas que se mostram superadas são períodos de grandes mudanças, 
e, no que se refere à produção de mercadorias, não foi diferente. Surgiram 
novos sistemas de produção manufatureira, como você poderá estudar a 
seguir. 
Procure pesquisar em livros de História os termos mercantilismo e absolutismo. 
isso é necessário porque, no período de transição do feudalismo para o 
capitalismo, esses fenômenos histórico-geográficos foram muito importantes. Para 
os interessados na geografia econômica européia, o que importa é o significado 
econômico desses elementos no período de transição feudal-capitalista, o que é 
possível perceber na seguinte citação: 
“em suma, o estado Moderno Absolutista, para manter o equilíbrio social sobre o 
qual se fundava, precisava sustentar a nobreza decadente, necessitando para tanto 
de recursos, daí o mercantilismo; dessa maneira, porém, provocava a ruptura do 
equilíbrio e comprometia sua própria existência. O mercantilismo foi, assim, a força 
e a fraqueza do Estado Moderno.” FRANCO JR; PAN CHACON, 1986).
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Do sistema manufatureiro doméstico ao sistema fabril 
O sistema manufatureiro doméstico é a tradução para o português 
da denominação inglesa “putting out system” ou “domestic system”. 
Esse sistema surge do interesse de alguns comerciantes em atenderem 
à demanda crescente por produtos manufaturados. Os comerciantes 
lutaram contra o controle da produção artesanal que era exercido pelo 
sistema corporativo e pelo Estado, o qual também passou a interferir 
cada vez mais neste sistema, como era próprio das políticas econômicas 
mercantilistas que dominavam a administração da economia ligada ao 
absolutismo europeu predominante no período de transição feudal – 
capitalista.
 No sistema doméstico, o produtor permanecia trabalhando 
nas suas oficinas ou ateliês residenciais, mas trabalhava para atender 
às encomendas recebidas dos comerciantes, os quais lhe forneciam as 
matérias-primas e faziam a comercialização da produção. Esse sistema 
permitiu furar o bloqueio mantido pelo sistema corporativo, porém não 
Você deve ter pesquisado sobre o mercantilismo e o absolutismo. descreva a seguir 
as principais características destes fenômenos histórico-geograficos:
Mercantilismo:
Absolutismo:
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possibilitou o controle efetivo do processo pelo comerciante, que, no 
caso, era uma espécie de protótipo ou precursor do burguês (capitalista 
industrial).
As fábricas
Você deve refletir sobre a seguinte questão: como o comerciante 
poderia controlar todo o processo produtivo, impedindo que o produtor, 
que trabalhava na sua residência, pudesse desviar matéria-prima ou 
não se dedicar integralmente ao trabalho? A solução veio com as fábricas 
(Ver figura 4). As fábricas permitiram concentrar os trabalhadores num 
ponto, propiciando que o comerciante, transformado em industrial, 
pudesse controlar completamente todo o processo produtivo. Reunindo os 
trabalhadores (Ver figura 4) sob sua autoridade, o capitalista pôde dirigir 
o processo produtivo de acordo com seus interesses: determinando a 
carga horária que o produtor tinha que cumprir; controlando a dedicação 
do produtor ao trabalho; regulando o padrão tecnológico utilizado 
na produção; controlando fraudes ou sabotagens; criando um padrão 
disciplinar e hierárquico na administração da fábrica. (DE DECCA, 
1993).
 Com isso, o capitalista industrial aumentou a produção e a 
produtividade até o limite da exaustão e da resistência dos produtores, os 
quais, no sistema fabril, tornaram-se, de forma definitiva operários, ou, 
como preferem os marxistas, proletários. 
 Os operários
Para os marxistas, os proletários são trabalhadores não-proprietários 
dos meios de produção (Ver figura 4), que se transformam em força 
de trabalho, permitindo a consolidação do capitalismo como sistema 
produtivo e social. O sistema fabril, que surgiu na Inglaterra em meados 
do século XVIII, criou uma relação de trabalho entre os capitalistas e 
proletários, que se transformou em uma relação social, vista como 
claramente capitalista, pois opõe, de um lado, proprietários dos meios de 
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produção (empresários) e, de outro, a força de trabalho (proletários).
As lentas transformações do espaço produtivo do capitalismo
 
Você percebeu que se atingiu um ponto importante que precisa 
ser bem analisado. Pode-se resumí-lo na seguinte questão: como essa 
evolução produtiva que resultou na consolidação do sistema fabril nos 
países mais adiantados da Europa Ocidental influenciou na estruturação 
de uma geografia econômica capitalista? 
As primeiras fábricas empregavam muitos trabalhadores, e a 
concentração destas fábricas gerou grandes aglomerações de trabalhadores 
fabris e de suas famílias. Isso aconteceu em algumas cidades, que 
passaram a ser conhecidas como cidades industriais. A atração que essas 
cidades passaram a exercer sobre a população que buscava trabalho foi 
muito grande, determinando um crescimento populacional explosivo. 
Inicialmente, isso foi muito marcante na Inglaterra, mas, a partir da 
segunda metade do século XVIII, gerou a eclosão de uma Revolução 
Demográfica, que causou preocupação ao pastor e economista Thomas 
Robert Malthus. Com a expansão da Revolução Industrial, o mesmo 
processo de crescimento da população das cidades (urbanização) alastrou-
se por outros países.
Figura 4: Fábrica
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UNIDADE 1
A situação social das cidades industriais
Algumas fábricas da primeira fase do sistema fabril eram imensas 
e abrigavam uma população operária que, em muitos casos, chegava a 
milhares de operários. A entrada e a saída dos operários geravam um 
movimento intenso de pessoas e uma efervescência humana em todas as 
cercanias do prédio. Muitas cidades brasileiras ainda têm fábricas como 
estas: imensas e de construção sólida, mas a maior parte delas encontra-
se desativada. Na sua cidade existem ainda essas antigas fábricas? Caso 
não existam, você conhece algum local em que elas ainda permanecem? 
As cidades industriais, altamente concentradoras de população, 
aparecem no espaço geográfico de padrão capitalista,tornando-
se um elemento fundamental na geografia econômica capitalista. A 
convergência da população gerava grande aumento do consumo, abrindo 
oportunidades na área comercial e de prestação de serviço. Assim, 
concentravam-se também nessas cidades inúmeros estabelecimentos 
comerciais, financeiros e administrativos, os quais davam um dinamismo 
produtivo e econômico significativo às cidades industriais. É evidente que 
- Malthus, Thomas Robert (1766-1834). Economista inglês. No seu trabalho Essay 
on the Principle of Population (1798), chama a atenção para o fato de que o aumento 
da população ocorre, se não é controlado, em uma progressão geométrica (1, 2, 4, 
8, 16, 32...), enquanto os meios de subsistência crescerão apenas em progressão 
aritmética (1,2,3,4,5...). Uma vez que a população humana tende a crescer mais 
rapidamente que a produção de alimento, precisa ser eventualmente reduzida pela 
guerra, doenças e fome. Malthus pedia a urgente proibição dos casamentos ou seu 
adiamento como uma política social responsável, no seu Principles of Political 
Economy (1820) http://www.cobra.pages.nom.br/fm-malthus.html. 
1) Relacione o fenômeno histórico-geográfico da explosão demográfica com a 
realidade atual das nossas médias e grandes cidades. destaque o crescimento 
das grandes cidades, enquanto as áreas rurais e as pequenas cidades têm suas 
populações cada vez mais reduzidas. elabore um comentário a respeito deste 
assunto.
2) Procure a existir o filme “Perfume - a história de um assassino”, baseado no livro 
de P. Suskind, que mostra um pouco da passagem para a revolução industrial e 
também as situações da cidade naquele período. escreva um pequeno comentário 
sobre o filme.
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elas cidades passaram a atrair e concentrar uma numerosa população que 
não conseguia se inserir no mercado de trabalho e vivia em condições 
econômicas precárias (Ver figura 5). 
Mas a pobreza e a miséria não acompanhavam apenas os não- 
integrados ao mercado de trabalho, porque mesmo os que tinham 
emprego nas fábricas não estavam em muito melhor situação, já que os 
salários eram extremamente baixos, a carga de trabalho elevadíssima e 
não havia nenhum tipo de proteção social à população em geral e aos 
trabalhadores em particular. As precárias condições de vida da população 
trabalhadora da primeira fase da revolução industrial foram, sem dúvida, 
um dos marcos do início da era industrial. Longa e violenta foi a luta 
empreendida pelos trabalhadores para conseguir melhorias nas suas 
condições de trabalho.
Figura 5: A cidade
Verifique se existem fábricas antigas ou prédios nos quais elas estavam instaladas na 
sua cidade, e pesquise sobre elas e sobre antigos ou atuais operários que podem ter 
trabalhado nessas fábricas. Faça uma entrevista com eles. Pergunte a respeito das 
condições de trabalho, do salário, assistência médica, carteira de trabalho e outras 
questões que você mesmo pode criar.
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O espaço produtivo do capitalismo
O espaço produtivo do capitalismo consolida-se a partir da 
expansão do sistema fabril. O resultado é uma espacialidade que se torna 
característica desse capitalismo e que foi descrita por Cunha (1998, p. 
100):
“A espacialidade tradicional do capitalismo é 
aquela das concentrações espaciais do capital 
e do trabalho, dos desequilíbrios regionais, das 
migrações desterritorializantes, da degradação 
sócioambiental das periferias das cidades, do 
urbanismo segregador, da involução das pequenas 
cidades, da modernização predatória do campo, e 
é assentada nela que se reproduz o sistema”.
Inicialmente, as concentrações de capital e trabalho materializaram-
se nas cidades industriais, nas quais se localizavam as fábricas. Essas 
concentrações geravam a acumulação de riqueza, através dos lucros 
da produção, nas mãos dos empresários. Da mesma forma, ocorria 
a aglomeração da população trabalhadora, submetida aos baixos 
salários e às ondas de desemprego determinadas pelas crises cíclicas 
do capitalismo. Como as alternativas no campo não eram melhores, os 
trabalhadores engrossavam os grandes contingentes populacionais que 
transformaram a geografia da população da Europa, através de um êxodo 
rural significativo, surgindo cidades cada vez mais populosas, o que foi 
classificado como o grande movimento de urbanização relacionado às 
sociedades industriais contemporâneas. 
Em tal contexto, as cidades tornaram-se pontos de concentração de 
riqueza e miséria, como as duas faces distintas da mesma moeda. Benko 
(1996, p. 59) resumiu essa condição do capitalismo, ao afirmar que “a 
aglomeração (...) foi e continua sendo a primeira condição do mercado 
capitalista.” É importante que se destaque esse aspecto do sistema, porque 
ele é decisivo para entender a geografia econômica do capitalismo:
O resultado foi o surgimento de aglomerações 
populacionais em pontos e áreas bem específicas 
do espaço. A lógica concentracionista manifesta-
se também nos pontos de aglomeração, 
basicamente as cidades onde as empresas 
industriais, comerciais e de serviços têm seus 
territórios e vias. Toda essa espacialidade resulta 
de uma poderosa força centrípeta, desencadeada 
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por um padrão científico, tecnológico, produtivo 
e organizacional, que, num primeiro momento 
era europeu, mas internacionaliza-se de forma 
decisiva, a partir do século XIX, em bases 
monopolistas que predominam até os dias atuais. 
(CUNHA, 1998, p. 101).
Na citação acima, o autor desloca o fenômeno da concentração 
econômico-populacional do espaço geográfico para os espaços específicos 
das cidades e dos campos.
A divisão sócio-espacial da cidade
Nas cidades capitalistas, o espaço é hierarquizado de acordo com 
a própria racionalidade econômico-social do capitalismo, que produz as 
zonas industriais, as vilas operárias, os “jardins” das classes médias e das 
elites, os centros comerciais e financeiros e os espaços de exclusão das 
grandes, médias e pequenas cidades, os quais são as “periferias” centrais 
ou distantes, que a espacialidade capitalista reserva aos excluídos. Esses 
espaços, segundo Cunha (1998, p. 103), transformam-se, cada vez mais, 
de cinturões verdes em “cinturões vermelhos” (de sangue mesmo), 
“territórios da pobreza, da criminalidade e da degradação socioambiental 
em geral”.
Mas há outra questão importante que se deve analisar na última 
citação destacada. Você deve refletir sobre o que o autor quer dizer ao se 
referir ao padrão sócio-espacial dominante no capitalismo concorrencial, 
“que, num primeiro momento era europeu, mas internacionaliza-se 
de forma decisiva, a partir do século XIX, em bases monopolistas que 
predominam até os dias atuais”.
A afirmação refere-se ao processo de evolução da geografia 
econômica capitalista. Pode-se dizer que a primeira fase do capitalismo 
foi a concorrencial e gerou a geografia econômica que se analisou até 
aqui, em suas linhas gerais. No entanto, nas últimas décadas do século 
XIX, a geografia econômica capitalista começou a se alterar. As mudanças 
aconteceram impulsionadas por uma nova lógica geoeconômica que se 
impôs ao sistema. Trata-se do padrão monopolista, que começa a se 
manifestar também na Inglaterra em meados do século XIX. Aos poucos, 
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alastra-se para os outros países europeus de capitalismo mais avançado, 
mas só vai tomar a sua forma característica nos Estados Unidos da 
América, no final do século XIX e início do século XX, quando começa a 
se configurar a hegemonia americana frente ao domínio inglês. São essas 
transformações que resultam num novo padrão estrutural do sistema que 
você irá estudar na próxima unidade. 
Você está preparado para avançar nos seus estudos, porque, na 
unidade I, abordou-se inicialmente acrise do sistema feudal, quando 
se buscou identificar os elementos econômico-sociais que surgiram e 
que indicavam as transformações que ocorriam nesse sistema, mas, 
principalmente, anunciavam o surgimento de outro, que passou a ser 
denominado de capitalismo. Na seção 2, você estudou as transformações 
no espaço rural da Europa e, na seção 3, as mudanças localizadas no 
espaço urbano. 
Reflita sobre as transformações econômicas que ocorreram no espaço urbano da Europa, no período 
de transição entre o feudalismo e o capitalismo, elaborando um texto sobre o que considerou mais 
interessante. O texto deve ter no máximo trinta linhas.
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UNIDADE 2
geografia econômica 
capitalista monopolista:
uma nova globalização na 
idade contemporânea
ObjetivOs De aPRenDiZaGem
Compreender o papel do capitalismo monopolista na formação de um ■
espaço econômico mundial;
Compreender a dimensão imperialista contida nessa nova geografia ■
econômica;
Identificar as principais teorias burguesas de localização e seus limites para ■
a explicação da organização do espaço econômico. 
ROteiRO De estUDOs
SEçãO 1 – O capitalismo monopolista e a construção de um novo espaço ■
econômico mundial
SEçãO 2 – A geografia econômica do imperialismo ■
SEçãO 3 – A organização do espaço econômico capitalista monopolista: ■
teorias burguesas de localização 
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KARIN LINETE HORNES
LUIZ ALEXANDRE GONÇALVES CUNHA
REINALDO ANSBCH
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UNIDADE 2
pARA iNÍciO De cONveRSA
O capitalismo (Ver figura 6) consolidado como um novo modo 
de vida na Europa em meados do século XIX, mantém sua dinâmica 
de transformação. As mudanças indicam um novo padrão espacial da 
economia, no qual as linhas gerais da geografia econômica estruturada 
na Europa vão se expandir pelos diversos continentes, reorganizando 
o espaço geográfico dos territórios nacionais e coloniais abrigados nos 
grandes espaços continentais.
O sistema mundial daí resultante terá uma nova lógica fundada 
numa divisão internacional do trabalho, encaminhando a organização 
dos territórios para uma estrutura consolidada em espaços centrais e 
periféricos. Os territórios nacionais centrais são os países detentores de 
importantes parques industriais e amplos setores comerciais e financeiros, 
exportadores de bens industriais, capitais e competências tecnológicas e 
organizacionais, adaptados às novas condições capitalistas. 
Os territórios nacionais e coloniais que recebem essas exportações 
têm os seus espaços geográficos reestruturados pelos capitais e pelas novas 
competências que se abatem sobre diversos tipos de padrões econômicos 
regionais, variando do tipo primário-
exportador até os autárquicos, 
sem vínculo significativo com 
mercados mundiais. Para os 
marxistas, as transformações 
refletem a dinâmica econômico-
social provocada pelo capitalismo 
monopolista, que representa uma 
nova fase do sistema que se sucede 
à etapa concorrencial. Você deve, 
então, procurar conhecer quais 
são os elementos fundamentais 
desta nova etapa do capitalismo, 
denominada monopolista.
Figura 6:
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UNIDADE 2
SeÇÃO 1 
O cApiTALiSmO mONOpOLiSTA e A 
cONSTRuÇÃO De um NOvO eSpAÇO 
ecONômicO muNDiAL
O que seria importante entender para compreender o momento de 
mudanças no capitalismo? Em primeiro lugar, há uma oposição entre uma 
fase que se denomina concorrencial, e outra, que a sucede, chamada 
monopolista. Dessa forma, opõem-se a concorrência ao monopólio, como 
conceitos que estão na raiz da proposta teórica marxista da análise da 
evolução do capitalismo. Surgem, destarte, as primeiras indagações. O 
que é concorrência? E o que é monopólio? Você não deve esquecer que o 
objetivo é compreender a nova geografia econômica que surgia naquele 
momento. Para tal, busca-se responder a estas questões iniciais pelo 
prisma da dinâmica econômica.
A concorrência quase perfeita dos liberais
Na economia de mercado capitalista, a concorrência é a disputa 
que acontece entre as empresas para terem os seus produtos e serviços 
aceitos e comprados pelos consumidores, em detrimento dos produtos 
e serviços oferecidos por outras empresas do mesmo ramo produtivo. 
Quando se tem um número muito grande de empresas disputando um 
mesmo mercado, ocorre uma situação de forte concorrência, conhecida 
como concorrência perfeita. Nesse tipo de estrutura de mercado, cada 
ramo produtivo apresenta um número grande de empresas, normalmente 
pequenas e médias, que disputam o consumidor de forma bastante 
agressiva. 
Em tal contexto, as leis econômicas de mercado permitem entender 
as dinâmicas geradas pela forte concorrência entre as empresas. Por 
exemplo, a mais importante dessas leis – a lei da oferta e procura - ajustava 
o mercado, porém, como procuraram mostrar os críticos do capitalismo do 
século XIX, em especial os marxistas, não conseguia sustar as sucessivas 
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UNIDADE 2
crises econômicas; ao contrário, era fator de desequilíbrio do sistema. 
A conjuntura de uma dessas crises, iniciada na década de 1870, foi um 
momento decisivo, que no lugar mais apropriado naqueles tempos - os 
Estados Unidos da América – apontaram os rumos do grande movimento de 
transformação que se avolumava. Assim, o processo histórico-geográfico 
que desencadeou a mudança da fase concorrencial do capitalismo é 
principalmente americano.
Monopólios e oligopólios 
Na Europa Ocidental, e mais ainda nos Estados Unidos da América, 
alguns setores econômicos apresentavam uma concorrência entre as 
empresas que se tornava cada vez mais significativa, o que gerava diversos 
tipos de fenômenos mercadológicos, organizacionais e tecnológicos, 
fazendo surgir grandes grupos econômicos que passavam a dominar os 
mercados nos quais atuavam, em alguns casos, como monopólio (uma 
empresa apenas domina um setor) ou, mais freqüentemente, integrando 
um oligopólio (poucas empresas dominam um setor).
Dean (1983) destaca o desencadear desse processo histórico-
geográfico, em especial como um fenômeno americano. Explica-o como 
relacionado à conjuntura de crise do último quartel do século XIX, 
afirmando que
A depressão da década de 1870, bastante severa em 
todos os países em industrialização, foi marcada 
por um constante declínio de preços, estagnação 
de lucros e ondas de falências bancárias. Uma das 
principais respostas dos proprietários de fábricas 
a essa situação foi à tentativa de organizar cartéis. 
(DEAN, 1983, p. 47). 
Dean (1983) explica o cartel como “um acordo entre empresas com 
o fim de limitar a produção e os territórios de vendas além de elevar 
os preços.” (DEAN, 1983, p. 47). Todas essas iniciativas significam uma 
restrição à competição entre as empresas no setor em que existia o cartel e 
dificultava a sobrevivência das empresas que não faziam parte do acordo, 
mas, naturalmente, beneficiava, e muito, aquelas que se acordavam. 
Muitas vezes, só restavam às empresas que não conseguiam concorrer 
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UNIDADE 2
com as firmas cartelizadas, poucas opções: esperar a falência ou buscar 
a associação com empresas maiores. Com isso, diminuía o número de 
empresas em alguns dos principais setores econômicos e surgiam 
empresas gigantes que eram monopólios ou integravam oligopólios.
O truste e a holding company
A associação de empresas como cartéis foram combatidas nos EUA 
e grandes empresas buscaram a reunião sob a forma de truste (sociedade 
de empresas). Esse sistema de formação de um grupo empresarial a partir 
da associação de inúmeras empresas evoluiu para

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