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pONTA gROSSA - pARANÁ 2009 LiceNciATuRA em KARIN LINETE HORNES LUIZ ALEXANDRE GONÇALVES CUNHA REINALDO ANSBCH eNSiNO A DiSTÂNciA GeografiaGeografia GEOGRAFIA ECONÔMICA 1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância - NUTEAD Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4748 - CEP 84030-900 - Ponta Grossa - PR Tel.: (42) 3220-3163 www.nutead.uepg.br 2009 Todos os direitos reservados ao Ministério da Educação Sistema Universidade Aberta do Brasil Pró-Reitoria de Assuntos Administrativos Ariangelo Hauer Dias - Pró-Reitor Pró-Reitoria de Graduação Graciete Tozetto Góes - Pró-Reitor Divisão de Educação a Distância e de Programas Especiais Maria Etelvina Madalozzo Ramos - Chefe Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância Leide Mara Schmidt - Coordenadora Geral Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Pedagógica Sistema Universidade Aberta do Brasil Hermínia Regina Bugeste Marinho - Coordenadora Geral Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Adjunta Edu Silvestre de Albuquerque - Coordenador de Curso Colaborador Financeiro Luiz Antonio Martins Wosiak Colaboradora de Planejamento Silviane Buss Tupich cRÉDiTOS João Carlos Gomes Reitor Carlos Luciano Sant’ana Vargas Vice-Reitor Colaboradores de Informática Carlos Alberto Volpi Carmen Silvia Simão Carneiro Adilson de Oliveira Pimenta Júnior Juscelino Izidoro de Oliveira Júnior Osvaldo Reis Júnior Kin Henrique Kurek Thiago Luiz Dimbarre Thiago Nobuaki Sugahara Colaboradores em EAD Dênia Falcão de Bittencourt Jucimara Roesler Colaboradores de Publicação Maria Beatriz Ferreira - Revisão Sozângela Schemim da Matta - Revisão Anselmo Rodrigues de Andrade Júnior - Diagramação Paulo Henrique de Ramos - Ilustração Colaboradores Operacionais Edson Luis Marchinski Joanice de Jesus Küster de Azevedo João Márcio Duran Inglêz Maria Clareth Siqueira Mariná Holzmann Ribas H816g Hornes, Karin Linete Geografia Econômica 1. / Karin Linete Hornes, Luiz Alexan- dre Gonçalves Cunha e Reinaldo Ansbach. Ponta Grossa : Ed.UEPG, 2009. 73p. il. Licenciatura em Geografia - Educação a distância. 1 . Geografia econômica - formação. 2. Geografia econômica capitalista-monopolista. I. Cunha, Luiz Alexandre Gonçalves CDD : 330.981 Ficha catalográfica elaborada pelo Setor de Processos Técnicos BICEN/UEPG. ApReSeNTAÇÃO iNSTiTuciONAL Prezado estudante Inicialmente queremos dar-lhe as boas-vindas à nossa instituição e ao curso que escolheu. Agora, você é um acadêmico da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), uma renomada instituição de ensino superior que tem mais de cinqüenta anos de história no Estado do Paraná, e participa de um amplo sistema de formação superior criado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2005, denominado Universidade Aberta do Brasil (UAB). O Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) não propõe a criação de uma nova instituição de ensino superior, mas sim, a articulação das instituições públicas já existentes, possibilitando levar ensino superior público de qualidade aos municípios brasileiros que não possuem cursos de formação superior ou cujos cursos ofertados não são suficientes para atender a todos os cidadãos. Sensível à necessidade de democratizar, com qualidade, os cursos superiores em nosso país, a Universidade Estadual de Ponta Grossa participou do Edital de Seleção UAB nº 01/2006-SEED/ MEC/2006/2007 e foi contemplada para desenvolver seis cursos de graduação e quatro cursos de pós-graduação na modalidade a distância. Isso se tornou possível graças à parceria estabelecida entre o MEC, a CAPES e as universidades brasileiras, bem como porque a UEPG, ao longo de sua trajetória, vem acumulando uma rica tradição de ensino, pesquisa e extensão e se destacando também na educação a distância. A UEPG é credenciada pelo MEC, conforme Portaria nº 652, de 16 de março de 2004, para ministrar cursos superiores (de graduação, seqüenciais, extensão e pós-graduação lato sensu) na modalidade a distância. Os nossos programas e cursos de EaD, apresentam elevado padrão de qualidade e têm contribuído, efetivamente, para a democratização do saber universitário, destacando-se o trabalho que desenvolvemos na formação inicial e continuada de professores. Este curso não será diferente dos demais, pois a qualidade é um compromisso da Instituição em todas as suas iniciativas. Os cursos que ofertamos, no Sistema UAB, utilizam metodologias, materiais e mídias próprios da educação a distância que, além de facilitarem o aprendizado, permitirão constante interação entre alunos, tutores, professores e coordenação. Este curso foi elaborado pensando na formação de um professor competente, no seu saber, no seu saber fazer e no seu fazer saber. Também foram contemplados aspectos éticos e políticos essenciais à formação dos profissionais da educação. Esperamos que você aproveite todos os recursos que oferecemos para facilitar o seu processo de aprendizagem e que tenha muito sucesso na trajetória que ora inicia. Mas, lembre-se: você não está sozinho nessa jornada, pois fará parte de uma ampla rede colaborativa e poderá interagir conosco sempre que desejar, acessando nossa Plataforma Virtual de Aprendizagem (MOODLE) ou utilizando as demais mídias disponíveis para nossos alunos e professores. Nossa equipe terá o maior prazer em atendê-lo, pois a sua aprendizagem é o nosso principal objetivo. EQUIPE DA UAB/UEPG SumÁRiO PALAVRAS DOS PROFESSO ■ RES 7 OBJETIVOS E EMENT ■ A 9 A fORmAÇÃO De umA NOvA geOgRAfiA ecONômicA NO cONTiNeNTe euROpeu NA iDADe mODeRNA 11 SEçãO ■ 1- A AGONIA DE UMA SOCIEDADE ABALADA – A CRISE FEUDAL 14 SEçãO ■ 2- ANOS DE MUDANÇAS E TRANSFORMAÇÕES: A TRANSIÇÃO FEUDAL- CAPITALISTA E O ESPAÇO RURAL EUROPEU 21 SEçãO ■ 3- ANOS DE MUDANÇAS E TRANSFORMAÇÕES: A TRANSIÇÃO FEUDAL- CAPITALISTA NO ESPAÇO URBANO EUROPEU 30 geOgRAfiA ecONômicA cApiTALiSTA mONOpOLiSTA: umA NOvA gLObALizAÇÃO NA iDADe cONTempORÂNeA 45 SEçãO ■ 1- O CAPITALISMO MONOPOLISTA E A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO ESPAÇO ECONÔMICO MUNDIAL 47 SEçãO ■ 2- A GEOGRAFIA ECONÔMICA DO IMPERIALISMO 51 SEçãO ■ 3- A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO ECONÔMICO CAPITALISTA MONOPOLISTA: TEORIAS BURGUESAS DE LOCALIZAÇÃO 56 PALAVRAS FINAI ■ S 69 REFERÊNCIAS ■ 71 NOTAS SOBRE OS AUTO ■ RES 73 pALAvRAS DOS pROfeSSOReS Caro (a) aluno(a): Você está iniciando o estudo de uma das disciplinas mais importantes da Geografia, que lhe permitirá uma compreensão ampliada do mundo em que você vive e o ajudará a se tornar um profissional qualificado a exercer o magistério, atuando como professor de Geografia no ensino básico. É um período de muito estudo e trabalho intenso, mas que valerá a pena, pois lhe abrirá novos horizontes no estudo do conhecimento geográfico. O objetivo é proporcionar os pré-requisitos necessários para que você compreenda a geografia econômica contemporânea, que corresponde ao conteúdo da disciplina Geografia Econômica II, ministrada no segundo semestre deste curso. A geografia econômica que você estudará, começou a tomar forma na Europa, ainda no século XIV, mas se consolidou apenas no século XIX. Ela tem como uma de suas características a incorporação de novos espaços geográficos que antes abrigavam sistemas não-capitalistas. Esses espaços foram transformados de forma avassaladora pelo sistema capitalista e todo o modo de vida que o acompanha. Passaram a fazer parte de uma geografia econômica que hoje abarca todo o mundo. Na unidade I, você estudará as origens da evolução do capitalismo, pois para que você possa compreender o mundo atual é preciso resgatar os fundamentos histórico-geográficos que o sustentam. O mergulho que se faz na história é seletivo. Em primeiro lugar, aborda-se, em especial, o processo histórico-geográfico na Europa, pois é neste continente que o sistema capitalista estrutura-se e se expande para os demais. Em segundo lugar, os eventos históricossão desconsiderados em favor de se tentar entender apenas os movimentos conjunturais e estruturais relacionados especificamente aos fatores econômico-sociais do sistema. A unidade II aborda uma das etapas da evolução do capitalismo, suas reestruturações ao final do século XIX e as influências que exerceu no sistema mundial. Você precisa conhecer este processo histórico- geográfico para que possa entender a geografia econômica que se formou a partir dele. O importante é que você aproveite ao máximo esta disciplina. Todo início é difícil, mas com dedicação e entusiasmo você irá superar esta etapa inicial dos seus estudos. Você esta motivado a seguir em frente? A intenção é ajudar você a ser um professor de Geografia preparado para a profissão do magistério, que tem como missão formar jovens conscientes e capazes de exercer plenamente a cidadania. Então, vamos começar a estudar? Os autores ObJeTivOS e emeNTA ObjetivOs Ao final desta disciplina você terá condições de: Identificar os elementos da crise feudal que contribuíram para o surgimento ■ de um padrão capitalista no espaço geográfico europeu. Analisar a consolidação do capitalismo como agente fundamental na ■ reestruturação do espaço rural da Europa. Relacionar as transformações produtivas na indústria européia como fator ■ determinante na organização de um espaço urbano capitalista no continente europeu. Analisar a formação de uma nova geografia econômica mundial a partir da ■ expansão do capitalismo monopolista europeu. Descrever o imperialismo como o conceito que permite entender a lógica ■ geográfica do capitalismo monopolista. Criticar as teorias burguesas de localização como tentativa de explicar a ■ organização do espaço econômico que resulta da consolidação de um capitalismo monopolista. ementa As origens do espaço econômico capitalista. O espaço econômico no ■ capitalismo concorrencial e monopolista. O imperialismo e a geografia econômica do capitalismo monopolista. As teorias clássicas de organização econômica do espaço geográfico. G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 11 UNIDADE 1 A formação de uma nova geografia econômica no continente europeu na idade moderna ObjetivOs De aPRenDiZaGem Entender o surgimento de elementos do capitalismo no espaço geográfico ■ europeu; Estudar a consolidação do capitalismo no espaço rural e urbano da ■ Europa; Compreender a formação da geografia econômica do capitalismo ■ tradicional. ROteiRO De estUDOs SEçãO 1: A agonia de uma sociedade abalada – a crise feudal ■ SEçãO 2: Anos de mudanças e transformações: a transição feudal-capitalista ■ e o espaço rural europeu SEçãO 3: Anos de mudanças e transformações: a transição feudal-capitalista ■ e o espaço urbano europeu U N ID A D E I KARIN LINETE HORNES LUIZ ALEXANDRE GONÇALVES CUNHA REINALDO ANSBCH U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 12 UNIDADE 1 pARA iNÍciO De cONveRSA Você já parou para pensar como se constituiu a geografia econômica no continente europeu? Sabia que a Europa Ocidental marca a origem da nossa sociedade contemporânea? Assim, a nova geografia econômica, que vai dar o padrão da organização do espaço econômico até os dias atuais, em praticamente todos os continentes, começou como um fenômeno europeu. Trata-se de uma geografia econômica que incorporou os novos padrões econômicos e sociais inaugurados pela era capitalista. O que é fundamental para que você possa entender essa nova geografia é compreender o surgimento dos novos padrões econômico-sociais que se consolidam com o advento do capitalismo. Capitalismo - O capitalismo é um novo modo de vida que começou a se formar na Europa, a partir do século XIV. Economicamente, esse modo de vida vai ser definido pela expansão do trabalho assalariado, pela relativa diminuição do número de trabalhadores agrícolas em relação à expansão dos trabalhadores das indústrias, pela diminuição da população que residia no campo em comparação aos novos moradores das cidades, pela expansão da burguesia industrial em detrimento da aristocracia rural. Os elementos econômicos e sociais mais diretamente relacionados com a consolidação do capitalismo no século XVIII surgiram durante a crise do feudalismo. Essa crise foi um fenômeno histórico-geográfico que se abateu sobre a Europa e provocou o início da transição entre o feudalismo e o capitalismo. Os processos histórico-geográficos correspondentes às transições entre sistemas sociais ou modos de produção que se sucedem, caracterizam-se, normalmente, por apresentarem situações bastante complexas, nas quais se podem observar “remanescentes de outras formas de produção, bem com os germes de formas futuras.” (KAUTSKY, 1986, p.13). No caso, os remanescentes são relacionados ao feudalismo; os germes, ao capitalismo. Você gostaria de participar de um fórum de discussão?Na plataforma moodle existe um local destinado ao fórum. O tema é a Globalização. A discussão partirá das teorias elaboradas por Milton Santos (2008), divulgadas no livro “Por uma outra globalização”. G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 13 UNIDADE 1 Feudalismo – O feudalismo corresponde a um sistema social que predominou na Europa Ocidental no período anterior ao capitalismo. Esse sistema era de base agrária, pois a maior parte da população vivia e produzia no campo. A relação produtiva fundamental ocorria entre os servos e os senhores feudais. Os servos tinham acesso a uma parcela das terras, mas pagavam por isso, normalmente cedendo trabalho ou parte da produção A VidA NOS cAStelOS A principal função de um castelo (ver figura 1) era a defesa. Por esse motivo eles geralmente se localizavam em locais de difícil acesso, como ilhas, penhascos e apresentavam, na maioria das vezes, muros de proteção e fosso. Mas, diferentemente da idéia luxuosa de tesouros e requinte, os castelos não eram nada confortáveis. Neles, as pessoas passavam muito frio, porque não havia aquecedores e eram poucas as lareiras disponíveis. Os banhos eram tomados em barris de madeira aquecidos naturalmente pelo sol. O dia de trabalho iniciava com o amanhecer. Após o despertar do senhor, os empregados dirigiam-se ao quarto, esvaziavam o urinol, variam os aposentos e lavavam a roupa. Posteriormente à ingestão do café da manhã, o senhor se dirigia à capela para a missa da manhã. terminada a missa, o senhor começava seus afazeres. Sua principal função era a de administrar o feudo. A esposa do senhor feudal era servida por suas damas de companhia e camareiras. ela passava o maior tempo do dia na cozinha, supervisionando seus empregados. As cidades medievais possuíam péssimas instalações higiênicas. A maioria das casas, com exceção das dos ricos não tinham latrinas e fossas. Os excrementos eram jogados na própria rua. As ruas não tinham pavimentação e tampouco obras de drenagem. Assim, com toda sorte de refugos e imundícies, o cheiro era insuportável. Os ratos e animais domésticos, e até mesmo porcos, circulavam livremente por todos os cômodos do castelo. A maior parte da água disponibilizada nas cidades era poluída e se concentrava em certos pontos, não sendo distribuídas nas casas. A famosa tapeçaria era utilizada para esconder as paredes que viviam cheias de infiltrações e mofos. Diante de toda esta descrição, dá para perceber que a vida não era nada fácil. O trabalho era árduo e os dias ocupados por uma rotina bastante cansativa. Figura 1 castelo Feudal U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 14 UNIDADE 1 SeÇÃO 1 A AgONiA De umA SOcieDADe AbALADA – A cRiSe feuDAL A crise que se abateu sobre o feudalismo europeu tem seu marco inicial no século XIV. Até esse século, o feudalismo não apresentou conjunturas que significassem condições intransponíveis para a manutenção dos padrões econômicos e sociais que caracterizavam os modos de vida europeus durante muitos séculos. Mas os processos histórico-geográficossão normais em qualquer estrutura ou sistema social e eles indicam um movimento permanente de transformações que afetam a vida de todos nós. Você já parou para pensar nisso? Pesquise sobre a vida que seus antepassados (bisavós, avós) levavam no campo e compare com a realidade do campo nos dias de hoje. Então, você deve refletir também sobre as mudanças que aconteceram no continente europeu, para que possa compreender o mundo em que vive. Veja, a seguir, quais são os aspectos mais importantes dessas mudanças. No feudalismo, a esmagadora maioria da população vivia do cultivo da terra, o que o caracteriza como uma sociedade agrária típica, mas uma parte menor da população habitava nas pequenas vilas, as cidades da época, chamadas de burgo. De qualquer forma, os modos de vida giravam em torno dos padrões de ruralidade e de suas mentalidades. Os burgos Burgo - O burgo, normalmente, era um pequeno povoado, no qual, na maioria das vezes, localizavam-se instituições administrativas, religiosas e comerciais. Em alguns lugares, correspondiam a aldeias, nas quais se erguiam castelos fortificados. Você consegue perceber como seria uma sociedade agrária típica? Procure pensar nisso, pois o ajudará a entender o feudalismo. Comece procurando compreender o que eram os domínios ou feudos (Ver figura 2), pois se pode afirmar que o espaço rural do feudalismo era caracterizado pela existência desses domínios. Neles havia uma G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 15 UNIDADE 1 configuração territorial predominante, baseada na divisão das terras em dois elementos territoriais: A 1. reserva senhorial (Ver figura 2) era uma extensão de terra explorada diretamente pelo senhor, onde ficava a residência dele. Além disso, abrigava também oficinas, celeiros, estábulos, moinhos, pastos, bosques e terra cultivada. A outra área, formada pelo conjunto de 2. mansos (ver figura 2), correspondia às pequenas explorações camponesas. Os mansos eram unidades fiscais, pois seus detentores pagavam aos seus senhores pela concessão, que poderia ser em espécie (dinheiro), trabalho, produtos ou serviços. Eles serviam também como unidades de exploração agrícola familiar, como um lote a partir do qual uma família camponesa buscava conseguir sua subsistência. Os mansos eram constituídos de casa, horta, pomares e terra de cultivo. O uso da terra no sistema feudal É muito importante você fixar que a posse dos mansos dava direito de acesso aos bosques e pastos e a sua exploração, pois eram de uso Figura 2 - Sistema Feudal do norte da Alemanha U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 16 UNIDADE 1 comunal. Os trabalhadores rurais que habitavam nos mansos, na sua maior parte, eram servos, pois viviam em regime de servidão. Eles tinham a posse da terra, mas eram terras que pertenciam aos senhores. Esse regime era fundado em obrigações e direitos. Por exemplo, o servo não podia abandonar sua parcela de terra, mas, por outro lado, não podia ser privado desse acesso. Pelo usufruto hereditário do manso, o servo devia duas obrigações principais: pagamento de rendas em produto ou em dinheiro ao senhor e prestação de trabalho e favores na reserva senhoril ou diretamente aos senhores. Essa estrutura funcionou de forma satisfatória, pelo menos até o século XIII. É evidente que o modelo descrito apresentou-se com bastantes variações, dependendo dos diversos processos histórico-geográficos regionais. De qualquer forma, para que você atinja o objetivo relacionado à compreensão das origens do capitalismo, é um ponto de partida válido. Mas, como você já sabe, a crise dessa estrutura torna-se inevitável a partir do século XIV e é isso que você vai estudar a partir de agora. A crise feudal O século XIV é conhecido como o momento em que se iniciou a crise feudal. Na verdade, desde o século XIII já era possível identificar movimentos que indicavam certo desgaste dessa estrutura. Como estrutura econômica, ela se assentava sobre o processo de exploração do trabalho servil. Os servos trabalhavam para dispor dos recursos mínimos necessários à sobrevivência, mas parte dos seus esforços produtivos resultava em bens que eram cedidos aos senhores feudais. Além disso, os servos trabalhavam diretamente nas terras senhoriais, numa relação chamada de corvéia1. Assim, para que a estrutura feudal funcionasse, os recursos vinham do trabalho dos servos, os quais também prestavam serviços diretamente às famílias da nobreza feudal. Silva (1986) destaca a corvéia como relacionada, principalmente, à forma de exploração da “senhoria territorial”, que se baseava não apenas na posse das famílias camponesas, mas também na posse da terra e do solo 1 Corvéia - Trabalho coletivo não-remunerado que os servos deviam aos senhores e que era prestado durante alguns dias do ano nas lavouras, no conserto de estradas e pontes, no transporte de produtos, entre outras atividades. Um filme interessante, a que você talvez já tenha até assistido, é “Robin Hood – O príncipe dos ladrões”, com direção de Kevin Reynolds. Vale a pena assistir (ou assistir novamente) a esse filme, que retrata um pouco da vida nas cidades medievais e que mostra detalhes da época, como os conflitos entre os camponeses e senhores feudais. G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 17 UNIDADE 1 como meio de produção. O autor afirma que “a principal forma de extração de riquezas se dava sob a forma de corvéias (trabalho compulsório) e do pagamento de parte da produção obtida pelo camponês na terra cedida pelo senhor (pagamento feito em moeda ou em produto, dependendo de época e lugar).” (SILVA, 1986, p. 30). A riqueza gerada nesta relação era usada para pagar, em grande parte, as despesas dos senhores, clérigos, reis e todos que não trabalhavam diretamente a terra. Ora, um aumento de despesa precisava, necessariamente, ser acompanhado pelo aumento das rendas auferidas por essa classe dominante. Você concorda com essa conclusão? E, na nossa sociedade atual, apresenta-se esse tipo de problema? Procure refletir sobre essa questão, porque nos primeiros séculos do segundo milênio d.C. ocorreu o aumento dos gastos necessários para implementar os novos projetos ligados aos segmentos dominantes. Entre esses, podem-se citar as cruzadas2, a construção de grandes catedrais, a sofisticação do consumo das elites, etc. Assim, para fazer frente ao aumento de despesas, era necessário aumentar as receitas, ou seja, os recursos que se poderiam arrecadar da população em geral. Os camponeses, os grandes explorados, mostravam-se cada vez mais fragilizados economicamente, pois diminuía o excedente econômico-produtivo que poderia ficar nas mãos desses trabalhadores. Dessa forma, sem reservas e trabalhando no limite dos recursos disponíveis, os trabalhadores rurais e suas famílias tornaram-se “presa fácil” da conjuntura de crise que se instalou na Europa a partir do início do século XIV. Elementos fundamentais da crise feudal Você precisa entender que a conjuntura de crise tomou todo o século XIV e deu início a uma longa transição entre o feudalismo e o capitalismo, 2 Cruzadas - Expedições militares organizadas pelos cristãos europeus a partir do século XI e que se sucederam até o século XIII. Lideradas pela igreja católica, as cruzadas aconteceram como movimentos que visavam libertar as terras santas do jugo muçulmano. leia mais a respeito das cruzadas e escreva um pequeno resumo de no máximo dez linhas sobre o assunto. U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 18 UNIDADE 1 que, no caso da Inglaterra, primeiro país a apresentar um modo de vida capitalista consolidado, durou até a segunda metade do século XVIII. Os elementos fundamentais da conjuntura da crise feudal do século XIV foram: as • intensas chuvas que se abateram sobre algumas regiões da Europa, entre 1315 e 1317; oaparecimento de • doenças epidêmicas, com destaque para a peste negra, que atingiu seu auge em 1348; as violentas • revoltas camponesas, principalmente na Inglaterra, que era o país que apresentava as maiores transformações, entre 1378 e 1381; a • guerra nacionalista entre Inglaterra e França, denominada Guerra dos Cem Anos (1337-1453). Esses elementos podem ser considerados os que se relacionam com as questões diretamente econômicas e produtivas. O desastre climático e as epidemias As chuvas, em intensidade muito acima da média, devastaram as áreas cultivadas e levaram a uma perda acentuada das colheitas. Com isso, foi interrompido um movimento de queda dos preços dos cereais, resultado de uma sucessão de anos bons, que determinou maior oferta e menores preços. Assim, instalou-se um movimento de carestia, agravado pela crise produtiva, dando origem à chamada “fome européia”, que atingiu inúmeros países, abriu as portas para as doenças epidêmicas e agravou a ocorrência das endêmicas. Nesse contexto, a grande pandemia que se destacou foi a peste negra, que atingiu seu ápice no século XIV, mas se manteve através de ondas epidêmicas por quase todo o período de transição, atingindo praticamente todas as regiões do continente europeu desse período. Com a peste negra, ocorreu uma “fratura demográfica” provocada por um número de mortos extremamente elevado, alcançando índices que podem ter variado de 30% a 40% da população total da Europa, com algumas regiões sendo mais fortemente atingidas. Comparativamente, as cidades sofreram mais diretamente que os campos, pois apresentavam G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 19 UNIDADE 1 a população concentrada em pequenos espaços, que não possuíam as condições mínimas de infra-estrutura sanitária. A peste não se relacionava com subnutrição, mas se alastrou com facilidade, após a sua transmissão a partir do Oriente, em virtude das condições médico-sanitárias precárias. O agravamento da crise O impacto desta epidemia foi devastador. A partir de 1348, ano em que as mortes foram especialmente concentradas, a população disponível para o trabalho reduziu-se drasticamente, e os salários subiram de forma significativa, em razão da grave escassez de mão-de-obra. O problema da pressão altista sobre os salários foi tão grave que gerou a primeira lei para controlar os aumentos salariais, ainda em 1349, na Inglaterra. Em 1350, na França também surgiu uma ordenação que visava regular o preço da mão-de-obra. Ao contrário do que acontece nos dias atuais, em que é fixado um salário mínimo, aquelas leis definiam um salário máximo, proibindo, sob pena de prisão, que o empregador pagasse um salário acima do máximo, e a lei era mais rigorosa com quem aceitava receber além do máximo. Revoltas camponesas Outro elemento importante da crise constituiu-se nas revoltas camponesas. Elas foram mais violentas na Inglaterra, entre os anos de 1378 e 1381, porque era o país onde as transformações mais se intensificaram, o que ocasionou uma insatisfação muito grande entre os camponeses. Pelo menos por duas vezes, Londres foi tomada pelos revoltosos, motivando uma reação extremamente violenta do rei Ricardo II (1377-1399), que atacou os rebeldes durante as negociações, nas quais os camponeses tentavam retomar os costumes tradicionais de usufruto das terras comunais que permitiam a utilização coletiva dos recursos disponíveis como os pastos, açudes, peixes, caça e lenha. Peste negra - a peste bubônica ou febre bubônica. doença muito contagiosa, transmitida ao homem através de picadas de pulgas que se hospedam em ratos. No século XX, tornou-se uma doença passível de tratamento pela substância estreptomicina, um tipo de antibiótico. Mas a peste bubônica não ameaçou apenas aos humanos. ela também atingiu os animais. O gado Frisben (raça holandesa) quase foi dizimado. cães, gatos, porcos, ovelhas também sofreram. e como a peste atacava também os animais de rebanho, isso acabou prejudicando ainda mais os humanos, que acabavam passando fome. U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 20 UNIDADE 1 Guerras nacionalistas Nesse mesmo contexto, o que agravou a situação foi o surgimento das primeiras guerras nacionalistas. A mais importante aconteceu entre dois grandes Estados que buscavam se fortalecer e começavam a valorizar o sentimento de nação que se liga a um determinado território, formando um Estado-nação. O povo que habita esse território sente-se unido através de uma identidade que é partilhada pela maioria da população. Esses dois Estados eram a Inglaterra e a França, que travaram a guerra dos Cem Anos (1337-1453). A guerra contribuiu para o processo de centralização política de ambos os países, o que significou a retomada de poderes pelos soberanos, em detrimento dos poderes locais e regionais dos senhores feudais. Mas, antes de tudo, a guerra agravou a conjuntura de crise, através dos seguintes elementos: aumentou a mortalidade e o despovoamento de inúmeras • regiões, piorando a crise de mão-de-obra; agravou a perda de colheitas e rebanhos e, destarte, a fome;• acelerou as mudanças nas relações sociais, enfraquecendo o • instituto da servidão; favoreceu a mobilidade social, gerando o empobrecimento de • muitos, mas permitindo que outros enriquecessem; agravou a situação fiscal das monarquias, que passaram a • buscar empréstimos junto aos banqueiros italianos, o que gerou inflação e desvalorização monetária. Tudo isso ajudou a formar a conjuntura da crise feudal, indicando que a estrutura social, que se reproduzia satisfatoriamente há séculos, começava a apresentar abalos que afetavam o seu dinamismo. Esses abalos indicavam que as transformações começavam a acontecer, porque os padrões normais de reprodução social da estrutura feudal já não conseguiam se manter. Neste ponto, surge uma grande questão sobre a qual você deve refletir: quais foram os novos elementos sociais que indicavam os rumos que tomaria a longa transição para uma nova estrutura social? Na próxima seção, você irá estudar os aspectos principais ligados a tal questão. G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 21 UNIDADE 1 SeÇÃO 2 ANOS De muDANÇAS e TRANSfORmAÇÕeS: A TRANSiÇÃO feuDAL-cApiTALiSTA e O eSpAÇO RuRAL euROpeu Como você estudou os elementos básicos da estrutura social, que juntos formavam o corpo sobre o qual se sustentava o feudalismo, apresentavam, cada um deles, problemas difíceis de serem superados. Com isto, tais elementos começaram a ser substituídos por outros, que Você conseguiu verificar que foram diversos os elementos histórico- geográficos que contribuíram para formar a conjuntura de crise e agravá-la cada vez mais? Procure enriquecer seus conhecimentos, através de leituras, vídeos e pesquisas na internet. Segue uma sugestão: O filme “Lutero”, com a direção de Eric ti, que relata esta conjuntura de crise em diversas situações. elabore a seguir um comentário a respeito do filme. Há vários livros e discussões sobre alguns reformistas como Martin lutero (2005), João Calvino (2006), Menno Simons. Procure saber mais a respeito deles. Há também um livro denominado “A ética protestante e o espírito capitalista”, escrito por Max Weber, que faz referência a este período. É interessante relatar a respeito desta conjuntura religiosa, porque a europa passava por uma crise de valores que estava atrelada à transição do sistema feudal para o capitalismo. durante a idade Média a igreja desempenhava o poder tanto do estado quanto religioso e isso acabava prejudicando os senhores feudais, principalmente com relação à cobrança de impostos. toda a arrecadação de capital vinha da cobrança de impostos e também das indulgências. Muitos senhores, fartos de dividir a riqueza com a igreja, e pensando na separação dela do Estado, acabaram auxiliando no financiamento e proteção de pensadoresque propunham reformas religiosas. A intenção do primeiro não era As modificações que ocorreram foram de bases ideológicas. Há princípios com influências econômicas nas doutrinas da igreja católica que não favoreciam acumulação de bens. entre eles, pode-se destacar a divisão da riqueza com os pobres e a realização de “boas obras” neste mundo, ligadas, principalmente, a caridade. Há uma frase bíblica que justifica tais princípios: “é mais fácil um camelo passar por um vão da agulha do que um rico entrar no reino dos céus”. com o advento de uma nova igreja, o principal princípio é o de que o justo viverá pela fé e não por suas obras. Portanto, não é necessário se fazer “boas obras” para obter a salvação. Outro principio desta nova igreja é que o trabalho dignifica o homem e se alguém enriqueceu pelo trabalho, não deve envergonhar-se, menos ainda se preocupar em dividir sua riqueza com os mais pobres (WeBeR, 2004). É inegável que está nova doutrina favoreceu o surgimento e a consolidação do capitalismo. U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 22 UNIDADE 1 significaram os germes ou embriões de uma nova estrutura. Reunidos, os novos elementos formavam um conjunto que indicaria o “pontapé” inicial de uma transição social que só terminaria com a consolidação de uma nova estrutura social chamada capitalismo, denominação predominante até os dias atuais. Na verdade, a grande transição deve ser vista reunindo os diversos processos histórico-geográficos que deram características diferentes às transições específicas a países e regiões da Europa. Uma nova estrutura social Você deve refletir, a partir deste ponto, sobre os novos elementos econômicos e sociais que inauguraram uma nova conjuntura, os quais foram, basicamente, os seguintes: os • cercamentos (enclousures) das terras comunais, provocados pela reação senhorial, que impedia o acesso dos camponeses aos recursos existentes nessas áreas; o surgimento da • segunda servidão; o crescimento do • trabalho assalariado e dos arrendamentos de terras no campo; a consolidação de uma • burguesia rural formada por alguns estratos de ex-camponeses; a • especialização produtiva voltada para o mercado. Você já deve ter percebido que, nos processos histórico-geográficos, nenhum elemento pode ser pensado isoladamente. Assim, quando aludimos à noção de conjuntura, buscamos enfatizar o caráter integrado com o qual os elementos se manifestam nesses processos. No entanto, não se pode analisá-los de forma didática, a não ser considerando-os individualmente. Você deve começar refletindo sobre os cercamentos, que, sem dúvida, constituíram-se no elemento mais importante daquela conjuntura. Procure recordar a referência feita às terras comunais no espaço rural feudal. G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 23 UNIDADE 1 Os cercamentos Você viu que nos domínios ou feudos havia uma divisão em duas grandes áreas: as terras exploradas diretamente pelos senhores feudais e um conjunto de pequenos lotes que eram explorados, cada um deles, por uma família de camponeses. Como os terrenos das famílias camponesas eram pequenos, a sobrevivência dependia também dos recursos que elas podiam conseguir nas chamadas terras comunais, nas quais se localizavam os bosques que forneciam alimento e lenha, os pastos que alimentavam as criações e as fontes de água. É fácil perceber que o acesso a esses recursos era indispensável aos camponeses, pois eles não contavam com isso nos seus pequenos lotes, que eram reservados para produção agrícola tanto para o consumo familiar quanto para pagar as rendas em espécie, definidas conforme os costumes locais. Os cercamentos correspondiam à apropriação privada pelos senhores das terras comunais. Em outras palavras, os senhores passaram a proibir aos servos o acesso aos recursos contidos em tais terras, porque tinham interesse em ampliar a exploração direta que já faziam em outras áreas, incorporando terras que antes dividiam com os camponeses. O que deu um caráter absolutamente devastador sobre o meio de vida dos servos foi a opção de uso principal que os proprietários passaram a dar as terras, que era a criação de ovelhas. Na Inglaterra, os senhores ampliaram as criações de ovelhas (a lã tornou-se uma matéria-prima muito valorizada), que, como praticamente todo o tipo de criação animal, não necessitava de muita mão-de-obra, mas de uma quantidade cada vez maior de terras. Com isso, tornou-se vantajoso expulsar os camponeses e fazer a exploração produtiva direta das terras comunais. Êxodo Rural Você deve ter percebido que, neste novo contexto, os camponeses não conseguiam sobreviver da exploração dos seus pequenos lotes, como também não havia empregos nas novas fazendas; só restando, a U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 24 UNIDADE 1 muitos, o êxodo rural3, o abandono do campo e a busca de novas formas de sobrevivência. A opção era partir para outras regiões e cidades, mas muitos engrossaram os ”exércitos” dos revoltosos ou dos bandos de salteadores que assolavam as estradas da época. Outros foram jogados à mendicância ou à prática de diversos crimes. Esse grande êxodo rural, gerado pela falta de opções produtivas para uma massa enorme de ex-servos, tornava-se cada vez mais grave nas décadas que se seguiram. O resultado foi o surgimento das chamadas Leis dos Pobres, que se sucederam desde o final do século XV até o século XIX, na Inglaterra e em outros países da Europa. Essas leis buscavam manter o controle sobre as multidões dos excluídos dos espaços produtivos rurais e que não conseguiam encontrar outras ocupações econômicas. Quando se perdia o controle, partia-se para a repressão pura e simples. Desigualdades sociais Karl Marx produziu uma obra intelectual das mais influentes, dedicada às origens e evolução do capitalismo. Denominam-se marxistas os estudiosos que se baseiam nesta obra para produzir os seus trabalhos. Para começar a conhecer as propostas marxistas, sugerimos os livros que tratam da história do pensamento econômico, em especial o de Hunt; Sherman (1990). No capítulo citado anteriormente, Marx descreve a acumulação primitiva de capital que teria ocorrido antes da consolidação 3 Êxodo Rural – Migração da população moradora das áreas rurais em direção às cidades (Figura 3). Esse movimento populacional tem sido ao longo dos últimos séculos, o grande causador da chamada urbanização, que gerou a concentração da população nas cidades. Figura 3 - Êxodo Rural Para entender melhor esses fatos, sugerimos a leitura do texto “legislação sanguinária contra os expropriados”, um dos mais famosos capítulos do livro “O Capital” (1867), a principal obra de Karl Marx. G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 25 UNIDADE 1 do capitalismo. Ele destaca, por exemplo, um item da lei que vigorava em 1572, na Inglaterra, no reinado de Elizabeth I: “os mendigos sem permissão e maiores de 14 anos deverão ser severamente açoitados e marcados com ferro em brasa na orelha esquerda, se ninguém quiser tomá-los a seu serviço durante dois anos. Em caso de reincidência, os maiores de dezoito anos deverão ser executados se ninguém quiser empregá-los durante dois anos. Mas na terceira vez, serão executados sem misericórdia como traidores.” (MARX, 1989, p.61-62). Mesmo após milhares de execuções todos os anos na Inglaterra, a criminalidade não arrefecia, pois, segundo um observador da época, que é destacado por Marx (1989), os punidos não eram responsáveis nem pela “quinta parte dos crimes cometidos, graças à negligência dos juízes de paz e a estúpida compaixão do povo”. Na verdade, não havia, de forma efetiva, meios de se ganhar a vida honestamente que pudesse atender a toda a população desalojada dos campos naquela época, mas se cobrava mais e mais repressão. A empresa capitalista no campoEnquanto isso, os campos eram povoados de ovelhas, visando à produção de lã, produto valorizado no comércio internacional e que garantia os lucros monetários indispensáveis à nova economia. O mercado capitalista que começava a ser montado dependia da moeda como um elemento indispensável para intermediar as trocas. A riqueza passa a ser algo que dependia antes de tudo da posse da moeda, pois ela materializa a realização dos lucros. Não adiantava ter terra, sem ter renda monetária. É assim que as terras, antes reservadas ao usufruto das comunidades, passaram a ser de exploração individual. leia mais a respeito do tema do êxodo rural e suas conseqüências sociais. depois elabore uma comparação entre o que sucedeu na inglaterra nos últimos cinco séculos e no Brasil nas últimas cinco décadas. Assim, você poderá refletir sobre a seguinte questão: quais são as semelhanças e diferenças entre o êxodo rural que aconteceu na inglaterra e o que ocorreu no Brasil? escreva pelo menos dez linhas a respeito do assunto. U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 26 UNIDADE 1 Esse processo altera totalmente a organização do espaço rural, transformando as fazendas em empresas produtivas e comerciais de tipo mercantil, pois a produção era dirigida para o mercado. Tratava-se, inegavelmente, do surgimento de uma empresa capitalista no campo. Isso pressupunha uma nova definição contratual da propriedade privada de caráter individual, o que modificava completamente a forma de apropriação do solo produtivo que predominava no sistema feudal. Começava assim a apropriação produtiva do espaço rural nos moldes capitalistas, num processo histórico-geográfico que tomaria características específicas de acordo com cada país e região. A partir da Inglaterra, ele se expande pela Europa Ocidental, através dos emigrantes europeus que vão se espalhar por diversos continentes, em especial na América do Norte surge um padrão capitalista bem marcado na ocupação dos espaços rurais. Especialização produtiva Sem dúvida, os cercamentos foram o processo mais importante daquela conjuntura e estão na raiz do que denominamos de especialização produtiva voltada para o mercado. Isso significava uma forma de cada região ou país se especializar em algum segmento da produção agroindustrial, em que ele se mostrava mais competitivo, em virtude de vantagens comparativas que lhe eram favoráveis em relação a outros países e regiões. Por exemplo, os produtores ingleses preferiam a criação de ovelhas porque conseguiam produzir a melhor lã. Países como a Dinamarca e a Noruega também se especializaram na criação, mas voltada para a produção de carnes salgadas e laticínios, principalmente a manteiga. A Toscana (Itália) especializou-se em plantas industriais, notadamente as tintoriais. Regiões da Alemanha tornavam-se produtoras de corantes, linhos e vinhos, bebida que também marcava algumas regiões de Portugal e da França. Novos estudos indicam que, na maior parte dos casos, essa especialização produtiva foi posterior a algum tipo de cercamento que transformava o solo em mais um meio de produção capitalista. (SILVA, 1986). G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 27 UNIDADE 1 A diferenciação econômica e regional Para você, é importante entender que a especialização produtiva contribuiu para o surgimento de uma nova geografia econômica, pois gerou regiões econômicas diferenciadas, já que cada produto tem seu padrão produtivo, com regras territoriais próprias. Com o país ou região se especializando em poucos produtos, intensifica-se a necessidade de trocas, e as regiões buscam, no mercado internacional, aquilo que não produziam, enquanto ofereciam ao mesmo mercado o que produziam. A esse processo, a teoria econômica marxista chamou de divisão social do trabalho ou, como preferem alguns geógrafos marxistas, divisão territorial do trabalho. Para esses teóricos, trata-se do mecanismo que gera a regionalização no capitalismo, com as regiões tomando as características que lhe são reservadas pela lógica produtiva do sistema. Uma especialização produtiva que merece um comentário especial foi a que aconteceu a leste do Rio Elba, na Europa Oriental. Nas planícies que abrangem territórios das atuais Alemanha e Polônia, e, posteriormente, da Rússia e países bálticos, expandiu-se uma agricultura voltada para a produção de cereais, principalmente o trigo, visando à exportação para os países da Europa Ocidental. A divisão social do trabalho Esse processo não aconteceu através da dissolução da servidão, mas, justamente, a partir do reforço dos laços feudais. Os grandes fazendeiros alemães e poloneses procuraram intensificar a exploração de suas terras recorrendo a uma relação social – servidão – que, como você já estudou, estava em dissolução na Europa Ocidental. Tal processo ficou conhecido como a segunda servidão. A servidão na Rússia, por exemplo, só vai terminar com a Revolução Socialista de 1917. No entanto, na Europa Ocidental, a servidão estava em decadência e dava lugar a outras relações de trabalho, como o assalariamento e o arrendamento4 que cresciam bastante no campo. Na exploração rural, 4 Arrendamento - Contrato pelo qual o proprietário rural cede temporariamente ao arrendatário a exploração de frações de suas terras mediante o pagamento em espécie, produto ou trabalho. U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 28 UNIDADE 1 os diferentes produtos requerem padrões produtivos diversos. Alguns demandam mais mão-de-obra, outros menos. Alguns precisam de mão- de-obra de forma concentrada em certos momentos da produção, outros não apresentam picos tão marcados. Assim, o produto que exige mão- de-obra de uma forma regular durante todo o ciclo produtivo pode favorecer a utilização de assalariamento. Por outro lado, produtos que demandam muita mão-de-obra, mas de forma sazonal, podem favorecer a utilização dos arrendamentos, que levam as famílias dos arrendatários a se localizarem nas próprias terras que estão sendo exploradas, gerando força de trabalho concentrada que pode ser mobilizada nos momentos de maior demanda de braços, como as fases de plantio e colheita. Na conjuntura da crise feudal, o trabalho assalariado tornava-se mais procurado, mas passa a ser regulado por leis que vão tentar mantê- lo em níveis vantajosos para os empregadores. Inicia-se, então, uma luta entre patrões e empregados, relacionada ao preço da mão-de-obra. Os patrões, apoiados em leis repressivas, venceram a luta até meados do século XIX, quando se transformou em direito dos trabalhadores a organização sindical e a utilização das greves como forma de lutar por melhores salários e condições de trabalho (MARX, 1989). Todo esse processo foi mais importante nas cidades do que na zona rural. No campo, os arrendamentos foram mais comuns na Europa Ocidental e geraram o aparecimento de um elemento fundamental no período de transição, que foi o burguês rural. A burguesia5 rural A burguesia rural surge do sucesso econômico de muitas explorações produtivas que se voltaram para atender às demandas do crescente mercado capitalista de produtos agropecuários, resultado da especialização. Entre esses bem-sucedidos capitalistas rurais, não estavam apenas os grandes fazendeiros, que expulsaram seus servos e passaram a explorar individualmente suas terras, mas também antigos 5 Burguesia – Denominação dada ao conjunto dos proprietários dos meios de produção no capitalismo. Esses proprietários são os empresários ou capitalistas, os quais, para os marxistas, dominam as relações econômicas e sociais do sistema, o que os transforma em classe social dominante, em detrimento da classe social dominada, formada pelos não- proprietários dos meios de produção, também chamada de proletariado. G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 29 UNIDADE 1 camponeses, que arrendaram terrasde senhores feudais arruinados e conseguiram acumular capital, favorecidos pelas qualidades de alguns solos, pela localização privilegiada de algumas terras ou por contratos de arrendamentos com pagamentos corroídos por uma inflação crescente que atingiu alguns países e regiões. Essa burguesia rural, formada por grandes, médios e pequenos produtores, contribuiu para consolidar a apropriação privada das terras, mudando a organização do espaço rural europeu de um modelo feudal, onde a propriedade era mitigada pela posse e o usufruto coletivo das terras, para um modelo capitalista, no qual se aboliu qualquer uso comunal das terras em favor da exploração individual. Você constatou que, com todos esses novos elementos, estão lançadas as bases de um espaço rural de tipo capitalista, no qual se tornam fundamentais a existência de empresas rurais especializadas, administradas em moldes capitalistas, e formas não-servis de relações sociais, como o assalariamento e os arrendamentos. Esses novos elementos surgiram através da apropriação privada das terras comunais e tiveram como principal conseqüência, na Europa Ocidental, a decadência da aristocracia feudal, substituída pela burguesia rural. Na Europa Oriental, o processo foi diferente: a exploração mais intensa das terras dependeu do reforço dos laços feudais, através da intensificação da servidão (segunda servidão). Mas as transformações que acometeram a Europa não foram exclusivas do espaço rural, pois atingiram também as cidades ou os espaços urbanos. Você poderá analisar essas transformações urbanas na próxima seção. Você deve procurar refletir sobre as transformações que atingiram o espaço rural europeu, elaborando um texto sobre o que julgou mais interessante, no que foi abordado até este ponto. O texto deve ter no máximo trinta linhas (uma lauda). U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 30 UNIDADE 1 SeÇÃO 3 ANOS De muDANÇAS e TRANSfORmAÇÕeS: A TRANSiÇÃO feuDAL-cApiTALiSTA NO eSpAÇO uRbANO euROpeu Até agora, você conheceu as transformações que afetaram o espaço geográfico feudal, no seu espaço rural, e entendeu como ele foi assumindo as características capitalistas. A partir daqui, você verificará as transformações econômicas ocorridas no espaço urbano. Você concorda que, ao estudar a estruturação da geografia econômica do mundo capitalista, abordando os elementos internos das transformações ocorridas no primeiro continente no qual essa estruturação se consolidou, constata-se que as mudanças nasceram, em grande parte, de contradições internas das diversas sociedades européias? Você concorda também que essas sociedades podem ser vistas como diferentes nações, regionalmente caracterizadas, que desenvolveram vários processos histórico-geográficos, mas todos eles inseridos no contexto de transformação que envolveu o continente europeu? Não se preocupe em responder ainda. Antes, reflita bastante e acompanhe o que será abordado a seguir. Observe que as questões gerais serão enfocadas a partir de questionamentos específicos. As transformações que atingiram o mundo da produção industrial Você que vive numa civilização mercantil e trabalha de uma forma especializada, normalmente permanece muito distante do processo produtivo efetivo das mercadorias que consome e não pensa muito nesse processo. É certo que você não está sozinho, pois a maioria das pessoas nunca se preocupou com isso. Mas, de qualquer forma, você deve tentar refletir um pouco sobre o processo de produção de mercadorias. Pense sobre isso: o que acontece, efetivamente, quando se produz uma mercadoria? Ao se analisar a produção de uma tábua, por exemplo, pode-se afirmar que primeiro uma G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 31 UNIDADE 1 árvore foi derrubada e depois o seu tronco foi serrado para produzir várias tábuas. Assim, uma matéria-prima inicial (a árvore) sofreu a ação humana, potencializada pela ajuda de máquinas e ferramentas, permitindo a criação de um produto final, no caso, a tábua. Esse produto pode ser a matéria-prima básica para uma série de outros produtos, cuja matéria- prima inicial é a madeira. Podemos citar como produtos derivados da madeira: os móveis, os pregadores de roupas, os cabos de vassouras, as urnas funerárias (caixões), entre outros. Há alguns produtos que muitos desconhecem e que podem ter as árvores como matéria-prima inicial. É o caso do papel e papelão. É isso mesmo! O papel deriva da madeira. Por isso, afirma-se que reciclar papel usado para produzir papel novo evita a derrubada de árvores. Transformação da natureza Nesse ponto, você deve pensar sobre mais uma questão: desde quando o homem é capaz de transformar uma matéria-prima em um bem ou produto que possa ser utilizado por ele mesmo? Os estudos e pesquisas indicam que faz bastante tempo. Os homens primitivos lascavam rochas, pegavam pedaços dessas rochas que apresentassem uma forma de “machadinha”, amarravam esses pedaços de rochas com cipós e acabavam criando um bem que poderia servir para caçar ou atacar seus inimigos. Da mesma forma, começaram a produzir vestimentas com pele de animais e canoas, utilizando troncos de árvores. Assim, parece estar confirmado que, realmente, faz muito tempo que existe atividade artesanal, manufatureira ou industrial nas comunidades humanas. Mas é evidente que a produção de bens evoluiu muito desde a época das cavernas. Deve-se destacar que a produção de bens, durante muitos séculos, foi feita, predominantemente, como uma atividade doméstica, pois era realizada como um trabalho ligado à vida das famílias, que produziam bens para serem consumidos diretamente pelos seus membros ou para serem utilizados também pelos trabalhadores familiares na produção de outros bens. É evidente que em alguns lugares e em determinados momentos, escravos e servos também trabalhavam para outros e não U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 32 UNIDADE 1 propriamente para suas famílias. Mas o importante aqui é que a maior parte da produção era para o auto-consumo: o bem produzido não era uma mercadoria, não havia alguém lucrando com aquela produção. A indústria doméstica No feudalismo e no capitalismo sempre houveram produtores especializados que viviam dos bens que fabricavam e vendiam. Assim viviam os ferreiros, os carpinteiros e os artesãos. Nos campos, os camponeses, na sua grande maioria, produziam quase tudo que consumiam, nos moldes do que se denominou de indústria doméstica, porque fabricavam nas suas residências suas roupas, móveis, calçados e ferramentas e pode-se afirmar também que conseguiram avançar muito na produção de bens que estão na base da atual indústria alimentícia. Isso porque, em muitas regiões da Europa, o inverno é muito longo e rigoroso. São mais de seis meses por ano nos quais os solos permanecem cobertos por neve. Não há como cultivar muitos tipos de alimentos nesse período. Com isso, houve necessidade de produzir alimentos que pudessem ser conservados para que fossem consumidos no inverno. Assim, surgiram os salames, presuntos, carnes salgadas, conservas de legumes e verduras e as compotas de frutas. Os descendentes de alemães, italianos, poloneses, entre outros que vieram para o Brasil trouxeram essa tradicional indústria doméstica e a desenvolveram nas colônias rurais que aqui implantaram. A evolução da produção artesanal A produção manufaturada com objetivo comercial, como um sistema corporativo6, começou ainda na Idade Média ou, como se 6 Sistema Corporativo – A base desse sistema eram as corporações de ofício, que cor- respondiam a associações profissionais de artesãos, como sapateiros, alfaiates, ferreiros, etc. Essas associações tinham normas rígidas para controlar o exercício profissional. O sistema, embora de origem medieval, progrediu muito no período de transição do feuda- lismo ao capitalismo,quando dominou o intervencionismo estatal mercantilista, típico do Estado absolutista. Pesquise sobre a existência da indústria doméstica nas colônias agropecuárias dos municípios que são tipicamente rurais. dessa forma você entenderá a origem destas atividades que são muito comuns entre os colonos do sul do Brasil. cite e comente algumas delas. G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 33 UNIDADE 1 prefere denominar, no feudalismo. Esse sistema, também chamado de indústria artesanal corporativa ou sistema artesanal tradicional, era totalmente controlado por mestres artesãos e suas famílias, os quais detinham a direção de todas as etapas do processo produtivo, desde a compra da matéria-prima, passando pela produção em si, até chegar à comercialização, que também era reservada ao próprio artesão. Esse sistema perdurou de forma equilibrada durante muitos séculos, nos quais a demanda manteve-se em padrão regular. Até porque uma boa parte do que se produzia era voltada para o mercado de luxo e atendia a uma demanda restrita às elites. Mas essa realidade mudou após a crise dos séculos XIV e XV. Como você já estudou, a crise gerou o êxodo rural, levando uma boa parte da população das áreas rurais a se deslocar em direção às cidades. A população que deixou os campos não tinha mais condições de produzir para seu autoconsumo uma infinidade de produtos ligados à indústria doméstica. Assim, intensificava-se a procura por produtos manufaturados, resultando na expansão de um mercado capitalista que começava a se formar. Você já deve ter compreendido que os momentos de pressão sobre estruturas que se mostram superadas são períodos de grandes mudanças, e, no que se refere à produção de mercadorias, não foi diferente. Surgiram novos sistemas de produção manufatureira, como você poderá estudar a seguir. Procure pesquisar em livros de História os termos mercantilismo e absolutismo. isso é necessário porque, no período de transição do feudalismo para o capitalismo, esses fenômenos histórico-geográficos foram muito importantes. Para os interessados na geografia econômica européia, o que importa é o significado econômico desses elementos no período de transição feudal-capitalista, o que é possível perceber na seguinte citação: “em suma, o estado Moderno Absolutista, para manter o equilíbrio social sobre o qual se fundava, precisava sustentar a nobreza decadente, necessitando para tanto de recursos, daí o mercantilismo; dessa maneira, porém, provocava a ruptura do equilíbrio e comprometia sua própria existência. O mercantilismo foi, assim, a força e a fraqueza do Estado Moderno.” FRANCO JR; PAN CHACON, 1986). U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 34 UNIDADE 1 Do sistema manufatureiro doméstico ao sistema fabril O sistema manufatureiro doméstico é a tradução para o português da denominação inglesa “putting out system” ou “domestic system”. Esse sistema surge do interesse de alguns comerciantes em atenderem à demanda crescente por produtos manufaturados. Os comerciantes lutaram contra o controle da produção artesanal que era exercido pelo sistema corporativo e pelo Estado, o qual também passou a interferir cada vez mais neste sistema, como era próprio das políticas econômicas mercantilistas que dominavam a administração da economia ligada ao absolutismo europeu predominante no período de transição feudal – capitalista. No sistema doméstico, o produtor permanecia trabalhando nas suas oficinas ou ateliês residenciais, mas trabalhava para atender às encomendas recebidas dos comerciantes, os quais lhe forneciam as matérias-primas e faziam a comercialização da produção. Esse sistema permitiu furar o bloqueio mantido pelo sistema corporativo, porém não Você deve ter pesquisado sobre o mercantilismo e o absolutismo. descreva a seguir as principais características destes fenômenos histórico-geograficos: Mercantilismo: Absolutismo: G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 35 UNIDADE 1 possibilitou o controle efetivo do processo pelo comerciante, que, no caso, era uma espécie de protótipo ou precursor do burguês (capitalista industrial). As fábricas Você deve refletir sobre a seguinte questão: como o comerciante poderia controlar todo o processo produtivo, impedindo que o produtor, que trabalhava na sua residência, pudesse desviar matéria-prima ou não se dedicar integralmente ao trabalho? A solução veio com as fábricas (Ver figura 4). As fábricas permitiram concentrar os trabalhadores num ponto, propiciando que o comerciante, transformado em industrial, pudesse controlar completamente todo o processo produtivo. Reunindo os trabalhadores (Ver figura 4) sob sua autoridade, o capitalista pôde dirigir o processo produtivo de acordo com seus interesses: determinando a carga horária que o produtor tinha que cumprir; controlando a dedicação do produtor ao trabalho; regulando o padrão tecnológico utilizado na produção; controlando fraudes ou sabotagens; criando um padrão disciplinar e hierárquico na administração da fábrica. (DE DECCA, 1993). Com isso, o capitalista industrial aumentou a produção e a produtividade até o limite da exaustão e da resistência dos produtores, os quais, no sistema fabril, tornaram-se, de forma definitiva operários, ou, como preferem os marxistas, proletários. Os operários Para os marxistas, os proletários são trabalhadores não-proprietários dos meios de produção (Ver figura 4), que se transformam em força de trabalho, permitindo a consolidação do capitalismo como sistema produtivo e social. O sistema fabril, que surgiu na Inglaterra em meados do século XVIII, criou uma relação de trabalho entre os capitalistas e proletários, que se transformou em uma relação social, vista como claramente capitalista, pois opõe, de um lado, proprietários dos meios de U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 36 UNIDADE 1 produção (empresários) e, de outro, a força de trabalho (proletários). As lentas transformações do espaço produtivo do capitalismo Você percebeu que se atingiu um ponto importante que precisa ser bem analisado. Pode-se resumí-lo na seguinte questão: como essa evolução produtiva que resultou na consolidação do sistema fabril nos países mais adiantados da Europa Ocidental influenciou na estruturação de uma geografia econômica capitalista? As primeiras fábricas empregavam muitos trabalhadores, e a concentração destas fábricas gerou grandes aglomerações de trabalhadores fabris e de suas famílias. Isso aconteceu em algumas cidades, que passaram a ser conhecidas como cidades industriais. A atração que essas cidades passaram a exercer sobre a população que buscava trabalho foi muito grande, determinando um crescimento populacional explosivo. Inicialmente, isso foi muito marcante na Inglaterra, mas, a partir da segunda metade do século XVIII, gerou a eclosão de uma Revolução Demográfica, que causou preocupação ao pastor e economista Thomas Robert Malthus. Com a expansão da Revolução Industrial, o mesmo processo de crescimento da população das cidades (urbanização) alastrou- se por outros países. Figura 4: Fábrica G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 37 UNIDADE 1 A situação social das cidades industriais Algumas fábricas da primeira fase do sistema fabril eram imensas e abrigavam uma população operária que, em muitos casos, chegava a milhares de operários. A entrada e a saída dos operários geravam um movimento intenso de pessoas e uma efervescência humana em todas as cercanias do prédio. Muitas cidades brasileiras ainda têm fábricas como estas: imensas e de construção sólida, mas a maior parte delas encontra- se desativada. Na sua cidade existem ainda essas antigas fábricas? Caso não existam, você conhece algum local em que elas ainda permanecem? As cidades industriais, altamente concentradoras de população, aparecem no espaço geográfico de padrão capitalista,tornando- se um elemento fundamental na geografia econômica capitalista. A convergência da população gerava grande aumento do consumo, abrindo oportunidades na área comercial e de prestação de serviço. Assim, concentravam-se também nessas cidades inúmeros estabelecimentos comerciais, financeiros e administrativos, os quais davam um dinamismo produtivo e econômico significativo às cidades industriais. É evidente que - Malthus, Thomas Robert (1766-1834). Economista inglês. No seu trabalho Essay on the Principle of Population (1798), chama a atenção para o fato de que o aumento da população ocorre, se não é controlado, em uma progressão geométrica (1, 2, 4, 8, 16, 32...), enquanto os meios de subsistência crescerão apenas em progressão aritmética (1,2,3,4,5...). Uma vez que a população humana tende a crescer mais rapidamente que a produção de alimento, precisa ser eventualmente reduzida pela guerra, doenças e fome. Malthus pedia a urgente proibição dos casamentos ou seu adiamento como uma política social responsável, no seu Principles of Political Economy (1820) http://www.cobra.pages.nom.br/fm-malthus.html. 1) Relacione o fenômeno histórico-geográfico da explosão demográfica com a realidade atual das nossas médias e grandes cidades. destaque o crescimento das grandes cidades, enquanto as áreas rurais e as pequenas cidades têm suas populações cada vez mais reduzidas. elabore um comentário a respeito deste assunto. 2) Procure a existir o filme “Perfume - a história de um assassino”, baseado no livro de P. Suskind, que mostra um pouco da passagem para a revolução industrial e também as situações da cidade naquele período. escreva um pequeno comentário sobre o filme. U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 38 UNIDADE 1 elas cidades passaram a atrair e concentrar uma numerosa população que não conseguia se inserir no mercado de trabalho e vivia em condições econômicas precárias (Ver figura 5). Mas a pobreza e a miséria não acompanhavam apenas os não- integrados ao mercado de trabalho, porque mesmo os que tinham emprego nas fábricas não estavam em muito melhor situação, já que os salários eram extremamente baixos, a carga de trabalho elevadíssima e não havia nenhum tipo de proteção social à população em geral e aos trabalhadores em particular. As precárias condições de vida da população trabalhadora da primeira fase da revolução industrial foram, sem dúvida, um dos marcos do início da era industrial. Longa e violenta foi a luta empreendida pelos trabalhadores para conseguir melhorias nas suas condições de trabalho. Figura 5: A cidade Verifique se existem fábricas antigas ou prédios nos quais elas estavam instaladas na sua cidade, e pesquise sobre elas e sobre antigos ou atuais operários que podem ter trabalhado nessas fábricas. Faça uma entrevista com eles. Pergunte a respeito das condições de trabalho, do salário, assistência médica, carteira de trabalho e outras questões que você mesmo pode criar. G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 39 UNIDADE 1 O espaço produtivo do capitalismo O espaço produtivo do capitalismo consolida-se a partir da expansão do sistema fabril. O resultado é uma espacialidade que se torna característica desse capitalismo e que foi descrita por Cunha (1998, p. 100): “A espacialidade tradicional do capitalismo é aquela das concentrações espaciais do capital e do trabalho, dos desequilíbrios regionais, das migrações desterritorializantes, da degradação sócioambiental das periferias das cidades, do urbanismo segregador, da involução das pequenas cidades, da modernização predatória do campo, e é assentada nela que se reproduz o sistema”. Inicialmente, as concentrações de capital e trabalho materializaram- se nas cidades industriais, nas quais se localizavam as fábricas. Essas concentrações geravam a acumulação de riqueza, através dos lucros da produção, nas mãos dos empresários. Da mesma forma, ocorria a aglomeração da população trabalhadora, submetida aos baixos salários e às ondas de desemprego determinadas pelas crises cíclicas do capitalismo. Como as alternativas no campo não eram melhores, os trabalhadores engrossavam os grandes contingentes populacionais que transformaram a geografia da população da Europa, através de um êxodo rural significativo, surgindo cidades cada vez mais populosas, o que foi classificado como o grande movimento de urbanização relacionado às sociedades industriais contemporâneas. Em tal contexto, as cidades tornaram-se pontos de concentração de riqueza e miséria, como as duas faces distintas da mesma moeda. Benko (1996, p. 59) resumiu essa condição do capitalismo, ao afirmar que “a aglomeração (...) foi e continua sendo a primeira condição do mercado capitalista.” É importante que se destaque esse aspecto do sistema, porque ele é decisivo para entender a geografia econômica do capitalismo: O resultado foi o surgimento de aglomerações populacionais em pontos e áreas bem específicas do espaço. A lógica concentracionista manifesta- se também nos pontos de aglomeração, basicamente as cidades onde as empresas industriais, comerciais e de serviços têm seus territórios e vias. Toda essa espacialidade resulta de uma poderosa força centrípeta, desencadeada U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 40 UNIDADE 1 por um padrão científico, tecnológico, produtivo e organizacional, que, num primeiro momento era europeu, mas internacionaliza-se de forma decisiva, a partir do século XIX, em bases monopolistas que predominam até os dias atuais. (CUNHA, 1998, p. 101). Na citação acima, o autor desloca o fenômeno da concentração econômico-populacional do espaço geográfico para os espaços específicos das cidades e dos campos. A divisão sócio-espacial da cidade Nas cidades capitalistas, o espaço é hierarquizado de acordo com a própria racionalidade econômico-social do capitalismo, que produz as zonas industriais, as vilas operárias, os “jardins” das classes médias e das elites, os centros comerciais e financeiros e os espaços de exclusão das grandes, médias e pequenas cidades, os quais são as “periferias” centrais ou distantes, que a espacialidade capitalista reserva aos excluídos. Esses espaços, segundo Cunha (1998, p. 103), transformam-se, cada vez mais, de cinturões verdes em “cinturões vermelhos” (de sangue mesmo), “territórios da pobreza, da criminalidade e da degradação socioambiental em geral”. Mas há outra questão importante que se deve analisar na última citação destacada. Você deve refletir sobre o que o autor quer dizer ao se referir ao padrão sócio-espacial dominante no capitalismo concorrencial, “que, num primeiro momento era europeu, mas internacionaliza-se de forma decisiva, a partir do século XIX, em bases monopolistas que predominam até os dias atuais”. A afirmação refere-se ao processo de evolução da geografia econômica capitalista. Pode-se dizer que a primeira fase do capitalismo foi a concorrencial e gerou a geografia econômica que se analisou até aqui, em suas linhas gerais. No entanto, nas últimas décadas do século XIX, a geografia econômica capitalista começou a se alterar. As mudanças aconteceram impulsionadas por uma nova lógica geoeconômica que se impôs ao sistema. Trata-se do padrão monopolista, que começa a se manifestar também na Inglaterra em meados do século XIX. Aos poucos, G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 41 UNIDADE 1 alastra-se para os outros países europeus de capitalismo mais avançado, mas só vai tomar a sua forma característica nos Estados Unidos da América, no final do século XIX e início do século XX, quando começa a se configurar a hegemonia americana frente ao domínio inglês. São essas transformações que resultam num novo padrão estrutural do sistema que você irá estudar na próxima unidade. Você está preparado para avançar nos seus estudos, porque, na unidade I, abordou-se inicialmente acrise do sistema feudal, quando se buscou identificar os elementos econômico-sociais que surgiram e que indicavam as transformações que ocorriam nesse sistema, mas, principalmente, anunciavam o surgimento de outro, que passou a ser denominado de capitalismo. Na seção 2, você estudou as transformações no espaço rural da Europa e, na seção 3, as mudanças localizadas no espaço urbano. Reflita sobre as transformações econômicas que ocorreram no espaço urbano da Europa, no período de transição entre o feudalismo e o capitalismo, elaborando um texto sobre o que considerou mais interessante. O texto deve ter no máximo trinta linhas. U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 42 UNIDADE 1 G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 43 UNIDADE 1 U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 44 UNIDADE 1 G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 45 UNIDADE 2 geografia econômica capitalista monopolista: uma nova globalização na idade contemporânea ObjetivOs De aPRenDiZaGem Compreender o papel do capitalismo monopolista na formação de um ■ espaço econômico mundial; Compreender a dimensão imperialista contida nessa nova geografia ■ econômica; Identificar as principais teorias burguesas de localização e seus limites para ■ a explicação da organização do espaço econômico. ROteiRO De estUDOs SEçãO 1 – O capitalismo monopolista e a construção de um novo espaço ■ econômico mundial SEçãO 2 – A geografia econômica do imperialismo ■ SEçãO 3 – A organização do espaço econômico capitalista monopolista: ■ teorias burguesas de localização U N ID A D E II KARIN LINETE HORNES LUIZ ALEXANDRE GONÇALVES CUNHA REINALDO ANSBCH U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 46 UNIDADE 2 pARA iNÍciO De cONveRSA O capitalismo (Ver figura 6) consolidado como um novo modo de vida na Europa em meados do século XIX, mantém sua dinâmica de transformação. As mudanças indicam um novo padrão espacial da economia, no qual as linhas gerais da geografia econômica estruturada na Europa vão se expandir pelos diversos continentes, reorganizando o espaço geográfico dos territórios nacionais e coloniais abrigados nos grandes espaços continentais. O sistema mundial daí resultante terá uma nova lógica fundada numa divisão internacional do trabalho, encaminhando a organização dos territórios para uma estrutura consolidada em espaços centrais e periféricos. Os territórios nacionais centrais são os países detentores de importantes parques industriais e amplos setores comerciais e financeiros, exportadores de bens industriais, capitais e competências tecnológicas e organizacionais, adaptados às novas condições capitalistas. Os territórios nacionais e coloniais que recebem essas exportações têm os seus espaços geográficos reestruturados pelos capitais e pelas novas competências que se abatem sobre diversos tipos de padrões econômicos regionais, variando do tipo primário- exportador até os autárquicos, sem vínculo significativo com mercados mundiais. Para os marxistas, as transformações refletem a dinâmica econômico- social provocada pelo capitalismo monopolista, que representa uma nova fase do sistema que se sucede à etapa concorrencial. Você deve, então, procurar conhecer quais são os elementos fundamentais desta nova etapa do capitalismo, denominada monopolista. Figura 6: G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 47 UNIDADE 2 SeÇÃO 1 O cApiTALiSmO mONOpOLiSTA e A cONSTRuÇÃO De um NOvO eSpAÇO ecONômicO muNDiAL O que seria importante entender para compreender o momento de mudanças no capitalismo? Em primeiro lugar, há uma oposição entre uma fase que se denomina concorrencial, e outra, que a sucede, chamada monopolista. Dessa forma, opõem-se a concorrência ao monopólio, como conceitos que estão na raiz da proposta teórica marxista da análise da evolução do capitalismo. Surgem, destarte, as primeiras indagações. O que é concorrência? E o que é monopólio? Você não deve esquecer que o objetivo é compreender a nova geografia econômica que surgia naquele momento. Para tal, busca-se responder a estas questões iniciais pelo prisma da dinâmica econômica. A concorrência quase perfeita dos liberais Na economia de mercado capitalista, a concorrência é a disputa que acontece entre as empresas para terem os seus produtos e serviços aceitos e comprados pelos consumidores, em detrimento dos produtos e serviços oferecidos por outras empresas do mesmo ramo produtivo. Quando se tem um número muito grande de empresas disputando um mesmo mercado, ocorre uma situação de forte concorrência, conhecida como concorrência perfeita. Nesse tipo de estrutura de mercado, cada ramo produtivo apresenta um número grande de empresas, normalmente pequenas e médias, que disputam o consumidor de forma bastante agressiva. Em tal contexto, as leis econômicas de mercado permitem entender as dinâmicas geradas pela forte concorrência entre as empresas. Por exemplo, a mais importante dessas leis – a lei da oferta e procura - ajustava o mercado, porém, como procuraram mostrar os críticos do capitalismo do século XIX, em especial os marxistas, não conseguia sustar as sucessivas U n iv e rs id a d e A b e rt a d o B ra si l 48 UNIDADE 2 crises econômicas; ao contrário, era fator de desequilíbrio do sistema. A conjuntura de uma dessas crises, iniciada na década de 1870, foi um momento decisivo, que no lugar mais apropriado naqueles tempos - os Estados Unidos da América – apontaram os rumos do grande movimento de transformação que se avolumava. Assim, o processo histórico-geográfico que desencadeou a mudança da fase concorrencial do capitalismo é principalmente americano. Monopólios e oligopólios Na Europa Ocidental, e mais ainda nos Estados Unidos da América, alguns setores econômicos apresentavam uma concorrência entre as empresas que se tornava cada vez mais significativa, o que gerava diversos tipos de fenômenos mercadológicos, organizacionais e tecnológicos, fazendo surgir grandes grupos econômicos que passavam a dominar os mercados nos quais atuavam, em alguns casos, como monopólio (uma empresa apenas domina um setor) ou, mais freqüentemente, integrando um oligopólio (poucas empresas dominam um setor). Dean (1983) destaca o desencadear desse processo histórico- geográfico, em especial como um fenômeno americano. Explica-o como relacionado à conjuntura de crise do último quartel do século XIX, afirmando que A depressão da década de 1870, bastante severa em todos os países em industrialização, foi marcada por um constante declínio de preços, estagnação de lucros e ondas de falências bancárias. Uma das principais respostas dos proprietários de fábricas a essa situação foi à tentativa de organizar cartéis. (DEAN, 1983, p. 47). Dean (1983) explica o cartel como “um acordo entre empresas com o fim de limitar a produção e os territórios de vendas além de elevar os preços.” (DEAN, 1983, p. 47). Todas essas iniciativas significam uma restrição à competição entre as empresas no setor em que existia o cartel e dificultava a sobrevivência das empresas que não faziam parte do acordo, mas, naturalmente, beneficiava, e muito, aquelas que se acordavam. Muitas vezes, só restavam às empresas que não conseguiam concorrer G e o g ra fia E co n ô m ic a 1 49 UNIDADE 2 com as firmas cartelizadas, poucas opções: esperar a falência ou buscar a associação com empresas maiores. Com isso, diminuía o número de empresas em alguns dos principais setores econômicos e surgiam empresas gigantes que eram monopólios ou integravam oligopólios. O truste e a holding company A associação de empresas como cartéis foram combatidas nos EUA e grandes empresas buscaram a reunião sob a forma de truste (sociedade de empresas). Esse sistema de formação de um grupo empresarial a partir da associação de inúmeras empresas evoluiu para
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