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AULA 1 GESTÃO SOCIOAMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Prof. Angelo de Sá Mazzarotto 02 CONVERSA INICIAL Nos últimos cinquenta anos, muito se falou e se fez sobre a sustentabilidade, e a preocupação sobre a preservação das espécies motivou pesquisadores, profissionais, políticos e a própria sociedade a reconhecer que a conquista por uma estrutura social, econômica e cultural sustentável não será uma tarefa fácil, mas imprescindível. Percebemos que esse pensamento preservacionista, que se fortaleceu nas conferências mundiais e nas preocupações pelas consequências dos impactos ambientais, produziu e disponibilizou para a sociedade um conjunto de ferramentas, tecnologias, leis e acordos para fomentar a sustentabilidade. Ainda há muitos obstáculos que deverão ser vencidos e muito há de se perder nesse caminho, pois as mudanças não alcançarão a todos nem a todas as comunidades. Neste início da disciplina, o objetivo é explanar sobre o surgimento do pensamento sustentável e apresentar sinteticamente alguns mecanismos de proteção que foram criados para que na sequência possamos detalhar sobre algumas ferramentas que se sobressaíram. CONTEXTUALIZANDO Toda mudança ou todo apelo por ela que pretendesse reformular a sociedade radicalmente encontrou uma barreira intransponível, a sobrevivência imediata, que vem antes da perpetuação da espécie, e retirar do estado de conforto e de soberania aqueles que enriqueceram como o modelo de desenvolvimento econômico atual não é uma tarefa fácil. Todos os mecanismos econômicos e culturais criados ao longo de séculos objetivaram manter esse modelo. Como mudar então? Como possibilitar que a sociedade e seus líderes aceitem essa mudança? Uma ideia, um pensamento, o emprego de muito tempo e meios foram a solução para começar a transformação. Hoje a sustentabilidade, já reconhecida, permite a implantação de modelos desenvolvidos sob uma nova ótica, mas capazes de se conectar com o modelo antigo, pois se apoiam em uma sustentabilidade econômica capaz de gerar empregos e riquezas. 03 TEMA 1 – DEFINIÇÕES E PRINCÍPIOS APLICADOS AO MEIO AMBIENTE Capra (2005), um dos escritores e pesquisadores mais influentes na temática da sustentabilidade ambiental, conceitua o meio ambiente como sendo algo associado à ecologia. Ainda segundo esse autor (2005), o nosso planeta é regido por uma teia de interação entre tudo que existe. A sua definição, assim como a compreensão mais precisa sobre o que é o meio ambiente, permite a criação de um conjunto de programas, leis e políticas de preservação. A própria legislação brasileira demonstra a seriedade sobre o tema, e a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981 de 31 de agosto de 1981) ensaia uma definição sobre o meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981). Assumindo outra ótica, autores como Barbieri (2007) propõem uma ampliação dessa definição com a atribuição de três tipos de meio ambiente: o natural, definido pela vegetação nativa e regiões inexploradas; o domesticado, que compreende as áreas verdes e naturais recuperadas ou produzidas por interferência humana; e o fabricado, que engloba as construções artificiais, a exemplo, os centros urbanos, as estradas, entre outras construções. Na busca de compreender a totalidade do que é o meio ambiente, a nossa própria Constituição Federal Brasileira de1988 aplica quatro grandes grupos, conforme exposto no quadro abaixo (Quadro 1). Quadro 1 – O meio ambiente e suas subdivisões conforme a Constituição Federal Brasileira de1988 Físico Cultural Artificial Trabalho Flora Fauna Solo Água Atmosfera Ecossistema Patrimônios o Cultural o Artístico o Arqueológico o Paisagístico Manifestações culturais e populares Conjunto de edificações particulares ou públicas, principalmente urbanas Conjunto de condições existentes no local de trabalho relativo à qualidade de vida do trabalhador Fonte: Elaborado com base em Brasil, 1988, citado por Alencastro, 2013. Quanto mais nos aprofundamos nos estudos desse tema, mais percebemos as contribuições de autores, pesquisadores, juristas, entre outros, na tentativa de estabelecer um conceito que possibilite a melhor compreensão sobre o objeto analisado, ou melhor, sobre o meio ambiente. 04 Contudo, algumas vertentes se posicionam priorizando certos aspectos (como os naturais e biológicos) ao passo que outras incluem aspectos culturais, econômicos e outros inerentes à sociedade. O objetivo desses ensaios não é uma simples redução ou ampliação do conceito, mas a priorização de determinados critérios, quando a intenção for atuar com programas e políticas direcionadas. Neste material, o compromisso é permear os mais diversos recortes, assumindo uma postura holística, uma vez que nossos exemplos ora serão direcionados à preservação da natureza ora da sociedade, pois a intenção é ampliar as possibilidades de discussão sobre o tema. O meio ambiente precisa ser preservado em seus mais diversos tipos, e as leis ambientais brasileiras são ferramentas no front desta árdua luta. O ordenamento que conduz a elaboração dessas leis são os princípios, que são o esteio do ordenamento jurídico e a base fundamental para a adequação das regras. Quando estes são ignorados, deve-se aplicar a nulidade. Temos como princípios do direito ambiental: Meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental; Solidariedade intergeracional; Natureza pública da proteção ambiental; Desenvolvimento sustentável; Poluidor pagador; Usuário pagador; Prevenção e precaução; Participação; Ubiquidade ou transversalidade; Cooperação internacional; Função socioambiental da propriedade. (Bayer, 2015) Um princípio amplamente conhecido que norteia muitas das ações de questionamento sobre impacto ambiental é o da precaução. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) defende, com base nesse princípio, que é necessário estabelecer uma interação sustentável entre homem e natureza, e toda ação incidente e transformadora do meio deve ser confrontada com as premissas da precaução, ou seja, em caso de desconhecimento das consequências ao meio ambiente, as atividades não podem iniciar. Esse princípio estende-se às ações de antecipação do risco com o objetivo da preservação. Cabe lembrar que, primordialmente, este princípio foi consolidado e é consequência dos impactos ambientais severos ocorridos na Europa em meados de 1970. Outro princípio ambiental de igual importância é o do poluidor-pagador, que se apoia no artigo 225 da Constituição Federal (Brasil, 1988). A contribuição deste está em atribuir um valor compensatório às práticas poluidoras: quem polui paga 05 pelo ato de poluir, ressarcindo os sistemas e, assim, criam-se fundos para compensar a perda da qualidade ambiental. Esse princípio em particular tornou- se pauta de muitas discussões ambientalistas, pois gera a possibilidade de legalizar a poluição ou simplesmente simplificar a responsabilidade dos que poluem, uma vez que permite um ressarcimento pelo dano, com base em valores muitas vezes subestimados. Entretanto o ato de poluir é aceito na sociedade desde sempre e tanto a nossa legislação quanto as dos demais países não impedem essa prática, apenas a condicionam, impondo regrase sanções. Qualquer atividade de manufatura ou uma simples prática extrativista desenvolvida por uma comunidade nativa gerará impacto e, em alguma etapa, a poluição, que pode ser definida como qualquer substância ou energia capaz de alterar o meio ambiente negativamente. Na sequência, foi listada uma série de princípios fundamentais do direito ambiental (Quadro 02). Como princípios, são apoiados por consenso e suas definições disponíveis podem apresentar algumas variações. Os apresentados neste material tiveram como base o texto de Bayer (2015) publicado no Jus Brasil. Quadro 2 – Princípios fundamentais do direito ambiental Princípios Definições Meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental O reconhecimento do direito a um meio ambiente sadio é decorrência do direito à vida, quer sob o enfoque da própria existência física e saúde dos seres humanos, quer quanto ao aspecto da dignidade dessa existência humana. Solidariedade intergeracional Busca assegurar a solidariedade da presente geração em relação às futuras, para que também estas possam usufruir, de forma saudável, dos recursos naturais. Este princípio está previsto no Princípio 2 da Declaração de Estocolmo e no Princípio 3 da ECO-92. O Novo Código Florestal expressou este princípio no inciso II, do art. 1º-A. Natureza pública da proteção ambiental (art. 225, caput, da CF/88) Esse princípio mantém estreita correlação com o princípio geral, de direito público, da primazia do interesse público sobre o particular, e também, com o princípio do direito administrativo da indisponibilidade do interesse público. Decorre da previsão constitucional que consagra o meio ambiente ecologicamente equilibrado como bem de uso comum do povo incumbindo ao Poder Público e à sociedade sua preservação e sua proteção. Desenvolvimento sustentável Os recursos ambientais são finitos, tornando-se inadmissível que as atividades econômicas se desenvolvam alheias a essa realidade. O se busca é a harmonização entre o postulado do desenvolvimento econômico, algo pretendido por todos nós, e a preservação do meio ambiente. A própria CF/88 em seu art. 170, VI, estabelece que a ordem econômica também tem como fundamento a defesa e preservação do meio ambiente. Poluidor pagador Trata-se de importantíssimo princípio, pois reflete um dos fundamentos da responsabilidade civil em matéria ambiental. Muitas vezes incompreendido, ele não demarca a de poluir mediante o pagamento de posterior indenização (como se fosse uma contraprestação). Ao contrário: reforça o comando normativo no sentido de que aquele que polui deve ser responsabilizado pelo seu ato. Assim sendo, esse princípio deve ser compreendido como um mandamento para que o potencial causador de 06 danos ambientais preventivamente arque com os custos relativos à compra de equipamentos de alta tecnologia para prevenir a ocorrência de danos. Trata-se da internalização de custos. Usuário pagador Complementar ao princípio anterior. Busca-se evitar que o “custo zero” dos serviços e recursos naturais acabe por conduzir o sistema de marcado a uma exploração desenfreada do meio ambiente. Prevenção É um dos princípios mais importantes do Direito Ambiental, sendo seu objetivo fundamental. Foi lançado à categoria de mega princípio do direito ambiental, constando como princípio nº 15 da ECO-92. O princípio da prevenção relaciona-se com o perigo concreto de um dano, ou seja, sabe- se que não se deve esperar que ele aconteça, fazendo-se necessário, portanto, a adoção de medidas capazes de evitá-lo. Precaução Trata-se do perigo abstrato, ou seja, há mero risco, não se sabendo exatamente se o dano ocorrerá ou não. É a incerteza científica, a dúvida, se vai acontecer ou não. Foi proposto na conferência Rio 92 com a seguinte definição: “O Princípio da precaução é a garantia contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda identificados”. Participação (informação e educação ambientais)– audiências públicas Previsão no art. 225, parágrafo 1º, VI, da CF/88. O cidadão não depende apenas de seus representantes políticos para participar da gestão do meio ambiente. O cidadão tem atuação ativa no que toca a preservação do meio ambiente. Tem ele o direito de ser informado e educado (o que é dever do Poder Público) para que, assim, possa interferir ativamente na gestão ambiental, sendo que isso se concretiza por intermédio, por exemplo, nas audiências públicas. Ubiquidade ou transversalidade Visa demonstrar qual é o objeto de proteção do meio ambiente quando tratamos dos direitos humanos, pois toda atividade, legiferante ou política, sobre qualquer tema ou obra, deve levar em conta a preservação da vida e principalmente, a sua qualidade. Esse princípio dispõe que o objeto de proteção do meio ambiente, localizado no epicentro dos direitos humanos, deve ser levado em consideração toda vez que uma política, atuação, legislação sobre qualquer tema, atividade, obra, etc., tiver que ser criada. Cooperação internacional Trata-se do esforço conjunto empreendido pela “aldeia global” na busca pela preservação do meio ambiente numa escala mundial. O inc. IV, do art. 1º - A, do Novo Código Florestal, em atenção a este princípio, consagra o compromisso do Brasil com o modelo de desenvolvimento ecologicamente sustentável, com vistas a conciliar o uso produtivo da terra e a contribuição de serviços coletivos das flores e demais formas de vegetação nativa provadas. Função socioambiental da propriedade Art. 186, II, da CF/88. O uso da propriedade será condicionado ao bem- estar social. Ainda o legislador previu, como condição para o cumprimento da função social da propriedade rural, a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente. Fonte: Adaptado pelo autor com base em Bayer (2015). TEMA 2 – MEIO AMBIENTE E RELATOS HISTÓRICOS É importante a hermenêutica sobre o desenvolvimento sustentável para que possamos compreender a evolução do pensamento e das ações sobre a sustentabilidade. Toda ação que prima por essa direção deve ser orientada para potencializar a interação entre o que é um ideal sustentável e o que de concreto pode ser realizado. As práticas necessitam dessa base para obter êxito. Ilustro essa sentença com o seguinte exemplo. A prefeitura de uma grande cidade do sudeste brasileiro, com o propósito de reduzir os problemas gerados pela superpopulação de ratos, em uma 07 determinada comunidade, mobilizou a população para que esta, como parceira, participasse do programa. Essa comunidade envolvida no projeto recebeu orientação para usar armadilhas para roedores e os indivíduos capturados seriam trocados por cestas básicas. O projeto à primeira vista estava adequado com o propósito e, segundo biólogos e veterinários, a quantidade de armadilhas e a participação da comunidade seriam efetivos na redução da população de roedores. Assim, após um período de captura, era de se esperar a verificação da eficácia da ação, mas o que se constatou foi um fracasso total, pois a população do animal não havia reduzido. O motivo foi que, em vez de capturá-los, a população resolveu procriá- los, pois a comunidade ponderou entre o esforço necessário para a caça e a facilidade de se obterem indivíduos pela criação, uma vez que essa espécie tem alta taxa de natalidade e com muita rapidez. Por que vocês acham que um projeto simples com reais possibilidades fracassou? E ainda, quando interromperam as recompensas, que foi uma medida razoável frente às novas constatações, a população, em protesto, soltou um grande número de ratos que estavam em cativeiro.Esse exemplo demonstra a razão pela qual é necessária uma abordagem holística na implementação de programas. Para que as ações como essas funcionem é preciso compreender o público-alvo, conscientizá-lo, envolvê-lo, e não simplesmente determinar o que devem fazer. Numa análise simples para entender o que aconteceu, é lógico pensar que, para a população, o programa era simplesmente trocar roedores por cesta básica e não a redução da população animal. É natural que muitos devam pensar o seguinte: mas não estava óbvio que a ideia era a redução da população de ratos? Posso afirmar com convicção que muitos dos problemas sociais poderiam ser facilmente ser resolvidos pela simples compreensão do óbvio, mas acrescente a este uma porção de desinformação, ignorância, revolta, descontentamento, preguiça, falta de cooperação, falta de comprometimento, sobrecarga de trabalho, falta de tempo e de confiança. Enfim, uma série de sentimentos que há muito são recorrentes na população brasileira, principalmente a mais carente. Para que possamos continuar a reflexão, é fundamental percebermos a importância de conhecermos como ocorreu a evolução do pensamento socioambiental. Mesmo que o impulso seja acreditar que a preocupação socioambiental surgiu pelas consequências da Revolução Industrial, a história mostra o quão antigo é esse pensamento, pois, já na Grécia antiga, Platão 08 sinalizava para os problemas gerados pelas severas modificações das paisagens na sua região. Mas foi só efetivamente em meados de 1950 que a sociedade percebeu que algo de errado ocorria, e o medo das consequências dos acidentes ambientais se agravava em várias localidades no mundo. É consenso que os eventos após essa data deram o impulso necessário para a reconstrução de uma ética socioambiental no mundo. Acidentes, contaminações, doenças e mortes associadas aos problemas ambientais sensibilizaram um exército de pensadores, pesquisadores e cidadãos para a causa da sustentabilidade. Na Inglaterra, a poluição atmosférica que atingiu Londres ficou conhecida como o smog de 1952; no Japão, a contaminação por mercúrio na baia de Minamata; a revolução verde, que incentivou o uso de agrotóxico indiscriminadamente; a pesca e caça predatória; o desmatamento desenfreado; o clamor por cuidado em obras clássicas como A primavera silenciosa, de Raquel Carson, Limites do crescimento, de Donella H. Meadows e outros; Nosso futuro em comum, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a Agenda 21, entre outros. Todos esses acontecimentos, de alguma maneira, contribuíram e contribuem para a construção de ações que buscam promover a sustentabilidade do nosso planeta. Figura 1 – O smog de 1952 em Londres/Inglaterra Fonte: Disponível em: <http://://mundotentacular.blogspot.com.br/2013/01/cidade-das-nevoas-o- grande-fog-de.html>. O próprio conceito de desenvolvimento sustentável foi proposto com um dos resultados de um dos mais significativos documentos, o Relatório de 09 Brundtland ou “O nosso futuro comum” (1987). Os resultados desse relatório orientam ações até hoje. Esse conceito expõe como devemos agir como pessoas e como nação. TEMA 3 – ECO 92 E RIO +20 A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) ficou mundialmente conhecida como ECO-92 ou Rio-92. Nesse evento, foi retomado o tema desenvolvimento sustentável, e as discussões foram realizadas com a preocupação de encontrar uma saída para os problemas ambientais associados à exploração insustentável dos recursos naturais. Muitos autores relataram que esse encontro teve um impacto social e político mundial muito mais significativo que a Conferência de Estocolmo. Nesse evento, acordos e políticas foram estabelecidos como a: Declaração de princípios sobre florestas; Convenção sobre as mudanças climáticas; Convenção da biodiversidade; Agenda 21; Carta da Terra. Saiba mais Para saber mais q respeito da Conferência Rio-92 sobre o meio ambiente do planeta e o desenvolvimento sustentável dos países, acesse o link a seguir: <http://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/rio20/a- rio20/conferencia-rio-92-sobre-o-meio-ambiente-do-planeta-desenvolvimento- sustentavel-dos-paises.aspx>. Contudo, o principal desses eventos (ou pelo menos o que obteve a maior repercussão) foi a Agenda 21. O documento é composto por 40 capítulos e suas subdivisões tratam de: Dimensões Sociais e Econômicas; Conservação e Gerenciamento de Recursos para o Desenvolvimento; Fortalecimento do Papel dos Maiores Grupos; Meios de Implantação. 010 Conforme Alencastro (2013), a Agenda 21 trata de um importante passo em direção do desenvolvimento sustentável por alinhar propostas no campo da sustentabilidade ambiental, social e econômica. Saiba mais Para conhecer mais sobre o documento Agenda 21, acesse o link a seguir, que o levará ao site do ministério do Meio Ambiente (MMA): <http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21/agenda-21- global>. A Conferência Rio + 20 teve como objetivo a renovação do compromisso assumido para com o desenvolvimento sustentável na ECO-92. Nesse evento foram debatidas as metas estabelecidas e os objetivos alcançados até aquele momento, assim como as deficiências e os motivos pelos quais muitas expectativas não foram atendidas. Dois principais temas conduziram o encontro: A economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza; A estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável. TEMA 4 – PRÁTICAS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Com a construção do pensamento preservacionista, a ideia de sustentabilidade amplamente discutida nas conferências e trabalhos internacionais possibilitou um campo fértil para a produção de ferramentas, programas, políticas e leis sobre o tema. A norma ISO 14001 é um importante exemplo disto. Lançada em 1994, logo após as calorosas discussões sobre meio ambiente, na conferência ECO-92, essa ferramenta de gestão, que iremos discutir nas próximas aulas, tem o objetivo de orientar as organizações a gerenciarem os aspectos e impactos ambientais gerados pelas suas atividades. No campo da gestão ambiental, têm sido difundidos, ao longo do tempo, programas de certificação e rotulagem ambiental, como os selos: o LEED, que certifica construções sustentáveis; ABNT, para qualidade ambiental; o selo FSC, que aplica critérios de sustentabilidade ao setor florestal, entre outros. Outra área que apresenta importantes demandas, assim como a ambiental, é a da responsabilidade social ou social coorporativa, campo que tem as normas 011 ISO 26000, AS 8000, a ABNT NBR 16001 como indicadores de responsabilidade social, normas de acessibilidade, entre outras. Um exemplo de excelente programa socioambiental são os oito desafios do milênio, que ficaram conhecidos como os oito jeitos de mudar o mundo, programa que teve início na Declaração do Milênio das Nações Unidas. Figura 2 – Os oito desafios do milênio Fonte: Os objetivos... [s.d] Para uma sociedade ser sustentável, precisa levar em conta não apenas os aspectos ligados à preservação do meio ambiente, mas também à sustentabilidade social, econômica e cultural. Quando pensado sob a ótica combinada por esses fatores, o desenvolvimento oferece oportunidade para a criação de novos mercados, sem colapsar o desenvolvimento econômico, com propostas viáveis capazes de garantir o ingresso em mercados maisexigentes, ou seja: pensar em sustentabilidade não significa uma regressão, mas uma evolução. Apoiando-se neste conceito, muitas organizações têm adotado, em seus planos de negócios, estratégias e ações sustentáveis, pois cada vez mais a sociedade passa a considerar válida essa abordagem com produtos e serviços sustentáveis para consumidores preocupados com a sustentabilidade (Silva, 2012). Para consolidar essa ideia, elaborou-se o tripé da sustentabilidade – Triple Bottom Line –, que exemplifica que a eficiência de qualquer ação que busque a sustentabilidade deve se apoiar na performance de três pilares: 012 Figura 3 – A tríade da sustentabilidade – Triple Bottom Line Assim como a demanda por práticas dos três pilares vem crescendo, crescem também as práticas que se apropriam de ideias e atitudes que vendem imagens sem ações concretas. Saiba mais Para que amadureçamos a compreensão e o senso crítico sobre a onda da sustentabilidade, é recomendável que se debrucem sobre o relatório “Estado do Mundo 2014 – como governar em nome da sustentabilidade”, disponibilizado pela ONG World Watch Institute Brasil (WWI), que realiza uma análise crítica sobre o tema, para que não se corrompam os ideais e não se torne apenas uma prática de greenwashing. Para isso, acesse o link a seguir: <http://wwiuma.org.br/estado_mundo_2014.pdf>. TEMA 5 – TRATADOS INTERNACIONAIS E PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE Com o aumento do fluxo de mercadorias e serviços entre os países, cresce a necessidade de se estabelecerem acordos uni ou multilaterais para garantir que certas práticas sejam atendidas e que os países mantenham a soberania. Para isso, os tratados são o principal meio para estabelecer limites ou padrões. Nessa perspectiva, medidas antidumpings também são tomadas, impedindo que países com políticas sociais e políticas inexistentes ou precárias concorram com seus produtos baratos, pois são isentos de custos relacionados à preservação ambiental e ao controle social. social ambiental econômica 013 Entre esses arcabouços de medidas, selos e certificações ganham espaço, pois pressionam empresas a aderirem a certas normas para que se tornem aptas a negociar. Seguem alguns exemplos de selos internacionais. Quadro 3 – Selos e suas descrições Forest Stewardship Council O FSC é uma organização não governamental, internacional e independente, constituída por três câmaras: econômica, ambiental e social, que define os princípios e critérios FSC para uma gestão florestal responsável. (PCS 2017 p. 1) NAPM Certificação de conteúdo reciclado de papel (National Association of Paper Merchants). A certificação aplica-se a papel com conteúdo reciclado no mínimo de 75% ou 100% proveniente de papel genuíno. (PCS 2017 p. 1) O loop Mobius Significa que um produto, ou parte dele, pode ser reciclado em instalações próprias. (PCS 2017 p. 1) Rótulo ecológico comunitário Este rótulo pressupõe critérios que visam limitar os principais impactos ambientais das três fases do ciclo de vida do serviço (aquisições, prestação do serviço, resíduos). (PCS 2017 p. 1) LEED – Leadership in Energy and Environmental Design (EUA) A certificação de qualidade ambiental dos edifícios nos EUA foi desenvolvida pelo US Green Building Council, em 1998. A certificação diz respeito a vários critérios ambientais, tais como energia, qualidade do ar interior, água, materiais e inovação. (PCS 2017 p. 1) ISO 14001 – A certificação do sistema de gestão ambiental A certificação de acordo com a ISO 14001 pode ser um passo prévio, por via indireta, de adesão ao EMAS. (PCS 2017 p. 1) Carbonfree Em 2006, a Ecoprogresso criou o Carbonfree, destinado a certificar a compensação de emissões através da aquisição de créditos de carbono ou da implementação de projetos especificamente desenhados para reduzir emissões na comunidade em que a empresa se insere. (PCS 2017 p. 1) OHSAS 18001 O sistema OSHAS 18001 permite às organizações gerir riscos operacionais e melhorar a sua performance, orientando a gestão dos aspectos de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho das organizações. (PCS 2017 p. 1) Fonte: Adaptado do Portal da Construção Sustentável (PCS 2017). Entre muitos tratados e convenções citamos alguns, contudo é possível ter acesso a mais exemplos no portal do Observatório das Relações Internacionais e informações mais detalhadas sobre cada um (NECCINT, 2011): Tratado da Antártida; Convenção de Viena para a proteção da camada de Ozônio; 014 A Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES); O Protocolo de Montreal; Convenção sobre a lei do direito do mar; A Convenção de Basileia; Convenção para a proteção do patrimônio natural e cultural mundial; Protocolo de Kioto. FINALIZANDO A sustentabilidade e a importância da mudança na estrutura de desenvolvimento econômico permitiram que o pensamento socioambiental evoluísse e criasse meios e técnicas para o alcance desse objetivo. Hoje a sociedade conta com um arsenal para travar essa difícil luta do desenvolvimento sustentável. E é sobre essas ferramentas que iremos discorrer nas aulas subsequentes. 015 REFERÊNCIAS ALENCASTRO, M. S. C. Empresas, ambiente e sociedade: introdução à gestão socioambiental corporativa. Curitiba: InterSaberes, 2013. BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial. São Paulo: Saraiva, 2007. BAYER. A. D. Princípios norteadores do direito ambiental. JusBrasil, 2015. Disponível em: <https://diegobayer.jusbrasil.com.br/artigos/121943191/principios- norteadores-do-direito-ambiental-resumo>. Acesso em: 4 nov. 2017. BRAGA, L. J.; SOSA, M. E.; NOGUEIRA, R. de M. 8 jeitos de mudar o mundo na escola. Objetivos do Milênio, 2004. Disponível em: <http://www.objetivosdomilenio.org.br/downloads/odms%20escolas.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2017. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. _____. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Institui a Política Nacional do Meio Ambiente. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 2 set. 1981. BRUNDTLAND, G. H. (Org.). Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: FGV, 1987. CAPRA, F. Conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. 4. ed. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Pensamento-Cultrix Ltda., 2005. NECCINT – Núcleo de Estudo sobre Cooperação e Conflitos Internacionais. Coletânea de tratados internacionais. Observatório de Relações Internacionais, 2011. Disponível em: <https://neccint.wordpress.com/legislacao- internaciona/>. Acesso em: 4 nov. 2017. OS OBJETIVOS de desenvolvimento do milênio. ODM Brasil, [s.d]. Disponível em: <http://www.odmbrasil.gov.br/os-objetivos-de-desenvolvimento-do-milenio>. Acesso em: 4 nov. 2017. PCS – Portal da Construção Sustentável. Quem somos, 2017. Disponível em: <http://www.csustentavel.com/quem-somos/>. Acesso em: 4 nov. 2017. SILVA, D. B. da. Sustentabilidade no Agronegócio: dimensões econômica, social e ambiental. Comunicação & Mercado/UNIGRAN - Dourados - MS, vol. 1, n. 3, p. 23-34, jul./dez. 2012.
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