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1 DISCIPLINA: SAÚDE BIOÉTICA E SOCIEDADE DESIGUALDADES SOCIAIS “A educação é a maior ferramenta para á igualdade social entre os homens” (Carla Manuela) A estrutura socioeconômica de um país reflete-se na infra-estrutura de suas cidades, na quantidade e qualidade dos serviços públicos oferecidos à população e determina o acesso aos serviços de saúde e à educação. O acesso à educação formal de boa qualidade possibilita aos indivíduos a reflexão sobre o conhecimento científico e a vida cotidiana, possibilitando, não somente um sujeito mais consciente de seus direitos e deveres, como trabalhos mais bem remunerados. Essa renda, obtida através do trabalho, determina a qualidade da moradia das pessoas, o acesso a bens de consumo e uma melhor qualidade de seu estado nutricional e de sua saúde. O Brasil é um país de contrastes. Possui uma elevada concentração de renda e de riqueza nas mãos de 10% da população. Estes 10% ficam com 90% da riqueza nacional. É um país que apesar de muito rico, tem grande parte da sua população vivendo em condições precárias de vida, sem acesso aos bens necessários para a sobrevivência. Existe no país uma superposição epidemiológica, isto é, enquanto as doenças mais prevalentes entre os mais pobres são as doenças infecto contagiosas, desnutrição, causas relacionadas à gestação, parto e puerpério; entre os demais prevalecem as doenças crônico degenerativas (sofrimento psíquico, doenças cardiovasculares, câncer, etc..). O conceito de desigualdade social é um guarda-chuva que compreende diversos tipos de desigualdades, desde desigualdade de oportunidade, resultado, etc., até desigualdade de escolaridade, de renda, de gênero, etc. De modo geral, a desigualdade econômica – a mais conhecida – é chamada imprecisamente de desigualdade social, dada pela distribuição desigual de renda. No Brasil, a desigualdade social tem sido um cartão de visita para o mundo, pois é um dos países mais desiguais. Segundo dados da ONU, em 2005 o Brasil era a 8º nação mais desigual do mundo. (Camargo 2010) http://pensador.uol.com.br/autor/carla_emanuela/ 2 “Desigualdade socioeconômica pode ser definida como a distribuição desigual de bens e serviços entre grupos sociais. A saúde ou os processos saúde/doença e seus determinantes podem também ser desigualmente distribuídos nas populações. Desigualdade em saúde é, então, um termo genérico que se refere às diferenças nos níveis de saúde de grupos socioeconômicos distintos em um sentido descritivo “(Kunst & Mackenbach, 1994; Mackenbach & Kunst, 1997). Essas diferenças imprimem padrões diferenciados de morbimortalidade nos grupos sociais. O conceito de desigualdade em saúde especificamente como a distribuição desigual dos fatores de exposição, dos riscos de adoecer ou morrer e do acesso a bens e serviços de saúde entre grupos populacionais distintos. (MINISTÉRIO DA SAÚDE -2002) Os padrões de desigualdade em saúde variam no espaço e no tempo. Essas desigualdades podem ainda ser agravadas em função de determinantes demográficos e ambientais, acesso aos bens e serviços de saúde e de políticas sociais. Problemas associados ao ambiente construído e ao hiperadensamento populacional agregam novos contornos à desigualdade em saúde em uma sociedade. .(MINISTÉRIO DA SAÚDE - 2002) Em países desenvolvidos, com baixas taxas de crescimento populacional, esse processo está associado a: consumo abusivo de drogas, crime, doenças mentais, vandalismo, problemas relacionados à dieta, padrões de moradia e dificuldade em lidar com o lixo produzido (Rossi-Espagnet, Goldstein & Tabizadeh, 1991). Entretanto, em países em desenvolvimento, padrões distintos são por vezes notados. Em algumas circunstâncias, nesses países, as mudanças sociais, econômicas e ambientais levam à justaposição de doenças e agravos típicos de países desenvolvidos com aqueles próprios de países pouco avançados, o que tem sido denominado de “dupla carga de doenças” (Bobadilla & Possas, 1993). As mudanças nos padrões de morbimortalidade tendem a se dar pela substituição da dominância das doenças transmissíveis pelas doenças crônicas e violências (Omran, 1971). Obviamente, a dupla- carga de doenças ocorre em decorrência de uma exposição, tanto aos riscos tradicionais (ausência de saneamento básico, poluição intradomiciliar e desnutrição), quanto aos riscos modernos (poluição industrial e violência). A justaposição de riscos encontrará como segmento mais vulnerável, as populações mais empobrecidas que experimentarão altos níveis de interação de risco. Como conseqüência, o excedente de doenças 3 provocado pelas desigualdades em saúde poderia acarretar nos grupos mais vulneráveis mortalidade precoce, sobrecarga de determinados procedimentos médicos, maiores demandas de serviços sociais e redução da possibilidade de ascensão social. (MINISTÉRIO DA SAÚDE -2002) Na atualidade, existe grande consenso de que pessoas expostas a condições sociais e econômicas desfavoráveis apresentam piores condições de saúde. De fato, segundo SAGAR (1994), parece ser lógico que os pobres sejam menos saudáveis que os mais ricos e que o ambiente físico seja decorrente do ambiente social (Sagar,1994). Contudo, várias questões permanecem ainda em aberto: Quais os fatores socioeconômicos e ambientais que têm maior influência nas desigualdades em saúde? Quais os vínculos existentes entre os fatores socioeconômicos e os ambientais? Quais os grupos populacionais mais vulneráveis? E, nesse contexto, quais as implicações da desigualdade em saúde nas políticas setoriais?Apesar dessas grandes lacunas de conhecimento, estudos sobre desigualdades em saúde ainda têm sido feitos de uma forma limitada. (MINISTÉRIO DA SAÚDE -2002) Exemplificando: O nível de escolaridade afeta diretamente as condições de saúde; é bem conhecida a correlação entre baixa escolaridade da mãe e alta mortalidade infantil. Violência falta de saneamento básico e uso de drogas são determinantes na demanda por serviços médico- assistenciais. (SOLON MAGALHÃES VIANA ... [ET AL.]. – BRASÍLIA -2001) O grau de escolaridade é elemento essencial a ser considerado na abordagem da população quanto às práticas de promoção, proteção e recuperação da saúde. Algumas condições de atenção à saúde são influenciadas pelo nível de escolaridade dos responsáveis pela condução da família, particularmente as condições de atenção à saúde das crianças. O baixo nível de escolaridade pode afetar negativamente a formulação de conceitos de autocuidado em saúde, além de afetar a noção de conservação ambiental e a percepção da necessidade de atuação do indivíduo em contextos sanitários coletivos. A desigualdade social em saúde tem sido evidenciada entre grupos sociais com diferentes condições – socioeconômicas, étnicas, etárias, de gênero e de localização territorial – e, esta desigualdade, como conseqüência, vem gerando um excedente de danos que afetam principalmente os grupos sociais mais vulneráveis: mortalidade precoce, sobrecarga de procedimentos médicos, ampliação de demandas por serviços sociais e redução da possibilidade de ascensão social (OMS, 2002). 4 Barata (2008) refere que as desigualdades sociais em saúde podem ser enfocadas em dois grupos: a)As desigualdades que se referem ao estado de saúde e ao perfil patológico da população, e que são fortemente influenciadas pela organização social e pela inserção de classe dos indivíduos, podendo ser compensadas em parte pelas políticas públicas; e b) As que se referem à oferta, acesso e utilização de serviços de saúde, e que são mais influenciadas pela política nacional de saúde e pela organização dos serviços, podendo ser reduzidas ou eliminadas por meio de sistemas de saúde universais equânimes. As desigualdades sociais em saúde podem se manifestar em relação ao estado de saúde e ao acesso e uso de serviços de saúde paraações preventivas ou assistenciais. Outros exemplos: a)Apenas 25% da população negra tem acesso ao atendimento médico privado, enquanto este percentual é de 44% entre os brancos. b)Quando avaliamos os dados sobre a saúde bucal também observamos diferenças desfavoráveis aos negros, pois entre os que estavam há um ano ou mais sem ir a um dentista, 60% eram brancos e 68% negros. c) Apenas 75% das mulheres com 25 anos ou mais de idade,na população brasileira,em 2003,fizeram o exame Papanicolau para prevenção do câncer de colo uterino.Esta proporção varia com a escolaridade no sentido esperado,ou seja,as mulheres com maior escolaridade apresentam maior cobertura. d)Apenas 36% das mulheres com 25 anos ou mais de idade realizaram mamografia em 2007. (Barata,2009) Reduzir as desigualdades é um objetivo primordial do Sistema Único de Saúde, fundamentado no princípio constitucional de que todos os cidadãos têm direito de acesso igualitário a ações de promoção, proteção e recuperação da saúde. Nesse sentido, os esforços realizados pelo governo brasileiro, desde a criação do SUS, têm produzido notáveis avanços nos campos da descentralização da gestão, da integralidade da atenção, da participação da comunidade e da regulação de bens e serviços. Ocorre que as desigualdades em saúde têm múltiplas faces, sendo necessário conhecimento mais 5 específico de suas características para que as medidas de intervenção possam ser mais eficazes. “Destino não é uma questão de sorte, mas uma questão de escolha: não é uma coisa que se espera, mas que se busca.” (Willian Jennings Bryan) REFERÊNCIAS: BARATA,Rita Barradas .Como e Por Que as Desigualdades Sociais Fazem mal à Saúde-Editora Fiocruz -2009 CADERNO DE SAUDE, SOCIEDADE E BIOÉTICA-ULBRA DUARTE. Elisabeth Carmen. [et al.]. Epidemiologia das desigualdades em saúde no Brasil: um estudo exploratório /– Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2002.123 p.: il. PAIM, Jairnilson Silva. Desafios para a Saúde Coletiva no Século XXI – EDUFBA-2006 6 SUGESTÕES: De filmes Nome: “Quanto vale ou é por quilo?” Diretor Carlos Bianchi Este filme faz uma analogia entre a antiga escravidão como comércio e a atual exploração da miséria pelo marketing social. Filme de ficção baseado num conto de Machado de Assis Nome: “Ilha das Flores” – Diretor Jorge Furtado O filme coloca em pauta a discussão acerca da pobreza, da fome e da exclusão social. Levando-se em conta que foi produzido em 1989, dá para perceber que as coisas não mudaram muito entre o Brasil daquela época e o de hoje... De música Nome: Desabafo (Marcelo D2) http://letras.terra.com.br/marcelo-d2/
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