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Os trabalhadores e o golpe de 64 - badaró

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História&. LnllLdc _CljlSS\'Ji 
A proposta deste artigo é, primordialmente, acompanhar 
a trajetória do debate sobre o golpe, comentando algu­
mas das principais formulações sobre aquele processo 
produzidas ao longo dos últimos quarenta anos.(1) 
O caminho escolhido para isso não foi o de uma análise 
exaustiva de tudo o que foi publicado, mas concentrou-se 
a atenção nas discussões sobre o papel da classe traba­
lhadora e suas organizações no período anterior à implan­
tação da ditadura, uma chave de entendimento valorizada 
por diversos ângulos entre os que estudaram o período. 
Os trabalhadores e 
o golpe de 1964: 
um balanço da historiografia 
Marcelo 8adaró Mattos 
Marcelo Baúaró Mattos é prores~or de História 
do Brasil da Universidade Federal Fluminense. 
instituiç:ío pela qual se doutorou. 
omeço por situar-me em relação ao 
tema. O golpe milití1r sur­
giu como um problemí1 em 
meu trabalho de pesquisa, 
quzmdo da elí1borí1ção de 
uma tese sobre o sindica­
smo cariocano no período 
1955-1988(2). Procurei en­
tender o novo sindicalismo, fenômeno surgido 
a partir de 1978, mas para isso julguei necessá­
rio investigar as representações que ele fí1zia do 
período anterior a 1964, em confronto com uma 
análise mJis precisJ daquela fase, o que levou a 
um recuo do recorte cronológico dil investigJ­
pilra melhor compreensão do pré-1964. 
Depmei-me com uma profunda desilusão 
em relação ilO papel dil classe trabalhadora no 
momento do golpe, por parte de muitos líderes 
sindicais e políticos que atuavilm na época, milS 
I 
I 
8· Os IraIJ all,QtlQrei' c o golpe de /964: um halal/ ço da hütoriografia 
também de autores que escreveram nos primei-
ros anos da ditadura e procuravam explicar por-
que o projeto das o rgani zações vi nculadas à 
classe hav ia sido derrotado pela implantação 
do regime milita r. 
Tais autores acabaram por construir uma 
análise da classe operária brasileira no nega ti-
vo, caracterizada pelo que ela não era: não era 
consciente, nem autônoma, nem mobili zada e 
organizada, etc. Por issó, para eles, apesar de 
muita expectativa em torno do Comando Geral 
dos TrabaU1adores (CGT), do poder s indical, da 
capacidade de res istência da classe trabalhado-
ra, o golpe fora dado com muita facil idade. 
Locali zemos en tão melhor a lite ratu ra espe-
cia li zada sobre o assunto, produzida du rante a 
ditadura, começando por situar a própria dis-
cussão sobre o gol pe militar. 
As análises sobre o golpe nos primeiros anos da ditadura 
A té a década de 1970, as interpretações aca-dêmicas mais comuns sobre o golpe gira-
vam em torno de do is pontos. De um lado, a 
questão econômica da crise de acwnulação. O 
modelo econômico dependente, montado prin-
cipalmente com JK, vivia urna crise, cuja supe-
ração exigiria do Estado urna intervenção que 
garantisse maior abertura para o capital es tran-
geiro e wna políti ca dirigida a privilegiar ain-
da mais o grande capital, que passava, inclusi-
ve, por garantir tota l controle sobre as organi-
zações e lutas dos trabalhadores, de fo rma a 
viabilizar o arrocho salarial. (3) 
Muitas vezes ap resentada de forma combi-
nada à prilneira, aparecin a tese que deri vava o 
golpe da cri se do populi smo. Este era entendi-
do corno a base política da dominação de clas-
ses naquela fase, sustentada n o equilíbrio ins-
tável que garantiu a incorpo ração das massas à 
política pela via controlada do pacto popu li sta. 
Tal pacto entrara em crise, pois as massas que-
riam ir além dos limites estabelecidos pelas clas-
ses dominantes para suas concessões. 
Nas palavras de Otávio lanni, o popul ismo 
envolvia diversas dimensões daquela etapa da 
trajetória brasileira, associadas em especial às 
contrad ições do desenvolvi mento capita li sta 
urbano-industria l e da entrada das massas no 
plano das d isputas de poder. "Assim pode-se 
afirmar que a entrada das massas no quadro 
das estruturas de poder é legitimada por inter-
médio dos movimentos populistas. Ini cialmen-
te, esse populi smo é exclusivamente getuli sta. 
Depois adquire outras conotações e também 
denominações. [ ... 1 No conjunto, en tretanto, tra-
ta-se de urna política de massas específica de 
urna etapa das transformações econômico-so-
ciais e políticas no Brasil. Trata-se de um movi-
mento político, antes do que um partid o políti -
co. Corresponde a uma parte fundamental das 
manifes tações políticas que ocorrem numa fase 
determinada das transformações ve ri ficadas 
nos setores industriais, em menor escala, í.1g rá-
rio. Além disto, está em relação dinâmica com 
a urbanização e os desenvolvimentos do selor 
terciá ri o da economia brasileira. Mais ainda, o 
populismo es tá relac ionado tanto com o con -
sumo em massa como com o aparecimento d~l 
cultura de massa . Eln po ucas pala vra s, o 
popu li smo brasileiro é a fo rma políti ca assu-
mida pela sociedade de massas no país." I') 
A crise do populismo seria ent50 deri vada 
da exacerbação das con tradições do reg ime no 
governo Gou lart, com a amp liação da pa rtici-
pação popula r. Segundo lan ni , GouL:!rt "t ra z 
consigo todos os compro"missos e ambigüieb-
des da política de massas. Governa sempre sob 
as vári as pressões que caracteri zam (] hi stória 
do populismo. Agora essas pressões estão con-
centradas, em fo rça e profundidade". Por isso 
1 - Uma primeira versão deste texto fo i produzida para o Seminário 40 anos do golpe mil itar no Brasil. Pelotas-AS, Instituto Mário Alves/uCPEl , 01/04/2004. 
Uma alualização em dezembro de 2004 procurou incorpo rar novas contribuições ao deba te publicadas rec entemente. 
2 - 2 Mattos, Marcelo Badaró. Novos e velhos sindicalismos no Rio de Janeiro: 1955-1988. Aio de Janeiro: Vício de leitura, 1998. Retomei algu ns aspectos 
dessa discussão em duas obras de síntese posteriores. Trabalhadores e sindicatos no Brasil. Aio de Janeiro: Vício de leitura, 2002; O sindicalismo brasileiro 
8pÓS 1930. Rio de Janei ro: Jorge Zahar, 2003. 
3 - Uma excelente síntese das discussões que adotaram tal ponto de vista enco ntra ·se em Mendonça, Sonia Regina de. Estado 8 economia 1/0 Brasil: opções 
de desenvolvimento. 2 ed. Aio de Janeiro:Graal, 1985. 
4 - IANNI, Otávio. O colapso do populismo no BraSIl. 4 ed. Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1978.p. 207. 
5 
1 ' .\·tÚ.,.it, & 1, 1f/ft (1(' C /a .H I'.I' 
mesmo, foram os conflitos sociais que desnu-
daram aquelas ambigüidades "O populi smo 
terá s ido apenas uma etapa na histó ri a das re-
lações entre as classes sociais. Nesse sentido é 
que se pode dizer que no limite do populismo 
está a luta de c1asses."{') 
De uma forma gera l, esse marco inte rpre-
tativo permanece importante, por enfatizar d i-
mensões econômicas, políticas e sociais do gol-
pe, entendido em meio à aná lise de um proces-
so mais amplo. Lei turas reducionistas, que de-
ram exagerado peso a apenas um desses con-
juntos de fatores, foram criti cadas com razão, 
mas não constituíam o padrão das análises, que 
costumaram apontar para a nlúltipla causalida-
de na explicação do processo que culminou com 
o golpe. No entanto, algumas das de rivações 
dessas interpretações para os estudos da classe 
trabalhadora eram ~astante problemáti cas. 
Confo rme aquele marco, as organizações dos 
trabalhadores foram analisadas através do con-
ce ito de s ind ica li smo populista. Numa s intese 
esquemática, o "s indical ismo populista" seri a 
caracteri zado po r: 
a) inconsistência organizatória (orga ni zações de 
cúpula - oficia is ou para lelas - seriam pri vil eg i-
adas em relação às O rganizações po r Loca l de 
Trabalho); 
b) falt a de ques ti onamento à estrutura s indica l, 
inclus ive po r parte da direção comunista; 
c) falta de s intonia entre lideranças (com dis-
curso e reivi ndicações nacionais e politizadas) 
e suas bases (mobil izadas apenas por questões 
sa la ri a is); 
d) pod er de mobi li zação concentrado nos tra-
balhadores do Estado e escasso entre os empre-
gados do seto r privado, em especial nos seto-
res de ponta dagrande indústri a; 
e) pri v ilégio ao Estado como interl ocul-or prin-
cipal dos sind ica tos, subo rd inação aos políti -
cos po pulis tas e secunda ri zação d o conflito 
capital e traba lho(6). Na defi ni ção mais conhe-
5 - Id.ib. pp . 109·113. 
cida, de Francisco Weffort, o s indica li smo popu-
li sta "no plano da or ientação, subord ina-se à 
ideo logia nacionali sta e se \'o lta para uma polí-
ti ca de reformas e de co laboração de classes; 
no plano da organização, caracteri za-se por uma 
estrutura dual em que as chamadas 'organiza-
ções paralelas', formadas por ini ciativa da es-
querda, passam a servir de complemento à es-
trutura sind ica l oficial , inspirada no corporati-
vismo fascista como um apêndice da estrutura 
do Estado; no plano político, subordina-se às 
viciss itudes da ali ança fo rmada pela esquerda 
com Coulart e outros po lí ticos fi éis à tradição 
de Vargas." (7) 
No estudo que desenvolvi sobre o s indica-
li smo carioca, como em viÍ ri os traba lhos pro-
du zidos a partir do fim dos anos J990(8), tal con-
cei to de "sindica li smo po pulista" era ques ti o-
nado, po is fo ram enco ntrfJdZls ev idências mui -
to fortes que caminhavam em direção bem d i-
feren te. Encontrei na pesquisa com as fontes 
do período, orga ni zações sindica is com "índi -
ces elevados de s indica li zação, va ri adas e a ti-
vas o rganizações por loca l de trabalho, di ve rs i-
dade de áreas de atuação I ... ] e só lidos laços de 
representati v id ade entre dirigen tes e bases. " 
Observe i também g reves "participativas, o rga-
n izadas a part ir do loca l de traba lho e com uma 
in teg ração viável entre demandas po lí ti cas ge-
rai s e bem sucedidos encaminhamentos de rei-
vindicações econômicas". (9) 
Isto não s ignifi ca que a es trutura sindicaln50 
impusesse limites, como as in te rvenções fei tas 
pela Ditad ura logo em seus primeiros dias dei-
xavam claro. Porém, apesa r desses limites, ha-
via ação sindi ca l o rientada pelos inte resses da 
classe, com im pacto efet ivo na conjuntura . Ou 
seja, os traba lhadores agiam para si e com for-
ça. Por isso o go lpe fo i necessário pa ra a classe 
dominante. 
O momento do golpe é fundamenta l para 
este debate, po is a produção acadêmica o ri en-
6 - Para dois exemplos deste tipo de uso da noção de sindica lismo populista, ver Rodrigues, Leôncio Martins. fll(Juslriafizacão e aritllfcles operár")s. São 
Paulo: Brasiliense, 1970; WEFFORT, Francisco. Origens do sindica lismo populista no Brasil · a conjuntura do após ·guerra. Estllc/;s Cebrap. n 4. São Paulo. abri 
jun. 1973. Consi deramos as caracterizações feitas pelos autores convergentes , mes mo trabalhando o primeiro com explicações para o comportamento 
sindical baseadas na origem de classe dos operários e o segundo centrando sua argumentação nas opções políticas das direções. 
7 _ WEFFORT, F. MO rigens ... M, p. 67. 
8 - Ver por exemplo a obra coletiva de FORTES. Alexandre (e outros) . Na lura por rlireiros. Campinas : EdUnicamp, 1999 . 
9 - MAnOS. M. B. Novos e velllOs (, .. ). ob. cit., pp, 21 8·9. 
10 - Os trablllltatlorcs c o golpe de 1964: ,,,,, balaltço da IlislIl riog r(/fitl 
tada pelo modelo d o sindicali smo populis ta 
chegou a questionar a resistência dos trabalha-
dores a tal po nto que n egou a té mesmo a 
concretização da g reve geral convocada pelo 
CGT para o dia d o golpe. Constate i que, no Rio 
de Janeiro, como Fernando da Si lva também 
observou em San tos(lO> (outros exemplos depen-
dem de novas pesquisas), a g reve ocorreu e foi 
tão o u mai s a mpla que a s a nter io rmente 
convocadas pela intersindical. Mas, de fato, foi 
insufi ciente para conter o go lpe, até porque, 
como des tacou Lun dos principais líderes do 
sindicalismo brasile iro à época - Batis tinha - os 
trabaUladores agu ardaram a res istência nljlitar, 
que não aconteceu: "Não tinha porque o traba-
lhador, que nunca pegou em arma, pegar. [ .. . ] 
Não havia trabalho de res is tência armada dos 
trabalhadores. Havia a í ilusãode que as Forças 
Armadas iriam funcionar dem ocra ti camente e 
impedir o golpe [ .. . 1. A classe operária fez o seu 
papel, parou o Bras il(II>." 
Assim situada a questão, em relação ao peso 
da aval iação negativa sobre a ação da classe no 
momento no período d o gove rno Goulart e no 
episódio do golpe, passo a comen tar a lgumas 
teses posteriores, com o compromisso de vol-
tar com mais atenção, adiante, à questão da re-
s istência no momento da derrubada de Coulart. 
o golpe 20 anos depois. as teses de René Dreifuss 
Não enfrente i na é poca em que produzi mi-nll a tese (1996) um debate COm a hi s torio-
g rafia especifi camente dedicada à an áli se d o 
golpe, publicada por volta de seus v inte anos 
(quando a ditadura aind n ex is ti a, clllbora aba-
ladO) pela mobi lização redemocra ti zante). Até 
po rque concordava com as linhas gerais do tra-
balho m a is impo rtante daq ue le momento (e 
podemos d izer do conjunto d a prod ução sobre 
o golpe), escri to por René Dre i(uss1'. 
Drei fu ss d em ons trou que os empresá ri os 
brasileiros agiam politicamente de fo rma o rga-
nizada e documentou o papel decisivo d o g ra n-
de capital na a rti cul ação do golpe. Estudando 
o complexo lPES-l BA D - Instituto de Pesqui-
sas Econômicas e Superi o res e Instituto Brasi-
leiro de Ação Dem ocrática -, mostrou que seus 
participantes es taVaJll "no centro dos aconteci-
m e ntos co m o h o m e n s d e li gação e co m o 
o rgan izadores do m ovimento civil -milita r, dan-
do apoio materi a l e preparando o cli ma para a 
in te rvenção mil itar ! ... J. O ocorrid o em 31 de 
março de 1964 não foi um mero go lpe m ilitar. 
Foi [ ... ] UJll movi mento socia l civ il-mil itar(" >." 
O ca ráter d e classe do go l pe e dos govern os 
da ditadura é o centro de sua an á lise. Segu ndo 
ele: "As classes d ominantes, sob a lide rança do 
bloco mu ltinacional e associado em preenderam 
uma campanha ideo lógica e po liti co-mil itar em 
frentes di versas, a tra vés de uma série de insti-
tui ções e organi zações de classe, mui tas das 
quai s eram parte integrante do s is tema polít ico 
populis ta." (" > 
No pós-1964, "essa ve rd adeira e lite das clas-
ses dominantes 1 ... 1 preservou a natureza ca pi-
tO) li sta do Estado, uma tarefa que envo lvia séri-
as restdções à orga nj zação autônoma d~s clas-
ses trabalhadoras e a consolidação de 1 . .. 1 um 
tipo de ca pitalis mo tardi o, dependente, des i-
g ual, m as também extensamente industri ali za-
do, com uma economia principalmente dirigida 
pat'a um alto g rau de concentração de proprie-
dade na indústri a c integração com o si s tema 
bancário." (1.") 
É possível a rgumentar que a ex is tência de 
uma arti cul ação tão am pla quanto a demons-
trada por Dreifuss não era s ufi ciente para ex-
p lica r o go lpe em s i, que foi deslanchado por 
iniciativa imedia ta dos milita res e, como de-
monstra a precipitada sa ída de Mourão Filho 
10 - SI LVA. Fernando Teixeira da. A carga e a culpa: operários das docas de Santos: direitos e culWra de solidafÍedada. 1937-1968. São Paulo: Hucitec/Pref. 
Municipal de Santos, 1995. 
11 - FIGUEIREDO, Betânia G. (o rg .). Balistinha: o combatente dos trilhos. Rio de Janeiro: CMFIAMORJ, 1994, p. 45. 
12 - DREIF USS, Renê A. 1964: a co nquista do Estado. Petrópolis: Vozes, 1981. 
13 -Id.ib .. p. 397. 
14 - Id.ib., p. 48 3. 
15 - Id.ib., p. 485. 
... 
J-l islÚria & {. /l/a tI l! Ch, .<ixc.{ -li 
com suas tropas de Minas Gerais, não possuía 
luna única frente de conspiradores. No entan-
to, o trabillho de Dreiffus tem um sentid o bem 
mais profundo do que a análise do aconteci-
mento golpe enquan to fen ômeno imed iato. 
Seu estudo nos posiciona sobre as condições 
que viabilizaram o sucesso da tomada do poder 
pelo movimento civil-mi litar c (1 natureza das 
políticas postas em prática nos anos seguintes. 
A despeito desse acordo geral com a inte r-
pretação de Dreiffu s, ressa lto que, como sua 
obra não se propôs a tratar o outro lado - O da 
res istência dos trabalhadores - em várias pas-
sagens seu livro acaba reforçando as formula-
ções anteriores sobre a inex istência ou incon-
sistência da capacidade de intervenção organi-
zada da classe, dados os limites do sindica lismo 
de então. 
Ass im, ainda que seu trabalho avançasse em 
relação à discussão de como fo i articulad o o 
golpe, qua l o caráter de classe dessa articu la-
ção e dos govern os militares, mantinha-se em 
sua análi se o quadro geral do modelo interpre-
tativo do "s indicalismo populista" para defin ir 
as re lações entre Es tado e trabalhadores e as 
organizações e lutas destes. 
A historiografia do golpe nos seus trinta anos 
Em meados dos an os 1990, porém, já se apre-sentavam também as novas teses sobre o 
golpe, produzidas em torno de seus trin ta anos. 
Há algumas dessas que v i com grande preocu-
pação e retomo aqui O ponto em que estávamos 
quando, citando Batistinha, me referi à expecta-
ti va de res istência ao golpe entre os militares. 
Mesmo que não fosse esse meu objeto cen-
tra i de pesquisa, ques ti ona va aspectos daque-
las análises que se construíam a part ir exclusi-
vamente do depoimento dos militares go l pistas, 
agora di spostos a fa lar mais (embora suas v i-
sões sempre tenham tido espaço dominante, via 
imprensa, pub li cações de memóri as e biogra fi-
as), e que ap resentavam a visão de que o golpe 
fora dado sem ma iores resistências. 
Pesquisando a greve contra o golpe, era pos-
sível constatar a arti culação efetiva de lideran-
ças s indi cais com mi litares que estavam dispos-
tos a res istir para garantir o governo e as insti-
tu içõcs consti tucionais, mas que não O fi zeram 
porque lhes falto u O que é fundamenta l em sua 
instituição: ordens e comand o. Como demons-
trava a ponte estabelecida por Paulo Mello Bas-
tos, coronel reformado da Aeronáuti ca, d irigen-
te da Federação dos Traba lhadores em Trans-
portes Aéreos, do Sindicato dos Aeronautas e 
do CGT, com uma série de li deranças milita res 
da base de susten tação de jango, incl us ive no 
momento do golpe, mas que n50 resultou em 
nenhuma ação concreta. (") Pelo lado dos mili-
tares que apoiavam jango, o illmirante Aragão, 
dos Fuzileiros Nava is, afi rmou "Eu não prendi 
o Lacerda porque não tinha ordens nesse sen ti -
do, embo ra fosse a favor da invasão do Palácio 
Guanabara". já o então corone l av iado r Rui 
Moreira Lima, que comandava a aviação de caça 
na base de Santa Cru z, sobrevoou a co luna de 
Mourão Filho que se des locava para o Ri o, mas 
não ataco u as tropas go l pistas por falta de or-
dem para tal. "Não res istimos ao go lpe porq ue 
é ramos d isciplinados. Ex istiam uma cadeia de 
comando e uma hie rarqui a. 1 .. -] Só atirar ia com 
ordens. Sou um militar, atiraria se es ti vesse 
cumprindo uma ordem." (17) 
Partindo das análises que ganharam maior 
destaque nos anos 1990, destaco os resultados 
da pesquisa de um grupo do CPDOC da FGV-
Rj a partir de depoimentos com militares. Dois 
tex tos publicados em 1994 podem ser tomados 
como exemplos de como os resultados dessas 
pesquisas caminhava m num sen tido inverso ao 
do que eu constatava, ao discutir a res istência 
possível ao golpe. Em reforço ao argumento dos 
militares go l pistas entrev istados, tenderam a 
afirmar que inexis tiu qua lquer poss ibilidade de 
res istência, já que o dispos itivo militar de j8ngo 
ca iu como um cas telo de cartas. Cabe aq ui, en-
tretanto, confe rir maior atenção aos objeti vos 
gera is daquelas an áli ses, do que ao aspecto es-
16 - BASTOS, Paulo Mello. Salvo conduto. Um vôo na história. Rio de Janeiro: Garamond, 1998. 
17 - Depoimentos regis trados por Moraes, Dênis de. A esquerda e o golpe de 64. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo. 1989, pp. 163 e 165. 
'r 
L. 
12· Ox trrlb(tfIJntllJrl!.~ e (J golpe tle 1964: 11111 balanço tia histuriografia 
pecífico da possibilidade de resistência ao go l-
pe. O primeiro texto é de Gláucio Ary Soares, 
"O golpe de 64".(18) 
O objetivo central do artigo é contestar as 
teses que atribuem a precedência expli cativa do 
golpe aos fatores econômicos mais gerais (re-
solução da crise de acumulação capitalis ta) . 
Para o autor, buscar os atores seria essencial e 
entre eles, privilegia os militares, que afi nal de 
contas deram o golpe. A análise se faz quase 
que exclusivamente a partir do di scurso dos 
militares, o que gera um grave risco de queda 
na armadilha da "i lusão biográfica" e de falta 
de críti ca da fonte o ral, que como qualquer ou-
tra fonte necess ita ser contextualizada. il9) O au-
tor, em muitas passagens, toma aqueles depoi-
me ntos como d ados, tr a táveis inclu sive 
quantitativamentc. C ontrapõem-se 3 5S Lnl, sem 
maiores problematizações, as memórias dos 
gol pis tas com as análises acadêmicas sobre o 
golpe e conclui-se pela correção das primeiras, 
identifi cando diretamente dos depoimentos os 
"motivos do golpe" como sendo: "]". Caos, de-
sordem, instabilidade; 2". Perigo comunista e 
subversão; 3". Crise hierárquica militar; 4". In-
terferência do governo nos assuntos, na llierar-
quia e na disciplina militar; 5". Apoio popular 
ao golpe; 6". Corrupção, ro ubo de verba públi -
ca; 7". Sindicalismo, república sindica l." i2O) 
O autor reconhece a conspiração militar para 
dar o golpe desde a saída de )ânio, mas enfati za 
que ela não possuía um comando orgânico. A 
partir dos depo imentos, tomados quase que 
como o es tabelecimento da versão definiti va 
sobre a participação militar, contesta as teses 
da historiografia, para ele resumidas às seguin-
tes combinações: de uma conspiração dos gru-
pos econômicos bras il eiros; de wna conspira-
ção dos grupos econômicos brasile iros com 
apoio do governo ameri can o; de uma conspi-
ração dos grupos econômicos brasileiros com 
apoio dos milita res e das multi nac ionais e de 
wna conspiração dos grupos econômicos bra-
sileiros com apoio das multinacionais. Escolhe 
a opção, apontada pela grande maioria de seus 
entrevistados militares de Lun a "conspiração 
dos militares com apoio dos grupos econômi-
cos brasileiros." (2 1) 
Trata-se de uma contrapos ição ~ s teses de 
Dreifuss de que o golpe fo i movido pela ação 
organizada do grande capital nacional e asso-
ciado, com apoio militar e da política externa 
dos EUA .. Mas, o trabalho de Dreifuss é trata-
do com respeito, apesar de questionado. Para 
Soares, os "grandes avanços, como o li vro hoje 
clássico de Dreifuss a respeito da part icipação 
dos grupos econômicos organ izados, requerem 
pesquisa detalhada, cuidadosa e cansativa". (22) 
Sistematizava-se ali algo que aparcc il:l no' 
primeiro li vro com as entrevistas do mesmo 
projeto, segundo tex to a considerarmos. i") Na 
introdução desse último, aparece a idéia de que 
hav ia não um grupo dirigente, mas pelo me-
nos dois grandes pólos go l pis tas entre os mil i-
tares: o da "Sorbonne" e o da tropa. A ponta-se 
que os líderes (Costa e Silva e Cas telo Branco) 
só aderiram à cons piraç50 no últinlo momen-
to. Faz-se também a s uges tão de Crí ti Gl b 
hi storiografia a partir da posição dos mili tares, 
em pelo menos dois pontos centrais. 
O primei ro deles fi xa que a "op in ião milita r 
dominante define o go lpe corno resu ltado de 
ações di spersas e iso ladas, embaladas, no en-
tanto, pelo clima de inquietação e incertezas que 
invadiu a corporação. Esta visão se cont ra põe 
à interpretação predominante entre os anal is-
tas que até agora examinaram o episódio. PiJ ra 
estes, o golpe teria s ido produto de um amplo 
e bem-elaborado plano conspirató rio que en-
volveu não apenas o empresa ri ado naciona l e 
os militares, mas também as fo rças econôm icas 
nlultinacionai s". (2-1 ) Já o segund o íJrgumCnl"o 
18 --:- SOARES, Gláucio Ary . o golpe de 64. In SOARES, GJáucio Ary & ARAÚJO, Maria Celina O' (orgs.) 21 anos de regime militar: balanços e perspectivas. 
Rio de Janeiro: FGV, 1994. 
19 - Sobre a HiJusão biográficaH, ver o texto com esse título de BOUROIEU, Pierre em FER REIRA, Marreta de Moraes & AMADO, Janaína. Usos e ablJsos da 
hislória oral.Rio de Janeiro: FGV; 1999. 
20 - SOARES, G. A., O golpe de 64, oh.cit., p. 30. 
21 - Id.ib .• pp.34·35. 
22 - Id.ib .• p. 37. 
23 - ARAU JO. Maria Celina O', SOARES, Gláucio Ary Oilon e CASTRO, Celso. Visões do golpe. A memória militar sobre 1964. Rio de Janeiro: Relume Durnará, 
1994. 
2 
U ;.\,ttíria & [. /lla de CtaHes -13 
centra-se na constatação de que os "depoentes 
concordam que não havia um projeto de go-
ve rno entre os vencedores: o movimento foi 
contra, e não a favor de algo". (25) 
O primeiro ponto sugere o questionamento 
das análises hi stóricas baseadas em fontes que 
revelam as articulações e a partici pação do gran-
de cap ital (e de milita res) numa conspiração 
gol pista, usando como única ev idência os de-
po imentos dos que participmam do go lpe. Tais 
depo imentos, mesmo que fossem "sinceros", 
foram dados por oficiais que em 1964 ocupa-
vam postos de segunda ordem (ca pitães, coro-
néis) e, portanto, tinham papel secundá ri o na 
conspiração, como os próprios auto res ressa l-
tam: "Os militares que aq ui depõem em sua 
maiori a não tiveram lima lideran ça dcstacadJ 
nos preparativos do go l pe." (26) Cabe en tão a per-
gunta: se não tiveram li derança, como podem 
se r fon te usada pa ra contrapor-se às análi ses 
dos regis tros dos seto res que tiveram papel de 
liderança nesses "preparati vos"? 
O segundo ponto também é ques ti onável 
quand o se consta ta que, logo nos primeiros 
meses de governo militar foi aprovada uma sé-
rie de medidas que tinham s ido estudadas e s is-
temati zadas pelo IPES antes (como demonstra 
Dre ifuss). E quem as executou foram ministros 
e outrns auto ridades que integravam, com des-
taque, os quadros do mesmo IPES. Ou seja, ain-
da que se possa ad mitir o ca ráter fragmentado 
da direção golp ista em 31 de marçoj]0. de ab ril 
de 1964, é difícil não perceber que o go lpe vi-
nha sendo prepa rado de muito antes, por uma 
a rti cul ação que ia além dos militares, envo lvia 
os interesses de classe do grande capita l e isto 
se demonstra pela própria linha de inte rven-
ção do Estado nos momentos segu intes. 
Dessa mesma época (cerca de 30 anos após 
o go lpe) é o traba lho de Argelina Figueiredo l'7). 
A autora também es tá preocupada em conl'es-
24 - Id.ib .• p. 16. 
25 - Id.ib .• p. 18. 
26 - Id.ib., p. B. 
tar as análises anteriores, baseadas em exp lica-
ções "estruturais" (econômicas, mas também 
políticas - como a idéia de crise institucional) 
e, principalmente naquelas interpretações "in-
tencionais" - leia-se Dreifuss. Pa ra Argelina: 
"Este tipo de análise [ ... 1 falha em fornecer uma 
expli cação real, pois toma a mera existência de 
uma conspiração como condição suficiente para 
o sucesso do golpe político. Os conspiradores 
são vistos como onipotentes. Conseqüentemen-
te a ação empreendida por eles não é ana lisada 
em re lação a outros grupos, nem vista como 
sendo limitada po r quaisquer constrangimen-
tos ex ternos(28l." 
Sua opção de análi se, em contrapos ição, é 
privilegiar os momentos críti cos do governo 
Goulart, empregando a teo ria da esco lha racio-
nal. Tal refe rência teóri ca pode ser ava liada, 
numa leitura críti ca, apesar de sua anunciadJ 
relação com O nlarxismo, como uma va ri ante do 
individualismo metodológico, que toma o com-
po rtamento dos agentes sociais como O dos in-
divíduos dotados de margens ampl as de esco-
lha c racionalidade direta na sua ação social. (2'.1) 
A autora tenta prova r que hav ia um cami-
nho parn refo rmas moderadas dentro da ordem 
democ ráti ca c que os "a tores" esco lheram 
maximiza r suas possibilidades, em detrimento 
dessa ordem: os reformistas querendo reformas 
amplas e os con trários às reformas d ispostos a 
tudo para ba rrá-Ias. Sua conclusão é explícita: 
"A lém dessas razões lum c6 lculo o portunis ta 
de van tagens em tencionar pelas reformas am-
plas l, um outro fato r contribuiu para impedir a 
rea li zação de qualquer das duas poss ibilidades 
de combinar reforma e democracia, ou seja, j] 
visão instrumentaJ de democracia, mantida tan-
to pela direi ta como pela esquerda . De fato, os 
grupos esquerdi stas e pró- reformas buscavam 
essas reformas ainda que ao cus to da democra-
cia. Para obte r as refo rmas, propunham e es l'a-
27 - FIGUEIREDO, Argelina C. DCIIIOCf<1ci,1 ou reform.1s? Alternativas democráticas à crise política: 1961 -1964. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993. 
28 - Id .ib .• p. 28 . 
29 - A teoria da escolha racional é defendida, entre outros, por Adam Przeworski, orientador da tese de Argelina Figueiredo. Dele, em português, pode-se ler 
Capitalismo c social-d~mocracia. São Paulo : Cia. Das Letras, 1989 . Para uma critica desse tipo de concepção ver SENSAIO, Daniel. Marx, o jntempcsfivo. 
Gra ndezas e misérias de uma aventura crítica. Rio de Janeiro: Civilizaçáo Brasileira, 1999. 
r 
14 - Os Iraballl adore.\' e o go lpe de J 964: um balall ço da hüloriog raf ia 
vam dispostos a apoiar soluções não democrá-
ticas. Aceitavam o jogo democrá tico somente 
enquanto fosse compatível com a reforma ra-
dical. A direita, por outro lado, sempre esteve 
pronta a quebrar as regras democráticas, recor-
rendo a essas regras apenas quando lhes eram 
úteis para defender interesses entrincheirados. 
Aceitavam a democracia apenas como meio que 
lhes poss ibilitava a manutenção de privilégios. 
Ambos os grupos subscreviam a noção de go-
verno democrá tico apenas no que servisse' as 
suas conveniências'. Nenhum deles aceitava a 
incerteza inerente às regras democráticas(JO)." 
Se as pesquisas sobre os militares acima ci-
tad as tinham os mesmos alvos de críti ca à 
his toriografia ante rior que Figueiredo, o faz i-
am sem caricaturar an álises como a de Dreifuss 
e parti am do pressuposto de que os responsá-
veis pelo golpe fo ram os que o deram, procu-
rando explicá-lo a partir daquele ator que teve 
a visibilidade do poder - os próprios militares. 
Foram importan tes, por apresentar as razões 
que militares alegaram para mover-se nessa di-
reção, embora possamos achar que não tenham 
ido "além da aparência para explicar a essên-
cia" do processo. Já Argelina Figueiredo atri-
bui a responsabilidade pelo golpe tanto aos que 
o deram quanto às fo rças que defend iam as re-
formas e foram atingidas pelo golpe. 
Essa explicação é insustentável, porque, do 
ponto de vista teó rico, parte do pressu posto de 
que o Estado é um ator neutro, que paira acima 
das disputas da sociedade, podendo caminhar 
movido pelos dirigentes eleitos ou pelos que o 
assa ltam, como se es tes tivessem o papel de 
condutores de um veículo, uma máquina bu ro-
crática cujo rumo é ditado pelo seu operador. 
Além d isso, toma a democracia como um tipo 
ideal, que atende a todos os interesses (mesmo 
que parcialmente ou periodicamente), se todos 
os atores concordarem com suas regras. (31) 
Por outro lado, empiricamente, despreza o 
fato de que as reformas propostas não eram 
radica is, embora a retórica às vezes fosse, pois 
a reforma agrária - a principal reforma de base 
30 - FIGUEIREDO, Argelina, Democracia ou { ... }., ob. cit., p. 202 . 
proposta - foi uma tarefa cumprida pelos go-
vernos burgueses na maior parte do mundo e o 
que se propunha no parlamento, sem encon-
trar espaço para negociação com a maioria, era 
apenas garantir as condições para a indeniza-
ção em prazo mais largo (sequer a expropri a-
ção) dos latifundiários. 
A Reforma Universitá ria concentrava-se em 
democratizar a gestão das instituições e ampli -
ar o acesso, tarefas já cumpridas em out ros pa-
íses da América Latina desde o in ício do século 
xx. Já O controle da remessa de lucros poderia 
ser parte de um plano econômico de qua lquer 
governo menos comprometido com os interes-
ses das multinacio-nais, sem signi fi car neces-
sari amente um fechamento do mercado. 
Além disso, não se leva em conta que as for-
ças mais importantes da esquerda naquele pe-
ríodo defendiam caminhar dentro da ordem 
democrática. O PCB, por exemplo, defend ia a 
tese terceiro-internacionalista da revolução de-mocráti co-burguesa, ou seja, da aliança com a 
burgues ia nacional para viab ili zar a primeira 
etapa capitahsta das transformaçôes pelas qua is 
o país deveria passa r, aceitando "as regras do 
jogo democrático" nos limites em que elas se 
apresentavam então. 
Lúcio Fláv io Almeida demonstrou o quanto 
de equívoco haveria em, ao "avali ar os progra-
mas do Partido Comunista frente 11 questão de-
mocráti ca, atribui r-lhe uma concepção de de-
mocracia que não era a dele", como as concep-
ções de Norbe rto Bobbi o, o u a con cepção 
procedimental de Schumpeter, que parecem 
orientar algumas análises. 
Ainda ass im, toda a linha política da "De-
cla ração de Março", de 1958, do PCB, estava 
centrada na defesa de wna frente única, em que 
os comunistas apoia riam os "elementos nacio-
nalistas e democráti cos" da burguesia brasil ei-
ra e das políticas de Estado. 
Isto, mesmo sendo possível d iscern ir naq ue-
le contexto que o nacionalismo de algumas das 
lideranças apoiadas pelos com un istas estava 
longe de ser antiimpe-ria lista, sendo suas con-
31 - Sobre os limites da democracia contemporânea e a incompatibilidade entre o conceito clássico de democracia e o capitalis mo, ver WOOO, Ellen. 
Democracia contra capitalismo. São Paulo: Boitempo. 2003. 
--
/f ÜrtÍr;{/ & I .llra de C{(l.o(' .\" - 15 I 
vicções e prá ti cas democráti cas de "baixíssi ma 
intensidade". 
A mobi li zação das classes populares no go-
verno Coulart colocavam "na ordem do d ia três 
fortes itens da revo lução burguesa - as ques-
tões agrária, naciona l c democrática". 
O prob lema, po rtan to, não cst~H i a na falta 
de compromisso democrático da esqu e rd a 
identifi cada com essa mob il ização, mas ao con-
trário, !li] cOlllp lcta ausência de sentido na pro-
posta de uma revo lução burguesa pa ra uma 
burguesia que não precisaria de nenhuma re-
volução para fazer va ler seu projeto de classe.!'2) 
Na prática, a opção pela atuação nos marcos 
do s is tem" se ria demonstrada também pelos 
princi pais sind icatos li gados ao CCT, quando 
es tes rejeitaram, em fins de ]963, a tentati va de 
Jango de implanta r o Es tado de Sítio. O pró-
prio Jango, com apo io dos comand os militares, 
encaminhou a so lici tação do Es tado de Sítio ao 
Congresso Nac ional, aguardo u a resposta -
negativa - e desistiu dn idéia, dClllonstra ndo 
que mesmo quando aind(l con tava C0l11 susten-
tação nas Forças Armadas, não es tava disposto 
a ro mper com a lega lidade vigente. 
Não se toma em conta também que aquc la 
democra ci21 era res trit a até mCSlllO parn os 
parâmetros daquilo que bs vezes é adjetivado 
corno democracia "burgucsa-rcpresentati va-li-
beral". O PCB não possu ía regis tro lega l, a es-
trutura s ind ica l era a herdada da d itadu ra 
varguista, a polícia políti ca t~lInbém era uma 
pe.rmanência daquela fase e mostra va-se Gldi1 
vez mais especinli zZldZl e atuante, apenas pJ rll 
listarmos alguns elementos que dizem respeito 
às organizações dos traba lhadores. 
o debate em 2004 
Nestes quarenta anos do go lpe, para quem acompanhou os seminár ios, cadernos es-
peciais da imprensa e publicações especia li -
zadas, parece ser ev idente que a lgumas teses 
de cerca de dez Zl nos Zl trás foram supervalori -
zadas, enquanto o acúmu lo anteri or de pesqui -
sas foi s is tematicamente negado. 
O que acabou por ge ra r uma reação, que revela 
a ex is tência de um debate forte entre setores 
uni vers itá ri os, alguns dos quais an tes caminha-
vam no mesmo sentido e hoje pa recem trilhar 
rumos opostos. 
As aná lises produzidas em to rno de 1994, 
nas pesquisils do CPDOC sobre mil ita res fo-
ram exacerbadas po r traba lhos recentes, como 
O de El io Cas pari , que não SÓ nega qualquer 
mo tivação econõmi co-socia l, e qu al CJ uer n í-
vel de co nsp irilç50 a rti culilda ("o exé rcito 
dormiu janguista e acabo u revolu cionário"), 
como at ri bui o gol pe e os caminhos da dil'a-
dura ao jogo das indi v idualid"des dos pe r-
sonagens - Ja ngo vac il an te ou os militares 
ma is moderados o u mais du ros por pe rsona-
lid ade - e às contin gências fac tu a isP3) Sem 
menosprezll r sua reda ção ca ti vante e a ap resen-
tação de algumas fontes que confi rmam o u nc-
gam propos ições antes mal fundamentadils, tra-
ta-se da recuperação do melhor es tilo da hi stó-
ria "acontecimental" do século XIX, cr iti cada 
pelos Al7alles. 
Anólises e explicações causa is são substituí-
das po r descrições de acontec imentos, movidos 
pelo sabor do acaso, desaguando em conclu-
sões que beiram o paradoxo: "O levante se ap re-
sentara como um mov imento em defesa da or-
dem constitu cional, mas a essência dos aconte-
cimentos negava-lhe esse caminho".I") O que é 
"a essênc ia dos acontecimentos"? 
O mesmo senti do de aná lise centrada excl u-
sivamen te nas poss ibilidades de ação e reação 
dos chefes políticos a limen ta a biografia de 
Jango escrita por Marco Antonio Villa. 
Neste caso, um personageI11 ao qual se at ri -
bui uma responsabilidade nega tiva, po issegun-
do o auto r, João Coubrt "pela posição que ocu-
pava poderia te r imped ido" que se chegasse ao 
32 - ALMEIDA, Lúcio Flávio Rodrigues de. Insistente desencontro: o PCB e a revolução burguesa no período 1945-64 . In MAZZEO, Antonio Carlos & LAGOA, 
Maria Iza be l (orgs .). Corações Vermelhos: os comunistas brasileiros no século XX. São Paulo: Cortez, 2003. pp. 88,116,121 -2. 
33 - GASPARI, Elio . A ditadura cnvcrgonhada. São Paulo: Cia das Letras, 2002. 
34 - Id.ib" p. 111. 
r 
J tí • 0.1' 1f(lI}(lfll(uf(}re,~ e fI ga{JlC lle /964: .11/11 IJOlall ço da IJi sloriografia 
impasse cuja saida foi o golpe. I~'I Caspari tam-
bém retomou as teses de Argelina Figueired o, 
radicalizando-as. Não apenas inex istia o C0I11-
promisso da esquerda com a democracia (tanto 
quanto o da direita), como para ele "hav ia dois 
go lpes em marcha. O de Jango viria amparado 
no 'dispositivo militar' e nas bases sindica is, que 
cairiam sobre o Congresso, obrigando-o a apro-
var um pacote de reformas e a mudança das 
regras do jogo da sucessão presidencial." I"1 
Ta l radicalização dessas teses - não apenas 
inexistialn cOlnprolni ssos com a denlocracia, 
como também esquerda e direita caminhavam 
para o golpe - parece agora ter se tornado a tô-
nica das análises que receberam maior destaque 
nos debates dos últimos meses. Jorge Ferrei ra, 
por exemplo, em mtigo para uma revi sta de d i-
vu lgação que repetia argumentos de um texto 
de maior fô lego,!"1 anali sando os últimos dias 
do governo Coulart, afirma o seguinte: "O con-
flito político entre esquerdas e direitas tomou 
novos rW)l OS. Não se tratava mais de saber se as 
reformas seri am ou não implemen-tadas. A ques-
tão central era a tomada do poder e a imposição 
de projetos. Os partidári os da direita tentariam 
impedir as a lterações econômicas e sociais, sem 
preocupações de respeitar as instituições demo-
cráticas. Os grupos de esquerda ex igiam as re-
fornlas, Ina5 tanlbéln scnl vLl lori zar a dClllocra-
cia. [ ... 11 Passa a citar Argelina Figu eiredo, e con-
clui] . Entre a radicali zação da esquerda e da di -
reita, uma parcela ampla da populaç50 brasil eira 
apenas assistia aos conflitos - em s il êncio." 1"'1 
Ou seja, segundo esse autor, esquerda e di-
re ita lu tavam naquele momento pela tomada do 
poder, por vias não democráticas, como que 
nWl1a corrida em que largavam em igualdade 
de condições e objetivos idênticos, tratava-se de 
observar apenas quem fo i mais forte ou che-
gou antes para definir o rumO do país. Além 
disso, defende que o momento era de radica li -
zação, mas o povo assisti u a tudo bes ti ali zado. 
Centenas de milhares nas ruas com Jango, cen-
tenas de milhares com "Deus pela Li berdade" 
contra Jango, greves em quan tidades cada vez 
maiores (38 greves em t rês meses só no Rio de 
Janeiro em 1964, quatro vezes mais que no mes-
mo período do ano anterior), levantes dos bai-
xa-patentes das forças ilnnadas, mil itares em 
marcha ... e "uma parcela ampla da popul ação" 
em silênci07 Ao acreditarmosnessa hipótese 
estaremos concordando que a di n5mica políti-
ca é dada por esquerda e di reita em seu jogo 
pelo poder, pela via democrMica ou não. Es-
querda, direita, "povo"; onde estão os empre-
sários, os trabalhadores, os setores intermediá-
rios: onde es tão as classes e seus confl itos? 
Além d isso, também aqui onde encontramos 
o mesmo argumento de Argelina Figueiredo (ta l-
vez um pouco mais simplificado), podemos le-
vantar as mesmas pondcmções. Além de alguns 
d iscursos mais radica lizados, de lideranças como 
Bri zo la, Ju lião ou Prestes, onde estari am as evi-
dências concretas de tal "golpismo" das esq uer-
das, se os trabalhadores não pegaram em óJr J11as, 
os mil itares fiéis a CouJart evitaram o combCl te 
aguardando as ordens lega is e o próprio prcs i-
dente reti rou-se ev itnndo a confrontação7 
Caio Nnvar ro de ToJcdo, criti cando ta is for-
Illlll ~çõcs, assin.:lla com prccis50 que j) "afirma-
ção de golpislllo das esquerdas tem efeitos ideo-
lógicos precisos; de imed iato, aj uda a rcfol\'"r 
as versões difundidas pelos apologetas do go l-
pe político-militar de 1964. Mais do que isso: 
contribu i para legitimar a ação go l pista vito ri -
osa ou, na melhor das hipóteses, atenua as res-
ponsabilidades dos militares e da direita civil 
pela supressão da democracia política em 1964. 
A direita gol pista não pode senão aplaudir 
esta ' revi são' hi stori ográfi ca proposta por alguns 
intelectuais progress is tas e de esquerd a".!"'1 Re-
ferind o-se a in telectu a is de esqu erda, Caio 
Navarro com certeza mira naqueles com passa-
do de luta contra a d itadura que ago ra defe n-
35 - ALMEIDA . lúcio Flá vio Rodrigues de . Insistente desencont ro: o peB e a revolução burguesa no período 1945·64. In MAZZE O, Antonio Ca rlos & 
LA GOA, Maria Izabel (o rg s.) . Corações Vermelhos: os comunistas brasilei ros no século XX. São Paulo: Cortez, 2003 . pp . 88 , 116, 121-2. 
36 - GASPARI, Elio. A ditadura envergonha(la. São Paulo: eia das l etras , 2002 
37 - VlllA. Marco Anto nio. Jango: um pe rfil (1945-1964). São Paulo . Globo. 2004, p.2 41. 
38 - Gaspari, Elio . A ditadura r .. I . . ob. cit., p. 51. 
39 _ FERREIRA, Jorge. Sexta-feira 13 na Central do Brasil. Nossa História. N° 5. Rio de Janeiro, Bibliot eca Nacional, março de 2004. As idêias centrais 
são apresentadas com maior vag ar em FERREIRA, Jorge. O governo Goulart e o golpe civil-militar de 1964. In FERREIRA , Jorge & DRAGADO, l ucília de 
Almeida Ne ves (orgs.) . O Brasil Republicano. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira , 2003. V. 13. 
lIi .alÍr;a & /. /11(/ (Ir C/aHp' - 17 I 
dem a tese da resposta de direita ao go lpe pla-
nejado pela esquerda. Algo que atraiu a aten-
ção a té mesmo da grande imprensa, po is o de-
bate ganhou as páginas dos jornais. 
Dando foro de maior legitimidade à nova pro-
posta interpretativa, por seu passado na luta ar-
mada, Daniel Aarão Reis Fi lho, conforme a re-
portagem do jornal O Globo, teria caracteri zado 
as esquerd as na res istência à ditadura C0l110 anti-
democráticas e afirmado que se vitoriosas fos-
sem, poderiam ter gerado um confron to ainda 
pior e um regime de exceção mais violento: "Fa-
lava-se em cortar cabeças, essas palavras não 
eram metáforas. Se as esquerd as tomassem o 
poder, h8vcria, provavelmente, a resistência das 
direitas e poder ia acontece r um confro nto de 
grandes proporções no Brasil. Pior, haveria o que 
há sempre nesses processos e no co roamento 
del es: fuzilamento e cabeças cortadas". I"') 
Para que não tomemos como aná li ses do 
a utor a síntese de um jornal di á ri o, podemos 
reco rrer a um texto em publ icação acadêmica 
recente. Re is Fil ho pa rte do obje tivo de demo ns-
trar que a atri buição de wn caráter de "resis-
tência democrática" à ação das esquerdas no 
período da ditadura militar é uma invenção 
datada da fase da redemocratização, pois as 
esq uerdas da luta 3nl1ada seriam antidclllO-
cráticas c vi sarialn a im plant'ação do socialis-
mo - por e las e nte ndid o co mo incompatível 
com a democracia - pela via revolucionári a. E 
isso não seria, segundo o autor, ama novidade, 
po is já n o in ício dos anos 1960 o des prezo pela 
democracia se manifestara nas esquerdas que 
" ineb ri adas pela v itó ria de agos to de 196:1 [a 
posse de Cou lart, após a re núncia de Jâni o 
Quadros l, passaram à ofensiva polí tica, e desa-
fiavam abertamente a legal idade ex istente". 
Dava-se assim o argumento que faltava para 
que a direita assumisse o discurso da defesa da 
legal idade, consegu ind o mobilizar um mov i-
mento civ il de grandes proporções " para legi-
timar posições favoráve is à in tervcnç50 milit·Llr 
golpista" .I41 ) Desse ponto de vista, que confun-
de o objetivo estra tégico da cons trução do so-
40 - FERREIRA, J. Sexta·feira I ... ]. Ob. cit ., p. 35. 
ciali smo, compartilhado pelos militantes de es-
querd a, com um suposto uso cínico das ban-
deiras de res istência democráti ca cont ra a dita-
dura, acaba-se por reforçar O discurso dos mili-
tares de que o motor do golpe foi a ameaça de 
uma ditadura comunista, permüindo a matéri-
as jornalísticas aproximar acadêmicos "de es-
querda" e defensores d o golpe, na pcrspectiva 
de que ev itava-se um mal Inai or. 
Tem razão neste sentido Marcelo Ridenti, que 
cri ticou a concepção de Reis Filho, defenden-
do a idéia de que havia um componente assu-
mido de resistência nas proposições de v6r ias 
d as organi zações de esqucrda daquele período 
e que ainda que muitas delas não prio ri zassem 
a "resistência democrática", o resultado de s ua 
ação foi o de uma Juta de resis tência contra a 
ditadura. Para Ridenti, o que os pesquisadores 
nem sempre aval iam é que "nos anos 60, antes 
e depo is do golpe de 1964, a ques tão da demo-
cracia es tava no contex to da guerra fria, em que 
os Estados Un idos não hes itavam em apo iar 
golpes militares para garantir o poder de seus 
aliados na Amér ica Latina, ditos libe rai s e de-
fensores da democracia ... " 
Em seu argumento, se os es tud iosos não po-
dem controlar o uso de suas pesquisas h;stór i-
as nos embates políticos do presente, devem ao 
menos "estar conscientes de que o realce ana lí-
ti co de alguns aspectos, em detrimento de ou-
tros, pode leva r a interpretações equivocadas 
da realidade hi stórica como um todo". 
As inte rpretações da "fa lta de democracia 
das esquerdas" acabaram por ser incorporadas 
"por aqueles que isentam seto res s ignifi ca ti vos 
da sociedade civil de cumpli cidade com a dita-
dura - e até pelos que chegam a justificá-Ia", 
ainda que essa não fosse a intenção daqueles 
estudiosos. I") O que está em jogo nessa guina-
da à direita de uma parte da historiografia aca-
dêmica sobre o go lpe de '1964, não pode se r di s-
so-ciado d e um processo maio r de d o míni o 
conse rvador nas aná li ses hi stó ri cas e no pen-
samento universi tário em geral, fruto em gran-
de medida do contexto neo libe ral de ava nço 
41 - TOLEDO, Caio Navarro de. 1964: golpismo e democracia. As falác ias do revisionismo. Crítica Marxista. No. 19 . Rio de Janeiro, 2004, pp. 44-45. 
42 - O Globo. Rio de Janeiro, 29/03/2004. 
43 - REI S FILHO, Daniel Aarão . Ditadura e sociedade: as reconstruções da memória. In REIS FILHO, D. A. ; RIOENTI, Marcelo & MOTIA, Rodrigo Patto. O 90lpe 
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44 - RIOENTI, Marcelo. Resistência e mistificação da res istencia armada contra a ditadura: armadilhas para pesquisadores. In Id. ib., pp . 62 e 64 .. 
18 - Os trabalhadores e o golpe de 1964: 11m balanço da historiografia 
da ordem do capital nos anos 1990 e na déca­
da em curso. Pode ser interessante pensar tam­
bém como é importante para certos setores in­
telectuais, neste momento do governo Lula, 
absolutizarem a dimensão formal da democra­
cia representativa e o caminho da moderação 
nas reivindicações populares - mesmo as rei­
vindicações de reformas limitadas são perigo­
sas e o único caminho é a paciência dos de bai­
xo para que, atravésdas urnas, do parlamento 
e das leis, se desperte a possibilidade de con­
cessões leves e graduais dos de cima. 
Não deixa de ser triste observar como, nes­
te seu vôo revisionista, aCJbam por somar-se 
ao coro dos que, desde 1964 querem absolver 
os golpistas para condenar os atin,gidos pelo 
golpe. Assim, nesta versão, o golpe não se deu 
para controlar os trabalhadores e garantir o pro­
jeto empresarial, mas foi decorrência de uma 
intransigência mútua, senão de wna maior res­
ponsabilidade "das esquerdas". 
No fundo, é a matriz mesma de explicação 
da história que se coloca em questão. Não ape­
nas se quer apagar, ou estigmatizar como 
inexistente (por descompromisso com wna de­
mocracia modelar, de resto distante da realida­
de política do Brasil na época) a resistência con­
tra o golpe militar e a ditadura por parte das 
organizações da classe trabalhadora e de ou­
tros setores sociais. Pretende-se mesmo afastar 
de vez o fantasma das classes e da luta de clas­
ses como centro da explicação da trajetória dos 
homens no tempo. Mas, o espectro não se can­
sa de rondar. _ 
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