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História&. LnllLdc _CljlSS\'Ji A proposta deste artigo é, primordialmente, acompanhar a trajetória do debate sobre o golpe, comentando algu mas das principais formulações sobre aquele processo produzidas ao longo dos últimos quarenta anos.(1) O caminho escolhido para isso não foi o de uma análise exaustiva de tudo o que foi publicado, mas concentrou-se a atenção nas discussões sobre o papel da classe traba lhadora e suas organizações no período anterior à implan tação da ditadura, uma chave de entendimento valorizada por diversos ângulos entre os que estudaram o período. Os trabalhadores e o golpe de 1964: um balanço da historiografia Marcelo 8adaró Mattos Marcelo Baúaró Mattos é prores~or de História do Brasil da Universidade Federal Fluminense. instituiç:ío pela qual se doutorou. omeço por situar-me em relação ao tema. O golpe milití1r sur giu como um problemí1 em meu trabalho de pesquisa, quzmdo da elí1borí1ção de uma tese sobre o sindica smo cariocano no período 1955-1988(2). Procurei en tender o novo sindicalismo, fenômeno surgido a partir de 1978, mas para isso julguei necessá rio investigar as representações que ele fí1zia do período anterior a 1964, em confronto com uma análise mJis precisJ daquela fase, o que levou a um recuo do recorte cronológico dil investigJ pilra melhor compreensão do pré-1964. Depmei-me com uma profunda desilusão em relação ilO papel dil classe trabalhadora no momento do golpe, por parte de muitos líderes sindicais e políticos que atuavilm na época, milS I I 8· Os IraIJ all,QtlQrei' c o golpe de /964: um halal/ ço da hütoriografia também de autores que escreveram nos primei- ros anos da ditadura e procuravam explicar por- que o projeto das o rgani zações vi nculadas à classe hav ia sido derrotado pela implantação do regime milita r. Tais autores acabaram por construir uma análise da classe operária brasileira no nega ti- vo, caracterizada pelo que ela não era: não era consciente, nem autônoma, nem mobili zada e organizada, etc. Por issó, para eles, apesar de muita expectativa em torno do Comando Geral dos TrabaU1adores (CGT), do poder s indical, da capacidade de res istência da classe trabalhado- ra, o golpe fora dado com muita facil idade. Locali zemos en tão melhor a lite ratu ra espe- cia li zada sobre o assunto, produzida du rante a ditadura, começando por situar a própria dis- cussão sobre o gol pe militar. As análises sobre o golpe nos primeiros anos da ditadura A té a década de 1970, as interpretações aca-dêmicas mais comuns sobre o golpe gira- vam em torno de do is pontos. De um lado, a questão econômica da crise de acwnulação. O modelo econômico dependente, montado prin- cipalmente com JK, vivia urna crise, cuja supe- ração exigiria do Estado urna intervenção que garantisse maior abertura para o capital es tran- geiro e wna políti ca dirigida a privilegiar ain- da mais o grande capital, que passava, inclusi- ve, por garantir tota l controle sobre as organi- zações e lutas dos trabalhadores, de fo rma a viabilizar o arrocho salarial. (3) Muitas vezes ap resentada de forma combi- nada à prilneira, aparecin a tese que deri vava o golpe da cri se do populi smo. Este era entendi- do corno a base política da dominação de clas- ses naquela fase, sustentada n o equilíbrio ins- tável que garantiu a incorpo ração das massas à política pela via controlada do pacto popu li sta. Tal pacto entrara em crise, pois as massas que- riam ir além dos limites estabelecidos pelas clas- ses dominantes para suas concessões. Nas palavras de Otávio lanni, o popul ismo envolvia diversas dimensões daquela etapa da trajetória brasileira, associadas em especial às contrad ições do desenvolvi mento capita li sta urbano-industria l e da entrada das massas no plano das d isputas de poder. "Assim pode-se afirmar que a entrada das massas no quadro das estruturas de poder é legitimada por inter- médio dos movimentos populistas. Ini cialmen- te, esse populi smo é exclusivamente getuli sta. Depois adquire outras conotações e também denominações. [ ... 1 No conjunto, en tretanto, tra- ta-se de urna política de massas específica de urna etapa das transformações econômico-so- ciais e políticas no Brasil. Trata-se de um movi- mento político, antes do que um partid o políti - co. Corresponde a uma parte fundamental das manifes tações políticas que ocorrem numa fase determinada das transformações ve ri ficadas nos setores industriais, em menor escala, í.1g rá- rio. Além disto, está em relação dinâmica com a urbanização e os desenvolvimentos do selor terciá ri o da economia brasileira. Mais ainda, o populismo es tá relac ionado tanto com o con - sumo em massa como com o aparecimento d~l cultura de massa . Eln po ucas pala vra s, o popu li smo brasileiro é a fo rma políti ca assu- mida pela sociedade de massas no país." I') A crise do populismo seria ent50 deri vada da exacerbação das con tradições do reg ime no governo Gou lart, com a amp liação da pa rtici- pação popula r. Segundo lan ni , GouL:!rt "t ra z consigo todos os compro"missos e ambigüieb- des da política de massas. Governa sempre sob as vári as pressões que caracteri zam (] hi stória do populismo. Agora essas pressões estão con- centradas, em fo rça e profundidade". Por isso 1 - Uma primeira versão deste texto fo i produzida para o Seminário 40 anos do golpe mil itar no Brasil. Pelotas-AS, Instituto Mário Alves/uCPEl , 01/04/2004. Uma alualização em dezembro de 2004 procurou incorpo rar novas contribuições ao deba te publicadas rec entemente. 2 - 2 Mattos, Marcelo Badaró. Novos e velhos sindicalismos no Rio de Janeiro: 1955-1988. Aio de Janeiro: Vício de leitura, 1998. Retomei algu ns aspectos dessa discussão em duas obras de síntese posteriores. Trabalhadores e sindicatos no Brasil. Aio de Janeiro: Vício de leitura, 2002; O sindicalismo brasileiro 8pÓS 1930. Rio de Janei ro: Jorge Zahar, 2003. 3 - Uma excelente síntese das discussões que adotaram tal ponto de vista enco ntra ·se em Mendonça, Sonia Regina de. Estado 8 economia 1/0 Brasil: opções de desenvolvimento. 2 ed. Aio de Janeiro:Graal, 1985. 4 - IANNI, Otávio. O colapso do populismo no BraSIl. 4 ed. Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1978.p. 207. 5 1 ' .\·tÚ.,.it, & 1, 1f/ft (1(' C /a .H I'.I' mesmo, foram os conflitos sociais que desnu- daram aquelas ambigüidades "O populi smo terá s ido apenas uma etapa na histó ri a das re- lações entre as classes sociais. Nesse sentido é que se pode dizer que no limite do populismo está a luta de c1asses."{') De uma forma gera l, esse marco inte rpre- tativo permanece importante, por enfatizar d i- mensões econômicas, políticas e sociais do gol- pe, entendido em meio à aná lise de um proces- so mais amplo. Lei turas reducionistas, que de- ram exagerado peso a apenas um desses con- juntos de fatores, foram criti cadas com razão, mas não constituíam o padrão das análises, que costumaram apontar para a nlúltipla causalida- de na explicação do processo que culminou com o golpe. No entanto, algumas das de rivações dessas interpretações para os estudos da classe trabalhadora eram ~astante problemáti cas. Confo rme aquele marco, as organizações dos trabalhadores foram analisadas através do con- ce ito de s ind ica li smo populista. Numa s intese esquemática, o "s indical ismo populista" seri a caracteri zado po r: a) inconsistência organizatória (orga ni zações de cúpula - oficia is ou para lelas - seriam pri vil eg i- adas em relação às O rganizações po r Loca l de Trabalho); b) falt a de ques ti onamento à estrutura s indica l, inclus ive po r parte da direção comunista; c) falta de s intonia entre lideranças (com dis- curso e reivi ndicações nacionais e politizadas) e suas bases (mobil izadas apenas por questões sa la ri a is); d) pod er de mobi li zação concentrado nos tra- balhadores do Estado e escasso entre os empre- gados do seto r privado, em especial nos seto- res de ponta dagrande indústri a; e) pri v ilégio ao Estado como interl ocul-or prin- cipal dos sind ica tos, subo rd inação aos políti - cos po pulis tas e secunda ri zação d o conflito capital e traba lho(6). Na defi ni ção mais conhe- 5 - Id.ib. pp . 109·113. cida, de Francisco Weffort, o s indica li smo popu- li sta "no plano da or ientação, subord ina-se à ideo logia nacionali sta e se \'o lta para uma polí- ti ca de reformas e de co laboração de classes; no plano da organização, caracteri za-se por uma estrutura dual em que as chamadas 'organiza- ções paralelas', formadas por ini ciativa da es- querda, passam a servir de complemento à es- trutura sind ica l oficial , inspirada no corporati- vismo fascista como um apêndice da estrutura do Estado; no plano político, subordina-se às viciss itudes da ali ança fo rmada pela esquerda com Coulart e outros po lí ticos fi éis à tradição de Vargas." (7) No estudo que desenvolvi sobre o s indica- li smo carioca, como em viÍ ri os traba lhos pro- du zidos a partir do fim dos anos J990(8), tal con- cei to de "sindica li smo po pulista" era ques ti o- nado, po is fo ram enco ntrfJdZls ev idências mui - to fortes que caminhavam em direção bem d i- feren te. Encontrei na pesquisa com as fontes do período, orga ni zações sindica is com "índi - ces elevados de s indica li zação, va ri adas e a ti- vas o rganizações por loca l de trabalho, di ve rs i- dade de áreas de atuação I ... ] e só lidos laços de representati v id ade entre dirigen tes e bases. " Observe i também g reves "participativas, o rga- n izadas a part ir do loca l de traba lho e com uma in teg ração viável entre demandas po lí ti cas ge- rai s e bem sucedidos encaminhamentos de rei- vindicações econômicas". (9) Isto não s ignifi ca que a es trutura sindicaln50 impusesse limites, como as in te rvenções fei tas pela Ditad ura logo em seus primeiros dias dei- xavam claro. Porém, apesa r desses limites, ha- via ação sindi ca l o rientada pelos inte resses da classe, com im pacto efet ivo na conjuntura . Ou seja, os traba lhadores agiam para si e com for- ça. Por isso o go lpe fo i necessário pa ra a classe dominante. O momento do golpe é fundamenta l para este debate, po is a produção acadêmica o ri en- 6 - Para dois exemplos deste tipo de uso da noção de sindica lismo populista, ver Rodrigues, Leôncio Martins. fll(Juslriafizacão e aritllfcles operár")s. São Paulo: Brasiliense, 1970; WEFFORT, Francisco. Origens do sindica lismo populista no Brasil · a conjuntura do após ·guerra. Estllc/;s Cebrap. n 4. São Paulo. abri jun. 1973. Consi deramos as caracterizações feitas pelos autores convergentes , mes mo trabalhando o primeiro com explicações para o comportamento sindical baseadas na origem de classe dos operários e o segundo centrando sua argumentação nas opções políticas das direções. 7 _ WEFFORT, F. MO rigens ... M, p. 67. 8 - Ver por exemplo a obra coletiva de FORTES. Alexandre (e outros) . Na lura por rlireiros. Campinas : EdUnicamp, 1999 . 9 - MAnOS. M. B. Novos e velllOs (, .. ). ob. cit., pp, 21 8·9. 10 - Os trablllltatlorcs c o golpe de 1964: ,,,,, balaltço da IlislIl riog r(/fitl tada pelo modelo d o sindicali smo populis ta chegou a questionar a resistência dos trabalha- dores a tal po nto que n egou a té mesmo a concretização da g reve geral convocada pelo CGT para o dia d o golpe. Constate i que, no Rio de Janeiro, como Fernando da Si lva também observou em San tos(lO> (outros exemplos depen- dem de novas pesquisas), a g reve ocorreu e foi tão o u mai s a mpla que a s a nter io rmente convocadas pela intersindical. Mas, de fato, foi insufi ciente para conter o go lpe, até porque, como des tacou Lun dos principais líderes do sindicalismo brasile iro à época - Batis tinha - os trabaUladores agu ardaram a res istência nljlitar, que não aconteceu: "Não tinha porque o traba- lhador, que nunca pegou em arma, pegar. [ .. . ] Não havia trabalho de res is tência armada dos trabalhadores. Havia a í ilusãode que as Forças Armadas iriam funcionar dem ocra ti camente e impedir o golpe [ .. . 1. A classe operária fez o seu papel, parou o Bras il(II>." Assim situada a questão, em relação ao peso da aval iação negativa sobre a ação da classe no momento no período d o gove rno Goulart e no episódio do golpe, passo a comen tar a lgumas teses posteriores, com o compromisso de vol- tar com mais atenção, adiante, à questão da re- s istência no momento da derrubada de Coulart. o golpe 20 anos depois. as teses de René Dreifuss Não enfrente i na é poca em que produzi mi-nll a tese (1996) um debate COm a hi s torio- g rafia especifi camente dedicada à an áli se d o golpe, publicada por volta de seus v inte anos (quando a ditadura aind n ex is ti a, clllbora aba- ladO) pela mobi lização redemocra ti zante). Até po rque concordava com as linhas gerais do tra- balho m a is impo rtante daq ue le momento (e podemos d izer do conjunto d a prod ução sobre o golpe), escri to por René Dre i(uss1'. Drei fu ss d em ons trou que os empresá ri os brasileiros agiam politicamente de fo rma o rga- nizada e documentou o papel decisivo d o g ra n- de capital na a rti cul ação do golpe. Estudando o complexo lPES-l BA D - Instituto de Pesqui- sas Econômicas e Superi o res e Instituto Brasi- leiro de Ação Dem ocrática -, mostrou que seus participantes es taVaJll "no centro dos aconteci- m e ntos co m o h o m e n s d e li gação e co m o o rgan izadores do m ovimento civil -milita r, dan- do apoio materi a l e preparando o cli ma para a in te rvenção mil itar ! ... J. O ocorrid o em 31 de março de 1964 não foi um mero go lpe m ilitar. Foi [ ... ] UJll movi mento socia l civ il-mil itar(" >." O ca ráter d e classe do go l pe e dos govern os da ditadura é o centro de sua an á lise. Segu ndo ele: "As classes d ominantes, sob a lide rança do bloco mu ltinacional e associado em preenderam uma campanha ideo lógica e po liti co-mil itar em frentes di versas, a tra vés de uma série de insti- tui ções e organi zações de classe, mui tas das quai s eram parte integrante do s is tema polít ico populis ta." (" > No pós-1964, "essa ve rd adeira e lite das clas- ses dominantes 1 ... 1 preservou a natureza ca pi- tO) li sta do Estado, uma tarefa que envo lvia séri- as restdções à orga nj zação autônoma d~s clas- ses trabalhadoras e a consolidação de 1 . .. 1 um tipo de ca pitalis mo tardi o, dependente, des i- g ual, m as também extensamente industri ali za- do, com uma economia principalmente dirigida pat'a um alto g rau de concentração de proprie- dade na indústri a c integração com o si s tema bancário." (1.") É possível a rgumentar que a ex is tência de uma arti cul ação tão am pla quanto a demons- trada por Dreifuss não era s ufi ciente para ex- p lica r o go lpe em s i, que foi deslanchado por iniciativa imedia ta dos milita res e, como de- monstra a precipitada sa ída de Mourão Filho 10 - SI LVA. Fernando Teixeira da. A carga e a culpa: operários das docas de Santos: direitos e culWra de solidafÍedada. 1937-1968. São Paulo: Hucitec/Pref. Municipal de Santos, 1995. 11 - FIGUEIREDO, Betânia G. (o rg .). Balistinha: o combatente dos trilhos. Rio de Janeiro: CMFIAMORJ, 1994, p. 45. 12 - DREIF USS, Renê A. 1964: a co nquista do Estado. Petrópolis: Vozes, 1981. 13 -Id.ib .. p. 397. 14 - Id.ib., p. 48 3. 15 - Id.ib., p. 485. ... J-l islÚria & {. /l/a tI l! Ch, .<ixc.{ -li com suas tropas de Minas Gerais, não possuía luna única frente de conspiradores. No entan- to, o trabillho de Dreiffus tem um sentid o bem mais profundo do que a análise do aconteci- mento golpe enquan to fen ômeno imed iato. Seu estudo nos posiciona sobre as condições que viabilizaram o sucesso da tomada do poder pelo movimento civil-mi litar c (1 natureza das políticas postas em prática nos anos seguintes. A despeito desse acordo geral com a inte r- pretação de Dreiffu s, ressa lto que, como sua obra não se propôs a tratar o outro lado - O da res istência dos trabalhadores - em várias pas- sagens seu livro acaba reforçando as formula- ções anteriores sobre a inex istência ou incon- sistência da capacidade de intervenção organi- zada da classe, dados os limites do sindica lismo de então. Ass im, ainda que seu trabalho avançasse em relação à discussão de como fo i articulad o o golpe, qua l o caráter de classe dessa articu la- ção e dos govern os militares, mantinha-se em sua análi se o quadro geral do modelo interpre- tativo do "s indicalismo populista" para defin ir as re lações entre Es tado e trabalhadores e as organizações e lutas destes. A historiografia do golpe nos seus trinta anos Em meados dos an os 1990, porém, já se apre-sentavam também as novas teses sobre o golpe, produzidas em torno de seus trin ta anos. Há algumas dessas que v i com grande preocu- pação e retomo aqui O ponto em que estávamos quando, citando Batistinha, me referi à expecta- ti va de res istência ao golpe entre os militares. Mesmo que não fosse esse meu objeto cen- tra i de pesquisa, ques ti ona va aspectos daque- las análises que se construíam a part ir exclusi- vamente do depoimento dos militares go l pistas, agora di spostos a fa lar mais (embora suas v i- sões sempre tenham tido espaço dominante, via imprensa, pub li cações de memóri as e biogra fi- as), e que ap resentavam a visão de que o golpe fora dado sem ma iores resistências. Pesquisando a greve contra o golpe, era pos- sível constatar a arti culação efetiva de lideran- ças s indi cais com mi litares que estavam dispos- tos a res istir para garantir o governo e as insti- tu içõcs consti tucionais, mas que não O fi zeram porque lhes falto u O que é fundamenta l em sua instituição: ordens e comand o. Como demons- trava a ponte estabelecida por Paulo Mello Bas- tos, coronel reformado da Aeronáuti ca, d irigen- te da Federação dos Traba lhadores em Trans- portes Aéreos, do Sindicato dos Aeronautas e do CGT, com uma série de li deranças milita res da base de susten tação de jango, incl us ive no momento do golpe, mas que n50 resultou em nenhuma ação concreta. (") Pelo lado dos mili- tares que apoiavam jango, o illmirante Aragão, dos Fuzileiros Nava is, afi rmou "Eu não prendi o Lacerda porque não tinha ordens nesse sen ti - do, embo ra fosse a favor da invasão do Palácio Guanabara". já o então corone l av iado r Rui Moreira Lima, que comandava a aviação de caça na base de Santa Cru z, sobrevoou a co luna de Mourão Filho que se des locava para o Ri o, mas não ataco u as tropas go l pistas por falta de or- dem para tal. "Não res istimos ao go lpe porq ue é ramos d isciplinados. Ex istiam uma cadeia de comando e uma hie rarqui a. 1 .. -] Só atirar ia com ordens. Sou um militar, atiraria se es ti vesse cumprindo uma ordem." (17) Partindo das análises que ganharam maior destaque nos anos 1990, destaco os resultados da pesquisa de um grupo do CPDOC da FGV- Rj a partir de depoimentos com militares. Dois tex tos publicados em 1994 podem ser tomados como exemplos de como os resultados dessas pesquisas caminhava m num sen tido inverso ao do que eu constatava, ao discutir a res istência possível ao golpe. Em reforço ao argumento dos militares go l pistas entrev istados, tenderam a afirmar que inexis tiu qua lquer poss ibilidade de res istência, já que o dispos itivo militar de j8ngo ca iu como um cas telo de cartas. Cabe aq ui, en- tretanto, confe rir maior atenção aos objeti vos gera is daquelas an áli ses, do que ao aspecto es- 16 - BASTOS, Paulo Mello. Salvo conduto. Um vôo na história. Rio de Janeiro: Garamond, 1998. 17 - Depoimentos regis trados por Moraes, Dênis de. A esquerda e o golpe de 64. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo. 1989, pp. 163 e 165. 'r L. 12· Ox trrlb(tfIJntllJrl!.~ e (J golpe tle 1964: 11111 balanço tia histuriografia pecífico da possibilidade de resistência ao go l- pe. O primeiro texto é de Gláucio Ary Soares, "O golpe de 64".(18) O objetivo central do artigo é contestar as teses que atribuem a precedência expli cativa do golpe aos fatores econômicos mais gerais (re- solução da crise de acumulação capitalis ta) . Para o autor, buscar os atores seria essencial e entre eles, privilegia os militares, que afi nal de contas deram o golpe. A análise se faz quase que exclusivamente a partir do di scurso dos militares, o que gera um grave risco de queda na armadilha da "i lusão biográfica" e de falta de críti ca da fonte o ral, que como qualquer ou- tra fonte necess ita ser contextualizada. il9) O au- tor, em muitas passagens, toma aqueles depoi- me ntos como d ados, tr a táveis inclu sive quantitativamentc. C ontrapõem-se 3 5S Lnl, sem maiores problematizações, as memórias dos gol pis tas com as análises acadêmicas sobre o golpe e conclui-se pela correção das primeiras, identifi cando diretamente dos depoimentos os "motivos do golpe" como sendo: "]". Caos, de- sordem, instabilidade; 2". Perigo comunista e subversão; 3". Crise hierárquica militar; 4". In- terferência do governo nos assuntos, na llierar- quia e na disciplina militar; 5". Apoio popular ao golpe; 6". Corrupção, ro ubo de verba públi - ca; 7". Sindicalismo, república sindica l." i2O) O autor reconhece a conspiração militar para dar o golpe desde a saída de )ânio, mas enfati za que ela não possuía um comando orgânico. A partir dos depo imentos, tomados quase que como o es tabelecimento da versão definiti va sobre a participação militar, contesta as teses da historiografia, para ele resumidas às seguin- tes combinações: de uma conspiração dos gru- pos econômicos bras il eiros; de wna conspira- ção dos grupos econômicos brasile iros com apoio do governo ameri can o; de uma conspi- ração dos grupos econômicos brasileiros com apoio dos milita res e das multi nac ionais e de wna conspiração dos grupos econômicos bra- sileiros com apoio das multinacionais. Escolhe a opção, apontada pela grande maioria de seus entrevistados militares de Lun a "conspiração dos militares com apoio dos grupos econômi- cos brasileiros." (2 1) Trata-se de uma contrapos ição ~ s teses de Dreifuss de que o golpe fo i movido pela ação organizada do grande capital nacional e asso- ciado, com apoio militar e da política externa dos EUA .. Mas, o trabalho de Dreifuss é trata- do com respeito, apesar de questionado. Para Soares, os "grandes avanços, como o li vro hoje clássico de Dreifuss a respeito da part icipação dos grupos econômicos organ izados, requerem pesquisa detalhada, cuidadosa e cansativa". (22) Sistematizava-se ali algo que aparcc il:l no' primeiro li vro com as entrevistas do mesmo projeto, segundo tex to a considerarmos. i") Na introdução desse último, aparece a idéia de que hav ia não um grupo dirigente, mas pelo me- nos dois grandes pólos go l pis tas entre os mil i- tares: o da "Sorbonne" e o da tropa. A ponta-se que os líderes (Costa e Silva e Cas telo Branco) só aderiram à cons piraç50 no últinlo momen- to. Faz-se também a s uges tão de Crí ti Gl b hi storiografia a partir da posição dos mili tares, em pelo menos dois pontos centrais. O primei ro deles fi xa que a "op in ião milita r dominante define o go lpe corno resu ltado de ações di spersas e iso ladas, embaladas, no en- tanto, pelo clima de inquietação e incertezas que invadiu a corporação. Esta visão se cont ra põe à interpretação predominante entre os anal is- tas que até agora examinaram o episódio. PiJ ra estes, o golpe teria s ido produto de um amplo e bem-elaborado plano conspirató rio que en- volveu não apenas o empresa ri ado naciona l e os militares, mas também as fo rças econôm icas nlultinacionai s". (2-1 ) Já o segund o íJrgumCnl"o 18 --:- SOARES, Gláucio Ary . o golpe de 64. In SOARES, GJáucio Ary & ARAÚJO, Maria Celina O' (orgs.) 21 anos de regime militar: balanços e perspectivas. Rio de Janeiro: FGV, 1994. 19 - Sobre a HiJusão biográficaH, ver o texto com esse título de BOUROIEU, Pierre em FER REIRA, Marreta de Moraes & AMADO, Janaína. Usos e ablJsos da hislória oral.Rio de Janeiro: FGV; 1999. 20 - SOARES, G. A., O golpe de 64, oh.cit., p. 30. 21 - Id.ib .• pp.34·35. 22 - Id.ib .• p. 37. 23 - ARAU JO. Maria Celina O', SOARES, Gláucio Ary Oilon e CASTRO, Celso. Visões do golpe. A memória militar sobre 1964. Rio de Janeiro: Relume Durnará, 1994. 2 U ;.\,ttíria & [. /lla de CtaHes -13 centra-se na constatação de que os "depoentes concordam que não havia um projeto de go- ve rno entre os vencedores: o movimento foi contra, e não a favor de algo". (25) O primeiro ponto sugere o questionamento das análises hi stóricas baseadas em fontes que revelam as articulações e a partici pação do gran- de cap ital (e de milita res) numa conspiração gol pista, usando como única ev idência os de- po imentos dos que participmam do go lpe. Tais depo imentos, mesmo que fossem "sinceros", foram dados por oficiais que em 1964 ocupa- vam postos de segunda ordem (ca pitães, coro- néis) e, portanto, tinham papel secundá ri o na conspiração, como os próprios auto res ressa l- tam: "Os militares que aq ui depõem em sua maiori a não tiveram lima lideran ça dcstacadJ nos preparativos do go l pe." (26) Cabe en tão a per- gunta: se não tiveram li derança, como podem se r fon te usada pa ra contrapor-se às análi ses dos regis tros dos seto res que tiveram papel de liderança nesses "preparati vos"? O segundo ponto também é ques ti onável quand o se consta ta que, logo nos primeiros meses de governo militar foi aprovada uma sé- rie de medidas que tinham s ido estudadas e s is- temati zadas pelo IPES antes (como demonstra Dre ifuss). E quem as executou foram ministros e outrns auto ridades que integravam, com des- taque, os quadros do mesmo IPES. Ou seja, ain- da que se possa ad mitir o ca ráter fragmentado da direção golp ista em 31 de marçoj]0. de ab ril de 1964, é difícil não perceber que o go lpe vi- nha sendo prepa rado de muito antes, por uma a rti cul ação que ia além dos militares, envo lvia os interesses de classe do grande capita l e isto se demonstra pela própria linha de inte rven- ção do Estado nos momentos segu intes. Dessa mesma época (cerca de 30 anos após o go lpe) é o traba lho de Argelina Figueiredo l'7). A autora também es tá preocupada em conl'es- 24 - Id.ib .• p. 16. 25 - Id.ib .• p. 18. 26 - Id.ib., p. B. tar as análises anteriores, baseadas em exp lica- ções "estruturais" (econômicas, mas também políticas - como a idéia de crise institucional) e, principalmente naquelas interpretações "in- tencionais" - leia-se Dreifuss. Pa ra Argelina: "Este tipo de análise [ ... 1 falha em fornecer uma expli cação real, pois toma a mera existência de uma conspiração como condição suficiente para o sucesso do golpe político. Os conspiradores são vistos como onipotentes. Conseqüentemen- te a ação empreendida por eles não é ana lisada em re lação a outros grupos, nem vista como sendo limitada po r quaisquer constrangimen- tos ex ternos(28l." Sua opção de análi se, em contrapos ição, é privilegiar os momentos críti cos do governo Goulart, empregando a teo ria da esco lha racio- nal. Tal refe rência teóri ca pode ser ava liada, numa leitura críti ca, apesar de sua anunciadJ relação com O nlarxismo, como uma va ri ante do individualismo metodológico, que toma o com- po rtamento dos agentes sociais como O dos in- divíduos dotados de margens ampl as de esco- lha c racionalidade direta na sua ação social. (2'.1) A autora tenta prova r que hav ia um cami- nho parn refo rmas moderadas dentro da ordem democ ráti ca c que os "a tores" esco lheram maximiza r suas possibilidades, em detrimento dessa ordem: os reformistas querendo reformas amplas e os con trários às reformas d ispostos a tudo para ba rrá-Ias. Sua conclusão é explícita: "A lém dessas razões lum c6 lculo o portunis ta de van tagens em tencionar pelas reformas am- plas l, um outro fato r contribuiu para impedir a rea li zação de qualquer das duas poss ibilidades de combinar reforma e democracia, ou seja, j] visão instrumentaJ de democracia, mantida tan- to pela direi ta como pela esquerda . De fato, os grupos esquerdi stas e pró- reformas buscavam essas reformas ainda que ao cus to da democra- cia. Para obte r as refo rmas, propunham e es l'a- 27 - FIGUEIREDO, Argelina C. DCIIIOCf<1ci,1 ou reform.1s? Alternativas democráticas à crise política: 1961 -1964. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993. 28 - Id .ib .• p. 28 . 29 - A teoria da escolha racional é defendida, entre outros, por Adam Przeworski, orientador da tese de Argelina Figueiredo. Dele, em português, pode-se ler Capitalismo c social-d~mocracia. São Paulo : Cia. Das Letras, 1989 . Para uma critica desse tipo de concepção ver SENSAIO, Daniel. Marx, o jntempcsfivo. Gra ndezas e misérias de uma aventura crítica. Rio de Janeiro: Civilizaçáo Brasileira, 1999. r 14 - Os Iraballl adore.\' e o go lpe de J 964: um balall ço da hüloriog raf ia vam dispostos a apoiar soluções não democrá- ticas. Aceitavam o jogo democrá tico somente enquanto fosse compatível com a reforma ra- dical. A direita, por outro lado, sempre esteve pronta a quebrar as regras democráticas, recor- rendo a essas regras apenas quando lhes eram úteis para defender interesses entrincheirados. Aceitavam a democracia apenas como meio que lhes poss ibilitava a manutenção de privilégios. Ambos os grupos subscreviam a noção de go- verno democrá tico apenas no que servisse' as suas conveniências'. Nenhum deles aceitava a incerteza inerente às regras democráticas(JO)." Se as pesquisas sobre os militares acima ci- tad as tinham os mesmos alvos de críti ca à his toriografia ante rior que Figueiredo, o faz i- am sem caricaturar an álises como a de Dreifuss e parti am do pressuposto de que os responsá- veis pelo golpe fo ram os que o deram, procu- rando explicá-lo a partir daquele ator que teve a visibilidade do poder - os próprios militares. Foram importan tes, por apresentar as razões que militares alegaram para mover-se nessa di- reção, embora possamos achar que não tenham ido "além da aparência para explicar a essên- cia" do processo. Já Argelina Figueiredo atri- bui a responsabilidade pelo golpe tanto aos que o deram quanto às fo rças que defend iam as re- formas e foram atingidas pelo golpe. Essa explicação é insustentável, porque, do ponto de vista teó rico, parte do pressu posto de que o Estado é um ator neutro, que paira acima das disputas da sociedade, podendo caminhar movido pelos dirigentes eleitos ou pelos que o assa ltam, como se es tes tivessem o papel de condutores de um veículo, uma máquina bu ro- crática cujo rumo é ditado pelo seu operador. Além d isso, toma a democracia como um tipo ideal, que atende a todos os interesses (mesmo que parcialmente ou periodicamente), se todos os atores concordarem com suas regras. (31) Por outro lado, empiricamente, despreza o fato de que as reformas propostas não eram radica is, embora a retórica às vezes fosse, pois a reforma agrária - a principal reforma de base 30 - FIGUEIREDO, Argelina, Democracia ou { ... }., ob. cit., p. 202 . proposta - foi uma tarefa cumprida pelos go- vernos burgueses na maior parte do mundo e o que se propunha no parlamento, sem encon- trar espaço para negociação com a maioria, era apenas garantir as condições para a indeniza- ção em prazo mais largo (sequer a expropri a- ção) dos latifundiários. A Reforma Universitá ria concentrava-se em democratizar a gestão das instituições e ampli - ar o acesso, tarefas já cumpridas em out ros pa- íses da América Latina desde o in ício do século xx. Já O controle da remessa de lucros poderia ser parte de um plano econômico de qua lquer governo menos comprometido com os interes- ses das multinacio-nais, sem signi fi car neces- sari amente um fechamento do mercado. Além disso, não se leva em conta que as for- ças mais importantes da esquerda naquele pe- ríodo defendiam caminhar dentro da ordem democrática. O PCB, por exemplo, defend ia a tese terceiro-internacionalista da revolução de-mocráti co-burguesa, ou seja, da aliança com a burgues ia nacional para viab ili zar a primeira etapa capitahsta das transformaçôes pelas qua is o país deveria passa r, aceitando "as regras do jogo democrático" nos limites em que elas se apresentavam então. Lúcio Fláv io Almeida demonstrou o quanto de equívoco haveria em, ao "avali ar os progra- mas do Partido Comunista frente 11 questão de- mocráti ca, atribui r-lhe uma concepção de de- mocracia que não era a dele", como as concep- ções de Norbe rto Bobbi o, o u a con cepção procedimental de Schumpeter, que parecem orientar algumas análises. Ainda ass im, toda a linha política da "De- cla ração de Março", de 1958, do PCB, estava centrada na defesa de wna frente única, em que os comunistas apoia riam os "elementos nacio- nalistas e democráti cos" da burguesia brasil ei- ra e das políticas de Estado. Isto, mesmo sendo possível d iscern ir naq ue- le contexto que o nacionalismo de algumas das lideranças apoiadas pelos com un istas estava longe de ser antiimpe-ria lista, sendo suas con- 31 - Sobre os limites da democracia contemporânea e a incompatibilidade entre o conceito clássico de democracia e o capitalis mo, ver WOOO, Ellen. Democracia contra capitalismo. São Paulo: Boitempo. 2003. -- /f ÜrtÍr;{/ & I .llra de C{(l.o(' .\" - 15 I vicções e prá ti cas democráti cas de "baixíssi ma intensidade". A mobi li zação das classes populares no go- verno Coulart colocavam "na ordem do d ia três fortes itens da revo lução burguesa - as ques- tões agrária, naciona l c democrática". O prob lema, po rtan to, não cst~H i a na falta de compromisso democrático da esqu e rd a identifi cada com essa mob il ização, mas ao con- trário, !li] cOlllp lcta ausência de sentido na pro- posta de uma revo lução burguesa pa ra uma burguesia que não precisaria de nenhuma re- volução para fazer va ler seu projeto de classe.!'2) Na prática, a opção pela atuação nos marcos do s is tem" se ria demonstrada também pelos princi pais sind icatos li gados ao CCT, quando es tes rejeitaram, em fins de ]963, a tentati va de Jango de implanta r o Es tado de Sítio. O pró- prio Jango, com apo io dos comand os militares, encaminhou a so lici tação do Es tado de Sítio ao Congresso Nac ional, aguardo u a resposta - negativa - e desistiu dn idéia, dClllonstra ndo que mesmo quando aind(l con tava C0l11 susten- tação nas Forças Armadas, não es tava disposto a ro mper com a lega lidade vigente. Não se toma em conta também que aquc la democra ci21 era res trit a até mCSlllO parn os parâmetros daquilo que bs vezes é adjetivado corno democracia "burgucsa-rcpresentati va-li- beral". O PCB não possu ía regis tro lega l, a es- trutura s ind ica l era a herdada da d itadu ra varguista, a polícia políti ca t~lInbém era uma pe.rmanência daquela fase e mostra va-se Gldi1 vez mais especinli zZldZl e atuante, apenas pJ rll listarmos alguns elementos que dizem respeito às organizações dos traba lhadores. o debate em 2004 Nestes quarenta anos do go lpe, para quem acompanhou os seminár ios, cadernos es- peciais da imprensa e publicações especia li - zadas, parece ser ev idente que a lgumas teses de cerca de dez Zl nos Zl trás foram supervalori - zadas, enquanto o acúmu lo anteri or de pesqui - sas foi s is tematicamente negado. O que acabou por ge ra r uma reação, que revela a ex is tência de um debate forte entre setores uni vers itá ri os, alguns dos quais an tes caminha- vam no mesmo sentido e hoje pa recem trilhar rumos opostos. As aná lises produzidas em to rno de 1994, nas pesquisils do CPDOC sobre mil ita res fo- ram exacerbadas po r traba lhos recentes, como O de El io Cas pari , que não SÓ nega qualquer mo tivação econõmi co-socia l, e qu al CJ uer n í- vel de co nsp irilç50 a rti culilda ("o exé rcito dormiu janguista e acabo u revolu cionário"), como at ri bui o gol pe e os caminhos da dil'a- dura ao jogo das indi v idualid"des dos pe r- sonagens - Ja ngo vac il an te ou os militares ma is moderados o u mais du ros por pe rsona- lid ade - e às contin gências fac tu a isP3) Sem menosprezll r sua reda ção ca ti vante e a ap resen- tação de algumas fontes que confi rmam o u nc- gam propos ições antes mal fundamentadils, tra- ta-se da recuperação do melhor es tilo da hi stó- ria "acontecimental" do século XIX, cr iti cada pelos Al7alles. Anólises e explicações causa is são substituí- das po r descrições de acontec imentos, movidos pelo sabor do acaso, desaguando em conclu- sões que beiram o paradoxo: "O levante se ap re- sentara como um mov imento em defesa da or- dem constitu cional, mas a essência dos aconte- cimentos negava-lhe esse caminho".I") O que é "a essênc ia dos acontecimentos"? O mesmo senti do de aná lise centrada excl u- sivamen te nas poss ibilidades de ação e reação dos chefes políticos a limen ta a biografia de Jango escrita por Marco Antonio Villa. Neste caso, um personageI11 ao qual se at ri - bui uma responsabilidade nega tiva, po issegun- do o auto r, João Coubrt "pela posição que ocu- pava poderia te r imped ido" que se chegasse ao 32 - ALMEIDA, Lúcio Flávio Rodrigues de. Insistente desencontro: o PCB e a revolução burguesa no período 1945-64 . In MAZZEO, Antonio Carlos & LAGOA, Maria Iza be l (orgs .). Corações Vermelhos: os comunistas brasileiros no século XX. São Paulo: Cortez, 2003. pp. 88,116,121 -2. 33 - GASPARI, Elio . A ditadura cnvcrgonhada. São Paulo: Cia das Letras, 2002. 34 - Id.ib" p. 111. r J tí • 0.1' 1f(lI}(lfll(uf(}re,~ e fI ga{JlC lle /964: .11/11 IJOlall ço da IJi sloriografia impasse cuja saida foi o golpe. I~'I Caspari tam- bém retomou as teses de Argelina Figueired o, radicalizando-as. Não apenas inex istia o C0I11- promisso da esquerda com a democracia (tanto quanto o da direita), como para ele "hav ia dois go lpes em marcha. O de Jango viria amparado no 'dispositivo militar' e nas bases sindica is, que cairiam sobre o Congresso, obrigando-o a apro- var um pacote de reformas e a mudança das regras do jogo da sucessão presidencial." I"1 Ta l radicalização dessas teses - não apenas inexistialn cOlnprolni ssos com a denlocracia, como também esquerda e direita caminhavam para o golpe - parece agora ter se tornado a tô- nica das análises que receberam maior destaque nos debates dos últimos meses. Jorge Ferrei ra, por exemplo, em mtigo para uma revi sta de d i- vu lgação que repetia argumentos de um texto de maior fô lego,!"1 anali sando os últimos dias do governo Coulart, afirma o seguinte: "O con- flito político entre esquerdas e direitas tomou novos rW)l OS. Não se tratava mais de saber se as reformas seri am ou não implemen-tadas. A ques- tão central era a tomada do poder e a imposição de projetos. Os partidári os da direita tentariam impedir as a lterações econômicas e sociais, sem preocupações de respeitar as instituições demo- cráticas. Os grupos de esquerda ex igiam as re- fornlas, Ina5 tanlbéln scnl vLl lori zar a dClllocra- cia. [ ... 11 Passa a citar Argelina Figu eiredo, e con- clui] . Entre a radicali zação da esquerda e da di - reita, uma parcela ampla da populaç50 brasil eira apenas assistia aos conflitos - em s il êncio." 1"'1 Ou seja, segundo esse autor, esquerda e di- re ita lu tavam naquele momento pela tomada do poder, por vias não democráticas, como que nWl1a corrida em que largavam em igualdade de condições e objetivos idênticos, tratava-se de observar apenas quem fo i mais forte ou che- gou antes para definir o rumO do país. Além disso, defende que o momento era de radica li - zação, mas o povo assisti u a tudo bes ti ali zado. Centenas de milhares nas ruas com Jango, cen- tenas de milhares com "Deus pela Li berdade" contra Jango, greves em quan tidades cada vez maiores (38 greves em t rês meses só no Rio de Janeiro em 1964, quatro vezes mais que no mes- mo período do ano anterior), levantes dos bai- xa-patentes das forças ilnnadas, mil itares em marcha ... e "uma parcela ampla da popul ação" em silênci07 Ao acreditarmosnessa hipótese estaremos concordando que a di n5mica políti- ca é dada por esquerda e di reita em seu jogo pelo poder, pela via democrMica ou não. Es- querda, direita, "povo"; onde estão os empre- sários, os trabalhadores, os setores intermediá- rios: onde es tão as classes e seus confl itos? Além d isso, também aqui onde encontramos o mesmo argumento de Argelina Figueiredo (ta l- vez um pouco mais simplificado), podemos le- vantar as mesmas pondcmções. Além de alguns d iscursos mais radica lizados, de lideranças como Bri zo la, Ju lião ou Prestes, onde estari am as evi- dências concretas de tal "golpismo" das esq uer- das, se os trabalhadores não pegaram em óJr J11as, os mil itares fiéis a CouJart evitaram o combCl te aguardando as ordens lega is e o próprio prcs i- dente reti rou-se ev itnndo a confrontação7 Caio Nnvar ro de ToJcdo, criti cando ta is for- Illlll ~çõcs, assin.:lla com prccis50 que j) "afirma- ção de golpislllo das esquerdas tem efeitos ideo- lógicos precisos; de imed iato, aj uda a rcfol\'"r as versões difundidas pelos apologetas do go l- pe político-militar de 1964. Mais do que isso: contribu i para legitimar a ação go l pista vito ri - osa ou, na melhor das hipóteses, atenua as res- ponsabilidades dos militares e da direita civil pela supressão da democracia política em 1964. A direita gol pista não pode senão aplaudir esta ' revi são' hi stori ográfi ca proposta por alguns intelectuais progress is tas e de esquerd a".!"'1 Re- ferind o-se a in telectu a is de esqu erda, Caio Navarro com certeza mira naqueles com passa- do de luta contra a d itadura que ago ra defe n- 35 - ALMEIDA . lúcio Flá vio Rodrigues de . Insistente desencont ro: o peB e a revolução burguesa no período 1945·64. In MAZZE O, Antonio Ca rlos & LA GOA, Maria Izabel (o rg s.) . Corações Vermelhos: os comunistas brasilei ros no século XX. São Paulo: Cortez, 2003 . pp . 88 , 116, 121-2. 36 - GASPARI, Elio. A ditadura envergonha(la. São Paulo: eia das l etras , 2002 37 - VlllA. Marco Anto nio. Jango: um pe rfil (1945-1964). São Paulo . Globo. 2004, p.2 41. 38 - Gaspari, Elio . A ditadura r .. I . . ob. cit., p. 51. 39 _ FERREIRA, Jorge. Sexta-feira 13 na Central do Brasil. Nossa História. N° 5. Rio de Janeiro, Bibliot eca Nacional, março de 2004. As idêias centrais são apresentadas com maior vag ar em FERREIRA, Jorge. O governo Goulart e o golpe civil-militar de 1964. In FERREIRA , Jorge & DRAGADO, l ucília de Almeida Ne ves (orgs.) . O Brasil Republicano. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira , 2003. V. 13. lIi .alÍr;a & /. /11(/ (Ir C/aHp' - 17 I dem a tese da resposta de direita ao go lpe pla- nejado pela esquerda. Algo que atraiu a aten- ção a té mesmo da grande imprensa, po is o de- bate ganhou as páginas dos jornais. Dando foro de maior legitimidade à nova pro- posta interpretativa, por seu passado na luta ar- mada, Daniel Aarão Reis Fi lho, conforme a re- portagem do jornal O Globo, teria caracteri zado as esquerd as na res istência à ditadura C0l110 anti- democráticas e afirmado que se vitoriosas fos- sem, poderiam ter gerado um confron to ainda pior e um regime de exceção mais violento: "Fa- lava-se em cortar cabeças, essas palavras não eram metáforas. Se as esquerd as tomassem o poder, h8vcria, provavelmente, a resistência das direitas e poder ia acontece r um confro nto de grandes proporções no Brasil. Pior, haveria o que há sempre nesses processos e no co roamento del es: fuzilamento e cabeças cortadas". I"') Para que não tomemos como aná li ses do a utor a síntese de um jornal di á ri o, podemos reco rrer a um texto em publ icação acadêmica recente. Re is Fil ho pa rte do obje tivo de demo ns- trar que a atri buição de wn caráter de "resis- tência democrática" à ação das esquerdas no período da ditadura militar é uma invenção datada da fase da redemocratização, pois as esq uerdas da luta 3nl1ada seriam antidclllO- cráticas c vi sarialn a im plant'ação do socialis- mo - por e las e nte ndid o co mo incompatível com a democracia - pela via revolucionári a. E isso não seria, segundo o autor, ama novidade, po is já n o in ício dos anos 1960 o des prezo pela democracia se manifestara nas esquerdas que " ineb ri adas pela v itó ria de agos to de 196:1 [a posse de Cou lart, após a re núncia de Jâni o Quadros l, passaram à ofensiva polí tica, e desa- fiavam abertamente a legal idade ex istente". Dava-se assim o argumento que faltava para que a direita assumisse o discurso da defesa da legal idade, consegu ind o mobilizar um mov i- mento civ il de grandes proporções " para legi- timar posições favoráve is à in tervcnç50 milit·Llr golpista" .I41 ) Desse ponto de vista, que confun- de o objetivo estra tégico da cons trução do so- 40 - FERREIRA, J. Sexta·feira I ... ]. Ob. cit ., p. 35. ciali smo, compartilhado pelos militantes de es- querd a, com um suposto uso cínico das ban- deiras de res istência democráti ca cont ra a dita- dura, acaba-se por reforçar O discurso dos mili- tares de que o motor do golpe foi a ameaça de uma ditadura comunista, permüindo a matéri- as jornalísticas aproximar acadêmicos "de es- querda" e defensores d o golpe, na pcrspectiva de que ev itava-se um mal Inai or. Tem razão neste sentido Marcelo Ridenti, que cri ticou a concepção de Reis Filho, defenden- do a idéia de que havia um componente assu- mido de resistência nas proposições de v6r ias d as organi zações de esqucrda daquele período e que ainda que muitas delas não prio ri zassem a "resistência democrática", o resultado de s ua ação foi o de uma Juta de resis tência contra a ditadura. Para Ridenti, o que os pesquisadores nem sempre aval iam é que "nos anos 60, antes e depo is do golpe de 1964, a ques tão da demo- cracia es tava no contex to da guerra fria, em que os Estados Un idos não hes itavam em apo iar golpes militares para garantir o poder de seus aliados na Amér ica Latina, ditos libe rai s e de- fensores da democracia ... " Em seu argumento, se os es tud iosos não po- dem controlar o uso de suas pesquisas h;stór i- as nos embates políticos do presente, devem ao menos "estar conscientes de que o realce ana lí- ti co de alguns aspectos, em detrimento de ou- tros, pode leva r a interpretações equivocadas da realidade hi stórica como um todo". As inte rpretações da "fa lta de democracia das esquerdas" acabaram por ser incorporadas "por aqueles que isentam seto res s ignifi ca ti vos da sociedade civil de cumpli cidade com a dita- dura - e até pelos que chegam a justificá-Ia", ainda que essa não fosse a intenção daqueles estudiosos. I") O que está em jogo nessa guina- da à direita de uma parte da historiografia aca- dêmica sobre o go lpe de '1964, não pode se r di s- so-ciado d e um processo maio r de d o míni o conse rvador nas aná li ses hi stó ri cas e no pen- samento universi tário em geral, fruto em gran- de medida do contexto neo libe ral de ava nço 41 - TOLEDO, Caio Navarro de. 1964: golpismo e democracia. As falác ias do revisionismo. Crítica Marxista. No. 19 . Rio de Janeiro, 2004, pp. 44-45. 42 - O Globo. Rio de Janeiro, 29/03/2004. 43 - REI S FILHO, Daniel Aarão . Ditadura e sociedade: as reconstruções da memória. In REIS FILHO, D. A. ; RIOENTI, Marcelo & MOTIA, Rodrigo Patto. O 90lpe e a ditadura militar 40 8110S depois (1964-2004). São Paulo: EdUSC, 2004. pp. 38-9. 44 - RIOENTI, Marcelo. Resistência e mistificação da res istencia armada contra a ditadura: armadilhas para pesquisadores. In Id. ib., pp . 62 e 64 .. 18 - Os trabalhadores e o golpe de 1964: 11m balanço da historiografia da ordem do capital nos anos 1990 e na déca da em curso. Pode ser interessante pensar tam bém como é importante para certos setores in telectuais, neste momento do governo Lula, absolutizarem a dimensão formal da democra cia representativa e o caminho da moderação nas reivindicações populares - mesmo as rei vindicações de reformas limitadas são perigo sas e o único caminho é a paciência dos de bai xo para que, atravésdas urnas, do parlamento e das leis, se desperte a possibilidade de con cessões leves e graduais dos de cima. Não deixa de ser triste observar como, nes te seu vôo revisionista, aCJbam por somar-se ao coro dos que, desde 1964 querem absolver os golpistas para condenar os atin,gidos pelo golpe. Assim, nesta versão, o golpe não se deu para controlar os trabalhadores e garantir o pro jeto empresarial, mas foi decorrência de uma intransigência mútua, senão de wna maior res ponsabilidade "das esquerdas". No fundo, é a matriz mesma de explicação da história que se coloca em questão. Não ape nas se quer apagar, ou estigmatizar como inexistente (por descompromisso com wna de mocracia modelar, de resto distante da realida de política do Brasil na época) a resistência con tra o golpe militar e a ditadura por parte das organizações da classe trabalhadora e de ou tros setores sociais. Pretende-se mesmo afastar de vez o fantasma das classes e da luta de clas ses como centro da explicação da trajetória dos homens no tempo. Mas, o espectro não se can sa de rondar. _ ALMEIDA, Lúcio Hívio Rodri gues de, In sistente desenconrro: o PCB e <l revolução burgu esn no período 1945-64. !n MAZZEO, Antonio Cmlos & LAGOA, M :trin Iznbel (orgs.). 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