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Resumo do Cap I: A genese da geografia moderna Geografia Universidade Federal da Bahia (UFBA) 8 pag. Document shared on www.docsity.com https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark RESUMO: A GÊNESE DA GEOGRAFIA MODERNA. MORAES, ANTONIO CARLOS ROBERT. CAPÍTULO I (p. 15-75). EDITORA HUCITEC, SÃO PAULO, 1989. O marco inicial da Geografia Moderna é dado pela publicação das obras de Humboldt e Ritter, que criam o arcabouço necessário a sistematização desta ciência, de acordo com as perspectivas metodológicas e filosóficas desses autores. É de fundamental importância conhecer, também, os pressupostos históricos desta ciência, os pressupostos filosóficos e os porquês de sua gênese cientifica e sistemática na Alemanha. As condições necessárias para a gestação desta ciência “foram geradas no longo processo de transição do Feudalismo para o capitalismo, processo esses que implicou o estabelecimento de uma história universal” (p. 16). O modo de produção capitalista é, por essência, um ampliador de horizontes espaciais, desde os primórdios de seu florescimento. Um pressuposto histórico ou cronológico da geografia, e também corológico, é o conhecimento efetivo de todo o planeta que começa a se desenvolver a partir da ampliação do horizonte ecúmeno europeu, subsidiado pelas grandes navegações. Se o saber geográfico é cognoscibilidade espacial, a geografia enquanto “consciência de mundo” expande seu horizonte de aspiração a partir de tal fenômeno histórico; é de se destacar o avanço cartográfico desta época, o conhecimento de “novas naturezas” e de novos povos, fundamentado num processo de desenvolvimento cada vez mais cientifico e prospector de territórios, criador de colônias. “Com o progresso da exploração colonial, o levantamento de informações das particularidades encontradas vai sendo executado de forma cada vez mais criteriosa e detalhada” (p. 18); com isso há o acúmulo de informações necessárias à comparação entre áreas, pois a empiricidade leva ao reconhecimento da diversidade espacial, apesar da emergente unidade do espaço; nas palavras de Moraes: “dois condicionantes articulavam a questão basilar desta disciplina: a busca de uma relação teórica entre a unidade da superfície terrestre e a diversidade dos lugares. O Document shared on www.docsity.com https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark primeiro ponto remetia a uma consciência mundializada, e o segundo, à consciência de composições diferenciadas nas singularidades locais” (p. 20). No entanto, não é só de pressupostos históricos e técnicos que nasce a geografia moderna, é de se ter em vista a pertinência do destaque da classe de idéias que tendem a se desenvolver, ou a evoluir, para a construção do temário geográfico moderno, a exemplo do referendado pensamento científico e filosófico. “Neste caso, a condição de realização passa a ser não apenas um desenvolvimento histórico, mas o desenvolvimento da historia das idéias” (p. 20). Tais desenvolvimentos criam pilares de sustentação das ciências modernas, não só a Geografia, mas da Botânica, a qual Humboldt é referencia, a Zoologia e Geologia, que também tem forte contribuição deste pensador, sendo de extrema importância lembrar que a pesquisa empírica, inerente a ciência, não era oposta a discussão filosófica, ou a divagação abstrata, pois se integravam num corpo unitário do pensamento. “Buscava-se compreender a natureza para se compreender a natureza humana” (p. 22). São inúmeros os pensadores a caminhar neste sentido, sejam geógrafos ou não, a exemplo de Humboldt como expoente geográfico e de Montesquieu como profundo formulador de teorias integradas, que relacionavam as relações humanas com as relações naturais e suas repercussões no social. Levantado o importantíssimo papel da unicidade dada entre ciência e filosofia, detenhamo-nos num outro ponto relevante a compreensão do fenômeno geográfico moderno: a particularidade histórica do desenvolvimento do capitalismo na Alemanha. No quadro europeu de desenvolvimento dos Estados Nacionais, a Alemanha teve um dos mais tardios traços de consolidação do Estado, mais especificamente a 18 de janeiro de 1871 chega-se a união alemã. Frente ao longo quadro histórico europeu que teve fortes intervenções no caso alemão, por ser Alemanha constituinte européia, tendo em vista, que uma analise histórica nos remete as questões mais remotas, desde a abordagem do Império Carolíngio ao Sacro Império Romano-Germânico que tem fortes repercussões no mundo feudal. A passagem por um mundo feudal deixa a Alemanha fragmentada em unidades territoriais e políticas, isto é, atomicizada. Cada unidade tem sua organização política, militar e seu grau de identidade Document shared on www.docsity.com https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark regional, sendo assim a realidade alemã, percebida, até então, pelas idiossincrasias locais, não havendo identidade alemã, pois não há unidade. Quando na história européia emerge os centros comerciais e urbanos, inexisti na Alemanha uma capital que sobressaísse no território, a profusão de centros com a mesma importância e densidade cria até mesmo um caráter competitivo entre as áreas. “O desenvolvimento urbano, que noutros países europeus representou nesse período um elemento impulsionador da unidade nacional, no caso alemão apenas complica mais o quadro fragmentário” (p. 29). Um outro agente consolidador do fragmentarismo alemão é a Reforma e, também, as guerras camponesas, a Reforma pois coloca as unidades pró e contra as idéias de Lutero, num processo que leva a guerras entre principados; no que diz respeito as guerras camponesas Moraes não deixa muito claro como afetam a sedimentação da fragmentação, apenas usa a seguinte citação de Engels como justificação: “O principal efeito das guerras camponesas foi aguçar e consolidar a divisão política da Alemanha [...]” (p. 30). Entretanto, é de se especular que sendo o camponês um profundo tentador a propriedade privada, os interesses particulares de diferentes grupos na questão da terra podem causar efeitos substancias nas divergências locais que contribuem significativamente para a acentuação da não-unidade. Em termos genéricos, diz Moraes: “[...] tanto o desenvolvimento comercial e urbano quanto a reforma e as guerras camponesas, que em outros países da Europa atuaram no sentido da consolidação do poder central e do Estado Nacional, na Alemanha reforçaram a fragmentação e a aristocracia feudal, revigorando relações sociais típicas do feudalismo, como a servidão e a vassalagem” (p. 31). É neste cenário que a Alemanha vai vivenciar a Revolução Francesa e o período napoleônico, mas como sempre a posição alemã variou bastante regionalmente, em função dos distintos interesses e poderio das classes em cada império. No entanto vale um destaque para as regiões orientais, principalmente para a nobreza agrária e para as monarquias absolutas mais consolidadas e poderosas, a exemplo da Prússia e da Áustria, onde o Document shared on www.docsity.com https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark movimento francês foi visto como um eminente perigo e que colocava em risco toda a ordem social, que ainda tinha fortes traços feudais. O programa de Napoleão, certamente, era de centralização do poder com a objetivação de ordenar o Estado para consolidá-lo a serviço das relações capitalistas. Em essência o projeto napoleônico era antagonicamente declarado a lógica predominante nos Estados alemães mais poderosos militarmente, pois estes, certamente sobreviviam da manutenção da ordem feudal. As contradições se instalam, e os Estados antinapoleônico, em especial o absolutismo prussiano é suplantado pelasimposições bonapartistas, mas “no bojo dessas transformações, a tese da necessidade da unificação nacional também vai se reforçar no campo da reação ao avanço francês” (p. 36). Tendo em vista que o pensamento romântico de alguns ideólogos, como Fichte e Herder, floresce como forma de resistência ao expansionismo francês e traz tentativas de construção de um sentimento de identidade nacional em oposição à hegemonia francesa, soma-se mais um fator preponderante à construção da idéia de unidade nacional. Em 1815 sucumbe Napoleão e a aristocracia remodela a Europa de acordo com os interesses monárquicos. Pelo fato da Inglaterra temer aos ideais napoleônicos, apoiou certamente a Prússia e algumas regiões da Alemanha a exemplo da Áustria que vão sair fortalecidos desses conflitos. No reordenamento territorial, de cunho aristocrático, os Estados alemães que eram cerca de “234 unidades políticas agregadas no Sacro Império em 1797, passou-se a menos de 40 no período pós- napoleônico” (p. 37). Emergem Áustria e Prússia como influentes potencias que instalam contradições pela direção política hegemônica da nação em gestação. A Prússia através de suas políticas expansionistas, ganha maior destaque, e toma a frente do processo de constituição do Estado alemão, através de uma política de prussianização de toda a Alemanha, alinhada a todo um aparelho de militarização e de onipresença do Estado e do controle político e aristocrático prussiano. Numa frase: “homogeneíza-se a Alemanha tendo por parâmetro a realidade prussiana” (p. 45). Neste emergente Estado inicia-se um processo de industrialização firmemente estabelecido e com subsídios para a competitividade na Europa, uma militarização extremamente relevante entre as potencias mundiais, porém, atrasada em sua estrutura agrária, sem colônias, Document shared on www.docsity.com https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark com uma institucionalidade calcada na força do Estado e com um sentimento de nacionalismo, subsidiado pela idealização romântica, exarcebado. Eis a Alemanha que inicia o século XX. Feita a exposição da peculiaridade do desenvolvimento do capitalismo alemão, pode-se desenvolver, também, compreensões do pensamento alemão do século XIX, porque a construção do pensamento é também, produto histórico. O espaço é palco da história e admitindo o pensamento também como um produto histórico é de se ter em vista que a realidade espacial da Alemanha contribui significativamente para as formas de pensamento que aí irão se desenvolver, até mesmo sua posição geográfica pode ser um papel relevante e interessante a destacar: “por um lado, vivencia, em função de sua localização, a contemporaneidade européia no plano das idéias. Assim, defronta-se com as questões e assuntos postos pela vanguarda do pensamento inglês e francês” (p. 51). Estando a Alemanha intricada entre essas duas potencias do pensamento Ilustrado europeu, o discurso alemão, com grandes sentimentos de nacionalismo, mas longe de pensar as realidades sociais internas como fazia o pensamento francês e inglês, vai se desdobrar em um caráter estritamente filosófico, configurando na realidade alemã aquilo que P. Arantes, citado por Moraes, vai chamar de “duplo presente” (p. 51), pois a realidade social alemã tinha as suas dimensões, mas estas, longe de serem pensadas pela intelectualidade local que estavam inseridas em tal realidade, mas que preferiam ser a consciência teórica dos outros povos, isto é, pensando principalmente, diga-se não unicamente, a realidade alheia. No entanto pode- se falar, a partir de outro viés, devido ao caráter dual alemão, ou seja, essa mesma divagação, digressão ou até mesmo evasiva da realidade local tem um papel preponderante na construção do romantismo que vai dar suporte a idéia de nação necessária a realidade alemã, no entanto os pioneiros dessa forma de pensamento trabalhavam com a ótica de nacionalidade e não com a de Estado, “e a questão da unidade nacional não se convertia diretamente num projeto político” (p. 54). Porém, todavia, o projeto político de unificação nacional e de criação do Estado alemão vai enxergar na filosofia romântica a dimensão catalisadora, que ela propicia, na construção do Estado, e, portanto, vai apoiar severamente seu desenvolvimento no aparelho ideológico institucional, que são Document shared on www.docsity.com https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark as escolas e universidades, desdobrando-se numa perspectiva científica do processo unificador, ou seja, as ciências alimentadas pelo ideal romântico vão empenhar-se, a partir de suas realidades metodológicas, em pensar um Estado alemão. “Deve-se lembrar que a Alemanha contava com todo um aparato de transmissão do conhecimento que fornecia condições materiais para o bom êxito de uma ampla difusão desse projeto ideológico: apenas para ilustrar, a Alemanha possuía dezessete mil universitários em 1870, contra dez mil da França; além disso, a idéia da unidade lingüística e de sua importância havia levado a uma preocupação com a educação primária, que fazia com que as taxas de anafalbetismo fossem aqui das mais baixas da Europa” (p. 60-61). Entendido o papel do aparato ideológico institucionalizado, compreende-se que no âmbito das ciências, nestas pela inerente necessidade do discurso de neutralidade, há um substancial desenvolvimento a serviço do poder central, a exemplo das ciências naturais, que vão ter um crescimento voraz como resposta a uma crescente necessidade de compreensão territorial aliada a uma série de posturas acadêmicas dotadas de um nacionalismo exacerbado que tende a se desdobrar em posicionamentos que almejam e constroem o mito da “superioridade ariana” (p. 64), mito este fundamentado em parâmetros de um endeusamento do Estado que em seu seio supria-se de racismos, nacionalismo, romantismo e misticismo, tudo dentro de uma lógica cientificamente neutra, ou sem interesses político-institucionais. É nesse eixo de desenvolvimento das ciências para a reprodução dos interesses políticos que a Geografia ganha o seu corpo moderno e científico, o apanhado de informações necessárias a compreensão dos territórios acaba sendo obra do saber geográfico, mas não exclusivamente, e como já mencionado vai ser de contribuição significativa para o processo unificador alemão. Humboldt e Ritter ganham papel de destaque nesta fase, pois são eles os principais expoentes na realização e ordenação de minuciosos trabalhos científicos. Document shared on www.docsity.com https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark “Ritter realiza toda uma padronização conceitual que interessa, não apenas a Geografia (cuja primeira formulação sistemática de objeto e método foi sua obra), mas a qualquer descrição da Terra. Humboldt produz normas, conceitos e classificações que interessam a um conjunto bastante vasto de ciências” (p. 70). De todo modo o fato é que as formulações desses autores abarcadas pelo aparato político servem para elevar, a problemática espacial alemã, a caráter de cientificidade. Uma militarização ostensiva alinhada a um fortalecimento institucional somado a uma contribuição sistemática das ciências e com um nacionalismo exacerbado, unifica-se a Alemanha em 1871. Na Alemanha unificada a problemática espacial se resolvia no novo Estado, mas estava longe de se resolver a problemática geográfica, isto é, tem-se uma Alemanha unificada, mas com disparidades internas extremamente acentuadas e é necessária cada vez mais a ciência geográfica para as questões que sejam de domínio de espaço, de gestão de recursos naturais e das relações econômicas, das fronteiras, das raças e até mesmo para a legitimação da política de expansionismo imperialistavigente, da compreensão do mundo para se organizar tanto militar como economicamente. Nesse sentido o horizonte geográfico tende a ampliar e passa-se a introduzir no temário desta ciência a problemática social e econômica, vale um destaque extremamente relevante neste contexto para Ratzel que pioneiramente vai produzir uma “Geografia do Homem” (p. 72), que traz uma tematização política e antropológica que contribui fortemente para a riqueza do saber geográfico. Feito esse esforço de síntese que nos mostra a complexidade da história alemã e a também complexidade da Geografia Moderna encerra-se com um dos porquês desta ciência na Alemanha: “[...] do mesmo modo que a sociologia aflorou enquanto ciência autônoma na França, ‘país onde, mais do que em qualquer outro lugar, as lutas de classe sempre foram levadas à decisão final’ (citando Engels, F. – Prefácio à terceira edição alemã de Dezoito Brumário de Luís Bonaparte, ob. Cit., p. 12), a Geografia, enquanto ciência Document shared on www.docsity.com https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark autônoma, haveria de surgir na Alemanha, onde a questão espacial ou territorial se coloca no centro dos problemas da sociedade” (p. 68). Document shared on www.docsity.com https://www.docsity.com/?utm_source=docsity&utm_medium=document&utm_campaign=watermark
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