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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Créditos e Copyright Este curso foi concebido e produzido pela Unimes Virtual. Eventuais marcas aqui publicadas são pertencentes aos seus respectivos proprietários. A Unimes Virtual terá o direito de utilizar qualquer material publicado neste curso oriunda da participação dos alunos, colaboradores, tutores e convidados, em qualquer forma de expressão, em qualquer meio, seja ou não para fins didáticos. Copyright (c) Unimes Virtual É proibida a reprodução total ou parcial deste curso, em qualquer mídia ou formato. TAVARES, Elisabeth dos Santos Políticas e Organização da Educação Básica. Elisabeth dos Santos Tavares. Santos: Núcleo de Educação a Distância da UNIMES, 2016. p. (Material Didático. Licenciatura). Modo de acesso: www.unimes.br 1. Ensino a distância. 2. Licenciaturas. 3. Políticas Educacionais CDD 370 http://www.unimes.br/ UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS PLANO DE ENSINO CURSO: Licenciaturas COMPONENTE CURRICULAR: Política e Organização da Educação Básica CARGA HORÁRIA TOTAL: 80h EMENTA As políticas sociais e educacionais com base nos pressupostos do Estado Moderno no Brasil, da Constituição Federal e da LDB, enfatizando o papel desse Estado na elaboração das políticas atuais. A descentralização na Educação Brasileira e sua organização. Estabelecimento de uma relação prática, encontrada na realidade atual na organização da Educação Básica, com os textos legais. OBJETIVO GERAL Promover condições para que o aluno aproprie-se de conhecimentos e habilidades para o exercício das atividades de gestão, elaboração, acompanhamento e avaliação de projetos, dos sistemas de ensino, escolas e outros espaços educativos. OBJETIVOS ESPECÍFICOS UNIDADE I - Relação entre Estado X Política X Planejamento X Legislação. Objetivo da Unidade Estabelecer uma reflexão crítica na relação entre Estado X Política X Planejamento X Legislação, iniciando-se pelo conceito de Estado. UNIDADE II - As Políticas Sociais e de Descentralização na Educação no Brasil. Objetivo da Unidade Analisar criticamente as políticas sociais e educacionais que se traduziram em planos e projetos governamentais, especialmente na década de 90. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM UNIDADE III - Constituição Federal Relevância com a Temática Educação. Objetivo da Unidade Conhecer a realidade social, econômica e política em que está inserido o processo educacional no Brasil a partir dos aspectos sociais, políticos e culturais que a configuram; Estabelecer uma interlocução da realidade social, da educação hoje e os referenciais teóricos da sociologia e das políticas educacionais. UNIDADE IV: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: o Texto e o Contexto. Objetivo da Unidade Compreender os processos de planejamento e implementação das políticas educacionais para a educação básica, bem como os princípios filosóficos e pedagógicos expressos na LDBEN e nas diretrizes curriculares nacionais de Educação Infantil e Ensino Fundamental; Desenvolver a capacidade de identificar problemas socioculturais e educacionais, propondo respostas às questões da democratização e qualidade do ensino. BIBLIOGRAFIA BÁSICA: Bruel, Ana Lorena de Oliveira. Políticas e legislação da educação básica no Brasil. Curitiba: Intersaberes, 2012. HEIN, Ana Catarina Angeloni (org). Organização e legislação da educação-São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2016. SOARES, Kátia Cristina Dambiski. Marco Aurélio Silva. Sistema de Ensino: legislação e política educacional para a educação básica. Curitiba: Intersaberes 2017. Série Fundamentos da Educação. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ARROYO, Miguel, G e. ABRAMOWICZ, Anete (orgs). A Reconfiguração da Escola. Entre a negação e a afirmação de Direitos. Campinas. SP; Papirus, 2009 (Coleção Papirus Educação) CAMARGO, Daiana; SANTA CLARA, Cristiane Aparecida (orgs). Educar a criança do século XXI: outro olhar, novas possibilidades. Curitiba: Intersaberes, 2015. p. 178- 197 DEMO, P. A nova LDB: ranços e avanços. Campinas, SP: Papirus, 1997. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM ________.Plano Nacional de Educação. Uma visão crítica. Campinas, SP; Papirus, 2016. VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Quem sabe faz a hora de construir o projeto político-pedagógico. Editora Papirus 2007. Coleção Magistério: Formação e trabalho Pedagógico. METODOLOGIA As aulas serão desenvolvidas por meio de recursos como: videoaulas, fóruns, atividades individuais, atividades em grupo. O desenvolvimento do conteúdo programático se dará por leitura de textos, indicação e exploração de sites, atividades individuais, colaborativas e reflexivas entre os alunos e os professores. AVALIAÇÃO A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados na parte teórica e prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades em momentos específicos como fóruns, chats, tarefas, avaliações a distância e Prova Presencial, de acordo com a Portaria de Avaliação vigente. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Sumário Aula 01_O Estado: Conceito e Tendências ................................................................ 8 Aula 02_O Estado e a Relação com as Políticas Sociais ......................................... 11 Aula 03_Relação Estado X Política X Planejamento ................................................ 13 Aula 04_Fatores de Influência no desenvolvimento das políticas sociais ................. 15 Aula 05_Estado X Política X Planejamento X Legislação ......................................... 17 Aula 06_O Ciclo de uma Política............................................................................... 19 Resumo_Unidade I ................................................................................................... 21 Aula 07_Planejamento .............................................................................................. 23 Aula 08_A Política Educacional e a Escola ............................................................... 25 Aula 09_O que é Projeto Político Pedagógico? ........................................................ 28 Aula 10_Descentralização de Políticas Públicas....................................................... 30 Aula 11_Descentralização de Políticas Públicas e a Educação ................................ 33 Aula 12_Descentralização X Educação X Gestão (Parte I) ...................................... 36 Aula 13_Descentralização X Educação X Gestão (Parte II) ..................................... 38 Aula 14_Descentralização X Educação X Gestão (Parte III) .................................... 41 Aula 15_Descentralização X Educação X Gestão (Parte IV) .................................... 43 Aula 16_Descentralização X Educação X Gestão (Parte V) ..................................... 45 Aula 17_É uma questão de competência? ................................................................ 47 Resumo_Unidade II ..................................................................................................50 Aula 18_Constituição da República Federativa do Brasil (Parte I) ............................ 52 Aula 19_Constituição da República Federativa do Brasil (Parte II) ........................... 56 Aula 20_Constituição da República Federativa do Brasil (Parte III) .......................... 60 Aula 21_A Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional .................................................................................................................................. 65 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância NÚCLEO COMUM Aula 22_Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional – Os Princípios ............... 68 Resumo_Unidade III ................................................................................................. 72 Aula 23_LDB - Da Organização Básica Nacional ..................................................... 73 Aula 24_LDB – Da Organização da Educação Nacional: Dos Níveis e Modalidades de Educação e Ensino ................................................................................................... 76 Aula 25_LDB – As disposições gerais para a Educação Básica ............................... 79 Aula 26_LDB - Fins da Educação Infantil .................................................................. 84 Aula 27_A LDB, o Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos ............... 88 Aula 28_LDB - Os objetivos do Ensino Médio........................................................... 92 Aula 29_Educação Profissional e Tecnológica ......................................................... 94 Aula 30_A LDB – E a Educação Especial ................................................................. 97 Aula 31_LDB – Dos Profissionais da Educação...................................................... 100 Aula 32_LDB – Dos Recursos Financeiros ............................................................. 104 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 8 NÚCLEO COMUM Aula 01_O Estado: Conceito e Tendências Em nossa primeira aula abordaremos a compreensão da concepção de Estado, pois o Estado está no centro do planejamento e da execução das políticas sociais públicas, especialmente as educacionais. Vamos buscar essa concepção! A concepção de Estado apresenta uma grande concordância entre cientistas quanto ao seu conceito. Conforme o Dicionário do Pensamento Social do Século XX, de Jorge Zahar Editor, uma definição incluiria três elementos. 1. Um estado é um conjunto de instituições, definidas pelos próprios agentes do Estado; 2. Essas instituições encontram-se no centro de um território geograficamente limitado – a sociedade; 3. O Estado monopoliza a criação de regras dentro do seu território – é a criação de uma cultura política comum partilhada por todos os cidadãos. Segundo o Dicionário de Política, “Estado contemporâneo envolve numerosos problemas, derivados principalmente da dificuldade de analisar exaustivamente as múltiplas relações que se criaram entre Estado e o complexo social e de captar, depois, os seus efeitos sobre a racionalidade interna do sistema político”. (BOBBIO et. Al, 1999, p.101) Vale ainda destacarmos outro conceito de Estado que se refere a um “povo social, política e juridicamente organizado, que dispondo de uma estrutura administrativa, de um governo próprio, tem soberania sobre determinado território” (KOOGAN-HOUAISS, 1993, p. 341). É possível considerar o Estado como o conjunto de instituições permanentes, órgãos: legislativo, forças armadas, tribunais e outras, que, localizadas em nossa sociedade, possibilitam a ação dos governos, configurando-se assim o Estado e o desempenho de suas funções. O mesmo se dá em relação às políticas sociais. Compreendidas como de responsabilidade do Estado quanto a sua implementação e manutenção, referem-se a ações que devem determinar um padrão de proteção social, na redistribuição dos UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 9 NÚCLEO COMUM benefícios sociais, visando à diminuição das desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento social e econômico. Geradas a partir de um processo de tomada de decisão que envolve não só os órgãos públicos, mas diferentes organismos e agentes da sociedade relacionada à política implementada, não se constituem, portanto em políticas estatais, mas sim em políticas públicas. Têm suas raízes nos movimentos populares do século XIX, especialmente em razão dos conflitos surgidos entre capital e trabalho, quando das primeiras revoluções industriais. Temas como saúde, educação, habitação, previdência têm assumido a vanguarda na discussão das políticas sociais. Intrínsecas relações estão estabelecidas entre Estado, políticas públicas e governos; logo visões diferentes de Estado, sociedade, políticas sociais e consequentemente políticas educacionais geram projetos diferentes de intervenção, deixando-se, portanto, de lado o que possa parecer neutralidade. Há ainda a considerar o momento histórico e político em que ocorrem essas relações. Ainda que possamos correr riscos ao definir o Estado e suas funções de modo tão sintético o que nos interessa neste momento é fazer uma reflexão que nos possibilite compreender o porquê desse Estado, no Brasil, estar se apresentando como gerador de um “déficit” de cidadania do nível em que nos encontramos, o porquê da erosão dos parcos direitos sociais, o porquê da educação tão sucateada. Ensaiando algumas respostas: É sob as transformações do cenário mundial que se abre o espaço para um novo estágio de globalização do capitalismo e, consequentemente, a expansão do mercado mundial, propiciando um novo regime de acumulação. A consolidação das políticas neoliberais tem como marco o Consenso de Washington (1989), cujas orientações passaram a nortear as políticas do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial na concessão dos empréstimos aos países necessitados de recursos, políticas essas que têm nos ajustes estruturais, entre outras questões, a redefinição do papel do Estado. No Brasil, o ajuste estrutural tem se definido como um conjunto de programas e políticas orientadas e introduzidas por essas e outras organizações financeiras. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 10 NÚCLEO COMUM O que tem se apresentado como “reforma” do Estado, através da política econômica "ainda" em curso e dos programas de ajuste estrutural que se seguem, tem se referido a uma redução unilateral da intervenção estatal nos setores de produção e também dos serviços sociais. O problema básico da sociedade brasileira, as desigualdades estruturais e a exclusão social econômica e política dos segmentos pobres da população não tem sido amenizado com as reformas realizadas e em curso. O texto aponta que há uma orientação internacional, por meio da política econômica "ainda" em curso e dos programas de ajuste estrutural que seguem, para a reforma do Estado. Afirma-se que essa reforma tem se referido a uma redução unilateral da intervenção estatal nos setores de produção e também dos serviços sociais. Para refletir: Como você percebe a reforma do Estado no Brasil? Os serviços sociais estão sendo ampliados? Como se deram as privatizações? No que nos auxiliaram as privatizações efetuadas? UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 11 NÚCLEO COMUM Aula 02_O Estado e a Relação com as Políticas Sociais Na aula anterior vimos, que o que se tem apresentado como “reforma” do Estado, por meio da política econômica em curso, tem se referido a uma redução unilateral da intervenção estatal nos setores de produção e serviços sociais. Sabemos que o problema básico da sociedade brasileira - as desigualdades estruturais e a exclusãosocial econômica e política dos segmentos pobres da população não tem sido amenizado com as reformas realizadas e em curso. As desigualdades sociais e econômicas estruturais têm prolongado dependências que oferecem possibilidades de manipulação e abuso de poder por parte das elites dominantes e que representam, para os pobres, impossibilidade de acesso aos serviços públicos na satisfação de suas necessidades. É a crise do Estado-nação. O Estado, entendido como a organização política que, a partir de um determinado momento histórico, conquista, afirma e mantém a soberania sobre um determinado território, aí exercendo, entre outras, as funções de regulação, coerção e controle social, tem essas funções mutáveis e com configurações específicas ao funcionamento, expansão e consolidação do sistema econômico capitalista. Com relação à nação, definida apenas como o conjunto de cidadãos do Estado no início da democratização do próprio Estado, sofreu uma lenta evolução antes de coincidir com o seu significado mais atual, quando a "nação" ou o "povo" passaram a ser concebidos por meio de critérios históricos e étnicos. No entanto, em geral, os Estados-nação têm desempenhado um papel bastante ambíguo. Enquanto externamente têm sido os propagadores da diversidade cultural, da autenticidade da cultura nacional, internamente têm produzido a homogeneização e a uniformidade, esmagando a rica variedade de culturas locais existentes no território nacional, por meio do poder da polícia, do direito, do sistema educacional ou dos meios de comunicação social, e a maior parte das vezes por todos eles em conjunto. Nesta "crise ideológica construída", os Estados nacionais não são afetados igualmente e nem todos cumprem os mesmos papéis no processo da economia globalizada. Enquanto uns podem se beneficiar, outros não; porém, são cada vez mais distantes as possibilidades da resistência à globalização econômica, política e cultural UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 12 NÚCLEO COMUM quando se pensa neste mesmo Estado como principal ou único mobilizador nacional de ações que se contraponham a esta economia. Nesse contexto, os desafios que se impõem às políticas sociais são complexos. Os desafios nos remetem para a necessidade de se inscreverem na agenda política os processos e as consequências da reconfiguração e ressignificação das cidadanias, se considerarmos as manifestações presentes, cada vez mais heterogêneas e plurais de identidades, em sociedades e regiões multiculturais. É interessante formarmos um glossário para a nossa disciplina e isto é muito fácil. O que é um glossário? Está definido como “vocabulário ou livro em que se explicam palavras de significação obscura ou dicionário de termos técnicos, científicos, poéticos” pelo Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. No nosso caso, talvez o significado mais adequado seja um pequeno dicionário de termos técnicos e científicos. Vamos começar? Não se acanhe, faça seu glossário em uma pasta no computador ou no final do seu caderno. Vamos a um exemplo: Heterogêneas = de outro gênero, de diferente natureza (Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira). É importante citarmos a fonte, para que, em caso de dúvida, todos possam consultar também. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 13 NÚCLEO COMUM Aula 03_Relação Estado X Política X Planejamento Já estamos compreendendo um pouco mais as relações entre o Estado e as políticas sociais. Vamos continuar? As ações de governo podem ser entendidas como formas de intervenção do Estado; logo pressupõem que, ao pensarmos nessas ações, podemos afirmar que elas fazem parte de um grande planejamento. Esse planejamento não pode ser considerado como qualquer planejamento, mas como um planejamento coerente com o projeto político representativo desse governo. Isto nos permite compreender uma relação nem sempre clara para a maioria dos educadores. Uma relação que evidencia a influência da opção política dos governos sobre o planejamento e, consequentemente, sobre suas ações. É interessante lembramos que um governo representa as forças hegemônicas de uma dada sociedade, num dado momento histórico, e que essas forças têm, ainda que não evidente, um projeto político a concretizar. Pensando em educação, podemos afirmar que as ações que vivenciamos na escola estão influenciadas por essa política e esse planejamento. Assim, “o planejamento educacional constitui uma forma de intervenção do Estado em educação, que se relaciona, de diferentes maneiras, historicamente condicionadas, com outras formas de intervenção do Estado em educação (legislação e educação pública) visando à implantação de uma determinada política educacional do Estado, estabelecida com a finalidade de levar o sistema educacional a cumprir as ações que lhe são atribuídas enquanto instrumento desse mesmo Estado”. (Horta, 1991, p.195). É importante destacarmos que o Estado tem no seu interior diferentes forças representativas da sociedade civil (sociedade política), o que nos faz também compreender que no seu interior se trave um jogo político. Vale ressaltar que a sociedade civil (fora do Estado) tem formas de atuação que podem representar forças dependendo de articulação. Embora tenhamos afirmado que as ações de governo podem ser entendidas como formas de intervenção do Estado e que elas fazem parte de um grande UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 14 NÚCLEO COMUM planejamento coerente com o projeto político representativo desse governo, nem sempre o que se propaga é o que está sendo efetivamente concretizado, ou seja, nem sempre as intenções formais expressas nos planos de governo são coerentes com a sua forma de atuar e com os princípios e meios firmados nos discursos oficiais. Distintos fatores podem influenciar o desenvolvimento das políticas sociais. Esses fatores diversos merecem uma análise até mesmo para estabelecermos uma relação com a realidade que se vive no Brasil. Assim como outras políticas sociais, a educação é influenciada pela opção política de um governo, e a execução de seu planejamento é decorrente dessa política. Como processo, no seu desenvolvimento pode se travar um jogo político entre forças representativas da sociedade e ainda poderá sofrer influência de fatores que a façam se distanciar de seus princípios e meios propostos e propagados. Referência Bibliográfica HORTA, José Silvério Bahia. Planejamento educacional. In: MENDES, Durmeval (coord.) Filosofia da educação no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 15 NÚCLEO COMUM Aula 04_Fatores de Influência no desenvolvimento das políticas sociais Como vimos na aula anterior, fatores distintos têm influenciado o desenvolvimento das políticas sociais. Podemos, segundo (Arretche 2001), assim enumerá-los: 1. o distanciamento dos programas em relação a seus objetivos iniciais, em decorrência, geralmente, de distorções na sua implementação pela forma como os benefícios são apropriados pela população; 2. a baixa cobertura dos programas; 3. a escassez e/ou má utilização de seus recursos financeiros; 4. a má qualidade dos serviços prestados; 5. o grau de privatização dos programas e 6. a implementação de modo que privilegie interesses de grupos privados em detrimento do grupo supostamente beneficiário da política. Ainda, segundo a autora, outros fatores também influenciam no desenvolvimento das políticas sociais, dentre eles: a subordinação dos programas à política econômica e a outros objetivos externos como rentabilidade e lucro; a baixa participação dosbeneficiários, reais ou potenciais, nas diferentes fases dos programas, aí incluída a inexistência de canais institucionais pelos quais a população possa se expressar, encaminhar sugestões e demandas ou influir no processo de decisão ou implementação; a centralização, tanto na formulação, implementação e na organização administrativa ou em outros aspectos relacionados ao programa, quanto ao processo político com repercussões diretas sobre estes e o uso político e/ou clientelista dos programas, para fins eleitorais e/ou de apoio político. A autora considera ainda que a falta de integração entre as agências institucionais na implementação dos programas, fator que diz respeito especificamente ao funcionamento dos programas sociais, aparece com alta incidência nos estudos realizados sobre avaliação de políticas públicas sociais no Brasil. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 16 NÚCLEO COMUM Uma reflexão a respeito da influência dos fatores acima expostos sobre as políticas sociais talvez permita a identificação de problemas vividos na nossa sociedade e bem próximo, na nossa cidade. Faça a sua reflexão! E, se possível, socialize estas informações. É um exercício de cidadania. LEMBRETE: Vamos continuar alimentado nosso glossário! Quais são as novas palavras que vamos acrescentar? UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 17 NÚCLEO COMUM Aula 05_Estado X Política X Planejamento X Legislação Vimos nas aulas anteriores como podemos conceituar o Estado e a relação que se estabelece entre esse Estado, a Política e o Planejamento. Vimos também como fatores distintos podem influenciar o desenvolvimento das políticas sociais. Vamos avançar mais, vamos identificar que além dessas relações outra se estabelece com a legislação. Como isso acontece? Vamos recordar que no Brasil, temos três poderes constituídos: o Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário. Cada um desses poderes tem competências e atribuições específicas que se integram visando à garantia da nossa democracia e dos direitos de todos os cidadãos, conforme previsto na Constituição Federal, nas Constituições Estaduais e nas Leis Orgânicas dos municípios. A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988, em seu preâmbulo, declara que os nossos representantes, os deputados federais e os senadores eleitos, em Assembleia Nacional Constituinte, portanto uma assembleia específica para a elaboração da constituição, reuniram-se para, “instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna, internacional, com a solução pacífica das controvérsias”. O preâmbulo e o texto da nossa constituição refletem claramente o contexto histórico que se vivia na época, quase de euforia pelo término da ditadura e pelo retorno do regime democrático. Portanto, há uma relação entre legislação e o contexto histórico, contexto este que envolve a política e também o planejamento como vimos anteriormente. A legislação apresenta um sentido prospectivo, representa um projeto que se deseja. Contudo, nem sempre ela garante a mudança pretendida. No Brasil há uma tendência em se atribuir um valor extremado à legislação. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 18 NÚCLEO COMUM Por outro lado, não podemos deixar de analisar uma outra questão que envolve a legislação. Se já compreendemos que ela reflete um dado momento histórico, ela poderá servir para regulamentar uma determinada política e servir a determinadas forças. No caso da Educação Brasileira, podemos afirmar que a legislação educacional tem refletido uma concepção de reforma do Estado, por meio da redefinição das responsabilidades das instâncias governamentais, seja ela federal, estadual ou municipal, sob o discurso oficial da descentralização administrativa e financeira. Embora tenhamos traçado relações que permeiam o Estado, a Política, o Planejamento e a Legislação, podemos afirmar que esta não é uma regra que não permita exceções. Dependendo das circunstâncias, da realidade e dos diferentes momentos históricos, essa relação pode-se se dar não na ordem que estabelecemos, mas diferentemente, as interfaces que se estabelecem apontam a necessidade da ocorrência de um movimento dialético. Não há neutralidade quando tratamos de educação. Educação é sempre um ato político, como afirmou Paulo Freire. Reflexão: Diante das questões aqui apresentadas, como me posiciono? UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 19 NÚCLEO COMUM Aula 06_O Ciclo de uma Política Já sabemos que uma política é o que se pretende realizar por meio das ações governamentais. Diferentes momentos estão contidos em uma política ou nas políticas. São o que vamos denominar estágios, etapas, fase ou ciclos e que pressupõem algumas questões. Os estágios: Organização da agenda Formulação Implementação Avaliação Término Na organização da agenda, questões se tornam parte da agenda pública, as quais são consideradas pela agência administrativa e pelo corpo legislativo. Na formulação, o problema ou problemas são discutidos e definidos, e uma decisão é tomada, decisão essa que passa a agregar apoios ou oposições, e uma abordagem é adotada para solucioná-los. Na implementação da política, são criados programas, aspectos da política são modificados para dar atendimento às necessidades, aos recursos necessários e às exigências almejadas pelos implementadores. Há uma transferência da decisão tomada e da ação para a agência administrativa responsável pela implementação. As ações desenvolvidas pela agência administrativa são avaliadas, e o impacto da política e os processos pelos quais ela está sendo implementada são considerados na avaliação. Vários são os fatores que levam à descontinuidade de uma política, ou seja, a seu término. Podemos considerar como fatores determinantes a perda do apoio político, a ausência de resultados alcançados, o descumprimento de metas, o custo considerado alto, a falta de recursos e outros. Esta elaboração dos estágios de uma política, no entanto, não ocorre de modo linear como pode parecer à primeira leitura. No concreto, em situação real eles se mesclam e até se sobrepõem e podem ocorrer em sequência diversa da aqui apresentada, o que quer dizer que o processo é dinâmico, incorpora atores, contextos, UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 20 NÚCLEO COMUM realidades e ainda pode, por interesse dos formuladores, serem reformulados em razão de conflitos e tensões que desencadeia. No entanto, o conhecimento destes estágios intrínsecos à política nos permite uma visão de todo o processo, distinguindo como a política vem sendo “feita” e não apenas como uma determinação. Se já sabemos que uma política é o que se pretende realizar, por meio das ações governamentais, a análise de políticas, desde que registrada cientificamente, aponta para a oportunidade do aprimoramento dessa mesma política por meio de tomada de decisões, influenciando assim a “política no futuro”. Há uma outra questão, a do envolvimento dos cidadãos na política, da participação na política que permeia a complexidade do assunto. Na tentativa de ampliarmos nossa compreensão em relação à política, seus estágios e seu aprimoramento, propomos uma reflexão. Cada um de nós, pensando em Educação, pode identificar a política que vem sendo proposta para a nossa cidade? Em caso afirmativo, qual é ela? Elavem sendo implementada? Vem alcançando resultados positivos? Quais? O que você entende que deveria estar proposto na sua cidade? UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 21 NÚCLEO COMUM Resumo_Unidade I Nesta unidade entendemos a concepção de Estado, definindo seu papel na execução das políticas sociais públicas entendendo por quais razões o estado implantou “reformas”, afastando-se de programas econômicos e, voltando-se a questões sociais e quais foram os fatores relevantes nesta tomada de decisão. Recordamos que o Brasil possui três poderes constituídos, o Executivo, Legislativo e Judiciário. Eles possuem atribuições específicas que se integram, garantindo assim a democracia e direito de todos, conforme previsto na Constituição Federal, Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos Municípios. Ao relacionar política e educação, podemos afirmar que “Educação é sempre um ato político” (PAULO FREIRE), uma vez que está vinculada a legislações e em diferentes momentos históricos. Política é o que se pretende realizar por meio de ações governamentais. Estas ações passam por diferentes estágios. São eles: organização de agenda, formulação, implementação, avaliação e término. Assim como as relações e ações que se estabelecem no Estado demandam de Planejamento, podemos dizer que planejar está próximo ao nosso cotidiano. Entendemos o que envolve a ação de planejar que está presente na Educação com ênfase no Planejamento Participativo. Chegamos ao capítulo Política Educacional da Escola que se define pelo Projeto Político Pedagógico que acaba por estar vinculado a forças hegemônicas da sociedade, que expressa o projeto político de um governo. Analisamos a descentralização de políticas públicas e sob qual discurso ela foi implantada e define o que é o Projeto Político Pedagógico, qual o caminho de sua construção para transformação da realidade. Referências Bibliográficas ARRETCHE, Marta. Estado Federativo e Políticas Sociais: Determinantes da Descentralização. Rio de Janeiro: Revan; são Paulo: FAPESP, 2000. HORTA, José Silvério Bahia. Planejamento educacional. In: MENDES, Durmeval (coord.) Filosofia da Educação no Brasil. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1991. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 22 NÚCLEO COMUM SILVA, Tomaz Tadeu da. A “nova” direita e as transformações na pedagogia, In: GENTILI, Pablo A. A.; Silva, Tomaz Tadeu da (org) [e outras] Neoliberalismo, qualidade total e educação: visões críticas. 9° ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. VASCONCELLOS, Celso dos santos. Planejamento: Projeto de Ensino- aprendizagem e projeto político pedagógico – elementos metodológicos para elaboração e realização. São Paulo. Libertad, 1999. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 23 NÚCLEO COMUM Aula 07_Planejamento Compreendendo as relações que se estabelecem entre o Estado, a Política, a Legislação e o Planejamento, podemos afirmar que a ideia de Planejamento é muito próxima do nosso cotidiano. Logo percebemos que planejar é uma atividade humana, prescinde de pessoa humana ou pessoas humanas. E o que mais envolve a ação de planejar? Envolve um agir racional, uma organização das ações que pretendemos executar com vistas a alcançar determinado fim, a preparação de um conjunto de decisões que orientam o nosso agir. Vimos em aulas anteriores que o Planejamento é um procedimento por meio do qual se assegura coerência dos processos decisórios em relação às ações desenvolvidas para se alcançar o sucesso de um projeto político. Assim, podemos afirmar que como a política, o planejamento apresenta de forma explícita ou não, um caráter ideológico. Como uma atividade própria de governo, indissociável da política, é fruto de uma complexa relação que se estabelece entre a sociedade civil e a sociedade política. Essa não neutralidade destaca a superação do entendimento de que o Planejamento possa ser um instrumento burocrático, ainda que muitos assim o entendam. Logo, se apresentado com um caráter ideológico, vamos entender que há perspectivas diversas do Planejamento, ou seja, ele pode possibilitar transformações sociais ou a conservação, conforme as forças que o conduzem. Se realizarmos uma retrospectiva histórica, talvez possamos considerar que a atividade de planejar seja tão antiga quanto a existência do homem. Conforme Vasconcelos (1999) é no “mundo da produção”, com o fenômeno da Revolução Industrial e com o surgimento da Administração no fim do século XIX, que a sistematização do planejamento ganhou força, passando, posteriormente, a fazer parte da organização de outras áreas como a educacional. Em Taylor (1856-1915), vamos deparar com a preconização da necessidade da separação entre o planejar e o executar, numa distinta e radical visão entre a concepção e a realização, o que muito influenciou o encaminhamento do planejamento como uma atividade tecnocrática, em que o poder de decisão e controle se concentra nos técnicos ou políticos ou ainda nos especialistas e não nos agentes UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 24 NÚCLEO COMUM que o executam. Essa influência permaneceu por muito tempo e impregnou não só as políticas sócias como também a educação. Diferentes linhas de planejamento foram se estabelecendo com a evolução do processo histórico. Na atualidade, especialmente no campo da educação, podemos destacar o Planejamento Participativo como uma tendência e expressão da resistência de educadores que se colocaram resistentes à separação anteriormente exposta.No Planejamento Participativo, estão valorizadas “a construção, a participação, o diálogo, o poder coletivo local, a formação da consciência crítica a partir da reflexão sobre a prática de mudança”. (Vasconcellos, 1999, p. ). Há um rompimento com outras formas de planejar, e o planejamento se torna um instrumento da possibilidade da interferência na realidade, para transformá-la. A ênfase no Planejamento Participativo revela um ressignificar de uma prática ainda presente na educação. Remete-nos a acreditar na possibilidade de mudança da realidade, querer mudar algo, a vislumbrarmos a possibilidade da realização de uma determinada ação que dá sentido ao nosso fazer. Referência Bibliográfica: VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Planejamento: Projeto de ensino- aprendizagem e projeto político pedagógico – elementos metodológicos para elaboração e realização. São Paulo: Libertad, 1999. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 25 NÚCLEO COMUM Aula 08_A Política Educacional e a Escola É na década de 1990 que as políticas educacionais passaram a colocar a escola como um dos focos de seus objetivos. O debate sobre a escola emerge considerando sob a reflexão de dois fatores: que função social tem a escola? E a importância do projeto político-pedagógico da escola? Já na segunda década dos anos dois mil, após significativa discussão, é efetivada a Base Nacional Comum Curricular prevista no artigo 210 da Constituição Federal e também na LDBEM, em seu artigo 26. Como resultado desse processo de diálogo e participação, em 2017, é instituída pelo Conselho Nacional de Educação a Base Nacional Comum Curricular voltada para a Educação Infantil e Ensino Fundamental, por meio da Res. CNE/CP nº 2/2017. Já a discussão do Ensino Médio continuou em processo organizado, com os educadores participando em comitês de debates, culminando com o documento homologado pelo MEC em dezembro de 2018. FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA A preocupação com a questão do “ensinar” na escola já vem de algum tempo. No entanto, nas duas décadas passadas, especialmente, foram incorporados novos referenciais a esses estudos inicias, e outros fatores passarama ser considerados como determinantes para o sucesso da escola. Especialmente a partir da democratização do acesso, ou seja, quando a massa da população passa a frequentar a escola, essa escola se depara com crianças de diferentes classes sociais, raça e gênero que até então não se encontravam dentro dela. É a partir daí que, considerando os resultados do trabalho da escola, as reflexões se ampliam e passamos a nos preocupar com a exclusão de crianças pela escola, que função tem o currículo - conservadora ou emancipadora, como a organização, a cultura e a gestão da escola podem promover também a inclusão ou exclusão das crianças. Assim, entendemos que, na realidade, a escola não tem uma única função social, mas diversas funções sociais e das mais complexas. Ainda podemos afirmar que o conjunto de profissionais que integram a escola têm suas próprias culturas, seus valores e que, por não poderem se dividir em partes, como pessoas, carregam para o interior da escola os seus valores. Enquanto mediadores do processo educacional, agentes, atores têm suas práticas impregnadas dessa pessoa humana que são. Daí a importância e a relevância do projeto político- pedagógico da escola. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 26 NÚCLEO COMUM PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO Esse projeto político pedagógico, construído em bases sólidas, vai expressar os fundamentos éticos e políticos do nosso fazer, ou seja, que homem queremos formar e para que sociedade. O que pensamos não é tão simples como pode parecer, considerando o conjunto de todos os atores presentes na escola. Irá além, deve contemplar com clareza a nossa opção epistemológica, como entendemos o processo do ensinar e o processo do aprender, como consideramos o professor e o aluno nesse processo, o que é o conhecimento e como se constrói. O QUE É A BNCC_ BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR? É um documento normativo que define o conjunto de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. Seu principal objetivo é ser a balizadora da qualidade da educação por meio de um estabelecimento de um patamar de aprendizagem e desenvolvimento a que todos os alunos têm direito. Conforme definido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996), a Base deve nortear os currículos dos sistemas e redes de ensino das Unidades Federativas, como também as propostas pedagógicas de todas as escolas públicas e privadas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, em todo o Brasil. O grande desafio é tornar a BNCC um instrumento vivo e dinâmico em ação nas escolas. Estes três novos focos presentes hoje na discussão sobre a escola – sua função social, a importância do seu projeto político-pedagógico e a articulação adequada com as bases de um currículo nacional, não esgotam nossa reflexão. Há uma relação direta entre a escola e os sistemas educacionais a que se vinculam, não há espaço para a concretização efetiva deste processo, se os sistemas não se democratizarem. Há uma relação de dupla mão, sistema de ensino e escola ou vice-versa. Os sistemas de UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 27 NÚCLEO COMUM ensino expressam o projeto político das forças hegemônicas da sociedade, que expressa o projeto político de um dado governo. Mais uma vez cabe a afirmação: não há espaço para a neutralidade. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 28 NÚCLEO COMUM Aula 09_O que é Projeto Político Pedagógico? Nas aulas anteriores vimos que a escola tornou-se um dos focos mais importantes da política educacional. Nesse sentido, a função social da escola e o seu projeto político pedagógico são dois fatores que merecem destaque. Vamos refletir sobre o Projeto Político Pedagógico: 1. O QUE É O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO? 2. ONDE ESTÁ SITUADO O PPP? Podemos afirmar que o Projeto Político Pedagógico é o grande projeto de uma escola. Pode ser entendido como a sistematização, nunca definitiva, de um processo de planejamento participativo, que se aperfeiçoa e se objetiva na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar, a partir de um posicionamento quanto a sua intencionalidade e de uma leitura da realidade. É um caminho para a construção da identidade da escola. É um instrumento para a transformação da realidade. Como processo, implica a expressão das opções da escola, de concepções acerca do conhecimento e o julgamento da realidade, bem como das propostas de ação para concretizar o que se propõe. Vai além, supõe a colocação em prática daquilo que foi projetado, sempre acompanhado da análise dos resultados alcançados. A DINÂMICA DA CONSTRUÇÃO DO PPP COMPETÊNCIAS EXIGIDAS PARA A CONSTRUÇÃO DO PPP São várias as competências exigidas na construção do PPP: Conceitual - saber exatamente o que é o PPP. Atitudinal - o desejo e a decisão de fazer o PPP (sensibilização, sem queimar etapas); Procedimental - criatividade para alcançar a participação de todos: individual e em grupos. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 29 NÚCLEO COMUM Para tanto se exige amadurecimento democrático. “O planejamento, como tarefa natural ao ser humano, é o processo de divisar o futuro e agir no presente para construí-lo. Assim, planejar é organizar um conjunto de ideias que representem esse futuro desejado e transformar a realidade para que esse conjunto nela se realize no todo ou em parte”. (GANDIN; GANDIN, 1999, p.37). Como podemos perceber, embora a descrição deste modelo apresente etapas distintas, essa distinção se faz apenas para organizar pedagogicamente as ideias do todo, ou seja, apenas para mostrar a sequência em que elas devem ser apresentadas, pois é evidente que, para o seu SUCESSO, nenhuma etapa poderá ser desconsiderada em virtude da interdependência que há entre elas. AO TÉRMINO DA UNIDADE, VAMOS REFLETIR SOBRE ALGUMAS QUESTÕES: 1. Que tipo homem e sociedade queremos ajudar a construir? 2. O que compreendemos como valores? Quais são os nossos valores? 3. Quais são os valores dos nossos alunos? 4. O que representa o amor na nossa vida? Nós amamos? De que maneira? Podemos melhorar nosso amor? 5. Que relações mantemos com nossos alunos? E eles conosco? Estamos felizes? Podemos melhorar? Como? 6. Considerando a realidade e as nossas condições de vida e os aspectos da vida contemporânea, o que nos dá prazer? E o que nos causa inquietação? Por quê? O que podemos fazer para contribuir? 7. Como viver nossas utopias na nossa escola? Referência Bibliográfica: GANDIN, Danilo e GANDIN, Luís Armando. Temas para um projeto político pedagógico. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 30 NÚCLEO COMUM Aula 10_Descentralização de Políticas Públicas Nas aulas anteriores procuramos partir do macro (Estado) até chegarmos ao micro (escola) estabelecendo conceitos e relações que nos possibilitam compreender as questões do cotidiano que vivenciamos na nossa vida individual, como cidadãos e na nossa vida profissional, na escola. Da mesma forma, vamos iniciar a nossa discussão sobre a descentralização das políticas sociais, especialmente da educação. É sob as transformações do cenário mundial que se abre o espaço para um novo estágio de globalização do capitalismo e, consequentemente, a expansão do mercado mundial, propiciando um novo regime de acumulação. A consolidação das políticas neoliberais tem como marco o Consenso de Washington, cujas orientações passaram a nortear as políticas do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial na concessão dos empréstimos aos países necessitados de recursos, conforme vimos anteriormente.No Brasil, o ajuste estrutural tem se definido como um conjunto de programas e políticas orientadas e introduzidas por essas e outras organizações financeiras. Segundo Silva (2001, p. 13-14), “[...] o que estamos presenciando é um processo amplo de redefinição global das esferas social, política e pessoal, no qual complexos e eficazes mecanismos de significação e representação são utilizados para criar e recriar um clima favorável à visão social e política liberal. O que está em jogo não é apenas uma reestruturação neoliberal das esferas econômica, social e política, mas uma reelaboração e redefinição das próprias formas de representação e significação social. O projeto neoconservador e neoliberal envolve, centralmente, a criação de um espaço em que se torne possível pensar o econômico, o político e o social fora das categorias que justificam o arranjo social capitalista. Nesse espaço hegemônico, visões alternativas e contrapostas à liberal/capitalista são reprimidas a ponto de desaparecerem da imaginação e do pensamento até mesmo daqueles grupos mais vitimizados pelo presente sistema [...]” UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 31 NÚCLEO COMUM Neste cenário, as políticas públicas de descentralização emergem como estratégias de consenso. Mas embora tais políticas no discurso oficial sejam apresentadas como um programa de solução de problemas, indicando as vias de ação e os recursos disponíveis, as políticas de descentralização têm revelado também os confrontos e as contradições culturais que se traduzem a partir da própria concepção de descentralização, no desenvolvimento e no acompanhamento das ações deflagradas. O Brasil, segundo Arretche (2000), no início dos anos de 1980 viveu um conjunto de reformas político-institucionais, como a retomada das eleições diretas, a descentralização fiscal e a definição dos municípios como federativos autônomos. Num Estado Federativo, marcado por desigualdades regionais e fracas capacidades econômicas e administrativas de governos locais, o processo de reforma do Estado tornou-se bastante complexo. Glossário Consenso de Washington: Expressão que designa um conjunto de medidas em favor da economia de mercado com o intuito de “recuperar” economicamente a América Latina. Denominada de neoliberais, essas medidas pregam a redução da participação do Estado na economia com a privatização de empresas públicas, ainda a flexibilização das leis trabalhistas, redução da carga fiscal e abertura comercial. Ao contrário do que se pregavam os seus elaboradores, os países que adotaram inocentemente o receituário do Congresso tiveram aumento do desemprego, redução dos salários dos trabalhadores e consequentemente, perda crescente de poder aquisitivo, com o agravamento da concentração de renda deixando uma enorme distância entre ricos e pobres, diminuição do investimento do poder público na área social diante da “necessidade” do controle fiscal visando o pagamento de sua dívida pública. O baixo crescimento econômico dos países que adotaram o modelo do Consenso de Washington não justifica o alto nível de sacrifício imposto às populações desses países. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 32 NÚCLEO COMUM Banco Mundial: Instituição Internacional de financiamento do desenvolvimento social e econômico. Criado em 1944, com o objetivo de recuperar os países destruídos após a II Guerra Mundial, conta hoje com 183 países-membros, inclusive o Brasil, tendo como principal função o recolhimento de recursos junto a mercados financeiros internacionais para financiar os países em desenvolvimento, visando combater a pobreza mundial. FMI: Criado em 1945, objetiva a estabilidade do sistema monetário internacional através do equilíbrio na balança de pagamentos e nos sistemas cambiais dos 181 países membros, como também, a expansão do comércio e no negócio de capitais, chegando a promover empréstimos aos seus membros. Bibliografia: ARRETCHE, Marta. Estado Federativo e Políticas Sociais: Determinantes da Descentralização. Rio de Janeiro: Revan; São Paulo: FAPESP, 2000. SILVA, Tomaz Tadeu da. A “nova” direita e as transformações na pedagogia da política e na política da pedagogia, In: GENTILI, Pablo A. A.; SILVA, Tomaz Tadeu da (org.) [e outras] Neoliberalismo, qualidade total e educação: visões críticas. 9º ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 33 NÚCLEO COMUM Aula 11_Descentralização de Políticas Públicas e a Educação Vamos entender esse processo de descentralização nas políticas públicas, especialmente na educação! “O processo de descentralização das políticas sociais inicia-se, efetivamente, nos anos de 1990, com a transferência da função de gestão do governo federal para Estados e Municípios. “Descentralização aqui significa a institucionalização no plano local de condições técnicas para a implementação de tarefas de gestão de políticas sociais” (ARRETCHE, 2000, p.16). De acordo com a autora, o processo de reforma do Estado está condicionado à natureza das relações entre Estado e sociedade e entre os vários níveis de governo. Os resultados alcançados são variáveis, de acordo com a política e os locais onde estão sendo implementados. Em um processo de transferência de atribuições, a riqueza econômica, a capacidade fiscal e administrativa dos governos locais exercem um fator diferenciador. Para a implementação da descentralização, é decisiva a estratégia governamental de incentivo para que os governos locais queiram assumir tais atribuições. A adesão dos governos locais à transferência de atribuições depende diretamente de um cálculo no qual são considerados, de um lado, os custos e benefícios derivados da decisão de assumir a gestão de uma dada política e, de outro, os próprios recursos fiscais e administrativos com os quais cada administração conta para desempenhar tal tarefa (ARRETCHE, 2000, p.48). A transferência de atribuições, no Brasil, tem se realizado com base em uma barganha federativa; quando um nível de governo considera os custos políticos, financeiros e administrativos de uma gestão, muito elevados, procura transferi-los para outras administrações. Na Educação, os princípios de descentralização, gestão democrática e autonomia escolar passam a estar presentes nos debates e nas reflexões que buscam soluções para a situação em que se encontra a educação brasileira. Virou quase lugar comum sua defesa, mas na revelação do discurso comum, práticas com objetivos bem diferenciados têm emergido. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 34 NÚCLEO COMUM Vale ressaltar ainda que essa descentralização da educação, apresentada como uma tendência moderna dos sistemas educativos, pouco tem a ver com as questões educativas propriamente ditas, conforme Krawczyk (2002), mas muito mais com a busca de uma governabilidade da educação pública. “Busca-se analisar a concepção da reforma educacional no marco de um novo ordenamento das relações internacionais e da reconfiguração do modelo de Estado provedor e regulador para o modelo de Estado forte e minimalista e, principalmente, enquanto expressão da lógica dos binômios globalização/comunitarismo e centralismo/localismo”. (KRAWCZYK, 2002, p.60). De fato, o que se apresenta é uma globalização contemporânea que supõe uma nova ordem econômica, que invalida a necessidade de uma base territorial e de estratégias nacionais ante as regras dos mercados internacionais no âmbito da produção e que apresenta, ao mesmo tempo, a gestão local como a forma mais adequada para vincular os custos e vantagens dos serviços públicos e privados. Nessa perspectiva, a gestão educacional proposta apresenta a coexistência de espaçosde decisão e ação, descentralizados e privados, juntamente com outros espaços altamente centralizados e intervencionistas, substituindo-se então o Estado social pelo Estado controlador, avaliador. Fica claro que a reforma do Estado em andamento redefine as responsabilidades do próprio Estado, do mercado e da sociedade e o modelo de organização e gestão da educação que instaura a Reforma Educacional no Brasil, conforme afirma Krawczyk (2002), está definido pela descentralização em três dimensões que se complementam, gerando uma nova lógica de governabilidade da educação pública: descentralização entre diferentes instâncias de governo – municipalização; descentralização para a escola – autonomia escolar; e descentralização para o mercado – responsabilidade social. Referências Bibliográficas: ARRETCHE, Marta. Estado Federativo e Políticas Sociais: Determinantes da Descentralização. Rio de Janeiro: Revan; São Paulo: FAPESP, 2000. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 35 NÚCLEO COMUM KRAWCZYK, Nora Rut. Em busca de uma nova governabilidade na educação. In: OLIVEIRA, Dalila Andrade e Maria de Fátima Felix Rosar (orgs.). Política e gestão da educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 36 NÚCLEO COMUM Aula 12_Descentralização X Educação X Gestão (Parte I) O processo de descentralização trouxe transformações na área administrativa, onde surgiu a gestão como um importante componente organizacional de instituições públicas e privadas. Sob o ponto de vista da gestão educacional, Casassus (1997) analisa a transformação institucional dos sistemas educativos na América Latina, levando em conta dois aspectos: O primeiro está relacionado com a própria teoria, que nos permite, segundo o autor, gerar marcos interpretativos que ampliam nossa capacidade de entender o que observamos, o que está acontecendo. O segundo, que se refere à gestão, à ideologia da gestão, ou seja, o conjunto de conceitos que dominam o pensamento atual. Conforme Casassus (1997), até meados da década de 1980 não se falava em gestão. Em primeiro lugar, o autor afirma que esta se achava separada em duas atividades conceitualmente distintas: a de planejamento e a de administração, apresentando assim uma distinção entre aqueles responsáveis pela elaboração dos planos, os que fixavam objetivos, determinavam as ações a serem executadas, e os que estavam encarregados de executar as ações predeterminadas. O modelo assim desenhado apresentava uma separação clara entre a ação de planejar da ação de executar. Esta separação deixou de ter validade conceitual como teoria da ação subjacente à qual se integram os dois processos, ou seja, o de pensar e o de executar, presentes na noção de gestão. A segunda questão destacada pelo autor refere-se à definição mesmo de gestão. Afirma que, numa visão clássica, a gestão implica: “[...] uma capacidade de gerar uma relação adequada entre a estrutura, a estratégia, os sistemas, o estilo, as capacidades, as pessoas e os objetivos superiores da organização considerada [...] a capacidade de articular os recursos de que se dispõe de maneira a alcançar o que se deseja. Numa visão que evoca o tema da identidade em uma organização, a gestão implica a geração e a manutenção de recursos e processos em uma UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 37 NÚCLEO COMUM organização para que ocorra aquilo que se tenha decidido que ocorra [...]” (CASASSUS, 1997, p.4). O que se coloca em destaque é que a gestão tem a ver com os componentes de uma organização como arranjos institucionais, a articulação de recursos, os objetivos e, sobretudo, as inter-relações entre as pessoas na ação. Por esta razão, Casassus (1997) reitera que implícita ou explicitamente os modelos de gestão se fundamentam em alguma teoria da ação humana dentro das organizações e que é necessário esta compreensão para se entender adequadamente os processos de gestão. Nesta perspectiva, a ação em uma organização é uma ação deliberada e toda ação deliberada tem uma base cognitiva, reflete normas, estratégias e supõe o modelo do mundo no qual se dá. Por fim, em sua terceira questão, Casassus (1997, p.5) trata da vinculação do tema da gestão ao da aprendizagem, no qual se concebe “[...] a ação da gestão como um processo de aprendizagem da adequada relação entre estrutura, estratégia, sistemas, estilo, capacidades, pessoas e objetivos superiores, tanto no interior da organização quanto ao entorno [...]” O que não pode significar uma elaboração pessoal, mas sim o que se constitui e se verifica na ação, num processo de aprendizagem contínuo. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 38 NÚCLEO COMUM Aula 13_Descentralização X Educação X Gestão (Parte II) Com os indicativos apresentados por Casassus, considerando a aula anterior, o autor identifica os modelos de gestão, que denomina marcos conceituais e ressalta que, embora se apresentem em um dado momento histórico, podem ou não se apresentar na sua forma pura, assim como podem ou não se mesclar. São identificados os modelos: normativo, prospectivo, estratégico, estratégico-situacional, qualidade total, reengenharia e comunicacional. Utilizado na década de 1950, o modelo normativo, construído a partir de técnicas de projeção de tendências em médio prazo e sua consequente programação, constitui-se num esforço maior da introdução da racionalidade no exercício do governo em suas intenções de alcançar o futuro pelas ações do presente. É importante destacar aqui a visão linear de futuro, tido como único e certo em que a sociedade estava ausente, não se considerando as pessoas e suas interações. Foi o período no qual se iniciaram os planos nacionais de desenvolvimento, que tinham como consequência a elaboração dos planos nacionais de educação, um modelo de um alto nível de generalização e abstração. Com a constatação de que o futuro realizado não coincidia com o futuro previsto. Conforme a visão normativa estabelece-se nos anos 1960 a 1970, com a crise do petróleo, o modelo prospectivo no qual o futuro é previsível por meio da construção de cenários. O enfoque é o mesmo do modelo normativo, só que aplicado considerando-se diferentes cenários de futuro. Já na década de 1980, estabelece-se uma tendência que vincula planejamento e gestão a considerações econômicas. O modelo que se estabelece é de que são necessárias normas, táticas e estratégias para se chegar ao futuro desejado, normas que permitam relacionar a organização com o entorno. A gestão estratégica UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 39 NÚCLEO COMUM consiste então na capacidade de articular os recursos que possui uma organização, sejam eles humanos, técnicos, materiais, financeiros. Segundo Casassus (1997), a crise do petróleo repercutiu tardiamente na América Latina, transformando-se, no início dos anos de 1980, em uma crise estrutural, gerando uma situação social instável e sendo o tema da governabilidade introduzido por meio de uma visão situacional, sobre a viabilidade das políticas. Reconhecendo-se o antagonismo dos interesses dos atores da sociedade e do tema da viabilidade política, juntam-se os temas da viabilidade técnica, econômica, organizativa e institucional, e a gestão se apresenta como o processo de resolução dos problemas. A realidade adquire o caráter da situação em relação ao ator e à sua ação, há uma preocupação de análise e abordagem dos problemas, no caminho a percorrer até o futuro desejado. Com o início dos anos de 1990, uma nova situação se desenha, orientando-se o modelo para a melhoria da qualidade do processo, de acordo comas necessidades dos usuários dos sistemas educativos, ganhando relevância a melhoria do produto mediante ações direcionadas para diminuir a burocracia e custos, maior flexibilidade administrativa e operacional, aprendizagem contínua, aumento da produtividade, criatividade nos processos. Busca-se diminuir os desperdícios e melhorar os processos existentes numa visão do conjunto da organização. Casassus (1997) afirma que entre as práticas de gestão dos sistemas educacionais, na segunda metade dos anos de 1990, prevalece principalmente a perspectiva estratégica clássica combinada com a perspectiva da Qualidade Total. Já o modelo de reengenharia, segundo o autor, situa-se no reconhecimento de contextos de mudanças dentro de um marco de competência global. Nesta perspectiva, Casassus (1997) distingue três aspectos de mudança: o primeiro prevê que as melhorias não bastam, exige-se uma mudança qualitativa; o segundo reconhece que os usuários têm, por meio da descentralização, a abertura do sistema e maior poder e maior exigência pela qualidade da educação que desejam; o terceiro aspecto se refere às mudanças, processo que também deve ser transformado. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 40 NÚCLEO COMUM Enquanto o modelo de Qualidade Total implica melhorar o que há hoje, buscando diminuir desperdícios e melhorar os processos existentes, numa visão do conjunto da organização, a reengenharia se define como uma reconceitualização funcional e redesenho radical dos processos. Nesta perspectiva, o modelo de reengenharia visa a uma mudança radical, não se tratando de melhorar o que existe, mas de reconsiderar radicalmente como está concebido o processo. Numa visão posterior, já na segunda metade da década de 1990, a tendência de se olhar a organização sob o ponto de vista das redes de comunicação, faz com que o processo de comunicação ganhe relevância quanto à facilitação ou impedimento na concretização das ações planejadas. A gestão aparece como desenvolvimento de compromissos de ação obtidos por meio de comunicações para a ação; nesta perspectiva, a gestão é a capacidade de formular petições e obter promessas. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 41 NÚCLEO COMUM Aula 14_Descentralização X Educação X Gestão (Parte III) Da análise detalhada que realiza, conforme nossas aulas anteriores, Casassus, o autor, elabora três conclusões: · a primeira é que na evolução dos modelos evidencia-se um processo que caminha do quantitativo para o qualitativo, no qual o gestor se transforma de analista para coordenador de ações; · a segunda é que as diferentes práticas e processos sucedem-se incorporando uns aos outros, ou seja, em alguma medida os novos contêm os anteriores; e · a terceira é a de que, neste processo de concretização, passa-se de uma perspectiva sistêmica abstrata para uma engenharia social, reconhecendo-se a existência da sociedade com seus atores sociais em tensão, ou seja, reconhece-se a existência da organização, a importância dos processos e, finalmente, a emergência da pessoa humana como o elemento chave que torna possível o funcionamento das organizações. No marco da importância das reformas educativas, a gestão do sistema e da escola vem se apresentando ao lado do processo de desenvolvimento da modernização do Estado, redesenho e introdução de maior racionalidade na gestão e em particular nos processos de descentralização e desconcentração em sua gestão. A redefinição das responsabilidades e atribuições dos diferentes órgãos do sistema educativo apontam a escola como lugar estratégico na produção de uma maior eficiência em sua gestão, maior qualidade e efetividade em seu trabalho. Enquanto na década de 1980 a preocupação se deu pela construção de relações sociais democráticas no interior da escola, pelo direito de participação dos diferentes sujeitos, na reforma há uma inversão, porque, conforme observa Krawczyk (2002, p.65): Deixa de ser expressão da demanda da comunidade educativa por maior autonomia escolar em busca da democratização das relações institucionais, para passar a ser resultado da preocupação dos órgãos centrais por redefinir quem deve assumir a responsabilidade da educação pública: tanto pela definição de seu conteúdo, como pelo seu financiamento e pelos resultados. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 42 NÚCLEO COMUM Essa discussão, uma das mais relevantes da política educacional nos anos de 1990 e hoje muito presente, deve-se, na realidade, à redefinição do Estado de Bem- Estar Social, em consequência da política neoliberal predominante. Referência Bibliográfica: KRAWCZYK, Nora Rut. Em busca de uma nova governabilidade na educação. In: OLIVEIRA, Dalila Andrade e Maria de Fátima Felix Rosar (orgs.). Política e gestão da educação. Belo Horizonte : Autêntica, 2002. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 43 NÚCLEO COMUM Aula 15_Descentralização X Educação X Gestão (Parte IV) Nós encerramos a aula anterior afirmando que a discussão sobre a redefinição das responsabilidades e atribuições dos diferentes órgãos do sistema educativo, que definem a escola como lugar estratégico na produção de uma maior eficiência em sua gestão, maior qualidade e efetividade em seu trabalho, é uma das mais relevantes da política educacional nos anos de 1990 e hoje ainda é muito presente. Deve-se, na realidade, à redefinição do Estado de Bem-Estar Social, em consequência da política neoliberal predominante. Outro aspecto relevante deve ser destacado. Munín (1998) nos revela que essas propostas surgem como uma nova forma para “melhorar a escola” por meio da maior “liberdade” para seus atores. A autora destaca que essa posse de maior liberdade é uma liberdade negativa, no sentido de que ela surge ao eliminar-se um dever por parte do Estado, tratando-se então da utilização dos recursos dos próprios atores, na ausência dos tradicionais recursos normativos e materiais do Estado. Segundo a autora, essa autonomia da escola, a descentralização dos sistemas educacionais, a privatização de escolas públicas, a livre escolha das escolas por parte da clientela correspondem na realidade às reformas do Estado Regulador para formas societárias, privadas de coordenação, como demonstram as reformas educacionais em andamento em diversos países, especialmente na América Latina. Da forma como têm sido apresentados, os discursos oficiais têm encontrado uma forte carga positiva por parte de diferentes setores da sociedade, quando trata da questão da autonomia, entendida como forma de expressão de êxito dos desejos de liberdade dos indivíduos perante o Estado. Porém, o que significa esta liberdade? “A autonomia da escola merece ser analisada fora da contradição proposta pelo discurso neoliberal/conservador entre o “controle do Estado” e a “liberdade” dos atores da escola. Porque, em que pese ser um tema que parece tão pedagógico, tal como do domínio cotidiano das escolas e dos professores, trata-se de um tema político” (MUNÍN, 1998, p.11). UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 44 NÚCLEO COMUM O Estado não deixa de exercer seu controle, nem sua regulação; continua sendo a expressão das relações sociais assimétricas de dominação capitalista, exercendo o controle sobre o indivíduo segundo a concepção liberal, mas também como concretização das relações sociais historicamente determinadas. O Estado mínimo não significa necessariamente um Estado mais débil, mas, sim, reforça a ideia de liberdade para o indivíduo escolher e responsabilizar-se pelas suas escolhas. Desta forma, o Estado mínimo provoca relações de maior assimetria numa sociedade com fortes desigualdadessociais como a nossa. Assim, novas formas de controle implicam maior liberdade imposta para os indivíduos. Isto se observa pelas mudanças nas políticas públicas, na legislação e na própria dinâmica de poder que se estabelece. Evidencia-se o rebaixamento de investimentos em políticas sociais das quais fazem uso as camadas menos favorecidas da população e privilegiam-se, por meio de regulamentações, os setores mais altos. Merece análise ainda a ideia de liberdade proposta pelo discurso oficial ante o controle do Estado. A ausência do controle do Estado potencializa a dependência dos recursos próprios dos atores sociais e sua diferente taxação em negociações assimétricas; torna então a liberdade conveniente para os setores que detêm maiores recursos. Neste sentido, nas escolas autônomas, os atores sociais ficam “livres” do Estado e “aceitantes” e dependentes de seus próprios recursos, o que provoca desigualdade entre as escolas e legitimação da desigualdade. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 45 NÚCLEO COMUM Aula 16_Descentralização X Educação X Gestão (Parte V) Ao final da aula passada discutimos a ideia crescente da liberdade individual frente ao controle do Estado. A diminuição da participação estatal aumenta a responsabilidade dos demais atores sociais pelos possíveis fracassos das ações empreendidas. Surgem, nesta perspectiva, duas questões centrais na construção da autonomia da escola: A primeira, a de que o estado, ao conceder maior liberdade à escola, obriga seus participantes a uma maior atuação nas decisões pedagógicas, organizacionais e financeiras; A segunda, a de que potencializa a liberdade desses atores, ao aumento da qualidade e de outros efeitos positivos na escola, responsabilizando- os, portanto, pelos resultados. Assim, os efeitos da medida política de se introduzir liberdade no sistema educativo por meio da autonomia da escola têm revelado que o afastamento estatal não garante a autonomia. Pelo contrário, a autonomia fica condicionada ao maior ou menor poder de recursos dos atores das próprias escolas. Desta forma, a desigualdade do rendimento dos alunos e as desigualdades entre as escolas representam uma redistribuição regressiva do serviço educativo público. A legitimação da distribuição regressiva da educação, a aceitação da passagem da responsabilidade do Estado para os atores das escolas, traz a consequente responsabilização desses atores com relação aos resultados alcançados. Portanto, os atores da escola que, aparentemente, têm maior liberdade do Estado, estão cada vez mais dependentes de seus recursos num contexto cada vez mais complexo. O que provoca um consenso entre a opinião pública com relação à autonomia da escola é a satisfação de se verem livres da interferência do Estado, o que, segundo Munín (1998), os impede de imputar ao Estado os resultados alcançados. Nesse sentido, nas democracias liberais, em que se insere a área educacional, a autonomia da escola vem representando uma pressão: a aprovação do afastamento do Estado ante os direitos individuais (referentes à raça, gênero, sexualidade para anuir aos direitos da “maioria normal”) e a sustentação de um neoliberalismo UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 46 NÚCLEO COMUM globalizado produtor de maiores desigualdades econômicas e sociais com cada vez menor compensação do Estado. Uma armadilha da própria política neoliberal. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 47 NÚCLEO COMUM Aula 17_É uma questão de competência? O que estamos propondo nesta aula é mais uma reflexão sobre as condições políticas, sociais, econômicas, culturais e educacionais em que vivemos na atualidade. Já sabemos que a consolidação das políticas em andamento não só no Brasil, mas mundialmente, tem como marco o Consenso de Washington (1989), cujas orientações passaram a nortear as políticas do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial na concessão dos empréstimos aos países necessitados de recursos, políticas essas que têm ajustes estruturais, como a redefinição do papel do Estado e que esta tem se referido a uma redução unilateral da intervenção estatal nos setores de produção e também dos serviços sociais. Problemas básicos da sociedade, especialmente as mais pobres como a brasileira, as desigualdades estruturais e a exclusão social, econômica e política dos segmentos pobres da população não têm sido amenizadas com as reformas realizadas e em curso. Sabemos ainda que a transformação internacional e a evolução rápida das tecnologias, os novos conceitos e “modelos” de organização estão provocando o desaparecimento de profissões, e novas profissões estão surgindo. Para enfrentarmos este desafio, podemos afirmar que precisamos de muita competência. E, não é por acaso que tanto se fala em competência. Alguns estudiosos do assunto tratam a questão da competência numa relação íntima com a questão do mercado de trabalho. Consideramos que também esta questão deve estar pautada nas nossas reflexões, mas não só elas. Na realidade, precisamos ser competentes para sobreviver nas condições já relatadas e precisamos compreender que o estabelecimento de competências é parte daquele projeto político de que tanto falamos. Mas, afinal, o que é competência? Ainda que concordemos com a maioria dos conceitos que já estão postos, atrevemo-nos a dizer que competente é alguém que sabe, sabe fazer, conhece suas próprias crenças e valores de mundo, define o que é realmente importante e coloca tudo isto em movimento partindo para a ação. Precisamos, como professores, cada vez mais, da competência do conhecimento. As informações e os saberes podem ser desenvolvidos com leituras e UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 48 NÚCLEO COMUM os meios de socialização são fantásticos hoje e precisamos deles para trabalhar com nossos alunos, além de uma outra competência que é técnica, que é adquirida quanto mais acumularmos experiências e conhecimento. O potencial intelectual reúne diferentes tipos de inteligência. Entre eles, as capacidades de compreensão, de extrapolação, de discernimento, de concentração, de dedução, de lógica, de criação. No nosso caso específico de professor, é necessário o raciocínio verbal, a boa memória, a capacidade de avaliação e discernimento, a capacidade de síntese. Quanto mais combinamos ou associamos estas aptidões, mais aumentamos o nosso o potencial de competência. Quando falamos das grandes mudanças e da velocidade com que elas ocorrem, falamos de como enfrentá-las, ou seja, sabemos que o enfrentamento pressupõe tensão e, por essa razão, podemos afirmar que nossas inteligências afetam nossas emoções e nossas emoções afetam as nossas inteligências. Uma das soluções é a manutenção do nosso entusiasmo, da nossa esperança, contudo, sem euforia. A reflexão e conscientização que estamos sempre fazendo a respeito dos valores da vida e do potencial humano é parte do equilíbrio entre as questões materiais e os valores espirituais. Os professores e a escola assim desenhados conquistam com seus alunos o direito de usufruir os prazeres físicos, emocionais, intelectuais e espirituais. De certa maneira estamos falando de competência de vida, o que representa um conjunto de competências. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 49 NÚCLEO COMUM UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 50 NÚCLEO COMUM Resumo_Unidade II De que forma a descentralização das políticas públicas estão relacionadas com a educação? A reforma educacional no Brasil, iniciado nos anos de 1990 está fundamentada em três dimensões: municipalização, autonomia
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