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0777_Pensamento Antropológico do Brasil

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UNIVERSIDADE 
METROPOLITANA DE 
SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
 CIÊNCIAS SOCIAIS 
 
Pensamento 
Antropológico do 
Brasil 
 
SEMESTRE 5 
 
 
UNIVERSIDADE 
METROPOLITANA DE 
SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Créditos e Copyright 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este curso foi concebido e produzido pela Unimes Virtual. Eventuais marcas aqui 
publicadas são pertencentes aos seus respectivos proprietários. 
A Unimes Virtual terá o direito de utilizar qualquer material publicado neste curso 
oriunda da participação dos alunos, colaboradores, tutores e convidados, em 
qualquer forma de expressão, em qualquer meio, seja ou não para fins didáticos. 
 
Copyright (c) Unimes Virtual 
É proibida a reprodução total ou parcial deste curso, em qualquer mídia ou formato. 
ROMANI, Carlos. 
 Pensamento Antropológico do Brasil. Carlos 
Romani: Núcleo de Educação a Distância da UNIMES, 
2015. 106p. (Material didático. Curso de ciências sociais). 
 Modo de acesso: www.unimes.br 
 1. Ensino a distância. 2. Ciências Sociais. 3. 
Antropologia do Brasil 
 
CDD 301 
 
http://www.unimes.br/
 
 
UNIVERSIDADE 
METROPOLITANA DE 
SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
 CIÊNCIAS SOCIAIS 
 
 
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 
FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS 
PLANO DE ENSINO 
 
 
 
CURSO: Licenciatura em Ciências Sociais 
COMPONENTE CURRICULAR: Pensamento Antropológicodo Brasil 
SEMESTRE: 5º 
CARGA HORÁRIA TOTAL: 80 horas 
 
EMENTA: 
Os principais pensadores em antropologia do Brasil, bem como suas ideias e 
ideários sobre o homem brasileiro e suas relações políticas, sociais e econômicas. 
A missão francesa na USP; O Departamento de Cultura; A crítica à democracia 
racial; O Museu Nacional; Da aculturação à fricção Inter étnica; O estruturalismo 
chega à Antropologia; Rumo ao Planalto Central; A influência da antropologia 
inglesa e a Unicamp; A institucionalização da política indígena. O perspectivismo e a 
etnologia indígena; A antropologia política; Sobre a demografia e a economia 
ecológica; Direitos dos povos tradicionais; Populações quilombolas; Populações de 
pescadores marinhos; Outras populações caboclas. Antropologia social e urbana; 
Grupos urbanos; Violência urbana; Novas religiões; Questões de gênero; Família e 
reprodução humana; Sexualidade; Tudo é objeto da antropologia. 
 
OBJETIVO GERAL: 
 
 
UNIVERSIDADE 
METROPOLITANA DE 
SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Apresentar o processo de construção do campo de conhecimento da antropologia no 
Brasil e apresentar a institucionalização do pensamento antropológico no ambiente 
acadêmico brasileiro. 
 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 
 Unidade I - A formação do pensamento antropológico no Brasil. 
Objetivos da unidade 
Apresentar o pensamento científico que influenciou os primeiros estudos de caráter 
antropológico no Brasil e as primeiras interpretações dadas pelos pesquisadores 
para a constituição do povo brasileiro. 
Unidade II - A institucionalização da Antropologia no Brasil 
Objetivos da unidade 
Apresentar como a antropologia se institucionalizou no meio acadêmico enquanto 
ciência específica e como a pesquisa, o pensamento antropológico, e os cursos de 
antropologia se desenvolveram nas principais universidades brasileiras e chegaram, 
também, ao palco da política nacional. 
 
Unidade III - A Antropologia das populações tradicionais 
Objetivos da unidade 
Apresentar a nova etnologia para os povos tradicionais em curso desde a década de 
1980 e como ela se relaciona com a agenda ambiental que também se torna 
relevante a partir dessa mesma época. Discutir como as novas teorias da 
antropologia, em conjunto com a temática da preservação ambiental, trazem para o 
plano institucional a questão dos direitos de todos os povos tradicionais como 
fundamentais para a manutenção do equilíbrio ecológico do planeta. 
 
Unidade IV - A ampliação do campo antropológico no Brasil. 
Objetivos da unidade 
 
 
UNIVERSIDADE 
METROPOLITANA DE 
SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Apresentar a multiplicação dos estudos antropológicos no Brasil a partir da década 
de 1970, que lhe tiraram o caráter de uma disciplina de estudos específicos sobre os 
povos tradicionais. A nova antropologia brasileira passou a pesquisar todos os 
grupos sociais urbanos, as relações de gênero, a sexualidade, entre outros campos, 
criando-se também antropologias específicas para a educação, para o consumo, 
para a saúde e outras áreas do conhecimento. 
 
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO: 
UNIDADE I: A formação da Antropologia no Brasil 
UNIDADE II: A institucionalização da Antropologia no Brasil 
UNIDADE III: A Antropologia das populações tradicionais 
UNIDADE IV: A ampliação do campo antropológico no Brasil 
 
Bibliografia Básica: 
 DAMATTA, Roberto. Relativizando, Uma introdução à antropologia social. Rio de 
Janeiro, Rocco, 1991. 
FERNANDES, Florestan. Integração do negro na sociedade de classes. São 
Paulo, Editora Globo, 2008. 
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. Rio de Janeiro, Editora Mauad, 2006. 
 
Bibliografia Complementar: 
 OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Sobre o pensamento antropológico. Rio de 
Janeiro, Tempo Brasileiro, 1988. 
ZALUAR, Alba. A Máquina e a Revolta. São Paulo: Brasiliense, 2002. 
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças. São Paulo, Companhia das 
Letras, 1993. 
CUNHA, Euclides. Os Sertões. São Paulo, Ateliê editorial, 2001 
RIBEIRO, Darcy. O povo Brasileiro. São Paulo, Companhia de Bolso, 2006. 
http://campus16.unimesvirtual.com.br/eduead/mod/resource/view.php?id=15481
 
 
UNIVERSIDADE 
METROPOLITANA DE 
SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
 CIÊNCIAS SOCIAIS 
 
METODOLOGIA: 
A disciplina está dividida em unidades temáticas que serão desenvolvidas por meio 
de recursos didáticos, como: material em formato de texto, vídeo aulas, fóruns e 
atividades individuais. O trabalho educativo se dará por sugestão de leitura de 
textos, indicação de pensadores, de sites, de atividades diversificadas, reflexivas, 
envolvendo o universo da relação dos estudantes, do professor e do processo 
ensino/aprendizagem. 
 
AVALIAÇÃO: 
A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e 
apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como 
forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados tanto na 
parte teórica como na prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades 
em momentos específicos como fóruns, chats, tarefas, avaliações a distância e 
Prova Presencial, de acordo com a Portaria de Avaliação vigente. A Avaliação 
Presencial, está prevista para ser realizada nos polos de apoio presencial, no 
entanto, poderá ser realizada em home seguindo as orientações das autoridades da 
área da saúde e da educação e considerando a Pandemia COVID 19. 
 
 
 
UNIVERSIDADE 
METROPOLITANA DE 
SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Sumário 
 
Aula 01_ A Antropologia no século XIX ........................................................................................ 9 
Aula 02_ O imperialismo europeu e a nação brasileira. .............................................................12 
Aula 03_ O debate científico no nascente Brasil republicano. ...................................................15 
Aula 04_Os Museus e a etnografia nacional. ..............................................................................18 
Aula 05_ As expedições de integração nacional.........................................................................21 
Aula 06_ A escola Nina Rodrigues. ..............................................................................................24Aula 07_Cultura e aculturação. .....................................................................................................27 
Aula 08_ A democracia racial. ......................................................................................................30 
Resumo I .........................................................................................................................................33 
Aula 09_A missão francesa na USP. ...........................................................................................35 
Aula 10_O Departamento de Cultura em São Paulo. .................................................................37 
Aula 11_A crítica à democracia racial. .........................................................................................39 
Aula 12_ O Museu Nacional. ........................................................................................................41 
Aula 13_Da aculturação à fricção interétnica. .............................................................................43 
Aula 14_O estruturalismo chega à Antropologia. ........................................................................45 
Aula 15_Rumo ao Planalto Central. .............................................................................................48 
Aula 16_ A Unicamp e a influência inglesa. ................................................................................50 
Aula 17_ Rumo a uma política indígena comum.........................................................................53 
Resumo II ........................................................................................................................................56 
Aula 18_O perspectivismo e a etnologia indígena. .....................................................................58 
Aula 19_ A antropologia política das sociedades indígenas. .....................................................61 
Aula 20_ Sobre a demografia e a economia ecológica ..............................................................64 
Aula 21_Direitos dos povos tradicionais. .....................................................................................67 
Aula 22_As populações quilombolas. ..........................................................................................70 
Aula 23_Populações de pescadores marinhos. ..........................................................................73 
Aula 24_Outras populações caboclas. .........................................................................................76 
Resumo III.......................................................................................................................................78 
Aula 25_ Antropologia social e urbana. .......................................................................................81 
Aula 26_Grupos urbanos...............................................................................................................84 
Aula 27_Violência urbana. ............................................................................................................87 
Aula 28_Novas religiões. ...............................................................................................................90 
 
 
UNIVERSIDADE 
METROPOLITANA DE 
SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Aula 29_Questões de gênero. ......................................................................................................93 
Aula 30_Família e reprodução humana. ......................................................................................96 
Aula 31_Sexualidade. ....................................................................................................................99 
Aula 32_Tudo é objeto da Antropologia. ....................................................................................101 
Resumo IV ....................................................................................................................................103 
 
 
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9 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Aula 01_ A Antropologia no século XIX 
 
Antes de tudo vamos começar pelo nome. Antropologia é uma palavra de 
origem grega que significa anthropos, homem, logos (estudo), portanto, trata do 
estudo sobre o ser humano. Assim, o comportamento dos humanos já era estudado 
pelos gregos antigos há mais de 2.500 anos. Porém, a Antropologia somente se 
tornaria uma ciência moderna, passando a levar este nome no final do século XVIII. 
Em sua fase inicial, o pensamento antropológico brasileiro foi fortemente 
influenciado pelo desenvolvimento da Antropologia Física bastante em voga na 
Europa da segunda metade do século XIX. Esse ramo da Antropologia estudou os 
aspectos animais, físicos, dos diversos tipos humanos habitantes do planeta, 
portanto, entendia o homem como um ser biológico e, ela se constituiu como uma 
ciência natural, ou, em termos mais atuais, biológica. Ao contrário, aAntropologia 
Cultural, que será dominante na primeira metade do século XX, utilizará a cultura 
como o conceito central para o entendimento da constituição da vida dos homens 
em sociedade. Dessa forma, privilegiando os aspectos culturais (os ritos, os 
costumes, relações sociais, festas, hábitos alimentares, entre outros) a Antropologia 
transforma-se definitivamente numa ciência social. 
Durante o século XIX os estudos antropológicos procuravam compreender o 
ser humano como produto de um longo processo evolutivo. As origens remotas da 
espécie humana, a relação genética mantida pelos homens com outros grupos de 
primatas extintos (p. ex., o australopitecus, um dos primeiros homídeos) ou ainda 
vivos (macacos, chimpanzés, gorilas), as modificações em sua estrutura física, as 
influências que os grupos humanos sofreram do meio ambiente (habitat, clima, 
relevo), foram os grandes objetivos dos estudos antropológicos desse século. 
Para alcançar esses objetivos a Antropologia Física estudava o ser humano 
do ponto de vista biológico como se analisa um animal. Dessa forma, alguns campos 
de conhecimento ligados à Genética foram privilegiados. Entre eles, os estudos 
sobre a hereditariedade, ou seja, a passagem dos genes de pai para filho e assim 
sucessivamente, portanto, a constituição genética dos seres humanos. 
Um outro campo bastante difundido entre os primeiros antropólogos foi o 
da Somatologia. Esse é o nome que se deu à ciência especializada em descrever 
 
 
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9 CIÊNCIAS SOCIAIS 
detalhadamente as características físicas dos seres humanos, utilizando-se 
basicamente das técnicas antropométricas. 
Essas técnicas foram procedimentos de mensuração com o emprego de 
instrumentos específicos através dos quais eram medidas a estrutura física dos 
vários grupos de seres humanos, sua altura, a proporção dos membros em relação 
ao tronco, as dimensões do crânio e outras. O objetivo desses estudos era o de 
demonstrar as variações entre os diferentes tipos humanos e as classificações deles 
em raças e sub-raças distintas. 
Tudo isso voltado para o mais controverso dos antigos estudos antropológicos 
que era o estudo da raça. Conceito puramente biológico, a divisão e a classificação 
dos seres humanos em grupos raciais portadores de características físicas 
hereditárias e transmissíveis, marcou a Antropologia Física no século XIX. Foram 
reconhecidos três grandes troncos raciais distintos e, dentro deles, uma enorme 
variedade de tipos internos. Esses troncos seriam o da raça branca, ou eurasianos, 
o da raça asiática, ou mongoloides, e o da raça africana ou, dos negroides. 
Particularmente esse estudo antropológico sobre as raças humanas sofreu a 
influência decisiva do evolucionismo, um ramo da Biologia que teve em Charles 
Darwin o seu pai fundador (1859). A evolução da espécie humana émotivada por 
algumas razões basicamente genéticas que sofreram, também, a influência do meio 
ambiente onde viveram e se desenvolveram as diferentes populações. Dentre essas 
razões, há a teoria da seleção natural das espécies, segundo a qual, os mais fortes 
sobrevivem e se desenvolvem em detrimento dos mais fracos, gerando o que seria 
uma competição dentro dos diferentes agrupamentos humanos e também entre eles. 
 As teorias evolucionistas aplicadas à Antropologia trouxeram para o campo 
de estudo sobre as raças humanas um tipo de classificação hierárquica 
preconceituoso, uma vez que formulado por integrantes de um dos grupos raciais 
classificados. Essa ordem hierárquica definia graus de evolução diferenciados 
colocando no topo a raça branca, logo abaixo os asiáticos e, por último, os negros. 
Iniciamos nosso estudo sobre o pensamento antropológico brasileiro com esta aula, 
pois os primeiros estudos antropológicos feitos no Brasil na passagem do século XIX 
para o XX foram completamente influenciados por esses conceitos criados em 
relação às raças humanas. 
 
 
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9 CIÊNCIAS SOCIAIS 
 
Exercício 
Um bom filme para se perceber e discutir a questão da natureza humana e da 
civilização é O Enigma de KasparHauser, de 1976, (em VHS) no qual o diretor 
Werner Herzog narra a história de um menino que viveu distante da civilização, 
sendo alimentado à distância durante mais de dezesseis anos. 
 
 
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9 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Aula 02_ O imperialismo europeu e a nação brasileira. 
 
Os estudos antropológicos no século XIX estiveram orientados para o ramo 
físico, em particular para se compreender a evolução das raças humanas e 
classificá-las em uma ordem hierárquica. Esses estudos foram desenvolvidos por 
cientistas, em sua maioria biólogos e médicos, que produziram uma visão de mundo 
de acordo com o lugar de onde eles se originaram, a Europa, e, portanto, o modo de 
pensar da civilização ocidental, a que chamamos de modernidade. 
Os pesquisadores de países como a Inglaterra, a França, a Alemanha e a 
Holanda, foram os pioneiros nesses estudos, não sem razão, uma vez que essas 
nações adotaram políticas imperialistas no século XIX que tiveram como objetivo a 
conquista e a expansão colonial em direção aos territórios nos continentes africano e 
asiático. 
E qual seria a relação entre a Antropologia e o imperialismo das nações 
europeias? Antes de tudo, a Antropologia nasceu no fim do século XVIII como uma 
ciência moderna cujo objeto de estudo foram as populações não europeias ou não 
brancas. Assim, as nações que conseguiram alcançar a maior expansão colonial e 
se constituíram em grandes impérios foram aquelas que mais campo tiveram para 
as pesquisas antropológicas. 
No final do século XIX, o Império Britânico ocupava metade da África central 
e meridional, a maior parte do Oriente Médio, a Índia, parte da China, a Oceania, e 
muitas ilhas do Caribe. A França por sua vez dominava todo o norte da África e 
metade da parte central desse continente, além do sudeste asiático e ilhas no 
Pacífico e no Caribe. Nesses territórios ocupados, a maior parte da população 
constituía-se de povos negroides e asiáticos, segundo aquela grande classificação 
racial criada. E foram justamente esses os povos estudados pelos primeiros 
antropólogos físicos que, a partir da visão de mundo construída pela perspectiva 
evolucionista da ciência moderna, eram tidos como civilizações mais atrasadas. 
Foram essas teorias científicas criadas na Europa que chegaram ao Brasil na 
metade final do século XIX. Do ponto de vista prático, uma de suas aplicações foi o 
estabelecimento de uma política nacional de imigração. Em 1883, foi fundada no Rio 
de Janeiro a SCI, Sociedade Central de Imigração, cuja pauta nos anos seguintes foi 
 
 
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METROPOLITANA DE 
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9 CIÊNCIAS SOCIAIS 
o do estímulo à imigração de trabalhadores europeus ao Brasil. A tese a favor da 
imigração europeia no Brasil foi difundida pelo médico francês Louis Couty, uma 
das referências teóricas da SCI. 
Essa proposta acenava para a melhor qualidade da mão de obra branca, tida 
como mais ativa e inteligente e a superioridade de costumes dos europeus como 
forma de civilizar o povo brasileiro. Essas teorias científicas baseadas em critérios 
raciais penetrarão sensivelmente no Brasil e formarão toda uma geração da elite 
intelectual brasileira sustentando a tese do branqueamento da população como uma 
missão histórica inerente ao progresso do país. 
Passado o longo período de escravidão, no qual o escravo não era 
considerado brasileiro por não ser cidadão, com a chegada da República, aumentam 
ainda mais as questões centrais colocadas pela nossa elite intelectual: afinal quem é 
o povo brasileiro, ou melhor, seguindo essa argumentação, qual o povo brasileiro 
que desejamos? 
Na impossibilidade histórica, ou seja, na falta de condições intelectuais e 
técnicas para os cientistas brasileiros criarem modelos científicos e analíticos 
próprios, o modelo evolucionista das teorias raciais chegou ao país com o atraso 
característico, já em fins do século XIX. 
É nesse contexto particular que se inicia e se desenvolve o pensamento 
antropológico brasileiro, partido por uma aparente dicotomia – a fantasia de uma 
elite que se pensa formada e descendente de uma civilização colonizadora e a 
realidade de uma nação e um povo mestiço, meio índio, meio negro, um pouco 
caboclo e um pouco mulato. Como então seria possível empreender um pensamento 
científico no país, no qual o objeto de estudo não seria o “outro”, o diferente, como 
foi para os cientistas europeus, mas sim o próprio povo brasileiro fruto de uma 
mistura racial ocorrida durante os quatro séculos de colônia e império? 
 É por isso que muitos autores falaram da inexistência de uma antropologia 
brasileira, mas sim, de pesquisas antropológicas feitas no país. No decorrer deste 
curso, tentaremos desvendar e responder essa questão: Antropologiado 
Brasil ou Antropologia no Brasil? 
 
 
 
 
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9 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Exercício 
 Procure estudar, discutir e perceber essa questão que se coloca para a 
antropologia realizada no Brasil, a partir da perspectiva da ciência criada na Europa. 
Como os brasileiros podem ou devem se perceber, sujeitos ou objetos de estudo? 
 
 
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9 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Aula 03_ O debate científico no nascente Brasil republicano. 
 
As duas escolas sociológicas que mais influenciaram a formação do 
pensamento social brasileiro nesse período foram a do Positivismo e a 
do Evolucionismo. Augusto Comte foi o criador do termo Sociologia em 1839 e 
sua teoria ficou conhecida como positivista, pois confiava que a humanidade, com 
base na evolução das ideias, que na época se chamava evolução do espírito, seguia 
sempre em direção ao progresso científico e social. 
O lema de nossa bandeira republicana “ordem e progresso”, por exemplo, é 
um lema positivista. Isso já revela a grande influência dessa escola na formação 
política da Republica. Por outro lado, já vimos como a teoria da evolução foi decisiva 
no campo biológico e ela se desenvolveu também no campo social através de 
Herbert Spencer, para quem as sociedades mais simples (famílias) movem-se em 
direção a sociedades mais complexas (primeiro os clãs – reunião de famílias, depois 
tribos – reunião de clãs, depois os estados e as nações). 
Dessa segunda escola surgiu um ramo que marcou decisivamente o 
pensamento científico e social brasileiro dessa época, o darwinismo social, que é 
uma transposição da teoria darwiniana da evolução para a Sociologia. Para os 
seguidores dessateoria, o fator biológico é determinante para a transformação 
social, portanto, os componentes genéticos do indivíduo e do grupo a que ele 
pertence, indicariam o grau de evolução desse grupo também no campo social. Essa 
teoria foi a base para as interpretações sobre a evolução das raças que já 
estudamos. 
No Brasil, país mestiço, cuja formação étnica da população se constituiu na 
diversidade, sendo influenciada por um conjunto enorme de povos, essa teoria 
provocou grandes debates. Se for verdade que a evolução social depende da 
constituição racial da sociedade e de que há uma hierarquia entre as raças, então a 
sociedade brasileira mestiça estaria sempre fadada a permanecer num degrau 
evolutivo mais baixo. O problema se agravaria ainda mais com a mestiçagem, pois a 
mistura racial tenderia a degenerar as qualidades das raças superiores levando a 
sociedade à decadência. Vários autores levantaram essa questão e apresentaram 
soluções diferentes. 
 
 
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METROPOLITANA DE 
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9 CIÊNCIAS SOCIAIS 
O jornalista Euclides da Cunha, ligado ao Instituto Histórico e Geographico 
Brasileiro, IHGB, ao descrever o conflito de Canudos em Os Sertões, na parte 
dedicada ao homem, apresenta o sertanejo nordestino como um desequilibrado e 
degenerado, por ser fruto de raças muito diferentes. Ao mesmo tempo, devido às 
circunstâncias inóspitas do meio, o apresenta como uma rocha na célebre frase 
“antes de tudo o sertanejo é um forte”. Ora, se esse sertanejo é um dos grandes 
frutos da mestiçagem brasileira, Euclides da Cunha não conseguiu explicar as 
causas de sua sobrevivência, que contradisseram a teoria racial então dominante. 
Outro importante intelectual da Faculdade de Direito do Recife, Silvio 
Romero, entendia como positiva a mestiçagem brasileira, e justamente por isso 
seríamos uma nação de gente igualitária, afeiçoada aos valores da democracia. 
Para ele era importante admitir esse fato constitutivo de nossa formação étnica e 
não ter preconceito em relação a ele. Romero será um dos precursores da tese da 
democracia racial brasileira. Outros intérpretes do país como Oliveira Viana, do 
IHGB, e Nina Rodrigues, da Faculdade de Medicina da Bahia, também partiram da 
tese do evolucionismo aplicada às raças, o que, daquele ponto de vista científico, 
levava o país a um impasse. Seguindo essa teoria dominante, o país se tornaria 
inviável. 
Foi no meio desse debate que a tese do branqueamento da população 
floresceu e saiu do campo da ciência para se tornar uma política pública. Isso 
porque a teoria evolucionista prevê que algumas misturas genéticas são favoráveis e 
outras não. João Batista Lacerda, do Museu Nacional do Rio de Janeiro, defensor da 
mistura genética através da importação de indivíduos brancos, procurou mostrar que 
o Brasil, adotando políticas migratórias, através da seleção natural faria com que sua 
população em menos de cem anos se tornasse totalmente branca. Aquilo que, com 
o desenvolvimento das ciências, hoje é tido como puro preconceito, na época era o 
mais puro conceito científico. 
 Para sair desse impasse o pensamento social brasileiro fundado com base 
nas teorias raciais importadas com atraso da Europa, teve que fazer uma 
“negociação” com essa mesma teoria para explicar e viabilizar a existência da 
própria nação. A antropóloga Manuela Carneiro da Cunha dirá que “a país mestiço, 
ciência mestiça”. Esse debate sobre a constituição da população brasileira e sobre o 
 
 
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Núcleo de Educação a Distância 
9 CIÊNCIAS SOCIAIS 
que fazer para melhorar a evolução de nossa sociedade inaugurou os estudos 
antropológicos no Brasil no começo do século XX. 
 
Exercício 
 Vale a pena ler o livro de Euclides da Cunha ou assistir a versão de Sérgio 
Rezende feita para o cinema nacional de Os Sertões (cópia em DVD) para se 
perceber o choque de culturas no nascente Brasil republicano. 
 
 
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9 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Aula 04_Os Museus e a etnografia nacional. 
 
No século XIX, as primeiras pesquisas etnográficas (mapeamento das 
características de um dado grupo social) não eram realizadas nos ambientes 
acadêmicos das universidades. Eram nos museus científicos e nos institutos de 
estudos históricos e geográficos que a pesquisa e os debates se desenvolviam. 
O primeiro museu brasileiro a ser criado foi o Museu Nacional do Rio de 
Janeiro durante a passagem da corte portuguesa pelo Brasil em 1808. Mas a ideia 
de se transformá-lo em um museu científico nos moldes dos museus etnográficos e 
de história natural existentes na Europa e nos Estados Unidos, somente foi 
implementada no ano de 1876 sob a direção de João Batista Lacerda. Caberá aos 
museus científicos brasileiros com essa experiência pioneira, a pesquisa e produção 
das ciências naturais no país. 
Antes da institucionalização da pesquisa científica no ambiente dos museus, 
quem produzia esses trabalhos de campo sobre a flora, a fauna e as populações 
indígenas existentes no país, foram os chamados viajantes. Desde o século XIX, 
principalmente, uma série de exploradores naturalistas europeus percorreu o Brasil 
levantando, demarcando, desenhando as características da natureza e da 
população brasileira e, também, coletando espécimes de plantas exóticas para o 
enriquecimento das coleções de museus e de particulares estrangeiros. Duas 
expedições realizadas no início desse século deram impulso significativo aos 
trabalhos etnográficos no Brasil. 
A primeira, do francês Auguste de Saint-Hilaire (1816-22) quando observou o 
“distrito dos diamantes” (Minas, Goiás e Mato Grasso) e o litoral do Brasil, do Rio 
Grande do Sul ao Espírito Santo. Depois, a expedição do 
alemãoLangsndorff (1825-29) que, a partir de São Paulo, refez a rota dos 
bandeirantes pelo rio Tiete, passou por Cuiabá e chegou a Santarém no rio 
Amazonas, descrevendo também as populações nativas lá encontradas. 
Numa escala de importância dada pela quantidade de artigos publicados 
na Revista do Museu Nacional, a pesquisa científica abrangia a Zoologia, a 
Botânica, a Geologia e só então vinha a Antropologia, cujos temas versavam sobre a 
anatomia humana, ou melhor, dos diferentes tipos humanos. 
 
 
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Os índios botocudos, por exemplo, habitantes do sul da Bahia e leste de 
Minas Gerais, tiveram seu grau de evolução mensurado por Batista Lacerda a partir 
de crânios guardados no acervo. O grande mérito do diretor foi o de ter ministrado o 
primeiro curso de Antropologia no país, no ano de 1887. Um curso de Antropologia 
Física no Museu com a parte prática voltada para os estudos anatômicos da espécie 
humana, tendo como materiais de pesquisa partes de esqueletos de indígenas 
brasileiros. 
O estado de São Paulo seguiu o exemplo carioca e inaugurou no ano de 1894 
o seu museu etnográfico chamado de Museu Paulista e que ficou conhecido como 
Museu do Ypiranga. O objetivo declarado da nova instituição era o do “estudo da 
história natural da América do Sul e em particular do Brasil, por meios científicos”. 
Os trabalhos do museu, liderados pelo zoólogo alemão Von Ihering, viam a 
Antropologia apenas como um ramo dos estudos zoológicos e botânicos. Marcado 
pelo evolucionismo, Ihering afirmava que as leis que valem para os animais e para a 
natureza valem também para os humanos em sua evolução. 
 É em Belém, no Museu Paraense, que posteriormente levará o nome 
de Emílio Goeldi, onde se encontrará a maior quantidade de pesquisa de campo 
etnográfica. Esse zoólogo suíço, contratado em 1893 para ser diretor do museu, deu 
a ele o caráter mais científico entre todos. Instalado na entrada da Amazônia, 
portanto, na região de maior diversidade natural e humana da América do Sul, com a 
direçãode Goeldi a etnografia das populações indígenas amazônicas recebeu 
grande impulso e produziu os primeiros trabalhos de efetiva qualidade no país. 
Seu etnólogo pesquisador, Curt Nimuendaju, dedicou a vida ao estudo das 
populações indígenas sul-americanas, praticamente criando a etnologia sobre 
os Guarani. Além disso, teve o grande mérito de divulgar internacionalmente a 
existência do tronco populacional Jê residente no Brasil central, diferente dos outros 
grupos Tupi já conhecidos. Deve-se a ele o estabelecimento de uma etnologia sobre 
os Jê com o estudo de uma de suas tribos, os Apinajé, que o adotaram como 
membro do grupo. Ao instalar-se e viver junto aos índios para pesquisá-los e 
compreendê-los, ao ser por eles rebatizado, Nimuendaju modificou completamente a 
compreensão que se tinha no Brasil sobre o que é ser um antropólogo. 
Exercício 
 
 
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 Procure estudar e compreender o que vem a ser um etnólogo e o que são os 
estudos etnográficos, comparando os antigos trabalhos desenvolvidos nos museus 
com aqueles que foram realizados por Curt Nimuendaju. 
 
 
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Aula 05_ As expedições de integração nacional. 
 
A República brasileira, desde sua proclamação, sempre teve como um de 
seus principais objetivos políticos o povoamento, a ocupação e a integração à 
“civilização” dos habitantes das regiões mais distantes do território nacional e de 
suas áreas de fronteira. Vários foram os órgãos criados entre o fim do século XIX e 
início do XX com essa missão: as sociedades para a imigração e migração; as 
missões colonizadoras; as comissões de povoamento; as comissões telegráficas; as 
comissões de limites. Uma dessas comissões, iniciada no ano de 1907, a Comissão 
de Linhas Telegráficas Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas (CLTEMTA), será 
a ponta de lança daquilo que se tornará anos mais tarde a primeira política 
indigenista do Brasil. 
Essa comissão ficou mais conhecida para o público brasileiro 
como Comissão Rondon, levou o nome de seu comandante, o Marechal Rondon, 
e é associada à ideia de integração nacional, ou de desbravar as áreas mais 
distantes do sertão. O objetivo específico dessa expedição, que durou de maio de 
1907 a janeiro de 1915, foi o de instalar a linha telegráfica Cuiabá-Madeira. 
Os novos 1.500 quilômetros de linha ligaram através do telégrafo a capital 
federal do Rio de Janeiro, que já estava conectada a Cuiabá, e a partir dessa última 
capital, o Acre, o Alto Purus e Alto Juruá, afluentes da margem direita do Amazonas. 
Mas esse objetivo administrativo colocou Rondon em contato com populações antes 
quase que desconhecidas dos brasileiros dito civilizados. 
Dentro daquela visão social e científica que já estudamos, a civilização aqui é 
compreendida como o modo de vida daquela parte da sociedade brasileira que já 
havia sofrido a influência, seja racial, seja cultural, da civilização moderna europeia 
daquele tempo, ou seja, a parcela da população brasileira já colonizada segundo a 
disciplina e os costumes europeus. 
Esse contato obtido na longa viagem realizada criou no Marechal uma 
espécie de missão a ser cumprida: o de levar aos índios os valores da nascente 
civilização brasileira, ou como ele dizia a nacionalização dos índios. Ele próprio era 
fruto desse contato entre índios e civilizados (sua mãe descendia de 
índios Terena e Bororo) e achava que a integração dos índios à civilização seria a 
 
 
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única forma de salvá-los do crescente extermínio provocado pelo encontro belicoso 
com o homem branco que explorava economicamente a selva. 
De formação positivista, sua ideia de integração estava ligada à noção de 
evolução social. Para ele, o índio não era um homem racialmente inferior ao branco, 
à questão era que sua organização social era inferior, ela encontrava-se num 
estágio de civilização inferior. Portanto, como em Rondon o problema não é racial, o 
índio, uma vez educado, disciplinado nos moldes da sociedade branca, se tornaria 
parte integrante da civilização mais evoluída. Rondon, que é tido como o pai dos 
índios, o defensor de suas vidas contra o agressor, na prática, a sua política de 
nacionalização e integração dos índios serviu para descaracterizar os valores das 
culturas indígenas e transformá-los em brasileiros de origem indígena. 
Nas aldeias por onde passaram as diferentes comissões das quais fizeram 
parte Rondon e outros expedicionários, o hino nacional devia ser cantado todas as 
manhãs, a língua portuguesa passou a ser ensinada nas escolas, o batismo na fé 
católica tornou-se prática comum, o registro de nascimento em cartório, a 
identificação com os valores nacionais da bandeira, o alistamento militar dos jovens, 
foram todas práticas incorporadas a essas culturas tradicionais. Assim, se por um 
lado, com o projeto de integração o Marechal criou uma escola de sertanistas 
preocupados em resguardar os índios mais distantes do genocídio que fatalmente 
sofreriam, impuseram-se a eles a subordinação de suas tradições aos valores 
oficiais da nação brasileira. 
 Do ponto de vista institucional, a atuação de Rondon foi determinante para a 
criação do Conselho Nacional de Proteção aos Índios, já na era Vargas, do qual foi 
diretor, que teve durante muitos anos a missão de formular políticas de defesa e 
preservação dos valores indígenas. O Marechal e outros expedicionários e 
sertanistas sucessores (Major Luiz Thomás Reis, os irmãos Villas-Boas, entre 
outros) iniciam e põem em curso dois grandes trabalhos: detiveram um pouco o 
massacre que sofriam e os trouxeram para o palco de uma política nacional de 
direitos para os índios. A partir da década de 1960 essas causas serão abraçadas e 
transformadas pelos antropólogos ligados às causas indígenas. A velha 
política indigenista, ou seja, a política dos civilizados para com os índios, será 
lentamente substituída por uma política indígena, ou seja, uma política realizada 
 
 
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com a participação da comunidade indígena e a posição da vontade dos índios nela 
envolvidos na determinação de uma política pública para eles mesmos. 
 
Exercício 
 Procure assistir ao filme Ao redor do Brasil dirigido pelo Major Luiz Thomas 
Reis e reeditado em VHS pela Funarte, Ministério da Cultura, (www.decine.gov.br) 
numa coleção denominada “Tesouros do cinema latino-americano”. Acompanhe 
uma aventura de expedição de fronteiras realizada em 1932 pelo interior do Pará, 
Amazonas e Mato Grosso. 
 
 
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Aula 06_ A escola Nina Rodrigues. 
 
O debate sobre a determinação racial na evolução da sociedade ocorreu em 
vários lugares do país onde se praticava uma ciência e um pensamento nacional. 
As escolas de medicina no Recife, no Rio de Janeiro e na Bahia, foram alguns dos 
lugares privilegiados onde se aprofundaram essas teses. A Faculdade de Medicina 
da Bahia ocupou um lugar de destaque com a presença do médico maranhense lá 
radicado, Raimundo Nina Rodrigues. Para nos iniciarmos em suas teorias, que 
fizeram a escola valer à pena, reproduzirmos a citação de Silvio Romero, que Nina 
faz em seu livro Os africanos no Brasil, escrito por volta de 1906, mas publicado pela 
primeira vez somente em 1933: 
 
“Quando vemos homens como Bleek refugiarem-se dezenas e dezenas de 
anos nos centros da África somente para estudarem uma língua e coligir 
uns mitos, nós que temos o material em casa, que temos a África em 
nossas cozinhas, a América em nossas selvas e a Europa em nossos 
salões, nada havemos produzido nesse sentido!É uma desgraça. O negro 
não é somente uma máquina econômica; ele é antes de tudo, e malgrado 
sua ignorância, um objeto de ciência.” (RODRIGUES, 1988:XV). 
 
A citação é significativa, pois, para a nascente antropologia brasileira, o objeto 
de estudo não se encontrava distante, em outros continentes, ele era parte 
integrante da sociedade, ou melhor, ele era a própria sociedade brasileira. 
Percebendo esse vazio científico, o doutor Rodrigues tornou-se o pioneiro dos 
estudos etnográficos, sobre os diferentes grupos de africanos que chegaram ao país 
durante o longo período de escravidão, procurando perceber as diferenças e as 
hierarquias entre as etnias de seus ascendentes africanos. 
Nina Rodrigues, que faleceu precocemente em 1906 antes de concluir esse 
trabalho, se converteu no principal difusor no Brasil dessa ideia científica do 
darwinismo racial, internacionalmente aceita na época, de que a mistura de raças 
seria prejudicial. Portanto, segundo essa visão, um país formado por raças muito 
diferentes estava fadado à decadência. Além disso, ele pregava a separação das 
raças, assim, a seleção natural num regime competitivo daria cabo das raças 
 
 
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inferiores que seriam eliminadas ou controladas. Esse diagnóstico do médico tinha 
respaldo nos exemplos de embriaguez, de loucura, de epilepsia e de violência 
encontrados em marginais e documentados pela medicina legal. Durante o século 
XIX, os estudos antropométricos dos crânios humanos foram realizados como modo 
de sustentação das hipóteses da antropologia criminal, preocupada em encontrar 
um tipo físico comum aos indivíduos criminais. O médico italiano 
Cesare Lombroso foi o principal expoente dessa vertente antropológica aplicada ao 
Direito que procurava identificar e classificar os criminosos através dos traços físicos 
de suas cabeças. 
A ideia de que essa seria uma visão científica era apenas aparente, uma vez 
que não existiam pesquisas com amostras significativas no conjunto da população 
para determinar se esse era um problema racial ou social. Na hipótese defendida 
por Rodrigues estava embutida uma evidente conotação ideológica de um grupo 
racial dominante em busca de evidências para provar a tese já corroborada, e não o 
contrário, o que seria o procedimento científico correto. Esses exemplos de 
indivíduos degenerados encontrados entre mestiços e negros criminosos, também 
poderiam ser encontrados em pessoas de outras raças, mas a restrição desse 
estudo aos grupos não brancos sustentava as ideias para o melhoramento genético 
da população brasileira. Nascia na Bahia toda uma escola de médicos legistas 
ligados a Nina Rodrigues que se dedicavam a provar como os criminosos eram fruto 
da degeneração das raças. 
 Feito o diagnóstico o médico aplicava o remédio. O darwinismo social 
condenava os cruzamentos inter étnicos alertando para a imperfeição da 
hereditariedade mista. Campanhas enfatizando a pureza da raça como forma de 
contribuição para a grandeza da pátria se sucederam em várias localidades. O Brasil 
viu o pensamento médico ser tomado pelo discurso da eugenia, a ciência dedicada 
ao melhoramento genético e reprodutivo da raça humana. Pontes de Miranda, em 
1923, clamava pela regeneração somática de nossa raça na Gazeta Médica da 
Bahia, veículo que se tornou o porta-voz dos seguidores de Nina Rodrigues. Não 
somente na Bahia, mas também em outros centros do país o trabalho inicial de 
etnógrafos empenhados em decifrar as múltiplas etnias existentes no território 
nacional e as características de seus descendentes foi influenciado pelos trabalhos 
 
 
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dos médicos legistas que seguiram as hipóteses de seu pioneiro nos estudos 
etnográficos sobre o afrodescendente brasileiro. 
 
Exercício 
 Para que nós também, já no século XXI, não caiamos em um novo 
preconceito, procure perceber e discutir as proposições racistas desenvolvidas por 
Nina Rodrigues, relacionando-as com o aparato intelectual disponível naquela 
época. 
 
 
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Aula 07_Cultura e aculturação. 
 
Os discípulos deixados por Nina Rodrigues em seu trabalho na Bahia 
oficializaram essa escola informal de médicos legistas com a criação do Instituto 
Nina Rodrigues, um lugar que se tornou referência desse campo em todo o Brasil. 
Até o final da década de 1920, a maior parte dos legistas ligados ao instituto 
ainda seguia as orientações teóricas do velho mestre, ou seja, a questão da 
superioridade da raça branca e o problema da degeneração da raça com a 
mestiçagem. Foi nesse momento histórico que se inicia no Brasil a passagem de 
uma visão antropológica baseada nos aspectos físicos para a entrada das teses da 
cultura como o elemento determinante na constituição social. Essa nova geração foi 
influenciada pela divulgação dos trabalhos dos antropólogos culturalistas norte-
americanos, entre eles Franz Boas (1858-1942). 
Essa transformação de ideias afetou também os pesquisadores do Instituto 
Nina Rodrigues que começaram a reinterpretar as teses elaboradas pelo médico 
maranhense. Partindo das pesquisas realizadas por Rodrigues, uma nova geração 
de médicos dedicados à etnografia dos descendentes africanos no Brasil abandonou 
as hipóteses da hierarquia racial para ler essas mesmas pesquisas pelo prisma da 
influência cultural. 
Artur Ramos é o médico alagoano cujos trabalhos mais se destacam nessa 
nova fase. Em 1933, com a conclusão de O negro brasileiro, Ramos reinterpreta 
completamente o trabalho anterior de Rodrigues, Os africanos no Brasil. Sua maior 
contribuição foi perceber a diversificada contribuição da imigração africana ao Brasil 
na construção de fenômenos culturais (festivos, religiosos, culinários, entre outros) 
difusos, e que dependiam das áreas africanas culturais de origem dessas 
populações. 
Nina Rodrigues, utilizando a antropometria, identificou duas grandes áreas de 
imigração africana ao Brasil. Uma de etnia bantu (originária do Congo e de Angola) 
que se estabeleceu no sudeste brasileiro, e outra de etnia sudanesa (do Golfo da 
Guiné) estabelecida no nordeste, principalmente na Bahia. Por esse entendimento o 
afrodescendente baiano herdaria o padrão social relativo à etnia sudanesa. 
 
 
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Por outro lado, Artur Ramos estudou os aspectos culturais relativos 
aos bantus e aos sudaneses trazidos desde suas áreas de origem. Percebeu que 
havia uma significativa influência da cultura bantu, basicamente animista (que 
acredita na presença de almas na manifestação dos fenômenos da natureza), na 
formação do candomblé baiano, enquanto que boa parte dos sudaneses já chegou 
aqui islamizada (muçulmana) e sua contribuição ao candomblé teve menor peso. 
Assim, procurou mostrar como era a cultura dos grupos e a circulação cultural entre 
esses grupos que constituía determinada sociedade e não o caráter étnico de 
origem desses grupos. 
Em 1935 publicou As culturas negras no Novo Mundo, trabalho no qual faz 
um vasto mapeamento das áreas culturais negras da América do Norte, do Caribe e 
da América do Sul. Com esse trabalho, o médico alagoano se tornará 
internacionalmente conhecido e será convidado a chefiar o Departamento de 
Ciências Sociais da UNESCO (a organização da ONU para a escolarização e 
cultura) em Paris, onde faleceu em 1949. 
Sua maior contribuição ao debate antropológico nacional foi trazer o conceito 
de aculturação definido pelo norte-americano Melville Herskovits ao Brasil. A 
aculturação compreenderia “fenômenos resultantes do contato, direto e contínuo, 
dos grupos de indivíduos de culturas diferentes, com as mudanças consequentesnos padrões originais culturais de um ou ambos os grupos” (RAMOS, 1979: 244). 
Seriam três os resultados do processo de aculturação: 
a) Aceitação: pelo qual a nova cultura é aceita com a perda ou 
esquecimento da herança cultural mais velha. 
b) Adaptação: no qual, ambas as culturas, a original e a estranha 
combinam-se intimamente. 
c) Reação: quando surgem movimentos contra-culturais por causa da 
opressão ou problemas causados pelo cruzamento de traços culturais 
diferentes. 
 
Se nos Estados Unidos a aceitação e a reação foram os resultados mais 
marcantes, o processo de aculturação brasileiro levou a uma adaptação entre as 
diferentes culturas, formando uma sociedade culturalmente complexa. A adaptação 
 
 
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cultural que seria a formação da cultura mestiça cabocla no país, ainda era um 
problema para Ramos. Para o alagoano, a aceitação deverá prevalecer todas as 
vezes que duas culturas diversas se põem em contato e, em suas próprias 
palavras “para esta solução é que se encaminharão os grupos negros, no Brasil”. 
(RAMOS, 1979:246) Em outras palavras, a cultura dominante, ou seja, a europeia 
deveria ser aceita pela cultura inferior, assim, migramos com Ramos da fase 
antropológica da hierarquia racial para a da hierarquia cultural. O economista 
Marcelo Paixão, da Universidade Federal do Rio de Janeiro chamará a isso de 
“racismo à brasileira”. 
 
Exercício 
 Assista ao filme realizado em 2004 “Quanto vale ou é por quilo” do cineasta 
Sérgio Bianchi, analise a proposta do diretor à luz da questão do “racismo à 
brasileira” e posicione-se em relação a ela. 
 
 
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Aula 08_ A democracia racial. 
 
Se, podemos considerar Artur Ramos como o pioneiro na passagem dos 
estudos sobre os componentes físicos e raciais para os culturais como formadores 
do homem brasileiro, quem ficará para a história como o grande intelectual da fase 
culturalista das ciências sociais no Brasil será o antropólogo Gilberto Freyre. Em 
uma vasta obra realizada durante a década de 1930, esse autor pernambucano 
construiu uma verdadeira etnografia histórica da constituição da sociedade 
brasileira, especialmente na região açucareira do nordeste, a partir das relações 
escravistas estabelecidas no ambiente da produção e no ambiente doméstico. 
 Freyre vem a público com a edição de Casa Grande e Senzala em 1933, que 
recebe o subtítulo de “Introdução à história da sociedade patriarcal no Brasil”. Nessa 
obra, pela qual ele é mais conhecido, temos o retrato histórico da formação 
do patriarcado brasileiro, ou seja, de uma sociedade agrária que gira em torno do 
grande proprietário de terras, no caso pernambucano o latifundiário dono do 
engenho de cana de açúcar. 
 Essa figura do poder rural brasileiro, o proprietário do latifúndio, cujo nome se 
modificará dependendo da época ou do lugar, senhor de engenho, coronel ou o 
barão, cuja vontade é lei, será central na constituição das relações sociais no país. 
Um exercício de poder que é autoritário, por que as normas e o cumprimento da lei 
em seus domínios dependem de sua vontade pessoal e não de um sistema jurídico-
normativo regulado no âmbito do Estado. Mas, ao mesmo tempo, esse poder 
é paternalista, porque exercido de modo diferenciado para com os mais próximos, 
os compadres, os familiares os amigos, gerando as situações de contorno que 
ficarão conhecidas como o jeitinho brasileiro. Esse tema será depois retomado na 
década de 1980 por Roberto Da Matta. 
 A preocupação de Freyre é com a constituição da família brasileira que seria 
híbrida, pois miscigenada desde sua nascença. Assim, primeiramente ele estudará o 
indígena como sendo o elemento fundamental para a formação familiar devido ao 
cruzamento e o casamento entre os colonizadores portugueses com as índias 
nativas. Essa ligação entre o português conquistador e a população Tupi dos 
interiores originará, por exemplo, o bandeirante paulista, tese posteriormente mais 
 
 
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bem desenvolvida por Sérgio Buarque de Holanda em seu livro Caminhos e 
Fronteiras (1957). 
 Buarque de Holanda nos mostra como até meados do Império (1850), a 
língua falada pela maioria dos paulistas era o nhãgatu, um dialeto que misturava o 
português ao tupi. Feita esta primeira mistura racial entre indígenas e portugueses, 
formadora original da família brasileira, Freyre se dedica a compreender o papel 
social e familiar do negro trazido como escravo para o trabalho no engenho de cana. 
E vai encontrar a principal função social do elemento da raça negra, na condição da 
escrava negra, a mucama que participará do ambiente doméstico, seja na cozinha 
como formadora dos gostos e sabores dos brasileiros, seja no quarto, tanto dos 
filhos em sua iniciação na vida sexual, quanto do pai e senhor, na satisfação dos 
desejos sexuais moralmente condenáveis. 
 O resultado desse contato último é a geração de uma prole mulata no seio da 
sociedade, na maior parte das vezes não reconhecida como sua legítima herdeira. O 
trabalho de Gilberto Freyre é inovador para a época, pois apresenta de forma 
escancarada um tema tabu na conservadora sociedade brasileira: o da sexualidade 
reprimida no casamento e o da promiscuidade tolerada para o homem de família. 
 Na perspectiva da construção ideal da nação e do fortalecimento da 
sociedade, o antropólogo pernambucano também pode ser considerado o primeiro 
pensador genuinamente nacional. Aonde Nina Rodrigues encontrou a degeneração 
dos costumes e do caráter dos indivíduos na mistura racial, aonde Artur Ramos 
encontrou a aculturação mal resolvida dos negros em forma de adaptação cultural, 
Gilberto Freyre encontrará a grande qualidade brasileira, uma sociedade menos 
preconceituosa, pois formada na mistura étnica entre diferentes raças. Como 
conclusão de suas pesquisas constrói-se a tese em que aparece a característica 
diferencial da sociedade brasileira dentro da América. Uma sociedade multirracial, 
na qual o cruzamento étnico não ocorre como resultado de uma violência física 
gerada na conquista, mas como processo contínuo de negociação entre os grupos 
envolvidos. 
 Está aberto o caminho para a tese que vai ser veiculada mundo afora, até 
hoje bastante defendida e, durante bastante tempo praticamente sem refutação: a 
da democracia racial brasileira. Tese na qual se elogia o caráter mestiço da 
 
 
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população como motivo de orgulho, pois conquista social, em que se afirmam as 
qualidades igualitárias trazidas pela mistura de índios, negros e brancos, e a 
construção de uma sociedade onde não haveria racismo, pois a mistura étnica 
encontrara-se integrada dentro da própria família brasileira. A partir da década de 
1950, a tese de Gilberto Freyre passará a ser muito criticada. 
 
Exercício 
 Analise a obra de Gilberto Freyre procurando perceber não somente os 
conceitos teóricos existentes em seu trabalho, mas também, como essas ideias por 
ele difundidas estão incorporadas e compõem o imaginário de boa parte da 
população brasileira. Analise, por exemplo, letras, músicas e novelas que mitificam a 
ideia da mulata como objeto sexual procurando perceber o quanto isso tem de 
invenção e o quanto isso está relacionado ao nosso passado escravista. 
 
 
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Resumo I 
 
A Antropologia realizada no século XIX estava ainda totalmente ligada às 
ciências biológicas e era tida como uma ciência natural. O ramo da Antropologia 
Física foi decisivamente influenciado pelo evolucionismo, pelo darwinismo sociale 
pelo positivismo. As questões relativas ao entendimento da evolução humana, os 
diferentes grupos étnicos e os estudos raciais predominaram nessa época. 
O pensamento antropológico brasileiro do século XIX e início do século XIX, 
como não poderia deixar de ser, foi construído com base nesses conceitos. A 
maioria dos pesquisadores brasileiros dessa época foi ligada às ciências biológicas: 
médicos, zoólogos, etnólogos e naturalistas. Alguns cientistas sociais também 
entraram no debate formador do pensamento antropológico nacional. 
Os trabalhos de pesquisa realizavam-se, sobretudo, nos museus etnográficos, 
entre os quais merece destaque o Museu Paraense Emílio Goeldi. Nesse museu 
trabalhou como etnólogo Curt Nimuendaju que, com suas pesquisas junto aos 
índios Tupi e Jê, pode ser considerado o precursor de uma etnologia brasileira. 
O médico Nina Rodrigues foi o pensador mais importante do período com a 
aplicação das teses da hierarquia racial para a população brasileira. Essas teses 
levaram à elaboração de políticas públicas de eugenia como a imigração de 
brancos, o combate à miscigenação e a melhoria genética da população. 
Num segundo momento a influência da Antropologia Cultural mudou o foco do 
debate da questão da raça para a questão da cultura. Artur Ramos foi o protagonista 
dessa passagem com a tese da aculturação e a definição da existência de uma 
hierarquia cultural entre as civilizações. Na prática, em relação aos índios, foi o 
Marechal Rondon quem contribuiu para a aplicação dessa teoria com a formulação 
de uma política indigenista. 
 Encerramos o período formador do pensamento antropológico nacional com 
a presença de Gilberto Freyre e sua tese sobre a positividade da mestiçagem para a 
criação de valores sociais igualitários. Essa visão da sociedade brasileira ficou 
conhecida como democracia racial. 
 
Referências Bibliográficas 
 
 
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CUNHA, M. C. Antropologia do Brasil, Brasiliense/EDUSP, São Paulo, 1986. 
FREYRE, G. Casa Grande & Senzala, 42 ª. ed., Record, Rio de Janeiro, 2001. 
HOLANDA, S. B. Caminhos e Fronteiras, 2 ª. ed., José Olympio, Rio de Janeiro, 
1973. 
RAMOS, A. As Culturas negras no Novo Mundo, 4 ª. ed., Editora Nacional, São 
Paulo, 1979. 
 __________ O Negro brasileiro, 3 ª. ed., Editora Nacional, São Paulo, 1950. 
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SCHWARCZ, L. M. O Espetáculo das raças, Companhia das Letras, São Paulo, 
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SOLAZZI, J. S. A Ordem do castigo no Brasil, Imaginário, São Paulo, 2007. 
 
Link 
www.decine.gov.br 
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Aula 09_A missão francesa na USP. 
 
Em outubro de 1934, o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss apresentou 
sua candidatura para a vaga de professor de Sociologia na Universidade de São 
Paulo, USP. Na ocasião, além da docência, o objetivo do estudante recém-formado 
era o de fazer etnografia junto aos índios brasileiros que imaginava ainda viverem 
nos arredores da capital paulista. Esse e outros relatos sobre sua chegada ao Brasil 
e a constatação de que os índios a serem pesquisados estavam localizados a mais 
de 3.000 quilômetros de distância de São Paulo podem ser encontrado no livro 
Tristes Trópicos, um dos clássicos da narrativa etnológica, escrito no século 
passado no qual narra sua passagem por nosso país. 
Ao mesmo tempo em que essa passagem mostra a enorme falta de 
conhecimento sobre o Brasil que havia no estrangeiro, revela o esforço que a recém-
criada USP fez para melhor qualificar seu grupo de professores e os cursos lá 
oferecidos. O jovem etnólogo francês em início de carreira lecionou pela primeira 
vez no novo departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia Ciências e 
Letras no ano de 1935. 
A etnografia ficou para a etapa final de sua passagem pelo país quando 
Lévi-Strauss vai ao encontro dos Cadiueu, dos Bororo e dos Nambiquara, sobre 
quem apresentará uma das mais belas leituras etnográficas feitas no Brasil. Durante 
sua passagem por aqui Lévi-Strauss ainda não adquirira a fama mundial que o 
consagrou, talvez, como o maior antropólogo do século XX ao desenvolver a teoria 
do estruturalismo na década de 1950 (ver As Estruturas elementares do 
parentesco). 
Além de Lévi-Strauss e de sua companheira Dina, Roger Bastide, que se 
dedicou ao estudo das manifestações da religião afro-brasileira e permaneceu por 
aqui até 1955, e o geógrafo Pierre Monbeig professor até 1946, compunham a 
missão francesa na USP, que depois se internacionalizou com a passagem do 
alemão Emilio Willems na década de 1940. O impacto do pensamento francês na 
formação da Filosofia da USP na década de 1930 foi completo, pois até essas aulas 
dos professores estrangeiros em diferentes cadeiras eram lecionadas em língua 
francesa. 
 
 
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Com esse convívio, alguns poucos especialistas brasileiros formavam o 
recente time de Antropologia da USP, como Plínio Ayrosa, que chefiava o gabinete 
de Etnografia Brasileira e tinha uma cadeira dedicada ao estudo da língua Tupi-
Guarani. Não por coincidência, EgonSchaden, o primeiro estudante a se doutorar 
em Antropologia na USP em 1945 sob a orientação do professor Fernando de 
Azevedo, tornou-se um especialista na etnografia dos índios Tupi (A Mitologia 
heroica de tribos indígenas no Brasil). Além de Schaden, Gioconda Mussolini (com 
um estudo sobre os pescadores do litoral paulista Ensaios de antropologia indígena 
e caiçara) formou o primeiro grupo de mestres e doutores brasileiros específicos da 
área de Antropologia que lecionaram na Universidade durante as décadas de 
1940/50. 
 Assim, a formação antropológica na USP na década de 1940, numa fase em 
que o pensamento social brasileiro resumia-se a alguns poucos intelectuais, iniciou-
se com uma missão de professores estrangeiros, em sua maioria franceses, que 
marcou as primeiras gerações de graduados em Sociologia na década seguinte: 
Florestan Fernandes, Antônio Cândido, Eunice Durham e Ruth Cardoso, entre 
outros. 
 
 
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Aula 10_O Departamento de Cultura em São Paulo. 
 
A década de 1930 marca a época em que os antigos conceitos raciais 
passam a ser substituídos pelos culturais e essa nova visão do pensamento 
antropológico se institucionaliza. Isso leva a uma ligação entre o conceito de cultura 
e o estabelecimento de uma política cultural como meio de construção da 
nacionalidade brasileira. 
Na cidade de São Paulo, a Faculdade de Filosofia que estudamos na aula 
anterior, e a Escola Livre de Sociologia e Política, estreitaram a ligação com as 
associações de pesquisa (a Sociedade de Etnografia e Folclore e a Sociedade de 
Sociologia) existentes no município. Ambas encontravam-se dentro do 
Departamento de Cultura da prefeitura e essa nova ligação com a universidade. Foi 
um dos projetos de Mário de Andrade quando ele foi o diretor municipal de Cultura 
entre 1935 e 1938. 
Mário de Andrade tinha um projeto cultural bastante diferenciado para a 
época, de procurar, registrar e resgatar os valores culturais formadores da 
identidade brasileira em várias regiões do país. Ele tinha clara visão de que essas 
tradições e costumes estavam desaparecendo e sabia de seu valor fundamental 
para o estudo e entendimento de que vem a ser o povo brasileiro, ou, em que o 
brasileiro se diferencia dos demais. Entre o folclórico e o antropológico, o trabalho de 
Andrade foi inovador e situou-se numa época em que a questão da cultura se tornou 
central para o reconhecimento da diversidade da identidade brasileira. 
Ovínculo que se estabeleceu entre a USP e o DC, com a contratação para as 
duas associações de investigadores sociais, entre eles o casal Lévi-Strauss, 
permitiu, pela primeira vez no país, o surgimento de projetos de pesquisa 
etnográficos institucionais fora do ambiente dos museus. A Sociedade Etnográfica e 
Folclórica (SEF) teve como diretor Mário de Andrade, através do qual os 
levantamentos etnográficos confundiram-se com as pesquisas folclóricas, um 
modelo comum aos antropólogos ingleses e norte-americanos do início daquele 
século. Mas, com o trabalho de Dina Lévi-Strauss como secretária da Sociedade 
imprimindo procedimentos metodológicos para a elaboração dos questionários e 
 
 
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teóricos na análise dos resultados, a SEF adquiriu o caráter de um laboratório de 
pesquisa universitário. 
 
Para o professor Herbert Baldus da Escola de Sociologia, o etnógrafo 
recolhe os fatos e o etnólogo os analisa. Por isso a nova etnografia proposta por 
Andrade necessitava dos acadêmicos, que com o domínio do campo teórico 
poderiam deixar de lado o velho diletantismo da etnografia nacional. Um segundo 
ponto a que essa mudança de direção levou será a crítica que o conceito de 
aculturação posteriormente sofrerá. Com Macunaíma, Mário já nos mostra um 
personagem brasileiro que com seu caráter devorador não é um ser aculturado, é 
um intérprete de diferentes legados, mas, acima de tudo, é o criador de uma nova 
cultura. 
 
Exercício 
 Faça uma reflexão sobre a ideia para a criação do personagem Macunaíma, o 
herói sem nenhum caráter. Tente perceber em algumas situações cotidianas como 
se manifesta a capacidade presente em Macunaíma de utilizar e recriar invenções e 
culturas diferentes da brasileira. Veja, por exemplo, como isto se manifesta na 
culinária, quando pratos estrangeiros são abrasileirados. 
 
 
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Aula 11_A crítica à democracia racial. 
 
Ao final da década de 1940, a chamada missão francesa na USP já havia sido 
superada pela formação de uma primeira geração de sociólogos brasileiros, entre os 
quais Florestan Fernandes e Antônio Cândido que ocupavam lugares de destaque, 
ingressando, também, no debate teórico no campo antropológico. Após os trabalhos 
de Artur Ramos e de Gilberto Freyre, internacionalmente divulgados, o conceito de 
aculturação tornou-se dominante em todo o Brasil. As primeiras críticas a esse 
conceito proveniente do culturalismo americano e cuja influência era ainda 
predominante na Antropologia da USP, partiram do professor Florestan Fernandes 
em debate público com o professor Emílio Willems. 
A ideia de aculturação implicava na existência de um grupo culturalmente 
dominante em relação a outro no país. Portanto, segundo essa visão, a dominação 
se faria através da cultura. Fernandes procurou mostrar o contrário, afirmando que a 
dominação no Brasil era uma questão de classe social, ou seja, econômica, e não 
cultural. 
Para Fernandes a análise sociológica considera as classes como estruturas 
sociais variáveis no tempo, registrando o aparecimento e a repetição de situações 
sociais que provocam o crescimento e a perpetuação das formas de atuação dessas 
mesmas classes. Com essa interpretação, ele traz o marxismo para a sociologia 
brasileira adequado à leitura da estrutura social. Em outras palavras ele sugere ao 
antropólogo abandonar a leitura exclusivamente culturalista e se dedicar a entender 
a situação dos diversos grupos sociais em relação à estrutura de classe existente na 
sociedade brasileira. 
Daí para o desmonte da ideia da existência de uma democracia racial no 
Brasil foi um passo. Pela perspectiva acima apresentada, o fator determinante na 
constituição da sociedade brasileira é o econômico, então o nosso modelo social 
montado com base na relação de dominação econômica entre senhor-escravo, e 
que foi trazido através do sexo para dentro da estrutura da família brasileira, já é 
discriminatório desde o princípio. Longe de haver uma democracia racial o que há 
seria uma discriminação social que se torna também racial e funciona como regra, 
não como exceção. 
 
 
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O debate que se iniciava nos anos cinquenta era também uma tomada de 
posição pró ou contra o marxismo, teoria que entrava aos poucos na universidade. O 
doutorado de Antonio Cândido (Os parceiros do Rio Bonito, 1954) sobre a 
transformação do modo de vida dos caipiras no interior paulista analisada sob a 
influência do marxismo, já era um corte em relação aos estudos culturalistas. Mas, 
foram os sociólogos com suas pesquisas sobre o negro visando o estudo das 
relações raciais que trouxeram para a USP um desdobramento teórico que a 
distanciou do culturalismo. 
Os principais trabalhos realizados nessa década foram os estudos de 
Fernandes em colaboração com Roger Bastide investigando as relações entre 
negros e brancos na capital paulista, Brancos e negros em São Paulo, e também a 
pesquisa que Oracy Nogueira realizou sobre o mesmo tema. Na década seguinte, 
Fernandes escreveria O negro no mundo dos brancos, dando continuidade aos 
estudos dos diferentes grupos étnicos dentro de uma sociedade de classe e 
desmontando assim, a ideia de Gilberto Freyre sobre a democracia racial. 
 Quem radicalizará as críticas de Fernandes ao conceito de aculturação será 
seu aluno de doutorado, Roberto Cardoso de Oliveira (doutor em 1966), que na 
ocasião já era professor dos cursos de especialização em Antropologia do Museu 
Nacional do Rio de Janeiro. Analisadas as relações raciais entre brancos e negros 
pelos sociólogos, caberia agora aos etnólogos a tarefa de analisar as relações que 
se estabeleceram entre brancos e índios. 
 
 
Exercício 
 Compare a tese de Florestan Fernandes baseada no conceito marxista das 
classes sociais com a formulação da democracia racial proposta por Gilberto Freyre 
e tente se posicionar, o que você pensa e acha, em relação a elas. 
 
 
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Aula 12_ O Museu Nacional. 
 
Na cidade do Rio de Janeiro, ainda capital da república na década de 1950, 
encontrava-se o SPI, Serviço de Proteção ao Índio, herdeiro do rondonismo e do 
programa de integração nacional dos povos indígenas que já estudamos. No SPI 
estava Darcy Ribeiro, um médico mineiro que havia estudado Sociologia em São 
Paulo e agora trabalhava na elaboração de políticas indigenistas. 
Em 1954, chega ao Rio Roberto Cardoso de Oliveira recém-saído da 
Filosofia da USP e ambos, Darcy e Cardoso, foram lecionar nos cursos de 
Antropologia oferecidos pelo Museu do Índio, fundado em 1955. Poucos anos 
depois, com esse museu enfrentando crise financeira, Darcy deixa os cursos de 
Antropologia e migra para os estudos no Centro Brasileiro de Pesquisas 
Educacionais, acabando a parceria entre ambos. 
Roberto Cardoso de Oliveira faz uma troca de museus e passou para o 
Museu Nacional, o velho museu dos tempos de antropologia física que, com o jovem 
professor na coordenação de pesquisas etnológicas e cursos de especialização em 
Antropologia, ganha vida nova entre 1960 e 1962. A Cardoso, se junta, em 1962, o 
inglês David Maybury-Lewis, phd em Antropologia por Oxford (Inglaterra) e que 
antes havia estudado em São Paulo. 
Ambos montaram a Divisão de Antropologia do Museu Nacional que se 
tornará Departamento em 1972 e criaram toda uma nova geração genuína de 
antropólogos quase sem a influência das outras ciências sociais, como ocorria até 
então na USP. Esses novos pesquisadores irão engordar os quadros de docência do 
Museu, Roque Laraia e Roberto Da Matta foram alguns deles, e criarão nele a 
principal referência na décadade 1970 para uma antropologia do Brasil. 
A grande inovação trazida pelo programa de estudos do Museu Nacional foi 
concentrar as pesquisas na área de Etnologia e pesquisar o encontro de índios com 
camponeses. Foi este segundo estudo sobre os trabalhadores agrícolas que 
distinguiu os trabalhos do Museu em nível nacional, tanto no campo da pesquisa 
como no campo teórico. A primeira dissertação defendida no Museu foi a de Otávio 
Velho, Frentes de expansão e estrutura agrária. 
 
 
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Na explicação do autor, uma frente de expansão regional é entendida como 
aqueles “segmentos da sociedade brasileira que avançam, no decorrer de uma 
atividade de exploração econômica, em áreas antes só ocupadas por 
silvícolas.” (VELHO, 1982:30) Tomando por base a pesquisa realizada por Otávio 
Velho, os trabalhos que estavam sendo desenvolvidos no Museu Nacional com 
camponeses, na verdade eram pesquisas que buscavam entender as 
consequências do contato inter étnico envolvendo populações indígenas e 
brasileiros. 
O risco da perda da identidade cultural era o efeito mais importante da 
expansão agrícola percebido pela ótica do índio, mas do lado do trabalhador 
agrícola a questão que se colocava era a passagem de uma situação 
de camponês(pequeno proprietário da terra) para a de proletário rural (trabalhador 
assalariado na grande fazenda) e todas as situações intermediárias decorrentes da 
industrialização no campo. 
 Através desse campo do trabalho rural, a partir da década de 1970 foi sendo 
realizada no Museu Nacional uma série de pesquisas voltadas para o estudo do 
desenvolvimento regional e de seus impactos, tanto nas populações nativas como 
nas migrantes, nas áreas de expansão da fronteira agrícola. Sob a coordenação de 
Moacir Palmeira, as pesquisas estavam inicialmente concentradas na área litorânea 
da zona da mata do Nordeste brasileiro, particularmente no estado de Pernambuco, 
com os conflitos envolvendo a mão de obra dedicada à agroindústria. 
Posteriormente, essa linha de pesquisa sobre o trabalho no campo se tornaria a 
marca registrada do Museu sendo ampliada para quase todos os estados do país e 
mantendo-se até a atualidade como uma das áreas de destaque nos estudos de 
pós-graduação em Antropologia. 
 
 
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Aula 13_Da aculturação à fricção interétnica. 
 
A formação dos cursos de Antropologia no Museu Nacional deveu-se em 
grande parte à parceria de pesquisa realizada por Roberto Cardoso de Oliveira e 
David Maybury-Lewis. No início da década de 1960 ambos coordenavam um projeto 
chamado “Estudo das áreas de fricção interétnica no Brasil”. Como se refere o título, 
também um novo conceito estava sendo apresentado no campo da etnologia 
brasileira, o que acabaria provocando uma mudança de paradigma teórico em toda 
antropologia nacional, com o declínio de sua fase culturalista e o ingresso no que se 
tornaria a Antropologia Social. 
O primeiro trabalho de Cardoso de Oliveira, O processo de assimilação dos 
Terena, nome do livro de estreia do autor publicado em 1960, ainda era marcado 
pela utilização do conceito clássico de aculturação derivado da antropologia cultural 
norte-americana e seguido pelos autores brasileiros desde a década de 1930. Mas 
já se delineavam nesse trabalho as críticas à teoria da aculturação antevendo-se a 
passagem dos estudos culturais para uma análise etnológica baseada no resultado 
de mudança sócio-cultural que se produzia no contato entre índios e não índios. Nos 
anos seguintes, o desdobramento desse trabalho levou Cardoso e o curso de 
Antropologia do Museu Nacional a se distanciar das teses culturalistas ainda 
defendidas pelos antropólogos ligados a Darci Ribeiro. 
A definição de fricção interétnica encontra-se no livro O índio e o mundo dos 
brancos, publicado em 1964, e é dada pelo seu autor como sendo o contato entre 
grupos tribais e segmentos da sociedade brasileira que é caracterizado por seus 
aspectos competitivos, geralmente conflituosos, envolvendo toda a conduta da tribo 
e de fora dela. 
Cardoso de Oliveira mostra em seguida que o tipo de abordagem dado pela 
antropologia social de origem britânica é mais adequado para o entendimento da 
nova situação tribal vivida pelos índios após o contato. O que está em jogo não é 
mais a compreensão de que houve a assimilação da cultura branca civilizada, nem 
sua aceitação, nem a adaptação a ela. O contato entre índios e brancos passa a ser 
entendido como provocador de uma mudança social na conduta da tribo. Nem a 
 
 
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perda total dos valores tradicionais, com a consequente descaracterização da 
cultura original, nem o romantismo idílico do índio selvagem. 
No caso específico da pesquisa realizada com os Terena, durante o seu 
processo de contato com o mundo urbano dos brancos eles não foram nem aceitos 
nem assimilados pela sociedade brasileira, que os continuou a ver como bugres. 
Porém, a conduta interna da tribo, como resultado de seu contato com objetos e 
costumes diferentes dos seus, sofreu uma mudança de comportamento, uma 
mudança parcial, que não foi suficiente para descaracterizar completamente aquela 
tribo de sua identidade Terena. 
 Essa clivagem na leitura dos trabalhos de campo sustentada por um novo 
arcabouço teórico antropológico se estenderá, inclusive, à prática política na década 
seguinte, com o fim da velha política indigenista de integração nacional e o início de 
políticas indígenas trazidas ao cenário político nacional pelos antropólogos e que 
tanto incomodaram o governo federal durante o período de ditadura. Na perspectiva 
acadêmica, iniciava-se uma nova fase na qual o culturalismo entrava em decadência 
e a antropologia britânica influenciaria os novos estudos feitos no Brasil, 
particularmente os realizados na Unicamp. 
 
 
Exercício 
 Faça uma comparação entre os conceitos já estudados de aculturação e de 
fricção interétnica. 
 
 
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Aula 14_O estruturalismo chega à Antropologia. 
 
A mudança da orientação teórica para a etnologia indígena iniciada com 
Roberto Cardoso de Oliveira e David Maybury-Lewis institucionalizou-se no âmbito 
do Museu Nacional, em 1968, com a criação do Programa de Pós-Graduação em 
Antropologia Social e o projeto “Estudo comparado do desenvolvimento regional”. 
Os dois professores também inovaram no campo teórico trazendo para o curso a 
leitura das obras mais recentes escritas por Lévi-Strauss. A análise estrutural 
aplicada às sociedades tribais brasileiras tornou-se o campo teórico principal para a 
produção acadêmica realizada nos cursos do Museu Nacional. 
O estruturalismo aplicado à Ciência Social é uma teoria derivada dos 
estudos linguísticos e desenvolvida a partir da década de 1940, que teve como 
principal objetivo encontrar e delimitar estruturas sociais comuns a diferentes grupos 
étnicos. A linguagem, ou melhor, uma língua falada, é constituída de estruturas 
elementares cuja diferenciação entre elas e não a sua semelhança, é que permite o 
surgimento de uma fala complexa. Por exemplo, o fonema “ti” diferente de “pi”, ou 
“te” diferente de “de”, e assim por diante. 
No campo da Antropologia, Lévi-Strauss seguiu essa mesma premissa válida 
para a linguagem e procurou provar que há uma ordem familiar nos casamentos 
tribais com base numa separação não aleatória, pois, os sistemas, “embora 
definindo todos os membros do grupo como parentes, dividem-nos em duas 
categorias, a dos cônjuges possíveis e a dos cônjuges proibidos.” (LÉVI-STRAUSS, 
1976: 19) 
A união entre os chamados primos cruzados, ou seja, entre primos 
pertencentes

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