Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 LIVRO 2 - 2014 LIVRO 2 - 2014 LINGUAGENS CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS LÍNGUA PORTUGUESA 1. (Espcex (Aman) 2014) Assinale a alternativa que contém um grupo de palavras cujos prefixos possuem o mesmo significado. (A) compartilhar – sincronizar (B) hemiciclo – endocarpo (C) infeliz – encéfalo (D) transparente – adjunto (E) benevolente – diáfano Resposta:[A] O prefixo “com” (de “compartilhar”) indica contiguidade, companhia, agrupamento; e o prefixo “sin” (de “sincronizar”) significa ação conjunta, companhia, reunião, simultaneidade. Assim, ambos são semelhantes semanticamente. 2. (Espcex (Aman) 2014) Ao se alistar, não imaginava que o combate pudesse se realizar em tão curto prazo, embora o ribombar dos canhões já se fizesse ouvir ao longe. Quanto ao processo de formação das palavras sublinhadas, é correto afirmar que sejam, respectivamente, casos de (A) prefixação, sufixação, prefixação, aglutinação e onomatopeia. (B) parassíntese, derivação regressiva, sufixação, aglutinação e onomatopeia. (C) parassíntese, prefixação, prefixação, sufixação e derivação imprópria. (D) derivação regressiva, derivação imprópria, sufixação, justaposição e onomatopeia. (E) parassíntese, aglutinação, derivação regressiva, justaposição e onomatopeia. Resposta: [B] Alistar: parassíntese. Foram acrescentados, simultaneamente, um prefixo e um sufixo à palavra primitiva. Combate: derivação regressiva. A parte final da palavra primitiva (combater) foi retirada, gerando, como palavra derivada, um nome de ação. Realizar: sufixação. Foi acrescentado o sufixo “ar” ao radical do substantivo “realização”, levando-o a mudar de classe gramatical, de substantivo para verbo. Embora: aglutinação. Os elementos que formam o composto se ligam e há perda da integridade sonora de ao menos um deles. Assim, “em boa hora” torna-se “embora”. Ribombar: onomatopeia. A palavra é formada através da imitação de um som. 3. (Espcex (Aman) 2014) A alternativa que apresenta vocábulo onomatopaico é: (A) Os ramos das árvores brandiam com o vento. (B) Hum! Este prato está saboroso. (C) A fera bramia diante dos caçadores. (D) Raios te partam! Voltando a si não achou que dizer. (E) Mas o tempo urgia, deslacei-lhe as mãos... Resposta: [C] O verbo “bramir” é onomatopaico, pois sua pronúncia imita o som emitido por animais bravios. 4. (Espcex (Aman) 2014) São palavras primitivas: (A) época – engarrafamento – peito – suor (B) sala – quadro – prato – brasileiro (C) quarto — chuvoso — dia — hora (D) casa – pedra – flor – feliz (E) temporada – narcotráfico – televisão – passatempo Resposta: [D] Em [A], “engarrafamento” é derivada; em [B], brasileiro; em [C], chuvoso; e, em [E], todas são derivadas. Assim, a única alternativa em que todas as palavras são primitivas é [D]. 5. (Insper 2013) Paralimpíadas é a mãe Certamente eu descobriria no Google, mas me deu preguiça de pesquisar e, além disso, não tem importância saber quem inventou essa palavra grotesca, que agora a gente ouve nos noticiários de televisão e lê nos jornais. O surpreendente não é a invenção, pois sempre houve besteiras desse tipo, bastando lembrar os que se empenharam em não jogarmos futebol, mas ludopédio ou podobálio. O impressionante é a quase universalidade da adoção dessa palavra (ainda não vi se ela colou em Portugal, mas tenho dúvidas; os portugueses são bem mais ciosos de nossa língua do que nós), cujo uso parece ter sido objeto de um decreto imperial e faz pensar em por que não classificamos isso imediatamente como uma aberração deseducadora, desnecessária e inaceitável, além de subserviente a ditames saídos não se sabe de que cabeça desmiolada ou que interesse obscuro. Imagino que temos autonomia para isso e, se não temos, deveríamos ter, pois jornal, telejornal e radiojornal implicam deveres sérios em relação à língua. Sua escrita e sua fala são imitadas e tidas como padrão e essa responsabilidade não pode ser encarada de forma leviana. Que cretinice é essa? Que quer dizer essa palavra, cuja formação não tem nada a ver com nossa língua? Faz muitos e muitos anos, o então ministro do Trabalho, Antônio Magri, usou a palavra "imexível" e foi gozado a torto e a direito, até porque ele não era bem um intelectual e era visto como um alvo fácil. Mas, no neologismo que talvez tenha criado, aplicou perfeitamente as regras de derivação da língua e o vocábulo resultante não está nada "errado", tanto assim que hoje é encontrado em dicionários e tem uso corrente. Já o vi empregado muitas vezes, sem alusão ao ex-ministro. Infutucável, inesculhambável e impaquerável, por exemplo, são palavras que não se acham no dicionário, mas qualquer falante da língua as entende, pois estão dentro do espírito da língua, exprimem bem o que se pretende com seu uso e constituem derivações perfeitamente legítimas. Por que será que aceitamos sem discutir uma excrescência como "paralimpíada"? (João Ubaldo Ribeiro, O Estado de S. Paulo, 23/09/2012) 2 O que motivou a indignação do autor com a palavra “paralimpíadas” foi o(a): (A) imposição da palavra, formada por um mecanismo que dispensa elementos conhecidos da língua. (B) aceitação irrestrita do termo por parte da mídia, especialmente pela televisão. (C) fato de que, ao contrário do neologismo “imexível”, a palavra não foi incorporada aos dicionários. (D) tentativa de resgatar palavras arcaicas tal como se fossem decretos imperiais. (E) recusa à adoção do neologismo pelos portugueses, cuja atitude revela-se conservadora. Resposta: [A] Considerando legítimos os neologismos que respeitaram a estrutura linguística e o nexo semântico dos elementos que os compunham, João Ubaldo Ribeiro indigna-se com a imposição do termo “paralimpíadas” por não respeitar as regras de derivação da língua. Assim, é correta a opção [A]. 6. (Unifesp 2013) Examine a tira. O efeito de humor na situação apresentada decorre do fato de a personagem, no segundo quadrinho, considerar que “carinho” e “caro” sejam vocábulos (A) derivados de um mesmo verbo. (B) híbridos. (C) derivados de vocábulos distintos. (D) cognatos. (E) formados por composição. Resposta: [D] No último quadro, a frase da personagem permite inferir que ela considerou “carinho” e “caro” como vocábulos cognatos, ou seja, apresentam um mesmo radical primário (car), pertencendo a uma mesma família de significação: “carinho” apresenta noção de semântica de afeto, e caro, o que é querido, estimado. Assim, é correta a opção [D]. 7. (Espcex (Aman) 2013) Assinale a alternativa em que todas as palavras são formadas por prefixos com significação semelhante. (A) metamorfose – metáfora – meteoro – malcriado (B) apogeu – aversão – apóstata – abster (C) síncope – simpatia – sobreloja – sílaba (D) êxodo – embarcar – engarrafar – enterrar (E) débil – declive – desgraça – decapitar Resposta: [B] Apenas em [B] existem palavras formadas com prefixo (a-) com a mesma significação: ausência ou privação, pois em [A] os termos “metamorfose”, “metáfora” e “meteoro” apresentam prefixo [met-(a)], com significado de mudança, mas em “malcriado” o prefixo (mal-) tem sentido de negação; [C] “simpatia”, “síncope” e “sílaba”, o prefixo (sin/sim/si) imprime noção semântica de simultaneidade, mas em “sobreloja” o prefixo (sobre) indica posição por cima; [D] “embarcar”, “engarrafar” e “enterrar” apresentam prefixo (en-/em-) sugerindo movimento para dentro, mas “êxodo” é formado por prefixo (ex-) com noção de movimento para fora; [E] “decapitar” e “declive” têm prefixo (de-) com noção de movimento de cima para baixo, mas “desgraça” apresenta prefixo (des-) com sentido de negação, e “débil” é um vocábulo formado por sufixação. No português, encontramos variedadeshistóricas, tais como a representada na cantiga trovadoresca de João Garcia de Guilhade, ilustrada a seguir. Non chegou, madre, o meu amigo, e oje est o prazo saido! Ai, madre, moiro d’amor! Non chegou, madre, o meu amado, e oje est o prazo passado! Ai, madre, moiro d’amor! E oje est o prazo saido! Por que mentiu o desmentido? Ai, madre, moiro d’amor! E oje, est o prazo passado! Por que mentiu o perjurado? Ai, madre, moiro d’amor! 8. (G1 - ifsp 2013) Considerando a terceira estrofe, assinale a alternativa que apresenta uma palavra formada por parassíntese. (A) desmentido (B) prazo (C) saido (D) d’amor (E) moiro Resposta: [A] A derivação parassintética acontece quando, no processo de formação da nova palavra, se acrescenta, simultaneamente, prefixo e sufixo, como acontece em “desmentido”: des- (prefixo com sentido de negação) + ment (radical) + -ido (desinência verbal indicadora do particípio passado do verbo desmentir). Futebol de rua Luís Fernando Veríssimo Pelada é o futebol de campinho, de terreno baldio. (I) Mas existe um tipo de futebol ainda mais rudimentar do que a pelada. É o futebol de rua. Perto do futebol de rua qualquer pelada é luxo e qualquer terreno baldio é o Maracanã em jogo noturno. (II) Se você é homem, brasileiro e criado em cidade, sabe do que eu estou falando. (III) Futebol de rua é tão humilde que chama pelada de senhora. Não sei se alguém, algum dia, por farra ou nostalgia, botou num papel as regras do futebol de rua. Elas seriam mais ou menos assim: DA BOLA – A bola pode ser qualquer coisa remotamente esférica. Até uma bola de futebol serve. No desespero, usa-se qualquer coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia ou a merendeira do seu irmão menor, que sairá correndo para se queixar em casa. (...) DAS GOLEIRAS – As goleiras podem ser feitas com, literalmente, o que estiver à mão. Tijolos, paralelepípedos, camisas emboladas, os livros da escola, a merendeira do seu irmão menor, e até o seu 3 irmão menor, apesar dos seus protestos. (IV) Quando o jogo é importante, recomenda-se o uso de latas de lixo. Cheias, para aguentarem o impacto. (...) DO CAMPO – O campo pode ser só até o fio da calçada, calçada e rua, calçada, rua e a calçada do outro lado e – nos clássicos – o quarteirão inteiro. O mais comum é jogar-se só no meio da rua. DA DURAÇÃO DO JOGO – (V) Até a mãe chamar ou escurecer, o que vier primeiro. Nos jogos noturnos, até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia. DO JUIZ – Não tem juiz. (...) DAS SUBSTITUIÇÕES – Só são permitidas substituições: No caso de um jogador ser carregado para casa pela orelha para fazer a lição. Em caso de atropelamento. DO INTERVALO PARA DESCANSO – Você deve estar brincando. DA TÁTICA – Joga-se o futebol de rua mais ou menos como o Futebol de Verdade (que é como, na rua, com reverência, chamam a pelada), mas com algumas importantes variações. O goleiro só é intocável dentro da sua casa, para onde fugiu gritando por socorro. É permitido entrar na área adversária tabelando com uma Kombi. Se a bola dobrar a esquina é córner*. DAS PENALIDADES – A única falta prevista nas regras do futebol de rua é atirar um adversário dentro do bueiro. É considerada atitude antiesportiva e punida com tiro indireto. DA JUSTIÇA ESPORTIVA – Os casos de litígio serão resolvidos no tapa. *córner = escanteio (Publicado em Para Gostar de Ler. v.7. SP: Ática, 1981) 9. (G1 - ifpe 2012) Os enunciados abaixo analisam os processos de formação de palavras retiradas do texto. Leia-os e marque a alternativa correta. (A) “Futebol de rua” é uma palavra composta por justaposição. (B) “Embolada” e “merendeira” são termos formados por derivação sufixal. (C) “Intocável” é uma palavra formada por derivação prefixal e sufixal. (D) “Penalidades” é uma palavra formada por composição dos radicais “pena” mais “idades”. (E) “Antiesportiva” e “indireto” são palavras formadas por derivação prefixal. Resposta: [C] Apenas [C] é válida, pois as demais apresentam as seguintes incorreções: Em [A] a expressão “futebol de rua” é constituída de três palavras independentes; Em [B] a palavra “embolada” é formada por derivação prefixal e sufixal, do verbo bolar que significa a que se pode dar formato de bola- (em + bol(o) + ada); Em [D], “penalidades” é uma palavra derivada por sufixação- (penal + (i)dades); Em [E] a palavra “antiesportiva” é formada por derivação prefixal e sufixal [ant (i)- + esporte + iv(a)]. No século XV, viu-se a Europa invadida por uma raça de homens que, vindos ninguém sabe de onde, se espalharam em bandos por todo o seu território. Gente inquieta e andarilha, deles afirmou Paul de Saint-Victor que era mais fácil predizer o 1 ........ das nuvens ou dos gafanhotos do que seguir as pegadas da sua invasão. Uns risonhos despreocupados: passavam a vida esquecidos do passado e descuidados do futuro. Cada novo dia era uma nova aventura em busca do escasso alimento para os manter naquela jornada. Trajo? No mais completo 2 ........ 4 : 3 ........ sujos e 7 puídos cobriam-lhes os corpos queimados do sol. Nômades, aventureiros, despreocupados – eram os boêmios. Assim nasceu a semântica da palavra 13 boêmio. O nome gentílico de 9 Boêmia passou a aplicar-se ao 8 indivíduo despreocupado, de existência irregular, relaxado no vestuário, vivendo ao 11 deus-dará, à toa, na vagabundagem alegre. 12 Daí também o substantivo boêmia. Na definição de Antenor Nascentes 5 : vida despreocupada e alegre, vadiação, estúrdia, vagabundagem. 14 Aplicou-se depois o termo, especializadamente, à vida desordenada e sem preocupações de artistas e escritores mais dados aos prazeres da noite que aos trabalhos do dia. Eis um exemplo clássico do que se chama degenerescência semântica. De limpo gentílico – natural ou habitante da Boêmia – boêmio acabou carregado de todas essas conotações desfavoráveis. A respeito do substantivo 15 boêmia, vale dizer que a forma de uso, ao menos no Brasil, é boemia, acento tônico em -mi-. E é natural que assim seja, considerando-se que -ia é sufixo que exprime condição, estado, ocupação. Conferir 6 : 16 alegria, 18 anarquia, barbaria, 17 rebeldia, tropelia, 20 pirataria... Penso que sobretudo palavras como folia e 19 orgia devem ter influído na fixação da tonicidade de boemia. Notar também o par abstêmio/abstemia. Além do mais, a prosódia boêmia estava prejudicada na origem pelo nome 10 próprio Boêmia: esses boêmios não são os que vivem na Boêmia... Adaptado de: LUFT, Celso Pedro. Boêmios, Boêmia e boemia. In: O romance das palavras. São Paulo: Ática, 1996. p. 30-31. 10. (Ufrgs 2012) Considere as seguintes afirmações sobre as relações morfológicas que se estabelecem com palavras do texto. I. alegria (ref. 16) e rebeldia (ref. 17) são palavras derivadas de adjetivos, assim como valentia. II. anarquia (ref. 18) e orgia (ref. 19) são palavras que, apesar de apresentarem a terminação -ia, não derivam de outras palavras. III. pirataria (ref. 20) é palavra derivada de substantivo, assim como chefia. Quais estão corretas? (A) Apenas I. (B) Apenas III. (C) Apenas I e II. (D) Apenas II e III. (E) I, II e III. Resposta: [E] As palavras “alegria” e “rebeldia” são derivadas dos adjetivos “alegre” e “rebelde”, assim como “pirataria” e “chefia” derivam de “pirata” e “chefe”. Diferentemente, “anarquia” e “orgia” não derivam de um adjetivo, não seguem a regra dos outros substantivos citados. Portanto, as três afirmativas estão corretas. 11. (G1 - utfpr 2013) Em qual alternativa todas as palavras em negrito devem ser acentuadas graficamente? (A) Atraves de uma lei municipal, varias pessoas recebem ingressos gratis para o cinema. (B) É dificil correr atras do prejuizo sozinho. 4 (C) Aqui, em Foz do Iguaçu, a dengue esta sendoum grande problema de saude publica. (D) O bisneto riscou os papeizinhos com o lapis. (E) O padrão economico do juiz é elevado. Resposta: [A] “Através” é oxítona terminada em “es”, “várias” é paroxítona terminada em ditongo (acompanhado de “s”) e “grátis” é paroxítona terminada em “is”. Assim, as três palavras devem ser acentuadas. 12. (G1 - ifsc 2012) Quanto à ortografia e à acentuação, assinale a alternativa CORRETA. (A) Após um gesto de comando, os que ainda estão de pé sentão-se e fazem silencio para houvir o diretor. (B) Mesmo que sofresse-mos uma repreenção por queixa de algum professor mais cioso de suas obrigações, a oférta parecia-nos irrecusável. (C) Marta nunca deicha o filho sózinho na cosinha, temerosa de que ele venha a puchar uma panela sobre sí. (D) À excessão de meu primo, que se mostrava um tanto pretencioso, todos os garotos eram bastante humildes. (E) A perícia analisaria a flecha, em busca de vestígios que pudessem fornecer indícios sobre sua trajetória. Resposta: [E] Apenas a opção [E] está correta. As demais deveriam ser substituídas por: [A] – após um gesto de comando, os que ainda estão de pé sentam-se e fazem silêncio para ouvir o diretor; [B] – mesmo que sofrêssemos uma repreensão por queixa de algum professor mais cioso de suas obrigações, a oferta parecia-nos irrecusável; [C] – Marta nunca deixa o filho sozinho na cozinha, temerosa de que ele venha a puxar uma panela sobre si; [D] – à exceção de meu primo, que se mostrava um tanto pretensioso, todos os garotos eram bastante humildes. No século XV, viu-se a Europa invadida por uma raça de homens que, vindos ninguém sabe de onde, se espalharam em bandos por todo o seu território. Gente inquieta e andarilha, deles afirmou Paul de Saint-Victor que era mais fácil predizer o 1 ........ das nuvens ou dos gafanhotos do que seguir as pegadas da sua invasão. Uns risonhos despreocupados: passavam a vida esquecidos do passado e descuidados do futuro. Cada novo dia era uma nova aventura em busca do escasso alimento para os manter naquela jornada. Trajo? No mais completo 2 ........ 4 : 3 ........ sujos e 7 puídos cobriam-lhes os corpos queimados do sol. Nômades, aventureiros, despreocupados – eram os boêmios. Assim nasceu a semântica da palavra 13 boêmio. O nome gentílico de 9 Boêmia passou a aplicar-se ao 8 indivíduo despreocupado, de existência irregular, relaxado no vestuário, vivendo ao 11 deus-dará, à toa, na vagabundagem alegre. 12 Daí também o substantivo boêmia. Na definição de Antenor Nascentes 5 : vida despreocupada e alegre, vadiação, estúrdia, vagabundagem. 14 Aplicou-se depois o termo, especializadamente, à vida desordenada e sem preocupações de artistas e escritores mais dados aos prazeres da noite que aos trabalhos do dia. Eis um exemplo clássico do que se chama degenerescência semântica. De limpo gentílico – natural ou habitante da Boêmia – boêmio acabou carregado de todas essas conotações desfavoráveis. A respeito do substantivo 15 boêmia, vale dizer que a forma de uso, ao menos no Brasil, é boemia, acento tônico em -mi-. E é natural que assim seja, considerando-se que -ia é sufixo que exprime condição, estado, ocupação. Conferir 6 : 16 alegria, 18 anarquia, barbaria, 17 rebeldia, tropelia, 20 pirataria... Penso que sobretudo palavras como folia e 19 orgia devem ter influído na fixação da tonicidade de boemia. Notar também o par abstêmio/abstemia. Além do mais, a prosódia boêmia estava prejudicada na origem pelo nome 10 próprio Boêmia: esses boêmios não são os que vivem na Boêmia... Adaptado de: LUFT, Celso Pedro. Boêmios, Boêmia e boemia. In: O romance das palavras. São Paulo: Ática, 1996. p. 30-31. 13. (Ufrgs 2012) Considere os pares de palavras abaixo. 1. puídos (ref. 7) e indivíduo (ref. 8) 2. Boêmia (ref. 9) e próprio (ref. 10) 3. deus-dará (ref. 11) e Daí (ref. 12) Em quais pares as palavras respeitam a mesma regra de acentuação ortográfica? (A) Apenas 1. (B) Apenas 2. (C) Apenas 3. (D) Apenas 1 e 2. (E) Apenas 1 e 3. Resposta: [B] O acento de “puído” deve-se ao hiato entre “u” e “i”; já “indivíduo” leva acento por ser uma paroxítona terminada em ditongo. Acentua-se “deus-dará” por tratar-se de uma oxítona terminada em “a”; “daí”, por sua vez, é acentuado devido ao hiato entre “a” e “i”. O único par acentuado pela mesma regra é o item [2]: tanto “Boêmia” como “próprio” são paroxítonas terminadas em ditongo. Quando a rede vira um vício Com o titulo "Preciso de ajuda", fez-se um desabafo aos integrantes da comunidade Viciados em Internet Anônimos: "Estou muito dependente da web, Não consigo mais viver normalmente. Isso é muito sério". Logo obteve resposta de um colega de rede. "Estou na mesma situação. Hoje, praticamente vivo em frente ao computador. Preciso de ajuda." Odiálogo dá a dimensão do tormento provocado pela dependência em Internet, um mal que começa a ganhar relevo estatístico, à medida que o uso da própria rede se dissemina. Segundo pesquisas recém-conduzidas pelo Centro de Recuperação para Dependência de Internet, nos Estados Unidos, a parcela de viciados representa, nos vários países estudados, de 5% (como no Brasil) a 10% dos que usam a web — com concentração na faixa dos 15 aos 29 anos. Os estragos são enormes. Como ocorre com um viciado em álcool ou em drogas, o doente desenvolve uma tolerância que, nesse caso, o faz ficar on- line por uma eternidade sem se dar conta do exagero. Ele também sofre de constantes crises de abstinência quando está desconectado, e seu desempenho nas tarefas de natureza intelectual despenca. Diante da tela do computador, vive, aí sim, momentos de rara euforia. Conclui uma psicóloga americana: "O viciado em internet vai, aos poucos, perdendo os elos com o mundo real até desembocar num universo paralelo — e completamente virtual". Não é fácil detectar o momento em que alguém deixa de fazer uso saudável e produtivo da rede para estabelecer com ela uma relação doentia, como a que se revela nas histórias relatadas ao longo desta reportagem. Em todos os casos, a internet era apenas "útil" ou "divertida" e foi ganhando um espaço central, a ponto de a vida longe da rede ser descrita agora como sem sentido. Mudança tão drástica se deu sem que os pais atentassem para a gravidade do que ocorria. "Como a internet faz parte do dia a dia dos adolescentes e o isolamento é um comportamento típico dessa fase da vida, a família raramente detecta o problema antes de ele ter fugido ao controle", diz um psiquiatra. A ciência, por sua vez, já tem bem mapeados os primeiros sintomas da doença. De saída, o tempo na internet aumenta — até culminar, pasme-se, numa 5 rotina de catorze horas diárias, de acordo com o estudo americano. As situações vividas na rede passam, então, a habitar mais e mais as conversas. É típico o aparecimento de olheiras profundas e ainda um ganho de peso relevante, resultado da frequente troca de refeições por sanduíches — que prescindem de talheres e liberam uma das mãos para o teclado. Gradativamente, a vida social vai se extinguindo. Alerta outra psicóloga: "Se a pessoa começa a ter mais amigos na rede do que fora dela, é um sinal claro de que as coisas não vão bem". Os jovens são, de longe, os mais propensos a extrapolar o uso da internet. Há uma razão estatística para isso — eles respondem por até 90% dos que navegam na rede, a maior fatia —, mas pesa também uma explicação de fundo mais psicológico, à qual uma recente pesquisa lança luz. Algo como 10% dos entrevistados (viciados ou não) chegam a atribuir à internet uma maneira de "aliviar os sentimentos negativos", tão típicos de uma etapa em que afloram tantas angústias e conflitos. Na rede, os adolescentes sentem-se ainda mais à vontade para expor suas ideias. Diz um outro psiquiatra: "Num momento em que a própria personalidadeestá por se definir, a internet proporciona um ambiente favorável para que eles se expressem livremente". No perfil daquela minoria que, mais tarde, resvala no vicio se vê, em geral, uma combinação de baixa autoestima com intolerância à frustração. Cerca de 50% deles, inclusive, sofrem de depressão, fobia social ou algum transtorno de ansiedade. É nesse cenário que os múltiplos usos da rede ganham um valor distorcido. Entre os que já têm o vicio, a maior adoração é pelas redes de relacionamento e pelos jogos on- line, sobretudo por aqueles em que não existe noção de começo, meio ou fim. Desde 1996, quando se consolidou o primeiro estudo de relevo sobre o tema, nos Estados Unidos, a dependência em internet é reconhecida — e tratada — como uma doença. Surgiram grupos especializados por toda parte. "Muita gente que procura ajuda ainda resiste à ideia de que essa é uma doença", conta um psicólogo. O prognóstico é bom: em dezoito semanas de sessões individuais e em grupo, 80% voltam a niveis aceitáveis de uso da internet. Não seria factível, tampouco desejável, que se mantivessem totalmente distantes dela, como se espera, por exemplo, de um alcoólatra em relação à bebida. Com a rede, afinal, descortina-se uma nova dimensão de acesso às informações, à produção de conhecimento e ao próprio lazer, dos quais, em sociedades modernas, não faz sentido se privar. Toda a questão gira em torno da dose ideal, sobre a qual já existe um consenso acerca do razoável: até duas horas diárias, no caso de crianças e adolescentes. Quanto antes a ideia do limite for sedimentada, melhor. Na avaliação de uma das psicólogas, "Os pais não devem temer o computador, mas, sim, orientar os filhos sobre como usá- lo de forma útil e saudável". Desse modo, reduz-se drasticamente a possibilidade de que, no futuro, eles enfrentem o drama vivido hoje pelos jovens viciados. Silvia Rogar e João Figueiredo, Veja, 24 de março de 2010. Adaptado. 14. (G1 - col.naval 2011) Assinale a opção cujas palavras são, respectivamente, acentuadas pela mesma justificativa das que aparecem destacadas em "Na avaliação de uma das psicólogas, ‘os pais não devem temer o computador, mas, sim, orientar os filhos sobre como usá-lo de forma útil e saudável’." (4° parágrafo) (A) Família, incluí-lo, saída. (B) Prognóstico, atrás, fútil. (C) Plausível, alguém, factível. (D) Alcoólatra, razoável, vício. (E) Múltiplos, amá-la, intolerância. Resposta: [B] A palavra “Psicólogas” é assinalada com acento agudo por se tratar de um proparoxítona, “usá-lo” (constituída por dois termos independentes) tem o primeiro termo acentuado por se tratar de uma palavra oxítona terminada em “a” ( regra ortográfica aplicável também se for seguida de “s”) e “saudável”, por ser uma paroxítona terminada em “l”. As palavras que são acentuadas pelas mesmas justificativas encontram-se na opção b). Como prevenir a violência dos adolescentes “(...) Quando deparo com as notícias sobre crimes hediondos envolvendo adolescentes, como o ocorrido com Felipe Silva Caffé e Liana Friedenbach, fico profundamente triste e constrangida. Esse caso é consequência da baixa valorização da prevenção primária da violência por meio das estratégias cientificamente comprovadas, facilmente replicáveis e definitivamente muito mais baratas do que a recuperação de crianças e adolescentes que comentem atos infracionais graves contra a vida. Talvez seja porque a maioria da população não se deu conta e os que estão no poder nos três níveis não estejam conscientes de seu papel histórico e de sua responsabilidade legal de cuidar do que tem de mais importante à nação: as crianças e os adolescentes, que são o futuro do país e do mundo. A construção da paz e a prevenção da violência dependem de como promovemos o desenvolvimento físico, social, mental, espiritual e cognitivo das nossas crianças e adolescentes, dentro do seu contexto familiar e comunitário. Trata-se, portanto, de uma ação intersetorial, realizada de maneira sincronizada em cada comunidade, com a participação das famílias, mesmo que estejam incompletas ou desestruturadas (...)” “(...) Em relação às crianças e adolescentes que cometeram infrações leves ou moderadas – que deveriam ser mais bem expressas – seu tratamento para a cidadania deveria ser feito com instrumentos bem elaborados e colocados em prática, na família ou próxima dela, com acompanhamento multiprofissional, desobstruindo as penitenciárias, verdadeiras universidades do crime. (...)” “(...) A prevenção primária da violência inicia-se com a construção de um tecido social saudável e promissor, que começa antes do nascer, com um bom pré-natal, parto de qualidade, aleitamento materno exclusivo até seis meses e o complemento até mais de um ano, vacinação, vigilância nutricional, educação infantil, principalmente propiciando o desenvolvimento e o respeito à fala da criança, o canto, a oração, o brincar, o andar, o jogar; uma educação para a paz e a nãoviolência. A pastoral da criança, que em 2003 completa 20 anos, forma redes de ação para multiplicar o saber e a solidariedade junto às famílias pobres do país, por meio de mais de 230 mil voluntários, e acompanhou no terceiro trimestre deste ano cerca de 1,7 milhão de crianças menores de seis anos e 80 mil gestantes, de mais de 1,2 milhão de famílias, que moram em 34.784 comunidades de 3.696 municípios do país. O Brasil é o país que mais reduziu a mortalidade infantil nos últimos dez anos; isso, sem dúvida, é resultado da organização e universalização dos serviços de saúde pública, da melhoria da atenção primária, com todas as limitações que o SUS possa ainda possuir, da descentralização e municipalização dos recursos e dos serviços de saúde. A intensa luta contra a mortalidade infantil, a desnutrição e a violência intrafamiliar contou com a contribuição dessa enorme rede de solidariedade da Pastoral da Criança. (...)” “(...) A segunda área da maior importância nessa prevenção primária da violência envolvendo crianças e adolescentes é a educação, a começar pelas creches, escolas infantis e de educação fundamental e de nível médio, que devem valorizar o desenvolvimento do raciocínio e a matemática, a música, a arte, o esporte e a prática da solidariedade humana. As escolas nas comunidades mais pobres deveriam ter dois turnos, para darem conta da educação integral das crianças e dos 6 adolescentes; deveriam dispor de equipes multiprofissionais atualizadas e capacitadas a avaliar periodicamente os alunos. Urgente é incorporar os ministérios do Esporte e da Cultura às iniciativas da educação, com atividades em larga escala e simples, baratas, facilmente replicáveis e adaptáveis em todo o território nacional. (...)” “(...) Com relação à idade mínima para a maioridade penal, deve permanecer em 18 anos, prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e conforme orientações da ONU. Mas o tempo máximo de três anos de reclusão em regime fechado, quando a criança ou o adolescente comete crime hediondo, mesmo em locais apropriados e com tratamento multiprofissional, que urgentemente precisam ser disponibilizados, deve ser revisto. Três anos, em muitos casos, podem ser absolutamente insuficientes para tratar e preparar os adolescentes com graves distúrbios para a convivência cidadã. (...)” Zilda Arns Neumann, 69, médica pediatra e sanitarista; foi fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Criança. (Folha de S Paulo, 26/11/2003.) 15. (G1 - ifal 2011) Foram retiradas do texto as seguintes palavras acentuadas: ministérios, replicáveis, adaptáveis, máximo, distúrbios, convivências. Assinale a alternativa que melhor justifica a acentuação gráfica. (A) De todas as palavras destacadas, somente “máximo” não se insere na mesma regra de acentuação gráfica. (B) Todas as palavras mencionadas seguem o mesmo padrão ou regra de acentuação gráfica. (C) Com exceção de “máximo”e “convivência”, que são proparoxítonas, as demais palavras são acentuadas pelo mesmo motivo. (D) Três regras de acentuação contemplam as palavras supracitadas: a das proparoxítonas, a das paroxítonas terminadas em ditongos e as que terminam em hiato, que, no caso em análise, trata-se da palavra “convivência”. (E) Todas são proparoxítonas. Resposta: [A] A palavra “máximo”, por se tratar de uma proparoxítona, é acentuada na antepenúltima sílaba, situação que não acontece nas demais que são paroxítonas terminadas em ditongo crescente (ministérios, distúrbios e convivências) ou “l” com seu plural em “is”( replicáveis, adaptáveis), como se afirma em [A]. O padeiro Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento – mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto não é bem uma greve, é um lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo. Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando: – Não é ninguém, é o padeiro! Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo? “Então você não é ninguém?” Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém, não senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo que não era ninguém... Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina – e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno. Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; “não é ninguém, é o padeiro!” E assobiava pelas escadas. BRAGA, Rubem. O padeiro. In: ANDRADE, Carlos Drummond de; SABINO, Fernando; CAMPOS, Paulo Mendes; BRAGA, Rubem. Para gostar de ler: v. 1. Crônicas. 12ª ed. São Paulo: Ática, 1982. p.63 - 64. 16. (G1 - ifsc 2011) Considere as palavras abaixo, que aparecem acentuadas no texto, e assinale a única alternativa na qual a acentuação da palavra está corretamente justificada. (A) “ninguém”: paroxítona terminada em em. (B) “detê-lo”: oxítona terminada em o. (C) “máquina”: acento diferencial. (D) “saía”: paroxítona terminada em ditongo. (E) “lá”: monossílaba tônica terminada em a. Resposta: [E] A acentuação da palavra “lá” está corretamente justificada em [E]. As demais opções são incorretas, pois “Ninguém” é uma oxítona terminada em em, “detê-lo”, oxítona terminada em e, “máquina”, proparoxítona, e “saía” apresenta acento agudo por se tratar da vogal tônica i em posição de hiato, não precedida de ditongo. Darwin passou quatro meses no Brasil, em 1832, durante a sua 2 célebre viagem a bordo do Beagle. Voltou impressionado com o que viu: " 5 Delícia é um termo 17 insuficiente para 19 exprimir as emoções sentidas por 28 um naturalista a 8 sós com a natureza em uma floresta brasileira", escreveu. O Brasil, 11 porém, aparece de forma menos 21 idílica em 27 seus escritos: "Espero nunca mais voltar a um 12 país escravagista. O estado da enorme população escrava deve preocupar todos os que chegam ao Brasil. Os senhores de escravos querem ver o negro romo outra espécie, mas temos todos a mesma origem." Em vez do gorjeio do 6 sabiá, o que Darwin guardou nos ouvidos foi 30 um som 3 terrível que 29 o acompanhou por toda a vida: " 13 Até hoje, se eu ouço um grito, 39 lembro-me, com 22 dolorosa e clara memória, 43 de quando passei numa casa em Pernambuco e ouvi urros 14 terríveis. Logo entendi que era algum pobre escravo que estava sendo torturado," Segundo o 4 biólogo Adrian Desmond, “ a viagem do Beagie, para Darwin, foi 40 menos 41 importante pelos 15 espécimes coletados do que pela 16 experiência de 25 testemunhar os horrores da 23 escravidão no Brasil. 47 De certa forma, ele escolheu focar na 20 descendência comum do homem justamente para mostrar que 32 todas as raças eram iguais e, 31 desse modo, enfim, 44 objetar 36 àqueles que 18 insistiam em dizer que os negros pertenciam a uma espécie diferente e inferior à dos brancos". 1 Desmond acaba de lançar um estudo que mostra a paixão abolicionista 35 do cientista, 26 revelada por 33 seus 7 diários e cartas 42 pessoais. “A extensão de 34 seu interesse no combate à ciência de cunho racista 9 é surpreendente, e pudemos detectar um ímpeto moral por 10 trás de 7 seu trabalho sobre a evolução humana - urna crença na ‘irmandade racial’ que 38 tinha 37 origem em 45 seu ódio 46 ao 24 escravismo e que o levou a pensar numa descendência comum." Adaptado de: HAAG, C. O elo perdido tropical. Pesquisa FAPESP, n. 159, p. 80 - 85, maio 2009. 17. (Ufrgs 2010) Assinale a alternativa em que as três palavras são acentuadas graficamente pela mesma razão. (A) célebre (ref. 2) - terrível (ref. 3) - biólogo (ref. 4) (B) Delícia (ref. 5) - sabiá (ref. 6) - diários (ref. 7) (C) sós (ref. 8) - é (ref. 9) - trás (ref. 10) (D) porém (ref. 11) - país (ref. 12) - Até (ref. 13) (E) terríveis (ref. 14) - espécimes (ref. 15) - experiência (ref. 16) Resposta: [C] Célebre: proparoxítona Terrível: paroxítona terminada em L Biólogo: proparoxítona Delícia: paroxítona terminada em ditongo Sabiá: oxítona terminada em a Diários: paroxítona terminada em ditongo Sós: monossílabo tônico terminado em o (acompanhado ou não de s) É: monossílabo tônico terminado em e (acompanhado ou não de s) Trás: monossílabo tônico terminado em a (acompanhado ou não de s) Porém: oxítona terminada em em País: i sozinho na sílaba (seguido ou não de s) Até: oxítona terminada em e Terríveis: paroxítona terminada em ditongo Espécimes: proparoxítona Experiência: paroxítona terminada em ditongo Preto e Branco Perdera o emprego, 5 chegara a passar fome, sem que 6 ninguém 2 soubesse: por constrangimento, afastara-se da roda 7 boêmia escritores, jornalistas, um sambista de cor que vinha a ser o seu mais velho que antes costumava frequentar companheiro de noitadas. De repente, a salvação lhe apareceu na forma de um americano, que lhe 3 oferecia um emprego numa agência. Agarrou- se com unhas e dentes à oportunidade, vale dizer, ao americano, para garantir na sua nova função uma relativa estabilidade. E um belo dia vai seguindo com o chefe pela rua 10 México, já distraído de seus passados tropeços, mas tropeçando obstinadamente no inglês com que se entendiam – quando vê do outro lado da rua um preto agitar a mão para ele. Era o sambista seu amigo. Ocorreu-lhe desde logo que ao americano 4 poderia parecer estranha tal amizade, e mais ainda incompatível com a ética ianquea ser mantida nas funções que passara a exercer. Lembrou-se num átimo que o americano em geral tem uma coisa muito séria chamada preconceito racial e seu critério de julgamento da capacidade funcional dos subordinados talvez se deixasse influir por essa odiosa deformação. Por via das dúvidas correspondeu ao cumprimento de seu amigo da maneira mais discreta que lhe foi possível, mas viu em pânico que ele atravessava a rua e vinha em sua direção, sorriso aberto e braços prontos para um abraço. Pensou rapidamente em se esquivar – não dava tempo: o americano também se detivera, vendo o preto aproximar-se. Era seu amigo, velho companheiro, um bom sujeito, dos melhores mesmo que já conhecera – acaso jamais chegara sequer a se lembrar que se tratava de um preto? Agora, com o gringo ali a seu lado, todo branco e sardento, é que percebia pela primeira vez: não podia ser mais preto. Sendo assim, tivesse paciência: mais tarde lhe explicava tudo, haveria de compreender. Passar fome era muito bonito nos romances de Knut Hamsun, lidos depois do jantar, e sem credores à porta. Não teve mais dúvidas: virou a cara quando o outro se 1 aproximou e fingiu que não o via, que não era com ele. E não era mesmo com ele. Porque antes de 9 cumprimentá-lo, talvez ainda sem 8 tê-lo visto, o sambista abriu os braços para acolher o americano – também seu amigo. SABINO, Fernando. A mulher do vizinho. 7.ed. Rio de Janeiro: Record, 1962. p.163-4. 18. (G1 - cftsc 2010) Assinale a alternativa correta relativamente à acentuação gráfica das palavras sublinhadas no texto. (A) O pronome ninguém (ref. 6) recebe acento por ser uma monossílaba tônica terminada em em. (B) O substantivo boêmia (ref. 7) é acentuado por ser palavra proparoxítona. (C) A combinação da forma verbal ter com o pronome oblíquo o, resultou em tê-lo (ref. 8), que é acentuado por se tratar de paroxítona terminada em o. (D) A forma verbal cumprimentá (ref. 9) é acentuada porque, ao associar-se ao pronome o, perdeu o r final, tornando- se uma oxítona terminada em a. (E) O substantivo México (ref. 10) recebe acento porque é uma palavra importada, que precisa manter o acento original. Resposta: [D] A- O vocábulo ninguém é dissílabo, isto é, formado por duas sílabas nin-guém. B- A palavra boêmia é paroxítona (a sílaba tônica é a penúltima) terminada em ditongo crescente. C- Tê-lo é acentuado porque classifica-se separadamente a palavra tê – monossílabo tônico terminado em e. O lo é monossílabo átono. Só se acentuam os monossílabos tônicos terminados em A, E, O e em EM, ENS. Por exemplo: pá, pé, pó, também, parabéns. D- Correta. E- O substantivo México recebe o sinal gráfico, porque todas as proparoxítonas são acentuadas. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Casa de Pensão (fragmento) Às oito horas, quando entrou em casa tinha já resolvido não ficar ali nem mais um dia. − 1 Era fazer as malas e bater quanto antes a bela plumagem! Mas também, se por um lado não lhe convinha ficar em companhia do Campos; por outro, a ideia de se meter na república do Paiva não o seduzia absolutamente. 2 Aquela miséria e aquela desordem lhe causavam repugnância. 3 Queria liberdade, a boêmia, a pândega − sim senhor! tudo isso, porém, com um certo ar, com uma certa distinção aristocrática. Não admitia uma cama sem travesseiros, um almoço sem talheres e uma alcova sem espelhos. 4 Desejava a bela crápula, − por Deus que desejava! mas não bebendo pela garrafa e dormindo pelo chão de águas-furtadas! − Que diabo! − não podia ser tão difícil conciliar as duas coisas! ... Pensando deste modo, subiu ao quarto. 5 Sobre a cômoda estava uma carta que lhe era dirigida; abriu-a logo: 6 "Querido Amâncio. 7 Desculpe tratá-lo com esta liberdade; como, porém, já sou seu amigo, não encontro jeito de lhe falar doutro modo. Ontem, quando combinamos no Hotel dos Príncipes a sua visita para domingo, 8 não me passava pela cabeça que hoje era dia santo e que fazíamos melhor em aproveitá-lo; por conseguinte, se o amigo não tem algum compromisso, venha passar a tarde conosco, que 8 nos dará com isso grande prazer. Minha família, depois que lhe falei a seu respeito, está impaciente para conhecê-lo e desde já fica à sua espera." Assinava "João Coqueiro" e havia o seguinte post-scriptum: 9 "Se não puder vir, previna-mo por duas palavrinhas; mas venha. Resende n ... " Amâncio hesitou em se devia ir ou não. O Coqueiro, com a sua figurinha de tísico, o seu rosto chupado e quase verde, os seus olhos pequenos e penetrantes, de uma mobilidade de olho de pássaro, com a sua boca fria, deslabiada, o seu nariz agudo, o seu todo seco egoísta, desenganado da vida, não era das coisas que mais o atraíssem. No entanto, bem podia ser que ali estivesse o que ele procurava, − um cômodo limpo, confortável, um pouquinho de luxo, e plena liberdade. Talvez aceitasse o convite. − 10 Esta gente onde está? perguntou, indicando o andar de cima a um caixeiro que lhe apareceu no corredor, com a sua calça domingueira, cor de alecrim, o charuto ao canto da boca. − 11 Foram passear ao Jardim Botânico, respondeu aquele, descendo as escadas. − Todos? ainda interrogou Amâncio. − Sim, disse o outro entre os dentes, sem voltar o rosto. E saiu. − Está resolvido! pensou o estudante. − Vou à casa do Coqueiro. Ao menos estarei entretido durante esse tempo! E voltando ao quarto: − Não! É que tudo ali em casa do Campos já lhe cheirava mal!... Olhassem para o ar impertinente com que aquele galeguinho lhe havia falado! ... E tudo mais era pelo mesmo teor. − Uma súcia d'asnos! 12 Começou a vestir-se de mau humor, arremessando a roupa, atirando com as gavetas. O jarro vazio causou-lhe febre, sentiu venetas de arrojá-lo pela janela; ao tomar uma toalha do cabide, porque ela se não desprendesse logo, deu-lhe tal empuxão que a fez em tiras. − Um horror! resmungava, a vestir-se furioso, sem saber de quê. − Um horror! E, quando passou pela porta da rua, teve ímpetos de esbordoar o caixeiro, que nesse dia estava de plantão. AZEVEDO, Aluísio. Casa de Pensão. São Paulo: Ática, 2009, p.59-60. 19. (Ufpb 2012) No fragmento “– Esta gente onde está? perguntou, indicando o andar de cima a um caxeiro que lhe apareceu no corredor, com a sua calça domingueira, cor de alecrim, o charuto ao canto da boca.” (ref.10), ocorrem sequências textuais (A) narrativas e descritivas. (B) dissertativas e narrativas. (C) argumentativas e descritivas. (D) injutivas e argumentativas. (E) dissertativas e injutivas. Resposta: [A] O fragmento apresenta sequência de ações caracterizadoras de narração (“perguntou”, “apareceu”) e descrição (“com a sua calça domingueira, cor de alecrim, o charuto ao canto da boca”). 7 De repente voltou-me a ideia de construir o livro. (...) 1 Desde então procuro descascar fatos, aqui sentado à mesa da sala de jantar (...). Às vezes, entro pela noite, passo tempo sem fim acordando lembranças. Outras vezes não me ajeito com esta ocupação nova. Anteontem e ontem, por exemplo, foram dias perdidos. 3 Tentei debalde canalizar para termo razoável esta prosa que se derrama como a chuva da serra, e o que me apareceu foi um grande desgosto. 8 Desgosto e a vaga compreensão de muitas coisas que sinto. 9 Sou um homem arrasado. Doença? Não. Gozo perfeita saúde. (...) Não tenho doença nenhuma. O que estou é velho. Cinquenta anos pelo S. Pedro. 10 Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado é que endureci, calejei, e não é um arranhão que penetra esta casca espessa e vem ferir cá dentro a sensibilidade embotada. Cinquenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se uma pessoa a vida inteira sem saber para quê! 2 Comer e dormir como um porco! Como um porco! Levantar- se cedo todas as manhãs e sair correndo, procurando comida! 4 E depois guardar comidapara os filhos, para os netos, para muitas gerações. Que estupidez! (...) 5 Coloquei-me acima da minha classe, creio que me elevei bastante. Como lhes disse, 6 fui guia de cego, vendedor de doce e trabalhador alugado. Estou convencido de que nenhum desses ofícios me daria os recursos intelectuais necessários para engendrar esta narrativa. Magra, de acordo, mas em momentos de otimismo suponho que há nela pedaços melhores que a literatura do Gondim. Sou, pois, superior a mestre Caetano e a outros semelhantes. Considerando, porém, que os enfeites do meu espírito se reduzem a farrapos de conhecimentos apanhados sem escolha e mal cosidos, devo confessar que a superioridade que me envaidece é bem mesquinha. (...) Quanto às vantagens restantes – casas, terras, móveis, semoventes, consideração de políticos, etc. – é preciso convir em que tudo está fora de mim. 11 Julgo que me desnorteei numa errada. GRACILIANO RAMOS São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 2004. 20. (Uerj 2011-MODIFICA) Comer e dormir como um porco! Como um porco! (ref. 2) A repetição das palavras, neste contexto, constitui recurso narrativo que revela um traço relativo ao personagem. Esse traço pode ser definido como: (A) carência (B) desespero (C) inesperiência. (D) inabilidade (E) intolerância Resposta: [B] A repetição dos termos enfatiza o estado de desespero do narrador que senta a inutilidade de muitos gestos e ações do passado e a impossibilidade de refazer a sua vida. Na obsessão de enriquecer e ter prestígio, incapaz de verbalizar os seus sentimentos por Madalena e sem capacidade de entender as diferenças ideológicas que os separavam e se refletiam nas desavenças e constantes crises de ciúmes, Paulo Honório se desespera e considera-se “um homem arrasado”. A autocrítica vai ao ponto de aproximar o seu comportamento ao de um “porco”, num processo de zoomorfismo, recurso recorrente no estilo neorrealista em que se enquadra Graciliano Ramos. Embaixo, o rumor da água pipocando sobre o pedregulho; vaga-lumes retouçando no escuro. Desci, dei-me com o lugar onde havia estado; tenteei os galhos do sarandi; achei a pedra onde tinha posto a guaiaca e as armas, corri as mãos por todos os lados, mais pra lá, mais pra cá...; nada... nada!... Então, senti frio dentro da alma. . . o meu patrão ia dizer que eu havia roubado!... roubado... Pois então eu ia lá perder as onças!... Qual! Ladrão, ladrão, é que era!... E logo uma tenção ruim entrou-me nos miolos: eu devia matar-me, para não sofrer a vergonha daquela suposição. É, era o que eu devia fazer: matar-me... e já, aqui mesmo! Tirei a pistola do cinto: amartilhei o gatilho... benzi-me, e encostei no ouvido o cano, grosso e frio, carregado de bala... 9 Ah! patrício! Deus existe!... No refilão daquele tormento, olhei para diante e vi... as Três-Marias luzindo na água... o cusco encarapitado na pedra, ao meu lado, estava me lambendo a mão... e logo, logo, o zaino relinchou lá em cima, na barranca do riacho, ao mesmíssimo tempo que a cantoria alegre de um grilo retinia ali perto, num oco de pau!... Patrício! não me avexo duma heresia; mas era Deus que estava no luzimento daquelas estrelas, era ele que mandava aqueles bichos brutos arredarem de mim a má tenção... O cachorrinho tão fiel lembrou-me a amizade da minha gente; o meu cavalo lembrou-me a liberdade, o trabalho, e aquele grilo cantador trouxe a esperança... Eh-pucha! patrício, eu sou mui rude... a gente vê caras, não vê corações...; pois o meu, dentro do peito, naquela hora, estava como um espinilho ao sol, num descampado, no pino do meio-dia: era luz de Deus por todos os lados!... E já todo no meu sossego de homem, meti a pistola no cinto. Fechei um baio, bati o isqueiro e comecei a pitar. (LOPES NETO, J. S. Contos gauchescos. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2008. p. 21-22.) 21. (Uel 2011) É correto afirmar que a história é narrada (A) em primeira pessoa, por João Simões Lopes Neto, que, num tom autobiográfico, conta fatos da época em que atuou na Revolução Farroupilha. (B) em terceira pessoa, por uma personagem textualmente nomeada Patrício, que relata todo o seu arrependimento por ter roubado as onças do patrão. (C) por um narrador testemunha, mais precisamente o patrão do protagonista, que registra as qualidades morais de seu empregado. (D) em primeira pessoa, pelo vaqueano Blau Nunes, que relata como e onde perdeu as onças do patrão. (E) por um narrador onisciente, não nomeado, que registra fatos relacionados à agitada e violenta época do cangaço rio-grandense. Resposta: [D] O narrador em 1ª pessoa, Blau Nunes, vaqueano típico dos pampas, relata um episódio marcante em sua vida. Ele perdera uma bolsa carregada de moedas de ouro que seu patrão lhe tinha confiado e, perante a hipótese de ser considerado ladrão, resolve cometer suicídio. No entanto, no último momento, as sensações provocadas pelo cenário sugestivo devolvem-lhe o apego à vida, incutem-lhe a razão, fazendo com que se arrependa do gesto tresloucado que ia fazer, enfrente o problema e busque outra solução. Texto Pau de Dois Bicos Um morcego estonteado pousou certa vez no ninho da coruja, e ali ficaria de dentro se a coruja ao regressar não investisse contra ele. – Miserável bicho! Pois te atreves a entrar em minha casa, sabendo que odeio a família dos ratos? – Achas então que sou rato? Não tenho asas e não voo como tu? Rato, eu? Essa é boa!... A coruja não sabia discutir e, vencida de tais razões, poupou- lhe a pele. Dias depois, o finório morcego planta-se no casebre do gato- do-mato. O gato entra, dá com ele e chia de cólera. – Miserável bicho! Pois te atreves a entrar em minha toca, sabendo que detesto as aves? – E quem te disse que sou ave? - retruca o cínico - sou muito bom bicho de pelo, como tu, não vês? – Mas voas!... – Voo de mentira, por fingimento... – Mas tem asas! – Asas? Que tolice! O que faz a asa são as penas e quem já viu penas em morcego? Sou animal de pelo, dos legítimos, e inimigo das aves como tu. Ave, eu? É boa... O gato embasbacou, e o morcego conseguiu retirar-se dali são e salvo. Moral da Estória: O segredo de certos homens está nesta política do morcego. É vermelho? Tome vermelho. É branco? Viva o branco! (LOBATO, José Bento Monteiro. Fábulas. 45. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. p. 49.) 22. (Uel 2011) A charge de Sassá refere-se a um problema que afeta a cidade de Londrina e muitas outras cidades brasileiras: o risco de contrair doenças transmitidas pelas pombas que vivem na região urbana. O que permite ao morcego, da fábula, e à pomba, da charge, disfarçarem sua condição é (A) o fato de suplicarem pela vida e pela misericórdia de seus inimigos. (B) a postura corporal, visto que um imita o comportamento do outro. (C) o uso de recursos argumentativos presentes na fala. (D) a confiança na consciência ambiental dos interlocutores. (E) a esperteza simbolicamente atribuída a esses animais. Resposta: [C] O uso de recursos argumentativos permite ao morcego e à pomba disfarçarem sua condição, como sugere a moral que encerra a narrativa: ”... O segredo de certos homens está nesta política do morcego. É vermelho? Tome vermelho. É branco? Viva o branco!” 23. (Uel 2011) A hesitação do gato, na fábula, e do caçador, na charge, deve-se (A) à contradição existente entre a fala do morcego e a da pomba e suas características físicas. (B) à tentativa frustrada do morcego e da pomba em disfarçarem sua condição apelando para o fingimento e a mentira. (C) ao medo de serem agredidos pelas garras afiadas do morcego e pelo bico semiaberto da pomba. (D) à aversão do gato e do caçador em relação à aparência física dos morcegos. (E) à postura submissa da pomba e do morcego diante dos olhares arregalados do caçador e do gato. Resposta: [A] O fato deo morcego ter pelo e a pomba estar em posição invertida contradizem as características de ave, que o gato odiava e o caçador perseguia. 24. (Uel 2011) O texto Pau de dois bicos é uma fábula, (A) pelo predomínio do discurso direto, com consequente apagamento da figura do narrador. 10 (B) pois o tempo cronológico é marcado pela expressão “certa vez” e pelos verbos no passado. (C) pois apresenta trama pouco definida e trata de problemas cotidianos imediatos, o que lhe confere caráter jornalístico. (D) por utilizar elemento fantástico, como o fato de os animais falarem, para refletir sobre problemas humanos. (E) por resgatar a tradição alegórica de representação de seres heroicos que encarnam forças da natureza. Resposta:[D] Por se tratar de uma composição literária em que os personagens são animais que apresentam características humanas, tais como a fala e os costumes, encerrada com uma reflexão moral de caráter instrutivo, o texto Pau de dois Bicos é classificado de “fábula”. 25. (Uel 2011) Considerando o trecho em negrito no texto Pau de dois bicos, assinale a alternativa correta. Nos dois casos, a palavra “mas” (A) opõe-se ao argumento “sou muito bom bicho de pelo”. (B) revela a causa do “voo de mentira”. (C) expressa a consequência dos fatos narrados. (D) marca a condição do “voo de mentira”. (E) explica o argumento “sou muito bom bicho de pelo”. Resposta:[A] A conjunção adversativa “mas” estabelece oposição ao argumento “sou muito bom bicho de pelo”, pois o fato de o morcego ter asas e voar induz o gato a pensar que se trata de uma ave. Nasce um escritor O primeiro dever passado pelo novo professor de português foi uma 7 descrição tendo o mar como tema. A classe inspirou, toda ela, nos encapelados mares de Camões, aqueles nunca dantes navegados. O 5 episódio do Adamastor foi reescrito pela 2 meninada. Prisioneiro no internato, eu vivia na saudade das 4 praias do Pontal onde conhecera a liberdade e o sonho. O mar de Ilhéus foi o tema de minha descrição. Padre Cabral levara os deveres para corrigir em sua cela. Na aula seguinte, entre risonho e solene, anunciou a existência de uma vocação autêntica de escritor naquela sala de aula. Pediu que escutassem com atenção o dever que 1 ia ler. Tinha certeza, afirmou, que o autor daquela página seria no futuro um escritor conhecido. Não regateou elogios. 3 Eu acabara de completar onze anos. Passei a ser uma personalidade, segundo os cânones do colégio, ao lado dos futebolistas, dos campeões de matemática e de religião, dos que 6 obtinham medalhas. Fui admitido numa espécie de Círculo Literário onde 9 brilhavam 8 alunos mais velhos. Nem assim deixei de me sentir prisioneiro, sensação permanente durante os dois anos em que estudei no colégio dos jesuítas. 11 Houve, porém, 10 sensível mudança na limitada vida do aluno interno: o padre Cabral tomou-me sob sua proteção e colocou em minhas mãos livros de sua estante. Primeiro "As Viagens de Gulliver", depois clássicos portugueses, traduções de ficcionistas ingleses e franceses. Data dessa época minha paixão por Charles Dickens. Demoraria ainda a conhecer Mark Twain: o norte- americano não figurava entre os prediletos do padre Cabral. Recordo com carinho a figura do jesuíta português erudito e amável. Menos por me haver anunciado escritor, sobretudo por me haver dado o amor aos livros, por me haver revelado o mundo da criação literária. Ajudou-me a suportar aqueles dois anos de internato, a fazer mais leve a minha prisão, minha primeira prisão. AMADO, Jorge. O menino Grapiúna. Rio de Janeiro. Record. 1987. p. 117-20. 26. (G1 - ifce 2011) Para realizar o trabalho que Padre Cabral lhes impôs, os alunos deviam possuir um saber, que era (A) ter a inspiração. (B) conhecer as praias do Pontal. (C) saber descrever o mar e ter conhecimento das técnicas de construção de um texto descritivo. (D) ter grande conhecimento da língua portuguesa. (E) ser um bom narrador. Resposta: [C] Para realizar o trabalho, os alunos deveriam reunir algumas competências, como o uso adequado de técnicas para uma composição descritiva e capacidade imaginativa para compor um texto original que prendesse a atenção do leitor. 27. (G1 - ifce 2011) Todos os alunos apresentaram seus trabalhos, mas só um foi elogiado. O que esse trabalho revelava, para distinguir-se dos demais, era (A) o conhecimento superior das praias do Pontal. (B) a originalidade da descrição. (C) o conhecimento superior da língua portuguesa. (D) os elogios demasiados ao Padre Cabral. (E) o conhecimento do narrador acerca da literatura brasileira. Resposta: [B] Todos os trabalhos exploravam conteúdos assimilados durante as aulas de Português (“…mares de Camões, aqueles nunca dantes navegados. O episódio do Adamastor foi reescrito pela meninada”), apenas o do narrador escapou do lugar comum ao evocar literariamente um ambiente oriundo das suas próprias vivências e, portanto, original. 7 Domingo ela 4 acordava mais cedo para ficar mais tempo sem fazer nada. O pior momento de sua vida era 5 nesse dia ao fim da tarde: caía em 2 meditação inquieta, o vazio do seco domingo. Suspirava. 3 Tinha saudade de quando era pequena – farofa seca – e pensava que fora feliz. Na verdade por pior a infância é sempre encantada, 6 que susto. Nunca se queixava de nada, sabia que as coisas são assim mesmo e – quem organizou a terra dos homens? [...] 1 Juro que não posso fazer nada por ela. Afianço- 8 vos que se eu pudesse melhoraria as coisas. Eu bem sei que dizer que a datilógrafa tem o corpo cariado é um dizer de brutalidade pior que qualquer palavrão. Clarice Lispector, A hora da estrela 28. (Mackenzie 2010) Assinale a alternativa correta. (A) Um narrador de terceira pessoa, observador, descreve, “de fora”, a figura feminina; essa distância justifica o seguinte comentário: Juro que não posso fazer nada por ela [...] se eu pudesse melhoraria as coisas (ref. 1). (B) O relato põe em evidência traços caracterizadores da personagem: o rancor (meditação inquieta, o vazio do seco domingo – ref. 2) e a frustração (Tinha saudade – ref. 3). (C) O tempo da narração coincide com o tempo dos acontecimentos vivenciados pela personagem, como prova o uso do imperfeito – acordava (ref. 4) – e do pronome “esse” (nesse, ref. 5). (D) Há segmentos que expressam a fusão das vozes no fluxo narrativo, como, por exemplo, que susto (ref. 6). (E) Embora o narrador deixe no relato índices de sua rejeição às atitudes da personagem – a referência à preguiça (ref. 7), por exemplo – evita tratá-la de forma desrespeitosa, como prova o uso do pronome vos (ref. 8). 11 Resposta: [D] Os segmentos apresentados no texto que expressam a fusão de vozes do narrador e da personagem são os segmentos de discurso indireto livre, como no trecho: que susto, que é uma expressão da personagem “embutida” no discurso do narrador. 1 Eu troteava, nesse tempo. De uma feita que 6 viajava de escoteiro, com a 9 guaiaca 12 empanzinada de 15 onças de ouro, vim varar aqui neste mesmo passo, 24 por me ficar mais perto da estância onde 7 devia pousar. Parece que foi ontem! Era fevereiro; eu vinha 21 abombado da 18 troteada. 2 Olhe, ali, à sombra daquela mesma 16 reboleira de mato que está nos vendo, desencilhei; e estendido nos pelegos, a cabeça no lombilho, com o chapéu sobre os olhos, fiz uma 13 sesteada morruda. Despertando, ouvindo o ruído manso da água fresca rolando sobre o pedregulho, tive ganas de me banhar; até para quebrar a lombeira... E fui-me à água que nem 22 capincho! 3 Depois, daquela 19 vereda andei como 10 três léguas, chegando à estância cedo, obra assim de braça e meia de sol. 4 Ah! Esqueci de 25 dizer-lhe que andava comigo um cachorrinhobrasino, um cusco muito esperto e boa vigia. Era das crianças, mas às vezes 26 dava-lhe para acompanhar-me, e depois de sair da 11 porteira, nem por nada fazia 27 caravolta, a não ser comigo. Durante a troteada reparei que volta e meia o cusco parava na estrada e latia, e troteava sobre o 17 rastro - parecia que estava me chamando! Mas como eu não ia, ele tomava a alcançar-me, e logo recomeçava... Pois nem lhe conto! Quando botei o pé em terra na 20 estância e já 8 dava as boas tardes ao dono da casa, aguentei um tirão seco no coração... não senti o peso da guaiaca! Tinha perdido as trezentas onças de ouro. E logo passou-me pelos olhos um darão de cegar, depois uns 14 coriscos... depois tudo ficou cinzento... 29 De meio assombrado me fui repondo quando ouvi que indagavam: - Então, patrício? Está doente? - 5 Não senhor, não é doença; é que sucedeu-me uma 28 desgraça; perdi uma dinheirama do meu patrão... 23 - A la fresca! - É verdade... antes morresse que isso! Nisto o cusco brasino deu uns pulos ao focinho do cavalo, como querendo lambê-lo, e logo correu para a estrada, aos latidos. E olhava-me, e vinha e ia, e tornava a latir... Adaptado de Simões Lopes Neto. Trezentas onças. In: BETANCUR, P. (Org.). Obra completa de Simões Lopes Neto. Porto Alegre: Sulina, 2003. p. 307-308. 29. (Ufrgs 2010) Há, no texto, indicações de que a história está sendo contada pelo narrador em uma conversa com outra pessoa em um lugar onde a história também se passou. Assinale a alternativa que contenha um trecho que indique isso. (A) Eu troteava, nesse tempo (ref. 1) (B) Olhe, ali, à sombra daquela mesma reboleira de mato que está nos vendo (ref. 2) (C) Depois, daquela vereda andei como três léguas (ref. 3) (D) Ah! Esqueci de dizer-lhe que andava comigo um cachorrinho brasino (ref. 4) (E) Não senhor, não é doença; é que sucedeu-me uma desgraça (ref. 5) Resposta: [B] As únicas alternativas que indicam uma conversa entre o narrador e outra pessoa são: B, D e E. No entanto, a única que permite a interpretação sobre o lugar onde a história se passou é a B, em virtude de elementos como: “olhe”, “ali” e “que está nos vendo”, que dão indicações de lugar. TEXTO: É por causa do meu engraxate que ando agora em plena desolação. Meu engraxate me deixou. Passei duas vezes pela porta onde ele trabalhava e nada. Então me inquietei, não sei que doenças mortíferas, que mudança pra outras portas se passaram em mim, resolvi perguntar ao menino que trabalhava na outra cadeira. O menino é um retalho de hungarês, cara de infeliz, não dá simpatia alguma. E tímido, o que torna instintivamente a gente muito combinado com o universo no propósito de desgraçar esses desgraçados de nascença. “Está vendendo bilhete de loteria”, respondeu antipático, me deixando numa perplexidade penosíssima: pronto! Estava sem engraxate! Os olhos do menino chispeavam ávidos, porque sou um dos que ficam fregueses e dão gorjeta. Levei seguramente um minuto pra definir que tinha de continuar engraxando sapatos toda a vida minha e ali estava um menino que, a gente ensinando, podia ficar engraxate bom. (Mário de Andrade, Os Filhos da Candinha.) 30. A desolação por que passa o narrador resulta (A) do sumiço do engraxate, por quem o narrador, ao valer- se dos serviços, criara certa afeição. (B) da ausência do engraxate, de cujos serviços, mesmo precários, aquele se valia. (C) da presença do menino hungarês, pouco aberto ao diálogo, em substituição obrigatória ao antigo engraxate. (D) do sumiço do engraxate com quem ele evitava a todo custo criar laços afetivos. (E) da necessidade dos serviços do tímido menino hungarês, que certamente não chegaria a ser bom engraxate. Resposta: A Dentre as alternativas apresentadas não há nenhuma completamente satisfatória. Aquela que melhor expressa o conteúdo do texto é a A, mas é importante ressalvar que não se encontra no texto qualquer marca de afeição entre o narrador e o engraxate. Embora haja essa sugestão no início, “… ando agora em plena desolação.”, no decorrer do texto fica claro que os laços estabelecidos entre os dois não ultrapassam aqueles considerados utilitários e habituais — idéia reforçada pelo final, quando o narrador se convence de que mesmo o menino “hungarês” de olhar antipático poderia, se bem ensinado, tornar-se um engraxate bom. 31. A timidez do engraxate despertava no narrador um sentimento de (A) pena dele e daqueles que, como ele, também viviam mal. (B) repulsa por ele e pelos de sua condição de mal-nascido. (C) enternecimento por ele e pelos mal-nascidos, por sua natural infelicidade. (D) distanciamento dele e daqueles que o viam com interesse. (E) indignação com ele e com aqueles que pouco faziam para progredir. Resposta: B A idéia de que o narrador cria um sentimento de repulsa pelo menino “hungarês” e por todos aqueles que, como ele, provêm de classe social desfavorecida fica clara em “... o que torna instintivamente a gente muito combinado com o universo no propósito de desgraçar esses desgraçados de nascença.” 32. É correto afirmar que 12 (A) o narrador ficou sem engraxate, mas queria encontrar o menino para agradecer pelos bons serviços que recebera. (B) o menino hungarês é antipático, pois se refere, com ironia, ao outro que, um dia, já esteve trabalhando ao seu lado como engraxate, prestando serviços ao narrador. (C) a possibilidade de ficar definitivamente sem seu engraxate, que poderia lograr êxito no novo emprego, perturbava demais o narrador. (D) o espírito generoso do narrador com o engraxate, ficando freguês e dando gorjetas, não foi suficiente para evitar ser maltratado pelo menino. (E) a forma dissimulada como o menino hungarês trata o narrador naquele momento difícil mostra-o como se estivesse se divertindo com a situação. Resposta: C O narrador de fato mostra-se muito perturbado com a possibilidade de ficar definitivamente sem engraxate, estado que pode ser comprovado pelo uso de expressões como: “ando agora em plena desolação” e “me deixando numa perplexidade penosíssima”. TEXTO: Que se chama solidão Chão da infância. Algumas lembranças me parecem fixadas nesse chão movediço, as minhas pajens. Minha mãe fazendo seus cálculos na ponta do lápis ou mexendo o tacho de goiabada ou ao piano; tocando suas valsas. E tia Laura, a viúva eterna que foi morar na nossa casa e que repetia que meu pai era um homem instável. Eu não sabia o que queria dizer instável mas sabia que ele gostava de fumar charutos e gostava de jogar. A tia um dia explicou, esse tipo de homem não consegue parar muito tempo no mesmo lugar e por isso estava sempre sendo removido de uma cidade para outra como promotor. Ou delegado. Então minha mãe fazia os tais cálculos de futuro, dava aquele suspiro e ia tocar piano. E depois, arrumar as malas. — Escutei que a gente vai se mudar outra vez, vai mesmo? perguntou minha pajem Maricota. Estávamos no quintal chupando os gomos de cana que ela ia descascando. Não respondi e ela fez outra pergunta: Sua tia vive falando que agora é tarde porque a Inês é morta, quem é essa tal de Inês? Sacudi a cabeça, não sabia. Você é burra, Maricota resmungou cuspinhando o bagaço. (...) — Corta mais cana, pedi e ela levantou-se enfurecida: Pensa que sou sua escrava, pensa? A escravidão já acabou!, ficou resmungando enquanto começou a procurar em redor, estava sempre procurando alguma coisa e eu saía atrás procurando também, a diferença é que ela sabia o que estava procurando, uma manga madura? Jabuticaba? Eu já tinha perguntado ao meu pai o que era isso, escravidão. Mas ele soprou a fumaça para o céu (dessa vez fumava um cigarro de palha) e começou a recitar uma poesia que falava num navio cheio de negros presos em correntes e que ficavam chamando por Deus. Deus, eu repeti quando ele parou de recitar. Fiz que sim com a cabeça e fui saindo, Agorajá sei. (Lygia Fagundes Telles, Invenção e Memória.) 33. De acordo com o texto, entende-se que o chão da infância da narradora é marcado (A) pela incômoda viuvez da tia. (B) pela ausência do pai. (C) pelo convívio com família e pajens. (D) pelo medo da escravidão. (E) pela indiferença das pajens. Resposta: C O primeiro período do texto apresenta uma frase nominal (“Chão de infância”) que remete às relações da narradora com suas “pajens”, com sua “mãe fazendo seus cálculos”, com sua “tia Laura” e com seu “pai”, que “gostava de fumar charutos”. TEXTO: Estigma Os gregos, que tinham bastante conhecimento de recursos visuais, criaram o termo estigma para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava. Os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era um escravo, um criminoso ou traidor — uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que devia ser evitada, especialmente em lugares públicos. Mais tarde, na Era Cristã, dois níveis de metáfora foram acrescentados ao termo: o primeiro deles referia-se a sinais corporais de graça divina que tomavam a forma de flores em erupção sobre a pele; o segundo, uma alusão médica a essa alusão religiosa, referia-se a sinais corporais de distúrbio físico. Atualmente, o termo é amplamente usado de maneira um tanto semelhante ao sentido literal original, porém é mais aplicado à própria desgraça do que à sua evidência corporal. Além disso, houve alterações nos tipos de desgraças que causam preocupação. (...) Podem-se mencionar três tipos de estigma nitidamente diferentes. Em primeiro lugar, há as abominações do corpo — as várias deformidades físicas. Em segundo, as culpas de caráter individual, percebidas como vontade fraca, paixões tirânicas ou não naturais, crenças falsas e rígidas, desonestidade, sendo essas inferidas a partir de relatos conhecidos de, por exemplo, distúrbio mental, prisão, vício, alcoolismo, homossexualismo, desemprego, tentativas de suicídio e comportamento político radical. Finalmente, há os estigmas tribais de raça, nação e religião, que podem ser transmitidos através de linhagem e contaminar por igual todos os membros de uma família. Em todos esses exemplos de estigma, entretanto, inclusive aqueles que os gregos tinham em mente, encontram-se as mesmas características sociológicas: um indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na relação social quotidiana possui um traço que pode-se impor à atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção para outros atributos seus. Ele possui um estigma, uma característica diferente da que havíamos previsto. Nós e os que não se afastam negativamente das expectativas particulares em questão serão por mim chamados de normais. As atitudes que nós, normais, temos com uma pessoa com um estigma, e os atos que empreendemos em relação a ela são bem conhecidos na medida em que são as respostas que a ação social benevolente tenta suavizar e melhorar. Por definição, é claro, acreditamos que alguém com um estigma não seja completamente humano. Com base nisso, fazemos vários tipos de discriminações, através das quais, efetivamente, e muitas vezes sem pensar, reduzimos suas chances de vida. (GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: LTC, 1988. p. 11-15.) 34. Segundo o texto, é correto afirmar: (A) Os estigmas físicos e os ligados à personalidade atingem todos os membros de uma família. (B) As pessoas “normais” devem evitar a convivência com as estigmatizadas, para evitar a contaminação. (C) Embora diferentes, os três tipos de estigma levam à rejeição do indivíduo pelo grupo social. (D) Os portadores de características estigmatizantes não têm qualidades que possibilitem sua integração social. (E) As três formas de estigma são transmitidas hereditariamente de uma geração a outra. Resposta: C O texto é explícito ao afirmar que “em todos esses exemplos de estigma ... um indivíduo ... possui um traço que pode ... 13 afastar aqueles que encontra”, causando, portanto, a rejeição pelo grupo social. 35. Entre os diversos conceitos de “estigma” apresentados no texto, assinale a alternativa que sintetiza o uso mais amplo que o termo adquiriu na atualidade. (A) Marcas corporais ocasionadas intencionalmente para indicar características morais do portador. (B) Sinais produzidos no corpo das pessoas para restringir sua circulação em espaços públicos. (C) Marcas observadas na pele de alguns indivíduos, atribuídas ao dom divino. (D) Indícios físicos que levam ao julgamento de que certos indivíduos seriam seres imperfeitos. (E) Características pessoais usadas socialmente como critérios para a discriminação de alguns indivíduos. Resposta: E O texto mostra que, atualmente, os estigmas podem ser fundados em traços físicos, comportamentais ou étnico- sociais, em qualquer das hipóteses uma característica do indivíduo é adotada pelo grupo social como suficiente para ensejar a discriminação e o isolamento dos estigmatizados. TEXTO: Os tempos são outros Dentre as muitas coisas intrigantes deste mundo, poucas há tão misteriosas quanto o tempo. A ironia é que mal nos damos conta disso. Estando desde o nascimento submetidMos a uma mesma noção de tempo, aceita por todos à nossa volta em termos sempre idênticos e inquestionáveis, tendemos a achar que ela é a única possível e corresponde à própria realidade. Causa um grande choque saber que outras culturas têm formas diferentes de perceber e compreender o tempo e também de representar o curso da história. E ainda assim a nossa defesa automática é acreditar que elas estão erradas e nós certos. Ledo engano. Na nossa própria cultura o tempo foi percebido de formas diferentes. Os gregos antigos tinham uma noção cíclica do tempo. Ele se iniciava com as prodigiosas eras de ouro e dos deuses, declinava depois para as eras de bronze e de ferro, dos heróis, chegando à crise final com a fraqueza e penúria da era dos homens, após a qual o ciclo reiniciava. Para os romanos, o tempo se enfraquecia na medida em que se afastava do mais sagrado dos eventos, a fundação de Roma. Na Idade Média prevalecia o tempo recursivo, pelo qual os cristãos acreditavam percorrer uma via penitencial, desde a expulsão do Jardim do Éden até a salvação e o retorno ao Paraíso. Foi só com a consolidação do capitalismo, a partir do Renascimento, que passou a prevalecer uma noção de tempo quantitativo, dividido em unidades idênticas e vazias de qualquer conteúdo mítico, cujo símbolo máximo foi o relógio mecânico, com seu incansável tique-taque. Essa foi também a época em que a ciência ea técnica se tornaram preponderantes. Nesse contexto, o maior dos cientistas modernos, sir Isaac Newton formalizou o conceito do tempo como sendo absoluto. “O tempo matemático, verdadeiro e absoluto flui homogeneamente, sem nenhuma relação com qualquer coisa externa”. Como pertencemos a esse tempo moderno, é ele que aprendemos em casa, na escola e nos relógios ao redor. E achamos, como Newton, que ele é o único verdadeiro! Mas o mundo moderno foi se complicando e esse conceito fixo e fechado se tornou cada vez menos satisfatório. Assim, já no início do século XX, o filósofo Henry Bergson mudava de novo o conceito declarando: “Ou o tempo é uma invenção ou ele é nada.” O amplo conhecimento de outras culturas e as grandes transformações científicas e técnicas do Ocidente forçaram a admitir que cada povo cria as noções de tempo e história que correspondam às suas formas de vida, suas necessidades e expectativas. O que é claro no caso da cultura moderna é que nossa percepção do tempo ficou coligada ao desenvolvimento tecnológico. Assim, das pás dos moinhos de vento ao velame das caravelas, às máquinas a vapor, às ferrovias, aos veículos automotores, aos
Compartilhar