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1 
LIVRO 2 - 2014 
LIVRO 2 - 2014 
LINGUAGENS CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS 
 
LÍNGUA PORTUGUESA 
 
1. (Espcex (Aman) 2014) Assinale a alternativa que contém um 
grupo de palavras cujos prefixos possuem o mesmo 
significado. 
(A) compartilhar – sincronizar 
(B) hemiciclo – endocarpo 
(C) infeliz – encéfalo 
(D) transparente – adjunto 
(E) benevolente – diáfano 
 
Resposta:[A] 
O prefixo “com” (de “compartilhar”) indica contiguidade, 
companhia, agrupamento; e o prefixo “sin” (de “sincronizar”) 
significa ação conjunta, companhia, reunião, simultaneidade. 
Assim, ambos são semelhantes semanticamente. 
 
2. (Espcex (Aman) 2014) Ao se alistar, não imaginava que o 
combate pudesse se realizar em tão curto prazo, embora o 
ribombar dos canhões já se fizesse ouvir ao longe. 
Quanto ao processo de formação das palavras sublinhadas, é 
correto afirmar que sejam, respectivamente, casos de 
(A) prefixação, sufixação, prefixação, aglutinação e 
onomatopeia. 
(B) parassíntese, derivação regressiva, sufixação, aglutinação 
e onomatopeia. 
(C) parassíntese, prefixação, prefixação, sufixação e 
derivação imprópria. 
(D) derivação regressiva, derivação imprópria, sufixação, 
justaposição e onomatopeia. 
(E) parassíntese, aglutinação, derivação regressiva, 
justaposição e onomatopeia. 
 
Resposta: [B] 
Alistar: parassíntese. Foram acrescentados, simultaneamente, 
um prefixo e um sufixo à palavra primitiva. 
Combate: derivação regressiva. A parte final da palavra 
primitiva (combater) foi retirada, gerando, como palavra 
derivada, um nome de ação. 
Realizar: sufixação. Foi acrescentado o sufixo “ar” ao radical 
do substantivo “realização”, levando-o a mudar de classe 
gramatical, de substantivo para verbo. 
Embora: aglutinação. Os elementos que formam o composto 
se ligam e há perda da integridade sonora de ao menos um 
deles. Assim, “em boa hora” torna-se “embora”. 
Ribombar: onomatopeia. A palavra é formada através da 
imitação de um som. 
 
3. (Espcex (Aman) 2014) A alternativa que apresenta vocábulo 
onomatopaico é: 
(A) Os ramos das árvores brandiam com o vento. 
(B) Hum! Este prato está saboroso. 
(C) A fera bramia diante dos caçadores. 
(D) Raios te partam! Voltando a si não achou que dizer. 
(E) Mas o tempo urgia, deslacei-lhe as mãos... 
 
Resposta: [C] 
O verbo “bramir” é onomatopaico, pois sua pronúncia imita o 
som emitido por animais bravios. 
 
4. (Espcex (Aman) 2014) São palavras primitivas: 
(A) época – engarrafamento – peito – suor 
(B) sala – quadro – prato – brasileiro 
(C) quarto — chuvoso — dia — hora 
(D) casa – pedra – flor – feliz 
(E) temporada – narcotráfico – televisão – passatempo 
 
Resposta: [D] 
Em [A], “engarrafamento” é derivada; em [B], brasileiro; em 
[C], chuvoso; e, em [E], todas são derivadas. Assim, a única 
alternativa em que todas as palavras são primitivas é [D]. 
 
5. (Insper 2013) Paralimpíadas é a mãe 
 
Certamente eu descobriria no Google, mas me deu preguiça de 
pesquisar e, além disso, não tem importância saber quem inventou 
essa palavra grotesca, que agora a gente ouve nos noticiários de 
televisão e lê nos jornais. O surpreendente não é a invenção, pois 
sempre houve besteiras desse tipo, bastando lembrar os que se 
empenharam em não jogarmos futebol, mas ludopédio ou 
podobálio. O impressionante é a quase universalidade da adoção 
dessa palavra (ainda não vi se ela colou em Portugal, mas tenho 
dúvidas; os portugueses são bem mais ciosos de nossa língua do 
que nós), cujo uso parece ter sido objeto de um decreto imperial e 
faz pensar em por que não classificamos isso imediatamente como 
uma aberração deseducadora, desnecessária e inaceitável, além de 
subserviente a ditames saídos não se sabe de que cabeça 
desmiolada ou que interesse obscuro. Imagino que temos 
autonomia para isso e, se não temos, deveríamos ter, pois jornal, 
telejornal e radiojornal implicam deveres sérios em relação à 
língua. Sua escrita e sua fala são imitadas e tidas como padrão e 
essa responsabilidade não pode ser encarada de forma leviana. 
Que cretinice é essa? Que quer dizer essa palavra, cuja formação 
não tem nada a ver com nossa língua? Faz muitos e muitos anos, o 
então ministro do Trabalho, Antônio Magri, usou a palavra 
"imexível" e foi gozado a torto e a direito, até porque ele não era 
bem um intelectual e era visto como um alvo fácil. Mas, no 
neologismo que talvez tenha criado, aplicou perfeitamente as 
regras de derivação da língua e o vocábulo resultante não está 
nada "errado", tanto assim que hoje é encontrado em dicionários e 
tem uso corrente. Já o vi empregado muitas vezes, sem alusão ao 
ex-ministro. Infutucável, inesculhambável e impaquerável, por 
exemplo, são palavras que não se acham no dicionário, mas 
qualquer falante da língua as entende, pois estão dentro do espírito 
da língua, exprimem bem o que se pretende com seu uso e 
constituem derivações perfeitamente legítimas. 
Por que será que aceitamos sem discutir uma excrescência como 
"paralimpíada"? 
(João Ubaldo Ribeiro, O Estado de S. Paulo, 23/09/2012) 
 
2 
O que motivou a indignação do autor com a palavra 
“paralimpíadas” foi o(a): 
(A) imposição da palavra, formada por um mecanismo que 
dispensa elementos conhecidos da língua. 
(B) aceitação irrestrita do termo por parte da mídia, 
especialmente pela televisão. 
(C) fato de que, ao contrário do neologismo “imexível”, a 
palavra não foi incorporada aos dicionários. 
(D) tentativa de resgatar palavras arcaicas tal como se 
fossem decretos imperiais. 
(E) recusa à adoção do neologismo pelos portugueses, cuja 
atitude revela-se conservadora. 
 
Resposta: [A] 
Considerando legítimos os neologismos que respeitaram a 
estrutura linguística e o nexo semântico dos elementos que 
os compunham, João Ubaldo Ribeiro indigna-se com a 
imposição do termo “paralimpíadas” por não respeitar as 
regras de derivação da língua. Assim, é correta a opção [A]. 
 
6. (Unifesp 2013) Examine a tira. 
 
 
 
O efeito de humor na situação apresentada decorre do fato 
de a personagem, no segundo quadrinho, considerar que 
“carinho” e “caro” sejam vocábulos 
(A) derivados de um mesmo verbo. 
(B) híbridos. 
(C) derivados de vocábulos distintos. 
(D) cognatos. 
(E) formados por composição. 
 
Resposta: [D] 
No último quadro, a frase da personagem permite inferir que 
ela considerou “carinho” e “caro” como vocábulos cognatos, 
ou seja, apresentam um mesmo radical primário (car), 
pertencendo a uma mesma família de significação: “carinho” 
apresenta noção de semântica de afeto, e caro, o que é 
querido, estimado. Assim, é correta a opção [D]. 
 
7. (Espcex (Aman) 2013) Assinale a alternativa em que todas as 
palavras são formadas por prefixos com significação 
semelhante. 
(A) metamorfose – metáfora – meteoro – malcriado 
(B) apogeu – aversão – apóstata – abster 
(C) síncope – simpatia – sobreloja – sílaba 
(D) êxodo – embarcar – engarrafar – enterrar 
(E) débil – declive – desgraça – decapitar 
 
Resposta: [B] 
Apenas em [B] existem palavras formadas com prefixo (a-) 
com a mesma significação: ausência ou privação, pois em 
[A] os termos “metamorfose”, “metáfora” e “meteoro” 
apresentam prefixo [met-(a)], com significado de 
mudança, mas em “malcriado” o prefixo (mal-) tem 
sentido de negação; 
[C] “simpatia”, “síncope” e “sílaba”, o prefixo (sin/sim/si) 
imprime noção semântica de simultaneidade, mas em 
“sobreloja” o prefixo (sobre) indica posição por cima; 
[D] “embarcar”, “engarrafar” e “enterrar” apresentam prefixo 
(en-/em-) sugerindo movimento para dentro, mas 
“êxodo” é formado por prefixo (ex-) com noção de 
movimento para fora; 
[E] “decapitar” e “declive” têm prefixo (de-) com noção de 
movimento de cima para baixo, mas “desgraça” apresenta 
prefixo (des-) com sentido de negação, e “débil” é um 
vocábulo formado por sufixação. 
 
No português, encontramos variedadeshistóricas, tais como a 
representada na cantiga trovadoresca de João Garcia de Guilhade, 
ilustrada a seguir. 
 
Non chegou, madre, o meu amigo, 
e oje est o prazo saido! 
Ai, madre, moiro d’amor! 
 
Non chegou, madre, o meu amado, 
e oje est o prazo passado! 
Ai, madre, moiro d’amor! 
 
E oje est o prazo saido! 
Por que mentiu o desmentido? 
Ai, madre, moiro d’amor! 
 
E oje, est o prazo passado! 
Por que mentiu o perjurado? 
Ai, madre, moiro d’amor! 
 
8. (G1 - ifsp 2013) Considerando a terceira estrofe, assinale a 
alternativa que apresenta uma palavra formada por 
parassíntese. 
(A) desmentido 
(B) prazo 
(C) saido 
(D) d’amor 
(E) moiro 
 
Resposta: [A] 
A derivação parassintética acontece quando, no processo de 
formação da nova palavra, se acrescenta, simultaneamente, 
prefixo e sufixo, como acontece em “desmentido”: des- 
(prefixo com sentido de negação) + ment (radical) + -ido 
(desinência verbal indicadora do particípio passado do verbo 
desmentir). 
 
Futebol de rua 
Luís Fernando Veríssimo 
 
Pelada é o futebol de campinho, de terreno baldio. (I) Mas existe 
um tipo de futebol ainda mais rudimentar do que a pelada. É o 
futebol de rua. Perto do futebol de rua qualquer pelada é luxo e 
qualquer terreno baldio é o Maracanã em jogo noturno. (II) Se você 
é homem, brasileiro e criado em cidade, sabe do que eu estou 
falando. (III) Futebol de rua é tão humilde que chama pelada de 
senhora. Não sei se alguém, algum dia, por farra ou nostalgia, 
botou num papel as regras do futebol de rua. Elas seriam mais ou 
menos assim: 
 
DA BOLA – A bola pode ser qualquer coisa remotamente esférica. 
Até uma bola de futebol serve. No desespero, usa-se qualquer 
coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia ou a merendeira 
do seu irmão menor, que sairá correndo para se queixar em casa. 
(...) 
DAS GOLEIRAS – As goleiras podem ser feitas com, literalmente, o 
que estiver à mão. Tijolos, paralelepípedos, camisas emboladas, os 
livros da escola, a merendeira do seu irmão menor, e até o seu 
3 
irmão menor, apesar dos seus protestos. (IV) Quando o jogo é 
importante, recomenda-se o uso de latas de lixo. Cheias, para 
aguentarem o impacto. (...) 
 
DO CAMPO – O campo pode ser só até o fio da calçada, calçada e 
rua, calçada, rua e a calçada do outro lado e – nos clássicos – o 
quarteirão inteiro. O mais comum é jogar-se só no meio da rua. 
 
DA DURAÇÃO DO JOGO – (V) Até a mãe chamar ou escurecer, o 
que vier primeiro. Nos jogos noturnos, até alguém da vizinhança 
ameaçar chamar a polícia. 
 
DO JUIZ – Não tem juiz. 
(...) 
 
DAS SUBSTITUIÇÕES – Só são permitidas substituições: 
No caso de um jogador ser carregado para casa pela orelha para 
fazer a lição. 
Em caso de atropelamento. 
 
DO INTERVALO PARA DESCANSO – Você deve estar brincando. 
 
DA TÁTICA – Joga-se o futebol de rua mais ou menos como o 
Futebol de Verdade (que é como, na rua, com reverência, chamam 
a pelada), mas com algumas importantes variações. O goleiro só é 
intocável dentro da sua casa, para onde fugiu gritando por socorro. 
É permitido entrar na área adversária tabelando com uma Kombi. 
Se a bola dobrar a esquina é córner*. 
 
DAS PENALIDADES – A única falta prevista nas regras do futebol de 
rua é atirar um adversário dentro do bueiro. É considerada atitude 
antiesportiva e punida com tiro indireto. 
 
DA JUSTIÇA ESPORTIVA – Os casos de litígio serão resolvidos no 
tapa. 
*córner = escanteio 
(Publicado em Para Gostar de Ler. v.7. SP: Ática, 1981) 
 
9. (G1 - ifpe 2012) Os enunciados abaixo analisam os processos 
de formação de palavras retiradas do texto. Leia-os e marque 
a alternativa correta. 
(A) “Futebol de rua” é uma palavra composta por 
justaposição. 
(B) “Embolada” e “merendeira” são termos formados por 
derivação sufixal. 
(C) “Intocável” é uma palavra formada por derivação prefixal 
e sufixal. 
(D) “Penalidades” é uma palavra formada por composição 
dos radicais “pena” mais “idades”. 
(E) “Antiesportiva” e “indireto” são palavras formadas por 
derivação prefixal. 
Resposta: [C] 
Apenas [C] é válida, pois as demais apresentam as seguintes 
incorreções: 
Em [A] a expressão “futebol de rua” é constituída de três 
palavras independentes; 
Em [B] a palavra “embolada” é formada por derivação prefixal 
e sufixal, do verbo bolar que significa a que se pode dar 
formato de bola- (em + bol(o) + ada); 
Em [D], “penalidades” é uma palavra derivada por sufixação- 
(penal + (i)dades); 
Em [E] a palavra “antiesportiva” é formada por derivação 
prefixal e sufixal [ant (i)- + esporte + iv(a)]. 
 
No século XV, viu-se a Europa invadida por uma raça de homens 
que, vindos ninguém sabe de onde, se espalharam em bandos por 
todo o seu território. Gente inquieta e andarilha, deles afirmou 
Paul de Saint-Victor que era mais fácil predizer o 
1
........ das nuvens 
ou dos gafanhotos do que seguir as pegadas da sua invasão. Uns 
risonhos despreocupados: passavam a vida esquecidos do passado 
e descuidados do futuro. Cada novo dia era uma nova aventura em 
busca do escasso alimento para os manter naquela jornada. Trajo? 
No mais completo 
2
........
4
: 
3
........ sujos e 
7
puídos cobriam-lhes os 
corpos queimados do sol. Nômades, aventureiros, despreocupados 
– eram os boêmios. 
 
Assim nasceu a semântica da palavra 
13
boêmio. O nome gentílico 
de 
9
Boêmia passou a aplicar-se ao 
8
indivíduo despreocupado, de 
existência irregular, relaxado no vestuário, vivendo ao 
11
deus-dará, 
à toa, na vagabundagem alegre. 
12
Daí também o substantivo 
boêmia. Na definição de Antenor Nascentes
5
: vida despreocupada 
e alegre, vadiação, estúrdia, vagabundagem. 
14
Aplicou-se depois o 
termo, especializadamente, à vida desordenada e sem 
preocupações de artistas e escritores mais dados aos prazeres da 
noite que aos trabalhos do dia. Eis um exemplo clássico do que se 
chama degenerescência semântica. De limpo gentílico – natural ou 
habitante da Boêmia – boêmio acabou carregado de todas essas 
conotações desfavoráveis. 
 
A respeito do substantivo 
15
boêmia, vale dizer que a forma de uso, 
ao menos no Brasil, é boemia, acento tônico em -mi-. E é natural 
que assim seja, considerando-se que -ia é sufixo que exprime 
condição, estado, ocupação. Conferir
6
: 
16
alegria, 
18
anarquia, 
barbaria, 
17
rebeldia, tropelia, 
20
pirataria... Penso que sobretudo 
palavras como folia e 
19
orgia devem ter influído na fixação da 
tonicidade de boemia. Notar também o par abstêmio/abstemia. 
Além do mais, a prosódia boêmia estava prejudicada na origem 
pelo nome 
10
próprio Boêmia: esses boêmios não são os que vivem 
na Boêmia... 
Adaptado de: LUFT, Celso Pedro. Boêmios, Boêmia e boemia. In: O romance das 
palavras. São Paulo: Ática, 1996. p. 30-31. 
 
 
10. (Ufrgs 2012) Considere as seguintes afirmações sobre as 
relações morfológicas que se estabelecem com palavras do 
texto. 
I. alegria (ref. 16) e rebeldia (ref. 17) são palavras 
derivadas de adjetivos, assim como valentia. 
II. anarquia (ref. 18) e orgia (ref. 19) são palavras que, 
apesar de apresentarem a terminação -ia, não derivam 
de outras palavras. 
III. pirataria (ref. 20) é palavra derivada de substantivo, 
assim como chefia. 
Quais estão corretas? 
(A) Apenas I. 
(B) Apenas III. 
(C) Apenas I e II. 
(D) Apenas II e III. 
(E) I, II e III. 
 
Resposta: [E] 
As palavras “alegria” e “rebeldia” são derivadas dos adjetivos 
“alegre” e “rebelde”, assim como “pirataria” e “chefia” 
derivam de “pirata” e “chefe”. Diferentemente, “anarquia” e 
“orgia” não derivam de um adjetivo, não seguem a regra dos 
outros substantivos citados. Portanto, as três afirmativas estão 
corretas. 
 
11. (G1 - utfpr 2013) Em qual alternativa todas as palavras em 
negrito devem ser acentuadas graficamente? 
(A) Atraves de uma lei municipal, varias pessoas recebem 
ingressos gratis para o cinema. 
(B) É dificil correr atras do prejuizo sozinho. 
4 
(C) Aqui, em Foz do Iguaçu, a dengue esta sendoum grande 
problema de saude publica. 
(D) O bisneto riscou os papeizinhos com o lapis. 
(E) O padrão economico do juiz é elevado. 
 
Resposta: [A] 
“Através” é oxítona terminada em “es”, “várias” é paroxítona 
terminada em ditongo (acompanhado de “s”) e “grátis” é 
paroxítona terminada em “is”. Assim, as três palavras devem 
ser acentuadas. 
 
12. (G1 - ifsc 2012) Quanto à ortografia e à acentuação, assinale a 
alternativa CORRETA. 
(A) Após um gesto de comando, os que ainda estão de pé 
sentão-se e fazem silencio para houvir o diretor. 
(B) Mesmo que sofresse-mos uma repreenção por queixa de 
algum professor mais cioso de suas obrigações, a oférta 
parecia-nos irrecusável. 
(C) Marta nunca deicha o filho sózinho na cosinha, temerosa 
de que ele venha a puchar uma panela sobre sí. 
(D) À excessão de meu primo, que se mostrava um tanto 
pretencioso, todos os garotos eram bastante humildes. 
(E) A perícia analisaria a flecha, em busca de vestígios que 
pudessem fornecer indícios sobre sua trajetória. 
 
Resposta: [E] 
Apenas a opção [E] está correta. As demais deveriam ser 
substituídas por: 
[A] – após um gesto de comando, os que ainda estão de pé 
sentam-se e fazem silêncio para ouvir o diretor; 
[B] – mesmo que sofrêssemos uma repreensão por queixa de 
algum professor mais cioso de suas obrigações, a oferta 
parecia-nos irrecusável; 
[C] – Marta nunca deixa o filho sozinho na cozinha, temerosa 
de que ele venha a puxar uma panela sobre si; 
[D] – à exceção de meu primo, que se mostrava um tanto 
pretensioso, todos os garotos eram bastante humildes. 
 
No século XV, viu-se a Europa invadida por uma raça de homens 
que, vindos ninguém sabe de onde, se espalharam em bandos por 
todo o seu território. Gente inquieta e andarilha, deles afirmou 
Paul de Saint-Victor que era mais fácil predizer o 
1
........ das nuvens 
ou dos gafanhotos do que seguir as pegadas da sua invasão. Uns 
risonhos despreocupados: passavam a vida esquecidos do passado 
e descuidados do futuro. Cada novo dia era uma nova aventura em 
busca do escasso alimento para os manter naquela jornada. Trajo? 
No mais completo 
2
........
4
: 
3
........ sujos e 
7
puídos cobriam-lhes os 
corpos queimados do sol. Nômades, aventureiros, despreocupados 
– eram os boêmios. 
Assim nasceu a semântica da palavra 
13
boêmio. O nome gentílico 
de 
9
Boêmia passou a aplicar-se ao 
8
indivíduo despreocupado, de 
existência irregular, relaxado no vestuário, vivendo ao 
11
deus-dará, 
à toa, na vagabundagem alegre. 
12
Daí também o substantivo 
boêmia. Na definição de Antenor Nascentes
5
: vida despreocupada 
e alegre, vadiação, estúrdia, vagabundagem. 
14
Aplicou-se depois o 
termo, especializadamente, à vida desordenada e sem 
preocupações de artistas e escritores mais dados aos prazeres da 
noite que aos trabalhos do dia. Eis um exemplo clássico do que se 
chama degenerescência semântica. De limpo gentílico – natural ou 
habitante da Boêmia – boêmio acabou carregado de todas essas 
conotações desfavoráveis. 
A respeito do substantivo 
15
boêmia, vale dizer que a forma de uso, 
ao menos no Brasil, é boemia, acento tônico em -mi-. E é natural 
que assim seja, considerando-se que -ia é sufixo que exprime 
condição, estado, ocupação. Conferir
6
: 
16
alegria, 
18
anarquia, 
barbaria, 
17
rebeldia, tropelia, 
20
pirataria... Penso que sobretudo 
palavras como folia e 
19
orgia devem ter influído na fixação da 
tonicidade de boemia. Notar também o par abstêmio/abstemia. 
Além do mais, a prosódia boêmia estava prejudicada na origem 
pelo nome 
10
próprio Boêmia: esses boêmios não são os que vivem 
na Boêmia... 
Adaptado de: LUFT, Celso Pedro. Boêmios, Boêmia e boemia. In: O romance das 
palavras. São Paulo: Ática, 1996. p. 30-31. 
 
13. (Ufrgs 2012) Considere os pares de palavras abaixo. 
1. puídos (ref. 7) e indivíduo (ref. 8) 
2. Boêmia (ref. 9) e próprio (ref. 10) 
3. deus-dará (ref. 11) e Daí (ref. 12) 
 
Em quais pares as palavras respeitam a mesma regra de 
acentuação ortográfica? 
(A) Apenas 1. 
(B) Apenas 2. 
(C) Apenas 3. 
(D) Apenas 1 e 2. 
(E) Apenas 1 e 3. 
 
Resposta: [B] 
O acento de “puído” deve-se ao hiato entre “u” e “i”; já 
“indivíduo” leva acento por ser uma paroxítona terminada 
em ditongo. Acentua-se “deus-dará” por tratar-se de uma 
oxítona terminada em “a”; “daí”, por sua vez, é acentuado 
devido ao hiato entre “a” e “i”. O único par acentuado pela 
mesma regra é o item [2]: tanto “Boêmia” como “próprio” 
são paroxítonas terminadas em ditongo. 
 
Quando a rede vira um vício 
 
Com o titulo "Preciso de ajuda", fez-se um desabafo aos 
integrantes da comunidade Viciados em Internet Anônimos: "Estou 
muito dependente da web, Não consigo mais viver normalmente. 
Isso é muito sério". Logo obteve resposta de um colega de rede. 
"Estou na mesma situação. Hoje, praticamente vivo em frente ao 
computador. Preciso de ajuda." Odiálogo dá a dimensão do 
tormento provocado pela dependência em Internet, um mal que 
começa a ganhar relevo estatístico, à medida que o uso da própria 
rede se dissemina. Segundo pesquisas recém-conduzidas pelo 
Centro de Recuperação para Dependência de Internet, nos Estados 
Unidos, a parcela de viciados representa, nos vários países 
estudados, de 5% (como no Brasil) a 10% dos que usam a web — 
com concentração na faixa dos 15 aos 29 anos. Os estragos são 
enormes. Como ocorre com um viciado em álcool ou em drogas, o 
doente desenvolve uma tolerância que, nesse caso, o faz ficar on-
line por uma eternidade sem se dar conta do exagero. Ele também 
sofre de constantes crises de abstinência quando está 
desconectado, e seu desempenho nas tarefas de natureza 
intelectual despenca. Diante da tela do computador, vive, aí sim, 
momentos de rara euforia. Conclui uma psicóloga americana: "O 
viciado em internet vai, aos poucos, perdendo os elos com o 
mundo real até desembocar num universo paralelo — e 
completamente virtual". 
Não é fácil detectar o momento em que alguém deixa de fazer 
uso saudável e produtivo da rede para estabelecer com ela uma 
relação doentia, como a que se revela nas histórias relatadas ao 
longo desta reportagem. Em todos os casos, a internet era apenas 
"útil" ou "divertida" e foi ganhando um espaço central, a ponto de 
a vida longe da rede ser descrita agora como sem sentido. 
Mudança tão drástica se deu sem que os pais atentassem para a 
gravidade do que ocorria. "Como a internet faz parte do dia a dia 
dos adolescentes e o isolamento é um comportamento típico dessa 
fase da vida, a família raramente detecta o problema antes de ele 
ter fugido ao controle", diz um psiquiatra. A ciência, por sua vez, já 
tem bem mapeados os primeiros sintomas da doença. De saída, o 
tempo na internet aumenta — até culminar, pasme-se, numa 
5 
rotina de catorze horas diárias, de acordo com o estudo americano. 
As situações vividas na rede passam, então, a habitar mais e mais 
as conversas. É típico o aparecimento de olheiras profundas e ainda 
um ganho de peso relevante, resultado da frequente troca de 
refeições por sanduíches — que prescindem de talheres e liberam 
uma das mãos para o teclado. Gradativamente, a vida social vai se 
extinguindo. Alerta outra psicóloga: "Se a pessoa começa a ter mais 
amigos na rede do que fora dela, é um sinal claro de que as coisas 
não vão bem". 
Os jovens são, de longe, os mais propensos a extrapolar o uso 
da internet. Há uma razão estatística para isso — eles respondem 
por até 90% dos que navegam na rede, a maior fatia —, mas pesa 
também uma explicação de fundo mais psicológico, à qual uma 
recente pesquisa lança luz. Algo como 10% dos entrevistados 
(viciados ou não) chegam a atribuir à internet uma maneira de 
"aliviar os sentimentos negativos", tão típicos de uma etapa em 
que afloram tantas angústias e conflitos. Na rede, os adolescentes 
sentem-se ainda mais à vontade para expor suas ideias. Diz um 
outro psiquiatra: "Num momento em que a própria personalidadeestá por se definir, a internet proporciona um ambiente favorável 
para que eles se expressem livremente". No perfil daquela minoria 
que, mais tarde, resvala no vicio se vê, em geral, uma combinação 
de baixa autoestima com intolerância à frustração. Cerca de 50% 
deles, inclusive, sofrem de depressão, fobia social ou algum 
transtorno de ansiedade. É nesse cenário que os múltiplos usos da 
rede ganham um valor distorcido. Entre os que já têm o vicio, a 
maior adoração é pelas redes de relacionamento e pelos jogos on-
line, sobretudo por aqueles em que não existe noção de começo, 
meio ou fim. 
Desde 1996, quando se consolidou o primeiro estudo de 
relevo sobre o tema, nos Estados Unidos, a dependência em 
internet é reconhecida — e tratada — como uma doença. Surgiram 
grupos especializados por toda parte. "Muita gente que procura 
ajuda ainda resiste à ideia de que essa é uma doença", conta um 
psicólogo. O prognóstico é bom: em dezoito semanas de sessões 
individuais e em grupo, 80% voltam a niveis aceitáveis de uso da 
internet. Não seria factível, tampouco desejável, que se 
mantivessem totalmente distantes dela, como se espera, por 
exemplo, de um alcoólatra em relação à bebida. Com a rede, afinal, 
descortina-se uma nova dimensão de acesso às informações, à 
produção de conhecimento e ao próprio lazer, dos quais, em 
sociedades modernas, não faz sentido se privar. Toda a questão 
gira em torno da dose ideal, sobre a qual já existe um consenso 
acerca do razoável: até duas horas diárias, no caso de crianças e 
adolescentes. Quanto antes a ideia do limite for sedimentada, 
melhor. Na avaliação de uma das psicólogas, "Os pais não devem 
temer o computador, mas, sim, orientar os filhos sobre como usá-
lo de forma útil e saudável". Desse modo, reduz-se drasticamente a 
possibilidade de que, no futuro, eles enfrentem o drama vivido 
hoje pelos jovens viciados. 
Silvia Rogar e João Figueiredo, Veja, 24 de março de 2010. Adaptado. 
 
14. (G1 - col.naval 2011) Assinale a opção cujas palavras são, 
respectivamente, acentuadas pela mesma justificativa das que 
aparecem destacadas em "Na avaliação de uma das 
psicólogas, ‘os pais não devem temer o computador, mas, sim, 
orientar os filhos sobre como usá-lo de forma útil e saudável’." 
(4° parágrafo) 
(A) Família, incluí-lo, saída. 
(B) Prognóstico, atrás, fútil. 
(C) Plausível, alguém, factível. 
(D) Alcoólatra, razoável, vício. 
(E) Múltiplos, amá-la, intolerância. 
 
Resposta: [B] 
A palavra “Psicólogas” é assinalada com acento agudo por se 
tratar de um proparoxítona, “usá-lo” (constituída por dois 
termos independentes) tem o primeiro termo acentuado por 
se tratar de uma palavra oxítona terminada em “a” ( regra 
ortográfica aplicável também se for seguida de “s”) e 
“saudável”, por ser uma paroxítona terminada em “l”. As 
palavras que são acentuadas pelas mesmas justificativas 
encontram-se na opção b). 
 
Como prevenir a violência dos adolescentes 
 
“(...) Quando deparo com as notícias sobre crimes hediondos 
envolvendo adolescentes, como o ocorrido com Felipe Silva Caffé e 
Liana Friedenbach, fico profundamente triste e constrangida. Esse 
caso é consequência da baixa valorização da prevenção primária da 
violência por meio das estratégias cientificamente comprovadas, 
facilmente replicáveis e definitivamente muito mais baratas do que 
a recuperação de crianças e adolescentes que comentem atos 
infracionais graves contra a vida. 
Talvez seja porque a maioria da população não se deu conta e 
os que estão no poder nos três níveis não estejam conscientes de 
seu papel histórico e de sua responsabilidade legal de cuidar do 
que tem de mais importante à nação: as crianças e os adolescentes, 
que são o futuro do país e do mundo. 
A construção da paz e a prevenção da violência dependem de 
como promovemos o desenvolvimento físico, social, mental, 
espiritual e cognitivo das nossas crianças e adolescentes, dentro do 
seu contexto familiar e comunitário. Trata-se, portanto, de uma 
ação intersetorial, realizada de maneira sincronizada em cada 
comunidade, com a participação das famílias, mesmo que estejam 
incompletas ou desestruturadas (...)” 
“(...) Em relação às crianças e adolescentes que cometeram 
infrações leves ou moderadas – que deveriam ser mais bem 
expressas – seu tratamento para a cidadania deveria ser feito com 
instrumentos bem elaborados e colocados em prática, na família ou 
próxima dela, com acompanhamento multiprofissional, 
desobstruindo as penitenciárias, verdadeiras universidades do 
crime. (...)” 
“(...) A prevenção primária da violência inicia-se com a 
construção de um tecido social saudável e promissor, que começa 
antes do nascer, com um bom pré-natal, parto de qualidade, 
aleitamento materno exclusivo até seis meses e o complemento 
até mais de um ano, vacinação, vigilância nutricional, educação 
infantil, principalmente propiciando o desenvolvimento e o 
respeito à fala da criança, o canto, a oração, o brincar, o andar, o 
jogar; uma educação para a paz e a nãoviolência. 
A pastoral da criança, que em 2003 completa 20 anos, forma 
redes de ação para multiplicar o saber e a solidariedade junto às 
famílias pobres do país, por meio de mais de 230 mil voluntários, e 
acompanhou no terceiro trimestre deste ano cerca de 1,7 milhão 
de crianças menores de seis anos e 80 mil gestantes, de mais de 1,2 
milhão de famílias, que moram em 34.784 comunidades de 3.696 
municípios do país. 
O Brasil é o país que mais reduziu a mortalidade infantil nos 
últimos dez anos; isso, sem dúvida, é resultado da organização e 
universalização dos serviços de saúde pública, da melhoria da 
atenção primária, com todas as limitações que o SUS possa ainda 
possuir, da descentralização e municipalização dos recursos e dos 
serviços de saúde. A intensa luta contra a mortalidade infantil, a 
desnutrição e a violência intrafamiliar contou com a contribuição 
dessa enorme rede de 
solidariedade da Pastoral da Criança. (...)” 
“(...) A segunda área da maior importância nessa prevenção 
primária da violência envolvendo crianças e adolescentes é a 
educação, a começar pelas creches, escolas infantis e de educação 
fundamental e de nível médio, que devem valorizar o 
desenvolvimento do raciocínio e a matemática, a música, a arte, o 
esporte e a prática da solidariedade humana. 
As escolas nas comunidades mais pobres deveriam ter dois 
turnos, para darem conta da educação integral das crianças e dos 
6 
adolescentes; deveriam dispor de equipes multiprofissionais 
atualizadas e capacitadas a avaliar periodicamente os alunos. 
Urgente é incorporar os ministérios do Esporte e da Cultura às 
iniciativas da educação, com atividades em larga escala e simples, 
baratas, facilmente replicáveis e adaptáveis em todo o território 
nacional. (...)” 
“(...) Com relação à idade mínima para a maioridade penal, 
deve permanecer em 18 anos, prevista pelo Estatuto da Criança e 
do Adolescente e conforme orientações da ONU. Mas o tempo 
máximo de três anos de reclusão em regime fechado, quando a 
criança ou o adolescente comete crime hediondo, mesmo em locais 
apropriados e com tratamento multiprofissional, que 
urgentemente precisam ser disponibilizados, deve ser revisto. Três 
anos, em muitos casos, podem ser absolutamente insuficientes 
para tratar e preparar os adolescentes com graves distúrbios para a 
convivência cidadã. (...)” 
Zilda Arns Neumann, 69, médica pediatra e sanitarista; foi fundadora e coordenadora 
nacional da Pastoral da Criança. (Folha de S Paulo, 26/11/2003.) 
 
15. (G1 - ifal 2011) Foram retiradas do texto as seguintes palavras 
acentuadas: ministérios, replicáveis, adaptáveis, máximo, 
distúrbios, convivências. 
Assinale a alternativa que melhor justifica a acentuação 
gráfica. 
(A) De todas as palavras destacadas, somente “máximo” 
não se insere na mesma regra de acentuação gráfica. 
(B) Todas as palavras mencionadas seguem o mesmo 
padrão ou regra de acentuação gráfica. 
(C) Com exceção de “máximo”e “convivência”, que são 
proparoxítonas, as demais palavras são acentuadas pelo 
mesmo motivo. 
(D) Três regras de acentuação contemplam as palavras 
supracitadas: a das proparoxítonas, a das paroxítonas 
terminadas em ditongos e as que terminam em hiato, 
que, no caso em análise, trata-se da palavra 
“convivência”. 
(E) Todas são proparoxítonas. 
 
Resposta: [A] 
A palavra “máximo”, por se tratar de uma proparoxítona, é 
acentuada na antepenúltima sílaba, situação que não 
acontece nas demais que são paroxítonas terminadas em 
ditongo crescente (ministérios, distúrbios e convivências) ou 
“l” com seu plural em “is”( replicáveis, adaptáveis), como se 
afirma em [A]. 
 
O padeiro 
 
Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo 
para fazer café e abro a porta do apartamento – mas não encontro 
o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido 
alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão 
dormido”. De resto não é bem uma greve, é um lock-out, greve dos 
patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que 
obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido 
conseguirão não sei bem o que do governo. 
Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão 
ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um 
homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o 
pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para 
não incomodar os moradores, avisava gritando: 
– Não é ninguém, é o padeiro! 
Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo? 
“Então você não é ninguém?” 
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de 
ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma 
casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, 
e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e 
ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém, 
não senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo que não era 
ninguém... 
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda 
sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com 
um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu 
também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela 
madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois 
de uma passagem pela oficina – e muitas vezes saía já levando na 
mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda 
quentinho da máquina, como pão saído do forno. 
Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me 
julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de 
reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica 
ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho 
na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de 
humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; 
“não é ninguém, é o padeiro!” 
E assobiava pelas escadas. 
BRAGA, Rubem. O padeiro. In: ANDRADE, Carlos Drummond de; SABINO, Fernando; 
CAMPOS, Paulo Mendes; BRAGA, Rubem. Para gostar de ler: v. 1. Crônicas. 12ª 
ed. São Paulo: Ática, 1982. p.63 - 64. 
 
16. (G1 - ifsc 2011) Considere as palavras abaixo, que aparecem 
acentuadas no texto, e assinale a única alternativa na qual a 
acentuação da palavra está corretamente justificada. 
(A) “ninguém”: paroxítona terminada em em. 
(B) “detê-lo”: oxítona terminada em o. 
(C) “máquina”: acento diferencial. 
(D) “saía”: paroxítona terminada em ditongo. 
(E) “lá”: monossílaba tônica terminada em a. 
 
Resposta: [E] 
A acentuação da palavra “lá” está corretamente justificada em 
[E]. As demais opções são incorretas, pois “Ninguém” é uma 
oxítona terminada em em, “detê-lo”, oxítona terminada em e, 
“máquina”, proparoxítona, e “saía” apresenta acento agudo 
por se tratar da vogal tônica i em posição de hiato, não 
precedida de ditongo. 
 
Darwin passou quatro meses no Brasil, em 1832, durante a sua 
2
célebre viagem a bordo do Beagle. Voltou impressionado com o 
que viu: "
5
Delícia é um termo 
17
insuficiente para 
19
exprimir as 
emoções sentidas por 
28
um naturalista a 
8
sós com a natureza em 
uma floresta brasileira", escreveu. O Brasil, 
11
porém, aparece de 
forma menos 
21
idílica em 
27
seus escritos: "Espero nunca mais voltar 
a um 
12
país escravagista. O estado da enorme população escrava 
deve preocupar todos os que chegam ao Brasil. Os senhores de 
escravos querem ver o negro romo outra espécie, mas temos todos 
a mesma origem." 
Em vez do gorjeio do 
6
sabiá, o que Darwin guardou nos 
ouvidos foi 
30
um som 
3
terrível que 
29
o acompanhou por toda a vida: 
"
13
Até hoje, se eu ouço um grito, 
39
lembro-me, com 
22
dolorosa e 
clara memória, 
43
de quando passei numa casa em Pernambuco e 
ouvi urros 
14
terríveis. Logo entendi que era algum pobre escravo 
que estava sendo torturado," 
Segundo o 
4
biólogo Adrian Desmond, 
“
a viagem do Beagie, 
para Darwin, foi 
40
menos 
41
importante pelos 
15
espécimes coletados 
do que pela 
16
experiência de 
25
testemunhar os horrores da 
23
escravidão no Brasil. 
47
De certa forma, ele escolheu focar na 
20
descendência comum do homem justamente para mostrar que 
32
todas as raças eram iguais e, 
31
desse modo, enfim, 
44
objetar 
36
àqueles que 
18
insistiam em dizer que os negros pertenciam a uma 
espécie diferente e inferior à dos brancos". 
1
Desmond acaba de 
lançar um estudo que mostra a paixão abolicionista 
35
do cientista, 
26
revelada por 
33
seus 
7
diários e cartas 
42
pessoais. “A extensão de 
34
seu interesse no combate à ciência de cunho racista 
9
é 
surpreendente, e pudemos detectar um ímpeto moral por 
10
trás de 
7 
seu trabalho sobre a evolução humana - urna crença na ‘irmandade 
racial’ que 
38
tinha 
37
origem em 
45
seu ódio 
46
ao 
24
escravismo e que o 
levou a pensar numa descendência comum." 
Adaptado de: HAAG, C. O elo perdido tropical. Pesquisa FAPESP, n. 159, p. 80 - 85, 
maio 2009. 
 
17. (Ufrgs 2010) Assinale a alternativa em que as três palavras são 
acentuadas graficamente pela mesma razão. 
(A) célebre (ref. 2) - terrível (ref. 3) - biólogo (ref. 4) 
(B) Delícia (ref. 5) - sabiá (ref. 6) - diários (ref. 7) 
(C) sós (ref. 8) - é (ref. 9) - trás (ref. 10) 
(D) porém (ref. 11) - país (ref. 12) - Até (ref. 13) 
(E) terríveis (ref. 14) - espécimes (ref. 15) - experiência (ref. 
16) 
 
Resposta: [C] 
Célebre: 
proparoxítona 
Terrível: paroxítona 
terminada em L 
Biólogo: 
proparoxítona 
Delícia: paroxítona 
terminada em 
ditongo 
Sabiá: oxítona 
terminada em a 
Diários: paroxítona 
terminada em 
ditongo 
Sós: monossílabo 
tônico terminado 
em o 
(acompanhado ou 
não de s) 
É: monossílabo 
tônico terminado 
em e 
(acompanhado ou 
não de s) 
Trás: monossílabo 
tônico terminado 
em a 
(acompanhado ou 
não de s) 
Porém: oxítona 
terminada em em 
País: i sozinho na 
sílaba (seguido ou 
não de s) 
Até: oxítona 
terminada em e 
Terríveis: 
paroxítona 
terminada em 
ditongo 
Espécimes: 
proparoxítona 
Experiência: 
paroxítona 
terminada em 
ditongo 
 
Preto e Branco 
 
Perdera o emprego, 
5
chegara a passar fome, sem que 
6
ninguém 
2
soubesse: por constrangimento, afastara-se da roda 
7
boêmia escritores, jornalistas, um sambista de cor que vinha a ser 
o seu mais velho que antes costumava frequentar companheiro de 
noitadas. 
De repente, a salvação lhe apareceu na forma de um 
americano, que lhe 
3
oferecia um emprego numa agência. Agarrou-
se com unhas e dentes à oportunidade, vale dizer, ao americano, 
para garantir na sua nova função uma relativa estabilidade. 
E um belo dia vai seguindo com o chefe pela rua 
10
México, já 
distraído de seus passados tropeços, mas tropeçando 
obstinadamente no inglês com que se entendiam – quando vê do 
outro lado da rua um preto agitar a mão para ele. 
Era o sambista seu amigo. 
Ocorreu-lhe desde logo que ao americano 
4
poderia parecer 
estranha tal amizade, e mais ainda incompatível com a ética ianquea ser mantida nas funções que passara a exercer. Lembrou-se num 
átimo que o americano em geral tem uma coisa muito séria 
chamada preconceito racial e seu critério de julgamento da 
capacidade funcional dos subordinados talvez se deixasse influir 
por essa odiosa deformação. Por via das dúvidas correspondeu ao 
cumprimento de seu amigo da maneira mais discreta que lhe foi 
possível, mas viu em pânico que ele atravessava a rua e vinha em 
sua direção, sorriso aberto e braços prontos para um abraço. 
Pensou rapidamente em se esquivar – não dava tempo: o 
americano também se detivera, vendo o preto aproximar-se. 
Era seu amigo, velho companheiro, um bom sujeito, dos 
melhores mesmo que já conhecera – acaso jamais chegara sequer a 
se lembrar que se tratava de um preto? Agora, com o gringo ali a 
seu lado, todo branco e sardento, é que percebia pela primeira vez: 
não podia ser mais preto. Sendo assim, tivesse paciência: mais 
tarde lhe explicava tudo, haveria de compreender. Passar fome era 
muito bonito nos romances de Knut Hamsun, lidos depois do 
jantar, e sem credores à porta. Não teve mais dúvidas: virou a cara 
quando o outro se 
1
aproximou e fingiu que não o via, que não era 
com ele. 
E não era mesmo com ele. 
Porque antes de 
9
cumprimentá-lo, talvez ainda sem 
8
tê-lo 
visto, o sambista abriu os braços para acolher o americano – 
também seu amigo. 
SABINO, Fernando. A mulher do vizinho. 7.ed. Rio de Janeiro: Record, 
1962. p.163-4. 
 
18. (G1 - cftsc 2010) Assinale a alternativa correta relativamente à 
acentuação gráfica das palavras sublinhadas no texto. 
(A) O pronome ninguém (ref. 6) recebe acento por ser uma 
monossílaba tônica terminada em em. 
(B) O substantivo boêmia (ref. 7) é acentuado por ser palavra 
proparoxítona. 
(C) A combinação da forma verbal ter com o pronome 
oblíquo o, resultou em tê-lo (ref. 8), que é acentuado por 
se tratar de paroxítona terminada em o. 
(D) A forma verbal cumprimentá (ref. 9) é acentuada porque, 
ao associar-se ao pronome o, perdeu o r final, tornando-
se uma oxítona terminada em a. 
(E) O substantivo México (ref. 10) recebe acento porque é 
uma palavra importada, que precisa manter o acento 
original. 
 
Resposta: [D] 
A- O vocábulo ninguém é dissílabo, isto é, formado por duas 
sílabas nin-guém. 
B- A palavra boêmia é paroxítona (a sílaba tônica é a 
penúltima) terminada em ditongo crescente. 
C- Tê-lo é acentuado porque classifica-se separadamente a 
palavra tê – monossílabo tônico terminado em e. O lo é 
monossílabo átono. Só se acentuam os monossílabos 
tônicos terminados em A, E, O e em EM, ENS. Por 
exemplo: pá, pé, pó, também, parabéns. 
D- Correta. 
E- O substantivo México recebe o sinal gráfico, porque todas 
as proparoxítonas são acentuadas. 
 
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO 
 
Casa de Pensão (fragmento) 
 
Às oito horas, quando entrou em casa tinha já resolvido não 
ficar ali nem mais um dia. − 
1
Era fazer as malas e bater quanto 
antes a bela plumagem! 
Mas também, se por um lado não lhe convinha ficar em 
companhia do Campos; por outro, a ideia de se meter na república 
do Paiva não o seduzia absolutamente. 
2
Aquela miséria e aquela 
desordem lhe causavam repugnância. 
3
Queria liberdade, a boêmia, 
a pândega − sim senhor! tudo isso, porém, com um certo ar, com 
uma certa distinção aristocrática. Não admitia uma cama sem 
travesseiros, um almoço sem talheres e uma alcova sem espelhos. 
4
Desejava a bela crápula, − por Deus que desejava! mas não 
bebendo pela garrafa e dormindo pelo chão de águas-furtadas! − 
Que diabo! − não podia ser tão difícil conciliar as duas coisas! ... 
Pensando deste modo, subiu ao quarto. 
5
Sobre a cômoda 
estava uma carta que lhe era dirigida; abriu-a logo: 
6
"Querido Amâncio. 
7
Desculpe tratá-lo com esta liberdade; como, porém, já sou seu 
amigo, não encontro jeito de lhe falar doutro modo. Ontem, 
quando combinamos no Hotel dos Príncipes a sua visita para 
domingo, 
8
não me passava pela cabeça que hoje era dia santo e 
que fazíamos melhor em aproveitá-lo; por conseguinte, se o amigo 
não tem algum compromisso, venha passar a tarde conosco, que 
8 
nos dará com isso grande prazer. Minha família, depois que lhe 
falei a seu respeito, está impaciente para conhecê-lo e desde já fica 
à sua espera." 
Assinava "João Coqueiro" e havia o seguinte post-scriptum:
 
9
"Se não puder vir, previna-mo por duas palavrinhas; mas venha. 
Resende n ... " 
Amâncio hesitou em se devia ir ou não. O Coqueiro, com a sua 
figurinha de tísico, o seu rosto chupado e quase verde, os seus 
olhos pequenos e penetrantes, de uma mobilidade de olho de 
pássaro, com a sua boca fria, deslabiada, o seu nariz agudo, o seu 
todo seco egoísta, desenganado da vida, não era das coisas que 
mais o atraíssem. No entanto, bem podia ser que ali estivesse o 
que ele procurava, − um cômodo limpo, confortável, um pouquinho 
de luxo, e plena liberdade. Talvez aceitasse o convite. 
− 
10
Esta gente onde está? perguntou, indicando o andar de 
cima a um caixeiro que lhe apareceu no corredor, com a sua calça 
domingueira, cor de alecrim, o charuto ao canto da boca. 
− 
11
Foram passear ao Jardim Botânico, respondeu aquele, 
descendo as escadas. 
− Todos? ainda interrogou Amâncio. 
− Sim, disse o outro entre os dentes, sem voltar o rosto. E saiu. 
− Está resolvido! pensou o estudante. − Vou à casa do 
Coqueiro. Ao menos estarei entretido durante esse tempo! 
E voltando ao quarto: 
− Não! É que tudo ali em casa do Campos já lhe cheirava 
mal!... Olhassem para o ar impertinente com que aquele 
galeguinho lhe havia falado! ... E tudo mais era pelo mesmo teor. − 
Uma súcia d'asnos! 
12
Começou a vestir-se de mau humor, arremessando a roupa, 
atirando com as gavetas. O jarro vazio causou-lhe febre, sentiu 
venetas de arrojá-lo pela janela; ao tomar uma toalha do cabide, 
porque ela se não desprendesse logo, deu-lhe tal empuxão que a 
fez em tiras. 
− Um horror! resmungava, a vestir-se furioso, sem saber de 
quê. 
− Um horror! 
E, quando passou pela porta da rua, teve ímpetos de 
esbordoar o caixeiro, que nesse dia estava de plantão. 
AZEVEDO, Aluísio. Casa de Pensão. São Paulo: Ática, 2009, p.59-60. 
 
19. (Ufpb 2012) No fragmento “– Esta gente onde está? 
perguntou, indicando o andar de cima a um caxeiro que lhe 
apareceu no corredor, com a sua calça domingueira, cor de 
alecrim, o charuto ao canto da boca.” (ref.10), ocorrem 
sequências textuais 
(A) narrativas e descritivas. 
(B) dissertativas e narrativas. 
(C) argumentativas e descritivas. 
(D) injutivas e argumentativas. 
(E) dissertativas e injutivas. 
 
Resposta: [A] 
O fragmento apresenta sequência de ações caracterizadoras 
de narração (“perguntou”, “apareceu”) e descrição (“com a 
sua calça domingueira, cor de alecrim, o charuto ao canto da 
boca”). 
7
De repente voltou-me a ideia de construir o livro. (...) 
1
Desde então procuro descascar fatos, aqui sentado à mesa da 
sala de jantar (...). 
Às vezes, entro pela noite, passo tempo sem fim acordando 
lembranças. Outras vezes não me ajeito com esta ocupação nova. 
Anteontem e ontem, por exemplo, foram dias perdidos. 
3
Tentei debalde canalizar para termo razoável esta prosa que se 
derrama como a chuva da serra, e o que me apareceu foi um 
grande desgosto. 
8
Desgosto e a vaga compreensão de muitas coisas 
que sinto. 
9
Sou um homem arrasado. Doença? Não. Gozo perfeita saúde. 
(...) Não tenho doença nenhuma. 
O que estou é velho. Cinquenta anos pelo S. Pedro. 
10
Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos sem objetivo, a 
maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado é que endureci, 
calejei, e não é um arranhão que penetra esta casca espessa e vem 
ferir cá dentro a sensibilidade embotada. 
Cinquenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se uma 
pessoa a vida inteira sem saber para quê! 
2
Comer e dormir como um porco! Como um porco! Levantar-
se cedo todas as manhãs e sair correndo, procurando comida! 
4
E 
depois guardar comidapara os filhos, para os netos, para muitas 
gerações. Que estupidez! (...) 
5
Coloquei-me acima da minha classe, creio que me elevei 
bastante. Como lhes disse, 
6
fui guia de cego, vendedor de doce e 
trabalhador alugado. Estou convencido de que nenhum desses 
ofícios me daria os recursos intelectuais necessários para 
engendrar esta narrativa. Magra, de acordo, mas em momentos de 
otimismo suponho que há nela pedaços melhores que a literatura 
do Gondim. Sou, pois, superior a mestre Caetano e a outros 
semelhantes. Considerando, porém, que os enfeites do meu 
espírito se reduzem a farrapos de conhecimentos apanhados sem 
escolha e mal cosidos, devo confessar que a superioridade que me 
envaidece é bem mesquinha. 
(...) 
Quanto às vantagens restantes – casas, terras, móveis, 
semoventes, consideração de políticos, etc. – é preciso convir em 
que tudo está fora de mim. 
 
11
Julgo que me desnorteei numa errada. 
GRACILIANO RAMOS 
São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 2004. 
 
20. (Uerj 2011-MODIFICA) Comer e dormir como um porco! Como 
um porco! (ref. 2) 
A repetição das palavras, neste contexto, constitui recurso 
narrativo que revela um traço relativo ao personagem. 
Esse traço pode ser definido como: 
(A) carência 
(B) desespero 
(C) inesperiência. 
(D) inabilidade 
(E) intolerância 
 
Resposta: [B] 
A repetição dos termos enfatiza o estado de desespero do 
narrador que senta a inutilidade de muitos gestos e ações do 
passado e a impossibilidade de refazer a sua vida. Na obsessão 
de enriquecer e ter prestígio, incapaz de verbalizar os seus 
sentimentos por Madalena e sem capacidade de entender as 
diferenças ideológicas que os separavam e se refletiam nas 
desavenças e constantes crises de ciúmes, Paulo Honório se 
desespera e considera-se “um homem arrasado”. A autocrítica 
vai ao ponto de aproximar o seu comportamento ao de um 
“porco”, num processo de zoomorfismo, recurso recorrente 
no estilo neorrealista em que se enquadra Graciliano Ramos. 
 
Embaixo, o rumor da água pipocando sobre o pedregulho; 
vaga-lumes retouçando no escuro. Desci, dei-me com o lugar onde 
havia estado; tenteei os galhos do sarandi; achei a pedra onde 
tinha posto a guaiaca e as armas, corri as mãos por todos os lados, 
mais pra lá, mais pra cá...; nada... nada!... 
Então, senti frio dentro da alma. . . o meu patrão ia dizer que 
eu havia roubado!... roubado... Pois então eu ia lá perder as 
onças!... Qual! Ladrão, ladrão, é que era!... 
E logo uma tenção ruim entrou-me nos miolos: eu devia 
matar-me, para não sofrer a vergonha daquela suposição. 
É, era o que eu devia fazer: matar-me... e já, aqui mesmo! 
Tirei a pistola do cinto: amartilhei o gatilho... benzi-me, e 
encostei no ouvido o cano, grosso e frio, carregado de bala... 
9 
Ah! patrício! Deus existe!... No refilão daquele tormento, olhei 
para diante e vi... as Três-Marias luzindo na água... o cusco 
encarapitado na pedra, ao meu lado, estava me lambendo a mão... 
e logo, logo, o zaino relinchou lá em cima, na barranca do riacho, 
ao mesmíssimo tempo que a cantoria alegre de um grilo retinia ali 
perto, num oco de pau!... Patrício! não me avexo duma heresia; 
mas era Deus que estava no luzimento daquelas estrelas, era ele 
que mandava aqueles bichos brutos arredarem de mim a má 
tenção... 
O cachorrinho tão fiel lembrou-me a amizade da minha gente; 
o meu cavalo lembrou-me a liberdade, o trabalho, e aquele grilo 
cantador trouxe a esperança... 
Eh-pucha! patrício, eu sou mui rude... a gente vê caras, não vê 
corações...; pois o meu, dentro do peito, naquela hora, estava 
como um espinilho ao sol, num descampado, no pino do meio-dia: 
era luz de Deus por todos os lados!... 
E já todo no meu sossego de homem, meti a pistola no cinto. 
Fechei um baio, bati o isqueiro e comecei a pitar. 
(LOPES NETO, J. S. Contos gauchescos. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2008. p. 21-22.) 
 
21. (Uel 2011) É correto afirmar que a história é narrada 
(A) em primeira pessoa, por João Simões Lopes Neto, que, 
num tom autobiográfico, conta fatos da época em que 
atuou na Revolução Farroupilha. 
(B) em terceira pessoa, por uma personagem textualmente 
nomeada Patrício, que relata todo o seu arrependimento 
por ter roubado as onças do patrão. 
(C) por um narrador testemunha, mais precisamente o 
patrão do protagonista, que registra as qualidades morais 
de seu empregado. 
(D) em primeira pessoa, pelo vaqueano Blau Nunes, que 
relata como e onde perdeu as onças do patrão. 
(E) por um narrador onisciente, não nomeado, que registra 
fatos relacionados à agitada e violenta época do cangaço 
rio-grandense. 
 
Resposta: [D] 
O narrador em 1ª pessoa, Blau Nunes, vaqueano típico dos 
pampas, relata um episódio marcante em sua vida. Ele 
perdera uma bolsa carregada de moedas de ouro que seu 
patrão lhe tinha confiado e, perante a hipótese de ser 
considerado ladrão, resolve cometer suicídio. No entanto, no 
último momento, as sensações provocadas pelo cenário 
sugestivo devolvem-lhe o apego à vida, incutem-lhe a razão, 
fazendo com que se arrependa do gesto tresloucado que ia 
fazer, enfrente o problema e busque outra solução. 
 
Texto 
 
Pau de Dois Bicos 
 
Um morcego estonteado pousou certa vez no ninho da coruja, 
e ali ficaria de dentro se a coruja ao regressar não investisse contra 
ele. 
– Miserável bicho! Pois te atreves a entrar em minha casa, 
sabendo que odeio a família dos ratos? 
– Achas então que sou rato? Não tenho asas e não voo como 
tu? Rato, eu? Essa é boa!... 
A coruja não sabia discutir e, vencida de tais razões, poupou-
lhe a pele. 
Dias depois, o finório morcego planta-se no casebre do gato-
do-mato. O gato entra, dá com ele e chia de cólera. 
– Miserável bicho! Pois te atreves a entrar em minha toca, 
sabendo que detesto as aves? 
– E quem te disse que sou ave? - retruca o cínico - sou muito 
bom bicho de pelo, como tu, não vês? 
– Mas voas!... 
– Voo de mentira, por fingimento... 
– Mas tem asas! 
– Asas? Que tolice! O que faz a asa são as penas e quem já viu 
penas em morcego? Sou animal de pelo, dos legítimos, e inimigo 
das aves como tu. Ave, eu? É boa... 
O gato embasbacou, e o morcego conseguiu retirar-se dali são 
e salvo. 
 
Moral da Estória: 
O segredo de certos homens está nesta política do morcego. É 
vermelho? Tome vermelho. É branco? Viva o branco! 
(LOBATO, José Bento Monteiro. Fábulas. 45. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. p. 49.) 
 
 
 
22. (Uel 2011) A charge de Sassá refere-se a um problema que 
afeta a cidade de Londrina e muitas outras cidades brasileiras: 
o risco de contrair doenças transmitidas pelas pombas que 
vivem na região urbana. O que permite ao morcego, da fábula, 
e à pomba, da charge, disfarçarem sua condição é 
(A) o fato de suplicarem pela vida e pela misericórdia de seus 
inimigos. 
(B) a postura corporal, visto que um imita o comportamento 
do outro. 
(C) o uso de recursos argumentativos presentes na fala. 
(D) a confiança na consciência ambiental dos interlocutores. 
(E) a esperteza simbolicamente atribuída a esses animais. 
 
Resposta: [C] 
O uso de recursos argumentativos permite ao morcego e à 
pomba disfarçarem sua condição, como sugere a moral que 
encerra a narrativa: ”... O segredo de certos homens está 
nesta política do morcego. É vermelho? Tome vermelho. É 
branco? Viva o branco!” 
 
23. (Uel 2011) A hesitação do gato, na fábula, e do caçador, na 
charge, deve-se 
(A) à contradição existente entre a fala do morcego e a da 
pomba e suas características físicas. 
(B) à tentativa frustrada do morcego e da pomba em 
disfarçarem sua condição apelando para o fingimento e a 
mentira. 
(C) ao medo de serem agredidos pelas garras afiadas do 
morcego e pelo bico semiaberto da pomba. 
(D) à aversão do gato e do caçador em relação à aparência 
física dos morcegos. 
(E) à postura submissa da pomba e do morcego diante dos 
olhares arregalados do caçador e do gato. 
 
Resposta: [A] 
O fato deo morcego ter pelo e a pomba estar em posição 
invertida contradizem as características de ave, que o gato 
odiava e o caçador perseguia. 
 
24. (Uel 2011) O texto Pau de dois bicos é uma fábula, 
(A) pelo predomínio do discurso direto, com consequente 
apagamento da figura do narrador. 
10 
(B) pois o tempo cronológico é marcado pela expressão 
“certa vez” e pelos verbos no passado. 
(C) pois apresenta trama pouco definida e trata de 
problemas cotidianos imediatos, o que lhe confere 
caráter jornalístico. 
(D) por utilizar elemento fantástico, como o fato de os 
animais falarem, para refletir sobre problemas humanos. 
(E) por resgatar a tradição alegórica de representação de 
seres heroicos que encarnam forças da natureza. 
 
Resposta:[D] 
Por se tratar de uma composição literária em que os 
personagens são animais que apresentam características 
humanas, tais como a fala e os costumes, encerrada com uma 
reflexão moral de caráter instrutivo, o texto Pau de dois Bicos 
é classificado de “fábula”. 
 
25. (Uel 2011) Considerando o trecho em negrito no texto Pau de 
dois bicos, assinale a alternativa correta. Nos dois casos, a 
palavra “mas” 
(A) opõe-se ao argumento “sou muito bom bicho de pelo”. 
(B) revela a causa do “voo de mentira”. 
(C) expressa a consequência dos fatos narrados. 
(D) marca a condição do “voo de mentira”. 
(E) explica o argumento “sou muito bom bicho de pelo”. 
 
Resposta:[A] 
A conjunção adversativa “mas” estabelece oposição ao 
argumento “sou muito bom bicho de pelo”, pois o fato de o 
morcego ter asas e voar induz o gato a pensar que se trata de 
uma ave. 
 
Nasce um escritor 
 
O primeiro dever passado pelo novo professor de português 
foi uma 
7
descrição tendo o mar como tema. A classe inspirou, toda 
ela, nos encapelados mares de Camões, aqueles nunca dantes 
navegados. O 
5
episódio do Adamastor foi reescrito pela 
2
meninada. 
Prisioneiro no internato, eu vivia na saudade das 
4
praias do Pontal 
onde conhecera a liberdade e o sonho. O mar de Ilhéus foi o tema 
de minha descrição. 
Padre Cabral levara os deveres para corrigir em sua cela. Na 
aula seguinte, entre risonho e solene, anunciou a existência de uma 
vocação autêntica de escritor naquela sala de aula. Pediu que 
escutassem com atenção o dever que 
1
ia ler. Tinha certeza, 
afirmou, que o autor daquela página seria no futuro um escritor 
conhecido. Não regateou elogios. 
3
Eu acabara de completar onze 
anos. 
Passei a ser uma personalidade, segundo os cânones do 
colégio, ao lado dos futebolistas, dos campeões de matemática e 
de religião, dos que 
6
obtinham medalhas. Fui admitido numa 
espécie de Círculo Literário onde 
9
brilhavam 
8
alunos mais velhos. 
Nem assim deixei de me sentir prisioneiro, sensação permanente 
durante os dois anos em que estudei no colégio dos jesuítas. 
11
Houve, porém, 
10
sensível mudança na limitada vida do aluno 
interno: o padre Cabral tomou-me sob sua proteção e colocou em 
minhas mãos livros de sua estante. Primeiro "As Viagens de 
Gulliver", depois clássicos portugueses, traduções de ficcionistas 
ingleses e franceses. Data dessa época minha paixão por Charles 
Dickens. Demoraria ainda a conhecer Mark Twain: o norte-
americano não figurava entre os prediletos do padre Cabral. 
Recordo com carinho a figura do jesuíta português erudito e 
amável. Menos por me haver anunciado escritor, sobretudo por me 
haver dado o amor aos livros, por me haver revelado o mundo da 
criação literária. Ajudou-me a suportar aqueles dois anos de 
internato, a fazer mais leve a minha prisão, minha primeira prisão. 
AMADO, Jorge. O menino Grapiúna. Rio de Janeiro. Record. 1987. p. 117-20. 
 
26. (G1 - ifce 2011) Para realizar o trabalho que Padre Cabral lhes 
impôs, os alunos deviam possuir um saber, que era 
(A) ter a inspiração. 
(B) conhecer as praias do Pontal. 
(C) saber descrever o mar e ter conhecimento das técnicas 
de construção de um texto descritivo. 
(D) ter grande conhecimento da língua portuguesa. 
(E) ser um bom narrador. 
 
Resposta: [C] 
Para realizar o trabalho, os alunos deveriam reunir algumas 
competências, como o uso adequado de técnicas para uma 
composição descritiva e capacidade imaginativa para compor 
um texto original que prendesse a atenção do leitor. 
 
27. (G1 - ifce 2011) Todos os alunos apresentaram seus trabalhos, 
mas só um foi elogiado. O que esse trabalho revelava, para 
distinguir-se dos demais, era 
(A) o conhecimento superior das praias do Pontal. 
(B) a originalidade da descrição. 
(C) o conhecimento superior da língua portuguesa. 
(D) os elogios demasiados ao Padre Cabral. 
(E) o conhecimento do narrador acerca da literatura 
brasileira. 
 
Resposta: [B] 
Todos os trabalhos exploravam conteúdos assimilados durante 
as aulas de Português (“…mares de Camões, aqueles nunca 
dantes navegados. O episódio do Adamastor foi reescrito pela 
meninada”), apenas o do narrador escapou do lugar comum 
ao evocar literariamente um ambiente oriundo das suas 
próprias vivências e, portanto, original. 
 
7
Domingo ela 
4
acordava mais cedo para ficar mais tempo sem 
fazer nada. 
O pior momento de sua vida era 
5
nesse dia ao fim da tarde: 
caía em 
2
meditação inquieta, o vazio do seco domingo. Suspirava. 
3
Tinha saudade de quando era pequena – farofa seca – e pensava 
que fora feliz. Na verdade por pior a infância é sempre encantada, 
6
que susto. Nunca se queixava de nada, sabia que as coisas são 
assim mesmo e – quem organizou a terra dos homens? [...] 
1
Juro 
que não posso fazer nada por ela. Afianço-
8
vos
 
que se eu pudesse 
melhoraria as coisas. Eu bem sei que dizer que a datilógrafa tem o 
corpo cariado é um dizer de brutalidade pior que qualquer 
palavrão. 
Clarice Lispector, A hora da estrela 
 
28. (Mackenzie 2010) Assinale a alternativa correta. 
(A) Um narrador de terceira pessoa, observador, descreve, 
“de fora”, a figura feminina; essa distância justifica o 
seguinte comentário: Juro que não posso fazer nada por 
ela [...] se eu pudesse melhoraria as coisas (ref. 1). 
(B) O relato põe em evidência traços caracterizadores da 
personagem: o rancor (meditação inquieta, o vazio do 
seco domingo – ref. 2) e a frustração (Tinha saudade – 
ref. 3). 
(C) O tempo da narração coincide com o tempo dos 
acontecimentos vivenciados pela personagem, como 
prova o uso do imperfeito – acordava (ref. 4) – e do 
pronome “esse” (nesse, ref. 5). 
(D) Há segmentos que expressam a fusão das vozes no fluxo 
narrativo, como, por exemplo, que susto (ref. 6). 
(E) Embora o narrador deixe no relato índices de sua rejeição 
às atitudes da personagem – a referência à preguiça (ref. 
7), por exemplo – evita tratá-la de forma desrespeitosa, 
como prova o uso do pronome vos (ref. 8). 
11 
 
Resposta: [D] 
Os segmentos apresentados no texto que expressam a fusão 
de vozes do narrador e da personagem são os segmentos de 
discurso indireto livre, como no trecho: que susto, que é uma 
expressão da personagem “embutida” no discurso do 
narrador. 
 
1
Eu troteava, nesse tempo. De uma feita que 
6
viajava de 
escoteiro, com a 
9
guaiaca 
12
empanzinada de 
15
onças de ouro, vim 
varar aqui neste mesmo passo, 
24
por me ficar mais perto da 
estância onde 
7
devia pousar. Parece que foi ontem! Era fevereiro; 
eu vinha 
21
abombado da 
18
troteada. 
2
Olhe, ali, à sombra daquela mesma 
16
reboleira de mato que 
está nos vendo, desencilhei; e estendido nos pelegos, a cabeça no 
lombilho, com o chapéu sobre os olhos, fiz uma 
13
sesteada 
morruda. 
Despertando, ouvindo o ruído manso da água fresca rolando 
sobre o pedregulho, tive ganas de me banhar; até para quebrar a 
lombeira... E fui-me à água que nem 
22
capincho! 
3
Depois, daquela 
19
vereda andei como 
10
três léguas, chegando à estância cedo, obra 
assim de braça e meia de sol. 
4
Ah! Esqueci de 
25
dizer-lhe que andava comigo um 
cachorrinhobrasino, um cusco muito esperto e boa vigia. Era das 
crianças, mas às vezes 
26
dava-lhe para acompanhar-me, e depois de 
sair da 
11
porteira, nem por nada fazia 
27
caravolta, a não ser comigo. 
Durante a troteada reparei que volta e meia o cusco parava na 
estrada e latia, e troteava sobre o 
17
rastro - parecia que estava me 
chamando! Mas como eu não ia, ele tomava a alcançar-me, e logo 
recomeçava... 
Pois nem lhe conto! Quando botei o pé em terra na 
20
estância 
e já 
8
dava as boas tardes ao dono da casa, aguentei um tirão seco 
no coração... não senti o peso da guaiaca! Tinha perdido as 
trezentas onças de ouro. 
E logo passou-me pelos olhos um darão de cegar, depois uns 
14
coriscos... depois tudo ficou cinzento... 
29
De meio assombrado me 
fui repondo quando ouvi que indagavam: 
- Então, patrício? Está doente? 
- 
5
Não senhor, não é doença; é que sucedeu-me uma 
28
desgraça; perdi uma dinheirama do meu patrão... 
23
- A la fresca! 
- É verdade... antes morresse que isso! 
Nisto o cusco brasino deu uns pulos ao focinho do cavalo, 
como querendo lambê-lo, e logo correu para a estrada, aos latidos. 
E olhava-me, e vinha e ia, e tornava a latir... 
Adaptado de Simões Lopes Neto. Trezentas onças. In: BETANCUR, P. (Org.). Obra 
completa de Simões Lopes Neto. Porto Alegre: Sulina, 2003. p. 307-308. 
 
29. (Ufrgs 2010) Há, no texto, indicações de que a história está 
sendo contada pelo narrador em uma conversa com outra 
pessoa em um lugar onde a história também se passou. 
Assinale a alternativa que contenha um trecho que indique 
isso. 
(A) Eu troteava, nesse tempo (ref. 1) 
(B) Olhe, ali, à sombra daquela mesma reboleira de mato 
que está nos vendo (ref. 2) 
(C) Depois, daquela vereda andei como três léguas (ref. 3) 
(D) Ah! Esqueci de dizer-lhe que andava comigo um 
cachorrinho brasino (ref. 4) 
(E) Não senhor, não é doença; é que sucedeu-me uma 
desgraça (ref. 5) 
 
Resposta: [B] 
As únicas alternativas que indicam uma conversa entre o 
narrador e outra pessoa são: B, D e E. No entanto, a única que 
permite a interpretação sobre o lugar onde a história se 
passou é a B, em virtude de elementos como: “olhe”, “ali” e 
“que está nos vendo”, que dão indicações de lugar. 
 
TEXTO: 
É por causa do meu engraxate que ando agora em plena 
desolação. Meu engraxate me deixou. Passei duas vezes pela porta 
onde ele trabalhava e nada. Então me inquietei, não sei que 
doenças mortíferas, que mudança pra outras portas se passaram 
em mim, resolvi perguntar ao menino que trabalhava na outra 
cadeira. O menino é um retalho de hungarês, cara de infeliz, não dá 
simpatia alguma. E tímido, o que torna instintivamente a gente 
muito combinado com o universo no propósito de desgraçar esses 
desgraçados de nascença. 
“Está vendendo bilhete de loteria”, respondeu antipático, me 
deixando numa perplexidade penosíssima: pronto! Estava sem 
engraxate! Os olhos do menino chispeavam ávidos, porque sou um 
dos que ficam fregueses e dão gorjeta. Levei seguramente um 
minuto pra definir que tinha de continuar engraxando sapatos toda 
a vida minha e ali estava um menino que, a gente ensinando, podia 
ficar engraxate bom. 
(Mário de Andrade, Os Filhos da Candinha.) 
 
30. A desolação por que passa o narrador resulta 
(A) do sumiço do engraxate, por quem o narrador, ao valer-
se dos serviços, criara certa afeição. 
(B) da ausência do engraxate, de cujos serviços, mesmo 
precários, aquele se valia. 
(C) da presença do menino hungarês, pouco aberto ao 
diálogo, em substituição obrigatória ao antigo engraxate. 
(D) do sumiço do engraxate com quem ele evitava a todo 
custo criar laços afetivos. 
(E) da necessidade dos serviços do tímido menino hungarês, 
que certamente não chegaria a ser bom engraxate. 
 
Resposta: A 
Dentre as alternativas apresentadas não há nenhuma 
completamente satisfatória. Aquela que melhor expressa o 
conteúdo do texto é a A, mas é importante ressalvar que não 
se encontra no texto qualquer marca de afeição entre o 
narrador e o engraxate. Embora haja essa sugestão no início, 
“… ando agora em plena desolação.”, no decorrer do texto fica 
claro que os laços estabelecidos entre os dois não ultrapassam 
aqueles considerados utilitários e habituais — idéia reforçada 
pelo final, quando o narrador se convence de que mesmo o 
menino “hungarês” de olhar antipático poderia, se bem 
ensinado, tornar-se um engraxate bom. 
 
31. A timidez do engraxate despertava no narrador um 
sentimento de 
(A) pena dele e daqueles que, como ele, também viviam mal. 
(B) repulsa por ele e pelos de sua condição de mal-nascido. 
(C) enternecimento por ele e pelos mal-nascidos, por sua 
natural infelicidade. 
(D) distanciamento dele e daqueles que o viam com 
interesse. 
(E) indignação com ele e com aqueles que pouco faziam para 
progredir. 
 
Resposta: B 
A idéia de que o narrador cria um sentimento de repulsa pelo 
menino “hungarês” e por todos aqueles que, como ele, 
provêm de classe social desfavorecida fica clara em “... o que 
torna instintivamente a gente muito combinado com o 
universo no propósito de desgraçar esses desgraçados de 
nascença.” 
 
32. É correto afirmar que 
12 
(A) o narrador ficou sem engraxate, mas queria encontrar o 
menino para agradecer pelos bons serviços que recebera. 
(B) o menino hungarês é antipático, pois se refere, com 
ironia, ao outro que, um dia, já esteve trabalhando ao seu 
lado como engraxate, prestando serviços ao narrador. 
(C) a possibilidade de ficar definitivamente sem seu 
engraxate, que poderia lograr êxito no novo emprego, 
perturbava demais o narrador. 
(D) o espírito generoso do narrador com o engraxate, ficando 
freguês e dando gorjetas, não foi suficiente para evitar 
ser maltratado pelo menino. 
(E) a forma dissimulada como o menino hungarês trata o 
narrador naquele momento difícil mostra-o como se 
estivesse se divertindo com a situação. 
 
Resposta: C 
O narrador de fato mostra-se muito perturbado com a 
possibilidade de ficar definitivamente sem engraxate, estado 
que pode ser comprovado pelo uso de expressões como: 
“ando agora em plena desolação” e “me deixando numa 
perplexidade penosíssima”. 
 
TEXTO: Que se chama solidão 
Chão da infância. Algumas lembranças me parecem fixadas 
nesse chão movediço, as minhas pajens. Minha mãe fazendo seus 
cálculos na ponta do lápis ou mexendo o tacho de goiabada ou ao 
piano; tocando suas valsas. E tia Laura, a viúva eterna que foi morar 
na nossa casa e que repetia que meu pai era um homem instável. 
Eu não sabia o que queria dizer instável mas sabia que ele gostava 
de fumar charutos e gostava de jogar. A tia um dia explicou, esse 
tipo de homem não consegue parar muito tempo no mesmo lugar 
e por isso estava sempre sendo removido de uma cidade para outra 
como promotor. Ou delegado. Então minha mãe fazia os tais 
cálculos de futuro, dava aquele suspiro e ia tocar piano. E depois, 
arrumar as malas. 
— Escutei que a gente vai se mudar outra vez, vai mesmo? 
perguntou minha pajem Maricota. Estávamos no quintal chupando 
os gomos de cana que ela ia descascando. Não respondi e ela fez 
outra pergunta: Sua tia vive falando que agora é tarde porque a 
Inês é morta, quem é essa tal de Inês? 
Sacudi a cabeça, não sabia. Você é burra, Maricota resmungou 
cuspinhando o bagaço. (...) 
— Corta mais cana, pedi e ela levantou-se enfurecida: Pensa 
que sou sua escrava, pensa? A escravidão já acabou!, ficou 
resmungando enquanto começou a procurar em redor, estava 
sempre procurando alguma coisa e eu saía atrás procurando 
também, a diferença é que ela sabia o que estava procurando, uma 
manga madura? Jabuticaba? Eu já tinha perguntado ao meu pai o 
que era isso, escravidão. Mas ele soprou a fumaça para o céu 
(dessa vez fumava um cigarro de palha) e começou a recitar uma 
poesia que falava num navio cheio de negros presos em correntes e 
que ficavam chamando por Deus. Deus, eu repeti quando ele parou 
de recitar. Fiz que sim com a cabeça e fui saindo, Agorajá sei. 
(Lygia Fagundes Telles, Invenção e Memória.) 
 
33. De acordo com o texto, entende-se que o chão da infância da 
narradora é marcado 
(A) pela incômoda viuvez da tia. 
(B) pela ausência do pai. 
(C) pelo convívio com família e pajens. 
(D) pelo medo da escravidão. 
(E) pela indiferença das pajens. 
 
Resposta: C 
O primeiro período do texto apresenta uma frase nominal 
(“Chão de infância”) que remete às relações da narradora com 
suas “pajens”, com sua “mãe fazendo seus cálculos”, com sua 
“tia Laura” e com seu “pai”, que “gostava de fumar charutos”. 
 
TEXTO: Estigma 
Os gregos, que tinham bastante conhecimento de recursos 
visuais, criaram o termo estigma para se referirem a sinais 
corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de 
extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os 
apresentava. Os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e 
avisavam que o portador era um escravo, um criminoso ou traidor 
— uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que devia ser 
evitada, especialmente em lugares públicos. Mais tarde, na Era 
Cristã, dois níveis de metáfora foram acrescentados ao termo: o 
primeiro deles referia-se a sinais corporais de graça divina que 
tomavam a forma de flores em erupção sobre a pele; o segundo, 
uma alusão médica a essa alusão religiosa, referia-se a sinais 
corporais de distúrbio físico. Atualmente, o termo é amplamente 
usado de maneira um tanto semelhante ao sentido literal original, 
porém é mais aplicado à própria desgraça do que à sua evidência 
corporal. Além disso, houve alterações nos tipos de desgraças que 
causam preocupação. (...) 
Podem-se mencionar três tipos de estigma nitidamente 
diferentes. Em primeiro lugar, há as abominações do corpo — as 
várias deformidades físicas. Em segundo, as culpas de caráter 
individual, percebidas como vontade fraca, paixões tirânicas ou não 
naturais, crenças falsas e rígidas, desonestidade, sendo essas 
inferidas a partir de relatos conhecidos de, por exemplo, distúrbio 
mental, prisão, vício, alcoolismo, homossexualismo, desemprego, 
tentativas de suicídio e comportamento político radical. 
Finalmente, há os estigmas tribais de raça, nação e religião, que 
podem ser transmitidos através de linhagem e contaminar por igual 
todos os membros de uma família. Em todos esses exemplos de 
estigma, entretanto, inclusive aqueles que os gregos tinham em 
mente, encontram-se as mesmas características sociológicas: um 
indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na relação social 
quotidiana possui um traço que pode-se impor à atenção e afastar 
aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção 
para outros atributos seus. Ele possui um estigma, uma 
característica diferente da que havíamos previsto. Nós e os que não 
se afastam negativamente das expectativas particulares em 
questão serão por mim chamados de normais. 
As atitudes que nós, normais, temos com uma pessoa com um 
estigma, e os atos que empreendemos em relação a ela são bem 
conhecidos na medida em que são as respostas que a ação social 
benevolente tenta suavizar e melhorar. Por definição, é claro, 
acreditamos que alguém com um estigma não seja completamente 
humano. Com base nisso, fazemos vários tipos de discriminações, 
através das quais, efetivamente, e muitas vezes sem pensar, 
reduzimos suas chances de vida. 
(GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da 
identidade deteriorada. Rio de Janeiro: LTC, 1988. p. 11-15.) 
 
34. Segundo o texto, é correto afirmar: 
(A) Os estigmas físicos e os ligados à personalidade atingem 
todos os membros de uma família. 
(B) As pessoas “normais” devem evitar a convivência com as 
estigmatizadas, para evitar a contaminação. 
(C) Embora diferentes, os três tipos de estigma levam à 
rejeição do indivíduo pelo grupo social. 
(D) Os portadores de características estigmatizantes não têm 
qualidades que possibilitem sua integração social. 
(E) As três formas de estigma são transmitidas 
hereditariamente de uma geração a outra. 
 
Resposta: C 
O texto é explícito ao afirmar que “em todos esses exemplos 
de estigma ... um indivíduo ... possui um traço que pode ... 
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afastar aqueles que encontra”, causando, portanto, a rejeição 
pelo grupo social. 
 
35. Entre os diversos conceitos de “estigma” apresentados no 
texto, assinale a alternativa que sintetiza o uso mais amplo 
que o termo adquiriu na atualidade. 
(A) Marcas corporais ocasionadas intencionalmente para 
indicar características morais do portador. 
(B) Sinais produzidos no corpo das pessoas para restringir 
sua circulação em espaços públicos. 
(C) Marcas observadas na pele de alguns indivíduos, 
atribuídas ao dom divino. 
(D) Indícios físicos que levam ao julgamento de que certos 
indivíduos seriam seres imperfeitos. 
(E) Características pessoais usadas socialmente como 
critérios para a discriminação de alguns indivíduos. 
 
Resposta: E 
O texto mostra que, atualmente, os estigmas podem ser 
fundados em traços físicos, comportamentais ou étnico-
sociais, em qualquer das hipóteses uma característica do 
indivíduo é adotada pelo grupo social como suficiente para 
ensejar a discriminação e o isolamento dos estigmatizados. 
 
TEXTO: Os tempos são outros 
Dentre as muitas coisas intrigantes deste mundo, poucas há 
tão misteriosas quanto o tempo. A ironia é que mal nos damos 
conta disso. Estando desde o nascimento submetidMos a uma 
mesma noção de tempo, aceita por todos à nossa volta em termos 
sempre idênticos e inquestionáveis, tendemos a achar que ela é a 
única possível e corresponde à própria realidade. Causa um grande 
choque saber que outras culturas têm formas diferentes de 
perceber e compreender o tempo e também de representar o 
curso da história. E ainda assim a nossa defesa automática é 
acreditar que elas estão erradas e nós certos. Ledo engano. Na 
nossa própria cultura o tempo foi percebido de formas diferentes. 
Os gregos antigos tinham uma noção cíclica do tempo. Ele se 
iniciava com as prodigiosas eras de ouro e dos deuses, declinava 
depois para as eras de bronze e de ferro, dos heróis, chegando à 
crise final com a fraqueza e penúria da era dos homens, após a qual 
o ciclo reiniciava. Para os romanos, o tempo se enfraquecia na 
medida em que se afastava do mais sagrado dos eventos, a 
fundação de Roma. Na Idade Média prevalecia o tempo recursivo, 
pelo qual os cristãos acreditavam percorrer uma via penitencial, 
desde a expulsão do Jardim do Éden até a salvação e o retorno ao 
Paraíso. 
Foi só com a consolidação do capitalismo, a partir do 
Renascimento, que passou a prevalecer uma noção de tempo 
quantitativo, dividido em unidades idênticas e vazias de qualquer 
conteúdo mítico, cujo símbolo máximo foi o relógio mecânico, com 
seu incansável tique-taque. Essa foi também a época em que a 
ciência ea técnica se tornaram preponderantes. Nesse contexto, o 
maior dos cientistas modernos, sir Isaac Newton formalizou o 
conceito do tempo como sendo absoluto. “O tempo matemático, 
verdadeiro e absoluto flui homogeneamente, sem nenhuma 
relação com qualquer coisa externa”. Como pertencemos a esse 
tempo moderno, é ele que aprendemos em casa, na escola e nos 
relógios ao redor. E achamos, como Newton, que ele é o único 
verdadeiro! 
Mas o mundo moderno foi se complicando e esse conceito 
fixo e fechado se tornou cada vez menos satisfatório. Assim, já no 
início do século XX, o filósofo Henry Bergson mudava de novo o 
conceito declarando: “Ou o tempo é uma invenção ou ele é nada.” 
O amplo conhecimento de outras culturas e as grandes 
transformações científicas e técnicas do Ocidente forçaram a 
admitir que cada povo cria as noções de tempo e história que 
correspondam às suas formas de vida, suas necessidades e 
expectativas. O que é claro no caso da cultura moderna é que 
nossa percepção do tempo ficou coligada ao desenvolvimento 
tecnológico. Assim, das pás dos moinhos de vento ao velame das 
caravelas, às máquinas a vapor, às ferrovias, aos veículos 
automotores, aos

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