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COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO A leitura faz o homem completo; a conversa torna-o ágil e a escrita deixa-o preciso. (Francis Bacon) Professora MARIA DE FÁTIMA ROCHA MEDINA 2020 Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 2 PLANO DE ENSINO EMENTA Linguagem, língua e fala. Funções da linguagem. Oralidade, escrita e variação linguística. Leitura e estratégias de leitura. Escrita e estratégias de escrita. Paragrafação. Coesão e coerência textuais. Paráfrase. Argumentação e persuasão. Particularidades léxicas e gramaticais. COMPETÊNCIAS Esta disciplina contribui para o desenvolvimento das seguintes competências: 1. usar a língua em suas manifestações orais e escritas, em suas dimensões receptivas e produtivas, em diferentes situações ou contextos, com diversos interlocutores ou públicos, como meio de organização cognitiva da realidade, constituição de significados e realização de práticas sociais. 2. ser ético e comprometido com a disciplina. HABILIDADES 1. Conceituar leitura de estudo e aplicar estratégias para ler com competência. 2. Identificar tipos e gêneros textuais em textos verbais e não verbais, além de compreendê- los e interpretá-los de forma adequada. 3. Identificar e explicar relações de intertextualidade em textos lidos. 4. Ler, compreender e debater textos, criticamente, sobre a importância da arte/cultura para o ser humano, além de produzir textos a respeito desse assunto. 5. Entender as modalidades da língua - oral e escrita - ao reconhecer peculiaridades de cada uma em distintos textos que circulam na sociedade. 6. Conceituar linguagem, língua e fala. 7. Reconhecer algumas variedades linguísticas ao ler diferentes textos e aplicar a variante culta nas produções textuais. 8. Apresentar-se oralmente, com desenvoltura e de maneira adequada, em debates e apresentações em sala de aula, como também no projeto interdisciplinar Palco Expresso. 9. Escrever/refazer paráfrase de forma adequada ao compreender o texto original e reorganizá- lo de maneira coerente e coesa. 10. Elaborar/refazer parágrafo padrão ao defender e sistematizar argumentos/informações em estrutura textual corretamente definida e clara. CONTEÚDOS 1. Leitura de estudo 1.1 Conceito 1.2 Tipos textuais: argumentativo, descritivo, expositivo, injuntivo e narrativo 1.3 Gêneros textuais: conto, charge, tirinha, artigo científico, artigo de opinião, reportagem, texto didático, etc. 1.4 Estratégias de leitura: 1.4.1 analisar, sintetizar, interpretar, compreender 1.4.2 identificação de tese, argumentos, contra-argumentos, ponto de vista do autor 1.4.3 identificação do tópico frasal 1.4.4 elaboração de esquemas 1.4.5 relação entre textos: intertextualidade Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 3 1.4.6 seleção e esquematização de informações primárias 1.4.7 relação entre texto e realidade: contexto textual (interpretação) 2. Linguagem, língua materna e fala 2.1 Conceitos 2.2 Variação linguística – utilização da norma culta 2.3 Modalidades da língua: oral e escrita (e suas peculiaridades) 3. Estratégias de escrita 3.1 Recriação textual: paráfrase (citação indireta) 3.2 Escrita de parágrafo com suas partes constituintes: sistematização de argumentos 3.3 Produção escrita de distintos gêneros (crônicas, paródia, rap, cordel, poema, etc) 3.5 Refacção de textos 3.6 Particularidades gramaticais (norma culta) Texto: A arte e a humanização do homem, de Rose Meri Trojan. METODOLOGIA De acordo com o Projeto Didático Institucional do Ceulp (PDI, 2011, p. 13) “o aluno deve ser sujeito de seu processo de aprendizagem”. É por meio das disciplinas que a autonomia se consolida. Por isso, nesta disciplina, será necessário o envolvimento do acadêmico em atividades de leitura e compreensão de textos (verbais e não verbais) e da produção/refacção textual oral e escrita de distintos gêneros textuais. Por meio de atividades de leitura e produção de textos orais e escritos (impressos e online), em sala e extraclasse, o acadêmico deverá desenvolver a consciência de que a sistematização do texto escrito é distinta do texto oral. Nas aulas, o momento de escrita (paráfrase, parágrafo, entre outros) será precedido pela leitura e discussão (oralidade) de textos de distintos tipos e gêneros textuais. O objetivo é que o aluno desenvolva a compreensão ao identificar particularidades e inferências importantes de cada texto, como tema, relações intertextuais, argumentos e contexto, além de atribuir sentido ao que lê, de forma crítica e clara. Serão priorizados textos que abordam sobre direitos humanos. As aulas presenciais serão realizadas a partir de exposições dialogadas e de técnicas que favoreçam o debate tais como peritos e interrogadores, GV-GO, Phillips 66, discussão circular, batata quente e seminário a fim de que o aluno argumente, além de relacionar repertórios e experiências pessoais com novos conteúdos. Relevante, também, será a resolução e correção de exercícios para a prática da compreensão e produção/refacção textuais com a orientação da docente. Quanto às variantes linguísticas, além de identificá-las, o aluno deverá utilizar a variante culta de maneira adequada, sobretudo em textos escritos. Serão usados recursos materiais como: quadro branco, datashow, vídeos, livros, textos impressos e online, como também ferramentas da mídia digital (Conecta). O estudante terá oportunidade de participar do Palco 2020: projeto interdisciplinar que integra as disciplinas institucionais Comunicação e Expressão, Sociedade e Contemporaneidade e Cultura Religiosa. As web atividades da disciplina, além de outros exercícios e textos, serão disponibilizadas no Conecta, plataforma da instituição, para reforçar o estudo e a aprendizagem. AVALIAÇÃO O acadêmico será avaliado de forma diagnóstica, formativa e somatória, conforme preconizam os princípios pedagógicos da instituição, de forma contínua durante o semestre, por Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 4 meio da prática de atividades de compreensão e produção de textos orais e escritos. Será avaliado também quanto ao envolvimento, responsabilidade e pontualidade. Além de duas provas, G1 e G2, de acordo com o calendário acadêmico. Ao apresentar trabalhos individuais e em grupos, orais e por escrito, o aluno deve demonstrar conhecimento, coerência e consciência crítica sobre o conteúdo abordado. A produção escrita que não for inédita e pessoal será desconsiderada, seja ela realizada em sala ou em ambiente virtual. Aparelho celular poderá ser utilizado, durante a aula, exclusivamente para consulta a (ou produção de) material específico da disciplina. Quanto aos textos e referências bibliográficas, são disponibilizados no Conecta e nas principais fotocopiadoras do campus. Notas da avaliação somatória G1 1) Elaboração escrita de paráfrase (diagnóstico): valor – 1,0 2) Elaboração escrita de paráfrase: valor – 1,5 3) Texto “A arte e a humanização do homem”. 3.1 Seminário. Valor: 0,5 3.2 Elaboração de textos de distintos gêneros acerca da arte e humanização do ser humano (rap, poema, cordel, paródia, dança, etc): valor: 1,0 4) Prova de acordo com o calendário acadêmico: valor - 6,0 G2 1) Esquematização de texto: 0,5 2) Mesa redonda sobre variantes linguísticas: valor - 0,5 3) Debate a partir do curta-metragem “Vida Maria” - 0,5 4) Reescrita de texto (oralidade/escrita): valor – 1,0 5) Elaboração de parágrafo: valor – 1,5 6) Prova de acordo com o calendário acadêmico: valor - 6,0 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ABREU, A. S. A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. 13. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011. FAULSTICH, E. L. de. Como ler, entender e redigir um texto. 27. ed. Petrópolis: Vozes,2014. E- book. Disponível em: https://bv4.digitalpages.com.br/?term=Como%2520escrever%2520textos&searchpage=1&filtro=todos &from=busca&page=1§ion=0#/edicao/49224. Acesso em: 12 jan. 2019. FULGÊNCIO, L.; LIBERATO, Y. G. É possível facilitar a leitura: um guia para escrever claro. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2009. E-book. Disponível em: https://bv4.digitalpages.com.br/?term=Como%2520facilitar%2520a%2520leitura&searchpage=1&filtro =todos&from=busca&page=5§ion=0#/edicao/1261. Acesso em: 15 jan. 2019. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. 7. ed., reimpr. Rio de Janeiro: Lexikon, 2017. E-book. Disponível em: https://bv4.digitalpages.com.br/?term=gram%25C3%25A1tica&searchpage=1&filtro=todos&from=bus ca&page=3§ion=0#/edicao/130295. Acesso em 10 jan. 2019. FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto: leitura e redação. 17. ed. São Paulo: Ática, 2007. E-book. Disponível em: https://bv4.digitalpages.com.br/?term=Para%2520entender%2520o%2520texto%3A%2520leitura%25 20e%2520reda%25C3%25A7%25C3%25A3o&searchpage=1&filtro=todos&from=busca&page=3&se ction=0#/edicao/2101. Acesso em: 10 jan. 2019. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 5 HARTMANN, S. H. de G.; SANTAROSA, S. D. Práticas de leitura para o letramento no ensino superior. Curitiba: Intersaberes, 2012. (Série Língua Portuguesa em Foco). E-book. Disponível em: https://bv4.digitalpages.com.br/?term=Pr%25C3%25A1tica%2520de%2520texto%3A%2520para%25 20estudantes%2520universit%25C3%25A1rios&searchpage=1&filtro=todos&from=busca&page=5&s ection=0#/edicao/6086. Acesso em: 10 jan. 2019. KOCH, I. V. Escrever e argumentar. São Paulo: Contexto, 2010. E-book. Disponível em: https://bv4.digitalpages.com.br/?term=Como%2520escrever%2520textos&searchpage=1&filtro=todos &from=busca&page=5§ion=0#/edicao/35566. Acesso em: 10 jan. 2019. LEITE, M. Q. Preconceito e intolerância na linguagem. São Paulo: Contexto, 2008. Ebook. Disponível em: https://bv4.digitalpages.com.br/?term=Preconceito%2520e%2520intoler%25C3%25A2ncia%2520na %2520linguagem&searchpage=1&filtro=todos&from=busca#/edicao/1262. Acesso em: 15 jan. 2019. 1. CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO ORAL Aspectos que serão avaliados desde o primeiro ao último dia: 1. informações precisas do texto proposto 2. ideias claras, coerentes e com senso crítico 3. volume e entonação de voz adequados 4. sinalização com a mão antes de falar 5. respeito às ideias dos colegas 6. uso da norma culta da língua de acordo com a oralidade. 2. CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO ESCRITA Os textos escritos serão avaliados a partir dos critérios expostos a seguir. 2.1 Quanto à estrutura, o texto: (valor: 30%) � Apresenta características do tipo e gênero textuais solicitados, de forma que é possível identificá-los? � Apresenta as ideias centrais (tese e argumentos) quando o texto é argumentativo? � Apresenta título criativo? 2.2 Quanto aos aspectos de coesão, coerência, clareza e criticidade, o texto: (valor: 30%) � Apresenta uso adequado de anafóricos, de elementos coesivos e de articuladores? � Apresenta as informações necessárias no texto produzido? � Apresenta o assunto de maneira original, clara, crítica, criativa e progressiva? 2.3 Quanto a aspectos gramaticais, o texto: (valor: 25%) � Está adequado quanto à ortografia? � Está adequado quanto à acentuação gráfica? � Está adequado quanto à concordância? � Está adequado quanto à pontuação? � Está adequado quanto à sintaxe? � Está adequado quanto ao uso de letras minúsculas e maiúsculas? 2.4 Quanto a aspectos estéticos, o texto: (valor: 15%) � Apresenta letra legível (quando manuscrito)? A leitura faz o homem completo; a conversa torna-o ágil e a escrita deixa-o preciso. (Francis Bacon) Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 6 Cronograma – turma 7004 Terça-feira DATA TEMA PROCEDIMENTO METODOLÓGICO 04/02/20 Gerenciamento de relações: apresentação e entrosamento - conversa a partir de objetos artísticos. Diagnóstico a partir do conto “A infinita fiandeira”, de Mia Couto. Exercícios orais e escritos de compreensão e interpretação textuais. Interação com a turma. Compreensão e socialização de textos. Correção. 11/02/20 Apresentação do plano de ensino e do cronograma. Código verbal e não verbal. Estratégia de leitura de estudo. Leitura = Iv + InV. Identificação de tópico frasal. Exposição dialogada. Exercícios e correção 18/02/20 Retomada da aula anterior. Estratégias de leitura: tema e argumentos. Paráfrase. Releitura do texto “A infinita fiandeira”, de Mia Couto. Paráfrase escrita. Exposição dialogada. Releitura, comentários. Paráfrase: v. 1,0 03/03/20 Devolução de paráfrase corrigida. Estratégia de leitura de estudo: analisar, sintetizar, interpretar e compreender. Compreensão e debate do texto Felicidade clandestina, de Clarice Lispector. Paráfrase escrita. Exposição dialogada. Paráfrase. 1,5 10/03/20 Devolução de paráfrase corrigida. Texto “A arte e a humanização do homem”. Expor de forma crítica e relacioná-lo com os textos lidos anteriormente. Sorteio e Seminário: v.0,5 17/03/20 Produção de textos de distintos gêneros: paródia, rap, cordel, outros, sobre a importância da arte para o ser humano e para o país. Elaboração de textos em grupos. v. 1,0 24/03/19 Avaliação G1 Prova escrita. V: 6,0 28/03/19 1ª. web atividade: compreensão textual e conteúdos do 1º. bimestre. Acesso interno: Conecta 31/03/20 Devolução das avaliações: correções e comentários. Revisão do plano de ensino. Estratégia de leitura: intertextualidade. Exercício. Correção de provas. Plano de ensino. Exposição dialogada. 07/04/20 Estratégia de leitura: sublinhar e esquematizar. Ler, compreender e esquematizar o texto “Para acabar com o preconceito racial no Brasil”, de Gislene Ramos Exposição dialogada. Leitura do texto e trabalho em grupo. V. 0,5 14/04/20 Devolução do esquema. Linguagem, Língua, fala e variações linguísticas. Sorteio Mesa redonda. V. 0,5 28/04/20 Leitura, compreensão e exercícios do texto “O melhor amigo”, de Fernando Sabino. Exercícios e correção. Leitura, compreensão de texto e exercícios. 05/05/20 Distinção entre fala e escrita. Exposição dialogada. “Minijúri”. Participação no projeto Palco. Apresentações artísticas 09/05/20 2ª. web atividade: compreensão textual e conteúdos do 2º. bimestre. Acesso interno: Conecta 12/05/20 Linguagem, língua, fala e variações linguísticas: exercícios e correção. Reescrita de texto (da oralidade para a escrita) Exercícios, comentários. Trabalho em dupla. V.1,0 19/05/19 Devolução de texto escrito. Leitura, discussão e compreensão do curta- metragem: Vida Maria. Peritos e interrogadores. V. 0,5 26/05/19 Parágrafo padrão: conceito, tipos de introdução, tipos de desenvolvimento e de conclusão. Esquema prévio. Exposição dialogada. Apresentação grupos. 02/06/20 Parágrafo padrão: atividades, correção e elaboração de parágrafo. Correção de exercícios e texto escrito. V. 1,5 09/06/20 Avaliação G2 Prova escrita V: 6,0 16/06/20 Devolução de provas e revisão do conteúdo. Aula expositivo- dialogada. Revisão 23/06/20 Substituição de grau Prova escrita: V. 10,0 Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 7 Cronograma – turmas 7003 e 7005 Quarta-feira DATA TEMA PROCEDIMENTO METODOLÓGICO 05/02/20 Gerenciamento de relações: apresentação e entrosamento - conversa a partir de objetos artísticos. Diagnóstico a partir do conto “A infinita fiandeira”, de Mia Couto. Exercícios orais e escritos de compreensão e interpretação textuais. Interação com a turma. Compreensão e socialização de textos. Correção. 12/02/20 Apresentação do plano de ensino e do cronograma. Código verbale não verbal. Estratégia de leitura de estudo. Leitura = Iv + InV. Identificação de tópico frasal. Exposição dialogada. Exercícios e correção 19/02/20 Retomada da aula anterior. Estratégias de leitura: tema e argumentos. Paráfrase. Releitura do texto “A infinita fiandeira”, de Mia Couto. Paráfrase escrita. Exposição dialogada. Releitura, comentários. Paráfrase: v. 1,0 04/03/20 Devolução de paráfrase corrigida. Estratégia de leitura de estudo: analisar, sintetizar, interpretar e compreender. Compreensão e debate do texto Felicidade clandestina, de Clarice Lispector. Paráfrase escrita. Exposição dialogada. Paráfrase. 1,5 11/03/20 Devolução de paráfrase corrigida. Texto “A arte e a humanização do homem”. Expor de forma crítica e relacioná-lo com os textos lidos anteriormente. Sorteio e Seminário: v.0,5 18/03/20 Produção de textos de distintos gêneros: paródia, rap, cordel, outros, sobre a importância da arte para o ser humano e para o país. Elaboração de textos em grupo. v. 1,0 25/03/19 Avaliação G1 Prova escrita. V: 6,0 28/03/19 1ª. web atividade: compreensão textual e conteúdos do 1º. bimestre. Acesso interno: Conecta 01/04/20 Devolução das avaliações: correções e comentários. Revisão do plano de ensino. Estratégia de leitura: intertextualidade. Exercício. Correção de provas. Rever plano de ensino. Exposição dialogada. 08/04/20 Estratégia de leitura: sublinhar e esquematizar. Ler, compreender e esquematizar o texto “Para acabar com o preconceito racial no Brasil”, de Gislene Ramos Exposição dialogada. Leitura do texto e trabalho em grupo. V. 0,5 15/04/20 Devolução do esquema. Linguagem, Língua, fala e variações linguísticas. Sorteio Mesa redonda. V. 0,5 22/04/20 Linguagem, língua, fala e variações linguísticas: exercícios e correção. Distinção entre fala e escrita. Exercícios, comentários. “Minijúri”. 29/04/20 Leitura, compreensão e exercícios do texto “O melhor amigo”, de Fernando Sabino. Exercícios e correção. Leitura, compreensão de texto e exercícios. 06/05/20 Distinção entre fala e escrita. Reescrita de texto (da oralidade para a escrita) Exposição dialogada. V.1,0 Participação no projeto Palco. Apresentações artísticas 09/05/20 2ª. web atividade: compreensão textual e conteúdos do 2º. bimestre. Acesso interno: Conecta 13/05/19 Devolução de texto escrito. Leitura, discussão e compreensão do curta- metragem: Vida Maria. Peritos e interrogadores. V. 0,5 27/05/19 Parágrafo padrão: conceito, tipos de introdução, tipos de desenvolvimento e de conclusão. Esquema prévio. Exposição dialogada. Apresentação grupos. 03/06/20 Parágrafo padrão: atividades, correção e elaboração de parágrafo. Correção de exercícios e texto escrito. V. 1,5 10/06/20 Avaliação G2 Prova escrita V: 6,0 17/06/20 Devolução de provas e revisão do conteúdo. Aula expositivo- dialogada. Revisão 24/06/20 Substituição de grau Prova escrita: V. 10,0 Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 8 Primeira aula - Atividade diagnóstica A infinita fiandeira Autor: Mia Couto (do livro O Fio das Missangas) A aranha, aquela aranha, era tão única: não parava de fazer teias! Fazia-as de todos os tamanhos e formas. Havia, contudo, um senão: ela fazia-as, mas não lhes dava utilidade. O bicho repaginava o mundo. Contudo, sempre inacabava as suas obras. Ao fio e ao cabo, ela já amealhava uma porção de teias que só ganhavam senso no rebrilho das manhãs. E dia e noite: dos seus palpos primavam obras, com belezas de cacimbo gotejando, rendas e rendilhados. Tudo sem fim nem finalidade. Todo o bom aracnídeo sabe que a teia cumpre as fatais funções: lençol de núpcias, armadilha de caçador. Todos sabem, menos a nossa aranhinha, em suas distraiçoeiras funções. Para a mãe-aranha aquilo não passava de mau senso. Para que tanto labor se depois não se dava a indevida aplicação? Mas a jovem aranhiça não fazia ouvidos. E alfaiatava, alfinetava, cegava os nós. Tecia e retecia o fio, entrelaçava e reentrelaçava mais e mais teia. Sem nunca fazer morada em nenhuma. Recusava a utilitária vocação da sua espécie. – Não faço teias por instinto. – Então, faz por quê? – Faço por arte. Benzia-se a mãe, rezava o pai. Mas nem com preces. A filha saiu pelo mundo em ofício de infinita teceloa. E em cantos e recantos deixava a sua marca, o engenho da sua seda. Os pais, após concertação, a mandaram chamar. A mãe: – Minha filha, quando é que assentas as patas na parede? E o pai: – Já eu me vejo em palpos de mim… Em choro múltiplo, a mãe limpou as lágrimas dos muitos olhos enquanto disse: – Estamos recebendo queixas do aranhal. – O que é que dizem, mãe? – Dizem que isso só pode ser doença apanhada de outras criaturas. Até que se decidiram: a jovem aranha tinha que ser reconduzida aos seus mandos genéticos. Aquele devaneio seria causado por falta de namorado. A moça seria até virgem, não tendo nunca digerido um machito. E organizaram um amoroso encontro. – Vai ver que custa menos que engolir mosca – disse a mãe. E aconteceu. Contudo, ao invés de devorar o singelo namorador, a aranha namorou e ficou enamorada. Os dois deram-se os apêndices e dançaram ao som de uma brisa que fazia vibrar a teia. Ou seria a teia que fabricava a brisa? A aranhiça levou o namorado a visitar a sua coleção de teias, ele que escolhesse uma, ficaria prova de seu amor. A família desiludida consultou o Deus dos bichos, para reclamar da fabricação daquele espécime. Uma aranha assim, com mania de gente? Na sua alta teia, o Deus dos bichos quis saber o que poderia fazer. Pediram que ela transitasse para humana. E assim sucedeu: num golpe divino, a aranha foi convertida em pessoa. Quando ela, já transfigurada, se apresentou no mundo dos humanos logo lhe exigiram a imediata identificação. Quem era, o que fazia? – Faço arte. – Arte? Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 9 E os humanos se entreolharam, intrigados. Desconheciam o que fosse arte. Em que consistia? Até que um, mais-velho, se lembrou. Que houvera um tempo, em tempos de que já se perdera memória, em que alguns se ocupavam de tais improdutivos afazeres. Felizmente, isso tinha acabado, e os poucos que teimavam em criar esses pouco rentáveis produtos – chamados de obras de arte – tinham sido geneticamente transmutados em bichos. Não se lembrava bem em que bichos. Aranhas, ao que parece. Questão 1: O texto pertence ao gênero textual: a) reportagem, uma vez que é um conteúdo jornalístico, baseado no testemunho direto dos fatos e situações explicadas, numa perspectiva atual. b) notícia, pois relata o que aconteceu com uma aranhiça e sua família. c) crônica, pois narra um episódio do cotidiano que pode ocorrer na vida de qualquer bichinho. d) conto, pois conta uma história de ficção sobre a uma pequena aranha com talento especial. e) artigo de opinião, pois apresenta estranheza da família animal e dos humanos em relação a alguém que trabalha sempre, mas de maneira improdutiva. Questão 2: Mia Couto, autor moçambicano, escreveu em tipo textual: a) expositivo b) descritivo c) injuntivo d) narrativo e) argumentativo Justificar, se necessário: Questão 3: Sobre o texto de Mia Couto, avalie as afirmações a seguir. I) O texto de Mia Couto está escrito nos códigos verbal e não verbal. II) Ao escrever, o autor faz escolhas de palavras e entonações para expressar o que pretende. Por exemplo, o autor utilizou neologismos para enfatizar aspectos relevantes. III) O texto, organizado em discurso direto e indireto, foi escrito, predominantemente, na variante culta. IV) No excerto “e os humanos se entreolharam, intrigados”, evidencia que as ações não podem ser transcritas integralmente para a escrita. Isso mostra que escrever é diferente de falar. V) O texto sugere que a arte, atualmente, temsido muito valorizada pelo Brasil, diferente do que ocorre com os humanos encarados pela aranhiça. Estão corretas as afirmativas a) I e V, apenas. b) I, II, IV e V apenas. c) II, III e IV apenas. d) I, II, III e IV apenas. e) I, II, III, IV e V. Questão 4: Qual é o tema ou conflito principal do texto? Qual é o seu ponto de vista a respeito? Apresente dois argumentos para defender ou rejeitá-lo. Questão 5: Expor, descrever e/ou narrar (oralmente) o texto de Mia Couto de maneira pessoal (parafraseá- lo). Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 10 CAPÍTULO 1: ESTRATÉGIAS DE LEITURA Já é coisa sabida que o mais importante não são as informações em si, mas o ato de transformá-las em conhecimento. As informações são os tijolos e o conhecimento é o edifício que construímos com eles. (Antônio Suárez Abreu) Introdução Neste capítulo, discutiremos sobre o ato de ler. Veremos aspectos relacionados à compreensão e à interpretação da leitura, aos posicionamentos do leitor diante dos textos e às estratégias que podemos utilizar nessa tarefa. É preciso perceber que a leitura é indispensável para nossa formação. Ela deve fazer parte de nossa rotina, principalmente quando nos propomos a frequentar um curso superior. 1.1 Noções preliminares A leitura auxilia no aprendizado logo nos primeiros anos de nossas vidas. Ela está presente no constante desejo de decifrar e interpretar o sentido das coisas que nos rodeiam, de perceber o mundo sob diversas perspectivas, de relacionar a realidade ficcional com a que vivemos. Enfim, em todos esses casos, estamos, de certa forma, lendo. Por meio da leitura, temos a oportunidade de ampliar e aprofundar nossos conhecimentos, pois os textos formam uma fonte inesgotável de informações. Para que a leitura seja eficiente, eficaz e proveitosa e para que tenhamos compreensão adequada e assimilação do conteúdo, a atenção no que estamos lendo é essencial, caso contrário a leitura se torna superficial e sem aproveitamento para a construção do conhecimento. O processo de compreensão de textos não é uma tarefa simples, visto que depende de conhecimentos linguísticos, conhecimento prévio a respeito do assunto do texto, conhecimento geral a respeito do mundo, motivação e interesse na leitura, entre outros. É sobre isso que conversaremos na seção a seguir. 1.2 O que é leitura? Segundo Fulgêncio e Liberato (2007), leitura não é uma atividade meramente visual. O acesso à informação visual (IV), isto é, à informação captada pelos olhos, é obviamente necessário, mas não suficiente. Podemos enxergar perfeitamente um texto e, ainda assim, não conseguir lê-lo por estar escrito em uma língua que não conhecemos. Portanto, o conhecimento da língua é imprescindível para a leitura. Ele Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 11 faz parte do conhecimento que temos estocado na memória, ao qual damos o nome de conhecimento prévio ou informação não visual (InV). Além do conhecimento da língua, outros tipos de InV são igualmente importantes na leitura. Um deles é o conhecimento sobre o assunto de que trata o texto. É possível que um leitor não consiga ler um texto que, embora escrito em uma língua que ele domina, trate de um assunto sobre o qual ele não tem informações. Também nesse caso diríamos que lhe falta InV adequada (FULGÊNCIO; LIBERATO, 2007). Outro fator que contribui com o ato de ler é todo e qualquer outro conhecimento que temos e que compõe a nossa teoria de mundo. Isso inclui tudo o que sabemos, desde as coisas mais simples, como a de que “macacos comem bananas”, até relações mais complexas que podemos perceber entre objetos e acontecimentos do mundo. Todo esse conhecimento está, de alguma forma, armazenado em nossa memória, juntamente com o conhecimento da linguagem, e é utilizado no processo da leitura, permitindo dar sentido àquilo que a visão capta (FULGÊNCIO; LIBERATO, 2007). Portanto, para o processamento textual, ativamos quatro grandes conjuntos de conhecimento: • o conhecimento linguístico (o lexical e o gramatical); • o conhecimento de mundo (que inclui os esquemas, os cenários, os protótipos ou os modelos de eventos e episódios em vigor nos grupos a que pertencemos); • o conhecimento referente a modelos globais de texto (que inclui as regularidades de construção dos tipos e gêneros textuais); • o conhecimento sociointeracional, ou o conhecimento sobre as ações verbais (que inclui o saber acerca da realização social das ações verbais ou de como as pessoas devem se comportar/interagir em diferentes situações sociais). • Vamos testar esses quatro conjuntos de conhecimento a partir da charge de Rodrigo? Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 12 Resumidamente, podemos afirmar que leitura é o resultado da interação entre o que o leitor já sabe e o que ele retira do texto. Em outras palavras, a leitura é o resultado da interação entre IV e InV. Portanto a atividade pode ser representada pela seguinte fórmula: LER = IV + InV 1.3 Aprendizado da leitura A partir da definição que vimos sobre leitura, podemos dizer que é possível ensinar alguém a ler? Os pesquisadores afirmam que se aprende a ler, lendo. Dizem que, para ser um leitor competente, é necessário ler muito. É lendo muito que adquirimos a experiência para fazer leitura fluente e selecionar as informações mais importantes do texto (FULGÊNCIO; LIBERATO, 2007). 1.4 O que é leitura de estudo? Castello-Pereira (2003, p. 55) destaca que a leitura de estudo [...] é a leitura em que se faz uma interlocução com o texto [...], é a leitura que tem a finalidade de retirar tudo o que dele se possa extrair. Ou seja, é a leitura em que se busca não uma informação pontual, mas perceber como o texto se organiza, o que discute e como discute. É a leitura do estudo e do trabalho. A leitura necessária no dia a dia de quem exerce uma atividade intelectual, necessária aos estudantes de um modo geral, mas ESPECIALMENTE NECESSÁRIA AOS ALUNOS UNIVERSITÁRIOS (grifo nosso). Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 13 Para estudar um determinado texto, devemos fazê-lo como um todo até adquirir uma visão global, para que possamos dominar e entender a mensagem que o autor pretendia relatar quando escreveu. Os textos de estudos requerem reflexão por aqueles que os estudam e, portanto, exige um método de abordagem. Devemos compreender, analisar, interpretar e, para isso, temos de criar condições capazes de permitir a compreensão, a análise, a síntese e a interpretação de seu conteúdo. Analisar: decompor um texto completo em suas partes para melhor estudá-las. Sintetizar: reconstituir o texto decomposto pela análise. Compreender: identificar e/ou reconhecer as inferências e no/do texto. Interpretar: ter posição própria a respeito das ideias enunciadas no texto, isto é, dialogar com o autor. Precisamos, mais detalhadamente, verificar como se pode estudar um texto. Conforme Geraldi (1984), para avaliar se o texto foi compreendido de forma adequada, é preciso responder às seguintes questões básicas: • Qual é a questão de que o texto trata (ou qual é a tese defendida)? Ao tentar responder a essa pergunta, o leitor será obrigado a distinguir as questões secundárias da principal, isto é, aquela em torno da qual gira o texto inteiro. Quando o leitor não sabe dizer o tema do texto ou sabe apenas de maneira genérica e confusa, é sinal de que ele precisa ler com mais atenção ou não tem repertório suficiente para compreender o que está diante de seus olhos. • Qual é a opinião do autor sobre a questão posta em discussão? Disseminados pelo texto, aparecem vários indicadores da opinião de quem escreve. Por isso, uma leituracompetente não terá dificuldade em identificá-la. Não saber responder a essa questão é um sintoma de leitura desatenta e dispersiva. Quais são os argumentos utilizados pelo autor para fundamentar a opinião exposta? Deve-se entender por argumento todo tipo de recurso usado pelo autor para convencer o leitor de que está falando a verdade. É preciso identificar, também, os contra-argumentos expostos em teses contrárias. Na verdade, compreender um texto significa acompanhar com atenção o percurso argumentatório apresentado pelo autor. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 14 O linguista sugere ainda que é necessário identificar a veracidade e validade dos argumentos apresentados. Para tanto, é importante observar a “costura” do texto, isto é, como ocorre a passagem de um parágrafo para outro e como, no interior do parágrafo, se passa de uma afirmação para outra. Pode-se ainda analisar os objetivos do autor. Outra dica interessante para localizar a informação principal de um parágrafo é identificar o tópico frasal. Mas o que é um tópico frasal? Tópico frasal é a introdução do tema, é a ideia-chave do parágrafo. É (são) a(s) frase(s) que traduz(em), de maneira geral e sucinta, a ideia núcleo do parágrafo. Sua função é delimitar o tema e fixar os objetivos da redação. Ele introduz o assunto e o aspecto desse assunto, a ideia central com o potencial de gerar outros períodos, chamados de ideias secundárias. O tópico frasal serve para orientar o restante do parágrafo. Segundo Faulstich (2001), em geral, o tópico frasal está na primeira frase do parágrafo – ideia genérica –, seguido de períodos que o desenvolvem – ideias secundárias. Observe o exemplo a seguir. 1. Como é o ser negro que aprendi na escola? Lembro do retrato de um homem amarrado e a calça abaixada, apanhando num tronco. Essa era uma imagem que aparecia repetidamente nos livros escolares. Por que mostravam sempre a mesma figura negra totalmente dominada? Nunca aparecia de outra forma. Era um retrato congelado. Existem muitas outras histórias construídas pelos negros, mas, como elas não aparecem nunca, na prática são invisíveis: é como se nem existissem. E nas historinhas infantis, então? O único personagem de que me lembro é o Gato Félix, que é um gato preto. Nunca encontrei personagens negros fazendo papel principal num enredo de amor ou uma aventura. Nas poucas histórias em que eles ganham destaque, são pobres e tristes, na melhor das hipóteses. E na televisão, nos cartazes do shopping, nas revistas, a regra é esta: quando aparece a imagem de uma pessoa bem-sucedida, bonita, charmosa e competente, essa pessoa não é negra... (H.P. Lima. Histórias da preta. São Paulo: Companhias das letrinhas, 1998) Há parágrafos em que se particularizam as ideias no início do parágrafo, para, ao seu final, lançar a ideia principal genérica, como no exemplo exposto na sequência. 2. O povo não tinha liberdade para decidir sobre o que seria melhor para si, sobre a própria vida. Sua liberdade de manifestação do pensamento foi cerceada por medidas de repressão, as leis foram-lhe impostas por uma minoria opressora, ficou à mercê de Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 15 governantes ditadores. Essa foi a situação do povo brasileiro durante o período de ditadura militar. Também há parágrafos em que a ideia principal é implícita ou diluída. Nesse caso, após uma leitura atenta do parágrafo, temos de construir a ideia principal, que não estaria expressa claramente. Examine o seguinte exemplo. 3. Na Idade Média, as aulas da Universidade de Paris começavam às cinco horas da manhã. As primeiras atividades constavam de palestras ordinárias; eram as mais importantes palestras do dia. Após várias palestras regulares, havia pequeno lanche; depois, os estudantes assistiam a leituras extraordinárias, dadas à tarde pelos professores menos importantes, os quais geralmente tinham de 14 a 15 anos. O estudante gastava 10 ou 12 horas diárias com os professores, assistindo às aulas até à tardinha, quando ocorriam eventos esportivos. Depois dos esportes, o dia escolar prosseguia: existiam, ainda, as tarefas de copiar, recopiar e memorizar notas, até a luz permitir. Havia pouco intervalo no calendário escolar; as férias do Natal eram de aproximadamente três semanas, e as férias de verão, apenas de um mês. (Figueredo) A ideia principal parcial implícita: “o dia escolar medieval exigia muita dedicação”. Detalhamento dessa ideia: • palestras comuns das cinco horas até o lanche; • palestras extraordinárias após o lanche; • eventos esportivos à tardinha; e • tediosas tarefas até o cair da tarde. Com base no esquema das ideias do parágrafo, podemos formular a ideia principal: a rotina escolar exaustiva da Universidade de Paris, durante a Idade Média. A ideia principal está implícita no parágrafo, basta para tal que façamos um esquema das ideias desenvolvidas. Atividades Leia com atenção os parágrafos e grife seus tópicos frasais. Se estiverem implícitos, elabore um tópico frasal a partir das informações expostas no parágrafo. a) A multitarefa não é a bala de prata que parece ser. O cérebro humano não foi feito para o processamento paralelo de tarefas com demandas cognitivas similares, de modo que aquilo que parece ser multitarefa, de fato, implica comutação rápida entre tarefas. Estudos comprovam que a multitarefa é perniciosa tanto para a exatidão quanto para a eficiência e Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 16 pode prejudicar a aprendizagem e a rememoração. Embora seja possível melhorar as habilidades multitarefa com o tempo, há ainda um limite superior instalado no cérebro. Contudo a multitarefa também pode ser encarada como uma estratégia para enfrentar os estímulos múltiplos e competitivos e pode trazer certos ganhos em criatividade, pensamento lateral e produtividade em grupo. De modo inverso, alguns pesquisadores sugerem que é importante desacelerar de vez em quando e até mesmo desligar nossos fluxos de comunicação digital, abrindo espaço para modos mais focados, mais compassados de ler, escrever, pensar e aprender. (Dudeney, Gavin. Letramentos digitais. Trad. Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola editorial, 2016) b) A Suécia é um primor no que diz respeito à igualdade entre os sexos no trabalho e na vida pública. No Parlamento, 45% das cadeiras são ocupadas por mulheres, o maior índice internacional de participação feminina e quase o triplo da média europeia. Por consenso entre os partidos políticos, elas também estão no comando de metade dos ministérios. Um terço dos cargos de confiança no governo é reservado para as mulheres. Em nenhum outro lugar da Europa é maior a presença feminina no mercado de trabalho e tão alta a média salarial, comparada com a masculina, como na Suécia. Dentro de casa, infelizmente, a história é outra. A violência contra a mulher – incluindo aí espancamento doméstico, relações sexuais forçadas e constrangimento psicológico – é também uma das maiores da Europa. Nos últimos quinze anos, o número oficial de casos de violência contra mulheres na Suécia aumentou 40%. Em 2003, de acordo com um relatório da Anistia Internacional, 50% das agressões que chegaram ao conhecimento da polícia se referiam a surras aplicadas por marido, namorado e toda sorte de ex. Quatro em cada dez suecas, em algum momento da vida, já foram agredidas por homens. É o dobro da média europeia e um índice encontrado com maior facilidade em países menos desenvolvidos, como o Brasil. Na Europa, só em Portugal as mulheres são mais espancadas que as suecas. De acordo com estatísticas, metade das portuguesas já foi surrada pelo menos uma vez na vida. Na Holanda essa proporção é de 20% e na Espanha, de 11%. Na Inglaterra, onde a orientação policialé tratar com rigor os suspeitos de espancamento doméstico, o índice de violência no lar caiu 50% desde o início dos anos 90 (Veja, ed. 1902, 27 abr. 2005, p. 70). A partir dos exemplos analisados e das atividades, você deve ter notado que não há uma regra para identificação do tópico frasal. O importante é que você leia e analise o parágrafo com atenção, verifique em torno de que período(s) as informações são desenvolvidas. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 17 Na leitura de estudo, precisamos ficar atentos também na intertextualidade, assunto do próximo tópico. 1.5 Intertextualidade É o diálogo entre textos. Ocorre quando um texto retoma uma parte ou a totalidade de outro texto – o texto fonte. Geralmente, os textos fontes são aqueles considerados fundamentais em uma determinada cultura e que faça parte do repertório dos leitores. Segundo Ingedore e Marina, “em nossas práticas comunicativas, recorremos a textos que se cruzam e se entrecruzam em novas e variadas combinações. Intertextualidade é o nome que se dá a essa relação entre textos. No diálogo que estabelecemos entre textos, revelamos as leituras que fazemos, os filmes a que assistimos, as músicas que ouvimos, as conversas que temos na família, na escola, no trabalho, no barzinho, nas mídias sociais; a forma como explicamos o mundo, o que nele acontece e como nos posicionamos em relação a isso tudo”. (Ingedore Villaça Koch e Vanda Maria Elias. In: Escrever e argumentar. São Paulo: Contexto, 2016). Há diversas formas de fazer intertextualidade. Exemplo 1: (...) Euclides da Cunha, no livro Os sertões afirma que “o nordestino é antes de tudo, um forte” e é verdade. Enfrenta todo tipo de dificuldade e ainda assim consegue vencer, sorrir pra vida e ser um povo extremamente amável e hospitaleiro. Ninguém é culpado de ter nascido em determinada região e viver por lá. O nordeste é rico, culturalmente falando, e sua economia cresce a cada ano que passa, e em todas as áreas há personalidades conhecidas nacionalmente; isso é fato! (Antônio Edelgardo Pereira da Silva em: Preconceito contra nordestinos mostra um Brasil que não é cordial) Nesse exemplo, que é o trecho de um artigo de opinião, a intertextualidade se constitui como valioso recurso argumentativo na defesa do ponto de vista do autor. Ao criticar xenofobia contra nordestino, ele evoca Euclides da Cunha o qual afirmou que o nordestino é forte na obra Os sertões, que tem reconhecimento mundial. Exemplo 2: Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 18 É preciso ser saudável A peça publicitária “Horta de Elite”, que promove a rede de lojas Hortifruti, estabelece clara relação intertextual com o filme brasileiro de grande sucesso “Tropa de Elite” ao destacar o tomate como produto de qualidade. Isso é percebido, inicialmente, pelo próprio nome da propaganda, que substitui “Tropa” do título do filme, por “Horta”. Além disso, a peça enfatiza a superioridade da marca e seus produtos ao caracterizá-los de “elite”. Ou seja, o tomate, produto em destaque, é o melhor. É de qualidade assim como o grupo do Bope é também o mais preparado para atuar. No design do título é possível perceber que a letra “O” representa um prato com facas cruzadas e um garfo na vertical, que remete à ação de desfrutar um produto gastronômico. Isso se assemelha ao símbolo do filme, o qual apresenta uma caveira com pistolas cruzadas e uma faca cravada por cima que remete à ação de combate ao crime. Outra ligação evidente está na utilização do famoso bordão “pede pra sair”: no grupo, o policial que não for destemido e forte, deve deixar o Bope. Já na peça publicitária, a ideia é que, se o produto não for da Hortifruti, o cliente não deve confiar. Inclusive porque a marca demonstra respeito ao aspecto ecológico de produção, evidenciado na frase “Aqui a natureza é a estrela”. Por fim, no que diz respeito à imagem, o quepe policial com o logotipo da marca e a haste do fruto mostram que o tomate é a estrela da Hortifruti. Esses aspectos fazem clara referência ao Capitão Nascimento, o personagem principal (estrela) do filme. Conclui-se que, ao utilizar intertextualidade, a propaganda ficou divertida e agradável aos olhos dos consumidores os quais possivelmente sentem prazer e confiança em adquirir produtos da Hortifruti. Texto de J.A.P. (com complementação) Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 19 Exemplo 3: “(...) Quando eu era criança, ouvi contar muitas vezes a história de João e Maria, dois irmãos filhos de pobres lenhadores, em cuja casa a fome chegou a um ponto em que, não havendo mais comida nenhuma, foram levados pelo pai ao bosque, e ali abandonados. Não creio que os 7 milhões de crianças brasileiras abandonadas conheçam a história de João e Maria. Se conhecessem talvez nem vissem a semelhança. Pois João e Maria tinham uma casa de verdade, um casal de pais, roupas e sapatos. João e Maria tinham começado a vida como meninos de família, e pelas mãos do pai foram levados ao abandono. (Marina Colasanti em: De quem são os meninos de rua?) Nesse exemplo 3, a cronista Marina Colasanti compara as crianças abandonadas nas ruas das cidades brasileiras aos personagens do conto de fadas, João e Maria, que foram deixados na floresta pelos pais. Atividades Questão 1: Sobre leitura de estudo marque apenas a alternativa INCORRETA a) Deve-se entender por argumento todo tipo de recurso usado pelo autor para convencer o leitor de que está falando a verdade. b) Para ler com competência, o leitor ativa quatro grandes conjuntos de conhecimento: linguístico, de mundo, conhecimento referente a modelos globais de texto e o conhecimento sociointeracional, ou o conhecimento sobre as ações verbais. c) Analisar é decompor um texto completo em suas partes para melhor estudá-las. Já interpretar é ter posição própria a respeito das ideias enunciadas no texto, isto é, dialogar com o autor. d) Tópico frasal é a introdução do tema, é a ideia-chave do parágrafo. Sua função é delimitar o tema e fixar os objetivos da redação. O tópico frasal aparece sempre no início do parágrafo. e) Se a técnica de sublinhar encontrar as ideias que nortearam o desenvolvimento do texto, por isso ela monitora a compreensão do leitor e permite que ele faça um mapeamento do texto, o esquema é uma forma de reorganizar um texto em tópicos sequenciais ou arranjo de um modo espacial específico para permitir a visualização global e rápida. Questão 2: A Lei 10.639/2003 determina que, no currículo oficial da rede de ensino do Brasil, seja incluído “o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil”. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 20 Disponível em:https://arquivopublicors.files.wordpress.com/2013/08/2013-08-14-xaxado-a-cedraz.jpg. Acesso: 30/03/17 A respeito da lei que visa à educação de cidadãos atuantes e conscientes no seio da sociedade multicultural e pluriétnica, rumo à construção de nação democrática, avalie as afirmações a seguir. I. O modo como muitos professores concebem o cotidiano escolar, cuja preocupação maior é aprender o conteúdo. As relações interpessoais nele estabelecidas dificultam a percepção dos conflitos étnicos e, inclusive, a realização de um trabalho sistemático que propicie a convivência multiétnica, já que para muitos docentes esses problemas inexistem. II. A tirinha de Antônio Cedraz mostra como os autores dos livros didáticos têm contribuído com a concretização da lei 10.639, uma vez que eles estãoatentos à diversidade multicultural e pluriétnica da sociedade brasileira. Assim, tais escritores contribuem para a formação de uma nação sem preconceitos e intolerâncias. III. Em 14 anos da lei 10.639, é possível observar que ainda impera com força a ideologia de intolerância aos negros implantada na sociedade brasileira cuja história de quase 400 anos de escravidão foi forjada em relação direta com o preconceito e a discriminação racista. É correto o que se afirma em a) I, apenas. b) II, apenas. c) II e III, apenas. d) I e III, apenas. e) I, II e III. Questão 3: Sobre a intertextualidade, assinale a alternativa incorreta. a) A intertextualidade implícita não se encontra na superfície textual, visto que não fornece para o leitor elementos que possam ser imediatamente relacionados com algum outro tipo de texto-fonte. b) Todo texto, em maior ou menor grau, é um intertexto, pois é normal que durante o processo da escrita aconteçam relações dialógicas entre o que estamos escrevendo e outros textos previamente lidos por nós. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 21 c) A intertextualidade sempre acontece de maneira proposital. É um recurso que deve ser evitado, pois privilegia o plágio dos textos-fonte em detrimento de elementos que confiram originalidade à escrita. d) Na intertextualidade explícita, ficam claras as fontes nas quais o texto baseou-se e acontece, obrigatoriamente, de maneira intencional. Pode ser encontrada em textos do tipo resumo, resenhas, citações e traduções. e) A epígrafe, ao representar um pensamento ou reflexão filosófica, é uma forma de intertextualidade. Disponível em: http://exercicios.mundoeducacao.bol.uol.com.br/exercicios-redacao/exercicios- sobre-intertextualidade-explicita-implicita.htm (com modificações). Acesso em 25 de jan.2018. Questão 4: a) Explique como ocorre a intertextualidade nas tirinhas de Maurício de Sousa em relação ao texto Mito da caverna, de Platão. Comentário sobre o mito da caverna O Mito da Caverna é um dos textos filosóficos mais debatidos e conhecidos pela humanidade, servindo de base para explicar o conceito do senso comum em oposição ao que seria a definição do senso crítico. De acordo com a história formulada por Platão, existia um grupo de pessoas que viviam numa grande caverna, com seus braços, pernas e pescoços presos por correntes, forçando-os a fixarem-se unicamente para a parede que ficava no fundo da caverna. Atrás dessas pessoas existia uma fogueira e outros indivíduos que transportavam ao redor da luz do fogo imagens de objetos e seres, que tinham as suas sombras projetadas na parede da caverna, onde os prisioneiros ficavam observando. Como estavam presos, os prisioneiros podiam enxergar apenas as sombras das imagens, julgando serem aquelas projeções a realidade. Certa vez, uma das pessoas presas nesta caverna conseguiu se libertar das correntes e saiu para o mundo exterior. A princípio, a luz do sol e a diversidade de cores e formas assustou o ex-prisioneiro, fazendo-o querer voltar para a caverna. No entanto, com o tempo, ele acabou Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 22 por se admirar com as inúmeras novidades e descobertas que fez. Assim, quis voltar para a caverna e compartilhar com os outros prisioneiros todas as informações e experiências que existiam no mundo exterior. As pessoas que estavam na caverna, porém, não acreditaram naquilo que o ex-prisioneiro contava e chamaram-no de louco. Para evitar que suas ideias atraíssem outras pessoas para os “perigos da insanidade”, os prisioneiros mataram o fugitivo. Para Platão, a caverna simbolizava o mundo onde todos os seres humanos vivem, enquanto as correntes significam a ignorância que prende os povos, que pode ser representada pelas crenças, culturas e outras informações de senso comum que são absorvidas ao longo da vida. As pessoas ficam presas às ideias pré-estabelecidas e não buscam sentido racional para determinadas coisas. Elas evitam a “dificuldade” do pensar e refletir, preferindo contentar-se apenas com as informações que lhe foram oferecidas por outras pessoas. O indivíduo que consegue se “libertar-se das correntes” e vivenciar o mundo exterior é aquele que vai além do pensamento comum, criticando e questionando a sua realidade. Disponível em: https://www.significados.com.br/mito-da-caverna/. Acesso em 08 de fev. 2019. 1.6 Leitura de estudo Segundo Brito (apud CASTELLO-PEREIRA, 2003), para estudar um texto podemos usar algumas estratégias, como sublinhar, fazer anotações de margem no texto, realizar marcas diversas que orientam a leitura, elaborar fichamento, resumo, esquema. Examinaremos alguns desses recursos mais detalhadamente. 1.6.1 A técnica de sublinhar Ao sublinhar um texto, considere o que Castello-Pereira (2003, p. 57-58) evidencia em relação a essa estratégia de estudo: Sublinhar um texto é destacar as ideias principais, para tanto é importante ter a percepção do conteúdo do texto. “Sua finalidade é destacar elementos que servirão de orientação para consulta futura; por isso, tem de ser objetivo e restringir a palavras ou frases” (BRITO, 2001). Como é necessário encontrar as ideias que nortearam o desenvolvimento do texto, é uma estratégia que monitora a compreensão. Permite que se faça um mapeamento do texto, destacando partes ou subdivisões, tese, principais argumentos, contraposições, definições etc. Para isso, é importante perceber como o autor desenvolveu o texto. Essa marcação, além de ajudar na compreensão do texto, auxilia na concentração na hora da leitura, pois, com um objetivo, uma tarefa a realizar, uma ação concreta, se tem mais facilidade de fixar a atenção na leitura e na compreensão das ideias. Além disso, possibilita voltar ao texto lido, num outro momento, quando for necessário buscar uma ideia para fundamentar uma posição ou relembrar o lido ou, por qualquer outro motivo, fazer uma retomada do texto (grifos nossos). A autora destaca que, ao estudar um texto, devemos sublinhar apenas as ideias principais (apenas palavras-chave ou frases). A finalidade dessa estratégia é: • orientar uma consulta futura; • mapear as informações principais do texto (tese, principais argumentos, contraposições, definições etc.); Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 23 • ajudar na compreensão do texto e na concentração. Sugerimos que, ao utilizar a técnica de sublinhar, realize os seguintes passos: • leia integralmente o texto, para ver do que trata e como o conteúdo é apresentado; esclareça dúvidas de vocabulário e termos técnicos; • releia o texto para identificação das ideias principais; • grife, em cada parágrafo, as palavras que contêm a ideia-núcleo e os detalhes importantes; • assinale com uma linha vertical, à margem do texto, os tópicos mais importantes; • assinale, à margem do texto, com um ponto de interrogação ou outro sinal, os casos de discordâncias, as passagens obscuras, os argumentos discutíveis; • leia o que foi grifado para verificar se há sentido; • reconstrua o texto, tomando as palavras grifadas como base. Ao estudar um texto, sublinhe apenas o estritamente necessário, evite o acúmulo de anotações que, em vez de facilitar o trabalho, poderá dificultar e gerar confusão. Atividade Leia com atenção o texto, analise-o e grife as informações principais. As reuniões periódicas de avaliação do progresso são instrumento fundamental de planejamento e controle da equipe. Como o próprio nome sugere, o objetivo é avaliar o andamento de uma atividade ou projeto, ou mesmo o estado geral das tarefas de uma equipe, sob o ponto de vista técnico e administrativo, e tomar as decisões necessárias a seu controle. Uma reunião destas também serve para reavaliar em que pé estão as decisões tomadas na reunião anterior, e pode começarcom uma apresentação feita pelo líder, sobre a situação geral das coisas. Em seguida, cada um dos membros pode fazer um relato das atividades sob sua responsabilidade. Depois disso, repete-se o processo para o período que vai até a reunião seguinte, especificando-se então quais são os planos e medidas corretivas a ser postas em prática nesse período. Dada essa sua característica de estar orientada para uma finalidade muito particular, uma reunião desse tipo tende a ser, quando bem administrada, extremamente objetiva e de curta duração. (Maximiano, 1986, p. 60) Você deve ter notado que sublinhamos apenas palavras-chave ou parte de frases e o que está grifado faz sentido, já que podemos reconstruir o texto tomando Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 24 os trechos grifados como base. Releia o que está grifado para verificar se realmente as informações destacadas fazem sentido e se sintetizam as ideias que embasam o texto. As informações sublinhadas servem para mapearmos as informações principais do texto e, consequentemente, fazermos uma consulta futura sem a necessidade de reler o texto todo. Portanto, pratique essa estratégia e verá que ela é bastante útil ao seu estudo. Até aqui você deve ter percebido que fazer leitura de estudo é bastante diferente de ler um romance, uma revista ou um jornal, já que estudar um texto é bem mais trabalhoso. Mas é assim que conseguiremos memorizar os conteúdos e ampliar nosso conhecimento na área em que estamos nos especializando. 1.6.2 Elaboração de esquemas Ao elaborar um esquema, lembre-se das seguintes palavras de Castello Pereira (2003, p. 58): O esquema “é uma forma de reorganizar um texto em tópicos sequenciais ou arranjo de um modo espacial específico para permitir a visualização global e rápida” (BRITO, 2001). É uma atividade que pode ajudar na seleção e na organização das informações mais importantes. “O esquema é um texto que corresponde, grosso modo, a uma radiografia do texto, pois nele aparece apenas o ‘esqueleto’, ou seja, as ‘palavras-chave’, sem necessidade de apresentar frases redigidas”. Utilizam-se normalmente de colchetes, chaves, setas e outros símbolos (ANDRADE, 1997) que possam ajudar na organização e visualização das ideias. É um texto que auxilia na leitura, fundamental para desenvolver a capacidade de usar a escrita para intervenção social, estudo e trabalho (grifos nossos). A autora expõe que, na elaboração do esquema, devemos selecionar e organizar as informações mais importantes, apenas palavras-chave (“esqueleto” do texto) para que, ao final, tenhamos a visualização global e rápida, a radiografiado texto. Para isso, podemos usar chaves, flechas, retângulos, subdivisão numérica, como podemos visualizar na sequência. Esquema: chaves Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 25 Esquema: retângulos Esquema: flechas Esquema: retângulos Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 26 Esquema: subdivisão numérica Segundo Galliano (1989), o esquema deve ser disposto em uma sequência lógica que ordene claramente as principais partes do conteúdo do texto e que, mediante divisões e subdivisões, represente sua hierarquia. Assim, para a elaboração do esquema, é necessário compreender bem as relações existentes entre as diversas partes do texto, captar os conteúdos principais e refletir melhor sobre o texto. Depois de elaborado, o esquema possibilita uma rápida recordação da leitura em consultas futuras. Ler o texto seguinte para esquematização. Para acabar com o preconceito racial no Brasil Autora: Gislene Ramos Um dos conceitos mais importantes no combate ao racismo brasileiro é entender como ele é estrutural na nossa sociedade, uma vez que é construído por relações de poder e opressão. Inúmeras são as pesquisas e estudos sobre o assunto que, apesar de complexo, é essencial. (...) Para esclarecer de forma simples, vamos comparar o racismo a um gigante edifício que precisa vir abaixo. Para destruí-lo, será preciso conhecer as estruturas que formam a construção e atingir as suas bases de forma simultânea. Lá no alto, na cobertura do prédio, junto das antenas parabólicas, estão as constantes e corriqueiras manifestações de discriminação de raça. Aqueles casos de ofensas e injúria racial, que têm grande repercussão nas redes sociais, com hashtags tipo #SomosTodosMaju ou #SomosTodosTaísAraújo. É comum essas manifestações gerarem intensa comoção e manifestações de apoio. Passado algum tempo, porém, logo são esquecidas. Podemos compreendê-las como estruturas mais superficiais do racismo. Também no alto do edifício, estão as situações constrangedoras sofridas por pessoas negras, como abordagens de policiais, restrição em portas de agências bancárias, olhares tortos nas ruas ou mesmo aquela segurada de bolsa na calçada. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 27 Logo abaixo da cobertura, nos andares mais altos, estaria o sistema judiciário, com casos de prisões de homens negros e pobres sem prerrogativas ou provas consistentes, como o caso do jovem Rafael Braga, preso durante as manifestações de 2013 por portar uma garrafa de detergente, visto como potencial criminoso. Na mesma altura estão as taxas de desemprego ou subemprego da população negra. Elas são somadas aos que estão em situação de vulnerabilidade nas ruas e vítimas do vício de drogas que, de acordo com o pensamento eugenista e higienista, são vistos como criminosos. Um exemplo recente é o caso na Cracolândia, em que a prefeitura de São Paulo autorizou a invasão no local, sob o uso da violência, com o intuito de desocupar a área. Mais próximo do térreo, nos andares mais baixos, estão as instituições de ensino e a precariedade. Apesar da implementação da Lei 10.639, que determina a obrigatoriedade dos estudos da História da África e dos africanos, a dificuldade de aplicabilidade das práticas pedagógicas relacionadas às questões raciais ainda é uma realidade. Na mesma altura estão as universidades públicas e a concentração de produção de conhecimento nos estudantes e pesquisadores não-negros. Aqui também estão as faculdades que não implementam medidas reparadoras, a exemplo da Universidade de São Paulo, que aderiu tardiamente ao sistema de cotas de negros e indígenas. E nos andares térreos, encontramos estruturas do Estado, organizações legislativas cuja maioria é composta por homens brancos e pouco representam a diversidade étnica da sociedade. Por fim, em sua base, estão as relações econômicas do país, sob o sistema capitalista, juntamente com o modo de produção neoliberal. O fato é que essas práticas não estão isoladas. Apesar de estarem em andares diferentes, todas mantêm entre si diversas ligações e interdependências. Isso nos leva a compreender que o racismo estrutural é um conjunto de sistemas interligados e que se retroalimentam. Da mesma forma, as práticas mais superficiais não são menos importantes. Elas apenas revelam um dos tantos aspectos do racismo enquanto sistema de opressão. Portanto, para enfrentar e demolir tais estruturas, é preciso não somente avançar sobre a base, mas em pontos específicos, estratégicos e de forma sincronizada. Isso significa que as práticas de enfrentamento precisam estar alinhadas na perspectiva da compreensão do racismo enquanto sistema estrutural e estruturante das relações socioculturais. Sendo mais translúcida: a proposta para o enfrentamento é atingir as suas bases de forma estratégica e sincronizada, como numa demolição com o uso de bombas em pontos específicos da construção. O que seriam essas bombas? Seriam bombas em forma de disputa de narrativas nos espaços políticos, por meio de grupos de militância, agrupamentos quilombolas, organizações não-governamentais,associação de moradores, juventude organizada, grupos artísticos, mídia especializada, ativistas e influenciadores digitais. Afinal, todos carregam responsabilidades na abordagem e na disseminação do entendimento do racismo estrutural. E se o racismo é um grande prédio a ser demolido, será necessária a força de todos para a implosão. Disponível em: https://www.vice.com/pt_br/article/pa5geg/o-racismo-estrutural-e-um-grande-predio-a-ser- implodido. Acesso em 15 de fev. 2019. (com adaptações) Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 28 Questão 2: Ler com atenção o texto de Gislene Ramos, sublinhar as informações principais e depois esquematizá-las. 1.6.3 Como parafrasear textos Paráfrase é a representação de um texto ou fragmento de texto com outra forma e (hipoteticamente) o mesmo sentido básico. Consiste no desenvolvimento explicativo (ou interpretativo) de um texto do qual é necessário compreensão adequada. Corresponde a uma espécie de tradução dentro da própria língua, em que se diz, de maneira mais clara, num texto B, o que contém um texto A (GARCIA, 2006). Na paráfrase, ocorre transformação da parte formal do texto, vocabulário e estrutura da frase sem, no entanto, haver modificações das ideias ou acréscimo de informações. Vale ressaltar que comentário sobre o tema abordado no texto não é paráfrase. O que há em comum entre resumo, resenha e paráfrase? De forma breve, há algumas semelhanças entre esses três gêneros. Primeiro aspecto comum: resumo, resenha e paráfrase são recriações textuais, ou seja, são elaborados a partir de um texto alheio o qual é preciso ser compreendido de forma clara e objetiva, por isso exige leitura atenta e adequada. Segundo: para elaboração dos três é necessário, inicialmente, identificar tema, argumentos, contra-argumentos, ponto de vista do autor e outros elementos mais relevantes do texto alheio. E terceira semelhança: o autor do resumo, resenha ou paráfrase deve reorganizar as informações/argumentos, sem alterar o sentido, em novo texto, adequadamente articulado, coeso, coerente e de forma clara. Como peculiaridade, a paráfrase permite explicação para maior clareza do texto parafraseado. Já a resenha crítica permite julgamento pessoal do conteúdo, enquanto o resumo é a base para os dois. Atenção! Nossas paráfrases devem ser escritas em terceira pessoa, uma vez que parafraseamos texto de um/a determinado/a autor/a. Além disso, na introdução devem aparecer o nome do/a autor/a, o título e o tema do texto. E devem ser evitadas transcrições de trechos. O nome do autor deve ser retomado ao longo do texto parafraseado. Leia com atenção o texto exposto a seguir. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 29 O homem nu Autor: Fernando Sabino Ao acordar, disse para a mulher: — Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum. — Explique isso ao homem — ponderou a mulher. — Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago. Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento. Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos: — Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa. Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro. Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares... Desta vez, era o homem da televisão! Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão: — Maria, por favor! Sou eu! Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão. Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer. — Ah, isso é que não! — fez o homem nu, sobressaltado. E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror! — Isso é que não — repetiu, furioso. Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu. — Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si. Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho: — Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso. — Imagine que eu... A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito: Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 30 — Valha-me Deus! O padeiro está nu! E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha: — Tem um homem pelado aqui na porta! Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava: — É um tarado! — Olha, que horror! — Não olha não! Já pra dentro, minha filha! Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta. — Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir. Não era: era o cobrador da televisão. Disponível em:<http://www.releituras.com/fsabino_homemnu.asp>. Acesso em 08 de mar. 2018 .Sugestão de paráfrase Enfrentar o problema é a melhor solução1 Fernando Sabino, na crônica, O homem nu, conta de maneira bem-humorada sobre um homem que passou por apuros por não ter dinheiro em casa para pagar a prestação da TV2. O devedor3 falou para Maria, a esposa dele, que não tinha dinheiro nenhum em mãos para pagar ao cobrador que logo iria aparecer. Então combinaram que, quando o sujeito da conta chegasse, ambos iriam fingir não ter ninguém em casa. No entanto nadasaiu como planejado. Enquanto a mulher estava no banheiro, o marido aproveitou para preparar o café e apanhar o pão, deixado pelo padeiro, do lado de fora. O homem estava despido, pois pretendia tomar banho logo após a esposa. Então, quando se apossou do embrulho do pão e percebeu que atrás de si a porta havia sido fechada pelo vento, ele desesperou-se. O homem, nu, batia na porta e chamava pela mulher, porém ela pensava que fosse o cobrador, por isso preferia ficar em silêncio. Passados uns minutos, os moradores começavam a se movimentar pelo condomínio, utilizando o elevador e a escada. O homem nu, com receio de ser visto, fez malabarismos para se esconder tanto das pessoas que passavam quanto do cobrador, que a qualquer momento poderia aparecer. Mais uma vez chamou Maria e, na sequência, ouviu uma porta se abrir atrás de si: era a vizinha já de idade avançada. Evidentemente, a velhinha fez escândalo ao se deparar com o sujeito sem roupas. Nesse momento, todos foram conferir o que acontecia no local, inclusive a esposa dele. Depois de passar por tantos constrangimentos e, finalmente, conseguir vestir uma roupa, o infeliz, já dentro de casa, ouviu alguém bater à porta. Pensou que fosse um policial para verificar o que ali havia acontecido. Porém, para sua surpresa, era o cobrador. O texto apresenta um pequeno problema corriqueiro que poderia ser evitado a partir de organização e controle do consumidor, mas resultou numa tremenda confusão. E ainda, apesar de todo o esforço para não ser cobrado, o homem teve que enfrentar sua responsabilidade de pagar, na data prevista, o que devia. Ler o texto Felicidade clandestina, de Clarice Lispector. 1 Título pessoal. 2 Introdução com nome do autor, título e tema do texto. 3 Início do desenvolvimento da paráfrase. Manter 3ª. pessoa. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 31 Felicidade Clandestina Autora: Clarice Lispector Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”. Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo. E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados. Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler! E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai eduar Realce eduar Realce eduar Realce eduar Realce eduar Realce eduar Realce Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 32 emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser. ”Entendem? Valia mais do que me dar o livro: pelo tempo que eu quisesse ” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer. Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo. Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante. Questão 5: Elabore criativa paráfrase do texto Felicidade clandestina, de Clarice Lispector. Antes de escrever, tenha paciência para compreendero texto, identificar tema e argumentos e planejar o modo como reorganizar as ideias mais relevantes (e explicá-las, quando necessário). O texto deve ter estrutura completa e título. Neste capítulo, você viu que a leitura é algo imprescindível ao universitário que precisa ler muitos textos. Para fazer leitura de estudo, podemos utilizar algumas estratégias, como localizar tema e argumentos do texto, identificar o tópico frasal de um parágrafo, sublinhar, esquematizar e parafrasear as informações principais. Essas estratégias nos auxiliam nos estudos, pois são práticas de compreensão mais profunda dos textos. Portanto, é importante praticá-las a fim de que você se torne um leitor eficiente (lembre-se de que só aprendemos a ler lendo!). Bons estudos! Referências ABREU, Antônio Suárez. A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. 6. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. CASTELLO-PEREIRA, Leda Tessari. Leitura de estudo. Campinas: Alínea, 2003. DUDENEY, Gavin; HOCKLY, Nicky e PEGRUM, Mark. Letramentos digitais. Trad. Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola Editorial, 2016. FAULSTICH, Enilde L. de J. Como ler, entender e redigir um texto. Petrópolis: Vozes, 2001. FULGÊNCIO, Lúcia; LIBERATO, Yara. Como facilitar a leitura. São Paulo: Contexto, 2000. GALLIANO, A. Guilherme. O método científico: teoria e prática. São Paulo: Harbra, 1989. KOCH, Ingedore Villaça e ELIAS, Vanda Maria. Escrever e argumentar. São Paulo: Contexto, 2016. eduar Realce eduar Realce Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 33 CAPÍTULO 2: SOBRE ARTE E O SER HUMANO Ler o texto de Rose Meri Trojan, identificar o ponto de vista da autora e os argumentos mais importantes que ela apresenta para defendê-lo. E preparar-se para o seminário onde você poderá expor o conteúdo, caso seja sorteado. A ARTE E A HUMANIZAÇÃO DO HOMEM: AFINAL DE CONTAS, PARA QUE SERVE A ARTE? Autora: Rose Meri Trojan4 Esta questão tem ocupado por décadas os educadores da área de Educação Artística (particularmente a partir dos anos 80, no processo de revisão dos currículos escolares), com o objetivo de justificar a importância desta disciplina na escola básica. Contudo, estes esforços não têm convencido a maioria dos professores e alunos, a começar pela prática pedagógica que se desenvolve, mantendo a impressão de inutilidade, de perda de tempo, de "coisa supérflua". Que importância tem ficar desenhando, fazendo cartões para o dia das mães, ou bandeirinhas para as festas de São João? Devia é ter mais tempo para a leitura, a escrita, o cálculo... Esta posição é assumida até mesmo pelos dirigentes, quando, por exemplo, na ocasião da revisão do Núcleo Comum dos Currículos, em 1986, Secretários de Educação de todo o país propuseram a exclusão da Educação Artística. Esta situação nos remete novamente à questão colocada no início do texto e que parece não ter sido respondida satisfatoriamente. Afinal de contas, para que serve a arte? Para que serve a música, o teatro, a dança, as artes plásticas, o cinema? A resposta mais comum diz respeito ao prazer, ao lazer, ao deleite do espírito, e tem reforçado a idéia de "coisa supérflua", de luxo, de ocupação ociosa para quem tem tempo (e dinheiro) para freqüentar teatros, cinemas e galerias. Para a grande maioria, que não consegue nem ao menos o seu sustento básico, não é importante. Só reconhecem a importância da arte os artistas e educadores da área, que enfatizam seu papel no desenvolvimento da famigerada criatividade, da expressão das emoções, das habilidades sensíveis e que chegam até ao limite de propor a arte como fundamento para a aprendizagem de todo e qualquer conhecimento. De certa forma, esta defesa acaba reforçando a idéia do supérfluo. Que importância tem conhecer Mozart ou Leonardo da Vinci, ser sensível e criativo, para o mundo do trabalho, na época dos computadores e satélites? Ou, que importância tem a música erudita, o balé clássico ou a pintura cubista, para uma multidão de analfabetos? Cultura inútil! No entanto, a arte sobrevive - inutilmente ou não, todo mundo ouve música, dança, assiste a filmes e se preocupa em pendurar nem que seja a gravura de um calendário na parede (não estamos aqui afirmando que tudo é arte ou nos propondo a um julgamento de valor estético, mas destacando a evidência da necessidade de contato das pessoas com objetos ou atividades cujo sentido é predominantemente artístico). Do Renascimento até hoje, artistas são consagrados e se transformam em ídolos. Os meios de comunicação de massa reservam um espaço significativo para as manifestações artísticas. Por quê? Para quê? Por mais que se imponha como atividade dispensável, a produção artística não se justifica somente como luxo e decoração para as elites. Prova disso são o rádio e a televisão que, através da veiculação de música, novelas e filmes, ocupam a maior parte das horas de lazer da classe trabalhadora. 4 Professora do Departamento de Planejamento e Administração Escolar da Universidade Federal do Paraná Guest Highlight A resposta mais comum diz respeito ao prazer, ao lazer, ao deleite do espírito, e tem reforçado a idéia de "coisa supérflua", de luxo, de ocupação ociosa para quem tem tempo (e dinheiro) para freqüentar teatros, cinemas e galerias. Para a grande maioria, que não consegue nem ao menos o seu sustento básico, não é importante. Guest Highlight inutilmente ou não, todo mundo ouve música, dança, assiste a filmes e se preocupa em pendurar nem que seja a gravura de um calendário na parede Guest Highlight Prova disso são o rádio e a televisão que, através da veiculação de música, novelas e filmes, ocupam a maior parte das horas de lazer da classe trabalhadora. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 34 Então, para que serve a arte? Se todas as respostas ainda não convenceram, a prática teima em contradizer o mito da inutilidade. O problema que se coloca então é o de encontrar a resposta certa. É preciso fazer uma limpeza no terreno da arte, no processo histórico de sua construção, na obra enquanto mercadoria, no consumo privado, nos desvios provocados pelo modo de produção de nossa sociedade e pelos valores (ou anti-valores) que produziu e produz. Se o valor da obra de arte se coloca por um lado nos domínios do prazer e da beleza, por outro não escapa da mercantilização. A possibilidade de acesso ao prazer e à beleza está presa à condição de pagar pelo seu preço. Isto significa que, do mesmo modo que o consumo de produtos que atendem às necessidades básicas de sobrevivência (como alimentação, saúde, habitação...), os produtos da arte se apresentam como mercadorias. Assim, não há possibilidade de escolha entre "o pão de cada dia" e o mais belo espetáculo artístico para a maioria daqueles que, tendo garantida sua subsistência, têm recursos "sobrando" para investir no deleite do espírito. Está dada a sentença! E agora? Voltamos ao começo: todas as aparências reforçam o papel secundário da arte, mas ainda não dão conta de explicar sua existência. Precisamos mergulhar nestas aparências que se manifestam na vida real dos homens, no seu cotidiano, para encontrar respostas mais convincentes que possam mostrar ou quem sabe até ampliar a importância da arte na existência humana. O que acontece às pessoas quando entram em contato com alguma forma de manifestação artística? A beleza de um quadro, de uma música, de um filme, nos comove - nos faz rir, chorar, pensar... Por quê? A história que se passa no filme não tem nada a ver com a nossa história, nem com o nosso tempo, nem com as atividades que desenvolvemos, mas pode nos comover até às lágrimas. Por quê? Talvez a resposta seja a de que comove porque é humana. Por que é humana? Porque mostra a vida dos homens que ontem, hoje e amanhã, são homens - que pensam, agem, trabalham, se relacionam,são felizes e sofrem. É isto que permite que uma peça de Sheakespeare tenha validade hoje, quando seu tempo não mais existe. Ou que um filme de ficção futurista mostre fatos que se relacionam com o mundo de agora. Aqui se põe outro mistério, a ser desvendado: este caráter universal humano que se manifesta numa obra particular. A obra se manifesta historicamente, numa determinada época, de acordo com os seus costumes, com as suas possibilidades, condicionada pelo desenvolvimento científico e tecnológico do seu tempo, mas pode ultrapassá-lo e permanecer. A Quinta Sinfonia de Beethoven ainda é atual porque revela sentimentos humanos que ainda nos perturbam enquanto humanidade. Os ritmos sertanejos tocam as pessoas que vivem nas cidades, o rock alcança as mais remotas regiões rurais. As emoções revelam a luta dos homens pela superação de sua sobrevivência e conquista da felicidade - ah! o reino da liberdade. O avanço tecnológico dos meios de comunicação e, contraditoriamente, a necessidade crescente de expansão do mercado capitalista, promovem a universalização da cultura artística, ao mesmo tempo em que reduzem a possibilidade de acesso aos seus produtos. A condição para concretizar o caráter universal da arte está, ao mesmo tempo, dada e negada. Contudo, esta universalidade não se descola da obra de arte, que se põe como síntese de toda a potencialidade humana - a possibilidade de ser inteiro, perfeito, capaz de realizar tudo. É a história do final feliz, todos querem um final feliz na vida e na arte, ou na arte e na vida... Por outro lado, revela também a importância dos homens diante do mundo, as limitações, os fracassos, as negações... Leva a refletir, a compreender a realidade humana na sua totalidade. A beleza e a feiúra do mundo, a realidade e o sonho, fazem parte da arte. A obra artística, enquanto objeto produzido pelo homem, revela o próprio homem - quem ele é e o que pretende ser, aquilo que faz e o que pretende fazer, aquilo de que gosta e o que lhe desgosta, o que lhe dá prazer e o que causa dor. O subjetivo torna-se objeto e o objeto remete ao sujeito. Todo produto da atividade humana revela o seu criador: o homem. Desde as máquinas e as construções arquitetônicas mais sofisticadas, às elaborações artesanais mais simples como um agasalho de tricot ou um "pão feito em casa". Esta capacidade de humanizar tudo o que toca, criando formas cada vez mais avançadas de atender às suas necessidades, tem como Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 35 resultado, além da finalidade utilitária do produto, a satisfação da realização, da conquista sobre o que já era dado. A conquista do objeto útil gera a criação da beleza: não é só uma máquina mas é uma forma bela, não é só uma construção mas é uma bela casa, não é só um agasalho mas é uma bela blusa, não é só um pão mas é o pão que eu fiz. É uma beleza! Esta possibilidade de realização e conquista da beleza se descola do objeto útil (que nos leva, por exemplo, a escolher os utensílios domésticos e as nossas roupas pela sua beleza), e leva à produção de objetos que se diferenciam dos demais por ultrapassar os limites da utilidade imediata e ter como função específica a manifestação do próprio homem, de sua potencialidade. Esta qualidade da criação humana permite, então, quando esgotado o valor utilitário de um objeto, a permanência do seu valor estético. O que nos leva a admirar aquilo que chamamos hoje de antigüidades - uma velha máquina de costura, um lampião a gás, ou uma pirâmide do Egito. A obra de arte, portanto, é o sujeito objetivado, é a revelação do homem e da sua capacidade de criação. E, por isso, é assimilada subjetivamente - através da emoção, da reflexão, do pensamento. Então, por que as pessoas se comovem, se emocionam, mas não se dão conta de sua relação pessoal com a obra e com a humanidade através dela? A hipótese mais coerente aponta para a polarização entre razão e emoção. Como se a pessoa humana fosse dividida em compartimentos - uma parte pensa, outra se emociona, uma trabalha e outra descansa. Esta polarização entre razão e emoção se desenvolve no processo de consolidação do modo de produção capitalista, onde o trabalho não deixa espaço para sentimentalismos, onde a qualidade e a quantidade dos produtos está acima da possibilidade de realização humana e do prazer que dela decorre. Primeiro, relaciona-se com a visão lógico-formal de certo e errado, verdade e engano: se está certo, não pode estar errado e vice-versa. Desse modo, a razão tem fundamento na verdade, na ciência, no controle consciente da ação. E, se assim é, razão é oposta à emoção, pois esta escapa ao controle, é espontânea, instável, irracional. Em segundo lugar, esta oposição se faz pela separação entre trabalho e lazer. O trabalho é coisa séria, racional, controlada, penosa, enquanto o lazer é fútil, emocional, solto, prazeroso. Mas, onde fica o limite entre razão e emoção? Se a racionalidade é condição para a construção da ciência e da verdade, não é o único fator que as determina - a verdade é histórica e se transforma à medida que o conhecimento científico avança e ultrapassa limites, a verdade de ontem já não tem validade hoje. A emoção não dispensa a razão, nem sempre é descontrolada e espontânea - mas leva o homem a agir, acompanha sua realização e pode contribuir para explicá-lo. Se razão e emoção não são, por certo, sinônimos, nem por isso se excluem, nem por isso se contrapõem. Razão e emoção são qualidades humanas, que se dão no pensamento e se concretizam em ações, ao mesmo tempo e de diferentes maneiras. Cabe explicar como se dão, historicamente, as manifestações racionais e emocionais dos homens e encontrar suas relações. Talvez seja esta uma das respostas que procuramos para recompor o ser humano enquanto uma totalidade indivisível, plena, omnilateral. Desta forma, poderemos fazer uma análise concreta da dicotomia entre o prazer e o não- prazer, entre o lazer e o trabalho, ou seja, entre a arte e o trabalho. Mas se a atividade artística é considerada como não-trabalho, como ocupação para as horas de lazer, nem por isso deixou de se submeter às leis da produção geral - transformou-se, como os demais produtos, em mercadoria. E assim, transformando-se em mercadoria, tornou-se objeto supérfluo, luxo para aqueles que podem dispor de recursos que ultrapassam os limites das necessidades básicas de sobrevivência. Por um lado, o acesso à arte consagrada e valorizada socialmente ficou restrito a um público seleto. E, por outro, passou a agregar valor aos objetos úteis (como, por exemplo, os móveis domésticos e as roupas) através do refinamento estético e do embelezamento das formas, tornando-os também objetos de luxo. eduar Realce eduar Realce eduar Realce Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 36 Se analisarmos historicamente o nascimento da arte (ou daquilo que hoje chamamos de arte), constatamos que esta surge no próprio objeto útil através da decoração dos utensílios e das ferramentas. São inúmeros os exemplares de cerâmica, artefatos de pedra ou de osso que apresentam pinturas e gravações. E é justamente ultrapassando o valor de uso do objeto e acrescentando a ele o valor estético (enquanto valor humano, beleza e significado) que se torna possível ao homem produzir objetos que explicitem especificamente este sentido, independentemente de sua utilidade prática, imediata. É o que podemos perceber nas pinturas das cavernas, nas estatuetas de terracota e depois nos murais, quadros, filmes etc... Esta produção que tem origem no objeto útil e que dele se descola, a ele retorna à medida que se desenvolve o processo de divisão e complexificação do trabalho. À medida que todo consumo se torna privado e que todo produto se torna mercadoria, o objeto artístico tem que se submeter à lógica do capital. Não existem mais mecenas e protetores das artes, não existemmais "artistas oficiais" patrocinados pelos monarcas, não há condições para que os homens trabalhem para obter seu sustento e se ocupem ao mesmo tempo com a arte... Assim, os artistas tornam-se trabalhadores, profissionais da área, que precisam comercializar seus produtos. É deste modo que uma atividade por princípio não-produtiva se insere no mercado, ou seja, torna-se trabalho produtivo e passa a gerar riqueza. Os teatros e cinemas são espaços fechados para que se possa "pagar a entrada", as pinturas são quadros/objetos que se pode vender, as músicas são gravadas em discos, as poesias impressas em livros, e assim por diante... Neste sistema, o que era incompatível passa a ser compatível e impõe a solução de um problema: como definir o valor de uma obra de arte? O valor de um produto do trabalho se define pelo seu custo de produção (matéria-prima, insumos, tempo de trabalho necessário etc.). Ora, partindo do valor estético do objeto (que teria como função expressar o homem e a sua humanidade) não se pode estabelecer o valor de troca de uma poesia considerando o tempo que o poeta dispôs para compô-la, ou de uma pintura considerando o custo da tela e das tintas, pois a essência desta produção não é material: são as palavras, as imagens, os sons que utilizam de algum "suporte" para tornar objetiva a compreensão que estabelecem com os outros, com a natureza, com o trabalho... e consigo mesmos. Desse modo, são criados artificialmente critérios que possibilitam a produção, distribuição e consumo dos objetos artísticos. E podemos afirmar que são artificiais, porque não é difícil perceber a diferença entre o consumo e a propriedade privada dos objetos úteis e dos artísticos. O alimento, o vestuário, os utensílios pessoais, são consumidos pessoalmente. A música que eu ouço, o quadro que eu vejo, a peça teatral a que eu assisto, pode ser ouvida, visto e assistida por milhares de pessoas sem que se "desgastem" e sem que se "reduza" o seu valor ou durabilidade. É preciso, pois, analisar "a solução" que se encontrou para o "problema" de valor de mercado da obra de arte. Precisamos desmontar estes critérios, que hoje temos como naturais, tais como a criatividade e a originalidade, e os confrontarmos com as formas de satisfação estética presentes nas atividades cotidianas dos homens no mundo moderno. E preciso desmascarar o fetiche desta mercadoria. O que é criação, e o que não é? O que é original, e o que não é? E que fatores permitem dar mais valor ao objeto mais criativo e original? E, ainda, qual é a razão objetiva que nos permite afirmar que são estes os critérios efetivamente artísticos? A atividade humana é essencialmente criadora - resulta da ação intencional do homem para transformação da realidade, para responder de forma cada vez mais satisfatória às suas necessidades básicas de sobrevivência e a tantas outras que são criadas no seu processo de humanização. A criatividade está presente no trabalho material e não-material, na atividade produtiva e não-produtiva, à medida em que acrescenta transformações/inovações nos objetos, a fim de que estes cumpram melhor a sua finalidade. Mas o que permite valorizar um objeto em relação a este critério não é especificamente seu grau de inovação, mas sua relação com a finalidade pretendida. Desse modo, a criatividade considerada em si mesma não tem sentido, é vazia, destituída de significado,... supérflua. Talvez seja esta a razão que torna o produto artístico inútil e supérfluo - desligar o valor da criação de sua finalidade não tem sentido! Por outro lado, a originalidade está intimamente eduar Realce eduar Realce Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 37 ligada à criatividade - todo objeto original é produto da criação, da inovação - o que nos leva ao mesmo beco sem saída. O original só tem sentido quando satisfaz uma necessidade. Mas o sentido de original, hoje, nos remete a outro significado, o de exclusivo, único, irrepetível. Este sentido se relaciona à propriedade privada de algo que é único no mundo: um quadro de Van Gogh, um manuscrito do século XVIII... ou um vestido assinado por Saint-Laurent! A mercantilização da obra de arte subverte então a sua finalidade. A propriedade privada se opõe ao caráter universal da arte; aquilo que tem a função de comunicar através de imagens e sons a percepção do homem sobre a realidade e sobre si mesmo é incompatível com a restrição do consumo individual e privado. Para cumprir sua função humanizadora e satisfazer a necessidade de prazer estético, a obra de arte precisa ser compartilhada, difundida, acrescida de muitos olhares e significados. Este processo de mercantilização, tendo em vista a estrutura de nossa sociedade dividida em classes, traz outras implicações. O mercado artístico não sobrevive apenas da comercialização dirigida às elites: pela própria essência do capitalismo, precisa se expandir, atingir sempre um maior público consumidor. Se partirmos do pressuposto de que a atividade artística responde a uma necessidade humana, queremos crer que esta não é privilégio das elites possuidoras - o privilégio está no acesso, na possibilidade de consumo privado - e que, portanto, existe um mercado disponível, mas que não dispõe de condições materiais para usufruir do luxo de uma obra original. Desse modo, passamos a ter vários "tipos" de arte: arte erudita, arte popular, arte de massas... Por um lado, a impossibilidade de acesso aos instrumentos e técnicas mais refinadas leva as classes subalternas a produzirem artisticamente de forma menos elaborada. E, por outro, esta mesma impossibilidade determina a "necessidade" de produzir objetos mais "baratos", para que possam ser consumidos por um público maior. Desse modo, temos os artistas populares, os artesãos (que nem sequer merecem a denominação de artistas) e a produção em série que, de um modo ou de outro, satisfazem a necessidade de acesso à arte daqueles que não podem pagar ou que podem pagar menos. Se não pudermos pagar pela apresentação de uma orquestra ou grupo teatral, ouvimos um programa de rádio ou assistimos a uma novela na televisão. Se não podemos compor uma sinfonia, temos uma modinha de viola; se não temos ópera, temos carnaval, e assim por diante. Tal como os demais produtos, os artísticos são hierarquizados na sua produção e valorização de acordo com o "público" (classe social) a que se destina. Contudo, ao discriminar o processo de produção e distribuição da arte através de critérios arbitrários, o sistema capitalista prejudica, de modo implacável, a todos os produtores e consumidores, indistintamente. Ao definir o valor de troca destes produtos, apoiado nos critérios da criatividade e originalidade descolados de sua finalidade, retira o conteúdo da obra e reduz a capacidade de sua compreensão e, conseqüentemente, distorce o prazer estético. De um lado, os consumidores da elite têm o prazer do acesso aos produtos mais refinados e a propriedade privada de originais, e a grande massa tem o prazer de ter contato com os artistas famosos que aparecem na televisão, numa apresentação de auditório ou em revistas especializadas. E à grande maioria, aqui independentemente da origem de classe, é negada a possibilidade de compreender de modo mais humano, com maior profundidade, o conteúdo da obra de arte. De outro lado, os produtores/artistas (também classificados pela sua origem de classe ou pelo público a que se destinam) também sofrem os efeitos deste sistema. Ou produzem de forma menos elaborada por falta de condições técnicas e materiais (a chamada arte popular) ou produzem diferenciadamente para os diferentes públicos (como, por exemplo, atores que se apresentam no teatro e na televisão). Aqui, nos deparamos com outros problemas que merecem maior aprofundamento: tanto produtores quanto consumidores têm acesso diferenciado ao conhecimento técnico necessário para a produção de várias formas de representaçãoartística; tanto uns quanto outros sofrem influência da mídia e do mercado na formação do gosto estético; uns e outros, inocentemente ou não, contribuem (especialmente através dos meios de comunicação de massa) para consolidar a hegemonia necessária para a manutenção do modo de produção capitalista. eduar Realce eduar Realce eduar Realce eduar Realce eduar Realce Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 38 Cada uma destas questões merece um estudo à parte, como também produz reflexos na realidade humano-social em geral e na produção, distribuição e consumo da arte em particular. Esta problemática nos remete à preocupação enunciada no início do texto: a função da arte na sociedade e na escola. Eis que não se pode resolver o problema da Educação Artística na escola sem recuperar a função da arte para o homem. Assim, se não podemos prescindir do prazer estético, é indispensável tornar claro o porquê - esta difusa, inexplicável sensação de que arte é supérfluo, é luxo, mas é algo de que não podemos abrir mão. Por quê? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CANCLINI, Néstor García. A socialização da arte: teoria e prática na América Latina. São Paulo: Cultrix, 1984. KOPNIN, P. V. A dialética como lógica e teoria do conhecimento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. KOSIK, Karel. Dialética do concreto. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. LEFEBVRE, Henri. Lógica formal, lógica dialética. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991. LUKÁCS, Georg. Introdução a uma estética marxista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. MARX, Karl. Manuscritos econômico-fdosóficos e outros textos escolhidos. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. SANCHES VÁSQUEZ, Adolfo. As idéias estéticas de Marx. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. Educ. rev. no.12, Curitiba Jan./Dez. 1996. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script =sci_arttext&pid=S0104-40601996000100007. Acesso em: 02 fev. 2020. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 39 CAPÍTULO 3: FALA E ESCRITA Introdução Neste capítulo, analisaremos as diferenças entre as duas modalidades da língua – fala e escrita. 3.1 Diferenças entre fala e escrita A fala e a escrita são as duas modalidades da língua. Veremos algumas diferenças nas condições de produção de um texto oral e de um texto escrito e as distinções entre essas duas modalidades. De acordo com Fávero, Andrade e Aquino (2000), podemos distinguir a modalidade oral e a escrita por meio do que é exposto no quadro 1. Quadro 1 – Condições de produção (em geral)* Fala Escrita Interação Ocorre face a face. Ocorre a distância (espaço- temporal). Planejamento É simultâneo ou quase simultâneo à produção. É anterior à produção. Criação É coletiva: administrada passo a passo. É individual. Revisão Não há possibilidade de apagamento. Há possibilidade de revisão. Consultas Não há condições de consulta a outros textos. A consulta é livre. Reformulação Pode ser promovida tanto pelo falante como pelo interlocutor. É promovida apenas pelo escritor. Reações do interlocutor O acesso é imediato. Não há possibilidade de acesso imediato. Processamento do texto Pode redirecionar o texto, a partir das reações do interlocutor. Pode processar o texto a partir das possíveis reações do leitor. Processo de criação Mostra todo processo. Tende a esconder processo de criação, mostrando apenas o resultado. *É preciso ficar atento às modificações constantes de produção textual promovidas pelas ferramentas digitais. Além dessas diferenças, destacamos as que estão expostas no quadro 2. Analise-o com atenção. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 40 Quadro 2 – Distinções específicas entre fala e escrita Fala Escrita Ampla variedade (variações linguísticas) Modalidade única (língua padrão) Elementos extralinguísticos Sinais gráficos Prosódia e entonação Sinais gráficos Frases mais curtas Frases mais longas Redundância, repetições, reduplicações Concisão Flutuação quanto à temática Rigidez de tema Presença do interlocutor Ausência de interlocutor Aprendizagem “natural” Aprendizagem “artificial” E mais: hesitações, marcas interacionais, palavras abreviadas ou sobrepostas Variante culta / norma padrão Essas diferenças são meramente ilustrativas, já que tanto o texto oral quanto o texto escrito têm níveis de formalidade e de informalidade que variam de acordo com o contexto em que foram produzidos (interlocutor, intenção, objetivo etc.). Conversação espontânea “Eh... eu vou falar sobre a minha família... sobre os meus pais... o que eu acho deles... como eles me tratam... bem... eu tenho uma família... pequena... ela é composta pelo meu pai... pela minha mãe... pelo meu irmão... eu tenho um irmão pequeno de... dez anos... eh... o meu irmão não influencia em nada... minha mãe é uma pessoa super legal... sabe?” Nesse texto, percebemos hesitações (eh..., de...) e marcas interacionais (sabe?). Ao eliminar as marcas estritamente interacionais, hesitações e partes de palavras, além de eliminar as pausas, representadas por três pontos (...) e inserir a pontuação. E, por último, retirar as repetições, reduplicações e redundâncias, o texto fica da seguinte forma: “Vou falar de minha família e de como meus familiares me tratam. Minha família é pequena – meu pai, minha mãe e um irmão pequeno de 10 anos, que não influencia em nada. Minha mãe é legal”. (Disponível em: <http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais16/sem10pdf /sm10ss 02 _09.pdf>. Acesso em: 8 fev. 2015.) Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 41 Atividades Questão 1: Identifique com O as características que se referem à oralidade e E as que se referem à escrita. a) É mais abrangente. Mesmo as pessoas não alfabetizadas, mas que conheçam o código, são capazes de se comunicar, fazendo uso dessa modalidade. b) Há possibilidade de correção e apagamento. c) É mais prestigiada socialmente. d) O emissor pode perceber a reação do receptor, pois estão face a face. e) A presença de pausas é constante, ora vazias, ora preenchidas por expressões como “hã”, “hum”, entre outras. f) Usa pontuação para representar, de alguma forma, a entonação e o ritmo da modalidade oral. Leia o segmento. Bom1... o...2 eu tenho impressão que o rádio provocou uma revolução... no país na medida que::3 .. ah4... principalmente o rádio de pilha, né?5 quer dizer o rádio de pilha6 representou a quebra de um isolamento do homem do campo principalmente quer dizer então7 o homem do campo que nunca teria condição de ouvir:: falar:: de outras coisa..8. de outros lugar... de outras pessoas, entende?9 Através do rádio de pilha ele pôde se ligar ao resto10 do mundo (...). (Fragmento de texto do NURC/SP – D2 255 [diálogos entre dois informantes], 116-117). Questão 2: Identifique os elementos da oralidade que aparecem no texto acima. Texto para a questão 3: VAGUIDÃO ESPECÍFICA Autor: Millôr Fernandes. In: Trinta anos de mim mesmo “As mulheres têm uma maneira de falar que eu chamo de vago-específica” (Richard Gehman) - Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte. - Junto com as outras? - Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer qualquer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia. - Sim senhora. Olha, o homem está aí. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 42 - Aquele de quando choveu? - Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo. - Que é que você disse a ele? - Eu disse para ele continuar. - Ele já começou? - Acho que já. Eu disse que podia principiarpor onde quisesse. - É bom? - Mais ou menos. O outro parece mais capaz. - Você trouxe tudo pra cima? - Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou para deixar até a véspera. - Mas traga, traga. Na ocasião, nós descemos tudo de novo. - É melhor senão atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite. - Está bem, vou ver como. Questão 3: É verdade que, quando as pessoas são próximas e se conhecem muito bem, não são necessárias muitas palavras para elas se entenderem, como ocorre no texto de Millôr. Mas em relação à escrita, é distinto. -Refaça, criativamente, a crônica humorística, de forma que as informações apareçam claramente no diálogo entre as duas falantes. Referências DELL’ ISOLA, Regina Lúcia Péret. Retextualização de gêneros escritos. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007. FÁVERO, L. L; ANDRADE, M. L. C. V. O.; AQUINO, Z. G. O. Oralidade e escrita: perspectiva para o ensino de língua materna. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2000. GLOSSÁRIO CEALE. Retextualização. Disponível em: <http://ceale.fae.ufmg.br/ app/webroot/glossarioceale/verbetes/retextualizacao>. Acesso em: 16 fev. 2016. MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2004. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 43 CAPÍTULO 4: LÍNGUA, LINGUAGEM, FALA E VARIAÇÃO LINGUÍSTICA As formas discriminadas têm um uso muito mais frequente do que se pensa, inclusive na fala e na escrita das pessoas que discriminam a língua dos outros [...]. Se é essa a realidade, a disposição para apontar erros na fala de outros não tem propósito edificante de corrigi-los; é antes uma forma de excluir o outro e de reforçar uma desigualdade percebida. (Ilari e Basso) Introdução A língua não é imutável e homogênea. Ela está em constantes modificações. O nosso português originou-se do latim vulgar, que, por sua vez, veio de outra língua. Os estudiosos afirmam que as variações de qualquer língua não são aleatórias, pois há alguma razão para que elas ocorram. Dificilmente dois falantes se expressam do mesmo modo, assim como um único falante raramente se expressa da mesma maneira. Por exemplo, um falante pode dizer chegamos como [chegãmus], e outro como [chegãmu], um mesmo falante pode utilizar essas duas formas em situações diferentes. Há vários fatores que contribuem para a variação linguística. Entre elas, estão a identidade do emissor e do receptor e condições sociais de produção. Em relação ao primeiro fator, pertencem as variantes geográficas e socioculturais (nível social, grau de escolaridade, idade, sexo, profissão). Em relação ao segundo, pertencem as variantes de registro ou estilísticas, que se referem à adequação da linguagem à finalidade específica da interação verbal, ou seja, adequar a linguagem à situação e à identidade do receptor. É sobre língua, linguagem, fala e variações linguísticas que conversaremos neste capítulo. 4.1 O que é língua, linguagem e fala? Começaremos este capítulo com algumas definições de língua elaboradas por alguns linguistas brasileiros renomados. Você verá que grande parte deles sente dificuldade em defini-la, não por falta de conhecimento, mas por causa da complexidade. Vamos às definições. 4.1.1 Língua Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 44 Fiorin (2003, p. 72) assevera que não se satisfaz com definições da língua que a veem [...] como instrumento de comunicação, ou como um sistema ordenado com vistas à expressão do pensamento, nada disso. [...] a linguagem humana é a condensação de todas as experiências históricas de uma dada comunidade, é nesse sentido que nós temos que ver a língua. [...] o aspecto mais relevante a verificar é que a língua é, de certa forma, a condensação de um homem historicamente situado (grifo nosso). Marcuschi (2003, p. 132) acredita que [...] a língua deve ser entendida principalmente como uma atividade e não um sistema ou forma. Ela é um domínio público de construção simbólica e interativa do mundo, ou seja, uma “atividade constitutiva” [...]. Língua é mais do que um conjunto de elementos sistemáticos para dizer o mundo. [...] Língua se manifesta como uma atividade social e histórica desenvolvida interativamente pelos indivíduos com alguma finalidade cognitiva, para dar a entender ou para construir algum sentido. [...] língua é atividade sociointerativa (grifo do autor). E de acordo com Geraldi (2003, p. 78) [...] a língua é o produto de trabalho social e histórico de uma comunidade. É uma sistematização sempre em aberto. [...] É o produto de um trabalho do qual ela mesma é instrumento. [...] a língua, enquanto esse produto de trabalho social, enquanto fenômeno sociológico e histórico, está sendo sempre retomada pela comunidade de falantes. E ao retomar, retoma aquilo que está estabilizado e que se desestabiliza na concretude do discurso, nos processos interativos de uso dessa língua (grifo nosso). Você deve ter observado que os pesquisadores acreditam que a língua é um fenômeno social e histórico. Isso significa que não podemos vê-la simplesmente como uma forma de comunicação ou de expressão do pensamento. A língua é uma atividade sociointerativa, pois por meio dela os sujeitos agem uns sobre os outros e realizam suas práticas sociais. E então qual a diferença entre língua e linguagem? 4.1.2 Linguagem Para Matos (2003), a linguagem é um sistema cognitivo e por meio dele podemos adquirir línguas, ou seja, a língua seria uma manifestação particular da linguagem. Marcuschi (2003, p. 133) acrescenta que a linguagem é uma faculdade da espécie humana, e a língua é “uma das formas de se organizar, efetivar, Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 45 concretizar essa faculdade humana, assumindo histórica, social e culturalmente uma determinada maneira de ser”. Fiorin (2003, p. 72) contribui para a definição de linguagem ao afirmar que “a língua é uma maneira particular pela qual a linguagem se apresenta. A linguagem humana é essa faculdade de poder construir mundos. [...] E a língua é uma forma particular dessa faculdade de criar mundos”. Ataliba de Castilho (2003, p. 53) concorda com os autores citados ao afirmar que a “linguagem encerra um entendimento mais amplo do que língua. A língua é só de natureza verbal e a linguagem não, é o conjunto de todos os sinais que o ser humano foi criando”. Então a língua é uma das manifestações possíveis da linguagem e ambas se realizam nas práticas sociais pelos sujeitos. 4.1.3 Fala Recorremos à teoria de Saussure para definir o que é fala. O autor assevera que [...] o estudo da linguagem comporta duas partes: uma essencial tem por objeto o estudo da língua, que é social em sua essência e independe do indivíduo; a outra, secundária, tem por objeto a parte individual da língua, isto é, a fala,e compreende a fonética: ela é psicofisiológica (SAUSSURE apud DUBOIS et al., 2004, p. 261). Como você já tinha visto antes, a língua é produto social. Já a fala é individual, particularizada, meio pelo qual a língua se realiza por determinado sujeito. Chegamos, nesse ponto dos estudos, à seguinte conclusão: língua é o que permite a comunicação em determinada comunidade linguística, em determinado grupo social. Diferencia-se da fala porque, enquanto a língua é um conjunto de potencialidades da fala, a fala é um ato de concretização da língua. Então o que diferencia fala de língua é que a língua é sistemática, tem certa regularidade e é falada por uma determinada comunidade; já a fala é parcialmente sistemática, pois é variável e realizada individualmente. Recapitulando: a linguagem é uma característica humana universal; enquanto a língua é a linguagem particularde uma comunidade, um grupo, um povo; já a fala é a realização concreta da língua feita por um indivíduo. E a língua é utilizada pelos falantes da mesma forma? Esse é o próximo assunto: a variação dialetal do português no Brasil. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 46 4.2 Variação dialetal Qualquer língua, falada por qualquer comunidade, exibe sempre variação. Pode-se afirmar mesmo que nenhuma língua se apresenta como entidade homogênea. Isso significa dizer que qualquer língua é representada por um conjunto de variedades. Concretamente, o que chamamos de “língua portuguesa” engloba os diferentes modos de falar utilizados pelo conjunto de seus falantes no Brasil, em Portugal, em Angola, em Moçambique, em Cabo Verde, em Timor etc. Língua e variação são inseparáveis, e essa diversidade da língua não deve ser encarada como um problema, mas como uma qualidade constitutiva do fenômeno linguístico. Os falantes adquirem as variedades linguísticas próprias de sua região, de sua classe social, de seu grau de escolaridade, de sua profissão etc. Ilari e Basso (2006) questionam o fato de muitos escritores e estudiosos afirmarem que a língua portuguesa é uniforme. Os autores argumentam que essa afirmação é um mito, pois esconde em si um nacionalismo exacerbado, uma visão limitada do uso da língua e uma negação da variação, como se os falantes não se adaptassem aos contextos de produção de textos orais e escritos. Seguindo essa linha de raciocínio, Bagno (2007, p. 40) acrescenta que, para a sociolinguística, a variação é “estruturada, organizada, condicionada por vários fatores”. Concordamos com os autores citados quando afirmam que a uniformidade da língua é um mito e que a variedade não é caótica. Procuraremos mostrar isso a você discorrendo sobre as variações através do tempo, geográficas, sociais, decorrentes dos modos de comunicação. Começaremos pelas variações promovidas pelo tempo. 4.2.1 Variação através do tempo As variações que ocorrem na língua através do tempo podem ser externas e internas. A variação externa pode ser descrita como a que ocorre em razão das funções sociais da língua e em sua relação com a comunidade linguística. Como exemplo, podemos citar a evolução do latim para a língua portuguesa. A variação interna se relaciona ao léxico e à gramática: mudanças que ocorrem na fonologia, na morfologia e na sintaxe (ILARI; BASSO, 2006). Por exemplo, na época do descobrimento do Brasil, escrevia-se “dereito”, “frecha”, “escuitar”, “deseja de comprar” (presença da preposição “de”), “esta gente padecem” (verbo no plural com o sujeito no singular) (ALKMIN, 2003). Hoje não escrevemos mais assim! Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 47 Mas atenção: Ilari e Basso (2006) asseveram que podemos pensar que a variação através do tempo só ocorra em períodos muito distantes, de século em século, o que não é verdade. Os autores afirmam que podemos fazer comparação diacrônica da língua até mesmo no intervalo de geração para geração. É o caso das gírias, que podem não fazer sentido para determinados indivíduos de uma geração e ser bastante conhecidas por indivíduos de outra geração. Você sabe o que é “levar uma tábua”? E “cair a ficha”? “Ela é um pão”? Pergunte aos seus pais... O importante é que você saiba que, “[...] na língua que falamos hoje, convivem palavras e construções que remontam a épocas diferentes” (ILARI; BASSO, 2006, p. 153). Assim, alguns optam, conscientemente ou não, por construções e léxico mais antigo, mesmo que isso represente um distanciamento em relação à língua falada hoje. Mas, como os autores afirmam, “independentemente disso tudo, a língua muda” (ILARI; BASSO, 2006, p. 154). 4.2.2 Variação na dimensão do espaço Segundo Preti (2000), essas variedades são responsáveis pelos regionalismos, provenientes de dialetos ou falares locais. Compreendem-se as diferenças que uma mesma língua pode apresentar na dimensão espacial. Normalmente, essa variação nos leva a comparar o português do Brasil com o de Portugal. Vejamos alguns exemplos entre o português europeu e o português do Brasil. Quadro 1 – Exemplos de termos do português europeu e do Brasil Português do Brasil Português Europeu Português do Brasil Português Europeu Fila Bicha Carteira de Identidade Bilhete de Identidade Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 48 Cafezinho Bica / Biquinha Favela Bairro de Lata Restaurante Casa de Pasto Suco Sumo Aeromoça Hospedeira de Bordo Torcida Claque O Brasil, por ser um país bastante extenso e com regiões com culturas e condições sociais distintas, apresenta muitas variações linguísticas. Outro aspecto que devemos levar em consideração é o fato de existir uma intensa migração interna no país, o que resulta em “variedades linguísticas de procedências diferentes, entre as quais criam diferenças de status e prestígio” (ILARI; BASSO, 2006, p. 161). Assim fica difícil separarmos, com precisão, o que é variação na dimensão do espaço e o que é variação a partir de fatores sociais. Como exemplos de variação na dimensão do espaço, podemos citar (entre tantos outros existentes) os relativos ao léxico, à ordem fonológica e à morfossintática. Na fonologia, podemos observar as mudanças que ocorreram na pronúncia de algumas palavras, como nas vogais médias (“e”, “o”) pretônicas. No Nordeste, elas têm pronúncias abertas ([mƐladƱ]), enquanto que, no Sudeste, são fechadas ([meladƱ]). Na morfologia, citamos como exemplo os vocábulos mexerica, tangerina, mimosa, bergamota, cujo uso varia conforme a região em que vive o falante. Na sintaxe, notamos a preferência pela posposição verbal da negação, como “tem não”, no Nordeste, enquanto que, no Sudeste, se usa “não tem” ou "não tem, não” (ALKMIN, 2003). E na sua região como vocês falam? Uma observação importante feita por Ilari e Basso (2006) diz respeito à falta de delimitação geográfica das variações na dimensão do espaço. Segundo os autores, seria necessário um trabalho conjunto de pesquisadores e de dialetólogos para que as variações pudessem ser localizadas com precisão. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 49 4.2.3 Variação entre os estratos da população Essas variedades estão condicionadas à identidade dos falantes, bem como à organização sociocultural da comunidade de fala. Classe social, grau de escolaridade, idade, sexo são alguns desses fatores. É conhecida também como o tipo de variação que é percebida quando se comparam diferentes estratos sociais de um grupo linguístico. Vários estudiosos procuram descrever a variedade subpadrão do português falado pelos mais pobres (consequentemente, menos escolarizados), entre eles Castilho (apud ILARI; BASSO, 2006). O estudioso cita como principais características da variedade subpadrão fatores relacionados à pronúncia, ao léxico e à construção dos enunciados. Citamos, por exemplo, a troca do [l] pelo [r] em encontros consonantais, como em “brusa”, “grobo” ou a tripla negação, como em “eu nem não gosto”, usadas por falantes situados abaixo na escala social (ALKMIN, 2003). Apesar de essa variedade falada poder soar “estranha” aos nossos ouvidos, o que importa é sabermos que, quando entramos em contato com qualquer variedade subpadrão, “[...] estamos diante de um outro código, e não de erros devidos às limitações mentais dos indivíduos que o empregam”. Você deve saber que há maneiras diversas de dizer a mesma coisa, e que cada variedade deve ser adequada ao momento da comunicação, ao contexto da prática social. No quadro 2, apresentamos, a partir de Preti (2000), algumas diferenças da estrutura morfossintática entre as variantes culta e popular. Quadro 2 - Diferenças entre a variante cultae a popular Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 50 Variante culta Variante popular Indicação precisa das marcas de gênero, número e pessoa (Ex.: Os meninos compraram dois pães.) Economia nas marcas de gênero, número e pessoa (Ex.: Os menino comprou dois pão). Maior utilização da voz passiva (Ex.: Foi atropelada por um carro.) Maior emprego da voz ativa, em lugar da passiva (Ex.: Um carro pegou ela). Organização gramatical cuidada da frase. Simplificação gramatical da frase, emprego de bordões do tipo então, aí etc. Variedade da construção da frase (Vi-o, encontrei-a etc.). Emprego dos pronomes pessoais reto como objetos (Ex.: Vi ele, encontrei ela etc.). 4.2.4 Variação dos modos de comunicação (fala/escrita) A oralidade sempre foi vista como algo que ocorria separadamente da escrita, e esta sempre gozou de um status mais elevado em relação àquela. Mas é necessário compreendermos que as duas se complementam, relacionando-se de forma recíproca, ora a fala transformando a escrita, ora a escrita transformando a fala. Veremos, de forma mais detalhada, as diferenças dessas duas modalidades no capítulo 6. Qualquer falante sabe que, conforme o gênero que utilizamos (determinado pelo contexto, interlocutor, finalidade etc.), elegemos uma variedade linguística que seja adequada a ele. Assim também fazemos com os meios pelos quais os textos são distribuídos. Por exemplo, se publicarmos uma descoberta científica em um Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 51 jornal, utilizaremos uma variante diversa daquela que utilizaríamos se publicássemos a mesma descoberta em uma revista científica. E em um e-mail encaminhado a um amigo, você escreveria seus textos de que forma? Utilizaria a mesma estrutura e vocabulário que utiliza quando faz um requerimento na Universidade? Ilari e Basso (2006, p. 187) acrescentam que [...] todos esses gêneros, além de ter marcas exteriores próprias, e de obedecer a convenções interpretativas próprias, fazem também um uso muito particular da língua, chegando às vezes a desenvolver uma sublíngua exclusiva. A sublíngua de um gênero caracteriza-se normalmente não só pela frequência maior de certas palavras [...], mas pode ser marcada também pela alta frequência de construções gramaticais que não seriam comuns em outros gêneros. Podemos perceber o que os autores afirmam quando entramos em contato com gêneros que não fazem parte do nosso dia a dia, como, por exemplo, um boletim de ocorrência policial. Com certeza, estranharíamos a estrutura e o vocabulário normalmente utilizados nesse gênero. Isso estuda a variação exposta a seguir. 4.2.5 Variação relacionada ao contexto, à estilística ou aos registros Nesse tipo de variação, os falantes diversificam sua fala e usam estilos distintos considerando as circunstâncias, o contexto social das interações verbais. Como exemplo, podemos citar a conversa entre amigos, uma palestra em uma Universidade, ou ainda quando escrevemos um bilhete à/o esposa/o ou ao chefe. Preti (2000) também denomina essa variação como estilística, no sentido de que o falante, conforme a situação, escolhe um estilo que julga mais conveniente Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 52 para expressar o seu pensamento. Nesse sentido, ele trabalha com os termos níveis de fala ou registros. Por exemplo, você não falará Meu chapa, vai ficar alugando esse telefone até quando? em um jantar com pessoas estranhas ou pouco familiares. Utilizará por favor, poderia me passar o açúcar. Meu chapa, vai ficar alugando o açucareiro até quando? você poderá usar em uma mesa de bar, por exemplo, em que se compartilha com pessoas do círculo íntimo. No quadro 3, apresentamos os níveis de registros do uso da língua. Quadro 3 – Níveis de registros do uso da língua NÍVEIS DE USO DA LÍNGUA (REGISTROS) FORMAL Situações de formalidade Predomínio da variante culta Comportamento linguístico mais refletido, mais tenso Vocabulário técnico COMUM COLOQUIAL Situações familiares ou de menor formalidade Predomínio da variantepopular Comportamento linguístico mais distenso Linguagem afetiva, expressões obscenas Fonte: Preti (2000) Portanto, não podemos usar o mesmo tipo de variante todas as situações comunicativas. Há situações formais que requerem o uso da língua culta, um uso mais cuidadoso da língua, como, por exemplo, no ambiente de nosso trabalho, na apresentação de um trabalho na Universidade, na participação do fórum de discussão. Nesses casos, não podemos empregar a mesma varianteusada em casa, com os nossos amigos. Em textos escritos formais, devemos ficar mais atentos para não utilizarmos expressões da oralidade e nem o internetês. 4.3 Língua urbana de prestígio Essa variedade, também conhecida como língua padrão, segue as regras da gramática normativa e é tida como parâmetro para as outras variedades. Porém, para alguns autores, como Silva (1997, p. 14), além da norma dessa variedade linguística, existem também as normas normais ou sociais. Essas são normas que Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 53 definem grupos sociais de uma determinada sociedade. Em geral, distinguem-se em normas sem prestígio social e em normas de prestígio social. Apesar de ser a variedade dialetal de prestígio social, a norma padrão não apresenta características superiores a outra qualquer, ainda que tenha sido eleita como o padrão de linguagem correta. Essa eleição deve-se à necessidade de uniformização de uma língua na qual serão registrados os documentos e os fatos da sociedade. Fique atento! O nível de prestígio social é a língua culta e, se não quisermos ser discriminados por grupos que a praticam, devemos conhecê-la e utilizá-la em situações comunicativas formais. Para encerrarmos este capítulo, convém lembrar que todas as variações aqui citadas estão presentes, juntas, nos textos e podem ser aplicadas a qualquer produção da fala ou da escrita. O que é preciso entender é que, para cada situação da prática social, existe uma forma de falar considerada mais adequada. E nenhuma é superior à outra, porque todas as variantes constituem e tornam a nossa língua materna viva. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 54 Atividades Questão 1: Analise com atenção as imagens retiradas do Google Imagens e identifique as variantes linguísticas. a) b) c) d) Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 55 e) Questão 2: A partir das variações linguísticas e das situações comunicativas, analise os itens a seguir. I) “E aí, ô meu! Como vai essa força?” – um jovem que fala com seu amigo. II) “Só um instante, por favor. Eu gostaria de fazer uma observação” – alguém comenta em uma reunião de trabalho. III) “Venho manifestar meu interesse em participar de sua festa no sábado próximo” – alguém que escreve uma mensagem no WhatsApp a seu amigo. IV) “O carro bateu e capotô, mas num deu pra vê direito” – um repórter comenta o acidente ao vivo em um canal de TV em rede nacional. V) “Na semana passada, os magistrados do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro passaram a receber mais um injustificável benefício – ou, para usar a expressão do desembargador Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, presidente da corte, um simples ‘estímulo’” – um colunista escreve em artigo de opinião de um jornal de circulação nacional. Em quais itens não ocorre adequação da linguagem à situação comunicativa? a) Apenas em I e III. b) Apenas em I e II. c) Apenas em III e IV. d) Apenas em I, III e IV. e) Apenas em I e IV. Questão 3: Identifiqueem que variante linguística está escrito cada fragmento a seguir: a) “O ativista atropelado não pensou em parar de usar a bicicleta como meio de transporte. Os cuidados com a segurança redobraram, assim como aumentou a preocupação ao sair de casa e pedalar nas ruas”. b) “ontem de noite eu vinha vindo do colégio o trânsito estava tudo parado ali na altura do Limoeiro um monte de viatura da polícia sirene ligada uma confusão danada e eu sozinha morrendo de medo sei lá a gente não dá conta do que passa pela cabeça nessa hora aí”. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 56 c) “Administração pública é um conceito da área do direito que descreve o conjunto de agentes, serviços e órgãos instituídos pelo Estado com o objetivo de fazer a gestão de certas áreas de uma sociedade, como Educação, Saúde, Cultura, etc”. d) “Kd vc k naum dexo coments no meo flog pra eu fla ctg?” e) “Eu di um beijo nela E chamei pra passear A gente fomos no shopping Pra mó de a gente lanchar”. Questão 4: Analise o uso das variantes que você faz no dia a dia, especifique-as e comente em que situações comunicativas as utiliza. Analise a situação apontada nas imagens a seguir para responder à questão 5 . Questão 5: Podemos afirmar que houve adequação da linguagem na situação comunicativa apresentada na imagem? Explique. Referências ANTUNES, Irandé. Gramática contextualizada: limpando “o pó das ideias simples”. São Paulo: Parábola Editorial, 2014. ALKMIM, T. M. Sociolinguística. In: MUSSALIN, F.; BENTES, A. C. (Org.). Introdução à linguística 1. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2003. BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola, 2007. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 57 FÁVERO, L. L; ANDRADE, M. L. C. V. O.; AQUINO, Z. G. O. Oralidade e escrita: perspectiva para o ensino de língua materna. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2000. ILARI, R.; BASSO, R. O português da gente: a língua que estudamos a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2006. PRETI, D. Sociolinguística:os níveis de fala: um estudo sociolinguístico do diálogo na Literatura Brasileira. 9. ed. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2000. SILVA, R. V. M. Contradições no ensino de português: a língua que se fala na língua que se ensina. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1997. Vida Maria é um projeto de animação premiado no “3º Prêmio Ceará de Cinema e Vídeo”, realizado pelo Governo do Estado do Ceará, em 2006. Ficha técnica Gênero: Animação (curta-metragem) Direção: Márcio Ramos Ano: 2006 Duração: 9 min Produção: Joelma Ramos, Márcio Ramos Coprodução: Trio Filmes, VIACG Roteiro e edição: Márcio Ramos Vozes: Márcio Ramos Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 58 CAPÍTULO 5: O PARÁGRAFO E A PRODUÇÃO TEXTUAL Escrever é uma atividade complexa, resultado de uma boa alfabetização, hábito de leitura, formação intelectual, acesso a boas fontes de informação e muita, muita prática. (Dad Squarisi e Arlete Salvador) Introdução A sociedade contemporânea exige pessoas que escrevam bem. Comunicamo- nos por e-mail e nas redes sociais. No nosso trabalho, fazemos ofícios, relatórios, memorandos ou qualquer outro tipo de documentos. Nessas situações, é necessário ser claro, conciso, coerente, usar a coesão, estar atento à correção gramatical e à unidade temática e apresentar argumentos adequados para ser convincente. Esses são fatores responsáveis pela qualidade, estudados no capítulo anterior. Sabemos que produzir um texto de qualidade não é fácil. Nem por isso devemos desanimar. Precisamos treinar muito para conseguirmos aperfeiçoar nossa escrita. Por isso, neste capítulo, daremos continuidade à produção textual. Veremos o que é parágrafo, analisaremos sua estrutura e examinaremos formas de elaborar o tópico frasal, o desenvolvimento e a conclusão, que lhe ajudarão na produção de seus textos. É importante ter esses conhecimentos, mas o primordial é conhecer o assunto sobre o que escreverá. Portanto, mantenha-se informado lendo bons livros, jornais e revistas e praticando o que verá neste capítulo. 6.1 Parágrafo: conceituação Garcia (2000, p. 203) define o parágrafo como “uma unidade de composição, constituída por um ou mais de um período, em que se desenvolve ou se explana determinada ideia central, a que geralmente se agregam outras, secundárias, mas intimamente relacionadas pelo sentido". Portanto, um parágrafo bem elaborado não é apenas a exposição de uma ou várias informações, mas, além de apresentar a informação, é preciso desenvolvê-la. O conceito exposto se aplica ao chamado parágrafo padrão, que é constituído de três partes essenciais: tópico frasal, desenvolvimento e conclusão. No entanto há diferentes formas de construção do parágrafo, dependendo da natureza do assunto, do gênero da composição, do objetivo do autor e do tipo de leitor a quem se destina o texto escrito. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 59 Depois de analisarmos o conceito de parágrafo, é interessante conhecermos a sua estrutura detalhadamente, a fim de organizá-lo. 6.2 Parágrafo: redação Neste item, explicitaremos cada uma das partes do parágrafo padrão, como se dá sua redação e suas formas diversas de construção. Fique atento! 6.2.1 A formulação do tópico frasal Como já estudamos no capítulo 2, o tópico frasal traduz, de maneira geral e sucinta, a ideia-núcleo do parágrafo. Ele introduz o assunto e o aspecto desse assunto, a ideia central com o potencial de gerar outros períodos, chamados de ideias secundárias. Serve para orientar o desenvolvimento do parágrafo. Assim, o tópico frasal garante que você não se afaste do objetivo estabelecido e mantenha a coerência do texto. Passemos ao estudo das principais formas de elaborar o tópico frasal do parágrafo, a partir do que é exposto por Abreu (2004) e Viana (2000). • Declaração inicial: você inicia o parágrafo com uma declaração sucinta na qual apresenta o assunto e seu aspecto que serão desenvolvidos no parágrafo, como podemos observar no exemplo a seguir. A remuneração dos executivos de finanças que trabalham em São Paulo está entre as maiores do mundo. O salário médio anual desses profissionais é de 545.000 reais, sem contar o bônus. Os brasileiros só perdem para seus pares em Nova York, que recebem 640.000 reais, e para os de Londres, que ganham 590.000 reais. Os brasileiros ficam na frente dos chineses, dos espanhóis e dos franceses. Os dados vêm de uma pesquisa divulgada no mês passado pela Robert Walters, consultoria inglesa de recrutamento executivo, que analisou informações de 53 empresas em 24 países (VOCÊ S/A, ed. 179, abr. 2013, p. 46). Você deve ter notado que o autor apresentou uma declaração sucinta no tópico frasal (em negrito) e depois a desenvolveu em outros enunciados (ideias secundárias que são o desenvolvimento da informação exposta no tópico frasal). • Definição: você abre o parágrafo com uma definição. É o que podemos notar no parágrafo a seguir, em que o autor define a expressão “céu de brigadeiro”. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 60 “Céu de brigadeiro” é uma gíria carioca que foi popularizada pelos locutores de rádio. Ela é dita quando alguém pretende descrever um dia em que tudo parece conspirar a favor ou mesmo para dizer que o dia está bonito. Surgiu entre as décadas de 1940 e 1950. Na época, o Rio de Janeiro era a capital do Brasil, responsável por boa parte do tráfego aéreo. Brigadeiro é o posto máximo da Aeronáutica. E é um oficial que só comanda um avião quando o céu está limpo, sem nuvens. Por isso, ao dizer que o céu estava “de brigadeiro”, a intençãoera reforçar que não havia problemas à vista. (Aventuras na História, n. 48, ago. 2007, p. 19). • Divisão: o tópico frasal é apresentado sob a forma de divisão ou discriminação das ideias que serão desenvolvidas no parágrafo. Essa forma é apresentada no exemplo a seguir, em que o autor menciona que o tiro de escopeta no sindicalista Chico Mendes “fez surgir dois mitos”, apresenta-os e os explana no desenvolvimento. O tiro de escopeta que cravou 42 grãos de chumbo no peito do sindicalista Chico Mendes poucos dias antes do Natal de 1988 tirou-lhe a vida e fez surgir dois mitos. O primeiro conferiu ao seringueiro uma aura heroica, de mártir das matas de Xapuri, no Acre. O segundo se refere à nova ideologia que se propagou a partir das causas defendidas por Chico Mendes. Para ele, o modo de vida extrativista seria capaz de proporcionar um sustento digno aos povos da floresta sem prejuízo ambiental, desde que amparado pelo governo. Ou seja, em vez de derrubar a mata para dar lugar à agropecuária, a população local poderia viver da coleta de seivas e frutos e da venda da madeira de árvores mais velhas. [...] (Veja, n. 8, 20 fev. 2013, p. 107). • Alusão histórica: você introduz o parágrafo mencionando um fato ou um período histórico, como podemos observar no parágrafo a seguir, em que o autor faz referência ao primeiro século da era cristã. Ao longo do primeiro século da era crista, pelo menos dez pessoas diferentes se declararam "messias". A expressão “messias” significa "o consagrado" e remete à profecia de um descendente do rei judeu Davi que iria reconstruir Israel em toda a sua força. É por isso que os Evangelhos dizem que Jesus nasceu em Belém, a terra de origem do rei mítico, enquanto os historiadores acreditam que ele veio ao mundo em Nazaré, na época um pequeno vilarejo de apenas 500 habitantes. (Aventuras na História, ed. 101, dez. 2011, p. 30 (adaptado)). Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 61 • Pergunta: o parágrafo é iniciado com uma interrogação. A pergunta deve ser respondida ou esclarecida no desenvolvimento, como podemos notar no exemplo a seguir, em que o autor esclarece no desenvolvimento o que questionou no tópico frasal. Quem disse que o cérebro não precisa de boa alimentação? Assim como, para manter o corpo em forma, seguimos uma alimentação balanceada, o cérebro também pede alimentos pouco calóricos, muitas frutas, verduras, vegetais e peixes. Afinal, os antioxidantes, além de contribuírem para uma aparência mais jovem, ajudam o cérebro a se rejuvenescer. (Língua Portuguesa, ed. 34, jan. 2012, p. 18). • Citação: consiste em mencionar trecho de algum autor, livro, revista, dados de pesquisa etc. A citação pode ser: direta (quando citamos as palavras ditas ou escritas por alguém, por isso devemos usar as aspas); ou indireta (quando reproduzimos com nossas palavras o que o autor disse ou escreveu). Observe, no parágrafo a seguir, um exemplo de tópico frasal com citação indireta, que expõe o posicionamento da crítica em relação ao jazz. O jazz estagnou, mudou-se e não deixou endereço conhecido, morreu para nunca mais voltar. Esse costuma ser o tom da crítica mais ranheta e nostálgica, que há muito acusa a falta de inovação do gênero musical americano. Existe aí uma parcela de razão: desde que o trompetista Miles Davis aproximou os improvisos do jazz à pulsação do rock em Bitches Brew, de 1970, não apareceram mais novas receitas nem ideias para fusões tão instigantes. Mas isso não significa que os jazzistas tenham perdido toda a capacidade de se renovar. Basicamente, eles hoje utilizam a régua e o compasso – no caso, os ritmos – da tradição para fazer figuras geométricas diferentes. [...]. (Veja, n. 23, 6 jun. 2012, p. 174). Você pode perceber, nos exemplos expostos, que as sentenças iniciais introduziram o assunto, que é a ideia central. A partir dessa ideia, surgiram outros períodos que orientaram o desenvolvimento do restante do parágrafo. Depois de aprendermos como podemos iniciar a elaboração de um parágrafo, examinaremos as formas para construir seu desenvolvimento. 6.2.2 O desenvolvimento do parágrafo Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 62 Nessa etapa de redação do parágrafo, você passa a expandir as ideias indicadas no tópico frasal. Para isso, em primeiro lugar, deve selecionar aspectos ou detalhes particulares que desenvolvam o tópico frasal e, após, ordená-los, ou seja, construir um plano de desenvolvimento que servirá como forma de controle. Isso evitará a inclusão de aspectos ou detalhes desnecessários ou incoerentes com o objetivo fixado. Veremos as formas de construir o desenvolvimento do parágrafo a partir do que é exposto por Garcia (2000). • Ordenação por enumeração: consiste em enumerar diferentes situações ou características de um fato expresso de modo genérico no tópico frasal. Organiza-se, frequentemente, por meio de certos articuladores que têm a função de marcar a ordem, segundo a qual os detalhes do fato são apresentados. Alguns desses articuladores são: primeiro, segundo, em primeiro lugar, em segundo lugar, inicialmente, após, a seguir, depois, em seguida, mais adiante, por fim, ainda, além, também etc. Analisemos o desenvolvimento por enumeração no seguinte parágrafo. Há três motivos prováveis para o comportamento ofensivo ou falta da boa educação em discussões sobre temas polêmicos nas redes sociais. O primeiro é que o contato a distância, pela internet, não dispõe dos elementos que provocam empatia com o interlocutor, como o olhar, a expressão corporal e o tom de voz, e que servem de freio às ofensas. Quando se está frente a frente com alguém, até a disposição para tocar em temas sensíveis diminui. O segundo motivo é que as redes sociais colocam na mesma sala virtual amigos próximos e meros conhecidos. Nas relações do mundo real, as pessoas se afastam naturalmente de amigos com os quais deixaram de ter afinidade por alguma razão – seja por terem adotado estilos de vida diferentes, seja pelas posições políticas. As redes sociais, grosso modo, nos fazem essa distinção e muitas vezes obrigam o dono do perfil a ler as opiniões desbaratadas publicadas por "amigos" com os quais mantém apenas uma relação superficial. Terceiro, as redes on-line incentivam os membros a expor seu lado militante. O mural (onde as mensagens são publicadas) do Facebook, por exemplo, é, como o próprio nome sugere, um ótimo lugar para "colar" cartazes e "estender" bandeiras ideológicas virtuais. Ali se faz proselitismo de vegetarianismo, de crenças religiosas, de posições políticas e de outras causas. Como não há botão de "Não Curtir" no Facebook, resta discordar por meio de um comentário ou se calar. (Veja, n. 6, 8 fev. 2012, p. 86-87). Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 63 O parágrafo em análise exemplifica a ordenação por enumeração, em que o autor aponta os três prováveis motivos que levam as pessoas a serem ofensivas e sem educação nas discussões de temas polêmicos em redes sociais. • Ordenação por causa-consequência: consiste em indicar a(s) causa(s) do fato apresentado e o(s) resultado(s) ou efeito(s) produzido(s). A relação causa- consequência, estabelecida entre períodos de um mesmo parágrafo, ou é evi- denciada por expressões (articuladores) que a introduzem ou é percebida semanticamente, ou seja, por meio da interpretação das ideias relacionadas. São expressões indicadoras de causa: porque, já que, visto que, uma vez que, pois, a razão disso, a causa disso, devido a, por motivo de, em virtude de, graças a etc.; de consequência: tão que, tal que, tanto que, tamanho que, de forma que, de maneira que, de modo que, em consequência, como resultado, por isso, em vista disso etc. Analisemos de que forma a ordenaçãopor causa é trabalhada no parágrafo a seguir. Por que o transporte ferroviário é tão precário no Brasil? O país se afastou dos trilhos nos anos 1950, com plano de crescimento rápido do presidente Juscelino Kubitschek, que priorizou rodovias. A construção de ferrovias era lenta para fazer o Brasil crescer “50 anos em cinco”, como ele queria. [...] Além disso, o lobby das rodovias foi forte. Desde a era JK, os investimentos e subsídios no setor são grandes, não só para abrir montadoras. Outro responsável foi o café, em baixa nos anos 1930. Ele era transportado, principalmente por trens, então, várias empresas férreas faliram com a falta de trabalho. Em 1957, o governo estatizou as companhias ferroviárias. Desde então, o foco é o transporte de carga. Por isso, em 2012, os trens carregam só 3% dos passageiros do País (isso porque incluímos o metrô na conta). Mas, na próxima década, o cenário deve mudar. (Superinteressante, ed. 315, fev. 2013, p. 24). O autor expõe as causas de o transporte ferroviário ser tão precário no Brasil: plano de crescimento rápido do presidente JK, que priorizou rodovias devido à construção de ferrovias ser muito lenta; investimentos e subsídios altos tanto para abrir estradas como para atrair montadoras; falência de empresas férreas devido à baixa do café, transportado principalmente por trens; estatização das companhias ferroviárias com o foco no transporte de carga. Você deve ter notado também que, para expor as Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 64 causas, o autor utilizou a enumeração: “além disso” e “outro responsável” (releia o texto e verifique com mais nitidez esse detalhe). • Ordenação por comparação ou confronto - semelhança ou contraste: consiste em estabelecer um confronto de ideias, seres, coisas, fatos ou fenômenos, mostrando seus pontos comuns (semelhanças) ou seus contrastes (diferenças). Evidenciam-se expressões articulatórias como: assim como... também, tanto como... tanto quanto, além de... também, não só... (como) também, de igual modo, em ambos os casos, de um lado... de outro lado, por um lado... por outro lado, se por um lado... por outro lado, (para) uns... (para) outros, este... aquele, ao contrário..., em oposição..., enquanto..., já..., ao passo que..., mas..., porém etc. Observe o texto a seguir. Se há opinião unânime sobre Sigmund Freud, é a de que mudou nossa maneira de compreender a cultura, o outro e a nós mesmos. Mas as divergências em torno de sua pessoa e de sua obra são imensas. Para alguns, Freud foi um gênio, um herói que desbravou as profundezas do inconsciente e expôs à posteridade sua vida pessoal em um grau desconhecido até então, por amor à ciência [...]. Para outros, não foi mais do que uno charlatão, um covarde que abandona a verdade por medo da opinião pública, um homem que enxergava o sexual em todas as coisas, alguém que perseguia os discípulos dissidentes, que não media os meios para impor suas ideias. (Freud: a exploração do inconsciente. História do Pensamento, Fasc. 54, p. 641.) Esse parágrafo exemplifica a comparação por contraste, visto que apresenta opiniões divergentes em relação a Freud (gênio x charlatão). • Ordenação por tempo e/ou espaço: algumas vezes, ao elaborarmos um texto, surge a necessidade de organizarmos os fatos, as ideias pelo critério tempo e/ou espaço. As indicações de espaço são necessárias sempre que for conveniente mostrar o lugar em que aconteceram os fatos referidos. Já a ordenação temporal exprime a ordem segundo a qual o redator teve a percepção ou o conhecimento de algo acontecido. Pode ocorrer o emprego simultâneo dos critérios de ordenação de ideias por tempo e espaço. Examinemos as expressões indicativas dessas formas de ordenação: tempo: agora, já, ainda, antes, depois, em seguida, breve, logo que, finalmente, Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 65 frequentemente, após, antes de, à medida que, à proporção que, enquanto, sempre que, assim que, ultimamente, presentemente, no século tal, muitos anos atrás, naquele tempo etc.; espaço: longe de, perto de, em frente de, atrás de, diante de, detrás de, abaixo de, dentro de, fora de, aí, ali, cá, além, à direita, à esquerda, no país tal, no local tal etc. No parágrafo a seguir, observe, a partir dos termos destacados, que o desenvolvimento se dá por meio de indicação de tempo e de espaço. Nos anos 80, o imenso progresso social e econômico da Coreia do Sul chamou a atenção do mundo. O país tornou-se o mais vistoso dos tigres asiáticos. Nessa mesma década, a menos de 200 quilômetros de distância, o Japão, que emergira como a grande potência asiática do pós-guerra, chegando ao posto de segunda maior economia do mundo, começava a declinar. O modelo exportador japonês criou enorme riqueza e elevou o padrão de vida dos japoneses a níveis extraordinários, mas a excessiva valorização cambial evoluiu para uma bolha especulativa que se materializou principalmente nos salários e no ramo imobiliário. No começo dos anos 90, o terreno do Palácio Imperial em Tóquio custava em dólares mais do que todos os imóveis da Califórnia. Secretárias japonesas ofereciam lances maiores do que executivos americanos por casas luxuosas no Havaí. Em 1992, a bolha estourou. A economia japonesa estagnou e, desde então, vem se arrastando com índices mínimos de crescimento. A crise mundial de 2007e 2008 reduziu as exportações. Um de cada três dekasseguis, brasileiros que foram para a terra dos avós em busca de uma vida melhor, voltou ao Brasil. No mesmo ano (2011) em que um terremoto seguido de tsunami quase provocou uma tragédia nuclear em Fukushima, o Japão perdeu o posto de segunda maior economia para a China. (Veja, n. 22, 30 maio 2012, p. 106). • Ordenação por definição: de todas as formas de ordenação, essa é a mais abstrata, pois revela os atributos essenciais de um objeto, sentimentos, expressões por meio de sua definição. É muito utilizada em textos técnicos ou científicos. Nessa forma de ordenação, é frequente o emprego do verbo ser ou de verbos como chamar-se, denominar-se, considerar-se, tratar-se de. Analisemos de que maneira a ordenação de desenvolvimento por definição é utilizada no parágrafo a seguir. A expressão “não ter papas na língua” é uma mistura de espanhol com português. Ela tem origem no termo estrangeiro “no tiene pepiras en Ia lengua” - em português, "não tem pevides Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 66 na língua". Pevides são pequenos tumores que revestem a língua de algumas aves, obstruindo-lhes o cacarejo. A doença dificulta a ingestão de água e de alimentos, podendo até matar. No singular, pevide é ainda um distúrbio da fala - o paciente apresenta dificuldade e até mesmo incapacidade de pronunciar alguns fonemas. Portanto, quando fulano não tem as tais pepitas - que, no aumentativo em espanhol, viram as papas da expressão - na língua, significa que ele fala muito, à vontade e sem obstáculos. (Aventuras na História, ed. 48, ago. 2007, p. 19). A ordenação do desenvolvimento por definição foi usada para explicar o significado da expressão “não ter papas na língua”. • Ordenação por exemplificação: consiste em elucidar um conceito ou justificar uma afirmação por meio de exemplos ilustrativos. O exemplo estabelece um elo, uma ponte entre o conceito ou a afirmativa e o leitor, principalmente quando se trata de algo muito abstrato. O parágrafo seguinte usa a exemplificação para justificar a afirmação feita no tópico frasal. Os visionários que tentaram levar desenvolvimento econômico e progresso social à Amazônia brasileira raramente foram bem-sucedidos. Em 1928, o americano que popularizou o automóvel, Henry Ford, fundou nas margens do Rio Tapajós, no Pará, a cidade de Fordlândia. O magnata queriaplantar 2 milhões de seringueiras para criar um polo de produção de borracha. Seu objetivo era ficar independente dos fornecedores ingleses, que detinham o monopólio do produto. O investimento de dezenas de milhões de dólares seria depois custeado pela borracha, pela madeira e pelos minerais extraídos da região. A cidade, erguida ao estilo americano e com casas de madeira, chegou a ter 25 000 habitantes, 5 000 deles empregados na iniciativa. Havia esgoto, luz elétrica, cinema, campo de golfe e um dos hospitais mais avançados do Brasil. Em 1936, Ford fundou outro povoado, Belterra, também próximo do Tapajós. O projeto fracassou. As árvores foram destruídas por pragas desconhecidas, que não existiam na Malásia nem na Indonésia. Ford investiu quase 300 milhões, em valores atuais, em sua empreitada tropical. Os 31 000 habitantes que vivem em Aveiro, onde ficava Fordlândia e Belterra, hoje se dedicam à agricultura e à pecuária. (Veja, n. 8, 20 fev. 2013, p. 109). Você deve ter notado que o desenvolvimento exemplifica o que é exposto no tópico frasal. O autor menciona o projeto visionário de Henry Ford nas margens do Rio Tapajós, no Pará, que, apesar de arrojado, fracassou devido às pragas desconhecidas que atacaram os pés de seringueiras. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 67 • Argumento de autoridade: consiste em apresentar, no desenvolvimento, dados colhidos da realidade, citações de autoridades (principais autores sobre o assunto do qual faremos a exposição), exemplos e ilustrações, argumentos de valor universal (os irrefutáveis) (VIANA, 2000). Utilizando essas estratégias, nossos argumentos se tornam mais fortes, têm mais poder de convencimento. Analise o parágrafo a seguir. A grande maioria dos abusadores são pedófilos – ou, segundo o manual da psiquiatria, portadores de transtorno parafílico – que agem em casa, de forma dissimulada, sem apelar para atos violentos como espancamentos. Esse agressor, muitas vezes, é tímido, solitário e não tem comportamento criminoso. Inepto na relação com pessoas da sua idade, ele deseja a criança de forma patológica, compulsiva, agravada pela sensação de poder do homem adulto diante da criança pequena. Quando sai do plano da fantasia para a realidade, o que nem sempre acontece, tem consciência do caráter nocivo de seus atos, mas é incapaz de se controlar. Suas ações são planejadas, e o agressor se convence de que a criança também deseja o que está acontecendo e, sendo assim, ele não está fazendo nada de errado. “São pessoas com predileção por praticar atos sexuais com crianças, mas podem levar uma vida paralela aparentemente comum”, explica Antônio de Pádua Serafim, coordenador do Programa de Psiquiatria e Psicologia Forense da Universidade de São Paulo (USP). Contribui para a impunidade reinante, além do silêncio da vítima, a dificuldade de estabelecer um perfil do agressor – os registros mostram que o abuso sexual pode acontecer em qualquer família, independentemente de sua situação econômica. Alerta Rosana Morgado, professora da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro: “Dissociar o fenômeno da pobreza é fundamental para desconstruir o mito de que ele não ocorre nos lares mais abastados”. (Veja, n. 22, 30 maio 2012, p. 92-94). No parágrafo ilustrativo, há argumento de autoridade, pois o autor utiliza o manual da psiquiatria para afirmar que “a grande maioria dos abusadores são pedófilos”; expõe a opinião de Antônio de Pádua Serafim, coordenador do Programa de Psiquiatria e Psicologia Forense da Universidade de São Paulo (USP),e de Rosana Morgado, professora da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro para fortalecer a argumentação, afinal quem opina tem conhecimento sobre o assunto. • Dados estatísticos: os dados estatísticos são mais esclarecedores e convincentes do que qualquer outra estratégia de argumento. Salientamos que Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 68 esse tipo de argumentação requer conhecimento para não se incorrer em erros grosseiros. Observe, no exemplo, o efeito dos dados estatísticos no desenvolvimento do texto. Quantificar um crime sobre o qual paira o segredo é tarefa dificílima. As estatísticas são sempre menores que a realidade, e só muito raramente o silêncio é sacudido por uma constatação de abuso em massa – como, por exemplo, a da comissão holandesa que, em dezembro do ano passado, encerrou uma investigação que concluiu que entre 10.000 e 20.000 crianças sofreram abuso sexual de 800 padres e funcionários ligados à Igreja Católica da Holanda entre 1945 e 1981. Guardadas as devidas reservas, portanto, calcula-se que por volta de 20% das meninas e dos meninos sofram abuso sexual no mundo. No Brasil, quase 65% das crianças agredidas são meninas, a maioria com idade entre 6 e 10 anos. Os números rompem definitivamente o mito de que o agressor é alguém de fora: 97% são conhecidos da família – 38% o próprio pai; 29% o padrasto; e os demais irmão, avô, tio, primo, professor ou amigo da família. A proporção entre sexos pode ser muito diferente, porque abusos de meninos (como o que o novelista Aguinaldo Silva relata) ocupam um canto ainda mais obscuro desse poço de horrores, visto que as evidências inexistem e eles falam menos ainda. Também o submundo das mulheres que abusam é quase inexplorado. (Veja, n. 22, 30 maio 2012, p. 91-92). Você deve ter observado que, em alguns parágrafos, predomina mais de uma forma de ordenação de desenvolvimento. Isso é bastante comum nos bons tempos, em que o autor opta por mais de uma forma para melhor desenvolver o seu texto. E, para finalizarmos o estudo sobre paragrafação, vamos analisar como podemos proceder na elaboração da conclusão. 6.2.3 A elaboração da conclusão A transição entre o desenvolvimento e a conclusão do parágrafo é feita, geralmente, por meio de articuladores que indicam a relação que desejamos estabelecer, tais como: assim, logo, dessa forma, então, portanto etc. Algumas vezes, no entanto, o nexo não vem explicitado, pois se caracteriza por uma apreciação do autor e não por uma implicação direta a partir das ideias desenvolvidas. Para concluir um parágrafo, podemos optar por uma das formas mencionadas a seguir. • Retomada do objetivo: na formulação da conclusão, podemos retomar o objetivo expresso na introdução, recapitulando o conjunto de detalhes ou Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 69 aspectos particulares que fazem parte do desenvolvimento. Em outras palavras, reorganizamos resumidamente os diversos aspectos expostos que fechem o texto. Essas características podem ser observadas no parágrafo a seguir. A dedicação trouxe recompensa porque, quando se pratica muito alguma coisa, ela fica gravada num tipo especial de memória: a memória não declarativa, que faz parte do inconsciente e registra ações e movimentos do corpo. É ela que permite que o violinista consiga tocar bem. Se dependesse apenas do consciente, ele não daria conta de todos os procedimentos envolvidos na tarefa (ler a partitura, equilibrar o instrumento no ombro, posicionar os dedos, mover o arco, respirar e, ainda por cima, tocar de maneira natural e relaxada). E ninguém conseguiria aprender a falar fluentemente um segundo idioma. Em suma: a chave para ensinar uma nova habilidade ao próprio inconsciente é treinar, treinar e treinar. É um processo bem demorado. Mas já existe gente tentando deixá-lo mais rápido. (Superinteressante, n. 315, fev. 2013, p. 43-44). • Apresentação de consequências, implicações: apresenta, de modo conciso, consequências, implicações daquilo que foi expresso na introdução e no desenvolvimento. Observe essa forma no parágrafo seguinte. Em 1992, o poder público removeu grande parte das pessoasque viviam nos morros da Providência, Santo Antônio e Gávea-Leblon. No fim dos anos 20, o francês Alfred Agache propôs um projeto urbanístico para o Rio. Nele não havia espaço para as favelas, consideradas um problema “sob o ponto de vista da ordem social, da segurança, da higiene, sem falar de estética”. A impressão se manteve na década seguinte. Em 1937, o Código de Obras da cidade citou as favelas como “aberração urbana” e propôs sua eliminação, proibindo a construção de novos barracos. Mais que isso, o Código proibia melhorias nos morros já ocupados. Portanto, em vez de encarar a questão das favelas, mais uma vez os governantes resolviam apenas tentar fazer com que elas desaparecessem. (Aventuras na História, n. 48, ago. 2007, p. 49). • Sugestão de uma perspectiva de solução: principalmente se o tema for polêmico, podemos sugerir uma possível solução para o problema exposto no parágrafo. É o que podemos notar no parágrafo a seguir. A fiscalização do governo é falha. Nem todos os tipos de eletrodomésticos passam por certificação do Inmetro, que tem uma lista limitada de produtos que precisam passar por esse processo. Os produtos que ficam de fora da lista não são certificados nem fiscalizados. E mesmo nos aparelhos certificados, muitas das fiscalizações só são feitas após denúncias de Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 70 irregularidades. Sem esquecer que, quando o Inmetro decide testar se os aparelhos estão seguindo as normas técnicas, ele pede aos fabricantes que mandem amostras de seus produtos para análise. Tal prática permite que os fabricantes escolham os produtos que serão testados, o que pode ocultar ou maquiar resultados. O ideal seria que os testes do governo fossem anônimos e aleatórios, como os realizados pela Pro Teste. (Pro Teste, n. 63, out. 2007, p. 14). Os parágrafos analisados que têm as três partes essenciais à sua redação, ou seja, tópico frasal, desenvolvimento e conclusão, são parágrafos padrões. Registrarmos que existem parágrafos que apresentam apenas tópico frasal e desenvolvimento, desenvolvimento e conclusão ou somente desenvolvimento, isso quando inseridos em um texto. São os chamados parágrafos em aberto. Portanto, neste capítulo, você pôde observar que há várias formas de se construir um parágrafo. Para que você produza textos com qualidade, é necessário que tenha conhecimento sobre o assunto e que pratique bastante o que aprendeu aqui. Atividades Questão 1: Analise as afirmações a seguir considerando a teoria que estudamos a respeito do parágrafo. I. Todo parágrafo tem introdução, desenvolvimento e conclusão. II. A ideia central do parágrafo é enunciada por meio do período denominado tópico frasal. III. O tópico frasal contribui para que o escritor não se afaste do objetivo estabelecido. IV. O desenvolvimento corresponde a uma ampliação do tópico frasal, com apresentação de ideias secundárias que o fundamentam ou esclarecem. V. Na conclusão, podemos retomar o objetivo expresso na frase núcleo. São verdadeiras apenas as afirmativas a) I, II e III. b) II, III, IV e V. c) II e III. d) I, II, III e IV. Ler o parágrafo seguinte para responder à questão 2: No ambiente de trabalho, o uso inadequado de celulares está se tornando um problema para várias indústrias. De acordo com o Departamento de Assistência Sindical (DAS) da Fiep, há inclusive sindicatos que já buscam meios de coibir o mau uso desses aparelhos. “Algumas entidades relatam problemas de redução na produtividade. Elas também temem que o seu uso indiscriminado cause acidentes de trabalho como consequência da falta de atenção provocada Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 71 pelo telefone”, conta Juliana Raschke Dias Bacarin, integrante do DAS. O Brasil conta com uma média de 1,3 celulares por habitante, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Nesse contexto, especialmente os jovens fazem uso constante dos smarthphones: aparelhos que oferecem recursos de computador e acesso à internet. “Estar online é um hábito para esse público. Eles dispõem de aplicativos como Facebook, WhatsApp, Viber, Twitter e trocam mensagens por SMS. Essa é uma nova geração de trabalhadores e as empresas terão que achar um modo de lidar com isso”, observa Luciano Nadolny, psicólogo e consultor de Segurança e Saúde no Trabalho (SST) do Sesi. Para conter abusos, especialistas sugerem a criação de regras internas e a conscientização constante dos trabalhadores. (Disponível em: <http://www.fiepr.org.br/boletimsindical/sindemcap/News18801content253371 .shtml>. Acesso em: 25 fev. 2016) Questão 2: Em relação ao parágrafo que você leu, faça o que se pede: a) identifique a estrutura (tópico frasal, desenvolvimento e conclusão); b) especifique o assunto, a delimitação e o tipo de ordenação do desenvolvimento. Questão 3: - Elabore um parágrafo padrão do tipo argumentativo em que você aponte o foco da charge e apresente dois argumentos a respeito do conflito que ela sugere. Lembre-se de que o parágrafo padrão contém tópico frasal, desenvolvimento e conclusão. Analise de que forma construirá cada um desses elementos. Questão 4: Em relação aos parágrafos a seguir, faça o que se pede: a) identificar a estrutura de cada um (tópico frasal, desenvolvimento e conclusão); b) especificar o assunto e a delimitação (tema). c) reconhecer o tipo de ordenação do desenvolvimento. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 72 4.1 Ainda ignoramos a influência que terá, a longo prazo, uma longevidade sobre o estado de saúde e o modo de vida dos idosos. Nesse aspecto as opiniões dos autores divergem. Para alguns, as pessoas idosas gozarão de boa saúde até os 85 anos, após o que o funcionamento de seu organismo se deteriorará rapidamente. Nessa perspectiva, a morte resultará do envelhecimento e não de doenças crônicas. Outros, ao contrário, preveem uma lenta deterioração do funcionamento orgânico acompanhado da incapacidade, e, por conseguinte, de um número elevado de doenças crônicas. Portanto, consideram essencial que a Medicina se dedique a melhorar esta última fase da vida. Por último, outros sustentam que graças à extensão da "segunda idade", pode-se prever um prolongamento da vida em melhores condições. Estudos demonstram que, hoje, as pessoas de 75 anos possuem melhor saúde que as da mesma idade há 10 anos. Essa evolução é consequência de medidas preventivas adotadas contra doenças mais frequentes da velhice. (BEREGI, Edith. O Correio, Unesco) 4.2 O abismo em termos de desenvolvimento econômico que separa os Estados Unidos do Brasil é mínimo quando o assunto é inclusão social da população negra. Em ambos os países, o racismo ainda é um fator de risco seja no acesso à educação de qualidade, ao trabalho e remuneração e mesmo no atendimento no sistema de saúde. O último relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), "A Hora da Igualdade no Trabalho", divulgado no dia 12 de maio, mostra que apesar de avanços em alguns indicadores sociais, no Brasil, a situação de desemprego persiste na população negra: a renda mensal de um trabalhador negro é 50% inferior a do branco. Nos EUA, para cada dólar pago a um branco, um negro recebe o equivalente a 40% desse valor. De acordo com os Indicadores Socioeconômicos do Censo norte-americano sobre a década passada, 10% da população branca vivia na pobreza, contra 29,5% da negra. Os dados são do sociólogo e professor David Willians, do Institute for Social Research da Universidade de Michigan (EUA), anunciados durante palestra realizada na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, nesta semana. O foco de trabalho de Willians é nas causas sociais que implicam diretamente na saúde da população negra nos EUA.Segundo ele, o racismo não está apenas nos setores educacionais e no mercado de trabalho. "O número de mortes em consequência de doenças consideradas mais incidentes na população, como problemas cardíacos, câncer e diabetes é maior entre os negros. Em muitos casos, isso se deve a diferença racial que existe desde o momento do diagnóstico até a qualidade do tratamento oferecido", explica. (Portal Aprendiz - 14.05.03) 4.3 Todos sabem que, no Brasil, há muito tempo, observa-se um grande número de grupos migratórios, os quais, provenientes do campo, deslocam-se em direção às grandes cidades à procura de melhores condições de vida. Esse êxodo ocorre por inúmeros problemas que Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 73 dificultam a permanência do homem no campo, como por exemplo, os fatores climáticos, a má distribuição de terras e também a falta de incentivo à atividade agrária por parte do governo. Esses fatores contribuíram para o aumento considerável do fluxo para as cidades industriais, capitais ou grandes centros financeiros. Em consequência, vê-se a chegada de enorme contingente de trabalhadores rurais ao meio urbano. As cidades estão despreparadas para absorver os migrantes e oferecer-lhes condições de subsistência e de trabalho dignos. Cresce, assim, o número de pessoas que vivem à margem dos benefícios oferecidos por uma metrópole. Por falta de opção, eles instalam-se em zonas periféricas o que ocasiona a proliferação de favelas. Por isso o êxodo rural agrava os problemas do campo e das próprias cidades. (Adaptado do livro Técnicas Básicas de Redação, Ed. Scipione) Texto para responder à questão 5: O Brasil foi a última nação do mundo ocidental a abolir o trabalho escravo de forma oficial, o que ocorreu no final do século XIX. No entanto, em termos práticos, esse problema continua a existir nos dias atuais. Informações recentes estimam a ocorrência de 200 mil trabalhadores no país vivendo em regime de escravidão, segundo dados do Índice de Escravidão Global, elaborado por Organizações Não Governamentais (ONGs) ligadas à Organização Internacional do Trabalho (OIT). Primeiramente, é importante o estabelecimento da definição do que seja considerado, propriamente, o regime de escravidão. Segundo a OIT, é considerado escravo todo o regime de trabalho degradante que prive o trabalhador de sua liberdade. Isso ocorre no Brasil, em maior parte, em espaços rurais distantes de centros urbanizados e rotas de transporte para fuga, onde os trabalhadores são geralmente coagidos a continuarem laborando sob a alegação da existência de dívidas com fazendeiros. Mas esse tipo de ocorrência nem sempre ocorre dessa forma e também não é algo exclusivo do meio agrário. Em setembro de 2013, por exemplo, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) denunciou a existência de trabalhadores em regime de escravidão nas obras de ampliação do Aeroporto de Guarulhos, no estado de São Paulo. Em termos práticos, é possível afirmar que o trabalho escravo nunca foi abolido totalmente no território nacional. No entanto, apenas em 1995, o governo reconheceu oficialmente perante a OIT a existência desse tipo de problema no país, embora este tenha sido um dos primeiros no mundo a realizar esse tipo de pronunciamento. Atualmente, apesar da grande quantidade de trabalhadores escravizados no país, o Brasil é considerado internacionalmente um dos países mais avançados em esforços governamentais e não governamentais para acabar com esse problema. O escravismo é considerado internacionalmente uma violação grave aos direitos humanos, no sentido de explorar e privar o ser humano do exercício de sua liberdade. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/brasil/trabalho-escravo-no-brasil-atual.htm>. Acesso em 19 de mai. 2018 Questão 5: Em relação ao parágrafo da questão 5, use V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas. Depois, assinale a opção correta. I. O texto trata sobre trabalho escravo que persiste unicamente na área rural do Brasil. II. O tópico frasal é do tipo alusão histórica e é constituído pelos dois primeiros períodos. III. O parágrafo é padrão, pois apresenta uma ideia-núcleo, também apresenta ideias secundárias as quais esclarecem a primeira e, finalmente, a conclui com retomada do tema. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 74 IV. A partir de 1995, após o governo reconhecer oficialmente perante a Organização Internacional do Trabalho a existência de trabalhadores escravizados no país, o problema foi extinto na área urbana, graças ao trabalho realizado pelo MTE. V. Os argumentos foram retirados de fontes seguras, por isso o texto tem credibilidade e não pode ser considerado como notícia falsa ou fake new. VI. Uma das diferenças entre um texto coerente e um amontoado de frases soltas é o caráter reiterativo ou voltas a segmentos que já apareceram, por meio de elementos coesivos referenciais. No entanto as repetições que ocorrem nesse texto tornam-no confuso e pouco coerente. VII. No excerto “segundo a OIT, é considerado escravo todo o regime de trabalho degradante que prive o trabalhador de sua liberdade. Isso ocorre no Brasil, em maior parte, em espaços rurais distantes de centros urbanizados e rotas de transporte para fuga”, o primeiro termo destacado é elemento coesivo e pode ser substituído por “conforme”; e o segundo é elemento coesivo que retoma o que foi dito na afirmação anterior. a) F, V, F, V, V, F, V b) V, F, V, V, F, V, F c) F, V, F, F, V, F, V d) V, V, V, F, F, V, F e) F, V, V, F, V, F, V Questão 6: Analise, com atenção, a construção do parágrafo e elabore uma conclusão. O mercado editorial brasileiro cresceu de 2012 para 2013. Entretanto, o aumento foi de livros didáticos vendidos para o governo, usados em escolas públicas. Se é um indicador que a escola, em tese, cumpre seu papel de estimular a leitura, por outro lado escancara que 56% dos brasileiros nunca compraram um livro. Mais: 85% não compraram nem edições impressas, digitais, cópias e apostilas nos três meses anteriores à pesquisa. Crianças e adolescentes têm acesso por meio de doações. Fora desse cenário, a venda ainda não decolou. (Disponível em: <http://contaumahistoria.com.br/?cat=12>. Acesso em: 25 fev. 2016.) Referências ABREU, A. S. Curso de redação. 12. ed. São Paulo: Ática, 2004. GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna. 25. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006. VIANA, A. C. (Coord.) Roteiro de redação: lendo e argumentando. São Paulo: Scipione, 2000. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 75 ANEXOS Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 76 CAPÍTULO 7: PRODUÇÃO TEXTUAL: GÊNERO E TIPOLOGIA Cada vez mais, evidencia-se a necessidade de novos estudos sobre diferentes gêneros textuais que desenvolvam instrumentais teóricos e práticos para demonstrar que, através de textos orais e escritos, criamos representações que refletem, constroem e/ou desafiam nossos conhecimentos e crenças, e cooperam para o estabelecimento de relações sociais identitárias. (José Luiz Meurer) Introdução Marcuschi (2002) acredita que o conhecimento dos gêneros textuais que fazem parte das interações sociais diárias favoreça tanto a leitura como a compreensão de textos. O autor considera que, Tendo em vista que todos os textos se manifestam sempre num ou noutro gênero textual, um maior conhecimento do funcionamento dos gêneros textuais é importante tanto para a produção como para a compreensão. Em certo sentido, é esta ideia básica que se acha no centro dos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), quando sugerem que o trabalho com o texto deve ser feito na base dos gêneros, sejam eles orais ou escritos (MARCUSCHI, 2002, p. 32-33). Os gêneros textuais são grandes aliados para várias atividades: leitura crítica,produção textual significativa, desenvolvimento da oralidade, conscientização de que a leitura e a escrita estão presentes em tudo que fazemos etc. Por isso, conheceremos as características do que se chama gênero textual e qual a diferença entre os gêneros e os tipos textuais. 7.1 Gênero textual Vamos começar procurando entender o que é gênero textual. Baltar (2004, p. 46-47) nos ensina que Gêneros textuais são unidades triádicas relativamente estáveis, passíveis de serem divididas para fim de análise em unidade composicional, unidade temática e estilo, disponíveis num inventário de textos, criado historicamente pela prática social, com ocorrência nos mais variados ambientes discursivos, que os usuários de uma língua natural atualizam quando participam de uma atividade de linguagem, de acordo com o efeito de sentido que querem provocar nos seus interlocutores (grifos nossos). O autor define gênero textual como unidade triádica por ser formado de três elementos: • unidade composicional: relaciona-se à maneira como o gênero está estruturado. Por exemplo, o bilhete prevê um formato que é diferente de uma carta. As formas precisam levar em conta o autor e os demais participantes da situação de interação; • unidade temática: relaciona-se ao tema da interação, ou seja, o tema determina qual gênero será utilizado na interação comunicativa; • estilo: são as marcas linguísticas que configuram a seleção de recursos léxicos, fraseológicos e gramaticais da língua. O estilo tem ligação com o tema e com a forma composicional. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 77 Por que a crônica é um exemplo de gênero textual? Vejamos algumas de suas características que a diferenciam de outros gêneros textuais. • Trata de temas do cotidiano. • Explora o assunto de forma crítica, reflexiva, filosófica, cômica e/ou irônica. • É escrita em prosa e organizada em parágrafos. • É publicada, normalmente, em jornais, livros e revistas, podendo também integrar uma coletânea. De acordo com Candido (1992, p. 22), a crônica estética, “[...] participa de uma língua geral lírica, irônica, casual, ora precisa e ora vaga, amparada por um diálogo rápido e certeiro, ou por uma espécie de monólogo comunicativo”. Essas características diferenciam a crônica de um conto, de um romance, de uma fábula ou de um apólogo. Marcuschi (2002, p. 29) expõe que os gêneros podem ser caracterizados conforme a atividade sociodiscursiva a que servem. Quando dominamos um gênero, dominamos “uma forma de realizar linguisticamente objetivos específicos em situações sociais e particulares”. Por isso, a importância do estudo de gêneros diversificados, pois ficamos em contato com variadas formas de interação social, nas mais diversas práticas cotidianas de comunicação. Quanto à classificação dos gêneros textuais, podemos dizer que é impossível fazer um inventário fechado e fixo, pois os gêneros surgem conforme a necessidade das práticas sociais. Como exemplo, temos os e-mails. Há quanto tempo esse gênero surgiu? Qual era o gênero que o substituía em muitas situações? Ele surgiu há pouco tempo e derivou de cartas comuns. Por exemplo, as cartas ainda resistem, mas foram substituídas em muitas situações da prática social pelos e-mails. Assim, a classificação dos gêneros, como um inventário fechado, fixo, é impossível. Vejamos alguns exemplos de gêneros: carta, bilhete, receita, bula de remédio, telefonema, sermão, horóscopo, lista de compras, resenha, resumo, cardápio, romance, piada, conferência, artigo de opinião, reportagem, notícia, anúncio publicitário, bate-papo por computador, outdoor, edital de concurso, entrevista etc. Nossa lista seria infinita... Aqui trataremos de dois gêneros: e-mail e fórum de discussão. 7.1.1 E-mail O e-mail é uma mensagem eletrônica produzida pela pessoa que a transmite e pelo(s) receptor(es) que é(são) o(s) destinatário(s) da mensagem. O envio e a entrega de mensagens são mediados por um ou mais provedores de internet, e seu tráfego é determinado pela rede mundial de computadores. Paiva (2004, s/p) destaca que o e-mailé Mas preste atenção! Muitas vezes, quando surge um novo gênero textual, isso não quer dizer que outro tenha de desaparecer! Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 78 [...] um gênero eletrônico escrito, com características típicas de memorando, bilhete, carta, conversa face a face e telefônica, cuja representação adquire ora a forma de monólogo ora de diálogo. [Distingue-se] de outros tipos de mensagens devido a características bastante peculiares de seu meio de transmissão, em especial a velocidade e a assincronia na comunicação entre usuários de computadores. Os seguintes aspectos – autor, leitor, comunidade discursiva, tecnologia, contexto, texto, organização retórica, léxico, sinais não verbais (emoticons ou smileys), e normas de interação – ganham características especiais quando se trata desse gênero. Segundo a autora, o e-mail agregou características de outros gêneros textuais: do memorando, “toma de empréstimo semelhanças de forma que é automaticamente gerada pelo software”; do bilhete, pega “a informalidade e a predominância de um ou poucos tópicos”; da carta, usa “fórmulas de aberturas e fechamentos”; da conversa face a face, encontramos “a semelhança com a tomada de turno”; da interação telefônica, temos “a possibilidade de colocar em contato pessoas que se encontram geograficamente distantes”; dos gêneros orais, “herda a rapidez, a objetividade e a possibilidade de se estabelecer um ‘diálogo’” (PAIVA, 2004, s/p). O e-mail é um dos gêneros textuais mais produzidos em todo o mundo, devido à rapidez e à praticidade desse meio eletrônico. Para que as pessoas possam se entender bem dentro desse novo contexto, criou-se a padronização do texto nele desenvolvido: a Netiqueta, que é um conjunto de regras que deve ser considerado no uso da internet. A partir de uma pesquisa, Paiva (2004) sintetiza algumas normas para que a interação por e- mail seja bem sucedida. Vejamos. • Evite escrever a mensagem inteira em caixa alta, pois elas indicam que você está gritando ou enfatizando algum termo ou expressão. • Especifique o assunto da mensagem no assunto/subject, isso ajuda o destinatário a selecionar as mensagens que quer ler. • Seja claro, breve e objetivo, isso significa dizer que deve evitar erros gramaticais e mensagens muito extensas. • Não mande e-mails que não foram solicitados: correntes, avisos de vírus, propagandas etc., pois geram trafego inútil na rede e podem irritar o interlocutor. • Não adicione telefones pessoais nem endereços nas assinaturas em e-mails. • Evite flames (brigas) nem envie ou responda a material provocativo, como ofender, xingar ou gritar com alguém, ao contrário, seja conservador com o que escreve e liberal com o que recebe. • Apague as linhas da mensagem recebida ao responder a um e-mail, deixando somente as partes essenciais da mensagem referenciada. • Antes de fazer alguma pergunta ou enviar alguma mensagem para a lista, observe a discussão para não enviar mensagens que nada acrescentam ao tema da lista. • Não mande arquivos anexados para uma lista de discussão, ou quando o destinatário não o solicitou. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 79 • Evite cross-posting, mensagens enviadas para diversas listas, pois a maioria delas não aceita esse tipo de ação. • Mande respostas individuais diretamente para o destinatário e não para a lista inteira. • Então, ao usar o e-mail para se comunicar, considere essas regras. 7.1.2 Fórum de discussão O fórum de discussão eletrônico é uma reedição do fórum oral utilizado para expor opiniões, debater e discutir problemáticas antes do surgimento da internet (XAVIER; SANTOS, 2005). Paiva eRodrigues Jr. (2004, p. 171) caracterizam o fórum de discussão como “um espaço virtual que reúne as opiniões de uma comunidade discursiva”, caracterizado especialmente por seu caráter dialógico e interativo, já que várias pessoas discutem um tema. Reis e Souza (2010) expõem que o fórum é um gênero textual on-line e apresenta características próprias, como marcas de discussões assíncronas e linguagem adequada para internet – frases curtas e marcas da oralidade. Também há um moderador que é responsável pelas mensagens postadas, publicando-as ou não, conforme relevância e adequação com a discussão. Os autores destacam que o fórum é marcado pela discussão assíncrona. Mas o que é uma discussão assíncrona? Vieira e Anjos (2009, s/p) salientam que, “Nesse tipo de discussão, os interlocutores não precisam estar “presentes”, ou melhor, conectados ao mesmo tempo. As mensagens ficam armazenadas e podem ser lidas a qualquer momento”. No caso dos fóruns educacionais, os interlocutores são professores, tutores e alunos, e os temas são pré-definidos em função dos programas de ensino, das disciplinas e dos planos de curso. Além das características já expostas, segundo Vieira e Anjos (2009), o fórum eletrônico pode ser caracterizado: • pelo espaço de debate de temas ou questões polêmicas: exposição de opiniões, com apresentação de argumentos e contra-argumentos; • pela dinâmica variável: pode ser público ou fechado; mediado ou não; pode referir-se a temas específicos ou ser livre para que os usuários definam os temas; • por ser organizado por mensagens ou tópicos, que podem ser comentados ou respondidos, e por esses comentários ou respostas também poderem ser comentados ou respondidos. Vieira e Anjos (2009, s/d) nos dão algumas dicas para usarmos adequadamente o fórum de discussão. Vejamos. • Como as mensagens são públicas, não usar termos chulos, palavrões ou expressões rudes, evitar abreviações e expressões usadas em mensagens instantâneas. • Participar frequentemente para interagir com os demais participantes, “pois, embora o fórum seja uma ferramenta assíncrona, se o tempo decorrido entre a mensagem original e a resposta for muito grande, a resposta pode não ser mais importante ou os demais participantes podem não ter mais interesse nela”. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 80 • Não é conveniente responder a uma mensagem criando uma nova mensagem, mas comentando-a diretamente no tópico já criado. • Seguir as regras de Netiqueta (não escrever com letras maiúsculas e nem usar o negrito). • Ler as várias mensagens dos membros do fórum para saber como eles interagem e do que o fórum trata. Portanto, ao participar dos fóruns no Conecta, considere essas dicas. 7.2 Tipologia textual Para Marcuschi (2002), usamos a expressão tipo textual para textos em que examinamos sua natureza linguística, ou seja, o léxico, a sintaxe, os tempos verbais, as relações lógicas etc. Os tipos textuais mais utilizados, conforme Werlich (apud MARCUSCHI, 2002), são as bases temáticas descritiva, narrativa, expositiva, argumentativa e injuntiva, assunto que examinaremos na sequência. 7.2.1 Descrição Utilizamos essa tipologia para caracterizar algo ou alguém. Isso é possível por meio do uso dos cinco sentidos (olfato, tato, audição, paladar e visão) e de sensações psicológicas. Primeiramente, quando descrevemos, devemos fazer um levantamento sensorial (BARBOSA, 2002). Os sentidos são explorados em sua totalidade, pois assim conseguimos transmitir para o interlocutor o máximo de informações para que ele possa “criar” o objeto em questão. Podemos fazer descrição objetiva (sem interferência de julgamento), ou subjetiva (como eu penso que é, minha opinião sobre o objeto). Também temos a descrição física (o que eu vejo) e a psicológica (julgamento de valor sobre o outro). Um fator interessante na descrição é a determinação do ponto de vista: de onde você está analisando o objeto? Qual seu lugar na observação? Por exemplo: você está ao lado do objeto? De frente para ele? Isso é importante para que o interlocutor tenha mais informações na reconstrução da coisa em análise. Leia o texto que exemplifica essa tipologia. Da janela de seu quarto podia ver o mar. Estava calmo e, por isso, parecia até mais azul. A maresia inundava seu cantinho de descanso e arrepiava seu corpo... estava muito frio, ela sentia, mas não queria fechar a entrada daquela sensação boa. Ao norte, a ilha a que mais gostava de ir, era só um pedacinho de terra iluminado pelos últimos raios solares do final daquela tarde; estava longe... longe! Não sabia como agradecer a Deus, morava em um paraíso! (Descrição – Brasil Escola. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/redacao/descricao.htm>. Acesso em: 11 dez. 2013) Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 81 Observamos que essa é uma descrição em que prevalece a subjetividade. O autor descreveu os sentimentos que a paisagem causava nele, e não seu aspecto físico. Na descrição, são bastante comuns os verbos de estado, como ser, estar, ficar, parecer (“Estava calmo e, por isso, parecia até mais azul.”, “estava muito frio”). A descrição é utilizada normalmente como base para outras tipologias, como a narração e a exposição. 7.2.2 Narração Podemos considerar a narração como relato de fatos ocorridos. Abreu (2004) considera que a base da tipologia narrativa dramática está nos plots (unidade dramática que se compõe de uma situação, uma complicação e uma solução). Além da formulação dos plots, devemos atentar para a fórmula de Oswald de Andrade (apud BARBOSA, 2002), em relação a notícias. Com essa fórmula, é mais fácil identificarmos a estrutura da narração e seus componentes. Mas quem narra um fato? Conforme a intenção do autor, ele escolherá um tipo de narrador, que pode ser narrador-personagem (primeira pessoa), narrador-observador (terceira pessoa) ou narrador-onisciente (terceira pessoa). Quando temos um narrador-personagem, quem narra está inserido na história, podendo ser um personagem principal ou secundário. O narrador- observadornãointerfere nos fatos narrados, pois sóexpõeo que vê .Já o narrador-onisciente, apesar de não ser um personagem, é um “sabedor de tudo” (BARBOSA, 2002, p. 71), ou seja, sabe até mesmo o que os personagens pensam. Analisemos o exemplo. A ação de vândalos na madrugada deste sábado, 30, provocou transtorno a moradores de algumas quadras da região Sul de Palmas. Eles retiraram o lixo que estava nas lixeiras das residências e jogaram pelas ruas das quadras. O fato foi registrado nas quadras 704 Sul, 804 Sul, 904 Sul e 1004 Sul. A empresa responsável pela limpeza urbana de Palmas destinou uma equipe para fazer toda a limpeza no local (adaptado – Conexão Tocantins. Disponível em: <http://conexaoto.com.br/2013/11/30/acao-de-vandalos-causa-transtornos-a-moradores-da-regiao- sul>. Acesso em: 11 dez. 2013). Nesse texto, há um narrador-observador (“A ação de vândalos na madrugada deste sábado, 30, provocou transtorno [...]”) que faz um relato de fatos ocorridos. Os três Q (que, quem, quando) foram respondidos: que – lixos serem jogados nas ruas; quem – vândalos; quando – sábado, dia 3 Q = que, quem, quando Como, onde e porque Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 82 30. Os outros itens também: como – retiraram o lixo que estava nas lixeiras das residências e jogaram pelas ruas das quadras; onde – em quadras da região Sul de Palmas; por que – vandalismo. Há enunciados indicativos de ação, por exemplo, em “Eles retiraram o lixo [...] e jogaram pelas ruas das quadras” e “A empresa responsável pela limpeza urbana de Palmas destinou uma equipe para fazer toda a limpeza no local” e os verbos estão no pretérito, características de textos narrativos.7.2.3 Exposição O tipo expositivo caracteriza-se por explanar ou explicar um assunto, um tema, uma coisa, uma situação ou um acontecimento, que pretendemos desenvolver ou apresentar. O objetivo dessa tipologia textual é informar, definir, explicar, aclarar algo sem expor opiniões particulares. Apesar dessa característica, é quase impossível não deixar transparecer pontos de vista em textos que produzimos, pois a linguagem é argumentativa. Dizemos, então, que nesse tipo há uma incidência reduzida da individualidade. Veja o exemplo. O significado da palavra chat vem do inglês e quer dizer “conversa”. Essa conversa acontece em tempo real, e, para isso, é necessário que duas ou mais pessoas estejam conectadas ao mesmo tempo, o que chamamos de comunicação síncrona. São muitos os sites que oferecem a opção de bate-papo na internet, basta escolher a sala que deseja “entrar”, salas são divididas por assuntos, como educação, cinema, esporte, música, sexo, entre outros. Para entrar, é necessário escolher um nick, uma espécie de apelido que identificará o participante durante a conversa. Algumas salas restringem a idade, mas não existe nenhum controle para verificar se a idade informada é realmente a idade de quem está acessando, facilitando que crianças e adolescentes acessem salas com conteúdos inadequados para sua faixa etária. (AMARAL, S. F. Internet: novos valores e novos comportamentos. In: SILVA, E. T. (Coord.). A leitura nos oceanos da internet. São Paulo: Cortez, 2003.). Esse texto explana sobre o chat (que é outro gênero textual que surgiu com a internet),sem opinar sobre o tema abordado, ou seja, autor expõe o que é chat e como funciona. O texto expositivo pode ser utilizado como introdução de um texto argumentativo, como base para futuras discussões. 7.2.4 Argumentação Em textos argumentativos, estão presentes tema, problema, hipótese, tese e argumentação. Para temas abrangentes, deve haver uma delimitação, ou seja, eleger um problema para se discorrer. Após essa etapa, levantam-se as hipóteses, as possíveis respostas ao problema inicial. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 83 Quando a melhor é eleita, tem-se a tese a ser defendida, na base da qual se constrói a argumentação. Abreu (2004, p. 49) nos ensina que “a construção prévia de um esquema, levando em conta as partes da macroestrutura da argumentação e a execução desse esquema, levará a um grau de coerência textual bastante grande”. Veja um exemplo de texto argumentativo. Um jornal carioca, de grande circulação nacional, destaca em sua edição de hoje a seguinte manchete: “Despreparado, Rio fica refém das chuvas e terá ajuda para conter saques e arrastões”. A preocupação no Rio de Janeiro hoje, onde os índices de criminalidade aumentaram em todos os níveis, encontra na questão da segurança o grande problema do momento, a ponto da grande imprensa destacar a necessidade de mais ações contra a violência, ao invés de abordar o despreparo dos administradores da cidade por transformar o Rio num grande buraco de obras. O articulista do jornal Folha de São Paulo, Bernardo Mello Franco, na edição de hoje (12), destaca em seu artigo que “Eduardo Paes, o prefeito da vez, tem repetido a prática de antecessores: gasta muito com obras de maquiagem e investe pouco no combate às enchentes. No ano passado, prometeu acabar com as cheias na Tijuca e na Praça da Bandeira, outro problema ancestral do Rio. O sistema de reservatórios deveria estar pronto, mas já atrasou duas vezes. Agora, a promessa da prefeitura é acabar com as inundações em 2014. Alguém acredita?” (Jornal do Brasil, disponível em: <http://www.jb.com.br/opiniao/noticias/2013/12/12/opiniao- arrastoes-e-saques/>. Acesso em: 12 dez. 2013). No exemplo dado, percebemos que há um tema (Rio de Janeiro), uma delimitação ou problema (as chuvas, os saques e os arrastões), a hipótese que se transformou em tese (administradores não resolvem problemas da violência que cresce na cidade e não terminam obras) e a construção da argumentação na defesa da ideia apresentada (necessidade de mais ações contra a violência, ao invés de abordarem o despreparo dos administradores da cidade por transformar o Rio em um grande buraco de obras). Com esse esquema, alcançamos a coerência textual e somos bem sucedidos na defesa de nossas ideias. 4.2.5 Injunção A característica que distingue o tipo injunção dos outros é seu “caráter normativo, impositivo de mandar ou pedir” (ABREU, 2004, p. 54, grifo nosso). Há muitos gêneros textuais que trazem em si essa tipologia, como oração, normas, leis e manuais. Veja o exemplo. Ingredientes 125 gr de manteiga 4 unidades de ovo 2 xícaras (chá) de açúcar Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 84 1 xícara (chá) de leite 2 xícaras (chá) de farinha de trigo 1 colher (sopa) de fermento químico em pó Modo de fazer Bata as claras em neve bem firme e reserve na geladeira. Bata as gemas com o açúcar e a manteiga até ficar bem branquinho. Adicione o leite aos poucos, alternando com a farinha. Continue batendo. Quando estiver bem misturado, pare de bater e misture a clara em neve e o fermento bem devagar. Coloque a massa em uma forma untada com manteiga e polvilhada com farinha de trigo. Asse em forno médio, pré-aquecido. (CyberCook. Disponível em: <http://cybercook.terra.com.br/bolo-simples-r-12-1640.html>. Acesso em: 12 dez. 2013). Nesse texto, há verbo no imperativo (“bata”) e determinações como “continue batendo”, característica da tipologia injuntiva. Essa estrutura evidencia o tom normativo, impositivo do texto. 7.3 Tipologia X gênero Agora que temos a definição de gênero textual e de tipo textual, faremos a comparação entre eles, conforme Marcuschi (2002). Quadro – Comparação entre os tipos e os gêneros textuais Tipos textuais Gêneros textuais 1 Construções teóricas definidas por propriedades linguísticas próprias. Realizações linguísticas concretas definidas pela situação sociocomunicativa. 2 Sequências linguísticas ou de enunciados no interior de gêneros. Textos empiricamente realizados cumprindo funções em situações comunicativas. 3 Nomeação limitada determinada por aspectos: lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo verbal. Nomeação ilimitada determinada pelo: canal, estilo, conteúdo, composição e função. 4 Designações: descrição, narração, exposição, argumentação, injunção. Exemplos de gêneros: carta, bilhete, receita, bula de remédio, telefonema, sermão, horóscopo, lista de compras, resenha, resumo, cardápio, romance, piada, conferência, bate-papo por computador, outdoor edital de concurso, entrevista, reunião de condomínio, instruções de uso etc. Um gênero pode conter vários tipos textuais. Uma carta pessoal seria um gênero com a função social de mandar informações de uma pessoa distante para outra, por exemplo. Esse gênero poderá ter em seu conteúdo vários tipos textuais, como descrição de uma cena, narração de um fato, argumentação de um ponto de vista etc. A isso chamamos de heterogeneidade tipológica, ou seja, a presença de vários tipos textuais em um só gênero. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 85 Atente para o fato de que, para identificar o gênero, é necessário ter em mente, principalmente, seu propósito, pois assim terá menos chance de cometer equívocos na classificação. Para identificar o tipo textual, deve ver se nas sequências predomina a narração, a descrição, a informação, a exposição de ideias ou a injunção. Portanto, os gêneros textuais são instrumentos que devem ser utilizados na formação do cidadão de forma abrangente, pois é por meio deles que podemos fazer com que o indivíduo tenha contato com vários textos orais e escritos que fazem parte de seu dia a dia e, assim, inserirem-se na sociedadeletrada. Tipologia textual diz respeito ao léxico, à sintaxe, aos tempos verbais, às relações lógicas etc. É classificada em: descrição, narração, exposição, argumentação e injunção. Normalmente, utilizamos o tipo descrição quando queremos que o interlocutor consiga visualizar a coisa descrita por meio dos sentidos, podendo ser objetiva/subjetiva, física/psicológica. O tipo narração é usado para narrar um fato ocorrido e é utilizado em vários gêneros textuais, como novelas, romances, reportagens jornalísticas etc. A exposição é adequada para definições em que não há a opinião do autor. Já a argumentação é utilizada em muitas ocasiões cotidianas, tanto na oralidade quanto na escrita. Com esse tipo textual, expomos e defendemos pontos de vista por meio de argumentos. Finalmente, a injunção serve para darmos ordens e fazermos pedidos. Não se esqueça de que, na maioria dos gêneros textuais, há presença de variados tipos textuais, sobressaindo-se um ou outro. A distinção entre tipo textual (classificação limitada e definida por aspectos linguísticos) e gênero textual (classificação ilimitada e feita por meio da função na prática social) deve estar clara para compreender textos e escolher o melhor tipo de composição para a produção textual, conforme os objetivos estabelecidos. Referências ABREU, A. S. Curso de redação. 12. ed. São Paulo: Ática, 2004. BALTAR, M. A. Competência discursiva e gêneros textuais:uma experiência com o jornal de sala de aula. Caxias do Sul: EDUCS, 2004. BARBOSA, S. A. M. Redação: escrever é desvendar o mundo. 15. ed. Campinas: Papirus, 2002. MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Org.). Gêneros textuais e ensino. 2. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. PAIVA, V. L. M. E-mail: um novo gênero textual. In: MARCUSCHI, L. A.; XAVIER, A. C. (Org.). Hipertextos e gêneros digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004. p. 68-90. Disponível em: <http://www.veramenezes.com/emailgenero.htm>. Acesso em: 25 mar. 2013. PAIVA, V. L. M.; RODRIGUES JR., A. S. Fóruns on-line: intertextualidade e footing na construção do conhecimento. In: MACHADO, I. L.; MELLO, R. (Org.). Gêneros: reflexões em análise do discurso. Belo Horizonte: UFMG, 2004. p. 171-189. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 86 REIS, I. M.; SOUZA, L. S. V. de. Fórum como gênero discursivo na era digital: caracterização e problematização. In: I CIPLOM,Foz do Iguaçu, 19-22 out. 2010. Artigo. p. 1-10. Disponível em: <http://www.apeesp.com.br/web/ciplom/Arquivos/artigos/pdf/isabel-reis-ludmila-souza.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2013. VIEIRA, A.; ANJOS, R. dos. Fórum: que gênero é esse? 2009. Disponível em: <http://escrevendo.cenpec.org.br/?option=com_content&view=article&id=164&catid=57&Itemid=161 >. Acesso em: 25 mar. 2013. XAVIER, A. C.; SANTOS, C. F. E-forum na internet: um gênero digital. In: ARAÚJO, J. C.; BIASI- RODRIGUES, B. (Org.). Interação na internet: novas formas de usar a linguagem. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. p. 30-38. CONDIÇÕES DA ARGUMENTAÇÃO Autor: Antônio Suàrez de Abreu A primeira condição da argumentação é ter definida uma tese e saber para que tipo de problema essa tese é resposta. Se queremos vender um produto, nossa tese é o próprio produto. Mas isso não basta. É preciso saber qual a necessidade que o produto vai satisfazer. Um bom vendedor é alguém capaz de identificar necessidades e satisfazê-las. Um bom vendedor de carros saberá vender um automóvel de passeio a um cliente que se locomove apenas no asfalto e um utilitário àquele que tem de enfrentar estradas de terra. No plano das ideias, as teses são as próprias ideias, mas é preciso saber quais as perguntas que estão em sua origem. Se eu quero vender a ideia de que é preciso sempre poupar um pouco de dinheiro, eu tenho de saber que a pergunta básica é: — O que eu faço com o dinheiro que recebo? Muitas pessoas se queixam de que, nas reuniões da empresa, suas boas ideias nunca são levadas em consideração. O que essas pessoas não percebem é que essas ideias são respostas a perguntas que elas fizeram a si mesmas, dentro de suas cabeças. Ora, de nada adianta lançar uma ideia para um grupo que não conhece a pergunta. É preciso primeiro fazer a pergunta ao grupo. Quando todos estiverem procurando uma solução, aí sim, é o momento de lançar a ideia, como se lança uma semente em um campo previamente adubado. A segunda condição da argumentação é ter uma “linguagem comum” com o auditório. Somos nós que temos de nos adaptar às condições intelectuais e sociais daqueles que nos ouvem, e não o contrário. Temos de ter um especial cuidado para não usar termos de informática para quem não é da área de informática, ou de engenharia, para quem não é da área de engenharia e assim por diante. Durante a campanha para a prefeitura de São Paulo, em 1985, Jânio Quadros contou com o apoio do deputado e ex-ministro Delfim Neto. Durante um comício para Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 87 moradores de um bairro de periferia, Delfim terminou sua fala dizendo: “- A grande causa do processo inflacionário é o déficit orçamentário”. Logo depois, Jânio chamou Delfim de lado e disse: “-Delfim, olhe para a cara daquele sujeito ali. O que você acha que ele entendeu do seu discurso? Ele não sabe o que é processo. Não sabe o que é inflacionário. Não sabe o que é déficit. E não tem a menor ideia do que é orçamentário. Da próxima vez, diga assim: - A causa da carestia é a roubalheira do governo”. Em um processo argumentativo, nós somos os únicos responsáveis pela clareza de tudo aquilo que dissermos. Se houver alguma falha de comunicação, a culpa é exclusivamente nossa! A terceira condição da argumentação é ter um contato positivo com o auditório, com o outro. Estamos falando outra vez de gerenciamento de relação. Nunca diga, por exemplo, que vai usar cinco minutos de alguém, se vai precisar de vinte minutos. É preferível, nesse caso, dizer que vai usar meia hora. Muitas vezes, há necessidade de respeitar hierarquias e agendas. Faça isso com sinceridade e bom humor. Outra fonte de contato positivo com o outro é saber ouvi-lo. Noventa e nove por cento das pessoas não sabem ouvir. A maior parte de nós tem a tendência de falar o tempo todo. É preciso desenvolver a capacidade da audiência empática. PATHOS, em grego, além de enfermidade, significa SENTIMENTO. EM, preposição, significa DENTRO DE. Ouvir com empatia quer dizer, pois, ouvir dentro do sentimento do outro. As palavras são escolhidas inconscientemente. É preciso prestar atenção a elas. É preciso prestar atenção também ao som da voz do outro! É por meio da voz que expressamos alegria, desespero, tristeza, medo ou raiva. Às vezes, a maneira como uma pessoa usa sua voz nos dá muito mais informações sobre ela do que o sentido lógico daquilo que diz. Devemos também aprender a “ouvir” com nossos olhos! A postura corporal do outro, suas expressões faciais, a maneira como anda, como gesticula e até mesmo a maneira como se veste nos dão informações preciosas. O poeta e semioticista Décio Pignatari costuma dizer que o homem precisa aprender a “OUVIVER”, verbo que ele inventou a partir de OUVIR, VER e VIVER. Finalmente, a quarta condição e a mais importante delas: agir de forma ética. Isso quer dizer que devemos argumentar com o outro, de forma honesta e transparente. Caso contrário, argumentação fica sendo sinônimo de manipulação. O fato de agirmos com honestidade nos confere uma característica importante em um processo argumentativo: a credibilidade. Para ter credibilidade é preciso apenas comportar-se de modo verdadeiro, sem medo de revelar propósitos e emoções. Assim como as pessoas possuem ”detectores inconscientes” de interesse sexual em relação ao sexo oposto, capazes de decodificar posturascorporais, expressões faciais e tom de voz, elas também possuem ”detectores de credibilidade” em relação ao outro. Para ter credibilidade, basta procurar a criança que Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 88 existe dentro de nós. As crianças não dizem aquilo em que não acreditam e não fingem o que não sentem. Se estão tristes, seus rostos refletem nitidamente a tristeza. Se estão alegres, refletem essa alegria. Ao longo da vida, nós, adultos, é que desaprendemos a espontaneidade, depois que outros adultos nos ensinaram a separar nossa inteligência de nossas emoções. (ABREU, Antônio Suàrez. Arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. 6. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.) Leia o texto “Igualdade só no governo”, escrito por José Barella, retirado da revista Veja, de 2004, para responder às questões de 1 a 5. IGUALDADE SÓ NO GOVERNO Autor: José Eduardo Barella A Suécia é um primor no que diz respeito à igualdade entre os sexos no trabalho e na vida pública. No Parlamento, 45% das cadeiras são ocupadas por mulheres, o maior índice internacional de participação feminina e quase o triplo da média europeia. Por consenso entre os partidos políticos, elas também estão no comando de metade dos ministérios. Um terço dos cargos de confiança no governo é reservado para as mulheres. Em nenhum outro lugar da Europa é maior a presença feminina no mercado de trabalho e tão alta a média salarial, comparada com a masculina, como na Suécia. Dentro de casa, infelizmente, a história é outra. A violência contra a mulher – incluindo aí espancamento doméstico, relações sexuais forçadas e constrangimento psicológico – é também uma das maiores da Europa. Nos últimos quinze anos, o número oficial de casos de violência contra mulheres na Suécia aumentou 40%. Em 2003, de acordo com um relatório da Anistia Internacional, 50% das agressões que chegaram ao conhecimento da polícia se referiam a surras aplicadas por marido, namorado e toda sorte de ex. Quatro em cada dez suecas, em algum momento da vida, já foram agredidas por homens. É o dobro da média europeia e um índice encontrado com maior facilidade em países menos desenvolvidos, como o Brasil. Na Europa, só em Portugal as mulheres são mais espancadas que as suecas. De acordo com estatísticas, metade das portuguesas já foi surrada pelo menos uma vez na vida. Na Holanda essa proporção é de 20% e na Espanha, de 11%. Na Inglaterra, onde a orientação policial é tratar com rigor os suspeitos de espancamento doméstico, o índice de violência no lar caiu 50% desde o início dos anos 90. Como explicar o paradoxo de que o país europeu que melhor protege a mulher do ponto de vista legal seja também aquele que a trata pior dentro de casa? "Na verdade, por contraditório que possa parecer, uma coisa está relacionada a outra", explica Margareta Winberg, embaixadora da Suécia no Brasil e ex-ministra de Assuntos para a Igualdade de Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 89 Gêneros. "Os suecos batem nas mulheres para deixar claro que ainda são capazes de subjugá-las, apesar de ter perdido o poder sobre elas fora de casa." Talvez isso decorra do fato de a igualdade de direitos no trabalho ter sido imposta de cima para baixo, por meio de leis apresentadas no Parlamento. A legislação aprovada treze anos atrás estabelece punição severa para a companhia que deixar de contratar alguém só por ser mulher. As planilhas das empresas privadas são checadas pelo governo para ver se não há disparidade de salários entre homens e mulheres. "Nada disso garante às mulheres coragem para denunciar as agressões que sofrem dentro de casa", disse a VEJA Gerd Johnsson, diretora do projeto de combate à violência contra a mulher do governo da Suécia. "Algumas suportam caladas para preservar a imagem de pessoa forte e independente que construíram na sociedade.”(Veja, ed. 1902, 27 abr. 2005, p. 70). 1. Em relação às informações do texto, podemos afirmar que a) na Suécia existe igualdade entre sexo tanto no trabalho quanto em casa. b) quase metade das cadeiras do Parlamento sueco é ocupada por mulheres. c) o maior índice internacional de participação feminina em cargos públicos é quase o triplo da média sueca. d) as mulheres suecas estão em um terço dos cargos dos ministérios, um índice considerado baixo em relação ao restante da Europa. e) a média salarial é bem mais alta em outros lugares da Europa do que na Suécia. 2. Em relação à violência doméstica na Europa, não podemos afirmar que a) a mulher sueca, dentro de casa, tem uma vida muito diferente das mulheres europeias, visto que recebe toda a ajuda de seu marido. b) a violência contra a mulher sueca, nos últimos quinze anos, diminuiu 40%. c) apesar de no trabalho ter se igualado ao homem, infelizmente, entre 10 mulheres suecas, quatro, em algum momento da vida, já foram agredidas por homens. d) as mulheres suecas sofrem mais com a violência doméstica do que as portuguesas. e) tanto em Portugal, quanto na Holanda e na Espanha, 50% das mulheres sofrem com a violência dentro de casa. 3. Considerando o questionamento de “Como explicar o paradoxo de que o país europeu que melhor protege a mulher do ponto de vista legal seja também aquele que a trata pior dentro de casa?”, assinale a alternativa incorreta. a) Margareta Winberg, embaixadora da Suécia no Brasil, diz que os homens suecos são violentos com suas mulheres para mostrar que tem domínio sobre elas. b) Uma das possíveis razões para a violência sofrida pela mulher sueca é devido à imposição da lei em relação à igualdade de direitos no trabalho. c) A lei em relação à igualdade de direitos entre homem e mulher no trabalho é seguida rigorosamente na Suécia. d) O rigor das leis suecas garante às mulheres coragem para denunciar as agressões que sofrem de seus parceiros. e) Algumas mulheres suecas não denunciam a violência que sofrem dentro de casa para preservar a imagem de pessoa forte e independente que construíram na sociedade. Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 90 4. Observe o trecho a seguir. “Como explicar o paradoxo de que o país europeu que melhor protege a mulher do ponto de vista legal seja também aquele que a trata pior dentro de casa?” O que significa o termo “paradoxo” nesse contexto? a) Uma situação contraditória. b) Uma situação metafórica. c) Uma situação muito complexa. d) Uma situação indesejável. e) Uma situação insuportável. 5. No texto “Igualdade só no governo”, predomina a a) narração. b) descrição. c) argumentação. d) narração e descrição. e) exposição. Por que o texto técnico é tão chato? O texto técnico geralmente é mais chato que um texto jornalístico ou que um livro de divulgação científica. Existem algumas boas razões para que isso ocorra. Em primeiro lugar, é muito difícil escrever fácil, de forma simples, sem perder a precisão. Assim, muitos cientistas, que são especialistas em fazer pesquisas, têm grande dificuldade de escrever seus relatórios em linguagem acessível. Muitos pesquisadores consideravam as aulas (e as regras) de português desnecessárias. Afinal, "qual a necessidade de um contador saber escrever? Ele precisa saber fazer os lançamentos contábeis, nada mais que isso". Uma segunda explicação possível para a nossa questão é que as pessoas que escrevem textos técnicos consideram que seus artigos devem ser "chatos". Muitas vezes as pessoas não querem que outros estudem com profundidade suas pesquisas ou relatórios, mas querem ser elogiados. Uma forma de fazer isso é tornar o texto hermético, ou seja, difícil de ser compreendido. As pessoas associam textos complicados com textos de boa qualidade, o que nem sempre é verdade. Em certos casos, uma forma de aprovar um texto sem muita dor de cabeça para o autor é torná-lo inacessível. Se eu uso ummonte de fórmulas quantitativas no meu texto, as chances de ele ser aceito num periódico aumenta, mas provavelmente a possibilidade de difusão das suas conclusões é menor. Mas acredito que exista outra explicação: o texto científico deve ser preciso. E fazer um texto preciso exige muitas vezes repetição de palavras. Veja o seguinte exemplo, muito comum nas dissertações, artigos e outros textos científicos: "as empresas americanas foram usadas como amostra na pesquisa". Que empresas são essas? No meu dicionário, América significa uma porção de terra que vai da Patagônia até o Alasca. Mas parece que algumas Comunicação e Expressão Centro Universitário Luterano de Palmas – Ceulp 91 pessoas acreditam que a América é sinônimo de "Estados Unidos". Para resolver esse problema, outras pessoas escrevem: "as empresas norte-americanas foram usadas como amostra na pesquisa". Ou seja, a pesquisa contou com empresas do Canadá, Estados Unidos e México. Mas não é isso que era para ser dito. A solução seria escrever: "as empresas dos Estados Unidos foram usadas como amostra na pesquisa" ou "as empresas estadunidenses foram usadas como amostra na pesquisa". Agora chegamos à precisão necessária. Mas para isso, o texto ficou mais chato, com certeza, pois "estadunidenses" é muito mais esnobe e complicado que "americanas". Finalmente, a linguagem científica, como qualquer outro tipo de comunicação, está carregada de abreviações, atalhos e termos técnicos que afastam o leitor comum. Falamos em "ceteribus paribus" e o entendimento é imediato para quem é da área. Escrever sobre impairment é natural para quem conhece, mas é "grego" para quem possui pouco conhecimento contábil. Para entendermos certos textos é necessário um mínimo de conhecimento da variante usada. (Disponível em: http://www.contabilidade-financeira.com/2011/01/por-que-o-texto-tecnico-e- tao-chato.html>. Acesso em: 12 ago. 2015). 6. Qual é a tipologia textual predominante no texto? Comente como o autor estruturou seu texto. 7. Releia os parágrafos e identifique os tópicos frasais. 8. A partir do que estudamos sobre a técnica de sublinhar, localize as informações principais do texto e grife-as, esquematize e elabore uma paráfrase.