Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
nrsmo de Carvalho Advento do Cristianismo Aula 8 por Olavo de Carvalho coleçâo História Essencial da Filosofia ^ftento do cristiânismo por Oloro de Câwãlho cole{áo flistóna Essencial ita Fito$fâ Àcoúprrha estâ publicâçáo uÍl D1'D, que náo pld€ §er veídido §e!&adüEnte. úspllsso no Brâú ahil de 2007 Copydght @ 2003 by Olâvo de caryalho foto OIâío de clÍâlho Mário CaliêUo Edllor Edson Manoel de oliveiB Filho Proisro Gúíco MoDique §chenLel§ Dla$e.§io Dàgui Dosig! e Dqgúlr Rlízolo tr!D!.rt@ aê.Ea ,úúh laurengo PeEtra Os diEitos iutõIáis destâ edisÁo perten em à É &aliz3lo€s Editom, LiÍ.râria € DstÍiluido.â Lt&. CâiE Postd: 45321 CEP: 04010€70 - São Paúlo - §P Iêlefâ* Gl) 5572-536!EÍsil e@erlslizaco€§.com.br §ePwcrcáli4coe§.com.t( B.!i@rto. iodos s !üEitli! í€l! ohE hhiü todr e qú,kú6 ÉFr$d!$o d§lô cdiçáo pü qldqu§ reio d {omo, Ei. ela EleIrónid e r4,ntá, blaór|., ,nvii;ro ou qulquú reio Advento do Cristianismo Aula 8 por Olavo de Carvalho coleçáo História Essencial ila Filosofia eole§áú HiBtódà *§§ênêial ds Pilioída 46o6n16 tro Crisüarii§qo , Aila 8 po Ohvo ile Curdhn {,J sqbre Àql1êh ,edgdo eonfu§o (e'decqrnpo§iSo itâ iiiiditiêich 8regâ, o i,É&d} fifó§qfcêoÊnb tlâo tq4 lmPodâactu, n4 ht§i'ôÍlq! mtátê É muilsilus.f{tivoi úe§So e4,çeito§ alpêúo dêI)r6liÍlaé!'.itiÉ el( qü9 vtÍsqro§- o§iílE8p§ oilrqüeúts oü §Ê§§rnt{ áno$ Íotan rimá époeÊÍaulbéúdedüooqpodcáaqa bteli8êttciàfik6ófica. t§loéta§tanxa vitive! arsim.quece eo4pgra, corn s dúvêrdncíit diáditr&da prim6irr lmet4lê fu !éqioXX- &t6D, o cstiido d(MÉi{ôdo!ô§üeiicÊdÓlri@eü - §6ç!at€§,I{atÂq Êôtiúótêles *é trllrlto élú€idátilit !âr!i ó§ o problgns á qüe.sr tÉoriàt criililàe í€s§ali ptíodôt §áo niútor(ülii dtfi@i§,de 6onUn@idà ihtelêctüàhiLeiitê dô qsq,r§ glandc§ ilo§oüa§; evideúkmêIlte, poiqiie'sus ,Ílôdraiâô é nilitô rÔhplttá, náo é um Ínotivs$o ftosófica nítida. Tbda filoso§â é um e§ÍÔr§D que por §i Ú€s- mo é htêltg(vel rir 3ei àm'eiI6t(jó i l, bü§(a ds htçle!§áo.9 e$qiçÔ propli!úeti& ãho é oB simêltüô bt§âüê tntÊligÍ$eli nrüʧe @ qu€ E§,Frêirú§.iatüâdpioêriÍErido í§tti- a§60 tiétrdoí{o'c ulÍo,:nee9s§ids& hrrtiim firnd&nÉidàI. f4ac qtiêÍdó ciirÍ@rÍ 4 t?árotê! tênria§ ɧgiri§tteq sogr9 a.{uelâ de que de\,eúo! üveÍ como um raió solüo @ meio do deserto, é didcil §tl,lii,dr Ér{ àt idêsmo$jd'qua § &rôih úêg0ü 4 pçn§s isto.Á fun- dbioaútá@ Ílo§óúú4 n§o d,sc6drnia; entao; ten-§q quo âpalar paiÉ 4 ersltc.$ó,1úie,lóSfê,.E$aexpüiie§á9 é bs!áâate cqrresíurál, pory$ lrê têút polrqúíislÍIos dêda§§rú&4Íida ilêr§ss pê§roai E, àsiozes, e motivaçâo póicdógiaâ também n8o é ru§cient!, entiio paÍte-6e psrâ a.pdôr!4tológic& garte.§e.pqraa eqpüte§ão soAri,tido ÍiroQôtólútleq *{oe!ça e$idiuÀ e *ssite pordlsntÊ. No fini il⧠cont§s' a{àüdi'no§ é náo entendendo por que os suieitos disseram essas coisas - o máximo que chegâmos a dizer é que ali nâo há muito o que entender Nâo en- tendemos, mas iambén náo havia muito o que cntcnder; é anotar que islo aconteceu, ficar um pouco perplexo e passar adiânte. Isso náo qucrdizcr quc dcssss estados patológicos, psicopatológicos ou noopatológicos, nadâ se âproveitâ, porque tüdo isso fdz parie dâ experiência humana. Náo vale como doutrina, nAo vale como teoria, náo vale como idóia. lnas vale como traslado- Como tcstcmunho dc experiênciâ vivida, às vezes chega a ser lundamentâl- Creioque muitos scrcs humanos se sentiram mais como Diórgenes do que como Platáo, cerlâmente. PâÍa sent;r-se como Dióryenes, basta esiar desesperado; pâra scnlir-!c como Platâo, precisa algo mais, Todo csse pcríodoquc cstudamos vcnl dcsdc muito antcsdo cristia- nismo e se prolongâ depois; mâs há outros proccssos conconlitanles. Temos quc nos rcsguardardcssa idóia dc conlinuidadc lincarna Hisiória. Na verdade, tem-se vários movimentos s;multáneos que às vezes não apenas sc contradizem, mas até se ignoÍam completamente, passam unsàmârgemdos outros. Enumperíododeum século antcrior ao cris- tianismo até uns dois séculos já na era cristã, exisie um Ilorescimento de movimentos muito estranhos, seiias rcligiosas, algumas vindas do Oriente, outras improvisadas com a costura de vários elementos, tudo isso dcnotândo uma conseqüência daqueles lenômenos que já dissemos: a decomposiçào dâ polis e â angústiâ generalizâda de náo ter a que se ater (as pessoas não têm um ponto de orientaçáo na existência). Essc periodo, cvidentcmentc, náo era muiio favorável àespeculaçâo filosófica, pois esta prcssupÕe, por um lado, ummotivo, e essemotivoé, por certo, uma dúvida, um espanto, uma perplexidade: pressupõe, por ouiro lâdo, âlguns meios. Os motivos existiam nesse período, querdizer a pcrplexidade náo Ialtava. mas faltavam os meios, Os meios seriam, em pdmeiro lugâr aquilo que assinalamos iá no comcço da Filosofia, uma csrta elaborâçáo prévia leita em nivel retórico; as questõcs públi- cas têm que estar mais ou menos ariiculâdas retoricâmente para que dclas se possa fazer entáo umâ elaboraçâo filosófica. Mas quando as perplexidades sáo muilas, e a conlusáo também ó muita, essas várias linhas de pcnsamento náo chegâm â se âlticulaÍ em discursos retóricos que possâm seÍ de êlguma maneiÍa con{ronlados. Quândo hoie examinamos, por cxcmplo, algumas doutrinas ditas gnósticas quc apareceram nesse periodo, elas sAo tao complicadas, c tão estramboticâmente mitológicas. queàsvezestemos dificuldadecm sâb€r do que estão falando. Elcs começam a enumerar divindades inle(medi- árias que nos pârecem merâs ligutas de lingüagem, que cstão tratando comose fossementidades reais. Mas sáo cntidades esquisitíssimas, que náotêm paranós amenorpreseÍça, nem mesmo a consistência poética dos deuses dâ mitologiâ; então a impressão quc temos é estar lidando co frguras de pesâdelo. Aí havia a motivâçáo, mâs náo havia a condição, náo havia os ins- trumentos. Mas náo podemos dizcr que cssc cstado lbi geral e que iodo mundo Íoi contaminado porele. Nào, houvc nesse período pelo menos um esforço filosófico dos mais noiáveis, cquc surgc dc uma situaçáode perplexidade que é daquclas tipicâs que geram à motivaçãc filosófica, uma confrontaçáo, unla contradiçáo cntrcduas coÍrcntcs de idéias quc estáo perleitamente delincadas. Na época, havia muitos iudeus espalhados por toda a parte do Ocidente, e â religião iudaica estava nunr acclcrado processo de disso- luçáo. Esrava todo mundo âderindo a uulra cuisâ. mais ou menos como acontcccu iambém aos judeus modernos nos séculos XIX e XX, uma espécie de debandada geral: üm €ntra para a maçonariâ, outro entra para o Partido Comunista, evai sc integrando em outros esqsemas sem deixar de ser jüdeu e ter alguma raiz na comunidade judâicâ. Nessa altura, havia então cntre os porta-vozes, representantes da tradiçáo judâica, uma preocüpaçao müito grande cÔm esiâ confusáo- Elcs temiâm quc as novas Seraçõf'dc iudcus ia ná'J c{rnse8uis§em sequeÍ compre€naler alo que Moisé5 cstavâ fâlando mesmo porqüe a mâioria deles já não sabia falar hebÍaicoi e âeducação era inteiramente Iatina ou grega. E foi justamenie um desses camaradâs que, não sabendo falar hcbrâico mas se considerandd um iudeu de coração, tenta fazer uma conírontação entre a tradição júdaica e a filosofia grc8a, tomando a tradiçâo judâicâ na sua expressáo biblicâ e já com todôs os comen' tários tradicionais ponanto, tem'se aíuma doutrina perfeitamcnte exposrarbemconhccida- ca lradi(áogrcga navcrsáuqucapare(iâ na Academia plâtônicâ. E5sa é uma situaçào de contradiçAo e de perplexidade, mas náo de tôrãl confusáo - a toial confusáo náo podc ser elaborada filosoficâmente, tem qúe ter uma pÍirneira claboração num nívelpelomenos poélico_retó_ rico. Nestecaso, ó uma contradiçào, umaconfusão, mas filosoficamente elàborável. Entáo apârece csse cidadào, que se chamavâ Filon, da cidade de Álexandria, que tenta expressar o judaísmo nos termos da filosofia grega, com a ialéia de que mais ou menos tudo aquilo que os gÍegos tinham descobeÍto e elaborado já estava, pelo menos em germe, dentro da BÍblia. Ele esüeve um livro quc §e chama A ciaÇào do filndo seeundo Moisés, que é úm do§ grandes livros filos(ificos de todosostempos, no qual ele usa intcrpíetações simbólicas ealegóricas para buscar a ialcntidadc cntre as doutrina§ híhlicâs e o ensinâmeniÔ de Platáo e de Aristóíelcs, |nâs padicularmente o de Plaiáo, tal como apaÍece no livro O Tineu- Essa expressáo de umâ aloutrinabíblica em termos frlosólicos gregos ou vice_versa, de uma Iilosofia gÍerâ em termos bíblicos, é uma coisa quevamosver reaparecer mtlito mais tarde, deniro do contexto cristáo' Durâ,1le loda a históriâ do cristianitmo, haverá umâ elaboraqáo muito profunda da técnica da inlerprela(àoalegorica. e o curioso i ver que uma 8 boa pârte disso já está em Filon de Alexandria, antes do cristianismo- Filon nasceu uns quarentâ anos antes de Cristo e moffeu uns quarenta anos depois. Ele não teve contato com o cristiânismo apârentemcnte náo ficou sabendo; pode ser que tenha ficado sabendo, mas na obra cscrita nâo aparcce nada disso-, então ele está lidândo exclüsivamente com o Ântigo Testamento c com o materiâl grego, Existem muitos autores que vêem nessa obra de Filon algum arti- ficialismo, como se ele estivesse fazcndo um truque pâÉ a,eitar uma coisa à outra. Mas é o tal negócio: o primejÍo suieiio qu€ faz alSumâ coisa nunca faz direito. Essâ iécnica da intcrpretâçâo alc'góricâ teve qüe scr muito âprofundada, criticadâ e claborada, e só vamos verum pleno domín io disso nos gland(:s escolásticos, como HugodcSáoVitot Santo Tomás dcÂquino. Mâs, considerando quc Filon estavâ trabalhando até antes do cristianismo, aquilo é uma coisâ de gigante mesmo. Müiias vczcs, o historiâdor com uma excelente bagag{:m lilosófica, mas sem muitâ compreensão justamente destâ linguagem simbólica e âlegórica, enxerga contradiçóes na Íilosofia de Filon. Muitos autores dizem que Filon confunde duas coisas, por cxcmplo, as hierâÍquias angélicâs com a hierarquia das idéias, que sáo incompatívcis. Na ver- dade, não são incompaiíveis, não sáo teorias allernativas - âfinal de contas, âs idéias eternas sáo o conteúdo do LoSos divino, o conteúdo dâ Inteligência divina. EIas náo tén1 nâda a ver coÍn o modus opeÍa di da açáo divina. Dessâ maneira, se você cxplicou todas as coisas exis_ tent€s a paúiÍ de aÍquéiipos eternos que estáo na Inteligência divina, ou seja, asfamosas formas ou idéias, é como se tivesse exposto a planta daCriaçáo, omâpa daCriâÇão, cnáoo scu modo de construção. Entáo, a rigo! náo há nenhuma contradiçáo entre â ,déia das formas eternas platônicas e as hierarquias angélicâs, seiamelas como Filon as descleve, se,a de qualquer outra maneira. Outra coisa também notabilissimà em Filon é que ele sintetizâ, de el algum modo, aidéiâdo Supremo Bem platônico (em Platáo, a realidade pÍimeira e inicial é o que ele chama de Suprcmo Bem) com o Primeiro Motor Imóvel de Aristóteles. Tâmbém náo sáo düas idéias antagônicas, náo sáo teorias. O pÍimeiro princípio é o Supremo Bcm ou éo Primeiro Motor Imóvcl? É o Primeiro Motor lmóvel, o qual é o próprio Supremo Bem. E Filon já diz isso de mâneira explícita. Para clc, Dcus é o Supre- mo Bem e, ao mesmo tempo, o Primciro Motor Inóvel dc Arislóteles. Isso corresponde a se falar de Deus numa l;nguagem moral ou numa linguagem metalisica, mas, no fim, sc está falando da mesma coisa. Essa obra de Filon (creio que em lidâ até a década de 1930 ou 1940 doséculo xX) pareciâ uma coisa, mas, nos anos que se seguiram, hou- ve um progresso imenso da interyretaçáo dos lextos sacÍos, graças a autores como Henry Corban, Friijof Schüon, Seyyed Hossein Nasr E quânto mais isto progride, mais sevô quc aqucle univcrso de !-ilon íaz muito scntido. Tiatâ'se, entáo, de uma época de extrcma dccadôncia filosófica, de confusão, de degradação. Mas tem ali um camârâdâ que não paÍticipa inteimmente do âmbiente de degradaçao, poÍque pertencia a uma outra comunidade. Ele náo podia se considerar um individuo que estivesse desorientado âpenas por câusa da queda da polr's. Ele não estavadeso- rientado coisíssima nenhuma. estava com a Lei de Moisés debaixo do brâço, sabia pcdeitamente o que estavâ fâzendo, então não padece pessoâlmente da confusáo ambiente. Note bem que todo problcma, parâ poder ser fllosoficamente elabo- rado, precisa quc o filósofo mântenha umâ certa distânciaem relaçao a ele, senao não tem nem a linguagcm para expressá-lo. Todo problema que nos acerta no coraçào ou [o figado só pode ser expresso poeticamente; se náo tem nem â expressão poética, ele não tem elabomção alguma, a coisa náo tem nem nome. E quando se iratâ deum problema existencial dircto, quer seja pessoal, queÍ seja da comunidade, a primeira expressáo l0 é necessariamente poética. A elaboraçáo filosóficâ iinha que ser muito posterior a isso, iá supondo o dor nio dos instrumentos lingüísticos ne_ cessifuios para nomcar, classiicaÍ as coisás, ctc. Filon pôde ser um graode filósofo nurn período de decadência filo_ sófica precisamente por esiar poupado da dcgradâçáo coletiva, mas, ao mesmo tempo, por ter nâ máo um problemâ lllosófrco passivel dc ser equacionado e tratado, que é o problemâ exatamente da relaçáo enlÍe a sabedoria judaica e a sabedoÍia grega. Notc bem que até ho,e, de vez cm quando, súÍgem esscs Problemas ale influência de uma tmdiçáo na outra. É evidcntc que o delensoÍ ou porta-voz de umatradiçáo lenta mostrar quc a deleé majs antiga, mais bonita: "Tudo o que elcs sabemaprenderam comagente...". Se i§so for interpÍetado historicâmente, tudoo que Filon disse está errado, porque não há nenhumâ prova de quealgum suieito discípulo de Moisés tenha ido até a Crécia ensinar algo; náo há nada, nada- Historicamente, isso não faz sentido; o que Iâz sentido ó uma prioridade de certo modo ontológica. o conhecimento que os iudeus tinham de Deus, podemos dizer, foi feito por umâ experiência históricâ. Todo o tra,eto dosiudeustinta sido um constante diálogo com Deus. A história é praticâmente sempre a mesmar Deus os mandâ fazer alguma coisa, quc eles não fazcm direito, daívoliam para trás, consertam, começam de novo..- Sáo cinco n lanos assim; então cles têm uma experiência disso. E, por outro lado, como estavam muito interessados na sua própria história e nas suas rclâções comDeus, elestinham relativâmente pouco intffess€ pelo univeÍso físico vejâ que praticamente a totalidade dos assuntos com que lidamos pode ser articulada numa cruzi temos, por um lado, o úlo supeíor dâ realidade (châme Deus, Infinito ouAbsoluto, como quciÉ);poÍ outo, o pólo inferior/interio! queé â âlma humana, nós mesmos; na horizontal, ll I temos os dois dados do mundo externo, que sáo, um, a naturezasensível e, ooutro, o mundo da sociedade, dahistória, etc. Podemos dizerque o mundojudaico searticula todo emtorno de dois pólos: Deus ea história do próprio povo iudeu. As referências à alma individual sáo pouca§, e as reÍerência5 à nâiurcza lisica sáo purarnrnlc urasionais Ora. a cultura grega é exatâmente ao conirário; ela está intores- sada sobretudo na naturcza e na alma do indivíduo- Claro que esiá inieÍessâda também na polis, na constituiçáo do Estado, etc., poÍém, náo como um fenômeno que devesse ser estudado em si mcsmo, mas como uma conseqúência normativa a serextraída do conhecimento da nalureza e da alma humâna: r'Conhecendo â consiiluição do cosmos c â constituiçáo da alma humana, daí deduzimos como deve ser a cons- tituiçáo do Esiado". Mas náo sc vcrá nclcs, por exemplo, um inteÍesse por sua sociedadc considcrâda historicamente. tal como se vô entrc os judeus, que têm uma espócic dc qisiro da continuidade da história. Náo é só um registro, clcs têm uma reflexâo histórica: "Olha, hoje está acontccendo tal coisa porque há quinze anos Deus mandou fazer tal negócio e não fizemos, dai deu tudo errado. \ámos tentâr de outro iei to...". Há uma contínuâ reciclagem de sua consciência histórica; isto é cdâcteístico do iudeü. Hoie todos nós tentamos fazer isso, exceto o brâsileiro (o brasileiro, quando âconteceu um negócio na semana passada, ele já csqucceu; então, quando vem a conseqúência, clc nâo junta). Mas, de modo gerâI, as sociedadcs modcrnas têm um grandc inleresse em saber a conexáo histórica de causas e eÍeitos daqüilo que lhes esiá acontecendo. Os judeus já tinham isso numa ópoca em quc ninguém tinha pensado, em compcnsaçáo, náo tinham praticâmenle nenhuma ciência sistematizada do cosmos, nem da âlma individual humana. A ausôncia de interesse pela alma humana vem do faio de que o destino de câda judeu era o destino da comunidade jüdaicâ: sc a co- munidaale vai bem. ele vÂi bem; se elâ vai mal, ele vai mal O problema nÍo eraa sâlvaçâo da alma, eraâ salvaçáo de Isracl. Maistarde, a I$cia verá nisto também uma anâlogia da alma: tudo aqui,o que Deus fala â propósito de Ísrael no Antigo ]b§iâmento pode ser interpÍetado, analo_ gicamente, como referido à alma do indiüduo, num outrc plano. Cada um de nós também é esse povo iudeu, que é pÍemiado com o dom da profecia, inerente ao seÍ humano (nenhum bicho fâz proÍeciâ). O ser hümano é profeta poÍ vocaçáo, e essa vocaçâo apârcce de uma maneirâ mais patenie no povo judeu, com üm chamâmento, com o anúncio de uma vocaEáo, da quâl às vczes o povo se apÍoximâ no scntido da suâ realizaçáo, às vezes a esquece e a trai. Aí tem toda umâ dialética da vocâçAo, d€stino, realidade e proüdência. Este era o mundojudaico. O mundo grego eÉ completamente dife_ rente- Era o mundo de, em primeiro lugar, dâdos da nâtureza. O grego se interessavâ sobretudo pelo mundo fisicoemtorno, omundosensível, qüe era para ele o gmnde enigma. 'Ibdos os Elósofos pré_socráticos, a única coisa que eles pcrguntavam no fim das contas é: "Do que é feito tualoisto?". Pergunta mais mâierial náo poderia ser Eles, desde oinicio, tôm algumas preocupaçóes que scriam até científicar no sentidomodemo da coisa, e outras náo tão modernas, mas, dcqualqueÍmodo, o tema €râ o cosmos, a oFdem do mundo físico. Por outro lâdo, há uma ordem da alma, qüer dizer: "Como se organiza o que está organizâdo, o cosmos, e como orgânizo â minha almâ para estâr mais ou menos encaixado dentro dele?", É claro que âs respostâs quc se davirm â es§a pergunta variâvam enormemente, desde aquela idéiâ da ascese platônicâ aié, no outÍo extremo. a degradação que vcmos com os filósofos cínicos' Mas a pergunta que estavam fazendo era a mesmâ, tanto em Platáo quanto cm Diórg€nes: "Cono é que esiá organizado o cosmos e como é que me encaixo ordenadamente dentro dele?". Á pergunta é a mesma, mas a Íespostâ pode ir desde a genial até a idiota- Este é o âssunto 1:l grego por cxcclência. Ora, como é que vâmos comparar cssas duas tradiçÕcs pam saber qucm aprcndcu com quem? Náo lem nruito scnlido, e historicamcnic náo se tem noticia dc uma i.fluôncia hislórica nrosaica exercida sobte os grcgos. De qualquer modo, l_iloõ nào dcixa dc tcr razâo quândo afirma a prioridadc da trâdição iüdaica pÍioridadc náo só no tempo, mas ontológica, porque, afinal dccontas, cles 6c conccntrarêm nacoisa principal. Dc loda csla quatem idade de que lalamos, o mâis imporrarte é, evidentcmentc, o pólo supcrior: aqueie que iiver o conhedmeÍto de DeUs le|ln, implicila rc le, o conhecimento do rcsto (cu dissc "iinplí' cito", porquc, pcgar as coisas do Aniigo Testâncnto e deduzir dali â ciência grega, bom, isso nào ó impossivcl, mas ó muiio foraadol). Em quc scntido pÍ)dcúa haveruma unidâde ou umâ coerência profun- dâ? tsonl, cxistc prilncirl) â coorúnciâ da própriavcÍdêdc. Se umâ coisâ óvcrdade, ela dcve poder servista por csse lâdo ou por aquclc lado, ou atgum rc'flcxo das vcrdadcs csscnciais nas vcrdadcs menores de ordem cósmica sempre deve aparcccr. A afirmâçâo do rronotcísmo absoluto e do caráier purâmente espiritüal dâ divindade está muito mais clarâ no iudaisnodo que nosgrcgos, mâs tambóm cxistc cntrcos gregos. Então, no {undo exisie uma convergênciâ. Sc cntcndcrmos Filon não no seniido da patemidade históricâ, mâs simplesmente da pÍioridâde ontológicâ, do próprioDeus sobrc o cosmos - portanio, prioridade gnosiológica do conhecinenlo de Deus sobre o conheoimenlo da rcalidâdc scnsÍvcl-, cntãonão é de iodo absu rdo dizer quc, muito antcs dcosgrc8os descobr;ronr acoisa, clcs lambérn sabian. Sabiam dc mancira implicita. conrpâctâda cexprcssacnr Iingüagem mi- topoética, Drasquc cÍavalá, cstava. Sc náocstivcssc, náo scria possívcl toda a ciência da i.rterprclaçao simbólicâ que, coDreçando com Filon, depois vâi sc dcscnvolver muilo ató chcgar àquclcs grandcs cdifícios da exegese medieval, cono os comcnlários à Bibliâ de Santo Tomás t+ ,1, \,ur!,.(l(!lu,-odcSaoVíloLDosqrrnistr(i(irrriir(larrrlerprcllçiir) ,rrlx,ll( l ir rncrccc rcalnrenlc o rn)rnc dc ri!irriâ, l){)11lrr. c rrrrr .(nrhc- ( rr(,rir) si5tcmálico, organizâdo c raui(nürl Mtrs (lrrrrrxli) sr rtrrrptrrll tr , \Urse dc FilL,n com a dos mcdievâis, lrilorr rrat) siri pcrtlcrr(I) rrr(ril(), ll,x)i (lc vcz cnr quando, iem umas coisas âbsuMas, Intrs. (r,rr(nrr(l(, (l lrt( ' ri qüc clc tcz antes, e fcz sozinho. já é um grandc ncg(ici(,. 'lirndo enieÍdido direito a noção do Prcjeto socrático «)u scju, (, (tuc c o proicto. o quc ó â ambiçáo filosófica básica, quais sao scu§ rr nponcntcs essenciais, quc seriâm: o cha]màlo panlo aryui édico h sc dâ scgurança do conhecimento; o discillso racionale sistemático (nr kn'no disso; c, por fiÍi,ã ação oi à élica coererTle com o discurso, (rnnponcntcs mais ou menos pÍesentcs cnr ioda§ as filosofiâr, com- prccnde se que ó inerente ao Proieto F'ilosófico a idéia do e§forço de invcsligação-c, porlanto, da idéia da maturaçáo do própriofilósolb, da pÍlpria personalidadc, dâ própÍia alma do filósofo, nâ medida crn quc elc. reâlizando cssa unidade do conhccimento, apreende ncla aunidÀdc dâ sua alma, do seu desiino. da sua pc§soa, c âdquiÍccnlaro os crilórios parâ dar uma ünidadc cr)ercnte à suâ açáo nr{)ral lssoqucrdizerquencnhumadoutúnâna(lu l rr (,scvciaricsl(,rço dc investigâçáo e este csforço dc unilluaçfl{) c. Doú nt() tr disposiçà) ds cnfrcntâr todas as contradiçÕcs - podc scr iurrrtri§ dila ünü ü)utriDa iilosóíica. Uma doutrina quc vem pr(nrta ( (luc, (luând() cnlrcnlr âs contradições, é somente no seniido dc d cn trhar r, âdvcrsá {), ou scja, de rcjcitar a doüirina cortrária. nâo é doulina lllosólica dc jcito ncnhurn. ou seráuma doutrinaesotéricâ, ou urÍà dortrina rcligiosa, uma doutrina r(vclada. alp,uma coi\a a\5im rnas lil,,s,,li:r na,, (. É Desse sentido que nao podcmos dircrr por cxemplo. que todas as doulrinâs gna)slicas queaparccem ncssc pcriodo sáofilosóticas. Podem tratar às vezes acidcntalmenle, dc assuntos filosólicos, mas sc trata de doutrinas prontas, de seitas, que sáo transmitidas tais e quais aos scus l5 discípulos, que estáo ali náo para di§cuiir, paü âssimilar âquilo inte- lectualmente, mas pâÍâ Íealizar algo a pârtir de umâ doütdna plonta Entáo, eslá aqui a doühna pronta que explica a origem do mal no mundo e a porta de saída. Náo inieressa quâl seia (náo vamos nos apÍofundar agora no estudo das doutrinâs gnó§ticas), basicamente a idéia é de que a próp a Criaçáo do mündo é má: o mundo foi criâdo poÍ engano, náo foi propriamente Deus E§Piritual que o criou, foi um outro, que por sacânagem fez o mundo enos aprisionou aqui nestetúmulo, entáo tcmos quc achâÍ uma sâídâ disto aqüi. Existem muitas doutrinas gnósticas diJerentes e técnicas snósticas diferentes, mas nenhuma delas podc ser considerada filosóficâporque' se é incrcntc ao Proi€to Filosófico a idéia do esforço de investigâçao, entáo é (ambélll incrente o ânlor à contradiçáo, o amor à investigaçáo dialética. A objeção, para os filósofos, náo é exatamente como a obieÉo é para um cÍente. Para uma doutrina religiosa, esotéricaoü ideológica, a obieçáo é algo que tem que ser afastâdo, é um eÍro, ó um mal. Mas ao filósofo ela pode ser preciosa, porque é exatamente lidando com â obieçáo que ele vai descobrir algo que ainda náo sabe. Náo ó porque ele tem uma doutrina pronta que ele tem quc refutar quem se oponhâ; não, ele às veze§ não tem a doutÍina totalmente prontâ, e§tá tentando Sócrates, se investigarmos tudo o que sobrcu para nós de suaüda, náo tem pmpÍiamente uma doutrina Elc tem, por assim dizer, um mé- toalo: "Eo vou ter um mótodo de invcstigaçáo e um méiodo de üver". Mâs, se perguntarmo§: "O que você acha realmente disso?", Sócrates diz: "Eü náo acho nada, estou aqui tentândo ver se descubro âlgüm negócio", lsso aparece a todo momento em Sócrates, e náo quer dizer que ele ignorasse tudo. Aquela história dc que "só sei que nada sei", isso é dito assim cüm Srarro salis, e um pouco também por educaçáo: "Eu náo sei nada. mas você sâbe muito menos do que eu". ló Para um individuo scr um filósofo de pleno direito, náo é necessário que ele tenha uma doutrina filosófica. Ele pode náo ler nenhuma. Basta que estejâ trabalhando na direçáo caractcrisiicamentc filosólica) que é a busca da unidade do conhecimento e, portanto, da integraçáo da sua próp a alma dentro disso; que ele é um filósofo, mesmo quc não chegue a conclusáo algüma. 'Ihnto que o próprio fundâdor do Proieto Filosófico, que é Sócrates, tambóm náo chega â nerhuma conclusáo; e, dos demais filósofos, eles chegâm a muitas conclusões, mas quando moÍem, nos deixâm evidentemente mais perguntas do que respostas- Ele respondeu. digamos. dez. quinzc pcrgunras. cdcixou mil. E normal que seja assim- Em todo esse período de que estamos falando, houve muiia disLussáo, muitapolêmica, mas náo houve elaboraçáo filosóficâ. Etâ como se fosse um confronto de dogmatismos, câdâ üm tentando provar que o outro estava erlado. Você verá os primeiros cÍistáos impugnando as doutrinâs gnósticas eusando, para impugná-lãs, técnicas aryumentâtivas aprendi- dâs com Sócrates, Platáo, Aristóteles e os sofistâs; veÍá discussôes entrc asváriasescolâs esotéricâs e, como no caso de Filon, umaconfrontaçáo entre trâdiçáo judaica e filosofia grega. Mas isso náo qucr dizeÍque em tudo houvesse filosofia. Náo, havia polênlica apcnas. A discussão náo é filosófica se náo é umâ discussáo cieniÍÍlca voltada à dcscobcrta da vêrdade, ou seja, se náo é uma discussão dialótica. A dialética, segündo Aristóteles, iinha três uiilidades, e isso é es- sencial para compreendermos o Projeto Filosófico. A primeira utilidad€ é, evidentemente, o treinamento da mente: a simplcs arte de, em face de um assunto, de um tema ou de um problema, se fazer o repertódo dos argumentos possíveis e dos conceitos pertinenies, classificálos e ordená-los; isso é uma disciplinâ da mente. A segunda utilidade está, eüdmiemente, nas discussóes públicas, para se rcsolver alguma questáo que estives§e em discussáo. l7 A terceirautilidade, a dialética, é a mais inteÍessante Âristótelesdiz que a alialética é o meio de você cncontrar as premissas nllm assünto em que ainda náo as tenha, porque, em toda discussão a aÍbitrâgem e a solüÉo final são dadas em funçáo de premissas quc iá estâo acciiâs Se você náo as tcm, como é que vai Ícsolver? Entáo a disclissáo tem quc seguir, ale certo modo, ao contrário: emvez dcirparâ âdiante' para tiraÍ ar conclusóes, ela tem que ir parâ trás' para buscar as plemissas que cstão ocultas ou náo decláÉdas, ou qüe cstÃo inconscientcs E a alialética, iustamente a confrontâçáo das doutÍinas opostas e contradi- tóriâs, é o que permite escâvar e encontÍar os princípios' Nolundo, adialética éâ disciplina científica Iundamental' é o método cicntífico pÍopriâmenie dito, embora Aristóteles distinga o que é uma ítiscussáo dialética de uma discussão científica A discussao científicâ' paÍa cle, é a qüe já está cstruturâda dc maneira peÍfeitamente lógica Só tem um problcma:comoó que sc chegâlá? Atrâvés dâ diâlética- Enláo' onale náo existe a clâborâBo dialética' não há frlosofia, por mais que paÍeça haver Muitas vezes parece náo haveli mas há' Müitas vezes o indivíaluo parecc estar afimando coisas de maneila purâmente dogmá_ ticâ, mas ele está lazendo isso apenas por uma questáo de abreviaiura' lsso acontece fÍeqüentemente em Nictzsche Ele sofria dc sífrlis terciâia etinhadores de cabeça ho$íveis, vivia doente, entáo tinhâ poucos mo_ mentos ale paz e de lucidez por dia para trabalhar, aí aprcndeu a escrever compâctadamente em aforismos- Muitas vczes, os alorismos pârecem pummente alogmá1icos, puramente afiÍmativos ou negativos, mâsneles está subentendida uma elaboração dialéticâ Em outros casos, parece havet muitâ alialéticâ, porque tem muita discussão, mas nào tem dialética nenhuma. poÍqur há ap, nas â retutaçáo dc uma oposr(áo' Quanalo surge o cri§tianismo, surgem naturâlmente seus dcfensores' como Santo lÍineu, Teduliâno, Orígenes, Clcmente de Alexãndria Nes_ §es, em uns sevê, de Íato, âlgo de filosofia;cm outros, náo' CÍia_seuma l8 siluação na qual o historiador da Filosoliâ não sabe propriamcnte se csses indivíduos pertencem à sua disciplina ou nào. C{rm um pouquinho dc paciênciâ se verá qüe a Históriâ da Filosofia lcm que mcncionar todo§ cstes, mas sem incorporêlos na própria disciplina; ela vai lcrqucdiscu- ti-los iustamente para, às vezes, poder iirálos e dizcr: "Náo, isto aqui cstá realmente lbrâ da Filosofia, embora tenha exeÍoido infl uência sobre fil{isôfos" Erercido influônciâ. tomo? Esses camaradas defenderam certas idéias- defenderam náo filosoficamentc, dc maneira puramente rciórico-dogmática , mas isso dcpois deu âssunto para algum filósoio. Entáo, aquilo que um suieitotratâ num plano retórico-dogmático pode ser tratado filosoficamente poÍ ouiro. Antes mesmo de lalar do própío cristianismo, vou tâar dos apologis- tâs do cristianismo, quc é umâssunto mais externo, Entrc os primeiros deies, a idéia básica é de que aquilo que tinha acabado de aconteceÍ, a itevclaçáo cristã, é algo táo importante c táo fundamental, ião básico, que peno dela "cessatudoo queaàntigamusa canta"; qucr dizet tudo o que os filósofos fâlarâm náo interessa mais, é tudo bobâgem. Esta é a primeira impressão por qüe passam os apologistas, São rustino, Sâo lrineu. A rejeiçáo à Filosofiâ chegâ, em Tcrtuliano, a exiremos de despre- zo, de rancor, de ódio contra os 6lóso1'os. Tertuliâno é um dos grandes escritores da humanidadc (mcsmo quando está dizendo bcstcira, é absolutamente maravilhoso, pela lorça da cloqüênciâ). Ele ioga tudo fora - aquilo náo apenas náo se aproveita, como é heÍesia, é pecami- noso e lem que ser esquecido -, ao pâsso qüe outros, como Clcmente deAlexandria, colneçâm a peÍcebeÍ que existeum elo de coítinuidade. O mesmo elo de continuidade que Filon viu entre a revelaçáo antiga, iudaicâ, e a fiiosofia grega, haveriâ entre a lilosolia gÍega e a nova Re- velação. Se Moisés, de certo modo, antecipatoda a filosofia e a ciência grega§ sob a forma compactada e simbólica dâ linguâgem do Pentatcuco, l') a fllosofra gregâ elabora e abre câminho PaÉ que a Revelaçáo cristá se torne inteligívcl e aié possível. Entáo Clemcnte diz que â Filosofiâ é o pedagogo que leva até Cristo. Ora, essa é uma obseÍvaçáo muitissimo interessante. Lembmm_se da transiçáo dâ tagédia grega parâ Sócrates? O quc era a tragédia? Era â conírontâçáo entre a Lei divina, tal como apreendida por um indivíduo humano, e â lei da polis, a lci dâ socicdâde, a lci do Estado' que remoiâmente tâmbém teria a mesma tbnte divina. É como se Deus tivesse se manifestado, poÍ um lâdo, na ordem sociâl e, por ouiÍo, na alma humanâ. Algum reflexo dele tem aqui e ali, mâs como sáo apenas reflexos, e náo a própÍia Verdâde divina considerada em sime§ma' eles têm contmdiçáo uns com os outros. É iustamente essa contradiçáo que aparece na tragédia grega. Á tra- gédia ó um dramacÍvico qucvisa propiciâr quc a coleiiüdâde reinte$e essas vetdâdcs divinas quc nâo estáo expli€itamente contidas nalei da polis, na lei do Estado. Entáo o teatro funciona, durante algum tempo, como um mecanismo de equilíbrio cntre as exigências da coletividâde e as exigências mais profundas do indivíduo consciente Mas chega um ponto em que cle náo funciona mais, náo exerce mais aquela açáo persuasiva e calmante que eleva a populaçáo a uma antevisão de uma sabcdoria supedor âo próPrio discur§o da comunidade. Nesse instânte, o que acontece? O teâtro vira Íealidade. A vidâ de Sócrâtes é exaiamente isto: Sócrâtcs é condenado à mor_ te exatamente porque o que ele tinha apÍeendido da Lei divina iá era incompaiível, já era inâceitável pclacomunidade, quecntâo o §acrifca' Só quc, ao longo de toda a sua tida. rlc nunca sc preocupou com isso' como é que ia moúeÍ ou deixar de morrer, como é que o negócio ia ter_ minâÍi ele estavâ simplesmente ensinândo àqüeles indivíduos alSumas condiçóes inielectuâis para a invesiigaÉo da verdade, só isso. Era tudo o que ele estava Íazendo. 20 Com o cristianisrno aconiece uma coisa dilcrcntc:o mcstrrc dÍama é vivido, sóqüenum plano imensamcntc nuis clâÍo, mais cxplícilo e nrais luminoso. Primeiro, porque ele é ânunciâdo de untomãol ó anunciado na própriâ tradiçáo hebraicâ, onde tem um montc dc nlcnçôcs. Náo só tem um monte de menqÕes ao Messias- Atuâlmente sabe-se quc o nomo de resus já está dado no Ântigo Testâmento (...). Os cabalistas fizcram os cálculos e dizem que se eslava falando explicitamente o nome ]esus. o dramajá é anünciado de antemáo. Aquele individuo, que é portador da verdade divina, cle náo é somente o portador, é aprescntado como a própria Inteligênciâ divina. Náo é alguóm quc capiou âlgo- Desde o inicio ele disse: "Eu sou o Logos, sou o Ve.bo diüno, e por causa disso vão me matar". Aí já náo é mais só o teatro que virou rcalidade. À verdade que cra aniecipada, de certo modo no teatro grego e vividâ nos momentos linais de Sócrates - aparece ai náo só como üm acontecimento, mas como o acontecimento ceniral, de ta] modo que toda â explicaçáo da vidâ humânâ estará contidanisto. Écomo se avidâi apaixáo e a mortc de Nosso Senhor Jcsus Cdsto cxplicassem retroativamcntc o quc se passoucom SócÍateseo que se pâssou notcÂlrogrcgo. Qücmassistissc à peça no teatro grego ou visse o quc sc passou com Sóc!âtcs podia ceÍtamente considerar esses âcontecinrentos muito importantes, mas dificilmente teiia a idéia de explicar ioda a histí)ria a partir deles. E pioÍ, â hisiórianáo apenas se desenroladcsta maneiÍa anunciada com muita antecipaçáo, mas o próp o personagenr, o próprio Cdsto, com bâstan- te antecedênciâ explica o que vai acontccct como â coisa acontecet e depois rcssuscita para confirmar âquilo. Ressuscita e aparece pemnte um monte de gentc parâ dizer: "Olha, se ficoü alguma dúvida, se âinda vocês náo entenderam aquele negócio.,.". No teatro grego, você viu a histódâ, pode entender, tem aquele im- pacto. Mas isso náo quer dizer que vocé tenha comprecndido. Aristóteles 2l Jl dizia que o teatÍo, a arte narrativa, a arle dlamática. nada ensina, mas deixÀ em você um proíundo impacto. Esse impacto é a âtuaçáo do dis curso poótico. Ele ainda náo é uma intelecÇáo. ó umâ matriz de muitas intelccçóes possívcis. Vocêpodepassar o rcsto dâ vida pensando sobre aquilo, mas iniciâlmentc náo entendeu é nâde, apcnas percebeu. O teatro vai impactá-lo como um lãio, üma coisa que acontêcêu. Aquele que assistiu à morte de Sócrates tambérn ficou impressio- nado, mas isso náo quer dizer que tenha compÍccndido. Ele sempre pode achar que aquilo Íoi coincidênciai 'Ah, foi um azar desgraçado, sc SócÍâtes tivcsse fugido...". Sempre tem um "se", podiâ ser de outro jeito... 'i{ntÍgonâ podia desistir daquele negócio"-.. "Eles náo podiâm ter sido convencidos a agiÍ dc outra Ínaneira?" No caso de Sócrates, clc podcria rcr dàdo nr' pcr pudcria ter dado umâ propina para os cara<. poderia tcr sido diferentc... No câso dc lesus Cristo, nâo, iá vinha anunciado de ântemáo. E depois ele aindâ Íessuscita pâÍa dizer: "Olha, sc náo entendeu o que se pas§ou, e1r ainda c§tou aqüi para dfi mais uma explicaçáo" Esse 1ênômeno do indivíduo hümano, o indivíduo real, de carne e osso, que é o poriadoÍ da Verdade divina, por causa disso enira em choque com üma outrâ verdade cxternâ que também deriva da Verdade divina, quc nAo é uma coisa do diabo, náo foi o diabo que inventou, é apen.xi umâ Palavra divina antiga cristâlizada em instituiçóes, leis, etc. - poÍtanto, iá náo tem aquela flexibilidade viveÍte da alma do individuo. No caso do Cristo, iá náo é nem um indivíduo que tcm uma flexibilidâde vivcnte; ele mesmo disse: "Eu sou â Vida". Quer dizer esta âl aqlremanifesta entre nós a prescnçâ da Inteligência divina, elâ é a próprjâ Vida. E o resto? Bom, o resto lbi vida antigamente, foi vida mas já morrcu- 'lÀs leis, as instituiçóes, tudo o que vocês fizetâm aí, no começo dc tudo isso ai está o qüê? Está a Vida divinâ. Foi Deus que criou tudo isto." z2 JAlunâ: E essa irlsisÍârcia em lalat ilo Ctislo hislótico a loda horu é uma tentatiaa de iqualá-Lo a üfi Sócrules.l Mas se o suieito fala "CÍisto histórico", úo scido quc ele eslá falan_ do. Todo o Cristo é histórico, evid€ntementel O quevocé Iê no Evangc- lho? No Evângelho tem doutrina? Náo tcm doutrina algumâi tem uma naIrativa. Esse Cristo de qüe falamos, o Cristo Logos divino, tem que scr a-histórico. Agorâ, se você quer distinguir entre um indivíduo qualquer chamado Cristo e o Logos divino, entáo foi você que cortou a históia cm dois- PoÍque isso náo é a história de um sujeito que lbi crucifrcado. Crucificado tem um bando dcgcnie. Não foi assim queaconteceu. Não tinhadois ladrôesqueforam crucilicados com ele? Porqueo Iadráo foi crucificâdo? Porque náo conseguiu dar no pé em tempo. Agora, Cristo náo, ele jávinhâ anunciando: "Olhâ, eslá aqui anunciado na Lei e nos Profetas que vai âcontecer assim, e não adianta vocês quererem me tiÍar da encrencâ...". Esta é a verdadeira histódâ. Isto quer dizer que não é possível sepaÍar o sentido do âcontecimento, por üm lado, da mateÍialidade do acontecimento, por outro, que essa materialidade é a materialidâde do próPrio sentido. O que âconteceu foi exalamentc o quê ele disse quc ia acontecet Entáo, queÍerdisiinguir, de üm lado. um Cristo de carne c osso o, dc outro lado, o Cri§to dadoutrina, se fosse assim â coisa náo poderia tcraconlccido. Tcria que seÍ um mi_ lagre muito maior do qüe a ressuüeiçáo dc Nosso Senhor Jcsus Cristo Porque, olhâ, iem aqui um indivíduo quc náo está sabendo de nada, é um câra como qualqu um, idiota como qualqucr um de nós. Ele foi crucificado e criaram um culto em torno dcle, e, por uma coincidência, acontcceu tudo exatamenie do ieito que estâva nos prolêtas e que ele disse que ia aconteceÍl Foi coincidênciâ? Mas é mâis fácil ressuscitar do qüe fazer isso! Quando aparece um camarada dizendol "Náo, aqui vamos fâzer o quê? O Cristo histórico..." com esta nuânce de separâr o Cristo histórico, mateÍial, etc., do Cristo espiritual , eu digo: "Mas esla separaçáo só existe na sua cabeça!". zt l|luna: Que o Ctisto espíríÍual é "obieto de Íé" só, e que não..-l Ah, é! Âinda iem essa... Quer dize! tudo aquilo que os proÍetas diziam já em tüdo "obleto de fé": um sujeito acreditou nisto, depois outrc acreditou, depois outro, e, depois, por uma baiia coincidência, âconteceu tudo âssim. E aconteceu pior, pois o próprio suieito disse que iaacontecerl É ciaro que isso é uma coisa de idiota, é uma coisade criança, Temos que entender que a vidâ, a parxão, a morte, a ressurreiçáo de Nosso Senhor lesus Cristo sáo um fato. Àconteceul Náo é Eeciso entender. Isso náo é uma doutrina, não é um objeto de fé, é uma coisa que âconteceu. É mais difícil negar isto do que aceitar. Se você nega que foi assim como elcmesmo disse quc seria, entáo é porque você tem uma outra explicaçáo. E você tem que me dizer que a süa explicâçâo é a mclhor- Àgora, sua cxplicaçáo comcça por exigir que cu creia num tecido de coincidências absolutamentc impossívcl. VoLê está me exigindo mai3 lé do que Nosso Senhorresus Cristo. Ácredito em Nosso Senhorlesus Crisio porquccle só pcdc pâra eu acrcditar num negocio que aconteceu, e você esiá pedindo parâ eu acrediÍr numâ coniectura que é uma ver- dadeira loteria espoÍtival Você podetercerteza, sempÍe que entra esse negócio agnóstico, maierialista etal, o que está em jogo, no tundo, é só uma coisa: burrice. Burice mesmo, faltâ de inteligência! ÍlJrÍro. Pot qüe o se hor acha que essas inaestigações q e Íentam Íazer aÍespeito ile tu "Cristo hisÍótico", que seia u 1horhetn cotfi m, se conce l tm semprc em aspeclos lécnicos, por etemplo:'Ah, oou pe*at o Santo Suürio e oet qual é a iclade dele", cono se tosse para ífiúestíEat üfi ho ticídio, e hão @m aÍifi1ações fiais ou rne os lógícas? Potque isso é bastante ü,gico, é mais íácí1...) O Santo Sudário não iem aver com a história, pois aparece muito depois. São Justino não sabiâ que tinha Santo Sudário nenhum; Sânto Irineu náo sabia, Clemente náo sabia, Orígenes náo sabia. Eles váo ser 2+ Iru Í,s clistáos por caüsa disso? O Santo Sudfuio náo iDlluiÍem contri- lnri. Você podc invcstigar num monte de coisas. mas o prcblcmaó estc: qu i tcnl uma hisiória que é relatada por testemu Dhas que estivcram lá (i quc â contâm numa ordem que coincide exatamente com aquilo quc usscs profetas ünham dizendo desde três mil anos antes! ÍAlnno: Toda mundo tínha combinado, fiao é?l Ádemais, ainda ievc que combinar com o leproso para ele curar: ''Olha, você vai lá e frnge que se curou", ou, entáo, "Você, pelo poder do pensamento positivo,.,". Vou acreditâr que o pensamento positivo do leproso o curou? O leproso, que já está todo ferrado, dc repente dquire esse poder miraculoso de se curar pelo pensâmento positivo? É um negócio tão rebuscâdo e táo artificioso que denota idiotice. llJlJno: Mas existe também a catrcnle mais haÍd q e hos ÍaLa que ào é coi cíiLência, que consl títafi a hislótia que aparcceu, daí... cotfi o lempo...l Isto, construíranr, porque naquele tempo iá existiâm âgências de publicidade, tinha o Duda Mendonça... I{lvna: EIes pla tarun prcaas pelo mundo i teifi.) Veja, a técnica publicitária foi todinhâ inventada a partir do fim do século XIx- E mesmo âssim falhou. Tem um monte de câmpanha publicitária que falha, ou seia, lançam o produto, o prcduto "vai pro brcjo"... Eles queÍem nos Íazer crer que anies disso! no tempo cm que náo t!nha técnica publicitáriâ nenhuma, existia uma técnicâ publicitária implícita, inconsciente, que funcionava e que criou ôs prcfetas, os sanios, etc. Orâ, o sujeito, para acredrtar nisso, precisa sff muito pueril, muiio infant . É sempre a idéia de que a desconfiança é sinal de mâturidâde, e a confiança é sinal de que você é um atrasado, um caipira. Náo, depende 25 do tipo de descon6ança, porquc cssa desconflança qucvocêestá iendo, cla me exige uma confiança muilo maior l{lü,aa De lananho i+ual à esna desconliatrya que rccê íem de Íatosaíé anteriores. Eles ificlusi.,e lên íalos hisltSticos descrííos antes que as pessoas cofitien piamente, cotfio se aquilo losse Íato. E disso nao Íêm a mesÍna---] ClaÍol Na vcrdadc, essa desconfiança, essa suspicácia moderna perânteos dados da Revclaçáo, é prolundamenie crédula, porque exige acrcdilar em muito nais coisas do que a Rcvelaçào está pcdindo. A Revclâção cstá dizcndo o seguintc: o homem eü Deus, era o Verbo dc Deus, c âcontcccu isso âssim... c ele curou o lcpÍoso, moüeu e rcs_ suscitou.... Agora. querclll que cu acrcditc numa loteria esportiva, nâ cxislência dc a,.aancias dc puhlicidadc etórcâ§, inrateriais, que criâram tudo isso med iante aq uclcs processos dc "violência simbólica" do Picrrc Bourdicu, "impos;çáo de discurso" c nào sc; o quô. Corno ó quc o Pâpâ faziapâÍa "imporum discurso"? Vocêpensaque iinha a Red{: Globo de 'Iblevisáo, o Papa chcgava lá e fàlava e 700Á da audiência ouvia? Não, o Papa falâva um negócio quc, para chegar nas igrejas lcvava anosl Se o cara que está na Igrcia, diSamos, na lÍlânda, durante a vida, depois que ele tbi para a Irlanda, se ele duâs vezes na vida receber notícia do Vâti(âno, é muiio. Então, como óque podia haverviolôncia simbólicâ aí? Parâ náo aceitaÍmos um dado miraculoso, pedcmquc agenteaceiteum universo inteirode suposiçóes miraculosasl Entáo, a1é por uma qucstáo dc prcguiça, prefiro IicâÍ tom a Rcvelâçáo mcs!Ío Não é unl problema de fé, estou dizcndo uma coisâ cieniífical l{lünà. Nào, Chesterton està íítbndo aqui: "Caso üocê nao acrcdile em l)eus, aocê acrcdíía e tudo o mais". I 2l É isso, quândo o sujcito dcixa de acreditar cnl Deus, náo é quc ele nar, âcrcdiiâ cm mais nada. cle acrcdita em tudo, até em história da carochinha, em Papaj Noel, Dudâ Mendonça. cic. ÍAlt)no Mas fia contparação que às úezes eu aeio 1rão é úesse selllído. O que esses hisloiadores usam não é de que Íoi uma nlontagefi prcposilal com o i tuito de engatrur, elc- Eles putía,n o eÍefiplo daqueLa...) Não. ioi inconscienie lAluno: NAo. nas Íat béÍtt nào esse se lido. F'Les peqafi. por exefiplo, aqueles ercfiPLos de suíras hislóticos budisÍtts que peqam um perso aÉ9fi real, por ercfiplo, o rei Asoha, e aí se constúi toda üma üercão ertrefia teflleníÍica da históia dele: "E haüia etércílos que saíram do solo e combateram.-.". Cofishoem loda utna históia tnílica e totfia de um perso agefi real, mas essa consÍruçào, essa rcpresefitaçào. ..1 Mas ai. no caso, você ó capaz de disiirguircntrc os lãtos históricos c a construçáo mítica cm torno. Aconlccc que ali nao é isto que acon_ iece; é o próprio Cristo quc cstá dizcndo: "Eu sou o Vcrbo divirro, vou nrorrcr, vou ressuscitar". É clc mcsmo quc cstá dizcndo na hora que a coisâ aoontece, Isso náo lbi âcrescerltado dcpo;s nada foi acrescenta- do depois. Tudo o qüe se clâbora. todâ a claboraçâo doutrinal, é fcila a partir desses primeiros testemunhos E, ürais aindâ, ê quase to1âlidâde dos testemunhos foi rejciladapoÍ não cstarmuilo consistcnte. Quando se licoü com quâtro evangelhos, é porquc se dizia: "Esses qualro aqui estáo confirmados, sâo pcrfeilamente concordantes e náo tôm malu_ quice". Havia dczenâs de evangclhos, mas os camaradas misturêvam suas interpretaÇões doutrinais, ao passo qüe csses quatÍo Íão fazem interpretações doutrinais; eles contam a coisâ e pronto. Agorâ, se o su- ieiiocomeçavaa claborâr'em cima, poeticámcnte. Íalavam:'llnláo, não, isso aí náo selve". 2..1 Os quairo cvangelhos foram selecionados náo por umâ questáo doutrinal, mas por uma questáo de documentaçáo. Náo que os outros sejam "discordantes"; eles tambóm são concordanles, §ó que eles âcres_ ccntâ mais coisâ. Nesla scParaçào dos quatro evangelhos válidos e dos outros inválidos, nâda foi colocado 1á dentro, loi é tirado! Pode ser que seja verdâde tâmbém, mas náo sabemos. Âh, tem o evangelho de PedÍo, o evangelho de Tomás, o evangelho de Fulano, de Belirano, tem um monte de evangelhos de pessoas que contaram a história a seu modo- e essas botaram coisas a mais. Esse "a mâis" foi tirado. Agora, o que está aqui também está nesses outros. Esses outros também sáo concordantes com estcs, só que sào discordantes €nire si em outras coisas... Quer dizcr, foi por um processo de críiicâ históricâ que a lgreiâ separou csses quatro. lÁlunor Álids, a llreia ile üez e qua do tafibém peqa al\um elemento tlesses outlos e lala: "Não, esse daqui rcalmetlle parece que aconteceü", como a Assu ção de Mati|.l Claro, pode ler sido e pode náo ter sido. A As§unçáo de Maía, foi ou náo foi? Uns dizem que sim, outros dizem que náo, outros náo ía- lam nada; eÍiáo náo é necessiiio a gente decidir. Âgora, existem esses quatro e existe o testemunho orâl que foi transmitido dentro da Igreja por muita gente, e quc é tão impo ante quanto o Evangelho escrito: "Esies quatro aqui - que aparecem entrc trinta e qüaÍenta anos depois dos âcontecimcntos sáoconcordântes náo só entre si, mas com o que nós da Igeia sabe os- Nós também estivemos lá, também vimos". O motivo da exclusáo dos outros foi este: é porque eles tinham coisas a mais que nâo dá paÉ se sãber se é verdade ou nãoi vamos frcar com a narÍativa mâis simples, ainda que com o dsco de Perder detalhes que podem ter sido até impodantes- Sáo importântes, mas incertos. E veia você que lala da construçáo: uma construçáo dessa leva z8 séculos. Ente a moÍe do rei, tem Iá um personagem, daí os suieitos l'omm IloÍeando depois. t eva muito temPo, e é preciso tel esquecido a história Íeal para poder floreâÍ em cima. Agota, ali náo foi lloreado nâdâ, não tem absolutamente nada a ver uma coisa com outm, sáo prccessos completamente distintos. Mas o sujeito, quando quer sermuito esperto, acâba frcando é trouxa. Você vâi desconfiâr da coisa, mâs me dê um bom moiivo pam desconfrar Por que vai suspeitar? O suieito que está fâlando é louco, émentiroso? Náo, náoé. Estáganhando algum comisso? Náo, tâmbém nâo está. Entáo, por qüe vocô vâi desconfiar? LlJüno: Palece que dizem qüe é bom demaís paru ser aerdade i É bom demais para ser verdade. A8ora, se eu contasse para você: "Olha, o negócio é o segrrinte, tudo isso aí é mentira, foi o diabo qüe inventou só para sacânear com você", aí você âcredita PoÍqueâcredita? Porque tem medo. ÍAlüno: O sefihot hao achcr certo que a dísíâficia no Íempo acabal críando uma certa descofiÍíança? Porque hoie efi dia é müito comum a Eente úer as pessoas arE tnentarem: 'Ah, mas, erltáo pot que mois fiifiguém rcssuscita? Nu ca ow)i íalat de alguéú1 que tenha rcssuscí' tailo"- Ou, então: "Nüfica t)i ninEuém ressLtscilat".l Porque náo é pâra ressuscitar mesmo! Se rcssuscitarfosseüma coisa que acontecesse para qualqueÍ um, quâl seria a nÔvidade ali? E, anies de ressuscitar, já tinhâ feito o outro câmarada rcssuscitar: "Se eu fiz com cle, por que náo posso fazer comigo?". Esse negócio de Lizaro, tinha centenas de pessoas lá que assistiram. E náo tinha lá nenhum publicitâio, náo tinha nenhum jornalistâ de O Gloóo para inventar his_ torinha, náotinha!Ou seia, ahistódâ nos parcce contada com Ézoável fldedignidade; é uma história que vocó náo entende... 29 lAlrrno: Mas os míbgtes áo têfi ufi asrycto relórico maís do que de proaa? Porque, se noquelo época ocafiiam esses fiilagtes, Íessur- ÍeiçAo e ouÍras coisas assim, é porqúe haüia uma necessidade, üamos .lizet ass,rl, ile ufia espécie de conoencime lo, pois nào haz)ia uma doüttifia paru üocê estu(htl Mas, esperâ aí, você vai r€ssuscitar o sujeito só para convencer os ÍNuno, Náo, nào estoü dizeddo isso. Mas, enlâo...1 Se o suieito fosse câpdz de ressüscitar, ele não seria capaz tâmbém de inventar um discurso mais convincente? Náo é possívellAdemais, o milagre como meio de convencimento é condenado por Cnsto da maneira mais taxativa. No Evangelho se diz que os gegos, para acreditar numâ coisâ, exigem uma demonstraçáo matcmática, e que os iudeus exigem üm milagre e os dois sáo malucos, porquc simplesmenle a coisa está acontecendo. Qual é o motivo que têm para duvidar? Ademais, você náo vê nenhum, nenhum esloÍço de convencimcnto em paÍte alguma do Evângelho. IIJüÍto: Eu pe sei assim: quando aocê já tefi ün cofihecifiento ila doütuina rcLigiosa, não prccisa de üm íato d.esses.l \,las a doulrina rcligiosa apârtlc milenios depois. f islo quc c im- portante entender- A doutrina cristã íoi sendo elaborada ao lonSo dos tempos pelos concílios, pelos papas, pelos douiores, etc. Note bem qu€ náo houve propagaçâo de doutrina. Você sabe o que é "cvangelho"? Evangelho quer dizer "uma narÍativa", ó uma noticia, uma notificaçáo de algo que aconteceü. O que Cristo mandou eles fazerem? Ele disse: "Olha, você vai e conta para os outros o que aconteceu"- Náo se tIata de pregaçáo doutrinât. A pregaçáo douidnal começa aos poucos, com os apologistas, já quase um século depois. Todo o esfoÍço retórico foi 30 fcito €m seguida; â gente conhec€ todâ â históÍia dele, e podc recompor passoa passo- À âpologética ctistã, o quc ó? É a defesâ retórica de uma doutrina já mâis oü menos assentada, c conhecemos a hislória disso pâsso â passo. E tudo isso náo tem nada com o Evangelho, ó müito posterior É iambém a confusáo, porque as pessoas vêem isso hoje- como é o ícnômeno religioso? Bom, você liga a televisáo, está lá o pastor R. R. SoaÍes, ou o pastor Fulâno de'Ià1, o Billy Graham, o limmy Swaggart, qualqueroütro, expondo umadoutrinae usando meios reióricos. Porque vocêvêisso natelevisâo hoie, vocêachaquetudo começou âssim. Mas nenhuma religiáo começou âssim; isso ó impossívcl. Pâra que um dia exista um pastor R. R. Soarcsfâzcndo discurso religioso, a rcligiáo tem que existir. Você está conÍundindo um processo de propagaçáo muito posleÍior com a origem dâ reliSião. Essa é outra confusáo que muitos desses historiadorcs cientíEcos fazem. Nenhuma religiáo aparcce como doutrina, nenhuma. ÍAfuno O Semõo da Monta ha não seia o embrião de üma dou' tifia ctistà?l Náo, a doutrina só pode scr elaborada posterioÍmentc, isso tanto no cdstianismo quanto em qualqüer outÍâ Íeligião. Moisés, o que fez? Chegou lá com umadoutdna? Náo foi isso! Elc disse "Olha, o negócio é o seguintei estâmos âqui prisioneiros c sci como é que a gente faz Pârâ escapar"- - "Como é que você sabc?" - "Foi Deus que me contou." - "É louco!" Náo foi assim? Ou scia, ele convence os câm&adâs náo de umadoütrina, mas de umâ possibilidadedc aÇáo;empreende aaçáo e dá bom resultado. Quâl era a doutrina cm que eles acÍeditavam? Dou- trina náo tinha; até os Dez Mandamcntos vierâm depois disso. Pdmeiro acreditaram emMoisés enquanto ]íder, enquanto chcfe, enquanto güia. E doutrina? Moisós náo tinhâ doutÍina alguma! Á doutÍina se forma aos 3l poucos, e quando começâ o negócio da aPologética religiosa é porque â religião já está velhâ. Se Moisés âparecesse aqui e dissesse: "Olha, vou resolver os seus pÍoblcmas", e você vai atrás do cara e ele resolve os problemas mesmo, você náo ia prccisar de nenhuma apologética, porque a coi§a;á está acontccendo. Passado muito tempo, a rcIerência à religiáo vai se tornando cada vez mâis indireta. Ela deixâ de ser um objeto de experiôncia diÍeta e passa a serum dado decultura entrc outros dados de cultura que estão aí mesclados e empilhados. Náo é assim? O que não se pode lãzer é projetar reiroâiivamente a situâçAo po§tcrior à situaçáo oriSináÍia. Se pcgârmos a história das oÍigens islâmicas, a Revelaçáo islâmica pros_ segue duranie vinte e oito anos, que é a etapa da formaqáo da pÚpÍiâ comunidade. O texio do Coráo vai sendo clahorado iunto com a história dacomunidade islámica. Entào, nào é que esse suieito chegou com uma doutrina prontâ, começou a prcgá-la e dâi tez a comunidade. Náo, náo lbi assimi ele náo tinha doutrinâ âlguma. ÍAlnnot você che4ou a comentar isso daí uma aeZ- Qüe os proleías sâo glandes fiisÍérios, nôo é? Vem o suieito, que lalo: "NAo üafios maís", e loila mundo üai...1 Um historiador da cultuÍa, ou historiador da religiáo, qüe encara o profetacomo se ele lbsse um prcpâgandista dc doutrina é um indivíduo dcumaburrice que, paramim, chega a scr impensável. Mas como é que cle foi meier essa idéiâ na cabeça? É umâ projeçào inlãntil: ele vê um progüma na iclevisâo e achaque areligião aparcccu âssim. Náo, assim vocô pode inventar uma pseudo-religiáo, claro: compóc umâ doutrina na suâ casa e dai contrâtâ um pÍopagândista para Íâlar Àí, sim. Temos o reverendo Moon e tal... Mas, espera aÍ, qual é a hislória, a epopéia do reverendo Moon? O que ele fez? Náo fez nâda. Só inventou Iá um negócio e começou a Iazer propaganda. Como é o cara dâ cientologia, 32 o que cle fez? Sentou cm câsâ, escreveu, c dâí começou a fazer propa_ gandâ. Allan Kardec, o que fez? A mesma coisa. As religiôcs de Iato náo começam com doutrina, nenhuma começa com doutrina. começam com um fato. o que este lato diz? As pessoas quc par- ticiparam, que estavam lá perto, não seriam c{pazcs de expor o qüc aquele taludi2. O conreudo intelcctual, doulrinal,leva séculos para se expressar' E um tremendo esforço de inierpretaçáo que se faz depois, poÍque a doutÍinâ sc íorma depois. Tanio que â fase de formalizaçáo pode ser considerada até o momento de decâdência da religiáo, e é um negócio ató peiigoso. lAlüno E as epístolas de Paulo? Já ttào sào u a Íorma cle cofitar üfia doutiúa? Ou é de uhl...l \áo. A qudle lolalidâde delas sào instru(oes morais para o govcrno da comünidade, náo sáo doutrinâ. IL1rJüÍL,: Sõopti cípíos que aão...) Sáo regÍas morais. Ainda náo sáo pÍincipios, porque náo têm o enun' ciado de princípios no sentido doutÍinal; sáo noÍmasr "Façâm âssim, façam assâdo, náo façâm aquilo, cvitcm aqüilo ouiro...". Náo ó assim? o lempo todo sáo normas. consclhos. ctc. vocú nao vó uma cxposi(do doutrinal no Evangelho intciro- O Evangclho é uma primcira nanativa dc um fato, e só. ÍAluna, A iloutrina é, efitão, um eslotço íle íntetpretação desses documentos: eaanqelhos, cartos...] Posterior Uma doutrina tem que se exprcssal em linguagcm e§iabi- lizâda, concciluâ|, e dotada de univcrsalidâde. I AfúÍro'. Potque são ufia ínteryrctaçao lóçica?l Claro, é uma elaboraçáo lógicâ, uma etpre§são lógica. l3 lAl..lno: Nio seria, e Íão, sinples poética...) Você vê que tem quc passar pela narraliv poótica. A primcira nar_ rativa é poéticâr O que aconteceü? Foi assim. assim. âssim. Existcm muiias manciras dc contar, e por isso cxistcDr vários evângelhos Cada um qucviu acentuâ um lado, por isso tl:m nuilos cvangelhos. E dcpois? Bom, dcpois... ÍAlunà, LLes fiinistran, há ptincípios moruis q e 7,ão...1 Lu só uso a palavrâ... É porumaquestão dc palavras: só uso â palavrâ "princípio" quãndo sáo p ncipios de ordem doutrinal; rcgras morâis, eu chamo "normas'ou "regras". [Í\1úía: O üincípio do amor ao pÍórimo, prificípios de busca do É, mas esses principios, cnunciados assim, iá sáo doutrina. Note bem, Cristo náo enuncia nelhunr princípio; clc diz: 'Amâi-vos uns aos outros comoeuvos amei". É fácil pcrccbcr quc islo náo é doutrina. Está dando um modelo vivo. E sc vocô perguntar... IAlrna: Mas cttl cona púrcípios noraís?l Náo. esse náo é um princípio moral, ncssc scniido. lAluna: 'Áraai-zlos u,?s aos oulros" é Íalfibéln?l Istoé, pode-sedizer, umâ norma. Mas esla norma. cnunciadaassim, náo iem conteúdo inteligível slrfici€ntc. Por quô? l{lüno Isso potque e ão lefiho cotfio saber como ek amou.l Comovocêânou? Conrc é o amorde Crisio? Vocô precisariâ enunciá- lo, isto éi "cristo amou a§sim, c é assim que você tem que amar". Bom, aí virôu xmâ noma rnoÉl mesmo t+ (lualó odiscurso da linguagcm bÍblicâl)ll urr tcmrogrcgo chânur(io /íiltrlú. o qucrigmâ ó Lrl]l intcrmcdiárn), unr nristtrtl (liiÍ(il dc (li§ (cnrir cntrc o poético e o retórico. 'l oda â ltiblir r.j oscrili' nssifir. lil llilrrâ, aprcsentâ e exoÍla, mas nao chcga a dcl'iDir rixâtanrcntc unrl rÍ)rnra no senlido racional explícito- Cada ordcnr dÂda, ou p(n lcs(ls ()'isio no Novo Testamcnlo, ou por Deus Pâi no Antigo TcsianrcDt{). § scmprc cnigmáticâ. Por quê? Porque ela tcnl muitos scntidos. I\4as urra doutrina nào pode ser plürissensa, tem que ser unívoca. Conro a que se vâi pegar esta fórmula compâclâdâ e descompâctá-la pârâ transformar numa doutrina univoca? Isso dá um trabalho miserável, lcva tempo. É por isso que é inteitamenic absurdo se âchar que umâ rcligiâo começa com u ma doutrina; isto é materialmente impossivel, â não serque seiauma pscudo-religião:você invcntaa doutrinâ em câsa c começa a falar. Mas é o ial negócioi Santo Tonás de Aqüino dizia que falamos c escrevemos com palavras, Deus fâlaeescreve com fatos, com cojsâs. com atos. O discurso divino é indisccrnívcl dos làtos quc o cnunciam; por isso lllesmo nàu teú aquelâ intcliSibilidâde imcdiata da doutrina, mas tenl o inpacto do íato rcal. llJj;,'lo E é aí que esÍá a u iüersaliílodc ln nthinl ? Qtún do conleça a Ltirar Íloutri a a coisa ai se lruEltrcnlando ( ..)1 Claro! A doutrina você podc cxpor dc u icito ou do outro, daí já comcça a surgir controvérsia. Claro quc sc podc chcgar a uniÍicar adou_ tr;na, mâs como é que se unifica? Atravós dc inúmeras controvérsias. O que são os concilios senáo imensos palcos de contro!érsias? Dessas, algumas podem serêrbitradas cicntificamenlc, ouiras náo. E daí, o que o Papa faz? Ele produz outro fâto, vai lá, "convcrsâ" com Deus, depois diz: "Olha, Deus diz que é âssim". - "Por quê?" "lsso cu também náo sci. Ele me diz que é assim, náo sou eu quem está dizendo. Ele mc diz que é assim." O que é isto? É uma doütrina? Náo, é outÍo fato. 35 ÍAluna Mas os concílios etiste a ütilízaçào de üm mélodo día lético.l Existe. Existe toda a discussáo, com todo o criiério dialético, cien_ títico e tal, mâs às vczes, mesmo com tudo isto, náo se chega a uma soluçáo, e quando náo se chega, entâo não tcm solução doutrinal. mas tem uma dogmática. lAl[]na, Mas aí o Íato e o do\ma Íium insolúteis?\ O dogma é um fato, cle não é doutrinà. O Papa vai lá, reza, se recolhc, vai e daí diz: "Olhâ, Deus me disse quc é assim". Note bem: nào é umâ coisa quc o Papa pen§ou, náo é uma elâboÍaçâo inlelectual dele; é algo quc lhe foi imposto de alguma maneira. Você pode passâr o rcsto da sua vida tcntândo iuslificar por quc é âssim. Aí você está translbmando cIn doutÍina. Uma doutrina tern quc podcr siir dcfcndida dialeticâmente. Como ê que você vâi delendcr dialelicamcnte a Íessurrciçáo de Nos$ Senhor Jesus Cristo? Você nãopode, porqueédado, óum tato, nâoéumaidéia, nào é uma opiniáo, náo é uma leoria quc você pode dcl'cnder ÍNrno Você compra e... cotlo üocê não pode deJendeÍ lirctr mais uma átaorc, poÍ exemPlo?l Você náo podc defender dialciicâmente umâ árvore. lAluno:Éisso,l..l Lxaramentc A (huviL, u \ol. vo.,( nau poÍic Jclinder É um dadu E claro que os dados podem scr falseados: você pode dizcr que uma coi_ sâ que acontcccu é u,na coisa que rrro aconteceu, mas isto náo é uma discussáo doutrinal. ó umâ discussáo histórica. E se você vai disculir csses dados da Revelaçáo crisiá, enúo toda a impugnaçáo de üm dado ó teita porum motivo racional, nünca irracional: vocô náo pode rejcitar 36 o (lirdo só porque você nào gosta. Se cssa rciciçáo inlplica a adcsâo a lriD(ltcscs mirâbolântes, enláo ch nao tcm razão dc scrl I Alnna. Mas, aí que enlra SchelLing?l Náo. Náo é matéria dc íé. Náo é mesmo. Sc cstou lhc dizo'rdr)l Olha, âqui você lô o Antigo 'lbstamento c vê todo o encadcamcnto de núncios que tcm... l\lünai (...) aocê Íi ha dito afites que épela doulrina daquilo que lao pode set iliscütiilo dialeticamente...l Náo1... Tudo que é doutrina pode serdiscsiido dialcticâmente, §im. 0 que náo pode é unl dâdo. Como é quc você discuie dialeticamente, aí, o exemplo dele, umâ árvore? Só pode discutir aquilo que se diz a rcspeito da árvore. ÍAli)not E o que setÍa obieto de ié denío do ctístfuni§no?l Já vou chegâr'lá. Veia, toda cstaâulâ âquj, essc assuntonão é filosofia, mas é o enunciado dc um fato que tcve um impacto filosófico monslru- oso, e até hojc esse impacto cstá ai. ^ prescnça do cristianismo i mais ou menos pârâ nós o que cra a presençado nrundo fisico pâra os Srcgos. Scm pâssar por isso, náo se pode cntcndcr o quc âconteccu adiantc. Mas, voltando: o que pode ser discutido dialcticâmentc é só o que se diz, é oque se afirma;um fato, ou uma narrativa, náo pode. Se o §uicito diz, por exemplo: "olha, está rÍe doondo aqui", como é quc você vai discutir dialeticamcnte isso? Não ó possivel, é? Você podc negar; dizer: "Vocô cstá fingindo, é mcntira", isso é ulnâ possibilidâde. Agora, se o sujeito disser: "Olha, cstou com apendicite", isto é uma oPiniáo, é umâ interpretaçáo queeleestá fazendo;cstá explicando a sua dor.. Aí, então, isso se podediscutir: "Náo, istonão ó aPendicite, éouÍra coisa". Entendeu a diferença? ÍAlanat Só com outtos Íatos que seiam-..) Só com ouiros fatos que os impugnem ou com razoes que os pugnem. PoÍém... l{lúa: A inprcssão não pode ser discutída. não é? Pot eÍehplo: "Eu eslou cofi dor",l Não, ela nâo pode scr discuiida, isso ó ulll fato. Ou é um fato ou é mentira, ou é uma... LAlunot A díscussao a rcspeíto disso não é unla discussao diaLélica; ela í)ai set ufi pseuclo...) Náo, pode ser uma discussáo histórica. Você está ncgando averaci- dâde do depoimento. Por que negar a verâcidade do depoimento? ,[âs. sob outros âspectos, náo podia scr rcvoSàda- Aí §ürgc todo uln jr)Io cntrc a Lei aniiga e a Lei nova, quc ó unra dâs coisas fiiLis bonilas (la históriahumana. Pelosânos seguintcs, aquclcs quc li{ànr rÉ liirm la anliga até hojc náo sabem o que fazcr com o iâl do Jcsus Crislo, c cste c o grânale problemâ dahistória. É por isso quc a convoÍsão dos iudcus c oonsiderada â etapa final da históriahumânâ. Na Bíblia, cstáâ§sim, o lim do mundo é ântecedido pela conversáo dos iudeus. o que significâ quc, sc tivessem se convertido, iá teria acÂbado. l\l]ulnot Tbm Eefite que tenta plecipilat o processo, nào é? Em aez de cofiuerter, te ta eliminat e p,í:'nlo.l É, se matar iodos, dai náo temos mais esse problema. ÍAhÃotMas ele ao acaba ttais?l ÍA]J-lÍtà A sanlidade e o nunilo não acabam mais.l Você pode dizer que ahistória do mundo é mcdidâ dai para âdiânte pelâ relação entre a Lei aniiga e â Lci nova. Tudo o que sc pâssa na história ocidental podc ser corrtado pclâ rclaçáo cnirc o princípio da Lei e o princípio da Graqa, quc às vczes parcccnl sc idcntificar c às vezes parecem sclântâgônicas- Isso ai Ú u rnislério que não me câbe explicar. Eu sei que é assim. A pârliÍ do advenlo de Nosso Scnhor rcsus CÍisio, todo o restante dâ hisiória humana é medido por cstâ ÍÚgua: dc um lado tem a l-ei, do oulro lado tem a Graça. No lundo são idônticâs, mas só no fundo; na superfície da históriâ, às vezes aparecem como antâgônicas. Por exemplo, uma coisâ interessantissiua: muitas das escolas gnósticâs apareceram com a idéia de que seriâ preciso colocar um intcmediário cntre este baixo mundo, que é o nlundo da Lei, da fatalidade, etc-, c o Deus Eterno, que é o Deus da Graça. Para isso é que os gnósticos l/\JJJtio: Nao é una queslto deíé trcCar ü 1íalo, ao é?) Náo, náo ó- Agora, sc para ncgar o fato você ó obrigado â recorrera hipóiescs mirabolantes, entáo é umanegaçáo irracional. Se você nega a veÍsão que o pÍópÍio Iesus Cristo dá de sua vida - "Olha, náo foi nada disso que aconteceu; o cara não era o VeÍbo de Deus, não foi nada disso" , entáo, tudo loi um tecido de coincidências muito mais mirâculoso do que o que ele está contando. Pessoas alãstâdâs três mil ânos umas das outras combinaÉm enire si para prodüzir um cfcito fictício no ano zerc da era cristá. É táo absurdo, é táo estúpido, que náo há motivo para vocô ilnpugnar isso. LAluno: QLol é a atilude .los iüdeüs diafile desse Íalo?l Esse é outro problemâ. Porque, se a Nova Aliança confirmava a an- teÍior, isso que. dizer que a anterior podia scI cumprida de dois jeitos, do ieito antigo e do ieito novo, senão a religiáo judaica teria acabado. Quer dizer que umâ pârte dela, sob certos aspectos, ó absorvida na nova, 38 39 inventamm outro Deus, que ficavâ no meio. (...) por quê? porque eles estavam vendo uma contradiçáo entre a Lei e a Graça. Entáo diziam: 't{h, entáo iem um Deus bom e um Deus ruim,,. Esse já é um efeito colateral disto aí. Quando, por exemplor um povo opta pelo socialismo, o que ele estiá fazendo? Está dizendo: ,âqui vamos fazer um negócio que vai estabelecer a total unânimidâde junto com a total espontaneialâile e liberdâde". Náo é isso que estáo prometendo? ÍAlnna: Ufia sociedade peieita_) O que ó isto? Isto é: "Vâmos dar um jeiio entre a Lei e a crâça,,_ Âinda estáo vivendo esse problema, quando cabe a nós saber que a solução deste enigma só Deus tem, nós náo temos. Sabemos que, em algum ponto, e de âlgum modo, a Lei e a Graça se articulâm, Como. isso eu náo sei. lAlüno: Aí isso é questão de té?l Náo, isso náo é uma questão de fé, é questáo de lógica. Devem se articular porque vêm da úesma fonte. E como dizia Santo Tomás de Áquino: "Deus náo pode rcvogar a lógicade Aristóteles,,. Deüs é onipo, tente, mas isto náo pode fazer. E, por outro lado, vejo que na prática eles lêm connito, mas tâmbém o conflito náo é constante. pelo laalo lógico, v&s€ a nnidadc da Lei e da craça - e no mundo empfuico, orâ se vê a unidade, oÉ se vê a contÉdiçáo.  unidade está predominando, Ínas náo totalmente, Tem um monte de coisa que a gente não entende. Mas náo vamos entrar em consideÉçóes sobre o fim do mundo; não é isso; o objeiivo aqui náo é esse, nem é um curso de cdstianismo. Para entender a histórja desse peúodo, a primeira coisa que se tem que entendet é que o cristianismo, como qualqueÍ outm religiáo, náo surye como doutrina, e o negócio dafé... Ora, o suieito chega com um livro e diz: "OIha, você vai aüeditâr nisso porque é â palatÍa de Deus',. ,10 V()cô vai acÍeditar pela confiabilidade da fontc: sendo a pâlavra de Deus, clc náo vai mentir, entáo você tem quc ad€{itat Agora, por que cu hci dcacrcditar que isso é a palavra de Deus? É também pe,a conÍiabilidâde da tonte? Náo pode ser Acredito porque a fonte é confiávcl Por quc acrcdito que â Ionie é confiável? Então se entende que a palavra [é tcm dojs sentidos: deve-se âcreditar no que Deus diz porque foi Deus que disse. Como é que se sabe que foi Deus que disse? Isto náo pode ser por fó, tem que ser por oütra coisâ. Deus tem que dar razóes suficientes pdra que se âceite que Ioi ele que disse âquilo, e pam que daí se acredite no restânte do que ele disse também. Você tem que ter Íazõ€s Para aoeditar numâ parie até o ponto em que descobre: "Entáo, espera âí, isso náo sou eü, foi Deus que falou", daí ao resto você dá uma credibilidade, mesmo que náo tenha provas. Está entendendo? ÍlJnno: Mais ou fienos. O limíte é eio tênue ile ais- Onde acaba a mi ha conÍiabilidaile, porque te ho Íatos suÍicientes paía consllbs- tanciat essas... E onile cofieça, ,.?7 Quando eu era moleque, viaiava freqüeniemente com meu pai, e às vezes ele me deixava sentado no tÍcm e iâ ao bar tomar caJé, fumar um cigafio; às vezes ele me mandava um recado: "OIha, seu pai falou para você 6car quietinho aí e esPerâr que elc vai voltar". Muito bem, acredito em meu pai. Mas como é que vou sâbcr quc foi meu pai mesmo que mandoü o recado? Sãoduascoisas completamente difercntes: uma é a conflabilidade da fonte. outÉ coisa §áo as razÕes de se acÍeditar que a Ionte é exâtamente esta qüe alega scr A confiabilidade da Íonte quer dize4 por exemplo, se Moisés diz para o§ indivíduos: "Olha, nós viuno§ conseguir esetpÍlr daqui, mas tem um ieito", - "Quem foi que te ensinou?" - "Foi Deus." Vamos acreditar poÍque foi Deüs. Mas como équevou sâber que foi Deus? Isso quer dizer que, para que se acledite no restânte, paIa que se acredite na pÍomessâ por fé, é necessário que se acredite na narÍativa por outÍos motivos. Deu pam entender? 4l LAlrÍto. Etlletdi.l lAllJna Esses oulros notiüos do sAo questão de Íé 1 Náo pode ser questáo de íé. fem quc scr o tãlo brutall [Aluna: Você tet l que ler íeconstituído alé o ruciacínia de "Potqüe aqLtiLo lá teüe...".1 Ou vâi ser unla argumcnlaçáo racional, no câso dc você nào ter a cxpedência dircta, ou vâi ter que ser um làto quo náo tenha ieito de você negar É simples, vocó Iaz um tester pega cem pessoas crcntes cem protcsiântes. catÓlicos, iudeus, qqalqucr coisâ ecemmilitantes n,üiali.rds, nali§làs. 0 que vuce qufira. Pergunla Para Üs primciro!. "Deus cosiumâ âiender às suas preces, ou ele scmpre diz qü§ náo só para tcstar â suâ té?" - "Não, lleus gcrâlncnte ateDde Dc vez em quandú lcmâlSuInrc8o(iuqu(,lcnai,ar(nd( (unâôrciporqu(. mds ele devc saber." AgoÍa vocô pcrgunia para os outros: "Quândo foi que estc regime pelo quevocô luta alendeu às §uas promcs§íts?"- "Nunca- ' - "E você continuâ âcreditârdo? Isso é que é 1é!" Você esiá en iendendo? Porquc se Deus nunca tivesse quebrado nleu gâlho... Eu estou com 55 ânos, tudo que cu pcço ele diz quc náo, e eu estou lá lorândol... Não éassim? E os caras que acrcdiiam cm sociâlismo dilcmass;m: Ah o5ocialismorcül l(,i uma porca-ria. rrru\optu\iÍno\ai ser bom". Haia fól Eu prefiro ter fó num Dcus que geralmentc atende; de vez cm quando ele náo atcndc c faz um negócio quc cu também não cstou entcndendo o porquô, mas como das outras vczes elc âlendcu, sei que é leal, nàovai me sâcanear Todo crcnte diÍá islo: "Dcusgcralmente atende''. Todos vAo dizer isso. Pode ser que algum diga: "OIha, nüncâ fui atend;do"... ÍAluna Co Ío com urn Íato cutioso que não é ate dido: íodos os meus colegas na l:acülílaile que conhecia m rn poltco 4 Bíblia goslao.tm só do liütu àe ló, poqueeles achauan qüe aquiLa rclrulatta o que ela Deus, eo resto era ludo... Isso é Eerul, assiln.] Ah, issoé incrÍvcll Só que acontccc o scguinte: Deus aproniou uma paÍa Jó, mas aprontou depois deteratcndido àsprcces deleatéos sctenta anosl De repente diz: "Bom, agora cu vou aÍmarümâ âquipâra você...". Náo i: t o Abraao: '\ar,, ru !àij h \ü(rilrcar n lcu fillru . t menlira, nãovai fazcr nada. Quântos anos t in ha Abraáo quando acontcccu isso? Acrcditarnum Deus quc faz um ncgócio dcssc o tcrnpo todo, ilso éum pcsadelol Eoiáo vojan quc Slalin, F-idel Câs1ro, Adolf Hitler nunca cumprirâm nadâ, e o pessoal iodo cstá acreditando. Nào ó possÍvcll A recusa dos dâdos dâ llc'velação é butrico, ó pura laltâ de inteli gôncia, não é um problema de fé. A fé prcssupóe um conhecimento. Suponha que você é o lepÍoso, e tcm Iá um suieilo que era ccgo c está vendo, outro quc cstava morio Íessuscitou, ctc. Você diz: "Mas se o camarâda fcz tudo isso, ele tambén podc curar â minha lepra. Náo tcnho provâ nenhunra disso, dc que clc vai lazeÍ islo, rnas sei o que iá fez. Além disso. estou vendo o horncm'. ÍAl'rno: Mas aí en|ru a quesltto da tlaüatiüa: o àircito (...). lsso aconteceu mestno?.-.) Bom, entáo voltamos àquclc ponto: o que sc podc é ncgar o ies temunho, a veracidâde do tcslenrunho. A ncgação da velacidade do testemunho só é losicam ente viável sc cla é bâseadâ ou num ouirofato que o impugnaou num cxarne râcional su licientc. Agora, se pâra negar aqniiovocô logicamente teria que làzer urna consiruCào hipotéiicaúrüito complicada, enlão a negação ó idioticc ÍAl]lj.,o: É, fias e se ao Íor üeciso Íazet essa neglçdo?l I I t, +z 43 Mâs é, pois é isso quc eu estou dizendo. lAtuno: Nro, pois é. mas (...) é o seguínle: já estata tuilo isso preúislo no VeLho 'Iestamento. Algumas pessoas íoram lá, peqatan o que estaúa no Velho Testafienío e cÍiaru ufia histótia que Íosse coincidefiÍe co t isso.. . (estou colocando islo hipoteticatiente) .) Sim. e como é que cles fizeram para impor cssa história pâra todo mundo? ÍAl]Jnot Pois é. E cofi alqütts conhecimentos empíricos, ailda que tudimenÍarcs. de téc icas (...) ele aai, como Aistóleles, avant lalcttre; iá prcc?.dia a ciància modetna de, pot e;remplo (...).1 Sim, para isso você precisaria süpor quc houve um planejamento. Ou foi espontâneo? l{lrÍto A peryunta que Íaço é a se\uinte: essa hiyitese fiao é menos miruboli tedoqueos ieiío set Deus?l Não, essa hipótesc ó totalmente mirâbolante. Porquc isso âí pres- suporia-.- Veja, uma operâção publicitária desse tipô náo nasce assinl, tem que ser planejada, discutida, dá um montáo de trabalho, ó preciso treinar as pessoas para isso.-. IAl]Jno. Ou let sido ajudada poÍ ufia série de acasos.-.1 Acasos? Entramos na "loteria espoÍtiva". Vcia pcla lei das probabi_ lidadcsr é mais fác,l o sujeito ressuscitardo quc acontecet ludo isto por uma seqüência de acâsos qucváo se encâixando, encaixando, encâixan- do... Náo é possívcl. É mais lácil se aceitar um dado cslrânho do que umâ multidáo dclcsl A hipótese da conspiraçáo é âbsurda. Essepessoal vivia se reunindo c conversando, u iãzia pÍegaçào para o outro. Você não vê em partc algumâ um único documcnto dizendo: "Olha, vamos 44 , r)nlhinar dc cnganar o terceirc". Náo lcm nonhum tcstclnunho. lliio t.Dr umaata dessas reuniócs. Econlo ó qucvocôvai lazcr um plârn, táo ((nnplcxo e mantcr tudo aquilo na mcmó â? F: como no caso do Hitler:"Náo, elc nào sabia quoos ca.às csl vanl rrirlandoosiudeus". Olha,vocêtem que ter alguDra prola dc quc lx)uvc Um plânejâ,nento- Por exemplo, aqui iem um campo dc lonccnlrâ(lio I)c onde surgiu o campo dc concentrâçáo? Ah, está aqui umâ planta, c lenl aqui um orçamcnto; eles compraram tiiolo, compraram isso, rompraram aquilo, compraram gás... É cadê a nota de compra do gás? 'l(nrl Âgora. sr apdrec! u rudo aquilo do nada... lAlEí No míttitto m testem ho co,1lrfuio.) lsso ó a mesma coisa que dizer: "Olha, ninguém lez os campos de conccntraçáo; eles apareccram sozinhos por um tecido dc coincidências: caiu unl tijolo, depois caiu oulro, dcpois câiu gás, caiu o iudeu lá dcn' lro" .. Por umâ coincidônciâ. exalamentc como Ililler tinha escriio no Mei KanlpÍ.Éü,Í.,ahipótcse táo âbsurdâ quantol Simplcsmcnte não é possível. Estou há trinla â os pcnsândo nisso O rclalo do llvangelho é confiabiiissimo, e todas as discussrics crn ll»no sáo iDrbccis, loucâs, paIanóicâs. ll1do por quô? Olha, ostálá u su jcit() cha rnado lesus Crislo, nunca lez mal a ninguém, dizem quc âiudou unras pessoâs... Por que eles iam inventâressa história, cngânâí todo mtllrdo 0, rais ainda, iam compor uma'requipe de publicitári(,s" pâru cnganar o mundo, e náo sobra umâ ún ica âta dcssas rerniocs, nào sobr'a u nl único testemunho?.. Náo é possívcl istol A hipótcse ó tào rrirâbolanlc, lâo louca, que acho que o sinples fato de lcvá-lâ â sório durantc dois minulos iá é prova de dcbilidáde mental. Eü náo desconfio dc ncnhunr dado da Revelaçáo, nem da Revelaçáo judâica, nem da islârnica, nem dâ budista, dc nenhuma. Essa gcnte não está aÍ paru meniir. Você pensa que ó o quê? Que clcs são o Duda Mcndonça? Existe o problema da qualidade das pcssoâs. +5 Entáo, não é a 1é em Deus, simplesmente. A fé é no tcstcmunho. ÍAluna: Ouln dado pode set leoantado a laüor àessa lterucitlade...l EIes inveniaram tudo isso só parâ os roDranos iogarem eles pàrâ os leões conrerem- Fbi isso o que elcs gânharâm. l|luna: Justanente. Os apósÍolos soÍrerdm ma iio. Se isso...l É, cxatamentel "Vamos ;nventar aqui um ncgócio; o que vamos ganhar com isso?" Utu vai ser crucificado, outro vai ser iogado para os leõcs, outro vai ser cortado em pcdaços. . Propõe isso para o Dudâ Mendonça. Nenhum publicitário vai lãzer um negócio desses por cslc prcço. Simplesncntc isto nâo é razoávell É muito rcbuscado, muito artificioso. Os dados bás;cos da Revclaçáo sâo os dados básicos da his- tória humana, c não digo isso só conr rolâçáo à Rcvcla{ão cÍiíá, não. ^ his.uria dJ\ r(lisioc. ( l(il0 dr'so. , ,, , rir(riu Uúa vez escrevi um tcxto dizendo o quc é rcligião c o que náo é. porque hoie em dia o Estado leigo moderno não tem condiçâodc sâber.. Se invento o "culto dâ.. ". como escreveu aquclc padre (...) o livro Á Fratemidade Cósmica do Repolho Místico\ (é de um humorista que foi ftade, un cara engraçadÍssimo, muito melhor do que o Vcríssimo e todos esses). Invento âqui a "Frâtcrnidâde" e chego lá no Ministério c digo: "Olhã, quoro
Compartilhar