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ESTÁCIO DE SÁ PRATICA CÍVEL I ALUNO(A): JOSÉ ROMÁRIO FREIRES DA SILVA 1). QUESTÃO Ester possui três filhos, Márcio, Jonas e Caio. Ao longo da vida, amealhou patrimônio no valor de R$-1.500.000,00 (Um milhão e meio de reais), expresso em 02(dois) apartamentos de luxo, localizados em bairros nobres da cidade Belém do Pará, sendo que em um deles, a mesma reside. Ester resolveu vender um de seus imóveis para Jonas (aquele que ela não reside), qual seja um Apartamento de 1.000 metros quadrados, situada na Rua das Flores, Ed. Olimpo, 27, Umarizal, Belém-Pará, pelo valor de R$-250.000,00 (Duzentos e cinquenta mil reais). O negócio jurídico foi confirmado através de Escritura de Compra e Venda lavrada em 10.08.2018 no Cartório de Notas do 6º Ofício de Belém-Pa e, na mesma data devidamente registrada junto ao Cartório de 04º Ofício de Registro de Imóveis do mesmo município. Contudo, o valor venal do imóvel alienado fixado em carnê de IPTU atesta ao bem o valor de R$- 650.000,00 (seiscentos e cinquenta mil reais). Márcio e Caio não foram chamados a se manifestar sobre a referida compra e venda, da qual tomaram conhecimento em setembro de 2018 e, ao interpelarem sua mãe Ester, a mesma deixou claro que o bem era de sua propriedade, cabendo à mesma fazer o que bem entendesse com o mesmo, aliado ao fato de que, não se tratou de uma doação, mas de uma compra e venda, bem como por ser Jonas o único dos filhos não dotado de um imóvel para morar com sua família. Todavia, Márcio e Caio não aprovaram a conduta em prol de seu irmão, procurando um advogado em outubro de 2018, para saber se havia algum caminho jurídico a se adotar à solução do caso. Diante do caso narrado, responda às seguintes indagações fundamentadamente: a. É válido o contrato de compra e venda? Fundamente. R=) Conforme exposto o caso em tela não é válido o contrato de compra e venda feito por Ester a seu filho Jonas, pois a mesma vendeu um apartamento a um de seus filhos sem o consentimento expresso dos demais filhos.Todavia, vale ressaltar sem a referida anuência dos demais descendentes a alienação poderá ter sua eficácia subordinada a anulabilidade sendo que o imóvel aliendo foi vendido a um preço bem inferior de mercado conforme valor fixado na taxa de IPTU. Vejamos o que preceitua o artigo 171, II, e artigo 496 ambos do Código Civil: Artigo 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: II- Por vício resultante de erro, dolo, coação, lesão ou fraude contra credores. Artigo 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. Pode-se ainda apresentar o conceito Doutrinário: “A venda realizada com inobservância do disposto no artigo 496 é anulável estando os legitimados para ação anulatória os descendentes preteridos. Com o CC de 1916, não dizia se a venda era nula ou anulável, forte corrente doutrinária e jurisprudêncial sustentava que era nula, porque os incisos IV e V do artigo 145 do referido diploma legal cominavam tal pena ao ato praticado com preterição de alguma solenidade que a lei considerava essencial para a sua validade e quando taxativamente o declarava nulo ou lhe negava efeito. Entretanto, acabou prevalecendo a tese da anulabilidade, ao fundamento de que os Tribunais admitiam a ratificação ou confirmação do ato pelo descendente e somente a nulidade relativa por ser somada. Além disso, não se o anulava quando se demonstrava a inexistência de artíficio fraudulento e a autenticidade da venda, sendo justo o preço pago pelo descendente- aquirente. (RJTJSP, 136:305 Gonçalves, Carlos Roberto, Direitos da Obrigação: Parte Especial Contratos. Sinóposes Jurídicas .13ª Ed. São Paulo. Editora Saraiva, 2011, Pág. 83). Apresenta-se também o entendimento jurisprudencial: “Processo: Resp 725032/RS: Relator: Ministro Hélio Quaglia Barbosa; Julgamento 21/09/2006, órgão julgador:Quarta turma: Publicação Diário da Justiça do dia 13/11/2006. EMENTA: RECURSO ESPECIAL CIVIL. VENDA A DESCENDENTE ARTIGO 1.132 DO CÓDIGO CIVIL. ARTIGO 496 DO ATUAL CC, VENDA DE AVÔ A NETO, ESTANDO A MÃE DESTE VIVA, AUSÊNCIA DE CONSENTIMENTO DOS DEMAIS DESCENDENTE ATO ANULÁVEL. RECURSO NÃO CONHECIDO. Assim sendo, observando ainda o teor quanto aos demais elementos essenciais do negócio jurídico o artigo 104 inciso II, CC, não foi respeitada a forma prescrita em lei, pelo o qual o negócio deve ser anulado Portanto, de acordo com os artigos e doutrina supracitados e fundamentos contidos em nosso ordenamento jurídico a venda torna-se anulável. b. Qual a medida judicial que poderá ser proposta por Márcio e Caio e com que finalidade? Fundamente. A Medida Judicial cabível no caso em epígrafe é ação anulatória do negócio jurídico, visando o desfazimento do contrato celebrado entre as parte eivado de vício de dolo, entre a ascendente Ester e seu filho Jonas, prejudicando os demais herdeiros. A ação tem por finalidade anular o referido contrato de compra e venda conforme o artigo 171. II, do Código Civil. 2) QUESTÃO Fábio, em junho de 2006, dirigindo embriagado e sem habilitação, causou, com culpa exclusiva sua, um acidente de trânsito no qual danificou o carro de Marly e lesionou gravemente o passageiro Heron, sobrinho de Marly, com 12 anos de idade. Logo em seguida, no mesmo mês, pretendendo resguardar seu patrimônio de uma possível ação judicial a ser intentada por Marly e/ou Heron para compensação dos danos sofridos, Fábio transmitiu todos os seus bens, gratuitamente, a Antônio, um amigo de / longa data que, mesmo sabendo da intenção maliciosa de Fábio, concordou em auxiliá-lo. Em face dessa situação hipotética, responda, de forma fundamentada: a. O negócio jurídico está eivado por qual vício? Fundamente Sim. Todavia, em que o autor tenta maquiar de forma dolosa a transferência de seus bens a terceiros fugindo de obrigações a qual deva honrá-las nos deparamos do vício social de fraude contra credores, inserido no rol do artigo 158, do código civil. Este vício ocorre quando o devedor prática atos que diminuem seu patrimônio com o objetivo de salvá-los de uma ação de execução por dívidas. A fraude contra credores faz parte de um instituto tipicamente processual. Ela é a forma em que o devedor, tem a intenção de prejudicar ou causar algum dano ao credor no âmbito de receber o que é seu por direito. A fraude pode ser caracterizada pela má-fé, o que deixa nítido e passa o intuito de lesar o credor. Conforme preceitua Carlos Roberto Gonçalves: “Não conduzem a um descompasso entre o íntimo querer do agente e a sua declaração. A vontade manifestada corresponde exatamente ao seu desejo. Mas é exteriorizada com a intenção de prejudicar terceiros ou de fraudar a lei.” (Direito Civil. Parte Geral, Vol. I, São Paulo, Ed. Saraiva, 1997, pág. 98). b. Qual a ação de que podem se valer Marly e Heron para pleitear a anulação do negócio jurídico realizado por Fábio? Fundamente No caso a ação a ser utilizada ao caso será a Ação Pauliana, que consiste em uma ação de cunho pessoal por credores com a intenção de anular negócio jurídico feito por devedor insolvente com bens que seriam satisfeitos para pagamento da dívida numa ação de execução. Com esse enfoque, é de todo oportuno gizar o magistério de Caio Mário da Silva Pereira, verbis: ”Ocorre frequentemente a fraude quando, achando se o devedor assoberbado de compromissos, com o ativo reduzido e o passivo elevado, procura subtrair aos credores uma parte daquele ativo, e neste próposito faz uma liberalidade a um amigo ou parente, ou vende a vil preço um bem qualquer, ou concede privilégio a um credor mediante a outorga de garantia real, ou realiza qualquer ato, que a má-fé engendra com grande riqueza de imaginação.”(PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de direito civil. 23ª Edição. Rio de Janeiro: Forense, 2010. Página 459-460). c. Em junho de 2011 já teria escoado o prazo, tanto para Marly quanto para Heron, para ingressarem em juízo? Fundamente Sim, pois em Junho de 2011 o prazo para ajuizamento da ação anulatória do negócio jurídico já teria se esgotado. Ademais, o prazo decadencial é de 4 anos para pleitear a referida ação conforme o artigo 178, inciso II, do CC. E para tais hipóteses, o Código Civil não deixa dúvidas que o prazo decadencial é de quatro anos, de acordo com o artigo 178 do mesmo diploma legal. Nesse caso, a decadência se operou, fulminado o direito dos autores em pleitear a anulação, em razão do decurso do prazo de quatro anos previsto no art. 178, inciso II, do CPC. ] Nesse sentido, é a Jurisprudência dos Tribunais pátrios: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. INSTALAÇÃO DE REDE ELÉTRICA. ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. PRESCRIÇÃO. OCORRÊNCIA. VÍCIO DE CONSENTIMENTO. DECADÊNCIA. OCORRÊNCIA. 1. Com o novo regramento acerca dos prazos prescricionais, aplica- se o prazo trienal nas ações fundadas no princípio da vedação do enriquecimento sem causa. 2. O prazo decadencial para anulação da doação hipótese, portanto, é de quatro anos, contados do dia em que se realizou o negócio jurídico, nos termos do que expressamente dispõe o art. 178, II, do Código Civil. 3. Não apresentação pela parte agravante de argumentos novos capazes de infirmar os fundamentos que alicerçaram a decisão agravada. 4. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. (AgRg no REsp 1336153/SP, Rel.Ministro PAULO DE TARSO SEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/09/2014, DJe 15/09/2014); 3ª) QUESTÃO Retornando de um campeonato em Las Vegas, Tobias, lutador de artes marciais, surpreende-se ao ver sua foto estampada em álbum de figurinha intitulado Os Maiores Lutadores de Todos os Tempos, à venda nas bancas de todo o Brasil. Assessorado por um advogado de sua confiança, Tobias propõe em face da editora responsável pela publicação ação judicial de indenização por danos morais decorrente do uso não autorizado de sua imagem. A editora contesta a ação argumentando que a obra não expõe Tobias ao desprezo público nem acarreta qualquer prejuízo à sua honra, tratando-se, muito ao contrário, de uma homenagem ao lutador, por apontá- lo como um dos maiores lutadores de todos os tempos. De fato, sob a foto de Tobias, aparecem expressões como grande guerreiro e excepcional gladiador, além de outros elogios à sua atuação nos ringues e arenas. Diante do exposto, responda de forma fundamentada: a). É cabível a indenização pleiteada por Tobias no caso acima? Sim. É cabível a indenização pleiteada pelo autor, tendo em vista que imagem publicada sem autorização gera indenização. A Publicação da imagem de uma pessoa, sem a sua autorização, para fins econômicos ou comerciais dá direito a indenização. É o que diz a Súmula 403, aprovada pelo Superior Tribunal de Justiça. Como nos ensina Maria Helena Diniz: “O Direito à imagem é o de ninguém ver seu retrato exposto em público ou mercantilizado sem seu consenso e o de não ter sua personalidade alterada material ou intelectualmente, causando dano à sua reputação. Abrange o direito: à própria imagem, á imagem das coisas o uso ou a difusão da imagem; e a imagem em coisas ou publicações; de obter imagem ou consentir em sua captação por qualquer meio tecnológico.” Em que pese o entendimento doutrinário e jurisprudencial em face ao caso em epígrafe, o autor tem direito a indenização por danos morais contra a editora por publicar suas fotos sem sua devida e expressa autorização e com pura e plena finalidade apenas em obtenção de lucros econômicos. b). Caso Tobias tivesse falecido antes da publicação do álbum, seus descendentes poderiam propor a referida ação indenizatória. Sim. De acordo com artigo 20, parágrafo Único do Código civil que diz: Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes. Portanto, o Código Civil por sua vez em seu art. 20, também faz referência aos direitos da personalidade, dessa cada ramo, com respaldo jurídico, tem sua contribuição para a resolução dos conflitos dessa matéria que é tão sensível e ao mesmo tempo tão complexa. 4ª) Questão Marcos estacionou seu automóvel diante de um prédio de apartamentos. Pouco depois, um vaso de plantas caiu da janela de uma das unidades e atingiu o veículo, danificando o para-brisa e parte da lataria. Não foi possível identificar de qual das unidades caiu o objeto. O automóvel era importado, de modo que seu reparo foi custoso e demorou cerca de dez meses. Dois anos e meio depois da saída do automóvel da oficina, Marcos ajuíza ação indenizatória em face do condomínio do edifício. De acordo com o caso acima narrado responda fundamentadamente às questões a seguir: a. Considerando que o vaso de plantas caiu da janela de um dos apartamentos, pode o condomínio alegar fato exclusivo de terceiro para se eximir do dever de indenizar? O caso demonstrado é de hipótese da chamada causalidade alternativa, em que é possível saber que um ou alguns dos membros de um grupo determinado de pessoas deu causa ao dano, mas não é possível identificar o efetivo causador. No caso específico, não sendo possível identificar, desde logo, o apartamento de onde efetivamente caiu o objeto, o legislador autoriza expressamente a responsabilização de todos os condôminos, nos termos do Art. 938 do Código Civil, ao prever a imputabilidade não apenas do único morador do prédio como também do morador de parte da edificação. Responsabilidade do condomínio. Não sendo possível identificar precisamente de onde partiu a coisa que caiu e causou um dano, a responsabilidade deve recair sobre o condomínio. Nesse sentido: “Na impossibilidade de identificar o causador, o condomínio responde pelos danos resultantes de objetos lançados sobre prédio vizinho”. – (STJ, 3ª T., Resp n. 246830-SP, j. 22.2.05, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU 14.3.05.) Por outro lado, Helena Diniz pontua que: “Somente poderá liberar-se da responsabilidade se comprovar a ausência de prejuízo, a inexistência do liame de causalidade entre a queda do objeto e o dano, o lançamento de coisa em local apropriado (depósito de lixo), ou a culpa exclusiva da vítima”. (DINIZ, São Paulo, 2008, p.550). b) Após a contestação, ao perceber que a pretensão de Marcos está prescrita, pode o juiz conhecer de ofício dessa prescrição se nenhuma das partes tiver se manifestado a respeito? A pretensão está prescrita, aplicando-se à hipótese o prazo trienal previsto pelo Art. 206, § 3º, inciso V, do Código Civil, contado da data do evento danoso. Trata-se de matéria que pode ser conhecida de ofício pelo julgador (Art. 487, inciso II, do CPC/15). Portanto, após a contestação da lide pelo réu, não se autoriza ao juiz conhecer da prescrição sem antes oportunizar a manifestação das partes, em homenagem ao princípio da não surpresa (Art. 10 ou Art.487, parágrafo único, ambos do CPC/15). 5ª) Questão Caio foi submetido a uma cirurgia de alto risco em decorrência de graves problemas de saúde. Durante a realização da cirurgia, o médico informa à esposa de Caio a respeito da necessidade de realização de outros procedimentos imprescindíveis àmanutenção da vida de seu marido, não coberto pela apólice. Diante da necessidade de adaptação à nova cobertura, a esposa de Caio assina, durante a cirurgia do marido, aditivo contratual com o plano de saúde (que sabia da grave situação de Caio), cujas prestações eram excessivamente onerosas. Em face dessa situação, responda, de forma fundamentada, aos itens a seguir: a) O negócio jurídico firmado entre a esposa de Caio e o plano de saúde é inquinado por um vício de consentimento. Qual seria esse vício? Conforme análise do caso concreto em epígrafe vemos que há vicio de consetimento configurado estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salva-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, ou seja, (O Plano de Saúde), assume obrigação excessivamente onerosa. De acordo com o que preceitua o artigo 156 do Código Civil. Portanto, da simples leitura do artigo, é possível extrair a essência do instituto, que se baseia, sobretudo, na noção de necessidade. O necessitado assume a obrigação excessivamente onerosa como forma de evitar um dano. É, portanto, “a situação de extrema necessidade que conduz uma pessoa a celebrar negócio jurídico em que assume obrigação desproporcional e excessiva” (GONÇALVES, 2005, p. 392). b) O vício presente no negócio jurídico acima descrito faz com que o ato firmado se torne nulo ou anulável? Justifique Em resumo ao presente negócio jurídico cebrado entre as partes trata-se de ser Anulável quando haver: vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. Art. 171, II e 178, II, Ambos do CC/02. E no presente caso concreto é notório que o vício está presente na relação acima supracitado.