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DIDÁTICA Esp. Daniella Medeiros Moreira Rogel GUIA DA DISCIPLINA 2020 1 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância “Quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender”. (Paulo Freire) INTRODUÇÃO O ensino é uma forma sistemática de transmissão de conhecimentos que nós humanos utilizamos para educar e instruir. Podemos perceber então a importância desta prática para a sociedade e seu desenvolvimento. O processo de ensino e aprendizagem é complexo, envolve diferentes fatores, e dentre eles está a forma, a estratégia que é utilizada para ensinar algo a alguém. Uma reflexão que podemos fazer está relacionada ao momento em que aprendemos, por exemplo, a andar de bicicleta, ou a dirigir. Como você aprendeu? Que ferramentas a pessoa utilizou para te ensinar? Sempre que nós ensinamos algo a alguém, acabamos por automaticamente aprender mais sobre o conteúdo que estamos abordando. A didática está relacionada a esta complexa missão de ensinar algo a alguém. 2 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. O QUE É DIDÁTICA A palavra didática vem da expressão grega “Techné didaktiké”, que significa arte ou técnica de ensinar. Por isso, abrange a parte da pedagogia que se ocupa dos métodos e técnicas de ensino, ou seja, a didática estuda os processos de ensino e aprendizagem, envolvendo a arte de conseguir promover aprendizagem aos alunos. Para tanto, a ação didática envolve o professor, o aluno, o conteúdo, o contexto da aprendizagem e as estratégias metodológicas. O pai da didática moderna e um dos maiores educadores do século XVII é o checo Jan Amos Komensky, nascido em 1592 e mais conhecido como Comenius. Ele lutava pelo aprendizado contínuo e o desenvolvimento de um pensamento lógico, em vez da simples memorização. Em sua principal obra, didática magna: tratado da arte universal de ensinar tudo a todos, o educador define didática como: “um método universal de ensinar tudo a todos. E de ensinar com tal certeza, que seja impossível não conseguir bons resultados. E de ensinar rapidamente, ou seja, sem nenhum enfado e sem nenhum aborrecimento para os alunos e para os professores, mas antes com sumo prazer para uns e para outros. E de ensinar solidamente, não superficialmente e apenas com palavras, mas encaminhando os alunos para uma verdadeira instrução, para os bons costumes e para a piedade sincera. Enfim, demonstraremos todas estas coisas a priori, isto é, derivando-as da própria natureza imutável das coisas, como de uma fonte viva que produz eternos arroios que vão, de novo, reunir-se num único rio; assim estabelecemos um método universal de fundar escolas universais” No link abaixo você encontra na íntegra o e-book (livro digital) de Comenius, Didática Magna (1649). <http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/didaticamagna.html> 3 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O presente tem sentido quando analisamos o passado e planejamos o futuro, por isso somos seres históricos. Com a intenção de se entender os aspectos envolvidos na realidade da educação no Brasil é necessário falar sobre a evolução histórica da didática e consequentemente dos objetivos da escola e dos estudos sobre o processo de ensino e aprendizagem. Para delinear o lugar que a didática ocupa no contexto dos cursos de formação de professores retomaremos a época militar brasileira, mais precisamente pós 1964. Em 1972 aconteceu o Primeiro Encontro Nacional dos Professores de Didática na Universidade de Brasília porque a época requeria um avanço na forma de transmissão do conhecimento. Tem-se o professor técnico e a racionalização do processo de ensino e aprendizagem onde o planejamento deve ser seguido como papel central aos alunos. Somente após dez anos, em 1982 que se realizou no Rio de Janeiro o I Seminário intitulado A Didática em Questão. A dimensão política interiorizada no ato pedagógico surge frente a 4 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância necessidade de docentes críticos e conscientes com o papel que a educação e a formação dos professores representam no país, já que nesta época o avanço na dicotomia entre o público e o privado só aumentava, e a escola pública era direcionada aos pobres e menos favorecidos economicamente, com realidades totalmente diferentes, que podem ser observadas ainda hoje nas escolas, conforme podemos refletir lendo as charges abaixo sobre o ensino público e o privado. Houve um tempo em que ensinar era possuir o conhecimento dos conteúdos (assuntos) a serem transmitidos aos alunos, planejar as estratégias e organizar os recursos a serem utilizados nesse processo. No final do mesmo, elaborava-se uma avaliação que definia se o aluno havia ou não aprendido os conteúdos daquele determinado período na escola. Pensemos num “receituário”, no qual havia objetivos, conteúdos, estratégias, recursos e avaliações determinados para cada série escolar. Era um tempo favorável às reproduções de “diários” de professor para professor e de ano para ano. Acreditava-se na possibilidade de uma educação estática e mecânica. No período compreendido entre 1994 e 2000 o aluno passa a ser concebido como um ser historicamente situado e que pertence a uma determinada classe social e portador de uma prática social com interesses próprios e ainda com um conhecimento que adquire nessa prática, os quais não podem mais ser ignorados pela escola. Esse período se relaciona com os anteriores através da problemática da interdisciplinaridade, que passa então na mudança do século a ser uma questão importante. 5 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Nosso estudo é nesta época baseado no entendimento de que a prática não é dirigida pela teoria, mas a teoria vai expressar a ação prática dos sujeitos. São as formas de agir que vão determinar as formas de pensar dos homens. A teoria pensa e compreende a prática, a sua única função é indicar caminhos possíveis, nunca governar a prática. A base do conhecimento é a ação prática que os homens realizam através de relações sociais. Os estudos de Libâneo (2010; 2013) ressaltam que a prática educativa envolve uma ação consciente, intencional e planejada que busca agir no processo de formação humana. O termo pedagógico denota que a finalidade dessa estrutura é formalizar um conjunto de objetos necessários a execução de um plano de ação educativo. Assim, a didática estará pautada em um planejamento de ensino, que envolverá escolha de técnicas e estratégias que facilitem o processo de ensino e aprendizagem dos alunos. A educadora Vera Maria Candau, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, ressalta que a Didática pode ser entendida como reflexão sistemática e busca de alternativas para os problemas da prática pedagógica, o que envolve o estudo das teorias de ensino e aprendizagem aplicadas ao processo educativo que se realiza na escola, bem como dos resultados obtidos. Os elementos da ação didática são: 6 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Dica de leitura: LIBÂNEO, J. O dualismo perverso da escola pública brasileira: escola do conhecimento para os ricos, escola do acolhimento social para os pobres. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 38, n. 1, p. 13-28, 2012. LIBÂNEO. José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 2013. CANDAU, Vera Maria. A didática em questão. 32ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2011. 7 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM Libâneo (2010) defende que a educação estáligada a processos de comunicação e interação pelos quais membros de uma sociedade assimilam habilidades, técnicas, atitudes e valores para que consigam produzir outros saberes. Uma experiência educacional positiva é aquela que capacita o aluno para pensar, sentir e agir, por isso, está pautada no professor, aluno, conhecimento, contexto e avaliação, que interagem entre si para construção de significados. A aprendizagem significativa acontece onde as ideias são expressas simbolicamente e interagem de maneira substantiva e não-arbitrária com aquilo que o aprendiz já sabe. Este novo conhecimento e que pode ser, por exemplo, um símbolo já significativo, um conceito, uma proposição, um modelo mental, uma imagem, David Ausubel (1918-2008) chamava de subsunçor ou ideia-âncora. O conhecimento prévio na visão de Ausubel é a variável isolada mais importante para a aprendizagem significativa de novos conhecimentos. Isto é, se fosse possível isolar uma única variável como sendo a que maior influência para as novas aprendizagens, esta seria o conhecimento prévio, os subsunçores já existentes na estrutura cognitiva do sujeito que aprende. Por exemplo, o aluno externaliza o que sabe sobre um determinado assunto, o professor também compartilha seus significados, tudo dentro do contexto que estão inseridos, o aluno confere sentido as novas informações e as agrega a sua rede de conhecimento, o que tornará a aprendizagem mais significativa. Assim sendo, Masetto (1997) ressalta que o processo de ensino e aprendizagem, na escola, é intencional, ou seja, orientado por objetivos a serem alcançados por aqueles que dele participam. Portanto, é significativo que os alunos consigam aprender o que se propõe, através de condições apropriadas, o que envolve aspectos da: - dimensão humana, pois depende da relação interpessoal entre os envolvidos. - dimensão político-social, pois o processo de ensino e aprendizagem se realiza em uma determinada escola, situada em um bairro com determinadas características sociais e econômicas, essa escola recebe suas orientações e diretrizes educacionais propostas por políticas governamentais, que influenciarão por meio de legislação e normas em seu 8 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância trabalho. Alunos, pais, professores, diretores, funcionários, pesquisadores, autores, todos, são pessoas que vivem e convivem em uma cultura específica e, portanto, têm posições políticas e sociais que são transmitidas em seus trabalhos e nas suas relações com a escola, cujo trabalho é educar a criança para uma participação ativa na sociedade, fazendo uso então de alguma tendência pedagógica. - dimensão técnica do processo de aprendizagem implica definição de objetivos, seleção de conteúdos, técnicas e recursos de ensino, organização e definição do processo e técnicas de avaliação, ou seja, todo planejamento. A seguir, estudaremos cada um destes aspectos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. LIBANEO, J. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 2010. MASETTO, M. Didática: a aula como centro. São Paulo: FTD, 1994. 9 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. DIMENSÃO HUMANA: RELAÇÕES INTERPESSOAIS NA ESCOLA A escola favorece a formação social entre os que estão nela envolvidos, pois promove interação entre as pessoas, principalmente entre os professor-aluno e aluno- aluno, levando ao desenvolvimento de atitudes e assimilação de valores. Assim sendo, pode-se afirmar que no processo de construção do conhecimento, a interação humana assume um papel pedagógico significativo e evidente. Quando o aluno chega na escola, traz consigo conhecimentos construídos a partir de suas experiências anteriores, que somadas a intervenção do professor e o contato com novos conteúdos, promoverão a construção de novos conhecimentos. Por isso, o professor deve sempre exercer uma função incentivadora, despertando e estimulando o interesse do aluno, conhecer seus alunos e os conhecimentos prévios que possuem. Esse conhecimento deverá ser o ponto de partida do professor. Isso é importante, pois, partindo de um universo familiar ao aluno, poderá despertar seu interesse pela participação, envolvendo-o em situações-problemas nas quais ele se sentirá capaz para resolver. Para o professor, esse ato de conhecer e compreender o aluno mediará não somente seu trabalho com os conteúdos a serem apresentados, mas também seu próprio envolvimento na busca de atitudes mais positivas na relação com esse aluno e suas dificuldades no processo de ensino e aprendizagem. Os professores precisam saber que as representações que eles mesmos têm de seus alunos (o que pensam e esperam deles, as capacidades e intenções que lhes atribuem) influenciam no trabalho desenvolvido na sala de aula, da mesma forma que ocorre com as representações que os alunos têm de seus professores. É importante pensar na importância de um autoconceito positivo dos alunos na construção de seus conhecimentos e autonomia. O autoconceito refere-se ao conhecimento e conceito que alguém tem de si mesmo, uma autoimagem que influi na autoestima. Crianças com alto nível de autoestima conseguem melhores resultados na escola. Quando o professor conhece o aluno e favorece seu envolvimento no processo de ensino e aprendizagem mediante o diálogo, estimula sua participação e interesse nas atividades e trabalhos. A motivação é um processo psicológico interno e profundo que o professor poderá utilizar para incentivar o aluno a alcançar, mediante esses procedimentos. 10 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O processo de ensino e aprendizagem vem se transformando na medida em que a sociedade também se modifica. Segundo Bauman (2001) vivemos em uma sociedade em que as relações não duram, em que o poder está desterritorializado e que o espaço e o tempo não compõem mais as duas faces de uma moeda. O tempo pode ser superado pela velocidade, enquanto o espaço pode ser ultrapassado pelas tecnologias que permitem conhecer o mundo em um só clique. Desta forma, a velocidade passa a ser uma característica marcante da contemporaneidade. Nesta última década podemos afirmar que um dos maiores desafios docentes é justamente a relação humana professor-aluno, que se confunde com a relação de família, de amigos, de respeito, de proximidade, entre outras. O docente é rotulado por “ser bonzinho”, “explicar bem”, “ser chato”, entre outras termos. A constante mudança dos objetivos educacionais, do espaço escola e do seu papel na sociedade revelam um profissional responsável pela transformação social e isso reflete na sua prática em sala de aula. O acesso à informação em um clique de botão permite que o aluno tenha as notícias em tempo real e cabe ao professor à mediação entre a realidade virtual vivenciada pelo educando e a realidade escolar tornando-as o mais próximo possível. O verdadeiro processo de ensino e aprendizagem é aquele que proporciona um ambiente educacional onde o diálogo é privilegiado, pois, como já vimos anteriormente, o professor foi colocado como o centro do conhecimento (teoria para só depois vir a prática) e o aluno como uma tábua rasa que seria alimentada pelas informações teóricas transmitidas pelos docentes detentores do saber. Neste processo de globalização e desterritorialização a educação foi percebida como a fonte transformadora do ser humano e de repente se coloca o professor em um papel de mediador do processo de ensino e aprendizagem e para tanto se faz necessário dar a este docente uma contínua formação. Assim, o professor independente da rede pública ou privada e ainda do local de sua formação precisa 11 Didática Universidade Santa Cecília - Educação aDistância renovar seu olhar e se libertar de ideais de uma educação perfeita, de alunos perfeitos e de uma sala homogênea. Todos nós enquanto seres humanos e docentes estamos em constante aprendizagem e construção de nossos valores morais e éticos. Ser um professor na atualidade requer assumir uma profissão que está em constante ressignificação. Pois a sociedade passa por profundas mudanças em seus valores mais profundos que repercutem no comportamento de todos nós e no esti lo de vida, de moradia e de relacionamento gerando um impacto enorme na realidade escolar e principalmente na prática pedagógica do professor, na sua relação com os alunos e consequentemente no processo de ensino e aprendizagem. Basta pensar e saberemos que é preciso atualizar a instituição escolar, a realidade do ofício de professor é um sistema complexo para ser explicado aos leigos por suas incertezas e impasses de diversidades. Ter somente experiência docente e deter a informação/conhecimento não é mais suficiente, por isso, podemos afirmar que o professor está em constante processo de ensino aprendizagem também. Este docente aprende sobre e com seus alunos as diferentes técnicas, didáticas, posturas, e reavalia seu método de ensino e a motivação que transmite aos seus alunos, para que sejam ativos e não simplesmente repetidores de informação. Com a supremacia das tecnologias de informação e comunicação o educando, todos os dias podemos ter acesso a novidades, notícias em tempo real, seja da TV ou da Internet, e a escola faz o quê? A escola precisa estar atenta e acompanhar estes novos acontecimentos, com a finalidade de contextualizar a realidade escolar com a realidade vivenciada pelos educandos fora dali, em suas casas, na rua, tornando a educação mais próxima e condizente com o seu dia-a-dia. O ato de ensinar e aprender envolve criatividade, planejamento e diálogo. 12 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. DIMENSÃO POLÍTICO SOCIAL: TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO BRASIL A dimensão político social envolvida no processo de ensino e aprendizagem estará pautada na legislação educacional vigente e no contexto ao qual a escola está inserida. Considerando esta realidade o professor fará uso de alguma tendência pedagógica em suas aulas, o que facilitará seu trabalho e o embasará frente a estudiosos e defensores de diferentes possibilidades para a sua prática pedagógica. A seguir estão as tendências pedagógicas resumidas segundo o prof. José Carlos Libâneo (1994): Na Pedagogia Tradicional, a didática é uma disciplina normativa, um conjunto de princípios e regras que regulam o ensino. A atividade de ensinar é centrada no professor que expõe e interpreta o conteúdo. O meio principal utilizado é a exposição oral. É importante que o aluno preste atenção, porque ouvindo facilitará o registro do que está sendo transmitido, na memória. O aluno é, assim, um recebedor do conteúdo e sua tarefa é decorá-la. O conteúdo de ensino é tratado isoladamente, desvinculada dos alunos e dos problemas reais da sociedade e da vida. Esta pedagogia é intelectualista, já que a prática pedagógica do professor não considera a experiência dos alunos, o contexto em que estão inseridos, nem a realidade escolar. A pedagogia renovada inclui várias correntes que de certa forma estão ligadas ao movimento da Escola Nova (Escolanovismo). Nesse contexto, a Didática é entendida como direção de aprendizagem, considerando o aluno como sujeito da aprendizagem, ser ativo e curioso. O professor é visto como um facilitador no processo de busca que deve partir do aluno. A ideia é que o aluno aprende melhor o que faz por si próprio. O professor incentiva, orienta, organiza as situações de aprendizagem, adequando-as às capacidades e características individuais dos alunos. Na sala de aula, tende a ficar circulando entre grupos de alunos que trabalham de forma autônoma. 13 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O tecnicismo educacional, embora seja considerado como uma tendência pedagógica incluiu-se, em certo sentido, na pedagogia renovada, ganhando nos anos 60 autonomias, quando se constituiu especificamente como tendência, inspirada na teoria behaviorista da aprendizagem e na abordagem sistêmica do ensino. Define uma prática pedagógica controlada e dirigida pelo professor, com atividades mecânicas inseridas em uma proposta educacional rígida e passível de ser totalmente programada em detalhes (...) O que é valorizado nessa perspectiva não é o professor, mas a tecnologia; o professor é um mero especialista na aplicação de manuais e sua criatividade não é considerada. A função do aluno é reduzida a um indivíduo que reage aos estímulos de forma a corresponder às respostas esperadas pela escola, sendo que seus interesses e seu processo particular não são considerados. No final dos anos 70 e início dos anos 80, com a abertura política decorrente do final do regime militar e a grande mobilização em busca de uma educação crítica que trouxesse transformações sociais, econômicas e políticas para superação de desigualdades existentes na sociedade, destacam-se a pedagogia libertadora e a pedagogia crítico-social dos conteúdos. A pedagogia libertadora tem suas origens nos movimentos de educação popular que ocorreram no final dos anos 50 e início dos anos 60 e não tem uma proposta didática explícita. A atividade escolar é centrada na discussão de temas sociais e políticos, um ensino centrado na realidade social, no qual o professor e alunos analisam problemas e realidades locais, com seus recursos e necessidades, tendo em vista uma ação coletiva frente a esses problemas e realidades. O professor é um coordenador ou animador das atividades que se organizam sempre pela ação conjunta dele e dos alunos. Esta pedagogia tem sua base pautada nas ideias e estudos de Paulo Freire. A pedagogia crítico social surge no final dos anos 70 e início dos anos 80 e assegura a função social e política da escola mediante o trabalho com os conhecimentos sistematizados, a fim de colocar as classes populares em condições de uma efetiva participação nas lutas sociais. Entende que não basta ter como conteúdo escolar as questões sociais atuais, mas é necessário que se tenha domínio de conhecimentos, habilidades e capacidades mais amplas, para que os alunos possam interpretar suas experiências de vida e defender seus interesses de classe (BRASIL, 1997). 14 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância No link abaixo estão diferentes olhares dos mais renomados estudiosos da educação sobre a importante obra de Paulo Freire, Pedagogia do Oprimido de 1987. Não deixe de ler. https://www.cairu.br/arquivos/biblioteca/E-book_50_Olhares.pdf LIBANEO, J. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. BRASIL. Parâmetros Curriculares nacionais. Ministério da educação. Brasília: 1997. https://www.cairu.br/arquivos/biblioteca/E-book_50_Olhares.pdf 15 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. DIMENSÃO TÉCNICA: PLANEJAMENTO Segundo Libâneo (1994) o planejamento é um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social. É um ato político social e técnico, mas nunca estanque, ele deve acompanhar a evolução da criança e da escola e se propor a estar em constante mudança. O planejamento é essencial para que o professor consigo organizar sua prática pedagógica, de forma a contribuir cada vez mais para a aprendizagem significativa de seus alunos. Para Haydt (1999), “planejar é analisar uma dada realidade, refletindo sobre as condições existentes, e prever as formas alternativas de açãopara superar as dificuldades ou alcançar os objetivos desejados. Portanto, o planejamento é um processo mental que envolve análise, reflexão e previsão” (p. 45). E a escola? Será que é necessária a realização de um planejamento para os trabalhos que nela acontecem? Haydt (1999) nos responde que na educação e no ensino há vários níveis de planejamento: planejamento de um sistema educacional; planejamento geral das atividades de uma escola; planejamento de currículo; planejamento didático ou de ensino; planejamento de curso; planejamento de unidade didática ou de ensino; planejamento de aula. O planejamento de um sistema educacional é feito em âmbito nacional, estadual e municipal e consiste na definição de prioridades e metas para o aperfeiçoamento do sistema educacional, estabelecimento de formas de atuação e cálculos dos custos necessários à realização das metas. O planejamento geral das atividades da escola é o processo de tomada de decisão sobre os objetivos a serem atingidos e a previsão das ações, tanto pedagógicas como administrativas a serem executadas por toda a equipe escolar. Deve ser participativo 16 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância (professores, funcionários, pais e alunos). O resultado desse tipo de planejamento é o plano escolar ou projeto político-pedagógico. O planejamento de currículo é a previsão dos diversos componentes curriculares que serão desenvolvidos ao longo do curso, com a definição dos objetivos gerais e a previsão dos conteúdos programados de cada componente. O planejamento didático ou de ensino é a previsão das ações e procedimentos que o professor vai realizar junto a seus alunos, e a organização das atividades discentes e das experiências de aprendizagem, com o propósito de atingir os objetivos educacionais estabelecidos. Neste nos interessa, sobretudo o planejamento de aula, quando o professor especifica e operacionaliza os procedimentos diários. 17 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância PLANO DE AULA SIMPLIFICADO Para Libâneo (1994), os planos devem ser como um guia de orientação e devem apresentar: ordem sequencial progressiva: seguindo passos, de modo a obedecer uma sequência lógica; objetividade: estar de acordo com a realidade na qual a escola se insere, pois terá maior significado para os alunos; coerência: os objetivos, conteúdos, métodos e avaliação escolhidos pelo professor devem apresentar coerência que irá contribuir para o processo de ensino e aprendizagem; flexibilidade: uma vez que a relação pedagógica está sempre sujeita a situações concretas e reais, e a realidade está sempre em movimento, o planejamento pode sempre sofrer alterações de acordo com a necessidade. Professor e/ou colaboradores Você pode fazer seu plano em parceria com outros professores do mesmo ano ou não. Objetivos Os objetivos são utilizados com verbos observáveis e no infinitivo, isto é: verbos que dão sentido direto. Ex contar, montar, etc... Tema da aula Tema, assunto, conteúdo, etc.... Estratégias Como você dará aula? De que forma você vai usar os recursos, pense sempre no perfil da sua turma. Recursos – material a ser utilizado. Delinear o material necessário e de onde ele pode ser adquirido. Observação e avaliação Como avaliar? A avaliação deve ser coerente com suas observações sobre as estratégias utilizadas. 18 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. ELEMENTOS DE UM PLANEJAMENTO Dentre os elementos presentes em qualquer tipo de planejamento estão: 6.1. Objetivo É a descrição clara daquilo que se quer alcançar como resultado da atividade, ou seja, são os resultados esperados e previstos para ação educativa. Eles traduzem onde desejo como professor chegar ou alcançar com o aluno ou turma. Objetivos gerais: previstos para um determinado grau ou ciclo, numa escola ou certa área de estudo, e que serão alcançados a longo prazo. Objetivos específicos: são aqueles definidos especificamente para uma disciplina, uma unidade de ensino ou uma aula. Consistem no desdobramento ou operacionalização dos objetivos gerais. Assim, os objetivos gerais nos forneceriam as diretrizes para a ação educativa como um todo e os específicos norteiam, de forma direta, o processo de ensino e aprendizagem. 6.2. Conteúdos Segundo Libâneo (1991) conteúdos de ensino são o conjunto de conhecimentos, habilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação social, organizados pedagógica e didaticamente, tendo em vista a assimilação ativa e aplicação pelos alunos na sua vida prática. Englobam, portanto: conceitos, ideias, fatos, processos, princípios, leis científicas, regras; habilidades cognoscitivas, modos de atividade, métodos de compreensão e aplicação, hábitos de estudos, de trabalho e de convivência social; valores convicções, atitudes. São expressos nos programas oficiais, nos livros didáticos, nos planos de ensino e de aula, nas atitudes e convicções do professor, nos exercícios nos métodos e forma de organização do ensino. Qualquer que seja a linha pedagógica escolhida para a ação da escola, professores e alunos trabalham com conteúdos. Estes são o ponto de partida para as atividades a serem realizadas tanto para a aquisição de conceitos e princípios, como para a construção de procedimentos e desenvolvimento de hábitos, valores e atitudes. 19 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Os conteúdos precisam estar o mais próximo possível da realidade e incluir elementos de sua vivência nos exemplos trabalhados em sala. É preciso pensar na ação mediadora que o professor exerce ao se dispor a orientar seu aluno no caminho. Existem princípios curriculares e metodológicos para seleção de conteúdos, que permitem ao aluno compreender o conhecimento como algo produzido historicamente pela humanidade e a sua função na história desta produção. Considerar esses princípios no planejamento do ensino de algo facilita o trabalho daquele que ensina e o que aprende. São eles: - Princípio do confronto: o saber popular (senso comum) e o saber escolar (aquele conteúdo que selecionamos) devem ser confrontados para que ocorra uma reflexão pedagógica, instigando o aluno a ultrapassar o senso comum e construir pensamentos mais elaborados. - Simultaneidade dos conteúdos: conforme o aluno vai tendo acesso a um novo conteúdo, amplia seu conhecimento de forma total, e não fragmentada, de forma simultânea, espiralada, dando sentido ao que está sendo discutido/aprendido. - Provisoriedade do conhecimento: a busca pelo conhecimento não termina, quando se aprende algo novo deve ser entendido que um estágio provisório foi alcançado, para chegar até ali foi escrita uma história, uma gênese. Isso coloca o aluno na posição de sujeito histórico e entende que as coisas não estavam sempre daquela forma, é provisório. 6.3. Metodologia Metodologia é o campo em que se estuda os melhores métodos praticados em determinada área para a produção do conhecimento. No cotidiano do processo ensino aprendizagem a metodologia é uma palavra derivada de “método”, do Latim “methodus” cujo significado é “caminho ou a via para a realização de algo”. Método é o processo para se atingir um determinado fim ou para se chegar ao conhecimento. Cada área possui uma metodologia própria. A metodologia de ensino é a aplicação de diferentes métodos no processo de ensino e aprendizagem. Os principais métodos de ensino usados no Brasil são: método Tradicional (ou Conteudista), o Construtivismo (de Piaget), o Sociointeracionismo (de Vygotsky) e o método Montessoriano (de Maria Montessori). 20 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Método de ensino querdizer: caminho para se chegar ao objetivo do ensino. O método é visto em duas dimensões: a primeira como processo intelectual que analisa, reflete e critica um fenômeno estudado. A segunda dimensão é o método visto como um método operacional, que diz respeito a forma como se organizam de maneira lógica e sequencial as diversas atividades, para se chegar a um fim. Todos os atos na educação são pautados pelo planejamento. Entende-se que a técnica de ensino está relacionada sempre com a prática, ação em que o objetivo é a compreensão empregada em um processo de aprendizagem, pois as técnicas motivam o aprendizado, despertam os interesses dos alunos, incentivando-os aos estudos. As técnicas subsidiam o professor para que ele torne o ensino mais agradável, eficiente e eficaz. Para ministrar os conteúdos de sua disciplina o professor deverá utilizar o que se chama de habilidades técnicas de ensino, que proporcione maior integração no relacionamento entre professor e aluno. Já nas estratégias podemos pensar nas modificações, adequações que devem ser feitas no decorrer do processo e alteradas de acordo com a assimilação dos alunos. 6.4. Recursos Os recursos didáticos nada mais são do que as ferramentas que o professor utilizará durante todo o ano letivo e pode, muitas vezes, precisar de algumas alterações ou novos utensílios que servirão para o aprimoramento das atividades e aulas realizadas na escola. 21 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância De acordo com Souza (2007), recurso didático é todo material utilizado como auxílio no processo de ensino e aprendizagem do conteúdo proposto para ser aplicado pelo professor a seus alunos. Os recursos didáticos compreendem uma diversidade de instrumentos e métodos pedagógicos que são utilizados como suporte experimental no desenvolvimento das aulas e na organização do processo de ensino e de aprendizagem. Exemplos de alguns dos recursos didáticos: Quadro Negro, ou branco / Giz, ou canetão / Apagador; Jornais, cartazes, revistas e livros; Textos manuais; Televisão Aparelho de Som Aparelho DVD Filmes em DVD Filmadora (caso necessite realizar algumas gravações) Máquina Fotográfica Digital Computador com projetor Instrumentos didáticos conforme a disciplina (Ex: química – tubos de ensaio, biologia microscópio entre outros...) Data show, etc... Estes são alguns dos variados recursos materiais que ajudam muito na didática de acordo com o plano de ensino proposto pelo professor. O restante fica por conta da 22 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância criatividade do profissional docente, que mesmo tendo uma infinidade de recursos pode não os utilizar corretamente, atrapalhando assim o entendimento da matéria pelos alunos, ao invés de aperfeiçoá-los. Para quem não conhece, o mimeógrafo era o que tínhamos de mais moderno na reprodução das atividades. Na era da tecnologia, o docente tem que está receptivo às mudanças tecnológicas, no sentido de dispor aos educandos novos recursos tecnológicos, visando um aprendizado mais condizente com o mundo atual. Mas isso nem sempre é uma tarefa fácil devido à sobrecarga de atividades que o professor está submetido, impedindo um contato mais frequente com novos recursos didáticos. A utilização de instrumentos, resultantes das novas tecnologias, em sala de aula surge com o intuito de preencher os espaços deixados pelo ensino tradicional, a fim de favorecer aos educandos a ampliação de seus horizontes, isto é, de seus conhecimentos, fazendo dos estudantes agentes participativos do processo de aprendizagem. Não há como negar que a tecnologia vem se fazendo presente em nossa vida, facilitando nossos afazeres diários e contribuindo em muito com o nosso trabalho. Segundo pesquisas, os recursos audiovisuais são muito utilizados no âmbito educacional, porque envolvem os sentidos de captação mais fortes na aquisição de conhecimentos e de 23 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância informações (a audição e a visão). No caso dos recursos audiovisuais, se considerado sua praticidade e as diversas opções de uso, eles tornam-se um instrumento imprescindível para a realização de aulas dinamizadas (MEC, 2008). Alguns dos recursos didáticos despertam mais a atenção nas crianças do que nos adultos, a exemplo os jogos, sendo estes mais utilizados no ensino fundamental (anos iniciais) por despertar nas crianças o espírito de brincadeira, de competição. Contudo, não significa dizer que os mesmos não possam ser usados por educandos de uma faixa etária mais avançada, uma vez que o professor pode adequar para qualquer público que se deseje trabalhar. Para utilização da internet o professor deve dobrar a atenção para os endereços eletrônicos que os educandos podem visitar, devendo estabelecer previamente qual caminho deve ser percorrido. É inquestionável o fascínio que o educando sente ao está de frente a um computador sabendo que o mesmo tem o poder de “alçar voos” jamais possíveis antes. Os recursos pedagógicos são imprescindíveis para a culminância da prática pedagógica do professor porque abarca a linguagem verbal, não-verbal, formas, cores, sensações com o grande poder de transformar a aula em uma atividade prazerosa e menos rotineira onde se deixa de lado um pouco da recepção de conteúdos decorados e se parte para a síntese, abstração mediante elementos concretos e o raciocínio lógico. Ainda convém ressaltar, que mediante aos recursos didáticos, é possível que o aluno se torne mais próximo da realidade que estava distante de sua compreensão. Nenhum professor segue o mesmo método, a mesma metodologia, estratégia e objetivos durante nosso ano letivo, uma vez que estamos em constante mudança como nossos alunos. 24 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. RECURSOS DIDÁTICOS: TECNOLOGIA A didática busca nas suas reflexões sistemáticas do processo de ensino e aprendizagem entender novas formas de “fazer educação”. Diante disso, é imprescindível que educadores, desde o início da sua formação, discutam e reflitam a respeito das novas possibilidades e novos entremeios instalados nesse processo de ensino e aprendizagem. Não somente novas tecnologias, como também novas formas de se enxergar/olhar o uso destas na educação estão encontrando seus espaços nas formas, meios e recursos para se ensinar e para se aprender. Segundo Bauman (2001) a alguns anos atrás, vivíamos em um estágio sólido, onde a lógica, os conhecimentos adquiridos por uma pessoa davam suporte a resolução de problemas pelo resto da vida. Entretanto, atualmente a humanidade vive em um estágio de modernidade líquida, caracterizado pela fluidez e incerteza, em que a imprevisibilidade é a palavra de ordem. Nesse contexto de impermanência, situa-se a educação contemporânea e, mais precisamente, a escola, com seus processos, com os sujeitos que a constituem, com as relações docente-estudante-conhecimento e com as práticas docentes. É nessa perspectiva que se situa o método ativo - tido aqui como sinônimo de metodologias ativas - como uma possibilidade de deslocamento da perspectiva do docente (ensino) para o estudante (aprendizagem), ideia corroborada por Freire (2015) ao referir-se à educação como um processo que se realiza na interação entre sujeitos históricos por meio de suas palavras, ações e reflexões. Com base nessa ideia, é possível inferir que, enquanto o método tradicional prioriza a transmissão de informações e tem sua centralidade na figura do docente, no método ativo, os estudantes ocupam o centro das ações educativas e o conhecimento é construído de forma colaborativa e com autonomia. Se as informações são muitas na atualidade e se como educadores precisamoscompartilhá-las com nossos alunos, simplesmente temos, todos, de ter acesso aos meios pelos quais este “compartilhar” torna-se efetivo. No entanto, ainda encontramos muitos distantes de uma realidade verdadeiramente democrática. Vamos entender como se relacionam sujeitos e informações. Quando estas eram divulgadas em tempo e espaço longos, nós – os sujeitos – podíamos entendê-las, discuti-las e digeri-las também contando com tempo e espaço que nos fizesse compreender o mundo, seus fenômenos e as relações entre os seres em geral. Podíamos tranquilamente definir entre diferentes informações; 25 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância escolher, questionar, “aproveitar”, discernir sobre o que nos informávamos. Atualmente essas preciosidades reflexivas estão preteridas pela quantidade de informação as quais temos acesso. Somos bombardeados por quantidades inatingíveis de possibilidades de aprendizagens, mas não temos condições de pensar a respeito das mesmas. Como diz Morin citado por Alarcão (2003), sem organização do que é aprendido (informação), pelo pensamento, não se produz conhecimento. Falemos então sobre quem é o aluno na sociedade da aprendizagem. Trata-se de um aprendiz do “viver aprendendo” ou que “aprenderá a aprender”. Portanto, o aluno na sociedade da aprendizagem precisa ser afastado da pedagogia da dependência e ser inserido num fazer pedagógico autônomo. De acordo com Alarcão (2003), os professores devem estimular que seus alunos desenvolvam as seguintes competências: • possuir curiosidades intelectuais; • utilizar e recriar conhecimento; • questionar; • indagar; • ter pensamentos próprios; • autoaprendizagem; • gestão da própria vida (individual e grupal); • adaptação sem perda de identidade; • responsabilidade pelo próprio desenvolvimento (constante); • lidar com situações que fujam à rotina; • decidir e assumir responsabilidades; • resolver problemas; • trabalhar em cooperação; • aceitar os outros; • possuir horizontes temporais e geográficos alargados; • compreensão sistêmica dos acontecimentos; • comunicar e interagir; • autoconhecimento e autoestima. 26 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância E o professor na sociedade da aprendizagem? Este possui um desafio profissional amplo, mas imprescindível que é o de ajudar a desenvolver nos alunos, futuros cidadãos, a capacidade de trabalho autônomo e colaborativo, mas também o espírito crítico. Precisamos, nós os educadores, construir-nos profissionalmente com re(criações) dos nossos papéis. Precisamos mediar as construções de conhecimentos dos nossos alunos mais nos seus processos do que nas suas finalizações. Precisamos “fazer escolas” possíveis de sobreviver, viver e contribuir para uma sociedade da aprendizagem que inclua, discuta, possua discernimento, enfim que conceba o “aprender a aprender”. Segundo Reeve (2009 apud Berbel, 2011, p 28), o professor contribui para promover a autonomia do aluno em sala de aula, quando: a) Nutre os recursos motivacionais internos (interesses pessoais); b) Oferece explicações racionais para o estudo de determinado conteúdo ou para a realização de determinada atividade; c) Usa de linguagem informacional, não controladora; d) É paciente com o ritmo de aprendizagem dos alunos; e) Reconhece e aceita as expressões de sentimentos negativos dos alunos. Para tal, e em se tratando da didática nas reflexões sobre ensino e aprendizagem, faz-se necessário discutirmos novas formas de ver/olhar o mundo e, num recorte específico, ver/olhar o mundo do conhecimento atrelado às suas formas de fazer-se presente e de criar-se ou recriar-se em novas possibilidades de ações. 27 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Convém direcionarmos nossa discussão para como este conhecimento numa sociedade da aprendizagem pode ser tecido muito mais do que estabelecido. Como entendermos o conhecimento e a sua aquisição num mundo repleto de informação e exigente de aprendizagem. Por que esta discussão? Se a escola é uma instituição a qual o conhecimento sustenta, obviamente discuti-lo nos mais variados contextos é imprescindível. Especialmente no campo da didática. 7.1. Dicas de uso da tecnologia para as escolas Utilize o Youtube para postar vídeos da Escola Se sua Escola ainda não tem um canal oficial no Youtube, pode ser uma boa hora para começar, o serviço é gratuito e fácil de utilizar. Nestes canais, a Escola pode postar webinars, palestras, tutoriais sobre assuntos escolares, trabalhos dos alunos e até vídeos sobre as rotinas diárias da Escola. Os canais podem ser públicos ou privados, e a Escola decide o que disponibilizar para Pais e Alunos e o que disponibilizar para o público externo. Disponibilize materiais didáticos na web O tempo em que os alunos precisavam transcrever as anotações do quadro para os seus cadernos ficou para traz. Hoje existem muitas ferramentas para disponibilizar o conteúdo passado em sala de aula, como apostilas e apresentações, em ambientes virtuais. Uma solução é o Slide Share, o serviço permite o compartilhamento de apresentações e de e-books, em formato PDF ou em apresentações de Power Point. Criar um canal nesta rede social também é bastante simples, basta utilizar uma conta de e-mail ou do Facebook. Além da utilização pela Escola, os alunos também podem disponibilizar suas apresentações e trabalhos pelo site, onde ficarão armazenadas e disponíveis para o professor acessar quando precisar. Informe a comunidade escolar sobre as regras de utilização A utilização das redes sociais precisa ser acompanhada de monitoramento constante. Uma boa maneira de iniciar, é promovendo reuniões com professores e responsáveis pelos alunos para divulgar as políticas e regras de uso das plataformas. Importante também não deixar de incluir os alunos no processo de esclarecimento, gerando materiais específicos por faixa etária e grau de maturidade. 28 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Tenha conhecimento sobre o direito do uso de imagem Muitas pessoas podem não ficar confortáveis com sua imagem compartilhada na WEB, e está cada vez mais comuns pais solicitando explicitamente à Escola, que seus filhos não sejam fotografados. Por isso, antes de qualquer publicação, é de suma importância que a Escola tenha autorização de uso das imagens, e de forma oficial, documentada. O mesmo vale para seus professores e colaboradores. Concentre a comunicação da Escola em um só lugar Por mais variadas que sejam as opções de conteúdo nas Redes Sociais, alimentá- las e realizar o devido acompanhamento em cada uma delas, é uma tarefa extremamente árdua. Com isso, uma boa saída é concentrar a comunicação em um único canal, que atenda a todas as necessidades da Escola. Será que estamos diante de uma utopia? O ClipEscola é uma poderosa ferramenta que possibilita o envio de mensagens, documentos, vídeos e imagens de maneira ágil e segura. Desenvolvido para aproximar pais, professores e alunos, a plataforma atende a todas as necessidades de comunicação da Escola e ainda vai muito além dos recursos oferecidos pelas Redes Sociais. ALARCÃO, I. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Cortez, 2003. BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Zahar, 2001. 29 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 8. ESTRATÉGIA DIDÁTICA: PROJETOS Uma possibilidade de estratégia didática que pode ser utilizada pelo professor é o uso de projetos. A pedagogia dos projetos surge para que se norteie a práxis para a excelência e não para a simplicidade ou superficialidade na ação educativa. A organização de um projeto deve estar pautada nas respostas a seguintes questões: Qualo motivo para execução deste projeto?; Quais serão as funções dos alunos e dos professores?; e Quais objetivos se busca com o projeto? Hoje os projetos se dão como proposta de prática para a mediação do desenvolvimento das habilidades e competências. O projeto surge a partir de uma necessidade da turma ou da escola, considerando um tema que motive o aluno a estar envolvido na execução do mesmo. É um planejamento que está inserido com o contexto escolar, considera as características dos alunos e busca diferentes formas, funções para estimular a participação de todos e consequentemente promover a aprendizagem do conteúdo em questão. Porém, o que se tem visto comumente nas escolas são projetos planejados pela coordenação pedagógica ou por professores no período anterior aos primeiros contatos com seus alunos. O projeto deve ser elaborado junto com os alunos, a partir das características dos mesmos e do contexto social em que todos estão inseridos, pois assim, será mais significativo para todos. 30 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O projeto temático ou de trabalho é um processo coletivo. O “modismo” sem respaldo teórico e prático (por ser esta uma proposta recente) tem levado muitas escolas a “realizar” projetos planejados pela coordenação que distribui atividades aos professores que, por sua vez, as repassam aos alunos. O resultado disso: cartazes ou cópias de textos sem sentido de trabalho, apenas como resultado “viciado” nas apresentações da escola tradicional. Um projeto é do aluno e do professor e ambos opinam e delineiam a sua trajetória. Dessa forma os procedimentos (de anotações, de pesquisas, de confecção de mapas, tabelas etc.) estão presentes no desenvolvimento de um projeto. O professor medeia as ações procedimentais por ele planejadas e que também podem ser sugeridas pelos alunos. O projeto pode envolver também professores de outras disciplinas e outras turmas, sendo considerado então interdisciplinar, e caracterizado por um planejamento mais amplo. O conhecimento como rede de significados tem sido a concepção mais adotada recentemente pelos educadores pela sua possibilidade de rompimento com a linearidade do conhecimento transformando-o em ramificação como numa rede. A característica de dinamismo dos projetos os torna flexíveis como trajetória de nossos alunos em relação à construção do conhecimento, possibilitando-lhes tecer suas próprias redes conforme os significados dados aos seus interesses. Se participando de trabalhos com projetos os alunos lidam com procedimentos, tecendo sua própria rede de atribuição de significados aos conhecimentos, então estão diante da oportunidade de desenvolverem sua autonomia no sentido de fazer escolhas, posicionar-se, elaborar projetos pessoais, participar de projetos coletivos, governar-se etc. Essa autonomia poderá desenvolver no aluno a capacidade de, no futuro, continuar aprendendo. Conceber o ato de ensinar como ato de facilitar o aprendizado dos estudantes faz com que o professor os veja como seres ativos e responsáveis pela construção de seus conhecimentos, enquanto ele passa a ser visto pelos alunos como facilitador dessa construção, como mediador do processo de aprendizagem, e não como aquele que detém os conhecimentos a serem distribuídos 31 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O trabalho com projetos dá a possibilidade para o aluno lidar com as dificuldades no que se refere ao seu espectro de inteligências, bem como expandir a(s) sua(s) melhor(es) área(s) desse mesmo espectro no desenvolvimento de ações e procedimentos. As etapas para elaboração de um projeto são: 1. Nome: todo projeto deve ter um nome que o defina. 2. Definição do objetivo: o que será trabalhado e para quê? ou seja, o que se pretende com o desenvolvimento do projeto? 3. Fundamentos: por que queremos atingir este objetivo? qual sua importância? o que ele ajuda na resolução do problema? como se justifica seu desenvolvimento? 4. Metas (quando): para caso de situações quantificáveis, por exemplo, número de entrevistas esperadas, quantidade de turmas envolvidas, visitas previstas etc. 5. Recursos (quais): embora apenas como previsão, para atingirmos esse objetivo, que recursos humanos (palestrantes, pais de alunos, coordenadora pedagógica, professores etc.) e que recursos materiais (vídeo, gravador, material de papelaria, tinta para impressora, ônibus para excursão etc.) são necessários? Esta previsão fará com que o professor coordenador do projeto se prepare para disponibilizar todos os recursos sem correria e “atropelos” de última hora. 6. Cronograma (quando): estabelecer um cronograma com datas é importante para verificarmos os prazos que temos para alcançar o objetivo em questão. Isso faz com que nos policiemos e cobremos aquilo que ainda não foi realizado para atingir o objetivo em questão. 7. Avaliação: esta deve ocorrer com base no(s) objetivo(s) inicialmente estabelecido(s). Descrever neste item como esse(s) objetivo(s) será(ão) avaliado(s), por quem (professores, coordenador etc.) e em que situações, ou seja, a avaliação do projeto como um todo. Também descrever como será a avaliação dos alunos (também realizada por eles e com eles): o processo, o envolvimento dos alunos e/ou equipes, as aquisições etc. 32 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Dica de leitura: http://www.scielo.br/pdf/cp/n115/a09n115.pdf Autonomia e educação: a trajetória de um conceito, de Angela Maria Martins. 33 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 9. AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM A avaliação é o ponto culminante de todos os itens estudados anteriormente nesta disciplina e motivo de grandes discussões dentro da unidade escolar em todos os níveis da educação. Existem três tipos de avaliação, sendo elas: a diagnóstica, a formativa e a somativa. Na primeira, o aluno consegue enxergar em qual nível de aprendizagem está, o que permite que ele reconheça seus limites e perceba suas necessidades e avanços, assim, este tipo de avaliação pode ser considerada um instrumento diagnóstico. Já a avaliação formativa tem como objetivo dar um feedback para o professor e seu aluno em relação ao desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem, o que possibilita que tanto o professor quanto o aluno consigam corrigir falhas e esclarecer dúvidas, estimulando a continuação do trabalho a fim de alcançar seu objetivo. Por fim, a avaliação somativa tem como propósito contribuir para o registro de informações relativas ao desempenho dos alunos. Uma avaliação formativa e autêntica é essencial no processo de recolhimento de informações para a orientação, regulação e controle do processo de ensino e aprendizagem do aluno, para que possa existir uma adaptação de atividades durante a evolução ou problemas apresentados na aprendizagem, facilitando o processo de criação de novas prioridades e novas estratégias de ensino. A perspectiva de avaliação contínua deve estar presente informalmente todos os dias, em atividades, feedbacks, relação do professor e aluno, no coletivo da turma, desafios propostos, decisões tomadas entre elementos, tratando-se de uma referência fundamental no planejamento do processo de ensino e aprendizagem. Jussara Hoffmann é uma das maiores autoras da educação brasileira sobre o assunto. A concepção defendida pela autora é de uma avaliação mediadora e não punitiva como se aplica na escola básica ainda hoje. 34 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O JOGO DO CONTRÁRIO. Jussara Hoffmann. (2005) Costumo ouvir de professores que elesavaliam todos os dias, todos os momentos, continuamente. Por certo, a avaliação é inerente à ação educativa e se faz presente no cotidiano da sala de aula, ao professor perguntar, olhar os cadernos, dar orientações, corrigir uma tarefa..., contudo, ao avaliar para promover o desenvolvimento moral e intelectual dos alunos, devemos ter sistematização, propósitos específicos (objetivos - grifo meu) para alcançar uma ação mais efetiva. A prática avaliativa não deve ser uma ação improvisada ou mesmo rotineira, pois o olhar do professor pode se perder em meio à dinâmica complexa e múltipla do cotidiano escolar, observando e/ou registrando fatos ou aspectos que não são os mais significativos em termos das necessidades e interesses dos alunos. Portanto, a avaliação da aprendizagem caracteriza-se como uma ação contínua e intencional que se dá em três tempos, cada um deles de forma intencional por parte do professor: Primeiro tempo: observação do aluno em tarefas ou atividades (ex: propor exercícios aos alunos com o material dourado em matemática e sentar junto aos grupos observando o que fazem, ouvindo o que dizem...). Segundo tempo: reflexão pedagógica (ex: registrar comentários e perguntas que alunos fizeram ao jogar, refletindo então: qual o significado do que se observou? Algum aluno ainda não compreendeu o que o material representa?). 35 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Terceiro tempo: ação/mediação (ex: replanejar, propondo novas atividades ao grupo ou em pequenos grupos, novos desafios direcionados especialmente aos alunos que mais precisam). 9.1. Primeiro tempo: Tempo de observar e admirar o aluno O tempo de admiração dos alunos é o que dá conta, ao longo do processo avaliativo, da construção desse olhar. O desafio está em prestar atenção em cada um, buscando-se uma visão mais ampla possível sobre sua história e sobre seus jeitos de aprender para poder interpretá-los e compreendê-los. Algumas questões que se deve responder sobre os alunos: Quem é o aluno? O que se conhece de sua história de vida? Como é percebido no contexto familiar e escolar? Como ele próprio se refere a esses contextos e como se percebe neles? Como se deu a sua escolarização até esse momento? Quais são os seus interesses pessoais e/ou profissionais, projetos de vida, conquistas, necessidades, dificuldades? Como ele estuda na escola e fora dela? De que tempo e recursos dispõe para isso? Que apoios e orientações recebe em termos de suas atitudes e aprendizagens? O que revelam suas tarefas anteriores, testes, cadernos, material escolar, registros escolares? 36 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Essas questões são apenas as iniciais. Quando respondidas, desencadeiam outras. Perguntas que nunca terminam, que se complementam ao se observar percursos individuais de aprendizagem. O importante é perceber que o exercício de olhar o aluno individualmente, seriamente, leva o educador a estender esse olhar mais profundo para outros alunos, para todos os alunos. Mais do que reunir dados ou fatos que expliquem o seu desempenho atual, trata-se de uma reconstrução permanente de hipóteses à medida que o professor interage com o aluno e efetiva sua mediação numa cadeia de ações flexíveis e de complexidade crescente. A avaliação mediadora é permanentemente investigativa, por meio da observação, da escuta, do diálogo: acompanhamento contínuo das atividades e tarefas propostas e os reflexos dessas em termos de aprendizagens e manifestações dos alunos constitui a primeira etapa do ciclo avaliativo. Dentre os tópicos dessa observação, aponto alguns aspectos essenciais: O aluno em relação ao contexto sociocultural e à sua própria história de vida: núcleo familiar e entorno social, ciclo de vida (infância, pré-adolescência, adolescência, idade adulta), questões de gênero, de sexualidade, de etnia, de religião, vivências pessoais e profissionais, etc.; Ao cenário educativo: ambiente físico da escola e da sala de aula, relação com colegas, professores e profissionais da escola, tempos, recursos e materiais disponíveis de aprendizagem, laboratórios, bibliotecas, etc.; Ao currículo em desenvolvimento: objetivos perseguidos, temas/conteúdos desenvolvidos, metodologias de ensino, posturas pedagógicas, procedimentos avaliativos, etc.; Às questões de aprendizagem: histórico de aprendizagem na escola e em escolas anteriores, questões afetivas e de aprendizagem desde o início de seu processo de alfabetização, contextos de aprendizagem extraescolares, projetos pessoais de estudo, etc. É necessário multiplicar e entrelaçar as várias dimensões do olhar avaliativo. Não se pode fixar a observação em nenhum desses tópicos nem tampouco tomá-los como mais relevantes quando se pretende compreender o aluno e ajudá-lo a prosseguir. Eles são interdependentes e se transformam permanentemente com a própria dinâmica da aprendizagem, de modo que a menor variação didática ou de qualquer aspecto (como um detalhe da vida do estudante) pode influenciar todos os outros. 37 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 9.2. Segundo tempo: Tempo de refletir sobre as aprendizagens O tempo de reflexão é referente ao conjunto de ideias, sentimentos e possibilidades de ações futuras que afloram quando o professor para e pensa sobre como os alunos estão se manifestando em relação às tarefas e situações de aprendizagem propostas. Essa reflexão acontece todo o tempo em sala de aula: por trás de toda a ação do professor há uma “intenção” pedagógica. Mas é importante, contudo, que se faça conscientemente o “silêncio” que permite refletir. Predispor-se a momentos de pensar sobre o que se observa possibilita interpretar em termos didáticos, epistemológicos e relacionais as respostas dos alunos e suas manifestações em múltiplas linguagens, transformando as práticas avaliativas em mediadoras, direcionadas aos diferentes interesses e necessidades de cada aluno. Para tal, é necessário: Ultrapassar o “pensar como fazer atarefado” da sala de aula em direção à ação reflexiva, intencional, planejada e longitudinal, em relação a cada aluno e em relação ao fazer pedagógico; Levar mais a sério as pequenas tarefas do dia a dia da sala de aula, anotando, interpretando-as; Perceber as faltas, as dissonâncias, os obstáculos epistemológicos possíveis decorrentes das propostas pedagógicas para vir a ajustar e detalhar os rumos do planejamento; Interpretar o sentido das aprendizagens construídas nas tarefas avaliativas e situações de aprendizagem (para além de apenas corrigi-las), arquivando informações que considerar relevantes para o acompanhamento do estudante; Conversar com os alunos sobre as situações observadas e as tarefas analisadas mediando aprendizagens em construção; Reunir, de tempos em tempos, essas anotações feitas acerca dos alunos para a compreensão do conjunto e a tomada de decisões pedagógicas em relação às aprendizagens individuais e do grupo. Pode ser tarefa fácil e corriqueira corrigir exercícios, testes e cadernos de alunos, atribuindo-lhes pontos e médias finais. Contudo, muito ao contrário, não é simples nem fácil 38 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância responsabilizar-se por promover aprendizagens (no sentido amplo do termo) a partir da compreensão de percursos individuais. 9.3. Terceiro tempo: tempo de mediação, de reconstrução das práticas pedagógicas Em avaliação mediadora, interpreta-se para compreender e para cuidar que o aluno aprenda. O tempo de reflexão, assim, não é o de olhar para trás explicando o que o aluno não fez, não alcançou ou não sabe, mas o de projetar o futuro em termos de seu atendimento, tempo de prospecção: leitura de possibilidades cognitivas dosalunos, de outros temas e estratégias de ensino, de novas perguntas a fazer como desafio cognitivo. A reflexão sobre o processo percorrido por ele é a referência dos próximos passos a serem dados no sentido da continuidade da ação pedagógica. Sem essa reflexão, o fazer pedagógico é fragmentado, com base em sequência de conteúdo, em tempos de livros didáticos e outros tempos que não se ajustam aos tempos percorridos pelo aluno. Chamo atenção para a questão das múltiplas dimensões da avaliação porque a complexidade do ato avaliativo se dá por essa razão, acrescida pelo fato de o professor ser aquele que pode promover a ação mediadora. Ou seja, ele precisa estar envolvido com o aluno uma vez que ele é quem o observa, quem interpreta seus avanços ou necessidades no processo de aprendizagem e é ele também quem vai decidir sobre o que fazer (pedagogicamente) a partir do que observou. Na perspectiva da avaliação mediadora, o objetivo da interpretação das tarefas e situações de aprendizagem dos alunos é o de traduzir essa reflexão em estratégias pedagógicas, isto é, ter como objetivo a ultrapassagem da situação observada: selecionar, dentre a diversidade de aspectos observados, o mais relevante sobre o qual a atenção do professor deverá se voltar naquele momento, embasando a ação educativa favorecedora à superação individual e do grupo. Em relação aos múltiplos aspectos que se apresentam, surge a questão da relevância dos objetivos a atingir pelo aluno. A que aspecto deve se dedicar o professor e por quanto tempo sem menosprezar os demais aspectos a desenvolver? A proposta aos educadores é a de planejar situações, em todos os níveis de ensino, que envolvam os alunos em conflitos cognitivos, encorajando-os a elaborarem 39 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância cooperativamente, em duplas, trios, pequenos grupos, soluções aos problemas colocados. Quando crianças, jovens e adultos são levados a trocar pontos de vista com seus colegas e a verbalizar suas explicações, constroem compreensões muito mais ricas e abstratas, evoluindo em seu pensamento. Muitas vezes os alunos passam por nós sem nos darmos conta deles, assim como suas ideias passam frente aos nossos olhos sem pensarmos sobre elas. É preciso debruçar-se sobre as tarefas e manifestações, levando a sério todas as formas de expressão dos alunos como pontos de partida para a continuidade da ação pedagógica: Aceitando os erros como legítimos e como elementos importantes para a aprendizagem, buscando a sua lógica; Valorizando as tentativas, as incompletudes, as rasuras como ensaios da expressão; Valorizando os argumentos e os meios para chegar às soluções até mais do que as próprias soluções; Observando em separado as ideias e as formas de expressá-las; Refletindo sobre a coerência, sobre a precisão e sobre a riqueza das ideias formuladas; Relacionando respostas a perguntas diferentes sobre temas diferentes, buscando compreender o conjunto de aprendizagens; Refletindo sobre os diferentes níveis de complexidade das questões propostas em todas as situações. Segundo, Cipriano Carlos Luckesi avançou seus estudos para o aprofundamento das questões teóricas, chegando à seguinte definição de avaliação escolar: Um juízo de qualidade sobre dados relevantes para uma tomada de decisão. Portanto, segundo essa concepção, não há avaliação se ela não trouxer um diagnóstico que contribua para melhorar a aprendizagem. 40 Didática Universidade Santa Cecília - Educação a Distância LUCKESI, C. Avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo: Cortez. HOFFMANN, Jussara. Avaliação Mediadora. 2004.
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