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3 O Ensino de Ciências e Biologia em uma perspectiva crítica [Formação de professores, Documentos Nacionais, Educação Inclusiva, Aulas Práticas, 4 MICHELL PEDRUZZI MENDES ARAÚJO VIVIANA BORGES CORTE [ORGANIZADORES] O Ensino de Ciências e Biologia em uma perspectiva crítica [Formação de professores, Documentos Nacionais, Educação Inclusiva, Aulas Práticas, PIBID - Biologia, Sequências didáticas, Educação Ambiental, Jogos e Alfabetização científica] 5 Copyright © dos autores Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, transmitida ou arquivada desde que levados em conta os direitos dos autores. Michell Pedruzzi Mendes Araújo; Viviana Borges Corte (Orgs.) O ensino de ciências e biologia em uma perspectiva crítica. São Carlos: Pedro & João Editores, 2018. 289p. ISBN. 978-85-7993-486-5 1. Ensino de Ciências. 2. Ensino de Biologia. 3. Ensino em uma perspectiva crítica. 4. Educação ambiental. 5. Autores. I. Título. CDD 370 Capa: Andersen Bianchi Editores: Pedro Amaro de Moura Brito & João Rodrigo de Moura Brito Conselho de pareceristas ad hoc: Michell Pedruzzi Mendes Araújo (Multivix/ES); Viviana Borges Corte (UFES); Rogério Drago (UFES); Hiran Pinel (UFES); Silvia Tamie Matsumoto (UFES); Maressa Cristiane Malini de Lima (IFES); Sanandreia Torezani Perinni (IFES). Conselho Científico da Pedro & João Editores: Augusto Ponzio (Bari/Itália); João Wanderley Geraldi (Unicamp/Brasil); Nair F. Gurgel do Amaral (UNIR/Brasil); Maria Isabel de Moura (UFSCar/Brasil); Maria da Piedade Resende da Costa (UFSCar/Brasil); Valdemir Miotello (UFSCar/Brasil). Pedro & João Editores www.pedroejoaoeditores.com.br 13568-878 - São Carlos – SP 2018 6 SOBRE OS AUTORES Adriano Goldner Costa Possui Licenciatura Plena e Bacharelado em Ciências Biológicas e Mestrado em Biologia Vegetal, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo. É doutorando em Biologia Vegetal (PPGBV-UFES). É Professor de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do IFES- Campus Santa Teresa. Anna Paula Becigo Licencianda em Pedagogia (Faculdade Multivix Cariacica/ Faculdade São Geraldo). Estagiária de pedagogia da rede Estadual de Educação do Espírito Santo. Camila Reis dos Santos Doutoranda em Biologia Vegetal (PPGBV-UFES). Mestra em Educação (PPGE-UFES). Especialista em Educação Inclusiva pelo ISECUB. Licenciada em pedagogia pela MULTIVIX. Bióloga pela UFES. Professora de Biologia na rede Estadual do Espírito Santo. Professora de Pós-graduação (FABRA-ES). Cléber Covre Possui bacharelado e licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo e mestrado em Biodiversidade Tropical pela mesma universidade. Daniely Bárbara Bollis Rabelo Mestra em educação (PPGE-UFES). Graduada em Ciências Biológicas (Licenciada e Bacharela) pela UFES. Especialista em Perícia Criminal e Ciências Forenses (IPOG). Professora de Biologia na rede Estadual do Espírito Santo. Dirlan de Oliveira Machado Bravo Doutoranda em Educação (PPGE-UFES). Mestra em Educação (PPGE- UFES) Licenciada em Pedagogia (Faculdade São Geraldo). Professora das redes Municipais de Ensino de Cariacica e de Viana. Professora da Faculdade Multivix (Cariacica-ES). Pesquisadora do GEPEI-UFES. Edvar Junior Roncetti Coelho Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo e mestrado em Biologia Vegetal pela Universidade 7 Federal do Espírito Santo. É doutorando do Programa Pós-graduação em Biologia Vegetal da Universidade Federal do Espírito Santo. Emanuela Simoura Carvalho É Mestranda em Ciências Biológicas (Biologia Animal) e bacharela em Ciências Biológicas, ambos pela Universidade Federal do Espírito Santo. Fabiano Caprini Volponi Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. É mestrando em Biologia Vegetal (PPGBV) pela Universidade Federal do Espírito Santo. Franciane Pereira Bernardes Graduada em Ciências Biológicas e Mestre em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Geide Rosa Coelho Doutor e Mestre em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Licenciado em Física também pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professor do Centro de Educação e dos Programas de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Física da Universidade Federal do Espírito Santo. Ian de Oliveira Martins Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. É bolsista voluntário do GEMUT-UFES. Ian Drumond Duarte Possui graduação (bacharelado e licenciatura) em Ciências Biológicas, mestrado em Biologia Vegetal pelo Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal e doutorado em Biologia Vegetal pelo Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, ambos da Universidade Federal do Espírito Santo. É professor efetivo da Secretaria de Educação do Estado do Espírito Santo. Idalina Tereza de Almeida Leite Possui bacharelado em Biologia pela Universidade Federal de Viçosa, mestrado em Ciências Biológicas (Biologia Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e doutorado em Ciências Biológicas (Biologia Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Atualmente é professora associada da Universidade Federal do Espírito Santo. 8 Juliana Miranda Ferreira Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo, pós-graduação em Planejamento e Conservação Ambiental pela Escola Superior São Francisco de Assis e Mestrado em Biodiversidade Tropical pelo Centro Universitário Norte do Espírito Santo - CEUNES/UFES. Junia Freguglia Doutora e Mestra em Educação na linha Educação em Ciências - Universidade Federal de Minas Gerais. Licenciada em Ciências Biológicas - Universidade Federal de Minas Gerais. Professora adjunta do Departamento de Teorias do Ensino e Práticas Educacionais (DTEPE) do Centro de Educação (CE) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Jussimara Coelho de Souza Licencianda em Pedagogia (Faculdade Multivix Cariacica/ Faculdade São Geraldo). Estagiária de Pedagogia da Prefeitura de Vitória (ES). Lidiane Pereira da Silva Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. É Especialista em Análises Clínicas pela EMESCAM-ES. É professora da rede Estadual de Educação do Espírito Santo. Liliane Baldan Zani Possui graduação (bacharelado e licenciatura) em Ciências Biológicas, mestrado em Biologia Vegetal pelo Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal e doutorado em Biologia Vegetal pelo Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, ambos da Universidade Federal do Espírito Santo. É professora efetiva da Secretaria de Educação do Estado do Espírito Santo. Lívia Dorsch Rocha Possui graduação (bacharelado e licenciatura) em Ciências Biológicas, mestrado em Biologia Vegetal pelo Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal e doutorado em Biologia Vegetal pelo Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, ambos da Universidade Federal do Espírito Santo. Maísa Favoreto Henrique Bacharela e Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo - UFES. Técnica em Agroindústria pelo Instituto Federal do Espírito Santo. Bolsista do Programa Ciências sem Fronteiras - Austrália, sendo participante do Griffith University Study Abroad and Exchange Program - Biology Science. 9 Marcilene Borsonelli Graduada em Ciências Biológicas, bacharelado e licenciatura, pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Maria do Carmo Pimentel Batitucci Doutora em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo, Mestra em Genética e Melhoramento de Plantas pela UniversidadeFederal de Viçosa. Bacharela e Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professora permanente do Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal (UFES) e do Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas (UFES). Professora Titular da Universidade Federal do Espírito Santo. Michell Pedruzzi Mendes Araújo Doutorando em Educação (PPGE-UFES). Mestre em Educação (PPGE- UFES). É especialista em Educação Inclusiva e em Gestão Escolar pela Faculdade Afonso Cláudio. É biólogo pela Universidade Federal do Espírito Santo. Pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação e Inclusão-GEPEI-UFES. Professor de Ciências e de Biologia da rede Estadual do Espírito Santo. Professor do curso de Pedagogia da Faculdade Multivix. Mirian do Amaral Jonis Silva Mestra e doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora Adjunta do Centro de Educação da Universidade Federal do Espírito Santo. É professora do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física (PPGEnFis) e do Mestrado Profissional em Educação em Ciências e Matemática (EDUCIMAT) do Instituto Federal do Espírito Santo. Niliene Aparecida de Souza Licenciada e Bacharelada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Cursa Pós-Graduação em Mídias na Educação- UFJF. Foi bolsista do PIBID Biologia (UFES). Pamela Chaves Rosendo Napoleão Licenciada em Ciências Biológicas (Instituto Federal do Espírito Santo- IFES). Paolla Ferreira Bacharela e Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo - UFES. 10 Patricia Silveira da Silva Trazzi Mestra e Doutora em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo. Possui graduação em Ciências biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. É professora adjunta II da Universidade Federal do Espírito Santo. É professora do Programa de Pós-Graduação do Mestrado Profissional em Educação da UFES. É coordenadora de área de Ciências do PIBID Pedagogia Ciências da UFES. Silvia Tamie Matsumoto Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Maringá, mestrado em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Estadual de Londrina e doutorado em Genética pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. É professora adjunta da Universidade Federal do Espírito Santo. Valéria de Oliveira Fernandes Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Santa Úrsula, mestre em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos e doutora em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos. É docente permanente do PPGBV da Universidade Federal do Espírito Santo e do PPGBio da mesma Universidade, campus São Mateus, além de ser membro colaborador do PPGERN da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. É Professora Associada III da Universidade Federal do Espírito Santo. Vanessa Pita Barreira Burgos Doutora em Educação (PPGE-UFES). Mestra em Educação (PPGE- UFES). Especialista em Educação Inclusiva (CESAP). Especialista em Educação Profissional e Tecnológica (IFES). Licenciada em Ciências Biológicas (UFES). Pesquisadora do GEPEI-UFES. Professora e Tutora de disciplinas em cursos de graduação e pós-graduação. Professora de Ciências da Prefeitura Municipal de Vitória-ES. Viviana Borges Corte Bióloga. Mestre e Doutora pela Universidade Federal de Viçosa - UFV. Possui pós-doutorado em Educação pela University of Cape Town – UCT- África do Sul. Professora adjunta no Departamento de Ciências Biológicas na Universidade Federal do Espírito Santo – UFES. Tem experiência na educação básica e superior. Atuou como coordenadora de projetos como PIBIC Jr e PIBID BIO. Atualmente dedica-se à pesquisa na área da Educação com foco no Ensino de Biologia e divulgação científica. 11 PREFÁCIO Foi com imensa alegria que recebi em minhas mãos a obra “O ensino de Ciências e Biologia em uma Perspectiva Crítica”, pois mostra o quanto os profissionais da área estão envolvidos com a temática, trazendo à tona questionamentos relevantes para a atualidade. A abordagem dos autores para as disciplinas de Ciências e Biologia em todos os capítulos perpassa pelo olhar de um sujeito que, enquanto ser histórico, modifica e é modificado nas/pelas situações cotidianas, que se re(constrói) nas/pelas relações com o outro. Nesse sentido, ensinar/aprender Ciências e Biologia requer dinamismo, experienciação, praticidade e engajamento. Esse movimento é muito bem trabalhado em todos os capítulos do livro, a partir da análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais, dos processos investigativos sobre o PIBID e narrativas de bolsistas da Universidade Federal do Espírito Santo. Destaco os capítulos referentes à formação de professores, tão necessária para que ocorram mudanças metodológicas significativas nos espaços de aprendizagem, bem como na maneira como o profissional se apropria do conhecimento e repassa aos alunos. O saber passa a ter sabor, e esse sabor é compartilhado com os alunos. Em suma, essa obra, fruto da contribuição efetiva de profissionais engajados na produção de conhecimentos, vem anunciar uma gama de possibilidades para o ensino de Ciências e Biologia, instigando e despertando o desejo de realizar uma educação de qualidade, incluindo as pessoas com deficiência por meio de atividades que podem beneficiar os demais alunos. Por fim, é importante dizer que apesar de essa obra ser específica para o ensino de Ciências e Biologia, não há como não lê-la sem fazer um paralelo com as demais áreas do conhecimento, aproveitando a riqueza de possibilidades contida em cada capítulo. Drª. Marlinda Gomes Ferrari Pedagoga do IFES campus Colatina-ES 12 APRESENTAÇÃO O conhecimento científico constitui condição fundamental e sine qua non a qualquer indivíduo humano. Nossa existência é essencialmente biológica. A todo instante estamos imersos em uma íntima e complexa interação com os demais seres vivos e com os fenômenos ambientais que disso decorrem. Não há sequer um instante de vida, desde o nascimento até a morte de um indivíduo, que este não lide com questões biológicas (mesmo que de modo inconsciente). Portanto, compreender tais relações e fenômenos faz-se essencial à existência humana no planeta, especialmente no que tange à consciência para a tomada de decisões mais responsáveis. Todavia, apesar de toda importância, surpreende-nos a crescente desmotivação e, às vezes até rejeição, de alguns estudantes pelos conteúdos de Biologia e de Ciências. Os assuntos são considerados, em geral, pelos estudantes como difíceis, chatos e frequentemente tratados como „decoreba‟. Ora, como podem considerar assim conteúdos tão importantes e tão presentes no cotidiano real de cada um deles? Parece até que estão falando de outro assunto e não de Ciências e Biologia! Tais opiniões demonstram que o ensino de Biologia em algumas instituições pode estar na contramão do que é sugerido pelos documentos nacionais orientadores do ensino de Ciências e de Biologia, tais como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Lamentavelmente, muitos são os fatores que têm contribuído para essa grande desmotivação dos estudantes e, muitas vezes, também dos professores, em um ciclo que se retroalimenta, quanto ao ensino de Biologia. Entre eles podemos destacar a falta de investimentos na educação, a desvalorização da profissão docente e as falhas incutidas no processo de formação inicial e continuada dos futuros professores. Objetivando discutir tais assuntos e outros profundamente relevantes, apresentamos nesta coletânea quatorze capítulos ricos em experiências positivas e motivadoras que mostram opções viáveis e práticas que poderão contribuir para a reflexão acerca das práticas escolares e não escolaresde educação no ensino de Biologia. Iniciamos por questões tais como “Por que ensinar ciências?”. Já no segundo capítulo trazemos à tona as diretrizes e possibilidades de trabalho da educação ambiental a partir da análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais e seguimos por uma sequência de quatro capítulos que tratam em essência de questões pertinentes à formação de professores. 13 A partir do sétimo capítulo são apresentadas discussões acerca da mediação das atividades escolares, bem como promissoras experiências com aulas mais interativas, lúdicas e motivadoras aplicadas a diferentes tipos de público, com diferentes idades, em ambientes escolares ou não escolares. Por fim, no último capítulo é tratada a inclusão dos sujeitos com síndromes raras nas aulas de Ciências, uma questão muito atual e importante para ser abordada nesta coletânea. As experiências supracitadas mostram o quão possível pode ser a tão almejada mudança para uma perspectiva mais positiva na realidade atual do processo de ensino e aprendizagem de Biologia e, consequentemente, a transformação dos sujeitos para uma conduta ambientalmente mais sustentável e socialmente mais justa. Em suma, esperamos que essa obra possa potencializar a discussão acerca do ensino de Ciências e de Biologia no cenário brasileiro e servir como mola propulsora para a práxis docente dessas disciplinas. Desejamos a todos uma excelente leitura! Professores Michell Pedruzzi Mendes Araújo e Viviana Borges Corte 14 SUMÁRIO PREFÁCIO Marlinda Gomes Ferrari APRESENTAÇÃO 1) POR QUE ENSINAR CIÊNCIAS? INDÍCIOS DE ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA NA PERSPECTIVA DE FUTUROS PROFESSORES Emanuela Simoura Carvalho, Junia Freguglia, Marcilene Borsonelli e Paolla Ferreira 2) A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA: UM OLHAR A PARTIR DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS Jussimara Coelho de Souza, Anna Paula Becigo e Michell Pedruzzi Mendes Araújo 3) REFLEXÕES SOBRE O PIBID/BIOLOGIA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO Cléber Covre, Franciane Pereira Bernardes e Maria do Carmo Pimentel Batitucci 4) COMPREENSÕES E APRENDIZAGENS SOBRE O ENSINO DE CIÊNCIAS/BIOLOGIA: NARRATIVAS DE BOLSISTAS DO PIBID BIOLOGIA DA UFES Daniely Bárbara Bollis Rabelo e Geide Rosa Coelho 5) A PRÁTICA REFLEXIVA NO PROCESSO DE PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE: UM OLHAR A PARTIR DE TRÊS EXPERIÊNCIAS DE FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES Mirian do Amaral Jonis Silva 6) LIÇÕES DA EXPERIÊNCIA DE UMA LICENCIANDA EM UM CENTRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA AUSTRÁLIA PARA A FORMAÇÃO DOCENTE Maísa Favoreto Henrique e Patricia Silveira da Silva Trazzi 11 13 17 35 53 71 91 117 15 7) APRENDIZAGEM COLETIVA: UMA PROPOSTA DE MEDIAÇÃO DOS TRABALHOS ESCOLARES Niliene Aparecida de Souza, Viviana Borges Corte, Maria do Carmo Pimentel Batitucci e Fabiano Caprini Volponi 8) TÉCNICAS DE HISTOLOGIA VEGETAL NO ENSINO MÉDIO: PERSPECTIVAS DE APROXIMAÇÃO ENTRE A ESCOLA E A UNIVERSIDADE Camila Reis dos Santos, Viviana Borges Corte e Idalina Tereza de Almeida Leite 9) “A VIAGEM AO NÚCLEO DA CÉLULA”: UM JOGO DIDÁTICO PARA O ENSINO DE BIOLOGIA CELULAR NO ENSINO MÉDIO Ian de Oliveira Martins, Edvar Junior Roncetti Coelho, Lívia Dorsch Rocha e Silvia Tamie Matsumoto 10) MODELO CTS NO ENSINO DE CIÊNCIAS: SEGUÊNCIAS DIDÁTICAS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL Liliane Baldan Zani e Ian Drumond Duarte 11) SEQUÊNCIA DIDÁTICA APLICADA AO ENSINO DE ALGAS EM AULAS DE BIOLOGIA: TORNANDO “VISÍVEL” O “INVISÍVEL” Adriano Goldner Costa e Pamela Chaves Rosendo Napoleão 12) DESVENDANDO OS MISTÉRIOS DE UMA LAGOA PARA ALUNOS DE ENSINO FUNDAMENTAL POR MEIO DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA (LAGOA MÃE-BÁ) Valéria de Oliveira Fernandes e Lidiane Pereira da Silva 13) ENSINANDO ECOLOGIA DE MICROALGAS A PARTIR DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS PESCADORES DA LAGOA MÃE-BÁ (GUARAPARI-ANCHIETA,ES): SERÃO AGENTES DE PRESERVAÇÃO E/OU RECUPERAÇÃO? Juliana Miranda Ferreira, Lidiane Pereira da Silva e Valéria de Oliveira Fernandes 14) PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NAS AULAS DE CIÊNCIAS: NOVAS/OUTRAS POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM PARA UM JOVEM COM A SÍNDROME DE MOEBIUS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Dirlan de Oliveira Machado Bravo, Michell Pedruzzi Mendes Araújo e Vanessa Pita Barreira Burgos 137 159 177 191 211 239 257 279 16 POR QUE ENSINAR CIÊNCIAS? INDÍCIOS DE ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA NA PERSPECTIVA DE FUTUROS PROFESSORES 1 Emanuela Simoura Carvalho Junia Freguglia Marcilene Borsonelli Paolla Ferreira INTRODUÇÃO Por que ou para quê aprender Ciências? Geralmente, estudantes fazem perguntas dessa natureza aos professores quando estão diante de conteúdos que, no momento em que são apresentados nas aulas, não parecem fazer sentido para eles. Talvez a dificuldade dos estudantes em atribuir sentido ao que está sendo ensinado seja pelo próprio conteúdo ou pela forma com que ele é apresentado. Mas, acreditamos, ainda, que os motivos expostos nas respostas que são dadas aos estudantes também não lhes ajudam muito a significar aquilo que está para ser aprendido, assim como não coincidem com os objetivos descritos nos planos de ensino de professores da educação básica 2 . Essas respostas muitas vezes dizem respeito à necessidade do estudo para inserção no mundo do trabalho, ainda distante do que se espera para a vida de uma criança ou de um adolescente, ou indicam uma perspectiva propedêutica da experiência escolar - estudar o conteúdo porque “cai” na prova ou para passar de ano; para melhor compreender o conteúdo dos anos seguintes ou porque “cai” no vestibular, ou, ainda, porque faz parte do currículo. Mas, afinal, por que professores de ciências ensinam o que ensinam? Para eles, por que é importante aprender ciências? Em uma de nossas experiências como educadoras, durante uma mesa redonda promovida para professores e estudantes de ensino médio sobre ensinar e aprender em Ciências, um dos estudantes deu um interessante depoimento. Em outras palavras, ele disse ter entendido o porquê de aprender determinados conteúdos de Física, 1 Como referenciar esse capítulo: Carvalho, Emanuela Simoura; Freguglia, Junia; Borsonelli, Marcilene; Ferreira, Paolla. Por que ensinar Ciências? Indícios de alfabetização científica na perspectiva de futuros professores. In: ARAÚJO, Michell Pedruzzi Mendes, CORTE, Viviana Borges (Orgs). O Ensino de Ciências e Biologia em uma perspectiva crítica. São Carlos: Pedro & João Editores, 2018. 291p. 2 De acordo com Leontiev (1981), em qualquer atividade humana, o motivo que leva os sujeitos a realizarem ações e, assim, participarem da atividade deve coincidir com o objeto ou objetivo principal estabelecido para a atividade. De outro modo, o resultado da atividade estará comprometido. 17 aparentemente sem relação direta com situações vivenciadas por ele, depois de ter ouvido nossos argumentos sobre ensinar e aprender, respaldados nas ideias de enculturação, empoderamento e participação social, contidas na concepção de Alfabetização Científica 3 e sobre as quais falaremos mais adiante. Intrigadas com essas questões e certas de que a prática pedagógica é influenciada pelas concepções de ciência e de ensino e aprendizagem dos professores, perguntamos a licenciandos de Biologia, que ainda não têm a vivência do cotidiano da docência, o que justifica a educação científica e como promovê-la. Nossa intenção foi identificar argumentos que se aproximassem das tendências atuais para o ensino de ciências, notadamente a Alfabetização Científica, visando auxiliar a formação docente inicial e continuada. Portanto,vamos apresentar, neste texto, uma parte dessa trajetória investigativa, tecendo algumas considerações sobre concepções de ensino e aprendizagem de futuros professores de Ciências/Biologia no contexto da Alfabetização Científica. Alfabetizar cientificamente – desafio para o ensino de ciências O sistema educacional brasileiro vem mostrando dificuldades em prover a educação que atenda às necessidades formativas, tanto para alunos quanto para professores em formação inicial ou continuada. No caso das Ciências Naturais, problemas como a compreensão errada de ideias científicas pelos alunos e a persistência de ideias de senso comum; a distância entre o que é ensinado e o que é necessário entender; e a falta de percepção dos professores sobre a dificuldade de aprendizagem dos alunos (DRIVER et al., 1994; MILLAR, 2003; POZO; CRESPO, 2009) são algumas das preocupações que há algum tempo desafiam pesquisadores, gestores e professores. A isso, soma-se o pouco tempo existente para que os alunos consolidem as ideias, e a falta de ritmo de aprendizado (MILLAR, 2003). Diante dessa constatação e da nossa experiência na docência e na pesquisa, podemos dizer que o sistema educacional enfrenta desafios, em termos de seleção de conteúdos, bem como de tempos e modos de ensinar e aprender, fazendo-se necessária a expansão da compreensão sobre o tema. Nesse contexto, desde a década de 1980, a Alfabetização Científica (AC) vem sendo discutida, tanto no âmbito das pesquisas acadêmicas quanto das propostas curriculares, como o propósito da educação em ciências, visando a sua renovação. Acredita-se que os princípios que orientam a formação, nesse sentido, respondam às demandas atuais, proporcionando aos estudantes de todos os níveis 3 Em alguns parágrafos, utilizaremos AC para nos referirmos à Alfabetização Científica. 18 uma visão mais adequada da Ciência, em seus aspectos epistemológicos e na sua relação com o contexto social. Em uma revisão sobre o tema, Sasseron e Carvalho (2011) apresentam três eixos estruturantes da Alfabetização Científica que podem orientar as propostas para uma formação científica mais adequada. De acordo com as autoras, para que um sujeito seja considerado alfabetizado cientificamente, é necessário que se tenha: (i) compreensão básica de termos, conhecimentos e conceitos científicos fundamentais; (ii) compreensão da natureza das ciências e dos fatores éticos e políticos que circundam sua prática; (iii) entendimento das relações existentes entre ciência, tecnologia, sociedade e meio- ambiente. Esses eixos mostram como a AC está integrada a uma proposta de formação integral, com uma preocupação essencialmente científica, mas, também, social e política, própria das propostas que defendem a democratização do ensino e o empoderamento dos estudantes pelo acesso ao conhecimento básico e formação de pensamento crítico. Além disso, pesquisadores e teóricos da AC consideram que o ensino institucionalizado tem como objetivo promover a aprendizagem de conceitos, procedimentos e valores relativos à ciência que, de outra forma, não fariam parte do repertório de conhecimentos dos estudantes, pois não são saberes construídos no cotidiano, mas, sim, por uma comunidade específica que possui um modo próprio de produzir e comunicar novas ideias. A concepção de aprendizagem, nesse contexto, tem como pressuposto a ação do estudante na construção do conhecimento e formação do pensamento científico, em contraposição ao comportamento de ouvinte passivo de informações e respostas sobre perguntas que ele não fez. Dessa forma, entende-se que o estudante passa a compartilhar um modo próprio da ciência de “ler” o mundo, o que se pode chamar de enculturação. Ainda nessa perspectiva de aprendizagem, considera-se que o fluxo de conhecimento que ocorre entre professores e alunos é bidirecional. Com as tecnologias disponíveis hoje em dia, o conhecimento se torna algo facilmente acessível e, dessa forma, os professores acabam perdendo seu papel de centro de referência do saber (CHASSOT, 2003). Entretanto, apesar dessa facilidade de acesso ao conhecimento, é necessário que os sujeitos saibam analisar e selecionar as informações adquiridas, para que não haja distorção de significados. Portanto, no campo da prática pedagógica, a AC é vista como uma iniciação dos alunos na cultura científica, necessariamente mediada pelo professor. Para isso, de acordo com Chassot (idem) é preciso que o professor assuma um novo papel, como alguém que oriente e que tenha conhecimentos suficientes para validar uma informação, selecionar conteúdos significativos e estratégias de ensino que possibilitem a aprendizagem de procedimentos e de atitudes 19 investigativos. Todavia, essa inserção tem sido um problema enfrentado pelos educadores (ROSA; MARTINS, 2007), diante, dentre outros fatores, da persistência de concepções divergentes quando se trata de justificar o ensino das ciências na escola, ou seja, “por que, para quê e para quem” se ensina. Respaldamos o nosso argumento na revisão apresentada por Gil- Perez et al. (2001), na qual pesquisadores alertam para a incongruência entre as concepções de futuros professores e as propostas inovadoras de ensino ciências, e atribuem tal distanciamento ao modo como estudantes da licenciatura aprendem os conteúdos científicos na universidade. De acordo com os autores, a persistência de um modelo de ensino baseado na transmissão unilateral, pelo professor, de conhecimentos previamente elaborados, sem dar oportunidade ao estudante de vivenciar o trabalho de produção desse conhecimento, pode influenciar na forma com que ele concebe a ciência e os processos de ensino e aprendizagem, prevalecendo, muitas vezes, as ideias de senso comum. Nesse sentido, os autores defendem que as estratégias pedagógicas dos professores são definidas, entre outros fatores, pelas concepções epistemológicas construídas ao longo da experiência escolar, inclusive no ensino superior, e que estas se tornam obstáculos para a necessária renovação no ensino de ciências. Diante disso, pareceu-nos oportuno investigar como estudantes da licenciatura compreendem a Ciência e como entendem que ela deve ser ensinada. Sabe-se que as mudanças que possam trazer a promoção de uma educação científica de qualidade dependem de vários fatores de ordem econômica, política e social, entretanto, no espaço deste texto, discutiremos a aproximação entre as concepções docentes e as tendências atuais para o ensino das Ciências Naturais, entendendo que esta é uma questão importante para a investigação e para propostas de intervenção no âmbito das práticas de formação de professores. Por que ou para quê ensinar Ciências? – a perspectiva de futuros professores Entendemos que a resposta à pergunta “Por que ensinar Ciências?” poderia nos dizer sobre as concepções epistemológicas e de práticas pedagógicas dos futuros professores e que as reflexões oriundas desta investigação podem ser úteis para a formação docente. Por isso, propusemos essa questão a estudantes do sexto período do curso de Ciências Biológicas de uma universidade pública brasileira, durante a realização da disciplina Didática, ministrada por uma professora do quadro efetivo da instituição, também pesquisadora da área de educação em ciências e uma das autoras deste texto. As demais autoras foram alunas da disciplina e também participaram como sujeitos da investigação. Além das três alunas/autoras, outros nove 20 alunos tiveram suas respostas consideradas para análise. O objetivo da investigação foi identificar indícios de Alfabetização Científica na perspectiva de ensino e aprendizagem em ciências apresentada pelos estudantes. Essa atividade tem sido realizada pela professora ao longo dos cinco anos em que ela atua como docente em Didática e os resultados obtidos foram semelhantes aos dosoutros semestres. Por uma questão de espaço e pertinência, somente as respostas desta turma serão comentadas neste trabalho. A partir das respostas dos doze alunos que participaram da atividade, realizamos a análise com intuito de encontrar argumentos para o ensino de ciências que se aproximassem daqueles apresentados por Millar (2003) em seu artigo “Um currículo de ciências voltado para a compreensão por todos”. Nesse texto, o autor discute três aspectos de uma compreensão adequada da ciência: (i) compreensão do conteúdo de ciências; (ii) compreensão dos métodos de investigação utilizados na ciência; e (iii) compreensão da ciência enquanto atividade social. Consideramos que os aspectos discutidos por Millar se aproximam dos eixos estruturantes elencados por Sasseron e Carvalho (2011) e, por isso, os argumentos para ensinar ciência que ele apresenta, inseridos nesses eixos, nos são úteis como indícios de Alfabetização Científica. Além disso, o próprio autor aborda a AC como pressuposto para as reflexões que ele traz sobre “para quê ensinar ciências”, o que nos coloca em acordo com o mesmo referencial. Para uma melhor compreensão da análise das respostas dos estudantes é necessária uma abordagem mais detalhada sobre o que é descrito por Millar em cada argumento. Antes disso, é importante salientar que Millar, em seu texto, faz uma revisão dos argumentos para o ensino de ciências apresentados por outros pesquisadores, a partir de trabalhos de investigação junto a professores e estudantes. Tendo em vista esses argumentos, o autor tece críticas e reflexões a fim de elaborar critérios mais coerentes para a construção de um currículo de ciências para todos. Desse modo, o autor destaca cinco argumentos comuns, já desconsiderando o primeiro – argumento econômico – como possível justificativa para o ensino de ciências. De acordo Millar, esse argumento indica a “necessidade de um contínuo fornecimento de especialistas em ciências para manter e desenvolver a infraestrutura tecnológica” (MILLAR, 2003, p.79), o que justificaria um currículo apenas para alguns estudantes, contradizendo a proposta de uma educação científica para todos ou da Alfabetização Científica como o propósito do ensino das ciências naturais. Os demais argumentos são considerados pertinentes, por Millar, sendo eles: O argumento da utilidade: O argumento da utilidade apresentado pelos pesquisadores mencionados por Millar indica, de modo aqui simplificado, que o conhecimento de conceitos científicos é necessário 21 para lidar com aspectos práticos da vida cotidiana. Porém, Millar critica esta visão afirmando que o fato de simplesmente conhecer conceitos não habilita as pessoas a utilizarem melhor seus aparatos tecnológicos ou solucionar questões simples do dia a dia como, por exemplo, melhorar o aquecimento da casa ou guiar um carro de forma segura. Para ele, as decisões pessoais e cotidianas dependem de escolhas não necessariamente guiadas pelo conhecimento científico, mas, também, por questões sociais ou estéticas, por exemplo. Por isso, o autor defende que alfabetizar cientificamente depende da seleção, pelos professores, de conteúdos significativos, aplicados diretamente em situações concretas, em detrimento de uma abordagem que vise à definição de conceitos puramente. O argumento democrático: Uma ideia comum sobre o porquê deve- se ensinar ciências refere-se à necessidade de o conhecimento científico fazer parte do repertório de conhecimentos dos sujeitos, como forma de garantir uma maior participação nas discussões e decisões sobre temas relacionados à ciência, na sociedade. Embora Millar (2003, p.81) apoie esse argumento, ele o complementa dizendo que é preciso “dar prioridade curricular a conhecimentos fundamentais a partir dos quais o conhecimento mais detalhado necessário para fundamentar questões particulares pode ser construído, se e quando for necessário”, pois não é possível que se tenha todo o conhecimento indispensável para a tomada de um posicionamento diante das questões que envolvem ciência e sociedade. O argumento cultural e social: Millar considera que, para além da ideia de ciência como parte da cultura humana, como afirmam outros pesquisadores, é preciso compreendê-la como definidora da nossa cultura. Assim, o autor provoca reflexões sobre os conteúdos – menos como conhecimentos úteis e ilustrações do método científico e mais, em uma visão contemporânea, como marcas culturais. Nesse sentido, o argumento social está relacionado ao argumento cultural, pois a compreensão da ligação entre a ciência e a cultura geral, por parte da sociedade, é uma aspecto importante de uma educação científica que tenha como objetivo promover a formação de todos os cidadãos. Millar sintetiza a sua proposta relacionando os argumentos a uma proposta curricular. Assim, para ele, os argumentos democrático, cultural/social e da utilidade apontam para uma ênfase mais prática e tecnológica na abordagem dos conteúdos, com a seleção de ideias/conceitos fundamentais e modelos poderosos a partir dos quais os demais conteúdos possam ser compreendidos pelos alunos quando necessário. Além disso, é preciso, segundo o autor, que os estudantes se apropriem do modo como o conhecimento científico é produzido, não para reproduzi-lo, mas para entendê-lo como empreendimento social passível de falhas e formulado coletivamente. 22 Tomando como referência os argumentos de Millar para a análise, podemos dizer que as respostas dos licenciandos à pergunta inicial mostraram poucos indícios de concepções de ensino de ciências adequadas à ideia de Alfabetização Científica. A análise evidenciou argumentos mais próximos daqueles criticados por Millar e menos do que poderíamos chamar de uma visão contemporânea para a educação científica, tendo em vista as ponderações que esse autor apresenta sobre os objetivos para o ensino de Ciências na perspectiva da AC. Desse modo, categorizamos as respostas, cientes das limitações que estas apresentam em relação ao referencial que adotamos, o que será discutido na sequência do texto. No quadro a seguir, estão elencadas as respostas completas e as respectivas categorias/argumentos. Quadro 1 – Categorização dos argumentos apresentados pelos licenciandos para o ensino das ciências. Estudante Resposta Argumento 1 Eu acredito que a disciplina de Ciências/Biologia tem que ser ensinada para proporcionar esse tipo de experiência para as pessoas, para que todos possam conhecer e entender sobre os demais seres com que compartilhamos o planeta e também a nós mesmos. Cultural 2 A biologia precisa ser ensinada porque ela nos permite entender como funciona a complexidade da vida e todos os mecanismos e interações para manter um organismo vivo. Uma vez conhecendo a existência de uma espécie, por exemplo, é possível preservá-la. Uma vez conhecendo que determinado microrganismo causa uma doença, então é possível combatê-lo. Em resumo, a biologia permite que nós entendamos sobre a nós mesmos e todo mundo a nossa volta. Cultural Utilidade 3 Eu acredito que o ensino de ciências proporciona sentido às coisas, proporciona ferramentas para o estudo da natureza que é a base de tudo e que estamos envolvidos. A natureza nos cerca, portanto, sua organização traz o sentido da vida, os seres vivos, a natureza em si. Enfim, estudar a vida é importante porque é complexa e tem que ser feita de forma organizada para compreendermos melhor e pode aplicar os conhecimentos. Cultural Utilidade 4 Penso que qualquer conteúdo de diferentes disciplinas ensinadas em escolas deveria ter um direcionamento social, cultural e para a rotina dos alunos. Ciências/Biologia assumem um papel fundamental no conhecimento dos alunos, no que se refere à participação na sociedade em questões que afetem os indivíduos de algum modo, e o bem estar. Claro que não são todos os conteúdos dessa área que se encaixam no que foi dito anteriormente.Democrático 5 A Biologia está em todo canto, qualquer metro quadrado é um laboratório de aula prática. Nós lidamos com aspectos biológicos a todo momento, a ecologia, a microbiologia, a genética, por exemplo, que ajudam com questões diárias, como a questão do efeito estufa, as doenças causadas por Utilidade 23 bactérias e até mesmo a probabilidade de um bebê nascer com olhos verdes ou castanhos. 6 Hoje, ciência está muito relacionada aos impactos ambientais bem como conservação da biodiversidade. Em razão disso, o ensino é um método para ampliarmos a preservação e minimizarmos impactos que a Terra sofre. O ensino de ciências promove conscientização, preservação e conhecimento, claro para melhorar inúmeros fatores atuais e futuros. Utilidade 7 Ensinar Ciências/Biologia é necessário para o conhecimento da vida, do mundo em que vivemos. Temos a História e Geografia para nos ensinar o tempo e o espaço, já a Biologia nos ensina a ter o relacionamento com vida/ambiente. Cultural 8 Porque não há nada mais surpreendente do que transmitir um conhecimento de nós mesmos e todos os seres vivos que nos cercam. A ciência está sempre mudando, assim como nós, ou seja, há muitas coisas ainda para serem descobertas e isso só ocorre se alguém buscar o conhecimento. Portanto, ensinar Ciências/Biologia é uma forma de estimular a busca pelo saber. Cultural 9 Ciências e Biologia envolvem tudo o que está ao nosso redor, e o conhecimento acerca do ambiente em que vivemos permite que possamos cuidar melhor dele. Utilidade 10 Acho muito importante o ensino da biologia que é uma ciência fundamental para compreensão e entendimento de vários aspectos que englobam toda a vida, além de ajudar na conscientização da preservação da biodiversidade. Cultural Utilidade 11 É muito importante ensinar biologia, pois, além de ser fascinante, aborda temas importantes como: meio ambiente, impacto ambiental, corpo humano, doenças e gravidez. E todo aluno ao sair do ensino médio deve saber o básico desses temas para compreender o que acontece ao seu redor. Cultural 12 Para que os outros possam descobrir outros mundos e para modificá-los através da tecnologia. Utilidade Notamos que praticamente todos os alunos utilizaram, em suas respostas, o argumento cultural e/ou o argumento de utilidade para justificar o ensino de Ciências/Biologia. Assim, os estudantes consideram que a importância de adquirir conhecimentos científicos está no fato de todo cidadão poder compreender o mundo natural e a sua própria existência e, deste grupo, muitos se referem à aplicação dos conhecimentos em experiências do cotidiano, visando à prevenção de doenças, à minimização de impactos ambientais e, principalmente, preservação do meio ambiente. Nesse sentido, o conhecimento científico seria a base sobre a qual se sustentariam ações mais comprometidas com a vida em todas as suas manifestações, com o bem estar das pessoas e com a qualidade ambiental. Em síntese, os futuros professores parecem considerar que a ciência é a matriz, ou para alguns a única fonte, com a qual devemos compreender a vida e solucionar problemas. 24 Os enunciados destacados a seguir nos levam a inferir uma imagem descontextualizada, dogmática e socialmente neutra da ciência, assim como mostram Gil Perez et al. (2001), na revisão em que apresentam resultados de investigações realizadas com professores, nas décadas de 1970, 1980 e 1990, por diversos pesquisadores em todo o mundo. Desse modo, vemos a persistência de concepções sobre a produção e a comunicação do conhecimento científico, que há tempos são criticadas por sustentarem um modo de ensinar que não proporciona uma aprendizagem significativa da ciência: “Eu acredito que a disciplina de Ciências/Biologia tem que ser ensinada para proporcionar esse tipo de experiência para as pessoas, para que todos possam conhecer e entender sobre os demais seres com quem compartilhamos o planeta e também a nós mesmos.” (Estudante 1) “Ensinar Ciências/Biologia é necessário para o conhecimento da vida, do mundo em que vivemos. Temos a história e Geografia para nos ensinar o tempo e o espaço, já a Biologia nos ensina a ter o relacionamento com vida/ambiente.” (Estudante 7) No que diz respeito à compreensão das ciências como parte da matriz cultural e da relevância do seu aprendizado para lidar com os fenômenos naturais e culturais que nos cercam, concordamos que os argumentos apresentados pelos licenciandos se aproximam daquele anunciado por Millar. Entretanto, podemos também inferir que esses estudantes dão ênfase à transmissão de informações, evidenciando uma maior preocupação com a aprendizagem dos conteúdos/conceitos do que com uma discussão sobre outros aspectos da AC, especialmente a compreensão do trabalho científico, o que complementaria o argumento cultural/social. Portanto, para afirmarmos que há indícios de AC nas concepções dos estudantes, seria necessário aprofundar a investigação, buscando no discurso dos universitários algo que nos levasse a inferir uma concepção mais ampliada de educação científica a partir do argumento cultural, que incluísse aspectos éticos, políticos e sociais relacionados à aprendizagem de ciências por todos. O discurso dos licenciandos também sugere que os conceitos, uma vez aprendidos, podem ser úteis para aplicação direta em situações do cotidiano, como nos enunciados a seguir: “(...) Uma vez conhecendo a existência de uma espécie, por exemplo, é possível preservá-la. Uma vez conhecendo que determinado microrganismo causa uma doença, então é possível combatê-lo. Em resumo, a biologia permite que nós entendamos sobre a nós mesmos e todo mundo a nossa volta.” (Estudante 2) 25 “Ciências e Biologia envolvem tudo o que está ao nosso redor, e o conhecimento acerca do ambiente em que vivemos permite que possamos cuidar melhor dele.” (Estudante 9) Essa é uma concepção que se aproxima dos objetivos estabelecidos para o ensino de ciências encontrada nas propostas curriculares das décadas de 1950 e 1960, tal como descrevem Krasilchik e Marandino (2002) quando apresentam o histórico das tendências para o ensino de ciências. Nessa perspectiva, aprender significa absorver informações e ser capaz de transformá-las, se for o caso, em algo útil, mesmo que tal utilização não tenha sido explorada nos estudos dos temas. Para Millar, não é possível a aplicação direta do conhecimento científico em todas as situações cotidianas, o que torna esse argumento de utilidade frágil. Para tornar mais clara a sua ideia, Millar (2003, p.79) argumenta que “[...] a maioria das peças de equipamento técnico pode ser usada com pouca compreensão de como elas funcionam e o avanço técnico tende a fazer tal compreensão gradualmente menos (ao invés de mais) necessária.” Desta forma, o autor dá um exemplo de como as decisões práticas do cotidiano podem ser realizadas facilmente sem que seja necessário o conhecimento teórico. Ademais, o autor destaca a escolha do senso comum para tais situações em detrimento do conhecimento científico. Portanto, para ele, não é exatamente a transformação da teoria em prática que torna necessária a aquisição de conhecimento científico, mas a noção de utilidade que “aponta para um currículo de ciências com uma ênfase mais forte em um modo de conhecer mais tecnológico sobre os fenômenos, em conhecimento mais aplicável imediatamente do que em princípios abstratos mais gerais” (MILLAR, 2003, p.80). Em contraposição aos objetivos meramente de repasse de informação, os objetivos atuais, segundo Sasseron e Carvalho (2011), e, portanto, mais coerentes com a proposta de AC, deveriam se voltar a analisar implicações sociais do desenvolvimento científico e tecnológico mais do que simplesmente “conhecer” ou “entender” determinado conceito. Ainda sobre o argumento de utilidade, este foi utilizado pelos estudantes na perspectiva de aplicaçãodo conhecimento nas ações dos aprendizes, tanto em situações particulares, quanto em outras referentes a problemas mais globais, a partir da seleção de alguns temas – preservação da biodiversidade, combate a doenças, noções gerais sobre ecologia, saúde e genética. Esses parecem ser conteúdos significativos, talvez pela relação com o cotidiano e com informações que circulam nos canais de comunicação em massa. “(...) Nós lidamos com aspectos biológicos, a todo momento, a ecologia, a microbiologia, a genética, por exemplo, que ajudam com questões diárias, como a questão do efeito estufa, as doenças causadas por bactérias e até 26 mesmo a probabilidade de um bebê nascer com olhos verdes ou castanhos”. (Estudante 5) “Hoje, ciência está muito relacionada aos impactos ambientais bem como conservação da biodiversidade. Em razão disso, o ensino é um método para ampliarmos a preservação e minimizarmos impactos que a Terra sofre. O ensino de ciências promove conscientização, preservação e conhecimento, claro para melhorar inúmeros fatores atuais e futuros”. (Estudante 6) “(...) aborda temas importantes como: meio ambiente, impacto ambiental, corpo humano, doenças e gravidez. E todo aluno ao sair do ensino médio deve saber o básico desses temas para compreender o que acontece ao seu redor”. (Estudante 11) Embora a compreensão dos métodos ou da natureza das ciências, bem como o entendimento das relações entre ciência, tecnologia e meio ambiente não apareçam como motivo ou objetivo explícito, os enunciados destacados indicam que há uma preocupação dos futuros professores em significar o conteúdo relacionando-o a aspectos da vida cotidiana. Além disso, um dos estudantes (11) faz referência ao que Millar defende como “faça menos, mas faça-o melhor” (referindo-se à seleção de ideias fundamentais), quando argumenta que os alunos do ensino médio devem aprender o básico sobre temas como impacto ambiental, saúde e gravidez. Dessa forma, a concepção de ensino dos licenciandos se aproxima de uma abordagem mais prática ou tecnológica dos conteúdos, conforme recomenda Millar. É possível que nas estratégias de ensino que venham a utilizar, nesse caso, esses professores deem mais ênfase ao debate sobre questões essenciais para a compreensão não só dos conceitos, mas, também, dos aspectos sociais, políticos e econômicos que envolvem a produção científica. Na sequência, encontramos apenas uma correspondência com o argumento democrático: “Penso que qualquer conteúdo de diferentes disciplinas ensinadas em escolas deveria ter um direcionamento social, cultural e para a rotina dos alunos. Ciências/Biologia assumem um papel fundamental no conhecimento dos alunos, no que se refere à participação na sociedade em questões que afetem os indivíduos de algum modo, e o bem estar. Claro que não são todos os conteúdos dessa área que se encaixam no que foi dito anteriormente”. (Estudante 4) Percebemos uma diferença no discurso desse estudante quando comparado aos demais. Enquanto nas respostas anteriores há uma ênfase em um modo de conhecer pautado na transmissão de informações que poderão vir a ser utilizadas, aqui se evidencia uma preocupação com as questões sociais e culturais, já no planejamento do 27 ensino, quando se propõe que o conteúdo seja “direcionado”, ou seja, que o ensino e a aprendizagem tenham como objetivo não só a aprendizagem dos conceitos/conteúdos, mas, sobretudo, visando à formação do sujeito crítico e participativo. A ideia de que o conhecimento científico é necessário para aprimorar a participação social dos sujeitos está contida na concepção de AC e, desse modo, o enunciado está de acordo com as tendências atuais para o ensino de ciências. Inclusive, a ressalva que Millar faz sobre o argumento democrático no que diz respeito à seleção de informações essenciais também está presente no discurso do estudante quando ele destaca que nem todos os conteúdos são próprios para a abordagem proposta. Embora haja esse reconhecimento, não parece que o futuro professor considere a possibilidade de abandonar certos conteúdos, mas, antes, seu discurso sugere a necessidade de selecionar a estratégia de acordo com a natureza de cada tema a ser estudado. Para finalizar, podemos dizer que identificamos indícios de Alfabetização Científica nas respostas dos estudantes que utilizaram o argumento de utilidade (5 e 6), dando ênfase a situações práticas e potencialmente significativas para os aprendizes. Para esses estudantes, a compreensão básica de termos e conceitos científicos - um dos eixos da AC propostos por Sasseron e Carvalho (2011) - ou a compreensão do conteúdo - como propõe Millar (2003) - está vinculada ao que Millar chamaria de um modo mais prático ou tecnológico de conhecer. Incluímos neste grupo o estudante 4 que utilizou o argumento democrático, estando este mais próximo do entendimento das relações entre ciência, tecnologia, sociedade e meio ambiente que a AC propõe. Não encontramos correspondência dos argumentos dos estudantes com um importante aspecto da AC referente à compreensão da ciência como atividade social ou da natureza das ciências. Isso sugere que o conhecimento científico como algo pronto que deve ser repassado aos aprendizes é uma ideia persistente que implica um modo de conhecer que urge ser revisto. CONSIDERAÇÕES FINAIS Na investigação que realizamos, exploramos os indícios de Alfabetização Científica que a análise das respostas possibilitou identificar, sob a lente crítica dos argumentos de Millar para se ensinar ciências. Encontramos indícios de AC referentes a dois dos três eixos apontados pelos autores de referência, relativos à compreensão de conceitos básicos e à relação do conhecimento científico com situações cotidianas. Percebemos que a maioria das respostas são semelhantes e indicam uma concepção de ensino e aprendizagem que vem se 28 manifestando ao longo de muitos anos nas práticas escolares, com a reprodução de estratégias didáticas pouco favoráveis à AC, focalizadas na transmissão de uma ciência dogmática, abstrata, asséptica e a- histórica, tomando as palavras de Chassot (2003). Nesse sentido, considerando que os estudantes investigados são alunos finalistas do curso de Ciências Biológicas, cabe indagar a formação científica que estamos ofertando não só na educação básica. Como assinalam Gil Perez e et al. (2001), é preciso rever nossas práticas também no âmbito das licenciaturas, pois serão modelos para os futuros professores. Portanto, sugerimos que, se quisermos promover a AC nas escolas, ela deverá ser iniciada na formação dos professores. Uma vez que a AC é pautada na necessidade de que toda e qualquer pessoa compartilhe o conhecimento produzido pela ciência, assim como o trabalho científico e a noção de sua relação com a sociedade, esses princípios devem orientar também a prática dos formadores de professores para que os futuros docentes vivenciem um modo de conhecer mais adequado às demandas atuais e sejam capazes de elaborar projetos próprios para ensinar ciências. Talvez este seja um caminho possível para a renovação da educação científica. Nesse sentido, as abordagens para o ensino de ciências que Sasseron e Carvalho (2011, p.72-73) apresentam a partir da revisão de trabalhos de outros pesquisadores da AC podem ser úteis para as intervenções realizadas no âmbito da formação de professores. Basicamente, as propostas indicam a importância de um ensino “pautado não somente na apresentação de conceitos, informações e divulgação de aspectos científico-tecnológicos”, mas que inclua, sobretudo, “atividades nas quais os alunos trabalhem ativamente” e que não estejam centradas na manipulação de materiais para resolução de problemas associados a fenômenos naturais, mas que privilegiem questionamentos e discussões que tragam à pauta as múltiplas e mútuas influências entre (...) o conhecimento [produzido]pela comunidade científica e o uso que esta comunidade e a sociedade como um todo fazem do conhecimento (SASSERON e CARVALHO, 2011, p.74). Ainda, é importante salientar que nenhuma discussão havia sido realizada no âmbito da disciplina de Didática, uma vez que a atividade foi desenvolvida no primeiro dia de aula. Entretanto, os futuros professores investigados, certamente, já haviam participado de outros debates sobre o ensino e a aprendizagem em Ciências, nas demais disciplinas pedagógicas curriculares ou em outras atividades realizadas no âmbito da formação de professores. Além disso, os licenciandos são sujeitos históricos, constituídos pelas experiências cotidianas nas diversas esferas de atividade humana das quais participam. Assim, as respostas da turma de Didática para a 29 pergunta “Por que ensinar Ciências?” revelam diferentes influências que não só esses estudantes, mas, todos nós recebemos durante nossas vidas dentro e fora do ambiente escolar. Investigar essas influências e refletir sobre elas com os futuros professores também pode ser útil tanto para o autoconhecimento quanto para o desenvolvimento de estratégias de ensino e aprendizagem para seus futuros aprendizes, a partir de uma proposta de conhecer e valorizar a diversidade de valores e saberes. REFERÊNCIAS CHASSOT, A. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, v. 22, p.89-100, 2003. DRIVER, R.; SQUIRES, A., RUSHWORTH, P.; WOOD-ROBINSON, V. Making Sense of Secondary Science: Research into Shildren´s Ideas. Routledge, 1994. GIL PÉREZ, D.; MONTORO, I.F.; ALÍS, J.C.; CACHAPUZ, A.; PRAIA, J. Para uma imagem não deformada do trabalho científico. Revista Ciência e Educação, v.7, n.2, p.125-153, 2001. KRASILCHIK, M. Prática de ensino de biologia. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004. LEONT‟EV, A. The Problem of Activity in Psychology. In: WERTSCH, J.V. The Concept of Activity in Soviet Psychology. M.E. Sharpe Inc., New York: 1981. MILLAR, R. Um currículo de ciências voltado para a compreensão por todos. Revista Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, v.5(2), p. 73-91, 2003. POZO, J. I.; CRESPO, M. A. A aprendizagem e o ensino de ciências: do conhecimento cotidiano ao conhecimento científico. Porto Alegre: Artmed, 2009. ROSA, K.; MARTINS, M. C. O que é alfabetização científica, afinal? In: XVII Simpósio Nacional do Ensino de Física, 2007, São Luís, MA. Anais do XVII Simpósio Nacional do Ensino de Física, 2007. SASSERON, L.H.; CARVALHO, A.M.P. Alfabetização Científica: uma revisão bibliográfica. Revista Investigações em Ensino de Ciências, v. 16(1), p.59-77, 2011. 30 31 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA: UM OLHAR A PARTIR DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS 1 Jussimara Coelho de Souza Anna Paula Becigo Michell Pedruzzi Mendes Araújo ABRINDO A TEMÁTICA... Percebe-se, na atual conjuntura da humanidade, que há uma intrínseca relação entre o ser humano e o meio natural que o cerca. A história mostra que o homem fez da natureza sua habitação e subsistência, no entanto, com o passar dos anos essa relação pacífica foi rompida com o surgimento das novas formas de organização social. A busca incessante pela dominação econômica e pela produção em larga escala, somada ao elevado nível de crescimento populacional, produziu uma enorme devastação dos recursos naturais. Diante disso, foi e ainda é necessário implantar políticas públicas que visam o estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo dos recursos ambientais. Assim sendo, a questão ambiental é amplamente discutida e ganha cada vez mais atenção em muitos e diferentes contextos sociais, assumindo crescente relevância nas instâncias política, acadêmica e na mídia. Nesse caminho, faz-se necessário que o 1 Como referenciar esse capítulo: SOUZA, Jussimara Coelho de; BECIGO, Anna Paula; ARAÚJO, Michell Pedruzzi Mendes. A educação ambiental na educação básica: Um olhar a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais. In: ARAÚJO, Michell Pedruzzi Mendes; CORTE, Viviana Borges (Orgs). O Ensino de Ciências e Biologia em uma perspectiva crítica. São Carlos: Pedro & João Editores, 2018. 291p. 32 tema seja abordado nas instituições escolares como forma de sensibilização das crianças e/ou adolescentes. Sob esse prisma, é de suma importância que a educação ambiental esteja presente na escola, permeando todas as relações e atividades escolares e desenvolvendo-se de forma transversal perpassando por todas as disciplinas. Essa temática é extremamente necessária para que os educandos tenham uma prática da reflexão sobre questões relacionadas à educação ambiental e possam vivenciar uma nova mentalidade com relação ao uso sustentável dos recursos oferecidos pela natureza, gerando assim um novo paradigma comportamental, oriundo do equilíbrio entre o homem e o ambiente. Nesse contexto, cabe destacar que a Educação Ambiental está garantida pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. O artigo 225 diz que cabe ao Poder Público “promover educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”. Em consonância, a Lei 9.795/99 estabelece que a Educação Ambiental deve estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, respeitando em suas diretrizes nacionais aquelas a serem complementadas discricionariamente pelos estabelecimentos de ensino (artigo 26 da LDB) com uma parte diversificada exigida pelas características regionais e locais, conforme preceitua o princípio citado no 4º, inciso VII da Lei 9.795/99, que valoriza a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais e nacionais, e o artigo 8º, incisos IV e V que incentivam a busca de alternativas curriculares e metodológicas na capacitação da área ambiental e as iniciativas e experiências locais e regionais, incluindo a produção de material educativo. Sobre a formação inicial de professores, a Lei 9.795/99 preceitua, no artigo 11, que “a dimensão ambiental deve constar nos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas”. Para tanto, a Lei faculta a inserção de disciplina específica de Educação Ambiental apenas para os “cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da Educação Ambiental, quando se fizer necessário”. A lei supracitada identifica ainda a Educação Ambiental como um processo, ou seja, uma vez iniciado prossegue 33 indefinidamente por toda a vida, aprimorando-se e incorporando novos significados sociais e científicos. Devido ao próprio dinamismo da sociedade, o despertar para a questão ambiental no processo educativo deve começar desde a infância. A determinação para que a Educação Ambiental seja integrada, contínua e permanente implica o início do seu desenvolvimento na educação infantil sem futura interrupção. Em 1998, o Ministério da Educação elaborou os PCNs 2 que trataram o tema Meio ambiente com a finalidade de discutir as temáticas ambientais a serem desenvolvidas no âmbito escolar. Meio Ambiente foi considerado Tema Transversal e, portanto, deve estar integrado a todos os níveis de ensino formal, em uma relação de transversalidade de modo que se faça presente em toda a prática educativa e, ao mesmo tempo, crie uma visão global e abrangente da questão ambiental, visualizando os aspectos físicos e histórico-sociais, assim como as articulações entre a escala local e planetária. Nesse caminho, a política Nacional de Educação Ambiental no Art. 1° nos diz: Entende-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividadeconstroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Sob esse olhar, o Art. 2° da referida lei conceitua a educação ambiental como: Uma dimensão da educação e atividade intencional da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando potencializar essa atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social e de ética ambiental (BRASIL,1999, p.2). Nesse sentido, a educação ambiental é também a ação educativa permanente pela qual a comunidade educativa tem a tomada de consciência de sua realidade global, do tipo de 2 Parâmetros Curriculares Nacionais 34 relações que os homens estabelecem entre si e com a natureza, dos problemas derivados de ditas relações e suas causas profundas. Desenvolve-se mediante uma prática que vincula o aluno com a comunidade, valores e atitudes que promovem um comportamento dirigido à transformação superadora dessa realidade, tanto em seus aspectos naturais como sociais, desenvolvendo as habilidades e atitudes necessárias para dita transformação. A Lei Federal Nº 9.795/99 institui a PNEA 3 como a legislação mais importante para a Educação Ambiental. Nela são definidos os princípios relativos à Educação Ambiental que deverão ser seguidos em todo o País. A lei estabelece que todos têm direito à Educação Ambiental. A Educação Ambiental como um “componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal” (LEI 9.795, 1999, art. 2º). Diante disso, fica evidente a necessidade de que a educação ambiental precisa ir além das instituições escolares, é preciso estar presente dentro e fora das salas de aula. É essencial a criação de projetos que visam experiências inovadoras para que, por meio de tais ações, possa ocorrer a sensibilização para a importância da preservação do meio ambiente. Nesse caminho, é de suma importância que a instituição de ensino desenvolva o tema transversal meio ambiente para que ocorra sensibilização dos alunos e, concomitantemente, uma mudança de postura. Assim, a educação ambiental deverá ser um exercício para a cidadania e, para isso, é preciso que essa consciência chegue até as escolas, e os educadores apresentem práxis inovadoras para a sensibilização dos discentes, que serão futuros agentes de transformação socioambiental. Dessa maneira, a educação ambiental tem a função de contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a tomar decisões e atuar na realidade socioambiental de modo comprometido com sua vida e também com a sociedade. É relevante a articulação de ações educativas voltadas para a preservação do meio ambiente, e a escola como espaço 3 Política Nacional de Educação Ambiental - PNEA 35 sociocultural indicado e privilegiado para a implantação dessas atividades que visam à sensibilização e à mudança de comportamentos sociais. Com base em tudo que foi supracitado, este estudo tem como objetivos principais trazer à tona o que os Parâmetros Curriculares Nacionais orientam sobre o trabalho com meio ambiente na educação básica e tecer um conjunto de reflexões das possibilidades de se instituir novas práticas didático- metodológicas a partir da análise desse documento. Essas práticas devem implicar diretamente no trabalho docente, sobretudo, na educação básica. O QUE DIZEM OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: MEIO AMBIENTE Os parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) sobre Meio Ambiente objetivam discutir as temáticas ambientais a serem desenvolvidas no ambiente escolar. Esses parâmetros foram elaborados por uma equipe de especialistas ligadas ao Ministério da Educação (MEC), e que têm como finalidade estabelecer uma referência curricular para o professor e apoiar a revisão e/ou elaboração da proposta curricular dos Estados ou das escolas integrantes dos sistemas de ensino. De acordo com BRASIL (1998), por volta do século XX surgiram os primeiros movimentos ambientalistas, voltados principalmente para a preservação de grandes áreas de ecossistemas “intocados” pelos seres humanos, focando na criação de parques e reservas. A partir da segunda guerra Mundial, principalmente após a década de 60, intensificou-se a percepção de a humanidade caminhar aceleradamente para o esgotamento ou a inviabilização de recursos indispensável à sua própria sobrevivência. Assim sendo, algo deveria ser feito para alterar as formas de ocupação do planeta estabelecidas pela cultura dominante. Esse tipo de constatação gerou movimentos em defesa do ambiente, que lutam para diminuir o acelerado ritmo de destruição dos recursos naturais ainda existentes e buscam alternativas que conciliem, na prática, a conservação da natureza com a qualidade de vida das populações que dependem dessa natureza (BRASIL, 1998). No Brasil os movimentos ambientalistas aconteceram de forma tardia. De acordo com Brasil (1998), a primeira Conferência 36 Internacional promovida pela Organização das nações Unidas (ONU) foi a de Estocolmo, em 1972. E a segunda foi no Rio de Janeiro, em 1992, a Rio/92, que estabeleceu uma série de diretrizes para um mundo ambientalmente mais saudável, incluindo metas e ações concretas. Diante necessidade de se fomentar práticas ambientais sustentáveis foi elaborada a “Agenda 21” que reúne propostas de ação para os países e os povos em geral, bem como estratégias para que essas ações possam ser cumpridas. Esse documento é fundamentado por todas as recomendações, decisões e tratados internacionais sobre o tema Meio ambiente, o que evidencia a importância atribuída por lideranças de todo o mundo para a Educação Ambiental como meio indispensável para conseguir criar e aplicar formas cada vez mais sustentáveis de interação sociedade/natureza e soluções para os problemas ambientais. Nesse contexto, fica evidente a importância de educar a população para que ajam de modo responsável e com sensibilidade, conservando o ambiente saudável no presente e para o futuro; saibam exigir e respeitar os direitos próprios e os de toda a comunidade, tanto local como internacional; e se modifiquem tanto interiormente, como pessoas, quanto nas suas relações com o ambiente. Diante disso, o enfoque do PCN no que tange ao Meio Ambiente, é enfatizar a necessidade de se implantar um trabalho voltado para a Educação Ambiental, que possa contemplar as questões da vida cotidiana do cidadão, e também debater questões polêmicas referentes à problemática ambiental na atual conjuntura. A principal função do trabalho com o tema Meio Ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso é necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e aprendizagem de procedimento (BRASIL, 1998, p.187). Contudo, para trabalhar a Educação Ambiental nas escolas, faz-se necessário entender que, mais do que informações e teorias passadas e repassadas, copiadas sem criticidade, é 37 preciso fazer com que a prática seja interligada, mostrando ao aluno que, a partir de novos hábitos, é possível transformar a sociedade e/ou o meio, conforme assegurado nos Parâmetros Curriculares Nacionais/Meio Ambiente. É necessário [...] ressaltar que, embora recomendada por todas as conferências internacionais, exigida pela Constituição e declarada como prioritária por todas asinstâncias de poder, a Educação Ambiental está longe de ser uma atividade tranquilamente aceita e desenvolvida, porque ela implica mobilização por melhorias profundas do ambiente, e nada inócuas. Ao contrário, quando bem realizada, a Educação Ambiental leva a mudanças de comportamento pessoal e a atitudes e valores de cidadania que podem ter importantes consequências sociais (BRASIL,1998, p.182). Segundo esse documento o trabalho desenvolvido nas escolas com o tema Meio- Ambiente visa contribuir para que alunos, ao final do ensino Fundamental, sejam capazes de observar e analisar fatos e situações do ponto de vista ambiental, de modo crítico, reconhecendo a necessidade e as oportunidades de atuar de modo propositivo, para garantir um meio ambiente saudável e a boa qualidade de vida; adotar posturas na escola, em casa e em sua comunidade que os levem a interações construtivas, justas e ambientalmente sustentáveis; identificar-se como parte integrante da natureza e sentir-se afetivamente ligados a ela, percebendo os processos pessoais como elementos fundamentais para uma atuação criativa, responsável e respeitosa em relação ao meio ambiente; dentre outros (BRASIL,1998). O conhecimento ambiental ajudará o aluno a compreender a realidade e a atuar sobre ela, assim como participar das atividades na escola e de ações na comunidade. Os objetivos gerais sobre o meio ambiente para o ensino fundamental, propostos pelo PCN (BRASIL, 1998), basicamente são: o conhecimento e a compreensão integrada e sistêmica do meio ambiente; a adoção de posturas em casa, na escola e na comunidade; adoção de posturas de respeito ao patrimônio cultural, étnico e cultural; a percepção dos processos pessoais como elemento fundamental para a atuação no meio ambiente; dentre outros. A proposta dos PCN no que concerne ao assunto Meio Ambiente é de uma abordagem ambiental integrada, tanto 38 entre as disciplinas como entre a sociedade seus problemas específicos. Neste sentido, percebe-se que o tema transversal lida com valores e atitudes, em que a avaliação do educador necessita merece um cuidado especial, não podendo ser como nas disciplinas tradicionais. Os conteúdos do tema transversal Meio Ambiente devem ser integrados ao currículo por meio da transversalidade, pois serão tratados nas diversas áreas do conhecimento, de modo a impregnar toda a prática educativa e, ao mesmo tempo, criar uma visão global e abrangente. A partir desses critérios, foram eleitos conteúdos suficientemente abrangentes para possibilitar aos professores trabalhá-los de acordo com a especificidade local, sem perder de vista as questões globais e a ampliação de conhecimento sobre outras realidades. A realidade de uma escola em região metropolitana, por exemplo, implica exigências diferentes daquelas de uma escola da zona rural. Da mesma forma, escolas inseridas em locais mais saudáveis, sob o ponto de vista ambiental, ou naqueles muito poluídos deverão priorizar objetivos e conteúdo que permitam abordar esses aspectos. Também a cultura, a história e os costumes irão determinar diferenças no trabalho com o tema Meio Ambiente em cada escola (BRASIL, 1997, p. 203). O documento salienta a importância de entendermos a magnitude do Meio Ambiente para o processo educativo, chamando a atenção para os seus limites, bem como discutir a questão ambiental e a Educação na organização social capitalista. A perspectiva ambiental deve remeter os alunos à reflexão sobre os problemas que afetam a sua vida, a de sua comunidade, a de seu país e a do planeta. Para que essas informações os sensibilizem e provoquem o início de um processo de mudança de comportamento, é preciso que o aprendizado seja significativo, isto é, os alunos possam estabelecer ligações entre o que aprendem e a sua realidade cotidiana, e o que já conhecem. Nesse sentido, o ensino deve ser organizado de forma a proporcionar oportunidades para que os alunos possam utilizar o conhecimento sobre o tema para compreender a sua realidade e atuar nela, por meio do exercício da participação em diferentes instâncias: nas atividades dentro da própria escola e nos 39 movimentos da comunidade. É essencial resgatar os vínculos individuais e coletivos com o espaço em que os alunos vivem para que se construam essas iniciativas, essa mobilização e envolvimento para solucionar. ALGUMAS POSSIBILIDADES DE TRABALHO NA ESCOLA COMUM A complexidade e o desafio da abordagem socioambiental fez com que a Educação Ambiental desenvolvesse uma gramática própria que requer das pessoas (principalmente de todos os professores e educadores) a reformulação ética de sua linguagem e de suas atitudes para a abordagem crítica e contextualizada, histórica, política, científica, geográfica, econômica e cultural das questões ambientais, possui uma proposta ética relacionada à visão de mundo e ao reposicionamento dos seres humanos e do atual modelo econômico; daí decorre a importância de se criarem espaços estruturados de Educação Ambiental nas escolas, como lócus de discussões dialógicas entre a comunidade escolar e outros atores sociais, em uma perspectiva de educação permanente e continuada, preocupada com a sustentabilidade socioambiental. A inclusão das diretrizes da Educação Ambiental nos diferentes níveis e modalidades de ensino deve, necessariamente, induzir o planejamento didático das políticas públicas ou privadas dos diversos estabelecimentos de ensino. Para isso, é essencial desenvolver práticas pedagógicas de intervenção com a temática da Educação Ambiental para a sensibilização dos educandos. O principal objetivo ao trabalhar com o tema transversal é tentar criar nos docentes um novo paradigma didático com relação ao meio ambiente de modo sustentável. Surgindo, assim, um novo modelo de comportamento, buscando um equilíbrio entre o homem e o ambiente. Os educadores podem contribuir para a formação de indivíduos ambientalmente responsáveis, pois se torna perceptível a necessidade de abordarmos as questões que tangem ao contexto da Educação Ambiental, embora não possamos fechar os olhos para a natureza que tem se revelado diariamente cada vez mais prejudicada pelas ações dos seres 40 humanos. Nessa linha de raciocínio, a questão ambiental tem tomado grandes proporções na atual conjuntura da sociedade pós-industrial e diante disso, nas instituições escolares emergiram discussões sobre a temática, como um processo de reconhecimento de valores, em que as novas práticas pedagógicas devem ser responsáveis na formação dos sujeitos de ação e de cidadãos conscientes do seu papel. De acordo com a Lei N° 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, Art. 9º, a Educação Ambiental deve estar presente e ser desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino público e privado, englobando: Educação básica (Educação, Infantil, Fundamental e Médio), Educação Superior, Educação Especial, Educação Profissional e Educação de Jovens e Adultos – EJA. Diante do exposto, podemos observar que a Educação Ambiental deve estar presente em todos os segmentos e níveis da educação formal de maneira que seja desenvolvida com uma prática educativa integrada, contínua e permanente, assim como afirma o Art. 10º da mesma lei: O enfoque principal do educador é o de, enfatizar a urgência de se implantar um trabalho voltado para a Educação Ambiental, que possa contemplar as questões da vida cotidiana do cidadão, e também debater questões polêmicas referentes à problemática ambienta (BRASIL, 1999, Art. 10º). A Educação Ambiental pode ser abordada de diferentes formas em sala de aula. Para tanto, o professor tem que utilizar metodologias criativas e lúdicas para obter a atenção e participação de todos os alunos, promovendo a sensibilização ambiental. Nesse sentido, as atividades práticas precisam ser desenvolvidas de forma que
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