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DIDÁTICA E AVALIAÇÃO NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoras: Angelita Maria Gambeta Stuepp Brigitte Klemz Jung CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Profa. Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Profª. Cristiane Lisandra Danna Revisão Gramatical: Profª. Iara de Oliveira Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI 372.414 S933d Stuepp, Angelita Maria Gambeta Didática e avaliação no processo de alfabetização e letramento / . Angelita Maria Gambeta Stuepp; Brigitte Klemz Jung. Indaial : Uniasselvi, 2012. 164 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-516-1 1. Didática; 2. Alfabetização. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Copyright © UNIASSELVI 2012 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: Angelita Maria Gambeta Stuepp Licenciada em Pedagogia com enfoque em Supervisão Escolar pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), especialização em Organização do Trabalho Escolar pela UFPR e Mestrado em Educação pela FURB. Atualmente trabalha como Diretora do Instituto Maria Auxiliadora, pertencente à Rede Salesiana de Escolas e com a produção de material escrito para cursos de EaD. As atividades estão voltadas para a Organização do Trabalho Escolar em todos os segmentos da Educação Básica por meio do acompanhamento do trabalho das supervisoras e coordenadoras pedagógicas, bem como da formação dos docentes que atuam na instituição. Na produção do material escrito o foco de pesquisa está centrado nas áreas de alfabetização e letramento, temática também desenvolvida na Dissertação de Mestrado. Brigitte Klemz Jung Licenciada em pedagogia pela Universidade Regional de Blumenau (FURB),especialização em Psicopedagogia pelo Instituto Catarinense de Pós Graduação (ICPG) e Mestrado em Educação pela FURB. Atualmente, trabalha com Formação Continuada, Educação Permanente e Produção escrita de materiais para a EaD. O foco destas atividades está voltado aos estudos da alfabetização e do letramento, bem como a questões referentes à linguagem e à produção textual. Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTULO 1 Sobre a Didática ..................................................................... 9 CAPÍTULO 2 Sobre Conceitos e Concepções Fundamentais de Alfabetização e Letramento para a Organização da Prática Pedagógica ............................................................................ 37 CAPÍTULO 3 Sobre as Capacidades Linguísticas a serem Desenvolvidas nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Articulando Teoria e Prática .................................................................... 83 CAPÍTULO 4 Sobre a Avaliação - um Olhar para Além de, Apenas, “Resultados” ........................................................................ 131 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): É com prazer que lhe apresentamos este caderno de estudos. Organizá-lo oportunizou-nos refletir sobre nossas práticas, bem como aprofundar os nossos conhecimentos a respeito desta importante temática: a didática e a avaliação voltadas à alfabetização e ao letramento. Assim como na maioria dos temas pertinentes à educação, encontramos muitos materiais a respeito dos assuntos aqui abordados, sendo que, para efetuar as nossas escritas, fizemos escolhas. Ao mesmo tempo, você encontrará aspectos pontuais, os quais perpassam os mais diversos pontos de vista. Um desses aspectos é a seriedade diante do ensino do nosso sistema de escrita. Poderíamos, com isso, afirmar que há a necessidade de que as nossa crianças sejam bem alfabetizadas. Para serem ‘bem’ alfabetizadas, é necessário que possam contar com pessoas engajadas nessa tarefa, ou seja, bons alfabetizadores. É sob este viés que esperamos contribuir com a ampliação da sua formação. Leia com atenção, releia se for necessário, aprofunde as suas leituras consultando as referências ao final de cada capítulo e construa as suas compreensões a respeito do conteúdo aqui trabalhado. Além disso, reflita sobre maneiras de tornar as teorias aqui apresentadas em práticas efetivas. Corroboramos os dizeres de Magda Soares, importante pesquisadora do nosso contexto nacional, quando, em um artigo de periódico escreveu sobre a necessidade de termos professores ‘com conteúdo’, que sejam capazes de ‘simplificar sem falsificar’. Diante da seriedade desta colocação, esperamos auxiliar, também, na sua aplicação. Explicando melhor: oxalá você possa atuar, dentro do seu contexto de vida, com maior propriedade, levando em consideração os sujeitos sem os quais todos estes estudos não fariam sentido, ou seja, os alunos, as crianças a nós confiadas no processo de construir conhecimentos. O conteúdo que você encontrará nas páginas que seguem foi dividido em quatro capítulos. Acompanhe a seguir como estes capítulos foram organizados. O primeiro capítulo aborda a didática. Construímos algumas tentativas de conceituação e localização histórica diante do tema. Assim, você poderá compreender um pouco da trajetória a respeito do assunto, bem como o enfoque dado ao mesmo ao longo do tempo. No segundo capítulo, recuperamos e aprofundamos aspectos referentes à alfabetização e ao letramento. Apresentamos, também, ideias práticas de intervenção diante do ensino e da aprendizagem do nosso sistema de escrita. O terceiro capítulo trata das capacidades que se almeja desenvolver juntamente aos alunos, em se tratando das séries iniciais do Ensino Fundamental. Capacidades estas que devem ser constantemente (re)visitadas, o que significa que não seguem uma ordem rígida, estão interligadas. E, para finalizar, no quarto capítulo, a abordagem está voltada à avaliação. O intuito é o de que você conheça concepções de avaliação, bem como suas características, Além disso, a apresentação de alguns instrumentos comumente utilizados para avaliar. Lembramos que o assunto está voltado às séries iniciais do Ensino Fundamental, com referências à alfabetização e ao letramento. Então, bons estudos! Aproveite! Esperamos poder contribuir para que você ‘saiba fazer’ melhor em seu contexto de atuação! As autoras. CAPÍTULO 1 Sobre a Didática A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Conceituar o que é didática e analisar as dimensões subjetivas (concepções) e objetivas (encaminhamentos práticos) no ensino e aprendizagem da escrita e da leitura. Compreender teoricamente os aspectos referentes à alfabetização e ao letramento para articular, na prática, os processos de ensino e de aprendizagem. 10 Didática e Avaliação no Processo de Alfabetização e Letramento 11 SOBRE A DIDÁTICA Capítulo 1 ConteXtualização Neste primeiro capítulo do nosso caderno de estudos, pretendemos apresentar a você alguns momentos históricos que perpassaram os estudos sobre didática. Conhecer um pouco desta trajetória visa auxiliar na compreensão dos encaminhamentos dados ao tema. O foco do nosso caderno, ao abordar didática, está voltado à alfabetização e ao letramento. Portanto, tendo isso em vista, é que, já neste primeiro momento, apresentaremos compreensões a respeito desta tríade: ensino (didática), sistema de escrita (alfabetização)e inserção social pela leitura e escrita (letramento). Anunciamos, desde já, que escolhemos algumas dentre muitas opções teóricas para fundamentar os nossos escritos. Isso não impede você de buscar outras fontes a fi m de avançar em seus conhecimentos sobre o tema. O mais importante é que, apesar da quantidade de material que circula a respeito, você possa construir suas compreensões a respeito, de maneira que estas lhe auxiliem na elaboração de práticas pedagógicas. Para tanto, destrinche a teoria aqui apresentada. Esperamos poder auxiliá-lo nesta tarefa!! Bons estudos! Primeiras Palavras sobre Didática Neste pri meiro item do nosso capítulo, pretendemos analisar concepções sobre didática. Além disso, queremos refl etir sobre alguns encaminhamentos que envolvem o ensino e a aprendizagem da escrita e da leitura. O nosso caderno aborda a didática e a avaliação referentes à alfabetização e ao letramento. Este assunto requer que resgatemos aspectos que dizem respeito às capacidades básicas para a apropriação da leitura e da escrita nas séries iniciais do Ensino Fundamental. As capacidades estão interligadas ao ‘como’ desenvolvemos atividades, dessa maneira podem ser compreendidas de tal forma: Aliadas a competências e habilidades, abrangem modos de fazer algo, processos mentais ou comportamentos como, por exemplo, saber ler e escrever, desenhar, costurar, dirigir um carro (BATISTA et.al., 2007, p.15). 12 Didática e Avaliação no Processo de Alfabetização e Letramento Vale ressaltar que, para início de conversa, discutiremos sobre a didática como a ciência do conhecimento. O que isto signifi ca? Conhecimento: Signifi ca que o objeto de estudo está diretamente relacionado à forma como o professor planeja as atividades de ensino e avalia o que os alunos aprenderam. É o professor que, munido dos conhecimentos didático-pedagógicos, planeja e, em parceria com os alunos, concretiza a prática escolar em sala de aula. Para tanto, necessita dispor de conhecimentos sobre concepções metodológicas para transformá-las em processos que possibilitem ao aluno a aprendizagem de conceitos e habilidades básicas de cada área do ensino. Quando nos referimos a concepções metodológicas no Léo anterior, fi zemo-lo em consonância com a seguinte explicação sobre este assunto: Concepções metodológicas [...] um fi ltro que orienta o modo de ver e pensar o mundo, e tem a função de organizar o conhecimento. É exatamente por fi ltrar o entendimento da realidade que a concepção pode distorcer ou bloquear uma imagem. É formada em um processo social e individual, no confronto de nossas experiências com as elaborações dos outros (ANDRADE apud STUEPP, 2010, p.4). Além da abordagem sobre concepções metodológicas, vale lembrarmos que, quando discutimos sobre a alfabetização e o letramento, é importante considerarmos, também, outra concepção: a concepção de linguagem. Conforme A linguagem é criação de sentido. (LEITE 2006, p.23). 13 SOBRE A DIDÁTICA Capítulo 1 Comumente, são três as concepções de linguagem que circulam: Caro pós-graduando! No caderno de estudos da disciplina de “Letramentos múltiplos” já foram estudadas as concepções de linguagem. A seguir iremos relembrá-las. Acompanhe-nos! a) A linguagem é a expressão do pensamento; b) A linguagem é instrumento de comunicação; a) A linguagem é uma forma de interação; Queremos, brevemente, tecer algumas refl exões sobre cada uma dessas concepções com base em Geraldi (2006): a) A linguagem é a expressão do pensamento.Se afi rmarmos que a linguagem é a expressão do pensamento, então é como se disséssemos que pessoas que encontram difi culdades de se expressar, não pensam. Sabemos que isso não é verdade. Talvez, poderíamos acrescentar a essa concepção algumas palavras as quais ampliariam a nossa compreensão, palavras do tipo: A linguagem também é a expressão do pensamento; a linguagem não é só a expressão do pensamento. b) A linguagem é instrumento de comunicação. Essa concepção é proveniente da teoria da comunicação. Nessa teoria a língua é vista como um código, o qual pretende transmitir uma mensagem a um receptor. Contudo, perde- se nessa concepção a visão de que quem faz uso da linguagem está inserido em contextos de vida que mudam constantemente, o que interfere no uso da linguagem. Por meio dessa concepção parece que a linguagem é tida como uma ferramenta pronta e acabada que está disponível quando necessário. c) A linguagem é uma forma de interação. Para explicarmos esta concepção, A linguagem é instrumento de comunicação. Essa concepção é proveniente da teoria da comunicação. 14 Didática e Avaliação no Processo de Alfabetização e Letramento apresentaremos as palavras de Geraldi (2006, p.41): Por meio da linguagem, o sujeito que fala pratica ações que não conseguiria levar a cabo, a não ser falando; com ela o falante age sobre o ouvinte, constituindo compromissos e vínculos que não preexistiam à fala. Nessa concepção os falantes se constituem pelas relações sociais. A linguagem só existe nessas relações. A partir da compreensão da concepção de linguagem e das diferentes teorias do ensino e da aprendizagem, são sistematizados os métodos de ensino da leitura e da escrita. O entendimento das teorias subsidia a defi nição dos encaminhamentos para o planejamento de atividades com os alunos. Isso tanto nas práticas de letramento quanto no ensino do código alfabético, ambos caminham em conjunto. É o entendimento de como o aluno aprende, aliado a conhecimentos provenientes dos contextos de vida, que leva os professores a planejarem suas aulas. A didática, portanto, pressupõe a escolha de concepções que norteiam as orientações gerais para o planejamento da prática pedagógica. Nesse sentido, é imprescindível ao professor o conhecimento da proposta pedagógica da rede escolar em que atua, pois neste documento são defi nidas as concepções de: sociedade, homem, aluno, conhecimento, ensino e aprendizagem, linguagem, alfabetização e letramento. A partir dessas concepções fazem-se as opções didático-pedagógicas que orientarãoa prática escolar do ensino e da aprendizagem. No próximo item apresentaremos o que é didática e alguns dos seus desdobramentos. O Que é didática? Destrinchando conceitos Neste item pretendemos apresentar o entendimento do conceito de didática e A partir da compreensão da concepção de linguagem e das diferentes teorias do ensino e da aprendizagem, são sistematiza- dos os métodos de ensino da leitu- ra e da escrita. 15 SOBRE A DIDÁTICA Capítulo 1 os estudos em torno deste tema. No dicionário encontramos a seguinte defi nição para a palavra Didática. Didática: é a arte e técnica de ensinar; metodologia do ensino (LUFT, 1991 p. 213). Quanto ao termo didático, encontramos: Didático: relativo ao ensino; próprio para ensinar; que torna efi ciente o ensino(LUFT, 1991 p. 213). Conforme os estudos de Marin (1996), a área da didática tem sofrido várias alterações ao longo da história da pesquisa acadêmica, no entanto, o que existe de consenso entre os vários pesquisadores que tem se debruçado sobre o estudo do objeto dessa área do conhecimento é que o campo da didática diz respeito ao ato de ensinar. Marin (1996, p. 18) afi rma: Ensino: A palavra ensino aparece de maneira constante em muitos dos temas. Tomemos então a palavra ensino, direcionando a Didática para ela. Emerge assim, [...] a Didática como sub-área do campo pedagógico voltada para questões e problemas referentes ao ensino, ao trabalho do professor. A Didática tem como foco de interesse os problemas de ensino e as diretrizes de como sistematizá-lo para que os alunos aprendam os conteúdos que compõem as diferentes áreas do currículo escolar. Ainda sobre o objeto de estudo da Didática é importante ter presente que esta ciência do conhecimento: [...] ao ter como preocupação central o estudo de questõese problemas de ensino, deve Didática diz respeito ao ato de ensinar. A Didática tem como foco de interesse os problemas de ensino e as diretrizes de como sistematizá-lo para que os alunos aprendam os conteúdos que compõem as diferentes áreas do currículo escolar. 16 Didática e Avaliação no Processo de Alfabetização e Letramento exercer papel mediador entre fi ns e meios, sistematizando os conhecimentos sobre ensino, propondo alternativas de ação para o trabalho docente (MARIN, 1996, p. 19). Quando a autora anteriormente apresentada faz referência à mediação entre fi ns e meios, está concebendo como fi ns aquilo que se confi gura nos objetivos educacionais a serem ensinados em cada área do conhecimento e, ao mesmo tempo, à seleção de estratégias de ensino adequadas para promover a aprendizagem. Leia com atenção: À Didática é reservada a função especial no conjunto dos estudos sobre ensino e seu praticante. A ela é reservado o papel de área de ligação entre o que se sabe e espera do ensino, e o que e como se pode, e deve, coerentemente, fazer para consegui-lo (MARIN, 1996, p. 19). No entanto, a Didática não pode ser compreendida como um conjunto de técnicas em que o professor passa a dominar para ensinar. Ela precisa ser compreendida numa visão mais ampla de educação, uma vez que as estratégias utilizadas no processo de ensino não são neutras, mas sim carregadas de valores e crenças. A partir dessas crenças emerge a concepção de sujeito. A criança pode ser vista como um sujeito ativo, que participa do processo de construção do conhecimento, ou como um sujeito passivo, que apenas recebe a informação do professor. A seguir, apresentaremos um breve histórico sobre a didática, seu surgimento e sua evolução. A Didática numa Perspectiva Histórica Quando mencionamos ‘perspectiva histórica’ no título deste item, pensamos em uma trajetória já percorrida. É sobre esta trajetória que se pautam as atuais concepções sobre a didática. Vale ressaltar que os pesquisadores, ao estudarem e decidirem pelos registros que consideram pertinentes, realizam escolhas. Portanto, o que apresentaremos a seguir tem como base os escritos de Castro (1991). Didática não pode ser compreendida como um conjunto de técnicas em que o professor passa a dominar para ensinar. Ela precisa ser com- preendida numa visão mais ampla de educação, uma vez que as estra- tégias utilizadas no processo de ensino não são neutras, mas sim carregadas de valores e crenças. 17 SOBRE A DIDÁTICA Capítulo 1 Como adjetivo, a didática é conhecida desde a Grécia Antiga. Adjetivo? Sim. Talvez você já tenha ouvido falar na poesia didática. Trata-se de um exemplo apresentado por Castro (1991), o qual, conforme a autora, é relatado na história da Educação. Antes de se tornar uma disciplina, a didática existia de maneira difusa, ou seja, “ensinava-se intuitivamente e/ou seguindo-se a prática vigente” (CASTRO, 1991, p.15). Pois então, como uma disciplina – a Didática – surgiu no século XVII. Isso graças à ação de dois educadores: Ratíquio e Comênio. Esperava-se muito da nova disciplina, visto que, de forma sistematizada, os professores teriam ‘um caminho’ direcionado na formação das posteriores gerações. Comênio escreveu a “Didática Magna”, com o intuito de que se pudesse ensinar ‘tudo a todos’. Com este material buscava-se ensinar a língua materna em espaços nos quais o latim predominava, e mais, através de ilustrações. Posteriormente, a divulgação da Didática Magna contribuiu com o movimento da Reforma protestante. Isso se deu na Europa Central. Na Europa Ocidental Católica, concomitantemente, também existiam preocupações quanto à sistematização de processos educacionais. O intuito era o de contestar o medievalismo. Nomes que se destacam deste movimento são os de Montaigne e Ramus. No século XVIII, Rousseau é o nome de destaque. Não é considerado um sistematizador da Educação, contudo, suas obras dão um novo conceito à infância. Segundo Castro (1991, p. 17): Figura 1: Foto de Rousseau Fonte:Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean- Jacques_Rousseau>. Acesso em: 25 nov. 2011. 18 Didática e Avaliação no Processo de Alfabetização e Letramento Rousseau aparece como um continuador das ideias dos didatas, mas dá um passo além de suas doutrinas quando põe em relevo a natureza da criança e transforma o método num procedimento natural, exercido sem pressa e sem livros. Pestalozzi, dentre outros, dá sequência às ideias de Rousseau. Surge uma dimensão social na problemática educacional, ou seja, busca-se o desenvolvimento harmônico dos alunos e não, apenas, a sua atenção. Vem à tona algumas sementes de ideias que precedem à Revolução Francesa, dentre as quais: não só a Educação precisava de reformas, mas sim, a sociedade como um todo. Herbart, no século XIX, situa-se no plano didático por defender a ideia de uma “Educação pela Instrução” (CASTRO, 1991, p.17). Este autor é o responsável pela criação de um método denominado ‘passos formais’. Primeiramente, estes passos eram assim constituídos: clareza, associação, sistema e método. Posteriormente, os discípulos de Herbart desdobraram os passos em: preparação, apresentação, associação, sistematização e aplicação. As ideias ‘herbartianas’ tiveram repercussão na Europa (pelos discípulos que adaptaram alguns aspectos, dentre os quais, ZillereRein) e nos Estados Unidos, sobre um teórico de nome Thorndike. A partir do que estudamos até o momento neste item, podemos inferir que, historicamente, a Didática passa a ter duas vertentes, as quais, ainda hoje (ano de 2011) ‘concorrem’ entre si (CASTRO, 1991). Observe: Vertente 1: ênfase no método – caminho que conduz do não saber ao saber, caminho descoberto pela razão humana. A atenção e a força estão na atuação do professor. Ele (o professor) que estabelece a ordem e a gradualidade do ensino. Um exemplo que podemos citar e que é referente a esta vertente é/era o uso de cartilhas para a alfabetização. O professor domina/dominava o conteúdo, o qual é/era repassado aos alunos, partindo de uma lógica do ‘simples’ para o cada vez mais ‘complexo’. Vertente 2: ênfase no sujeito – a criança possui peculiaridades no seu desenvolvimento. De acordo com estas características próprias, ela é induzida ou, talvez seduzida (CASTRO, 1991)a aprender por curiosidade ou motivação. Aqui, de acordo com esta vertente, caberia o exemplo da Pedagogia Freinet, em que os alunos são alfabetizados pelo ‘método natural’, ou seja, não existem materiais pré - elaborados que dirigem o ensino. Parte-se de vivências reais dos alunos em seus contextos. Esse conteúdo real é que se torna o foco 19 SOBRE A DIDÁTICA Capítulo 1 da aprendizagem. O professor participa e media o processo. Há espaço para a curiosidade e construção dos alunos. Atividade de Estudos: 1) Refl ita sobre o seu processo de ensino-aprendizagem desde o início da fase escolar e descreva como, a partir do seu ponto de vista, os professores se posicionavam e em que as suas práticas tinham ênfase. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ No fi nal do século XIX, um ‘movimento’ que ganhou destaque, cuja relação estava diretamente ligada a questões didáticas, foi a ESCOLA NOVA. Este movimento tratava de questões doutrinárias, ideológicas. Outros nomes atribuídos foram: Escola Renovada, Ativa, Progressista. Na base desse movimento,havia uma forte crítica a concepções consideradas antigas, tradicionais, pautadas no passado. Quando mencionamos ‘concorrem’ entre si em parágrafos anteriores,fi zemo-lo remetendo-nos à complexidade das abordagens sobre a Didática. Isso se dá devido à grande abrangência que envolve o próprio objeto da Didática, qual seja: o ensino. Castro (1991, p.23) ressalta: “o ensino só pode ser compreendido a partir de outros elementos das ciências humanas e sociais”. O caminho referente aos estudos sobre Didática continua com ladrilhos deslocados, ou seja, ainda há diversas discussões acerca da abrangência desta disciplina. Uma das possíveis dicas a serem mencionadas seria a de, conforme Castro (1991), não desprezar o que já se caminhou ‘didaticamente’ durante a História. A fi m de pontuarmos algumas questões históricas apresentadas, sugerimos que você preste muita atenção no Leo que segue: 20 Didática e Avaliação no Processo de Alfabetização e Letramento O percurso feito, do século XVII até nossos dias, indicou alguns marcos no desenvolvimento histórico da Didática. Viu-se que seu primeiro objeto, o Método, correspondendo ao modo de agir sobre o educando, recuou ao fundo do palco quando sua outra face, o próprio educando ou aprendiz, reclamou seus direitos. Um reviver metodológico, no século XIX, pôs em relevo as características de ordem e sequência, no processo didático, antes que a Escola Nova, retornando ao puerocentrismo, em sua aspiração científi ca, recorresse à psicologia da criança. [...] É desse fenômeno que trata a Didática: do ensino que implica desenvolvimento, melhoria. E mais: não se limita o bom ensino ao avanço cognitivo intelectual, mas envolverá igualmente progressos na afetividade, moralidade ou sociabilidade, por condições que são do desenvolvimento humano integral (CASTRO, 1991, p.24). Atividade de Estudos: 1) Na sua opinião, qual é a refl exão mais importante sobre a Didática numa perspectiva histórica? Utilize o espaço abaixo para anotar a sua resposta. Para auxiliá-lo, apresentamos, ainda, o seguinte quadro elaborado por Ramos (2011, p. 22), o qual apresenta características pertinentes aos diferentes momentos históricos da Didática: Figura 2: Escola tradicional X Escola nova Fonte: RAMOS, Daniela Karine. Didática do Ensino de Língua Portuguesa e Literatura. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2011, p.22. ______________________________________________________ 21 SOBRE A DIDÁTICA Capítulo 1 ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Para aprofundar os seus estudos sobre a história da Didática, sugerimos a leitura de “A trajetória histórica da Didática”. Para tanto, acesse: www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_11_p015-025_c.pdf No próximo item estudaremos sobre a Didática em uma perspectiva social. Acompanhe-nos! A Didática numa Perspectiva Social A didática numa perspectiva socialestá fundamentada nos estudos de Vygotsky e seus seguidores (LIBÂNEO, 2011). Nesta perspectiva, a escola é compreendida como a instituição responsável por fazer a mediação cultural – realizada através do trabalho do professor, o qual age como mediador, possibilitando aos alunos o aprendizado de conceitos científi cos e o desenvolvimento de competências e habilidades - promovendo o desenvolvimento cognitivo, afetivo e moral dos alunos. É importante entender que esses dois elementos, a aprendizagem e o desenvolvimento, são interligados e indissociáveis. A escola, por meio do trabalho do professor, tem a função de estimular o A escola é compreendida como a instituição responsável por fazer a mediação cultural – realizada através do trabalho do professor, o qual age como mediador, possibilitando aos alunos o aprendizado de conceitos científi cos e o desenvolvimento de competências e habilidades - promovendo o desenvolvimento cognitivo, afetivo e moral dos alunos. 22 Didática e Avaliação no Processo de Alfabetização e Letramento desenvolvimento das capacidades refl exivas. Assim: Cabe à didática investigar como ajudar os alunos a se constituírem como sujeitos pensantes e críticos, capazes de pensar e lidar com conceitos, argumentar, resolver problemas, diante de dilemas e problemas da vida prática. A razão pedagógica está também associada, inerentemente, a um valor intrínseco, que é a formação humana, visandoajudar os outros a se educarem, a serem pessoas dignas, justas, cultas, aptas a participar ativa e criticamente na vida social, política, profi ssional e cultural (LIBÂNEO, 2011, p. 1). De acordo com a teoria vygotskyana, a consciência humana se desenvolveu a partir da ação do homem sobre a natureza. Essa ação fi cou defi nida como uma atividade laboral, que é o trabalho. Por meio do trabalho, o homem transformou os elementos da natureza para satisfazer as suas necessidades de sobrevivência, para isso construiu instrumentos, os quais o auxiliaram na ação de transformar a natureza. Ao fazer isso, atribuiu funções sociais para os instrumentos, dando- lhes sentido e defi nindo a fi nalidade de cada um. Os objetos passaram a fazer a mediação entre o homem e a natureza. Com essas ações o homem foi desenvolvendo sua própria consciência e evoluindo em termos de conhecimento. Nesse processo, o desenvolvimento da linguagem assumiu papel preponderante para a mediação entre os sujeitos e para a formação do pensamento. É por meio da linguagem que os sujeitos interagem entre si e desenvolvem as funções mentais superiores que são: Mecanismos psicológicos mais sofi sticados, mais complexos, que são típicos do ser humano e que envolvem o controle consciente do comportamento, a ação intencional e a liberdade do indivíduo em relação às características do momento e do espaço presente. O ser humano tem a capacidade de pensar em objetos ausentes, imaginar eventos nunca vividos, planejar ações a serem realizadas em momentos posteriores. Esse tipo de atividade psicológica é considerada superior na medida que se diferencia de mecanismos mais elementares tais como ações refl exas (OLIVEIRA, 1995, p. 26). O processo de aprendizagem do ser humano que interfere no desenvolvimento das funções mentais superiores acontece pela mediação. A O desenvolvimen- to da linguagem assumiu papel preponderante para a mediação entre os sujeitos e para a formação do pensamento. 23 SOBRE A DIDÁTICA Capítulo 1 mediação é compreendida como “o processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação. A relação deixa de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento” (OLIVEIRA, 1995, p. 26). É importante dizer que Vygotsky distinguiu dois tipos de elementos mediadores que são fundamentais para pensar a ação pedagógica. São eles: os instrumentos e os signos. Os instrumentos, na atividade do trabalho, confi guram-se como “[...] elemento interposto entre o trabalhador e o objeto de seu trabalho, ampliando as possibilidades de transformação da natureza” (OLIVEIRA, 1995, p. 29). Podemos citar o machado como um dos instrumentos importantes no processo de transformação da natureza. Já os signos, podem ser defi nidos como “elementos que representam ou expressam outros objetos, eventos ou situações. A palavra mesa, por exemplo, é um signo que representa o objeto mesa, o símbolo 3 é um signo para a quantidade três [...]”(OLIVEIRA, 1995, p. 30).Assim, o signo é a representação de algo. Nesse sentido, podemos citar o sistema alfabético como um elemento mediador entre o que se fala e pensa e o que se escreve, e que, como os demais instrumentos, foram criados pela ação coletiva humana. O sistema alfabético confi gura-se como um elementomediadorda cultura humana o qual traz em si certa complexidade e que precisa de ações pedagógicas para ser ensinado. E, na ação pedagógica,ou seja, no trabalho realizado com os alunosé o professor que intermediará a aprendizagem desse sistema de representação. Nesse sentido: A atividade, cuja expressão maior é o trabalho, é a principal mediação nas relações que os sujeitos estabelecem com o mundo objetivo. Conforme Vygotsky, o surgimento da consciência está relacionado com a atividade prática humana, a consciência é um aspecto da atividade laboral (LIBÂNEO, 2004, p.4). Quando pensamos na ação pedagógica, ou seja, no trabalho realizado pelo professor em sala de aula, os elementos mediadores interpostos entre o professor e o aluno para que ocorra a aprendizagem são os signos. O objetivo 24 Didática e Avaliação no Processo de Alfabetização e Letramento do trabalho pedagógico é a aprendizagem do aluno. Por meio das atividades que são didaticamente planejadas pelo professor a criança vai elaborando os seus conhecimentos em torno dos conteúdos trabalhados. Apoiados nesta teoria, autores como Leontiev, Davydov, citados por Libâneo (2004), desenvolveram a teoria da atividade. A teoria da atividade, quando transferida para a organização da prática escolar, é concebida como: A teoria da atividade: o núcleo central para que a criança se aproprie da cultura que foi historicamente elaborada pelos homens por meio da mediação. Ao se referir às pesquisas desenvolvidas por Davydov, Libâneo (2004, p.10) ressalta que: com base na atividade fundamental que é o trabalho, surgem no processo ontogenético outras atividades entre elas a atividade da aprendizagem. Para Davydov, a questão central da aprendizagem escolar é o desenvolvimento mental dos alunos, por meio do ensino e da educação, que ocorre com a cooperação entre adultos e crianças na atividade de ensino. No processo de ensino e aprendizagem é fundamental ter presente que para se apropriar dos conhecimentos que foram sendo sistematizados e os quais contribuem para o desenvolvimento do pensamento do aluno, a escola, por meio do trabalho do professor, necessita de metodologias e procedimentos que auxiliem na mediação cognitiva. Libâneo (2011, p. 2) defende que: “a característica mais destacadado trabalho do professoré a mediação docente pela qual ela se põe entre o aluno e o conhecimento para possibilitar as condições e os meios de aprendizagem, ou seja, as mediações cognitivas”. Uma palavra que já apareceu em alguns trechos do nosso estudo é aprendizagem. Qual o sentido atribuído a ela na teoria de Vygostsky? A aprendizagem, na teoria de Vygotsky, implica a articulação de processos externos e internos, objetivando a internalização por parte do aluno dos signos culturais. Nesse sentido, a aprendizagem ocorre num primeiro momento por meio das relações interpessoais, na relação estabelecida com outros sujeitos, que, neste caso, podem ser o professor e os colegas da sala de aula. o processo de ensino e aprendizagem é fundamental ter presente que para se apropriar dos conhecimentos que foram sendo sistematizados e os quais con- tribuem para o desenvolvimento do pensamento do aluno, a escola, por meio do trabalho do pro- fessor, necessita de metodologias e procedimentos que auxiliem na mediação cogni- tiva. 25 SOBRE A DIDÁTICA Capítulo 1 Num segundo momento, acontece internamente, quando o aluno consegue automatizar o que aprendeu de modo a dominar e fazer uso do conteúdo aprendido. Esta formulação realça a atividade sócio-histórica e coletiva dos indivíduos na formação das funções mentais superiores, portanto, o caráter de mediação cultural do processo de conhecimento e, ao mesmo tempo, a atividade individual de aprendizagem pelo indivíduo se apropria da experiência sócio-cultural como ser ativo. [...] No processo de internalização da atividade há a mediação da linguagem, em que os signos adquirem signifi cado e sentido (LIBÂNEO, 2011, p. 2). Atividade de Estudos: 1) Relate uma experiência escolar que você desenvolveu ou viu ser desenvolvida que leva em consideração os dois momentos apresentados anteriormente. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Apresente alguns signos com os seus signifi cados e os diferentes sentidos atribuídos a eles. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ A Didática e o Letramento Vimos anteriormente que a didática implica pensar em ações de ensino para o desenvolvimento de determinadas aprendizagens na aquisição da leitura e da escrita. Será que caberia aqui uma pergunta? Articulação de processos externos e internos, objetivando a internalização por parte do aluno dos signos culturais. 26 Didática e Avaliação no Processo de Alfabetização e Letramento O LETRAMENTO É ALGO QUE PODE SER ENSINADO? Compreendemos que o letramento é a imersão do sujeito em práticas sociais de leitura e de escrita que tenham sentido para o grupo ao qual pertence (KLEIMAN, 2005). Aqui vale questionar? Será que ensinamos práticas de leitura e de escrita? Ou valorizamos as práticas de leitura e de escrita que já fazem parte da comunidade a qual os alunos pertencem? E, proporcionamos acesso a outras práticas de leitura e de escrita com o intuito de ampliar a experiência dos alunos com a leitura e a escrita? Apresentado o conceito de letramento que norteará a escrita deste caderno vamos acompanhar a discussão que Kleiman (2005) realiza em torno do letramento. Podemos inferir que o ensino e a aprendizagem são dois elementos indissociáveis na prática do professor em sala de aula. No entanto, para respondermos à pergunta lançada, apresentaremos algumas discussões em torno do letramento. Para Kleiman (2005), antes de conceituar letramento é importante compreender o que não se confi gura como tal. Para esta autora, letramento não é um método e não é alfabetização. Não existe um “método de letramento”. Nem um nem vários. O letramento envolve a imersão da criança, do jovem ou do adulto no mundo da escrita e, nesse sentido, para conseguir essa imersão o professor pode: adotar práticas diárias de leitura de livros, jornais e revistas em sala de aula;arranjar paredes, chão e mobília da sala de tal modo que textos, ilustrações, alfabeto, calendários, livros, jornais e revistas penetrassem todos os sentidos do aluno-leitor em formação; fazer um passeio-leitura com os alunos pela escola ou pelo bairro (KLEIMAN, 2005, p. 10). A autora ressalta, ainda, a importância de se garantir um contexto rico em diversidade de materiais escritos para que o aluno tenha o contato com suportes de diferentes naturezas e com diversidades textuais. Como o letramento se confi gura na inserção do sujeito em práticas sociais de leitura e de escrita que tenham sentido para o grupo ao qual pertence, é fundamental que o professor busque na comunidade em que a escola está inserida as formas de escrita e de leitura com as quais a comunidade tem acesso e faz uso no dia a dia. É importante que essas formas de escrita que circulam na comunidade O letramento é a imersão do sujeito em práticas sociais de leitura e de escrita que tenham sentido para o grupo ao qual pertence (KLEIMAN, 2005). O letramento se confi gura na inser- ção do sujeito em práticas sociais de leitura e de escrita que tenham sen- tido para o grupo ao qual pertence. karll Destacar 27 SOBRE A DIDÁTICA Capítulo 1 dos alunos venham para o contextode sala de aula. Com isso não queremos dizer que a escola não precisa promover o acesso a outros materiais escritos além dos que circulam na comunidade. Entendemos que o ponto de partida se confi gura nas práticas sociais de leitura e de escrita que fazem parte do contexto dos alunos. Cabe à escola apresentar, aos poucos, outras práticas que estejam em consonância com cada faixa etária atendida por esta instituição (escola). Atividade de Estudos: 1) Pense na sua comunidade social, no seu contexto de vida. Refl ita e anote: que práticas sociais de leitura e de escrita você considera como fazendo parte do dia a dia das crianças? E mais: que práticas as escolas da sua comunidade poderia e deveriam incentivar? Tente elaborar uma lista. Para isso, use o espaço abaixo: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Há mais uma questão sobre a qual Kleiman (2005, p. 12) pontua: o letramento não pode ser compreendido como sendo um ‘sinônimo’ de alfabetização. O letramento não é alfabetização, mas a inclui! Em outras palavras, letramento e alfabetização estão associados. A existência e manutenção dos dois conceitos, quando antes um era sufi ciente, é importante [...]. Se consideramos que as instituições sociais usam a língua escrita de forma diferente, em práticas diferentes, diremos que a alfabetização é uma das práticas de letramento que faz parte do conjunto de práticas sociais de uso da escrita da instituição escolar. (KLEIMAN 2005, p. 12). O processo de ensino da alfabetização, que envolve atividades de escrita e de leitura, é considerado uma prática de letramento escolar. Essa prática envolve conhecimentos específi cos sobre o ensino do código escrito. 28 Didática e Avaliação no Processo de Alfabetização e Letramento No entanto, é importante salientar que, independente do método utilizado para alfabetizar, todos se confi guram como uma prática de letramento, por envolverem prática de leitura e de escrita. No capítulo 2 do nosso caderno, apresentaremos os modelos de letramento autônomo e ideológico, que implicarão no aprofundamento das concepções quanto ao ensino da leitura e da escrita, levando professores a optarem pela maneira referente ao ‘como’ alfabetizar. Em seguida apresentaremos a didática relacionada à alfabetização ou, os vários caminhos para alfabetizar. Didática Relacionada À Alfabetização – um ou Vários Caminhos? Para ancorarmos as nossas compreensões a respeito deste item, contamos com o apoio de autoras como Soares (2003) e Kleiman (2005), dentre outros (as). Ambas têm insistido que a alfabetização consiste no domínio de um saber específi co para a aprendizagem da leitura e da escrita e que necessita de uma prática escolar sistematizada, ou seja, de uma prática intencional que objetiva ensinar como se lê e como se escreve. O termo Alfabetização, no sentido etimológico signifi ca levar o sujeito a ter o domínio do alfabeto, ou seja, implica a ação de ensinar o código da língua escrita, levar o sujeito a ter domínio da leitura e da escrita. Dionísio (2008, p. 210) a compreende como: “ [...] um processo de dotar os indivíduos dos códigos relativos ao escrito, para os momentos reservados de aprendizado do código escrito”. Soares (2003, p.16), a princípio, defende que: “é um processo de representação de fonemas em grafemas, e vice-versa, mas é também um processo de compreensão/ expressão de signifi cados por meio do código escrito”. Ao longo da história da alfabetização surgiram diferentes métodos para ensinar alunos a ler e a escrever. Em seguida, apresentaremos um resgate histórico destes métodos. Nossa pretensão não é a de julgar um método em contrapartida a outro. O que pretendemos é buscar compreender a evolução destes métodos para podermos fundamentar discussões a respeito do assunto nos dias atuais (2011). Alfabetização leva o sujeito a ter o domínio do alfabeto.. karll Destacar 29 SOBRE A DIDÁTICA Capítulo 1 Meios de Transformar a Teoria sobre Didática em Práticas Educativas no Ensino da Leitura e da Escrita – Revisitando os Métodos Conforme anunciamos no fi nal do item anterior, pretendemos abordar alguns aspectos pertinentes aos métodos de alfabetização construídos ao longo da história. Frade (2011 p.1) instiga nossas refl exões através do seguinte questionamento: Qual a especifi cidade dos métodos de alfabetização no âmbito de outros métodos de ensino? A própria autora nos auxilia quando responde: Poderíamos dizer que os métodos de alfabetização se consolidam juntamente com os ideários gerais e aqueles que dão as bases para eleição dos conteúdos específi cos da língua a serem ensinados a crianças, no processo inicial de apropriação da escrita (FRADE, 2011, p. 1). A fi m de elucidarmos aspectos referentes aos caminhos históricos percorridos, apresentaremos, a seguir, dois quadros que buscam resgatar o ideário que fundamentou os métodos de alfabetização na história da educação. A ênfase se volta ao contexto da educação brasileira. Elencamos um ‘recorte histórico’, qual seja: até a década de 1970. Abordaremos as duas grandes vertentes metodológicas que surgiram na história da alfabetização: os métodos sintéticos e os métodos analíticos. Acompanhe-nos! 30 Didática e Avaliação no Processo de Alfabetização e Letramento Quadro 1 - Os métodos sintéticos Métodos sintéticos – priorizam a decifração. O ponto de partida para o ensino se daria da parte para o todo, ou seja, do ensino das letras e/ou sílabas para a sentença ou texto. São métodos que focam a deco- ração de sinais gráfi cos (letras) e as correspondênciasfonográfi cas (som/letras). O objeto de estudo desses métodos é o sistema alfabético/ortográfi co da escrita (FRADE, 2011). Fundamentos teóricos – ideários de educação O que e como devia ser ensinado 1) Método alfabético ou da soletração:unidade de ensino é a letra. Conforme estudos de Frade (2011) é um dos métodos que existe desde a antiguidade. No Brasil há indícios de que era usado desde o século XIX. Porém, atualmente, em algumas regiões do Brasil, ainda há men- ções de que é utilizado. Conforme estudos de Carvalho (2005, p. 22), esse método “baseia-se na associação de estímulos visuais e auditivos, valendo-se da memoriza- ção como estímulo didático – o nome da letra é asso- ciado à forma visual, as sílabas são aprendidas de cor e com elas se formam palavras isoladas. [...] as palavras são trabalhadas fora do contexto.” Sequência de aplicação a) memorização oral das letras do alfabeto, posteriormente era feito o reconhecimento das letras em pequenas sequências e depois no todo do alfabeto e, fi nalmente, o reconhecimen- to das letras isoladas. b) decoração dos casos possíveis de combina- ções silábicas, sem estabelecer o reconheci- mento entre a escrita e a fala. 2) Método Fônico: unidade de ensino é o som. Surge como uma reação crítica ao método alfabético. O prin- cipal objetivo está centrado no ensino entre som/letra. Tem-se uma variedade de métodos fônicos, exemplo: Método da abelhinha e Casinha Feliz. O que difere um do outro é a forma de apresentar os sons - às vezes o personagem está associado a um fonema, a uma onoma- topeia ou a uma história para dar sentido no ensino dos fonemas. (FRADE, 2011). Começa pelo ensino da forma e o som das vogais. Em seguida é ensinado as consoantes e as possíveis relações com as vogais. Para cada letra (grafema) é ensinado o seu fonema (som) que junto com outros fonemas podem formar sílabas e palavras. Para o ensino dosom há uma sequência a ser respeitada, optando-se por ensinar sons considerados mais simples até os mais complexos. 3) Método silábico: unidade de ensino é a sílaba. Consiste num aprimoramento do método fônico. Busca trabalhar direto com a sílaba e não mais com o fonema. O ensino é realizado a partir do que se defi ne como a sílaba mais simples para a mais com- plexa. São apresentadas palavras-chave para trabalhar pedagogicamente as sílabas, as quais são destacadas e estudadas sistematicamente em famílias silábicas. As sílabas são recompos- tas para formar novas palavras e frases, o que acontece somente com as sílabas estudadas. Fonte: As autoras com base em Frade (2011). 31 SOBRE A DIDÁTICA Capítulo 1 Quadro 2- Os métodos Globais ou analíticos Métodos analíticos – partem do todo para as partes e objetivam romper com o processo de ensino pela de- cifração, buscando trabalhar com o princípio da compreensão. Surgem no Brasil por volta da década de 30 do século XX. A estratégia inicial de ensino é o reconhecimento global que vai do texto à frase, da frase à palavra, da palavra à sílaba (FRADE, 2011). Fundamentos teóricos – ideários de educação O que e como devia ser ensinado 1) Método de contos: confi gura-se como um dos métodos globais mais antigos. Surgiu nos Estados Unidos no fi m do século XIX.O ensino se concretiza a partir de pequenas histórias.Busca explorar o prazer da criança em ouvir histórias para introduzi-la ao conhecimento de base alfabética da língua. Nessa concepção há um processo de recusa às cartilhas. (CARVALHO, 2005). No Brasil uma das maiores defensoras deste método foi a professora Lúcia Casassanta, professora da disciplina metodologia da linguagem na Escola de Aperfeiçoamento de profes- sores de Minas Gerais durante décadas (1920-1970). Apresenta-se a história completa, e, em seguida, o texto deve ser desmembrado em frases. A criança é estimulada a reconhecer globalmente e a repetir, numa espécie de pré-leitura. Após, deve acontecer o reconhecimento das palavras em geral. Foca-se, principalmente, as palavras que aparecem repetidas, com o objetivo de facilitar a memorização. Por fi m, deve acontecer a divisão das palavras em sílabas e composição de novas palavras com as sílabas estuda- das (CARVALHO, 2005). 2) Método ideovisual de Decroly – Foi criado no início do século XX por OvideDecroly (1871-1932), também é baseado no ensino por meio de contos. Defende os seguintes princípios: interesse da criança, ensino globalizante, considerar a percep- ção visual como atividade predominante, leitura deve acontecer por ideias e não por meio de sinais gráfi cos e precisa ter um caráter natural que funciona como uma aquisição da linguagem falada. (FRADE, 2011). Recomendava o ensino globalizado de pala- vras signifi cativas. O ponto de partida eram as frases tiradas de histórias, canções, parlendas e poesias. O aluno deveria apren- der a princípio a forma, o desenho total, a imagem gráfi ca da frase. Em seguida, aprender a distinguir as palavras por meio da observação de semelhanças e diferenças entre elas, depois as sílabas e posterior- mente as letras. Por meio de palavras signifi cativas, retiradas dos textos, propunha jogos e materiais como caixinhas com etiquetas identifi cando os produtos colocados dentro delas, como por exemplo, açúcar, chocolate, etc. (CARVALHO, 2005, p. 36). 3) Método natural de Freinet – educador Francês (1896-1966), defendia que as crianças deveriam ser estimuladas a escreverem textos livres, que deveriam ser lidos para os colegas. Introduziu a impressão no trabalho escolar. Os alunos deveriam escolher a composição que deveria ser impressa pelas próprias crianças. Também fundamentava suas ideias nos estudos de Decroly. Esse método pressupõe a familiarização da criança com a escrita, por imersão com textos escritos, a partir das histórias que são contadas, do estímulo ao desenho e para que faça tentativas de escrita. Acredita que a criança aprende a escrever escrevendo, a ler lendo. O referido método não comporta etapas como acontece com as demais propostas. Fonte: As autoras com base em Frade (2011) e Carvalho (2005). 32 Didática e Avaliação no Processo de Alfabetização e Letramento Atividade de Estudos: 1) Após ler o conteúdo apresentado nos quadros anteriores, elenque alguns aspectos que lhe chamam à atenção tanto nos métodos sintéticos quanto nos analíticos. Utilize o espaço abaixo para anotar a sua resposta: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Além disso, você consegue identifi car, com base no conteúdo apresentado, o método pelo qual foi alfabetizado? No que se fundamenta a sua resposta? Utilize o espaço abaixo para anotar a sua resposta: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Você pode estar se perguntando: por que a abordagem apresentada nos quadros anteriores se referia, apenas, até a década de 1970? E a partir de então? No próximo capítulo abordaremos a teoria e os métodos que têm perpassado a prática do professor em turmas de alfabetização a partir da década de 70 até a primeira década do século XXI. Organizamos dessa forma por entendermos que os estudos sobre alfabetização nas décadas de 70 e 80 sofreram modifi cações signifi cativas a partir das pesquisas da psicogênese da língua escrita, desenvolvidos por Emilia Ferreiro e os estudos de Paulo Freire. Por este motivo, decidimos apresentar o conteúdo desta maneira. A seguir, leia as considerações que fi nalizam este capítulo e considere as referências apresentadas, pelas quais você pode ampliar seus conhecimentos a respeito dos assuntos que estudamos até aqui. Algumas Considerações Ao longo deste primeiro capítulo do nosso caderno de estudos, fomos 33 SOBRE A DIDÁTICA Capítulo 1 instigados a compreender alguns aspectos referentes à Didática. Inicialmente, estudamos que, quando traçamos um entendimento sobre as teorias referentes à Didática, à linguagem, então podemos partir com coerência para encaminhamentos práticos condizentes. Estudamos que a Didática tem como foco os problemasde ensino e as diretrizes de como sistematizá-lo. Conforme os autores que fundamentaram os nossos estudos, caberia à Didática tecer elos entre o que se sabe e o que se espera do ensino. Historicamente, contudo, deparamos com ecos que pontuam as duas vertentes que se estruturaram e que, ainda, causam divisores atuais referentes ao assunto. Uma das vertentes é a que diz respeito ao ‘método’, ou seja, cabe ao professor decidir ‘o que’, ‘quando’ e ‘como’ se ensina. A outra é a vertente que considera o sujeito em seu contexto, as suas características próprias como relevantes para o ensino. A amplitude do assunto, o qual envolve várias áreas do saber, acentua difi culdades de encaminhamentos mais contundentes. Por outro lado, tudo isso contribui com a necessidade, urgência e busca constante de pesquisas referentes ao assunto. Na continuidade dos nossos estudos deparamos, também, com a Didática analisada pelo viés social. Neste sentido, Vygotsky fundamentou nossas compreensões ao referenciarmos a mediação como foco do ensino e da aprendizagem. Por ela (a mediação) ocorre uma articulação entre os processos externos e internos ligados ao conhecimento, infl uindo diretamente nas questões didáticas, pertinentes ao ensino. Ao refl etirmos sobre o ensino tendo como enfoque, de acordo com a temática do nosso caderno, aspectos pertinentes à alfabetização e ao letramento, desembocamosem tentativas de compreender o que ‘não’ é letramento. A partir do que ‘não é letramento’, pudemos inferir que o letramento diz respeito àinserção do sujeito em práticas sociais de leitura e de escrita que tenham sentido para o grupo ao qual pertence. Já a alfabetização, indissociável e fazendo parte do letramento (ambos caminham juntos), diz respeito àquilo que envolve a aquisição do código alfabético. A alfabetização é um processo individual de aprendizagem, enquanto o letramento dá conta dos aspectos sociais que envolvem a leitura e a escrita. A partir destas compreensões, rebuscamos caminhos traçados historicamente, considerando os métodos de alfabetização. O enfoque voltou-se até a década de 1970. Perpassamos os métodos sintéticos (aqueles que têm como ponto de 34 Didática e Avaliação no Processo de Alfabetização e Letramento partida as partes e desembocam no todo) e os analíticos (do todo para as partes). Finalizamos este capítulo deixando entreabertas algumas conexões para darmos continuidade posteriormente. Acompanhe-nos nas próximas páginas e construa as suas conexões interagindo conosco! ReferÊncias ANDRADE, Roberta RottaMessiais de. Pesquisas sobre a formação de professores: uma comparação entre os anos 90 e 2000. Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação. 30ª. Reunião Anual da ANPED, 2007. Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes /30ra/index.htm.. Acesso em: 15 mai. 2008. BATISTA, Antônio Augusto Gomes; SILVA, Ceris S. Ribas; BREGUNCI, Maria das Graças de Castro; CASTANHEIRA, Maria Lúcia; MONTEIRO, Sara Mourão. Alfabetização e Letramento: Questões sobre Avaliação. Fascículo 2. 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Disponível em: http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/reveducacao/article/ viewFile/658/469. Acesso em: 08 out. 2011. GERALDI, João W. (org.). O texto em sala de aula. São Paulo: Ática, 2006. KLEIMAN, Angela B. Preciso ensinar o letramento? Não basta ensinar ler e escrever? São Paulo: Unicamp, 2005. LEITE, Lígia C. de Moraes. Gramática e literatura: desencontros e esperanças. 35 SOBRE A DIDÁTICA Capítulo 1 In: GERALDI, João W. O texto em sala de aula. São Paulo: Ática, 2006. p. 17- 24. LIBÂNEO,Carlos José. A didática e a aprendizagem do pensar e do aprender: a teoria Histórico-cultural da Atividade e a contribuição de VasiliDavydov.Revista Brasileira de Educação, nº 27, p. 5-24, set/out/nov/Dez.2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n27/n27a01.pdf. Acesso em: 16 jul. 2011. LUFT, Celso Pedro. Mini dicionário. São Paulo: editora Scipione Ltda, 1991. MARIN, Alda Junqueira (org.). Didática e trabalho docente. Araraquara: JM Editora, 1996. OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. São Paulo: editora Scipione, 1995. RAMOS, Daniela Karine. Didática do Ensino de Língua Portuguesa e Literatura. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2011. SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação, Minas Gerais, n. 25, p.5-17, jan./abr.2004. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n25/n25a01.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2008. STUEPP, Angelita Maria Gambeta. Concepções de Alfabetização e letramento: o que dizem os professores formadores. 216 p.Dissertação de mestrado. Universidade Regional de Blumenau – FURB, 2010. 36 Didática e Avaliação no Processo de Alfabetização e Letramento CAPÍTULO 2 Sobre Conceitos e Concepções Fundamentais de Alfabetização e Letramento para a Organização da Prática Pedagógica A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: conceituar as especifi cidades da alfabetização e do letramento. Ampliar os conceitos incluindo compreensões a respeito de alfabetismo, analfabetismo, alfabetismo funcional, multiletramentos, letramentos autônomo e ideológico. tecer encaminhamentos pedagógicos práticos com base nos exemplos apresentados ao longo do capítulo. Estes exemplos foram construídos a partir da teoria da Psicogênese da língua escrita. 38 Didática e Avaliação no Processo de Alfabetização e Letramento 39 SOBRE CONCEITOS E CONCEPÇÕES FUNDAMENTAIS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO PARA A ORGANIZAÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA Capítulo 2 ConteXtualização Neste capítulo convidamos você a aprofundar a sua compreensão em torno de conceitos sobre alfabetização e letramento. Consideramos estes conceitos fundamentais para que você possa implementar uma prática pedagógica articulada sem, contudo, desconsiderar aquilo que é específi co da alfabetização e do letramento. As abordagens que circulam socialmente são muitas, muitas também são as vertentes teóricas com as quais nos deparamos. Buscamos construir os nossos escritos objetivando a sua compreensão. Salientamos que é muito importante que os conceitos aqui abordados sejam estudados, compreendidos e revisitados sempre que necessário. Isso porque há muitas dúvidas e confusões em torno destes conceitos. Por este e outros motivos, a prática pedagógica pode ser afetada. Afetada no sentido de que atividades lançadas aos alunos não tenham um sentido devidamente construído. Talvez, também, corramos o risco de não interferir pedagogicamente diante de ‘problemas na alfabetização’ decorrentes de falta de embasamento da nossa parte, enquanto professores, coordenadores, etc. No decorrer deste capítulo daremos exemplos práticos para contribuir na compreensão dos conceitos apresentados. Enfi m, aproveite o conteúdo que segue. Destrinche-o ao máximo e busque aprofundá-lo em outras fontes teóricas também. Trace a sua linha de pensamento e procure aplicar o que lhe for proveitoso! Bons estudos! Conceitos de Alfabetização e seus Desdobramentos Você lembra que no capítulo 1 conceituamos alfabetização? Vamos resgatar este conceito? O termo Alfabetização, no sentido etimológico, signifi ca levar o sujeito a ter o domínio do alfabeto, ou seja, implica a ação de ensinar o código da língua escrita, levar o sujeito a ter domínio da leitura e da escrita. Dionísio (2008, p. 210) a compreende como “[...] um processo de dotar os indivíduos dos códigos relativos ao escrito, para os momentos reservados de aprendizado do código escrito”. Soares (2003, p.16), a princípio, defende que “[...] é um processo 40 Didática e Avaliação no Processo de Alfabetização e Letramento de representação de fonemas em grafemas, e vice-versa, mas é também um processo de compreensão/expressão de signifi cados por meio do código escrito.” A alfabetização, conforme os estudos de Soares (2003),caracteriza- se como um fenômeno de muitas facetas, pois vem sendo objeto de estudo de diferentes abordagens, tais como: 1) Psicológica; 2) Psicolinguística; 3) Sociolinguística; 4) Linguística. Precisamos estar atentos para não perdermos de vista os conhecimentos específi cos de cada uma das áreas anteriormente citadas, as quais fornecem indicativos do que devemos considerar quando trabalhamos com a alfabetização.Apresentaremos, a seguir, essas facetas. A nossa intenção é a de problematizar aspectos que compõem a alfabetização. Antes de apresentarmos as facetas da alfabetização, preste atenção àquilo que Soares (2003) tem constatado através de seus estudos: Historicamente, na realidade brasileira, a abordagem que tem predominado nos estudos da área da alfabetização é a perspectiva psicológica e psicolinguística (SOARES, 2003). Leia atentamente alguns motivos da infl uência destas perspectivas na história da alfabetização conforme as facetas apresentadas anteriormente: a) Abordagem psicológica A princípio, a abordagem psicológica fundamentou as relações entre inteligência (QI) e alfabetização. Priorizavam-se os aspectos fi siológicos e psicológicos, tais como: o desenvolvimento da capacidade da percepção do esquema corporal, estruturação espacial e temporal, discriminação visual e auditiva, psicomotricidade, disfunções psiconeurológicas da aprendizagem da leitura e da escrita (afasia, dislexia, disgrafi a, disfunção cerebral mínima, etc.). Testes de prontidão eram realizados. O objetivo destes testes era medir as condições intelectuais, fi siológicas e neurológicas da criança para a alfabetização (SOARES, 2003). Alfabetização ca- racteriza-se como um fenômeno de muitas facetas. 41 SOBRE CONCEITOS E CONCEPÇÕES FUNDAMENTAIS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO PARA A ORGANIZAÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA Capítulo 2 Agora, acompanhe o que aconteceu na década de oitenta do século XX a partir dos estudos de Soares, (2003, p. 17): Na década de oitenta, a perspectiva psicológica se fez fortemente presente por meio da teoria da Psicologia Genética de Jean Piaget como fundamento teórico dos estudos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, que realizaram investigações sobre os estágios de desenvolvimento da escrita realizados pela criança no processo de aquisição da leitura e da escrita. Ainda neste capítulo iremos aprofundar os estudos sobre a Psicogênese da língua escrita, desenvolvidos por Ferreiro e Teberosky, a partir dos estudos de Mendonça (2009) e suas implicações para a prática pedagógica no processo de alfabetização a partir da década de oitenta. Por este motivo, vamos prosseguir com o estudo referente à segunda abordagem, a psicolinguística. b) Abordagem psicolinguística Os estudos sobre a segunda abordagem citada, a psicolinguística, não foram muito divulgados no contexto brasileiro. Veja sobre o que ela versa: Os estudos na área da psicolinguística, os quais não são muito desenvolvidos no Brasil, focalizam análises de problemas referentes à maturidade linguística da criança no processo de aprendizagem da leitura e da escrita. Essa abordagem pesquisa as relações entre linguagem e memória, interação entre a informação visual e não visual (SOARES, 2003). Na sequência, apresentaremos a abordagem sociolinguística. c) Abordagem sociolinguística Já a perspectiva sociolinguística, a terceira abordagem que compõe as facetas da alfabetização, concebe a alfabetização como um processo estreitamente relacionado com os usos sociais da língua (SOARES, 1989; 2003). As pesquisas dessa abordagem: Têm priorizado estudos que tratam das diferenças dialetais, os quais têm apontado que a criança, quando chega à escola para ser alfabetizada, já domina um determinado dialeto da língua oral. Esse dialeto pode estar mais próximo Concebe a alfabetização como um processo estreitamente relacionado com os usos sociais da língua. 42 Didática e Avaliação no Processo de Alfabetização e Letramento ou mais distante do padrão da língua escrita convencional trabalhado pela escola que, geralmente, se apoia na norma padrão (SOARES, 2003, p.18). Nesse sentido, o processo de alfabetização de crianças oriundas de famílias de classes com mais poder aquisitivo, as quais têm acesso a diversidades de materiais impressos, que ouvem histórias contadas por adultos e convivem com falantes que dominam um dialeto que se aproxima da língua escrita, é muito diferente do processo de alfabetização das crianças das classes populares que dominam um dialeto que se distancia da língua escrita trabalhada pela escola. No dicionário encontramos a seguinte defi nição para a palavra dialeto: Dialeto: Variante regional de uma língua (LUFT, 1991, p. 212). No entanto, a partir dos estudos de Soares (2003) este conceito também está relacionado a aspectos sociais e à faixa etária. Veja a defi nição do termo dialeto no dicionário on-line de português: Dialeto: Variedade regional (ou social, ou etária) de uma língua. Fonte: Disponível em: <http://www.dicio.com.br/dialeto/>. Acesso em: 10 nov. 2011. As diferenças dialetais alteram, fundamentalmente, o processo de alfabetização, que não pode considerar a língua escrita meramente como um meio de comunicação ‘neutro’ e não contextualizado; na verdade, qualquer sistema de comunicação é profundamente marcado por atitudes e valores culturais, pelo contexto social e econômico em que é usado. Essa consideração sobre as diferenças dialetais, bem como suas implicações no processo de alfabetização, apontam indícios da concepção de letramento de base social e ideológica que será discutida posteriormente neste capítulo. Os estudos fundamentados, nesta concepção de letramento, a ideológica, são pertencentes às pesquisas etnográfi cas (STREET, 2003) que têm mostrado que não há língua e cultura melhor ou pior, o que há são diferentes tipos de língua 43 SOBRE CONCEITOS E CONCEPÇÕES FUNDAMENTAIS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO PARA A ORGANIZAÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA Capítulo 2 e de cultura. Outro ponto importante apontado por essa abordagem é que as funções e objetivos atribuídos à escrita pelas classes populares são diferentes dos objetivos e funções atribuídos pelas classes mais favorecidas, o que acaba por interferir no processo de alfabetização. Soares (2003, p. 20) afi rma: “Assim, o processo de alfabetização não é somente de natureza psicológica e psicolinguística, mas também é sociolinguística.” E, é por fi m um processo linguístico, a quarta faceta, conforme os estudos de Soares (2003). d) Abordagem linguística: “A alfabetização é também um processo essencialmente linguístico, de transferência da forma sonora da fala para a forma gráfi ca da escrita” (SOARES, 2003, p. 21). Além disso, a aprendizagem da leitura e da escrita é também um processo de estabelecimento de relações entre fonemas e grafemas. No entanto, a língua não se confi gura como uma mera representação da língua oral, apenas em alguns casos há total correspondência entre grafemas e fonemas, e, portanto, não há correspondência fi el e direta entre eles. Nesse sentido, Soares (2003, p. 21) nos alerta: [...] não há correspondência unívoca entre o sistema fonológico e o sistema ortográfi co na escrita portuguesa (um mesmo fonema pode ser representado por mais de um grafema, e um mesmo grafema pode representar mais de um fonema), o processo de alfabetização signifi ca, do ponto de vista linguístico, um progressivo domínio de regularidades e irregularidades. Por exemplo: • Quando a letra não tem som na fala, mas aparece na escrita: H no início das palavras. HOMEM – HORAS – HELICÓPTERO • A mesma letra, dependendo de onde ela aparece na palavra, está relacionada a diferentes sons: X em EXAME – TÁXI – XÍCARA • Mesmo som representado por letras diferentes: [s] em CEDO – SAPO – OSSO Além dessas facetas, o contexto sociocultural tem infl uências sobre o processo de alfabetização, uma vez que cada sociedade ou grupo social atribui funções específi cas à língua escrita. Portanto, é essencial acrescentar às facetas da alfabetização, determinantes sociais das funções e fi ns da aprendizagem da Não há língua e cultura melhor ou pior, o que há são diferentes tipos de língua e de cultura. 44 Didática e Avaliação no Processo de Alfabetização e Letramento língua escrita.Assim: Uma teoria coerente de alfabetização só será possível se a articulação e integração das várias facetas do processo forem contextualizadas social e culturalmente e iluminadas por uma postura política que resgate o seu verdadeiro signifi cado (SOARES, 2003, p. 23). Essa teoria de alfabetização é importante porque: Conhecer a natureza das diferentes facetas da alfabetização e seus condicionantes sociais, culturais e políticos têm seus refl exos no encaminhamento metodológico e na opção por materiais didáticos usados no ensino da leitura e escrita. A esse respeito, Soares (2003) defende que o processo de formação do professor tem uma especifi cidade a qual demanda uma preparação que focalize o aprofundamento referente às diferentes facetas bem como às implicações dos condicionantes sociais, culturais e políticos. Nesse sentido, é necessário que “a escola e os professores compreendam que ensinar por meio da língua e, principalmente, ensinar a língua são tarefas não só técnicas, mas também políticas” (Soares, 1989, p. 79). Outro conceito importante para aprofundarmos a compreensão em torno da alfabetização e do letramento é o conceito de alfabetismo. É o que faremos a seguir. Alfabetismo Você já ouviu falar em alfabetismo? Conforme estudos de Rojo (2009, p. 44) o alfabetismo vem sendo compreendido, nacionalmente, como: Alfabetismo: A capacidade de acessar e processar informações escritas como ferramenta para enfrentar as demandas cotidianas. Em muitas literaturas, o conceito de alfabetismo vem disputando espaço com o conceito de letramento, sendo compreendidos, às vezes, como sinônimos. Isso tem provocado confusões teóricas, as quais acabam por refl etir nos encaminhamentos metodológicos em sala de aula. Vale lembrar que, se a alfabetização vem sendo compreendida como a ação de alfabetizar, de ensinar a ler e escrever, ou seja, de levar o aluno a conhecer 45 SOBRE CONCEITOS E CONCEPÇÕES FUNDAMENTAIS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO PARA A ORGANIZAÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA Capítulo 2 o alfabeto, compreender a mecânica da leitura e da escrita, para se tornar alfabetizado, o alfabetismo está relacionado ao estado ou condição de quem sabe ler e escrever (ROJO, 2009). No entanto, quando se referem ao estado e condição de quem sabe ler e escrever, as pesquisas nesta área (ROJO, 2009) têm apresentado que há níveis de alfabetismo, na medida em que envolvem um conjunto de competências e habilidades na leitura e na escrita. Desde 2001, no Brasil, vem sendo pesquisado e avaliado o Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional – o INAF. Esse indicador é utilizado para revelar os níveis de alfabetismo funcional na população adulta. O INAF é obtido a partir de questionários e testes aplicados em entrevistas domiciliares. São coletados anualmente junto a amostras nacionais de 2.000 pessoas, residentes em zonas urbanas e rurais, em todas as regiões do Brasil. Caro pós-graduando, para obter mais informações sobre esse indicador, o INAF, você poderá acessar o site: http://www.ipm.org.br/, acesso em: 11 dez. 2011. No quadro abaixo podemos analisar as capacidades envolvidas no conceito de alfabetismo a serem desenvolvidos pelo aluno em relação à leitura e à escrita durante a sua vida escolar. Esse quadro apresenta as capacidades que são avaliadas a partir dos questionários e testes realizados com os brasileiros, anualmente, por amostragem, onde é pesquisado o indicador nacional de alfabetismo funcional. Quadro 3 – Capacidades letradas envolvidas no conceito de alfabetismo Fonte: ROJO, Roxane.Letramentos múltiplos, escola e inclusão social.São Paulo: Parábola 2009, p. 45. Alfabetização a ação de alfabetizar, de ensinar a ler e escrever. 46 Didática e Avaliação no Processo de Alfabetização e Letramento São defi nidos os seguintes níveis de alfabetismo conforme os estudos de Rojo (2009): Nível 1: alfabetismo nível rudimentar: refere-se à capacidade de localizar informações simples em textos curtos – reconhecimento do conteúdo solicitado. Pode ser citada como exemplo a identifi cação do título de uma revista, a localização de uma determinada data que demarca o início de uma campanha de vacinação. Nível 2: alfabetismo nível básico: localizar informações em textos curtos ou de extensão média. Por exemplo: identifi car, numa carta, a causa da reclamação do defeito de um eletrodoméstico. Nível 3: alfabetismo nível pleno: corresponde à capacidade de ler textos longos ou estabelecer comparações entre dois textos, localizando informações de acordo com as orientações estabelecidas. Realizar inferências e sínteses. De acordo com Rojo (2009, p. 98): “as práticas sociais de letramento que exercemos nos diferentes contextos de nossas vidas vão constituindo nossos níveis de alfabetismo ou de desenvolvimento de leitura e de escrita”. Nesse sentido, outro termo que é importante para a nossa discussão é o conceito de alfabetismo funcional. Esse termo é utilizado para: Alfabetismo Funcional: Designar a capacidade de utilizar a escrita e a leitura para fi ns pragmáticos, em contextos cotidianos, domésticos ou de trabalho, muitas vezes colocado em contraposição a uma concepção mais tradicional e acadêmica (ROJO, 2009, p. 98). Até aqui conceituamos alfabetismo e apresentamos os seus respectivos níveis. E, analfabetismo, o que você já ouviu sobre esse conceito? Esta é uma palavra que ouvimos muito em nosso meio, não é mesmo? Ela está relacionada ao estado em que o sujeito “não consegue realizar tarefas simples que envolvam a decodifi cação de palavras e frases” (ROJO 2009, p. 46). Em seguida, pretendemos abordar o conceito de letramento e os modelos de letramento autônomo e ideológico. Rojo (2009, p. 98): “as práticas so- ciais de letramento que exercemos nos diferentes contextos de nossas vidas vão constituindo nossos níveis de alfabetismo ou de desenvolvimento de leitura e de escrita”. 47 SOBRE CONCEITOS E CONCEPÇÕES FUNDAMENTAIS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO PARA A ORGANIZAÇÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA Capítulo 2 Letramento Conforme já estudamos no capítulo 1 deste módulo, letramento refere-se à inserção do sujeito em práticas sociais de leitura e de escrita. Como são múltiplas as práticas de leitura e de escrita na nossa sociedade, utilizaremos o termo letramento no plural: práticas de letramentos. De acordo com os estudos de Barton e Hamilton (2000, p. 7): Letramentos as práticas de letramentos referem-se ao conceito cultural mais amplo das formas específi cas de pensar e de fazer a leitura e a escrita dentro de contextos culturais. Assim, as práticas de letramentos estão relacionadas aos modos culturais de utilização da linguagem escrita pelas quais as pessoas fazem uso em suas vidas. Para desenvolver uma prática pedagógica a partir da concepção de letramento, num viés que valorize os aspectos sociais da leitura e da escrita, é preciso ter a clareza de que: Na perspectiva social do letramento, o enfoque está na valorização das práticas de leitura e escrita existentes na cultura local dos alunos. Isso implica no entendimento de que o trabalho em sala de aula, em turmas de alfabetização, deve iniciar a partir daquilo que os alunos já sabem sobre a leitura e a escrita e depois ampliar para outros conhecimentos que vão contribuir na constituição de sujeito letrado na escola. Essa concepção de práticas de letramentos chegou ao Brasil por meio dos estudos de Street (2003) com o movimento dos Novos Estudos do Letramento. Nesse Sentido, Rojo (2009) nos ajuda a compreender que: [...] as abordagens mais recentes dos letramentos, em especial aquelas ligadas aos novos estudos do letramento, têm apontado para a heterogeneidade das práticas sociais de leitura, escrita e uso da língua/linguagem em geral em sociedades letradas e têm insistido no caráter sociocultural e situado das práticas de letramento (ROJO, 2009, p.
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