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Invalidades do Negócio Jurídico: Consequências no Âmbito Jurídico

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20
CAMPUS/CAMPO GRANDE
DAIANA ALEXANDRE FERREIRA
AS INVALIDADES DO NEGÓCIO JURÍDICO:
- CONSEQUÊNCIAS NO ÂMBITO JURÍDICO -
Trabalho da disciplina Direito Civil I apresentado ao Prof. Marcos Paulo, Universidade Candido Mendes/Campus Campo Grande, como requisito de avaliação da P2 no Curso de Direito – 3º período – Turma Manhã.
RIO DE JANEIRO
2020
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO	3
1.1 TÉCNICA DE ELIMINAÇÃO PROGRESSIVA	4
2 CLASSIFICAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO	4
2.1 INEXISTÊNCIA	4
2.2 INVALIDADE	5
2.2.1 Diferenças entre Invalidade e Inexistência	6
2.2.2 Princípio da Conservação do Negócio Jurídico	7
2.3 NULIDADE	7
2.3.1 Nulidade Parcial ou Total	9
2.3.2 Nulidade textual e nulidade tácita	9
2.3.3 Nulidade Absoluta	10
2.3.3.1 Negócio jurídico simulado	10
2.3.3.2 Ação declaratória de nulidade	12
2.3.3.3 imprescritibilidade do negócio jurídico nulo	13
2.3.3.4 Conversão do negócio jurídico	14
2.3.4 Nulidade Relativa ou Anulabilidade	15
2.3.4.1 Ação anulatória	17
2.3.4.2 Ato de confirmação expresso ou tácito	18
3 CONCLUSÃO	19
REFERÊNCIAS:	20
1 INTRODUÇÃO
O Código Civil de 2002 fez a opção de utilizar a expressão, tratada entre os seus arts. 166 a 184, os quais consubstanciam a chamada teoria das nulidades do negócio jurídico. Usa-se também a expressão ineficácia, que representa a situação em que o negócio jurídico não gera efeitos, contudo, a expressão que consta da codificação de 2002, sendo certo que o ato inválido é também ineficaz. E compreende-se que o termo invalidade designa o negócio que não produz os efeitos desejados pelas partes envolvidas.
A invalidade dos atos negociais é consequência do descumprimento de princípios legais de formação. No plano temporal, apenas o Direito é capaz de desfazer convenções humanas. Ou seja, nas demais esferas em exemplo: a moral, a religião e regras de trato social, apenas orientam o procedimento, condenam as ações contrárias aos seus princípios, mas as sanções que dispõem, embora sérias e em alguns casos com grave repercussão no âmbito das relações sociais e da consciência, não possuem o condão de anular atos praticados.
Ao definir os vícios dos atos negociais e dispor sobre os seus efeitos, o legislador visa a conciliar dois valores jurídicos básicos: a justiça interindividual e os imperativos de segurança jurídica, além de preservar o natural fluxo das relações econômicas. Entende-se que, do equilíbrio entre estes dois valores depende o intercâmbio dinâmico dos interesses. Dessa forma, uma política idealista, que exalta o justo, mas conduz à incerteza de validade dos contratos, desestimula a criatividade no mundo negocial, podendo provocar até a retração nas relações econômicas.
A boa-fé objetiva e o instituto da lesão, por exemplo, se não tiverem seus pontos básicos definidos por uma jurisprudência firme e eticamente ajustada, poderão desenvolver efeitos perniciosos sobre o mundo dos negócios. Compreende-se então que, a boa-fé objetiva e a lesão são valiosos instrumentos a serem considerados nas relações sociais e na prática dos tribunais, embora requeiram medidas certeiras de aplicação.
Invalidade do negócio abrange tanto a nulidade quanto a anulabilidade do mesmo. O 
Cabe também ressaltar que todo contrato constitui negócio jurídico bilateral. Desse modo, os casos de nulidade e anulabilidade negocial são causas de nulidade e anulabilidade contratual, que geram a extinção dos pactos por causas anteriores ou contemporâneas à sua celebração.
1.1 TÉCNICA DE ELIMINAÇÃO PROGRESSIVA
O jurista Antônio Junqueira de Azevedo (2002), em seu estudo sobre os negócios jurídicos preconiza como método de abordagem a técnica por ele denominada de eliminação progressiva. Essa temática deve ser considerada nos diversos planos que apresenta e na observância de uma ordem lógica: existência, validade e eficácia. 
Ou seja, no primeiro plano, constata-se a existência ou não do ato negocial. Se inexistente, não há de se passar para os planos seguintes. Se existente, cabe a indagação quanto à validade: se válido ou inválido. Se inválido, nulo ou anulável, não há de se cogitar sobre o plano da eficácia, ressalvada uma ou outra exceção de lei. Se válido, alcança-se, finalmente, o plano da eficácia.
2 CLASSIFICAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO
Invalidade do negócio abrange tanto a nulidade quanto a anulabilidade do mesmo. O 
O negócio é nulo (nulidade absoluta) quando fere preceitos de ordem pública, é a falta de elemento substancial ao ato jurídico (art. 166 e 167, do CC. O negócio é anulável (nulidade relativa), quando fere o interesse de um particular. O negocio anulável pode se tornar válido se suprida à deficiência (art. 171, do CC). Há diferenças também para com a inexistência do negócio, que acontece quando falta algum elemento estrutural do negócio, como a vontade.
No Código Civil de 1916 o legislador utilizava a expressão nulidade absoluta para se referir ao negócio jurídico nulo e nulidade relativa para se referir ao negócio jurídico anulável. No Código Civil de 2002 as expressões foram eliminadas, mas continuam sendo utilizadas pela doutrina e jurisprudência.
2.1 INEXISTÊNCIA 
Inexistente é o negócio jurídico que carece de alguns de seus elementos essenciais. A hipótese, portanto, não é de vício, defeito ou imperfeição, é de falta de requisito básico, ou seja, acontece quando falta algum elemento estrutural do negócio, como a vontade. São inexistentes os negócios jurídicos que não apresentam os elementos que formam o suporte fático: partes, vontade, objeto e forma.
Acordam os Desembargadores (Juízes de Direito Substitutos em 2º Grau) integrantes da 9ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao agravo retido e conhecer e dar parcial provimento à apelação. 
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO E REPARAÇÃO DE DANO MORAL. ­ AGRAVO RETIDO. INDEFERIMENTO DE PROVA ORAL. CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. NEGATIVA DE AUTENTICIDADE DE ASSINATURA. PROVA QUE EXIGE CONHECIMENTO TÉCNICO. CONCLUSÃO DA PERÍCIA QUE NÃO PODE SER CONFRONTADA POR PROVA TESTEMUNHAL. ­ CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE MÓVEIS PLANEJADOS. INAUTENTICIDADE DA ASSINATURA ATRIBUÍDA AO COMPRADOR COMPROVADA POR PERÍCIA GRAFOTÉCNICA. INEXISTÊNCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO POR AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO DA VONTADE. ­ PROTESTO DO CONTRATO POR INADIMPLMENTO. ATO ILÍCITO CONFIGURADO. ­ DANO MORAL. RESTRIÇÃO DE CRÉDITO. DANO IN RE IPSA. ­ INDENIZAÇÃO. ARBITRAMENTO COM RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. CONSIDERAÇÃO DA CAPACIDADE ECONÔMICA DAS PARTES E DAS PECULIARIDADES DO CASO. REDUÇÃO DEVIDA. AGRAVO RETIDO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. ­ APELAÇÃO CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA.
Tribunal de Justiça do Paraná TJ-PR – Apelação: APL 15920044 PR 1592004-4 (Acórdão)
No campo prático, sabe-se que não há sequer a necessidade de se promover a ação correspondente, para declarar o negócio jurídico inexistente. Mas, eventualmente, haverá a necessidade de propositura de demanda, a fim de afastar eventuais efeitos decorrentes dessa inexistência de um negócio celebrado, caso, por exemplo, de um casamento. Para essa ação, segundo os adeptos da inexistência, devem ser aplicadas as mesmas regras previstas para a nulidade absoluta.
Acerca da teoria da inexistência Nader (2018) diz que:
A teoria da inexistência surgiu em função de uma lacuna existente no Código Napoleão em matéria de casamento. A Lei Civil criara o princípio de que não há nulidade sem texto, sem, todavia, apresentar um elenco perfeito das nulidades. Assim, o casamento realizado por pessoas do mesmo sexo não poderia ser invalidado, pois faltava esta previsão legal, como várias outras. Coube ao jurista Zacharia von Lighental a teoria dos negócios jurídicos inexistentes, que supria o Direito francês da grave lacuna apresentada.2 Há corrente doutrinária que não admite tal entendimento reconhecendo como nulidade os casos apontados de inexistência. As consequências do ato inexistente e nulo nem sempre são iguais, pois há casos em que este último produz efeitos jurídicos, como no casamento de boa-fé,ex vi do disposto no caput do 1.561 do Código Civil: “Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória”.
2.2 INVALIDADE 
De acordo com a doutrina, e em sentido amplo, “invalidade” é a expressão utilizada para designar o negócio que não produz as consequências desejadas pelas partes. O Código Civil de 2002 fez a opção de utilizar a expressão, tratada entre os seus arts. 166 a 184, os quais consubstanciam a chamada teoria das nulidades do negócio jurídico. Outros juristas preferem utilizar a expressão ineficácia, que representa a situação em que o negócio jurídico não gera efeitos. Todavia, sendo certo que o ato inválido é também ineficaz.
A invalidade constitui sanção, isto por conta de consequência imposta por lei em decorrência de sua inobservância na feitura do ato negocial. A sua antítese, a validade, significa que o ato se reveste de todos os requisitos essenciais e se acha em condições de produzir os efeitos de lei e os convencionais. Ato inválido se distingue de ato inexistente. Aquele reúne os elementos essenciais aos atos negociais, mas contém vício de consentimento ou vício social ou algum outro tipo de imperfeição, como objeto ilícito. 
APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO ORDINÁRIA – INVALIDADE DE NEGÓCIO JURÍDICO – COMPRA E VENDA DE IMÓVEL – DOAÇÃO INOFICIOSA – SIMULAÇÃO – ÔNUS DA PROVA. O ônus da prova incumbe ao autor quanto ao fato constitutivo do seu direito, relativamente à cabal comprovação de doação inoficiosa simulada em contrato de compra e venda de imóvel.
Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJ-MG – Apelação Cível: AC 10525130078369001 MG
2.2.1 Diferenças entre Invalidade e Inexistência
A ausência dos elementos que compõem o plano de existência (partes, objeto, forma e vontade) determina sua inexistência. Já a invalidade decorre da não observância dos requisitos exigidos pelo plano de validade.
É certo que o Código Civil de 2002 não adotou a teoria dos atos existentes e inexistentes, concebida no século XIX, para impedir o casamento entre pessoas do mesmo sexo (entendia-se que a diferença de sexo seria um pressuposto tão elementar do casamento que, se não verificada, não existiria casamento). Entretanto, não são poucos os autores que defendem a importância do plano de existência no estudo dos negócios jurídicos (Pontes de Miranda, Caio Mário da Silva Pereira, Renan Lotufo, Sílvio Venosa, Francisco Amaral etc.).
O ato inexistente é aquele que não preenche os elementos essenciais à sua constituição. Ao contrário dos atos inválidos, o ato inexistente é considerado um simples fato que não tem força para produzir efeitos jurídicos. 
Desta forma, em princípio, não é sequer necessária a propositura de ação judicial para reconhecer o ato como inexistente (o ato existe no mundo dos fatos, mas não no do direito). No entanto, a prática revela que muitas vezes será necessária a propositura de ação declaratória de inexistência. Isso faz com que desapareça o principal fator de distinção entre a inexistência e a nulidade: a necessidade de declaração judicial.
2.2.2 Princípio da Conservação do Negócio Jurídico
Na análise da invalidade deve-se também, respeitar em primeiro plano, o princípio da conservação. Sempre que o juiz puder deve, na medida do possível, tentar conservar o negócio inválido. A chamada Redução do NJ (art. 184, do CC), nada mais é que a aplicação do princípio da conservação. Onde, o juiz afasta a cláusula inválida, mantendo o restante do negócio, ou seja, extirpa-se o que torna tal NJ inválido. 
Ou seja, conforme os termos do art. 184 do Código Civil, “respeitada à intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal”. A aplicabilidade dessa norma se dá tanto às hipóteses de nulidade como às de anulabilidade, preservando, se possível for, parte do negócio jurídico que não esteja contaminado pela invalidade.
2.3 NULIDADE
Ato nulo é o que se forma irregularmente, contrariando norma de ordem pública e por isto é destituído de validade. É consequência lógica e coerente para a hipótese de violação de princípios considerados básicos. O alcance maior da nulidade é a proteção das partes e de terceiros de boa-fé. Há de haver rigor no sistema de nulidades, porque o poder negocial é análogo ao poder legiferante – o contrato faz lei entre as partes. É conceito genérico e abrangente de nulidade e anulabilidade e significa falta de validade, incapacidade para gerar efeito, para valer.
A escolha do legislador por uma ou outra sanção (consequência a ser aplicada) decorre da análise do interesse envolvido. Quando há ofensa a princípios básicos do ordenamento jurídico e, consequentemente, lesão a interesse da coletividade (hipóteses mais graves), o legislador impõe a nulidade. Quando o interesse é particular (hipóteses menos graves), a sanção escolhida é a anulabilidade. A lei considera nulos os negócios jurídicos que apresentam imperfeições mais sérias e por isto não produzem qualquer efeito, ressalvadas as exceções legais, como a do art. 824 do Código Civil de 2002 ou a do art. 1.561. Em geral, todavia, o decreto de nulidade impede a eficácia do ato negocial – “quod nullum est, nullum producit effectum”.
O art. 166 do atual CC, em termos gerais, consagra as hipóteses de nulidade[footnoteRef:2]: [2: CURIA, Luiz Roberto; RODRIGUES, Thaís de Camargo. Direito Civil: parte geral, comentado. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 173-174.
] 
I – celebrado por pessoa absolutamente incapaz: quando a pessoa é absolutamente incapaz sua vontade é desprezada pelo ordenamento jurídico, devendo ser representada (a vontade é substituída) nos atos da vida civil sob pena de nulidade do ato. O rol dos absolutamente incapazes está previsto no art. 3º do Código Civil.
II – for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto: o negócio será nulo se o objeto for: a) ilícito: aquele que viola o ordenamento jurídico (lei, moral, ordem pública ou bons costumes); b) impossível: aquele que não pode ser cumprido em razão dos limites físicos dos seres humanos (impossibilidade física) ou dos limites jurídicos (impossibilidade jurídica); c) indeterminável: aquele que não permite individualização (p. ex.: falta do gênero ou da quantidade em uma obrigação de dar).
III – o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito: o motivo que leva uma pessoa a realizar um negócio jurídico em regra não tem relevância para análise da validade deste. Contudo, quando o motivo for a razão determinante do negócio, há relevância jurídica na sua análise, determinando a nulidade do ato.
IV – não revestir a forma prescrita em lei: em regra o direito civil não exige formalidade para a validade dos negócios jurídicos (Código Civil, art. 107). Contudo, quando esta é exigida e não for cumprida, o negócio será nulo.
V – for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade: embora alguns autores utilizem as expressões “solenidade” e “formalidade” como sinônimas, entendemos que a formalidade diz respeito à exigência de forma escrita, enquanto a solenidade é a exigência de instrumento público (p. ex.: Código Civil, art. 108). A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico sempre que este puder provar-se por outro meio.
VI – tiver por objetivo fraudar lei imperativa: deve ser considerado nulo o negócio jurídico que tenha por objetivo violar norma jurídica considerada de ordem pública (aquelas que não podem ser afastadas pelo exercício da autonomia privada).
VII – a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção: o negócio jurídico será nulo se a lei assim o determinar (nulidade textual ou expressa) ou se proibir a prática do ato sem estabelecer sanção específica (nulidade virtual ou implícita).
2.3.1 Nulidade Parcial ou Total
A nulidade do negócio jurídico pode sertotal ou parcial. Na primeira, o defeito atinge o ato por inteiro. A promessa de compra e venda celebrada por agente absolutamente incapaz apresenta nulidade plena, que alcança não apenas o negócio principal, mas ainda quaisquer cláusulas acessórias. Quando a nulidade é parcial, aplica-se o princípio utile per inutile non vitiatur, aproveitando-se a parte não contaminada do ato, desde que revestida dos requisitos legais. Há casos, todavia, em que a lei veda o aproveitamento da parte regular do ato, conforme a hipótese do caput do art. 848 do Código Civil: “Sendo nula qualquer das cláusulas da transação, nula será esta”.
DIREITO CIVIL. CONTRATOS. RESCISÃO. PRÉVIA CONSTITUIÇÃO EM MORA. NECESSIDADE. EXCEÇÃO DE CONTRATO NÃO CUMPRIDO. REQUISITOS. NULIDADE PARCIAL. MANUTENÇÃO DO NÚCLEO DO NEGÓCIO JURÍDICO. BOA-FÉ OBJETIVA. REQUISITOS. 
- A ausência de interpelação importa no reconhecimento da impossibilidade jurídica do pedido, não se havendo considerá-la suprida pela citação para a ação resolutória. Precedentes.
- A exceção de contrato não cumprido somente pode ser oposta quando a lei ou o próprio contrato não determinar a quem cabe primeiro cumprir a obrigação.
- Nos termos do art.184 do CC/02, a nulidade parcial do contrato não alcança a parte válida, desde que o vício invalidante não atingir o núcleo do negócio jurídico. Ficando demonstrado que o negócio tem caráter unitário, que as partes só teriam celebrado se válido fosse em seu conjunto, sem possibilidade de divisão ou fracionamento, não se pode cogitar de redução, e a invalidade é total. O princípio da conservação do negócio jurídico não deve afetar sua causa ensejadora, interferindo na vontade das partes quanto à própria existência da transação.
- A boa-fé objetiva se apresenta como uma exigência de lealdade, modelo objetivo de conduta, arquétipo social pelo qual impõe o poder-dever de que cada pessoa ajuste a própria conduta a esse modelo, agindo como agiria uma pessoa honesta, escorreita e leal. Não tendo o comprador agido de forma contrária a tais princípios, não há como inquinar seu comportamento de violador da boa-fé objetiva. Recurso especial a que se nega provimento.
(STJ – Resp: 981750 MG 2007/0203871-4, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 13/04/2010, T3 – TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: Dje 23/04/2010)
2.3.2 Nulidade textual e nulidade tácita
Considerando a forma como se apresentam, as nulidades podem ser textuais ou tácitas. Aquelas são expressas em lei, enquanto estas, também denominadas virtuais, são de inferência ou conclusão diante do conteúdo das normas e à vista dos princípios aplicáveis à matéria. Revelam-se pelo espírito da lei e mediante a interpretação sistemática. O papel da doutrina, jurisprudência e Direito Comparado contribui para a sua apuração. Enquanto as nulidades tácitas se aplicam na órbita da autonomia privada, as expressas são próprias das relações em que predominam o interesse público, como nas relações de família.
Ou seja, a nulidade textual é aquela em que a própria norma jurídica dispõe expressamente que o ato será nulo (p. ex.: Código Civil, art. 166). A nulidade virtual ou implícita é aquela deduzida de expressões utilizadas pelo legislador com o fim de proibir a prática de determinados atos (p. ex.: “não pode”, “não se admite” etc.).
2.3.3 Nulidade Absoluta
Nulidade absoluta seria o ato nulo e não está condicionada à iniciativa de parte que firmou o ato. Opera ipso iure ou ipsa vi legis, podendo ser reconhecida espontaneamente pelo juiz ao examinar a matéria durante o andamento de um processo. 
Diante da nulidade absoluta o interesse é público e não particular. Assim, não somente as partes que figuram no ato negocial possuem legitimidade para questionar a nulidade absoluta. Terceiros, com interesses atingidos pelo ato nulo, também são partes legítimas, devendo, contudo, provar o seu interesse de agir. A nulidade absoluta pode ser levada ao judiciário mediante propositura de ação ou suscitada como matéria de defesa e em qualquer etapa do processo, desde que se enseje à parte contrária a oportunidade para dela tomar conhecimento e articular prova e defesa, em respeito ao princípio processual do contraditório.
Na nulidade absoluta, o negócio jurídico não produz efeitos, pela ausência dos requisitos para o seu plano de validade (art. 104 do CC). A nulidade absoluta ofende regramentos ou normas de ordem pública, sendo o negócio absolutamente inválido, cabendo ação correspondente para declarar a ocorrência do vício. 
As nulidades absolutas não são sanáveis com o transcurso do tempo – “quod ab initio vitiosum est, non potest tractu temporis convalescere”. Podem, em qualquer tempo, ser arguidas por interessados ou declarados pelo juiz, uma vez que são perpétuas imprescritíveis.
2.3.3.1 Negócio jurídico simulado
Além das hipóteses do art. 166, o art. 167 do Código Civil dispõe que “é nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma”. O legislador do novel diploma considerou a simulação como simples causa de nulidade diante das inúmeras formas que ela pode revestir, mas a doutrina majoritária continua considerando-a como vício social. Um vício social que determina a nulidade do negócio jurídico. De qualquer maneira, toda modalidade de simulação, mesmo a inocente, é invalidante. Abaixo, segundo Soares Neto (2017), destaca-se os tipos de simulação:
· Simulação como vício social: Consiste num desacordo intencional entre a vontade interna e a declarada para criar, aparentemente, um ato negocial que inexiste, ou para ocultar, sob determinada aparência, o negócio quando, enganando terceiro, acarretando a nulidade do negócio. Mas entendemos que tecnicamente mais apropriado seria admitir sua anulabilidade, por uma questão de coerência lógica ao disposto no caput do art. 167, em que se admite a subsistência do ato dissimulado se válido for na forma e na substância. 
· Simulação absoluta: Ocorre quando a declaração enganosa da vontade exprime um negócio jurídico bilateral ou unilateral, não havendo intenção de realizar ato negocial algum. Por exemplo, emissão de títulos de crédito, que não representam qualquer negócio, feita pelo marido antes da separação judicial para lesar a mulher na partilha de bens. 
· Simulação relativa: Resulta no intencional desacordo entre a vontade interna e a declarada. Ocorrerá sempre que alguém, sob aparência de um negócio fictício, realizar outro que é o verdadeiro, diverso, no todo ou em parte, do primeiro, com o escopo de prejudicar terceiro. Apresentam-se dois contratos: um real e outro aparente. Os contratantes visam ocultar de terceiros o contrato real, que é o querido por eles.
Ao se falar das modalidades de simulação relativa, temos: a) Subjetiva, a parte contratante não tira proveito do negócio, por ser o sujeito aparente. O negócio não é efetuado pelas próprias partes, mas por pessoa interposta ficticiamente. Por exemplo, é o que sucede na venda realizada a um terceiro para que ele transmita a coisa a um descendente do alienante, a quem se tem a intenção de transferi-la desde o início, burlando o art. 496, mas tal situação só se efetivará quando se completar com a transmissão dos bens do real adquirente; b) Objetiva, se respeitar a natureza do negócio pretendido, ao objeto ou a um de seus elementos contratuais; se o negócio contiver declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira. Por exemplo, é o que se dá com a hipótese em que as partes na escritura de compra e venda declaram preço inferior ao convencionado com a intenção de burlar o fisco, pagando menos imposto; se as partes colocarem, no instrumento particular, a antedata ou a pós-data, constante no documento, não aquela em que o mesmo foi assinado, pois a falsa data indica intenção discordante da verdade.
Havendo decretação da invalidação do negócio jurídico simulado, os direitos de terceiro de boa-fé em face dos contratantes deverão ser respeitados.
RECURSO ESPECIAL – AÇÃO CONDENATÓRIA E DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE NEGÓCIO JURÍDICO SIMULADO,CUMULADA COM PEDIDO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE – CESSÃO DE DIREITOS SOBRE BEM MÓVEL CELEBRADA ENTRE A RÉ E A EX-CÔNJUGE DO AUTOR, A FIM DE DISSIMULAR DOAÇÃO – SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA, NA QUAL SE DECLAROU A NULIDADE PARCIAL DO NEGÓCIO JURÍDICO – DECISUM MANTIDO PELA CORTE DE ORIGEM – INTELIGÊNCIA DO DISPOSTO NO ARTIGO 167, CAPUT, DO CÓDIGO CIVIL – DISTINÇÃO ENTRE SIMULAÇÃO ABSOLUTA E RELATIVA – NEGÓCIO JURÍDICO DISSIMULADO (DOAÇÃO) VÁLIDO NA PARTE QUE NÃO EXCEDEU À PARCELA DISPONÍVEL DO PATRIMÔNIO DA DOADORA/OFERTANTE (ARTIGO 549 DO CC), CONSIDERADA A SUBSTÂNCIA DO ATO E A FORMA PRESCRITA EM LEI – RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO. INSURGÊNCIA RECURSAL DO AUTOR.
Superior Tribunal de Justiça STJ – RECURSO ESPECIAL: Resp 1102938 SP 2008/0272721-2
2.3.3.2 Ação declaratória de nulidade
Ainda, conforme analisado quando do estudo dos vícios da vontade, ensina parte da doutrina que o negócio jurídico eivado de coação física (vis absoluta) é nulo de pleno direito, pela ausência de vontade. Vale repetir que alguns doutrinadores entendem que a hipótese é de negócio inexistente. Superada a análise dos casos envolvendo a nulidade absoluta, é imperioso verificar quais os efeitos e procedimentos decorrentes do seu reconhecimento. A sentença declaratória de nulidade absoluta produz efeitos ex tunc. Seus efeitos retroagem para atacar o ato no início, ab initio. Respeitados por óbvio, efeitos em face de terceiros de boa-fé.
Inicialmente, quando há nulidade absoluta, deve ser proposta uma ação declaratória de nulidade que seguia regra geral, o rito ordinário (CPC/1973), atual procedimento comum (CPC/2015). Qualquer interessado ou até mesmo o Ministério Público têm legitimidade para requerer a declaração de nulidade do negócio jurídico nas hipóteses previstas nos arts. 166 e 167 do Código Civil. 
Segundo Caio Mário da Silva Pereira, o legislador do Código Civil de 2002 se afastou do antigo princípio francês do pas de nullité sans grief (não há nulidade sem prejuízo), abandonando o critério do prejuízo para a declaração de nulidade do negócio. Por envolver interesse público, as nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz (decretação de ofício), quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes (Código Civil, art. 168, parágrafo único). 
Essa ação, diante de sua natureza predominantemente declaratória, é imprescritível, ou melhor, tecnicamente, não está sujeita a prescrição ou decadência.
2.3.3.3 imprescritibilidade do negócio jurídico nulo
A imprescritibilidade é justificada porque a nulidade absoluta envolve preceitos de ordem pública, impedindo, consequentemente, que o ato convalesça pelo decurso do tempo (art. 169 do CC).
Dessa forma, com a emergência do Código Civil de 2002, não cabe mais a alegação da prescritibilidade em vinte anos (agora, dez anos – art. 205 do CC), da referida ação de nulidade, tese que não pode mais prosperar. Em reforço e oportunamente, será demonstrado que, sobre a prescrição e a decadência, a nova codificação adotou os critérios científicos propostos por Agnelo Amorim Filho, que relaciona a imprescritibilidade às ações declaratórias (RT 300/7 e 744/725). 
A ausência de consentimento ou outorga uxória em declaração de transferência de imóvel pertencente ao patrimônio do casal é ato jurídico absolutamente nulo e, por isso, imprescritível, podendo sua nulidade ser declarada a qualquer tempo, além de não produzir qualquer efeito jurídico.
Inaplicabilidade à espécie dos artigos 177 e 178 do Código Civil. Precedentes desta Corte.
(STJ, REsp 38.549/SP, 3.ª Turma, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, j. 08.06.2000, DJ 28.08.2000, p. 70).
Contrariamente ao pretendido pelo réu, uma vez que a pretensão da autora tem natureza predominantemente declaratória, não está sujeita ao prazo prescricional. No presente caso a situação é ainda mais específica, visto que a destinação das vagas de garagem não foi objeto de deliberação na convenção do condomínio, que as prevê como indeterminadas e tampouco de deliberação assemblear específica para essa finalidade.
(TJSP, Apelação 0204733-02.2012.8.26.0100, Acórdão 10176343, São Paulo, 10.ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Ronnie Herbert Barros Soares, j. 07.02.2017, DJESP 24.03.2017).
Cabe-se deixar claro que a questão não é pacífica, especialmente na doutrina. Dessa maneira, em resumo, apresentam-se as seguintes correntes: 1ª Corrente: defende a imprescritibilidade da ação declaratória de nulidade, nos termos da redação do art. 169 (Silvio Rodrigues); 2ª Corrente: defende a inexistência de direitos patrimoniais imprescritíveis. Desta forma, a ação declaratória de nulidade deve respeitar o prazo geral de prescrição de dez anos, previsto no art. 205 do Código Civil (Caio Mário da Silva Pereira); 3ª Corrente: defende que a ação declaratória de nulidade é imprescritível, mas pondera que as consequências do ato só podem ser desfeitas dentro do prazo geral de prescrição de dez anos (Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho).
2.3.3.4 Conversão do negócio jurídico
A conversão acarreta nova qualificação do negócio jurídico. Refere-se à hipótese em que o negócio nulo não pode prevalecer na forma pretendida pelas partes, mas, como seus elementos são idôneos para caracterizar outro, pode ser transformado em outro de natureza diversa, desde que isso não seja proibido, taxativamente, como sucede nos casos de testamento. Assim sendo, ter-se-á conversão própria apenas se verificar que os contratantes teriam pretendido a celebração de um contrato, se tivessem ciência da nulidade do que realizaram. A conversão subordinar-se-á à intenção das partes de dar vida a um contrato diverso, na hipótese de nulidade do contrato que foi por elas estipulado, mas também à forma, por ser imprescindível que, no contrato nulo, tenha havido observância dos requisitos de substância e de forma do contrato em que poderá ser transformado para produzir efeitos.
Tal dispositivo é inovador e admitido pelo Código Civil de 2002, conforme o seu art. 170, que prescreve: “Se o negócio jurídico nulo contiver requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam às partes permitir supor que o teriam querido se houvessem previsto a nulidade”. Ou seja, admite-se a conversão do negócio jurídico nulo em outro de natureza diferente.
Como exemplo de conversão, podemos citar a celebração de um contrato de compra e venda de um imóvel com valor superior a trinta salários mínimos mediante instrumento particular. Por força do disposto nos arts. 108 e 166, V, do Código Civil, o negócio jurídico será nulo, mas qualquer uma das partes poderá requerer em juízo a conversão dele em um compromisso de compra e venda que, independentemente do valor, pode se valer do instrumento particular.
Quanto às críticas a tal procedimento vem da temática de seu reconhecimento contrariar a sistemática anterior, pela qual não era admitido o aproveitamento do negócio jurídico nulo. Com a nulidade absoluta o negócio era aniquilado, transformando-se em cinzas. Agora é possível a conversão do negócio nulo em outro negócio jurídico, aproveitando-o em certo sentido. Para tanto, a lei exige um elemento subjetivo, eis que é necessário que os contratantes queiram o outro negócio ou contrato para o qual o negócio nulo será convertido. Implicitamente, devem ter conhecimento da nulidade que acomete o pacto celebrado. 
Segundo o Enunciado n. 13 do CJF/STJ, aprovado na I Jornada de Direito Civil, há também um requisito objetivo, eis que “o aspecto objetivo da conversão requer a existência do suporte fático no negócio a converter-se”. Pelo que consta do enunciado, é necessário que a situação fática permita a conversão, particularmente pela certa similaridade entre os elementos do negócio nulo e daquele para o qual ocorrerá a conversão. Em outras palavras, o negócio a ser convertido deve apresentar os pressupostos de existência (suporte fático) e os requisitos de validade
Nesse sentido, Tartuce (2018) resume que “a conversão do negócio jurídico constituio meio jurídico pelo qual o negócio nulo, respeitados certos requisitos, transforma-se em outro negócio, totalmente válido, visando à conservação contratual e à manutenção da vontade, da autonomia privada. Constata-se que o art. 170 do CC/2002 consagra uma conversão subjetiva e indireta. Subjetiva porque exige a vontade das partes; indireta porque o negócio nulo é convertido em outro.
O contrato de doação é, por essência, solene, exigindo a Lei, sob pena de nulidade, que seja celebrado por escritura pública ou instrumento particular, salvo quando tiver por objeto bens móveis e de pequeno valor. A despeito da inexistência de formalidade essencial, o que, a priori, ensejaria a invalidação da suposta doação, certo é que houve a efetiva tradição de bem móvel fungível (dinheiro), da recorrente a sua filha, o que produziu, à época, efeitos na esfera patrimonial de ambas e agora está a produzir efeitos hereditários. Em situações como essa, o art. 170 do CC/2002 autoriza a conversão do negócio jurídico, a fim de que sejam aproveitados os seus elementos prestantes, considerando que as partes, ao celebrá-lo, têm em vista os efeitos jurídicos do ato, independentemente da qualificação que o direito lhe dá (princípio da conservação dos atos jurídicos). Na hipótese, sendo nulo o negócio jurídico de doação, o mais consentâneo é que se lhe converta em um contrato de mútuo gratuito, de fins não econômicos, porquanto é incontroverso o efetivo empréstimo do bem fungível, por prazo indeterminado, e, de algum modo, a intenção da beneficiária de restituí-lo. Em sendo o negócio jurídico convertido em contrato de mútuo, tem a recorrente, com o falecimento da filha, legitimidade ativa e interesse de agir para cobrar a dívida do espólio, a fim de ter restituída a coisa emprestada.
(STJ, REsp 1.225.861/RS, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJE 26/05/2014).
2.3.4 Nulidade Relativa ou Anulabilidade
A nulidade relativa envolve preceitos de ordem privada, de interesse das partes, o que altera totalmente o seu tratamento legal, se confrontada com a nulidade absoluta. Sendo assim, anulabilidade é a sanção imposta pela lei quando presente violação de interesses particulares. Ao contrário da nulidade, que apresenta um estado fixo (o negócio já nasce nulo), a anulabilidade revela um estado mutável (o negócio nasce com a possibilidade de ser anulado). É por essa razão que o negócio jurídico nulo não produz efeitos, e o negócio jurídico anulável produz efeitos até ser anulado. No curso de uma demanda, ainda que a nulidade relativa se mostre claramente, o juiz dela não poderá tomar conhecimento para anular, salvo se objeto da ação e produzirá efeito antes de julgada por sentença.
Essa sentença tem natureza desconstitutiva e eficácia ex nunc consoante doutrina majoritária. Entretanto, há quem entenda que a eficácia seria ex tunc em razão do disposto no art. 182 do Código Civil: “anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente.
Não é qualquer interessado que pode pleitear a anulação, apenas a parte prejudicada na relação negocial. Às vezes a lei define quem possui legitimidade para requerer. A nulidade relativa ou anulabilidade se aplica aos atos com vício de vontade ou de consentimento e à incapacidade relativa. Quanto aos vícios de consentimento, a lei brasileira determina a nulidade absoluta dos atos simulados. A anulabilidade visa a proteger uma pessoa contra ato de sua própria inexperiência. 
As hipóteses de nulidade relativa ou anulabilidade constam do art. 171, do CC:
· Quando o negócio for celebrado por relativamente incapaz, sem a devida assistência, conforme rol que consta do art. 4.º do CC.
· Diante da existência de vício a acometer o negócio jurídico, como o erro, o dolo, a coação moral ou psicológica, a lesão, o estado de perigo ou a fraude contra credores. Lembre-se que a coação física e a simulação são vícios do negócio jurídico que geram a sua nulidade absoluta, não a nulidade relativa. 
· Nos casos especificados de anulabilidade. Exemplifica-se com as previsões dos arts. 1.647 e 1.649 do atual Código. Para determinados atos, elencados no primeiro dispositivo, como no caso da venda de bem imóvel, a norma exige a outorga uxória (mulher) ou marital (marido). Desrespeitado esse dispositivo, caberá ação anulatória a ser promovida pelo cônjuge, no prazo decadencial de dois anos, contados do fim da sociedade conjugal (art. 1.649). Destaque-se ainda, para ilustrar, a previsão do art. 496 do CC, segundo o qual é anulável a venda de ascendente a descendente não havendo autorização dos demais descendentes e do cônjuge do alienante.
Além das hipóteses previstas no art. 171, o Código Civil apresenta diversas outras hipóteses de anulabilidade: arts. 117, 119, 141, 496, 533, II, 1.550, 1.558, 1.649 e 2.027.
2.3.4.1 Ação anulatória
Nas situações concretas de anulabilidade, o seu reconhecimento deverá ser pleiteado por meio da denominada ação anulatória, que também seguia regra geral, o rito ordinário, correspondente ao procedimento comum do Novo CPC. Tal ação tem natureza constitutiva negativa, estando relacionado com direitos potestativos, o que justifica os prazos decadenciais a elas referidos (critério científico de Agnelo Amorim Filho, objeto do próximo capítulo). Esses prazos, regra geral, estão previstos nos arts. 178 e 179 do CC.
O primeiro dispositivo aplica-se em casos específicos, envolvendo a capacidade relativa e os vícios do negócio jurídico. Nos casos envolvendo a incapacidade relativa e a coação, os prazos são contados da cessão, o que parece justo e correto. Nas situações de erro, dolo, coação moral, estado de perigo, lesão e fraude contra credores, o início do prazo se dá com a realização do negócio, o que deve ser tido como celebração do ato, ou seja, quando ele passa a ser válido no campo jurídico.
Declaratória de nulidade de ato jurídico. Autora que alega ter assinado documento permitindo que o réu adquirisse veículo em seu nome, sendo induzida a erro. Documento assinado em setembro de 2008 e ação ajuizada em setembro de 2013. Negócio jurídico celebrado com erro ou dolo que é anulável. Art. 138 do CC. Prazo decadencial de 4 anos previsto para anular negócios jurídicos celebrados com vício de consentimento. Art. 178, II, CC. Decadência reconhecida. Recurso provido para tanto.
(TJ-SP – APL: 40095531520138260562 SP 400955553-15.2013.8.26.0562, Relator: Maria da Cunha, Data de Julgamento: 06/04/2017, 4º Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 10/04/2017)
O segundo dispositivo consagra um prazo geral de decadência para se anular o negócio jurídico, de dois anos, contados da sua conclusão (também no sentido de celebração), quando não houver prazo especial fixado pelo texto legal. De qualquer modo, há quem entenda que os prazos dos arts. 178 e 179 do Código Civil devem ser contados não da celebração do ato, mas da sua ciência correspondente. Dessa feita, no caso de uma venda de imóvel, o prazo decadencial para a ação anulatória deve ser contado do registro imobiliário, e não da elaboração da escritura.
Direito civil. Agravo no recurso especial. Ação pauliana. Prazo decadencial. Termo inicial. Registro Imobiliário. – A decadência é causa extintiva de direito pelo seu não exercício no prazo estipulado em lei, cujo termo inicial deve coincidir com o conhecimento do fato gerador do direito a ser pleiteado. – O termo inicial do prazo decadencial de quatro anos para propositura da ação pauliana é o da data do registro do título aquisitivo no
Cartório Imobiliário, ocasião em que o ato registrado passa a ter validade contra terceiros. Precedentes. Agravo no recurso especial não provido. (STJ, AgRg no REsp 743.890/SP, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20.09.2005, DJ 03.10.2005, p. 250).
2.3.4.2 Ato de confirmação expresso ou tácito
O negócio jurídico anulável pode ser confirmado pelas partes, retroagindo à data em que foi celebrado o ato. Essa confirmação do ato não será possível se prejudicar direitode terceiro de boa-fé. O ato de confirmação pode ser expresso ou tácito. Se a confirmação for expressa, deverá conter a substância do negócio celebrado e a vontade expressa de mantê-lo. Também deverá ser observada a solenidade se esta for da substância do ato.
A confirmação tácita pode ser verificada em duas hipóteses: a primeira decorre do fim do prazo decadencial para a anulação do negócio; a segunda resulta do cumprimento parcial do negócio pelo devedor, quando ciente do vício que o inquinava (o art. 174 dispõe que é escusada – ou seja, dispensada – a confirmação expressa nesta situação).
A confirmação expressa, ou a execução voluntária de negócio anulável, nos termos dos arts. 172 a 174 importa a extinção de todas as ações, ou exceções, de que contra ele dispusesse o devedor (art. 175). Quando a anulabilidade do ato resultar da falta de autorização de terceiro, será validado se este a der posteriormente (art. 176).
A ação anulatória deverá ser proposta no prazo decadencial de quatro anos, contado: I – no caso de coação, do dia em que ela cessar; II – no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico; e III – no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.
Se a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato (Código Civil, art. 179). Esse prazo, por exemplo, deve ser observado na ação anulatória de venda de ascendente a descendente, sem autorização dos demais descendentes (art. 496).
O art. 180 do Código Civil consagra a regra pela qual a malícia supre a incapacidade, ao dispor que “o menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior”.
Por fim, o art. 181 do Código Civil dispõe que “ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não provar que reverteu em proveito dele a importância paga”.
3 CONCLUSÃO
Em relação ao termo “invalidade”, pode-se dizer que abrange a nulidade e a anulabilidade. A invalidade dos negócios jurídicos decorre de variados motivos, todavia, tem a sua causa fundamental no descumprimento de normas jurídicas, ainda que esse motivo possa ser a não observância de cláusula contratual.
Após tratar dos vícios do negócio jurídico, o Código Civil de 2002 dispõe sobre a nulidade e anulabilidade no Capítulo V (“Da invalidade do negócio jurídico”), em seus arts. 166 a 179 e também observa-se que o negócio jurídico será nulo se não atender ao disposto no art. 104 do Código Civil, que impõe o atendimento de três requisitos para a validade do negócio: a) agente capaz; b) objeto lícito, determinado ou determinável; c) forma lícita ou não vedada em lei.
O art. 180 trata da questão do menor que “entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.” A respeito do proveito o art. 181 diz que “ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não provar que reverteu em proveito dele a importância paga.” 
A eficácia diz respeito aos efeitos dos negócios jurídicos e estes ganham eficácia a partir da celebração do ato, salvo quando houver condição suspensiva, o art. 182 prevê que “anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente.” E o art. 184 prelecione que, caso “respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal.” Por fim, o art. 183 normatiza sobre o instrumento contratual, onde “a invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico sempre que este puder provar-se por outro meio.”
REFERÊNCIAS:
AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio Jurídico: existência, validade e eficácia, 4. ed., São Paulo: Editora Saraiva, 2002.
CURIA, Luiz Roberto; RODRIGUES, Thaís de Camargo. Direito Civil: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2015.
NADER, Paulo. Curso de direito civil: parte geral. v. 1. 11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2018.
SOARES NETO, Paulo Byron. Da Invalidade do Negócio Jurídico: art. 166 a 184 do código civil comentado. Jus Brasil, 2017. Disponível em: <https://paulobyron.jusbrasil.com.br/artigos/470552776/da-invalidade-donegocio-
Jurídico> Acesso em: 26 jun. 2020.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 8. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2018.

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