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CONCEIÇÃO, Lourivaldo da. Curso de Direitos Fundamentais. Campina Grande: Editora da Universidade Estadual da Paraíba, 2016. RESUMO Mariana Galvan dos Santos[footnoteRef:1] [1: Acadêmica do Nível III do Curso de Direito da Universidade de Passo Fundo, Campus Casca.] Parte III – Os Direitos Fundamentais na Constituição de 1988 Título II – Direitos Individuais Capítulo I: Direitos à vida O direito à vida começou a ser discutido apenas após as atrocidades da Segunda Guerra Mundial, positivado na Declaração Universal de Direitos Humanos em seu Art 3º “todo homem tem direito à vida”, e outros dispositivos legais no âmbito internacional e na Nova Constituição Federal brasileira, no caput do Artigo 5º “garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida”. Apesar de ser um direito fundamental positivado em diversos documentos, este ainda é negligenciado. O direito à vida compreende diversos direitos essenciais. Entre eles, um direito que está cercado de diversas polêmicas, o direito de nascer. Para os contrários ao aborto, esse direito existe, pois afirmam que a vida começa logo após a fecundação, e assim o aborto significaria matar deliberadamente um embrião humano em formação, alega Dworkin. Ainda sobre essa visão conservadora, a alegação está acerca de que o nascituro já é uma pessoas com direitos e interesses, inclusive o direito de nascer e de não ser morto, e prestam-se a olhar a Constituição na parte em que assegura a inviolabilidade do direito à vida desde a concepção. Kant acredita que “a vida do nascituro não pode ser sacrificada por causa do bem-estar da gestante”. Os maiores defensores da “vida” são os católicos desde a antiguidade. A maioria de pessoas favoráveis à pratica do aborto seguro são as feministas, levando em consideração que a causa defende a igualdade entre homens e mulheres, o direito ao próprio corpo, direito à privacidade, responsabilidade das mulheres, entre outros. Tratando do direito de nascer, os favoráveis ao aborto acreditam que esse direito inexiste ao nascituro pois o feto recém-concebido não passa de um aglomerado de célular. Levando em consideração que este feto faz parte da mulher/gestante e muitas vezes acaba frustrando um projeto de vida da mesma assim, além de alterações hormonais e físicas. Por isso, o feminismo trata uma gravidez indesejada como uma violação do direito da mulher à autonomia, liberdade, saúde, privacidade (no sentido de liberdade de decisão sobre seu corpo) e no sentido em que a mulher, e somente ela poderá tomar essa decisão. Tanto os defensores quanto os contrários defendem o direito à vida, porém com uma diferença significante, na visão dos conservadores, acreditam que a morte não pode ser antecipada em hipótese nenhuma, enquanto os liberais dispõem sobre a proeminência do investimento pessoal (não-frustração dos projetos pessoais) acima do investimento natural (nascimento do suposto feto). No Brasil, os Códigos Penais sempre criminalizaram o aborto, alguns mais severamente, hoje, o aborto somente pode ser praticado se for terapêutico (para salvar a vida da mãe) ou sentimental (quando a gravidez advém de um estupro). O STF acabou abrangendo o aborto de anencéfalos, como disse o Ministro Marco Aurélio Mello: “Aborto é crime contra a vida. (...) No caso do anencéfalo, não existe vida possível.” Segunda noção de direito à vida é o direito à integridade física e moral, ou seja, o direito de permanecer vivo e íntegro. Somente a Constituição de 1988 incluiu o direito à integridade psicológica, as anteriores regularam apenas o direito à integridade física. Quem assegura essa integridade é o Estado, a partir de suas organizações (polícia, judiciário, entre outros), consiste em pôr em prática os dispostos no Código Penal acerca das violações. Além disso, o indivíduo tem o direito de se abster de qualquer ato que possa colocar em risco sua integridade. Todavia, existem exceções, quando há consentimento do indivíduo e não sejam atentatórias à legislação, por exemplo, uma intervenção cirúrgica ou um esporte perigoso. Além disso, e o que mais importa para o Direito Constitucional são as violações legais da integridade física das pessoas, divididas por Robert Et Duffar em dois grupos: - Violações legais da integridade física das pessoas por motivo de segurança pública (quando o Estado pode agir com força física – é exemplo proteção de pessoas, prisão...) e; - Violações legais da integridade física das pessoas por motivo de saúde pública (podendo citar internações psiquiátricas compulsórias, vacinação obrigatória...). - Os atos criminosos que o Estado pode praticar contra a integridade física dos cidadãos são: a) Genocídio: atos cometidos com a intenção de destruir um grupo de pessoas, seja ele nacional, étnico, racial ou religioso, não é previsto pela Constituição Federal brasileira; b) Esterilização eugênica: tem como objetivo impedir que doentes mentais, epiléticos, desviados sexuais ou criminosos sexuais reincidentes, realizem atos sexuais sem o consentimento da vítima, no Brasil não é permitida, pois é inconstitucional a aplicação de penas cruéis; c) Experiência científica em seres humanos: em diversos países, como Alemanha-nazista, Japão e Estados Unidos, doenças foram implantadas ou negligenciadas, para estuda-las, levando muitas pessoas à óbito, por isso em 1964 foram aprovadas normas internacionais acerca do tema. É disposta pelas Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas em Seres Humanos no Brasil e conclui-se que a pesquisa deve se pautar nos princípios bioéticos, tais como: autonomia, não-maleficência, beneficência e justiça, mas aponta-se que a aprovação de pesquisa com embriões humanos a teoria eugenista – aquela que pretende uma seleção nas coletividades humanas – poderá voltar a rondar a sociedade contemporânea; d) tortura: é o emprego de violência ou grave ameaça causando sofrimento para constranger alguém, foi proibida em âmbito internacional na Declaração dos Direitos Humanos e no Pacto dos Direitos Civis e Políticos. Foi muito utilizada no Brasil durante o Estado Novo e a Ditadura Militar e durante a redemocratização contra presos comuns, mas a Constituição Federal se preocupou em proibir e criminalizar, Artigo 5º, III “ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante” e XLIII “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática de tortura” respectivamente e; e) Pena de morte: os defensores acreditam que ela impede que um criminoso volte a matar e que seria uma satisfação para a família da vítima deste, já os contrários relatam que a justiça pode levar muitos inocentes à morte, que os criminosos são vítimas da sociedade e que violência gera violência, mesmo assim, onde ela é admitida, apenas poderá ser realizada após o transito em julgado da sentença, a Constituição brasileira apenas admite a pena de morte no caso de guerra declarada. O direito à vida no direito de dispor do próprio corpo é um dos mais polêmicos e depende da não-intervenção do Estado, levando em consideração que ele está relacionado a dilemas como: a) Aborto: a decisão de abortar compete à mulher, em seu íntimo, fundamentando na liberdade, privacidade e faculdade de decisão; b) Liberdade de procriar e de não-procriar: consiste na ideia de que cabe somente ao indivíduo a decisão de procriar ou não; c) Direito de dispor das partes separadas do corpo: o direito à integridade física é intransferível e irrenunciável mas abre-se exceções (nenhuma pode ser cedida onerosamente e só poderá ceder caso não lhe faça falta o tecido, órgão ou parte do corpo. Distinguem-se em: > transplante do corpo vivo: qualquer pessoa maior e capaz pode dispor de órgãos, tecidos ou partes do corpo, desde que por doação e com autorização judicial, caso seja de menor, com autorização dos responsáveis. O transplante só pode ocorrer com o consentimento expresso do receptor ou seu responsável em caso de incapacidade; > transplante post mortem: o transplantede órgão do de cujus só poderá ser realizado com autorização de um familiar capaz. d) Direito à morte digna: o indivíduo deve ter direito à morte digna, além de uma vida digna e isso levanta questões como: > Suicídio: há quem acredita que é o maior ato de liberdade do homem. No Brasil é um ato ilícito, assim como sua tentativa mas não é punível. > Eutanásia: é a antecipação da morte de alguém que sofre com uma doença terminal ou incurável, por pedido do paciente ou sua família, com o uso de remédios. É crime no Brasil. > Ortotanásia ou Eutanásia Passiva: deixa-se de dar os medicamentos ao indivíduo ou desligam-se os aparelhos, únicos meios os quais a pessoa continua viva. Essas questões levantam muitas questões como: Autonomia (essas decisões poderiam estar testamentadas ou poderiam ser feitas procurações para familiares tomar a decisão, outros discordam); Interesses fundamentais do paciente (alguns entendem que a morte atenderia melhor ao interesse de doentes vegetativos, outros dizem que não tem como presumir o que um paciente nesse estado preferiria, uma vez que nem sabe o estado em que se encontra) e; O valor intrínseco da vida/santidade da vida humana (Igreja Católica acredita que a maior afronta à vida seria a morte, já os a favores da eutanásia acreditam que se o valor da vida se dá a ela naturalmente e não ligada à aparelhos ou vivendo a base de medicamentos). e) Direito de dispor do próprio corpo para fins lucrativos: a prostituição é o maior exemplo de venda do corpo sem praticar ato criminoso, alguns entendem que a prostituta não vende seu corpo e sim seu serviço.
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