Buscar

Artigo ABORTO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Faculdade Anhanguera de Brasília – FAB
Grupo de Estudos Constitucionais – GRESCONS
DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO
DECRIMINALIZATION OF ABORTION
Mariana Santos do Lago[footnoteRef:1] [1: Mariana Santos do Lago – Discente do Curso de Direito na FAB de RA: 257715716196 e e-mail: msantosdolago@gmail.com] 
SUMÁRIO: I. Introdução. 2. O Conceito de Aborto e sua Previsão Legal. 3. Abordagem da Decisão do Supremo Federal. 3.2. HC 124306. 3.2. ADPF 54. 3.3. ADI 3510. 4. Considerações Finais. 5. Referências Bibliográficas
 RESUMO
 Atualizando o debate, buscando conhecer e confrontar os argumentos contra e a favor da descriminalização do aborto voluntário até o primeiro trimestre da gestação, sobretudo fazendo ligações entre os direitos fundamentais em tensão, com o direito à vida em contraposição ao direito à integridade física, psíquica e liberdade da gestante, sua autonomia e seu direito reprodutivo. Paralelamente, discute-se a intervenção do STF em torno do direito à vida, uma análise do que é a vida (quando ela começa e porque isso é relevante no tema e na decisão em questão), no sentido de poder decidir sobre algo que envolve toda a sociedade.
Palavras Chaves: descriminalização - aborto - primeiro trimester direitos - tensão
ABSTRACT
Updating the debate, seeking to know and confront the arguments against and in favor of the decriminalization of voluntary abortion until the first trimester of gestation, especially by making links between the fundamental rights in tension, with the right to life as opposed to the right to physical, psychic integrity and freedom of the pregnant woman, her autonomy and her reproductive right. At the same time, the STF's intervention on the right to life, an analysis of what life is about (when it begins and why it is relevant in the theme and decision in question), in the sense of being able to decide on something that involves whole society.
Keywords: decriminalization – abortion - first trimester – rights – tension
1. INTRODUÇÃO
Não há como falar em Direito à Vida sem discorrer sobre um tema que é antigo e da atualidade ao mesmo tempo, cuja criminalização e ação do Estado vem sendo alvo de discussões por anos. No entanto, tratamos aqui os principais aspectos no que se diz respeito ao aborto[footnoteRef:2], assunto repleto de polêmicas. [2: ABORTO: É a interrupção de uma gravidez resultante da remoção de um feto ou embrião antes de a capacidade de sobreviver fora do últero.] 
Com o passar das décadas foi se transformando a nossa sociedade, e não seria nada diferente ao se tratar do aborto. As inúmeras discussões acerca do tema que daria à mulher o direito de interromper voluntariamente a gestação, observa-se que análises vem sendo realizadas num processo progressivo, e podemos perceber isso a partir da apreciação do Habeas Corpus nº 124.306/RJ, sinais que tem sido direcionados ao Supremo Tribunal Federal admitindo o aborto voluntário[footnoteRef:3] nas 12 (doze) semanas de gestação, em decorrência de diversos motivos que à frente será trabalhado, fazendo análises frente à Carta Magna, que se encontra no topo das demais normas infraconstitucionais[footnoteRef:4], assim como, o Código Penal, que sanciona quem desrespeita o direito à vida. [3: ABORTO VOLUNTÁRIO: O aborto provocado (ou induzido) é a interrupção voluntária da gravidez.] [4: INFRACONSTITUCIONAL: Relacionado com as normas, preceitos e regras de teor inferior ou menos importante em relação às regras estabelecidas pela Constituição Federal.] 
Entrando, na premissa de ideal sobre o direito à vida que o nosso Código Penal traz sanções para quem desrespeita este direito (o mesmo que é constitucional, supra constitucional e universal), não podemos falar que esse é um direito absoluto, pois quando falamos em penalizar a prática da interrupção de gravidez, o mesmo já possui as possibilidades permitidas, quais sejam, o aborto terapêutico[footnoteRef:5] e o aborto proveniente de gravidez por estupro, além do aborto em casos de feto anencefálico, o mais recente. [5: ABORTO TERAPÊUTICO: Denomina-se aborto terapêutico o aborto provocado (não-espontâneo) pelas seguintes motivações: para salvar a vida da gestante. Para preservar a saúde física ou mental da mulher. Para dar fim a uma gestação que resultaria numa criança com problemas congênitos que seriam fatais ou associados com enfermidades graves.] 
Ao abordar sobre aborto, temos a ciência que aqui há duas correntes de pensamentos e defesas. De um lado entende-se, a proteção do direito à Vida levando em consideração que a sociedade se opõe à prática do aborto, uma vez que apesar de estar dentro de seu corpo, a mulher carrega dentro de si outro ser humano e não algo que a prejudique. 
Desse modo, a mesma não poderia simplesmente decidir sobre algo que não lhe pertence, tendo que garantir ao feto o direito à vida, conforme dispõe o artigo 5º, caput, da Constituição Federal Brasileira (1988), que todos são iguais perante a lei, sem que haja qualquer distinção de qualquer natureza, sendo a segurança um dos direitos assegurados e o inciso III – garante que ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; e o inciso XLI – diz que a lei punirá qualquer descrinação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais.
Divergindo desse comando constitucional, há os movimentos feministas, com alguns grupos de apoio, que por meio de algumas ações vêm exigindo do governo posicionamentos acerca do tema com argumentos como: “o corpo é meu, eu decido”. Obserava –se que grande parte da população é favorável à descriminalização, porém, o tema vem confrontando diretamente líderes religiosos e a sociedade em geral, não só aqui no país mas em várias partes do mundo.
O presente artigo trata da tipificação do crime de aborto afirmando quais os direitos constitucionais fundamentais ligam-se ao tema, a forma que o assunto se faz presente na mídia brasileira, a responsabilidade do Estado, quais as medidas alternativas, decisões do Supremo Tribunal Federal em face do direito à vida, além de análise do que é a vida – quando ela começa e quando termina – além dos valores e evolução da sociedade.
Quanto a estrutura do mesmo, faz-se necessário a análise do crime de aborto e sua previsão legal, de forma a tratar do conceito e sua previsão legal em nossa legislação em um mesmo tópico, em seguida, adentraremos na descriminalização do aborto em face dos direitos constitucionais fundamentais e por fim, as considerações finais. 
1. O CONCEITO DE ABORTO E SUA PREVISÃO LEGAL
O aborto[footnoteRef:6] é facilmente entendido pela remoção de um feto ou embrião antes de este ter a capacidade de sobreviver fora do útero materno, ou seja, da vida intrauterina, não sendo viável o desenvolvimento extrauterino. Dito de outra forma, a interrupção de uma gravidez dependendo do período gestacional em questão. Um aborto que ocorra de forma espontânea denomina – se aborto espontâneo ou interrupção involuntária da gravidez. [6: ABORTO: Etimologicamente, a palavra aborto tem origem no latim, sendo decorrente da composição entre ab (privação) e ortus (nascimento). A palavra aborto significa, então, privação do nascimento. (GALVÃO, 2013,p.116).] 
De acordo com o filósofo Tomás de Aquino (1265 a 1273, p. 850) cita em sua obra que a “A alma racional, que não é transmitida pelos pais, é infundida[footnoteRef:7] por Deus a medida que o corpo humano está apto para recebê-la”. [7: INFUDIDA: Ato de infundir, entrar, penetrar.] 
Segundo o entendimento de Alexandre de Morais (2011, p.80) “ O direito à vida é o mais fundamental de todos os direitos, pois o seu asseguramento impõe – se, já que se constitui em pré-requisito à existência e exercício de todos os demais direitos.
Trata – se de um tema bastante delicado e segundo o entendimento de Matielo (1994), o Código de Hamurabi já era contra o aborto praticado pois em seu teor já previa indenização, onde o valor era estipulado com ou sem a morte da mulher, além de, analisar se a mulher era livre ou escrava, para que o valor fossefixado. E caso a mulher livre viesse a morrer, a filha da mesma era morta; e na morte da mulher escrava, o seu senhor recebia a indenização.
Levando em conta que o nosso Código Penal não deixa claro o conceito de aborto, cabe à doutrina e jurisprudência conceituá-lo. Podemos entender um pouco mais sobre o assunto nas palavras de Masson (2015, p.89) que entende:
Aborto é a interrupção da gravidez, da qual resulta a morte do produto da concepção. Para Giuseppe Maggiore, “é a interrupção violenta e ilegítima da gravidez, mediante a ocisão de um feto imaturo, dentro ou fora do útero materno”. Fala-se também em abortamento, pois alguns sustentam que o aborto significa na verdade o produto morto ou expelido do interior da mulher. É com a fecundação que se inicia a gravidez. A partir de então já existe uma nova vida em desenvolvimento, merecedora da tutela do Direito Penal. Há aborto qualquer que seja o momento da evolução fetal. A proteção penal ocorre desde a fase em que as células germinais se fundem, com a constituição do ovo ou zigoto, até aquela em que se inicia o processo de parto, pois a partir de então o crime será de homicídio[footnoteRef:8] ou infanticídio[footnoteRef:9]. [8: HOMICÍDIO: o ato de matar uma pessoa, quer seja de forma voluntária ou involuntária] [9: INFANTÍCIDIO: implica matar um bebê durante ou logo depois do parto, estando sob o efeito do estado puerperal.] 
Rogério Greco (2017, p.170) trata em sua obra que o assunto em questão talvez seja o que mais apresenta controvérsias da atualidade entre as infrações penais. E devido à não descrição objetiva do aborto pelo código penal, no entanto, se usa a expressão provocar aborto, por isso a jurisprudência e a doutrina ficam com a responsabilidade de descrever o termo.
 Bruno apud Grecco (2017, p.170): 
“Segundo se admite geralmente, provocar aborto é interromper o processo fisiológico da gestação, com a consequente morte do feto. Tem-se admitido muitas vezes o aborto ou como a expulsão prematura do feto, ou como a interrupção do processo de gestação. Mas nem um nem outro desses fatos bastará isoladamente para caracterizá-lo.
	O tema nada mais é que um assunto delicado e que há inúmeras polêmicas pois engloba entendimentos de todos os sentidos que giram em torno da vida intrauterina, desde morais, religiosos, científicos e entre os doutrinadores do direito, cada um seguindo seu entendimento legislativo, ou em relação a sua convicção pessoal, motivados pelos fatores acima citados.
	Em defesa da criminalização, os professors Ives Gandra Martins, Roberto Vidal da Silva Martins e Ives Ganda Martins Filho (2008), entendem que o art.2º do Código Civil garante todos os direitos do nacituro[footnoteRef:10] desde sua concepção, o que não condiz em ter todos os direitos menos o direito à vida. [10: NACITURO: é aquele que irá nascer, que foi gerado e não nasceu ainda. É considerado sinônimo de feto e existe uma grande controvérsia se, mesmo tendo vida, um feto pode ser considerado um ser humano e quais direitos que este ser possui.] 
O Direito Penal não considera a prática do crime quando o mesmo é espontâneo, não se importando para quais motivos corroboraram para o fato, desde que sem intervenção humana.
Depois da evolução histórica do tema, os que defendem a proteção à vida intrauterina tomam como fundamento, não somente o art. 5º da Constituição Federal, como também do decreto nº 678/92 que promulga a convenção americana, segundo art. 4º “toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida.  Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente”.
Mesmo diante da disposição do decreto em comento e da convenção, “data vênia”[footnoteRef:11], existem disposições em contrário em torno da aplicação das normas da convenção, em que pese não concordarem com a aplicação da convenção como barreira para a descriminalização do aborto no Brasil. [11: DATA VÊNIA: expressão respeitosa com a qual se inicia uma argumentação, contrariando a opinião de outrem; com a devida licença] 
O Crime de aborto está tipificado entre os artigos 124 a 128 do Código Penal Brasileiro. Dentro do crime de aborto existem várias modalidades e em todas elas o bem jurídico tutelado será sempre o mesmo: a vida humana intrauterina daquele feto ou embrião. Assim sendo, o verbo do tipo que descreve a conduta será sempre o de “provocar aborto”, configurando a conduta que gera a interrupção do processo gestacional.
Há cerca de 7 anos, precisamente em 12/04/2012, o Supremo Tribunal Federal em sede de julgamento da ADPF n. 54 (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental), trouxe inovação quando julgou pela inconstitucionalidade do crime de aborto nos casos em que o feto é anencefálico.
O que leva a crer que essa decisão pode indicar que o período gestacional até o 3º mês será descriminalizado no Brasil. O referido julgamento se deu por maioria de votos, que teve como base a observância da inviabilidade de vida extrauterina do nascituro, como também os danos físicos e psicológicos que estariam sendo imposto à gestante que durante a gravidez carregaria o feto tendo consciência que não há condições de sobrevida e o trauma que a situação traz à mulher fere os preceitos de nossa Carta Magna.
Nesses casos em conformidade com o princípio da proporcionalidade não haveria incidência do crime, para as grávidas que façam a escolha de realizar o procedimento abortivo, dando – lhes a opção de escolher se querem ou não manter a gravidez.
2. ABORDAGEM DA DECISÃO DO SUPREMO FEDERAL
2.1. HC 124306
Trata-se de habeas corpus, impetrado em face de acórdão da Sexta Turma do STJ (Supremo Tribunal de Justiça), com pedido de concessão de medida cautelar[footnoteRef:12]. Quando foi a vez do Min. Barroso votar, levantou fundamentos que tinham ligação tanto à precariedade do sistema público de saúde, ao aborto clandestino e suas consequências, não deixando de fora o que chamamos de problema sócio-econômico, ou seja, aquele baseado em motivos sociais, e gestantes de baixa renda. [12: CAUTELAR: Que se utiliza para preservar, conservar ou garantir determinados direitos] 
O caso trata – se de pedido de revogação de pedido de prisão preventiva contra os impetrantes, presos em flagrante, no que descreve o art. 126 e 288 do Código Penal, devido à prática do crime de aborto com o consentimento da gestante e formação de quadrilha.
Neste caso específico não foi concedido “habeas corpus”[footnoteRef:13], este é o caso de ordem de ofício para que seja desconstituída a prisão preventiva desde que tenha os dois requisitos à frente citados. Num primeiro momento deve conter risco para ordem pública, a ordem econômica, a instrução criminal ou a aplicação da lei penal (CPP, art. 312). Em relação aos acusados deverão ser primários, com bons antecedentes, ter trabalho, ter residência fixa e ter comparecido aos atos de instrução. Deverão cumprir a pena em regime aberto em casos de condenação. [13: HABEAS CORPUS: É uma medida jurídica para proteger indivíduos que estão tendo sua liberdade infringida, é um direito do cidadão, e está na Constituição brasileira.] 
Considerou em segundo lugar que é preciso ser interpretada conforme a Constituição aos artigos 124 a 126 do Código Penal o qual traz as condutas que tipificam o crime de aborto – para excluir a incidência da interrupção involuntária[footnoteRef:14] da gestação no período das primeiras 12 semanas, período ao qual o córtex cerebral – tal qual se desenvolve sentimentos e racionalidade – ainda não tem qualquer chance de vida fora do útero materno, pois ainda não foi formado. [14: INTERRUPÇÃO INVOLUNTÁRIA: Um aborto que ocorra de forma espontânea] 
Ainda há à incompatibilidade da criminalização com alguns direitos fundamentais, quais sejam “os direitos sexuais e reprodutivos da mulher, autonomia, integridade física e psíquica”, a mesma não poderá ser obrigada pelo Estado a manter uma gravidez indesejada; a sua “autonomia” deve ser respeitada no que trata do direito de fazer suas própriasescolhas existenciais; e à “igualdade” levando em consideração que só elas podem engravidar, tendo respeitada a vontade da mulher nesta matéria.
Ainda em relação à criminalidade, foram acrescentados os impactos em relação às mulheres pobres, cujas condições financeiras as impedem que que tenham contato com médicos e clínicas privadas e recorram ao sistema público de saúde para realizar o procedimento de forma segura. Como consequência, essas mulheres recorrem a clínicas clandestinas, multiplicando – se os casos de automutilação[footnoteRef:15], lesões graves e óbitos. [15: AUTOMUTILAÇÃO: É definida como qualquer comportamento intencional envolvendo agressão direta ao próprio corpo sem intenção consciente de suicídio.] 
O princípio da proporcionalidade devido a tipificação penal teria sido violado em decorrência de alguns motivos, quais sejam: ela constitui medida de duvidosa adequação para proteger o bem jurídico que pretende tutelar, a vida do nascituro, por não produzir impacto relevante sobre o número de abortos praticados no país, apenas impedindo que sejam feitos de modo seguro; é possível que o Estado evite a ocorrência de abortos por meios mais eficazes e menos lesivos do que a criminalização, tais como educação sexual, distribuição de contraceptivos e amparo à mulher que deseja ter o filho, mas se encontra em condições adversas; a medida é desproporcional em sentido estrito, por gerar custos sociais superiores aos seus benefícios.
E para finalizar, no âmbito da jurisprudência comparada, a 1º Turma do STF mencionou que praticamente nenhum país democrático e desenvolvido trata o aborto durante o primeiro trimestre da gravidez como crime, ai incluídos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Canadá, França, Itália, Espanha, Portugal, Holanda e Austrália.
2.2. ADPF 54
Essa Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, ajuizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde, teve como objetivo o Julgamento em face da inconstitucionalidade da interpretação que considera a antecipação terapêutica do parto no caso de feto anencefálico[footnoteRef:16] crime de aborto, tipificado nos artigos 124, 126, 128, incisos I e II, do Código Penal brasileiro. [16: FETO ANENCEFÁLICO: é uma má formação rara do tubo neural, caracterizada pela ausência parcial do encéfalo e da calota craniana, proveniente de defeito de fechamento do tubo neural nas primeiras semanas da formação embrionária.] 
O Supremo Tribunal Federal julgou a ação procedente, em razão dos preceitos fundamentais que tornam o Estado brasileiro um país laico. E com o advento da primeira Constituição Republicana de 1891, a laicidade foi alçada a princípio constitucional, sendo replicada às demais Constituições, inclusive na de 1988.
A 1º Turma do STF esclareceu que há diferenças entre a descriminalização com base na deficiência do feto, ou seja, aborto eugênico[footnoteRef:17], e antecipação terapêutica do parto. No aborto o feto deve ser sadio; o que na anencefalia segundo especialistas é uma anomalia que se caracteriza pela falta de parte encéfalo e do crânio. O que para a medicina equivale à morte cerebral, levando morte em cem por cento dos casos. Um conflito aparente de direitos fundamentais se formou, em oposição aos direitos da mulher, tem – se um ser que biologicamente está vivo e juridicamente morto, em conformidade, com a lei 9.434/1997, em seu art. 2º que tipifica a morte encefálica como o marco para declarar a morte de determinada pessoa. Para tanto, a interrupção da gestação em qualquer período, no caso de anencefalia, configuraria conduta atípica em face de absoluta impropriedade daquele sobre o qual recai a conduta do agente. [17: ABORTO EUGÊNICO: É um tipo de aborto preventivo executado em casos em que há suspeita de que a criança possa nascer com defeitos físicos, mentais ou anomalias, implicando em uma técnica artificial de seleção do ser humano.] 
O Tribunal trouxe também que o direito à vida não é absoluto no texto constitucional, como dispõe o art. 5º, XLIII, em que nos casos de guerra declarada admite – se pena de morte na forma do artigo 84, XIX, e as duas possibilidades que o Código Penal elenca (o necessário – quando há perigo à vida; e o humanitário – quando é resultado de estupro).
Diante disso, decidiu que seria desproporcional considerar ilícita a antecipação terapêutica do parto quando este tem anomalia letal incurável e decidir que é constitucional o aborto humanitário, quando o feto é saudável. Nos dois casos visa – se assegurar a saúde física e psíquica da mulher. Além de considerar a hipótese de o legislador não haver inserido essa passibilidade por não existir exames que diagnosticavam tal anomalia.
Uma pesquisa realizada na Unicamp pelos pesquisadores Costa, et al (1995) comprovou abalos psocolólogicos e publicada no artigo “ A decisão de abortar: processo e sentimentos envolvidos” onde se demostra que em maior ou menor grau o aborto sempre fere a psiquê feminine.
2.3. ADI 3510
A Ação Direta de Inconstitucionalidade contra o artigo 5º da Lei nº. 11.105/2005 – Lei de Biossegurança. A mesma permitia, para fins de pesquisas e terapia a utilização de células-tronco embrionárias, obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro. O autor alegou que a retirada de células-tronco vai contra a inviolabilidade do direito à vida e dignidade humana, já que pra ele o embrião é um ser humano seguindo a tese de que a vida humana acontece depois da fecundação e que o zigoto é embrião em sua fase inicial.
A mesma foi julgada improcedente, pois o Tribunal seguia o entendimento que para que houvesse vida humana, seria de suma importância a implantação do embrião no útero e depois do nascimento com vida. A mesma defende que o zigoto é distinto do feto e da pessoa natural. A nossa Lei maior, ao tratar dos direito e garantias fundamentais se relacionou à pessoa humana, desde que não haja inviolabilidade do direito à vida que é de direito de um ser nascido com vida. Também foi afirmado que a lei nº. 9.434/1997 (Lei dos Transplantes de Órgãos) descreve que não existe mais vida a partir da morte cerebral, pois para que haja vida, o embrião, que não tem o cérebro formado, não pode ser considerado vida humana.
Tratou também sobre a temática da Lei de Biossegurança, quanto aos embriões derivados de uma fertilização artificial, não implicando aborto a utilização das células-tronco embrionárias quando a gestação ocorre fora da relação sexual. O artigo 226, § 7º, da Constituição Federal, esclarece que a decisão de ter filhos, bem como a escolha do casal por meios de fertilização in vitro[footnoteRef:18], é direito de matriz constitucional. Fazer essa escolha não implica em que o casal deverá utilizar todos os embriões, e não existe lei que obrigue pois estaria indo de encontro à autonomia da vontade e do planejamento familiar. Fundado na dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável. [18: FERTILIZAÇÃO IN VICTRO: A definição da técnica in vitro ganhou popularidade a partir das fertilizações in vitro, também conhecidas como “reproduções assistidas” ou “inseminações in vitro”. Esta técnica consiste na fertilização de um óvulo com um espermatozoide em laboratório.] 
Portanto, chegou-se à conclusão que a pesquisa com células-tronco está em concordância com a Constituição, que dispõe que o Estado, além de promover e incentivar o desenvolvimento científico, a pesquisa tecnológica irá garantir o direito à saúde, sendo um direito fundamental que configura mais um instrumento de viabilização e concretização por meio das pesquisas.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objeto de estudo do presente artigo remete a um assunto extremamente polêmico, e isso se deve a sua complexidade e à grande demanda decorrente dos estudos sobre as diversas áreas que o tema abrange. Pode-se depreender que a descriminalização do aborto ameaça a existência de valores ligados à constitucionalidade. Essa tarefa é de cunho do operador do direito, em especial dos ministros do Supremo Tribunal Federal, que é o guardião da – ConstituiçãoFederal – de onde advém as normas de maior escalão. 
Diante de todo exposto, após analisar as duas correntes dispostas aqui, conclui- se que manter o aborto no código penal é a solução para o caso em tela. A vida humana tem seu início na concepção e crer – se na integralidade da vida humana desde o início da vida. Tendo o aborto como um ato despropocional, porque o feto é inocente, indefeso. O ser humano precisa desses nove meses de proteção. A descriminalização contaria a nossa legislação que prevê a garantia à vida.
Em consonância com os argumentos apresentados anteriormente por especialistas, que defendem que a vida tem início na fecundação, somam – se os seguintes: Tem – se uma legislação que protege o bem estar dos animais, que beneficia os menores infratores, então, devemos ter mais zelo pela vida humana e dar segurança a um ser humano indefeso que ainda está em formação dentro do útero materno.
O presente artigo não questiona a liberdade da mulher em decidir sobre seu corpo, mas sim a obrigação do Estado de proteção à vida e garantia de liberdade do feto, como a nossa - Constituição – estabelece. Seguindo nessa linha de pensamento o Professor VICENTE (2017), defendeu a descriminalização do aborto com a seguinte tese: na busca de construir uma sociedade livre, justa e solidária – como assegura o art. 3º, I, da CF/88 -, devemos demostrar essa solidariedade com a vida dos mais frágeis, não tendo ser mais frágil do que aquele que reside no útero materno. 
Para tanto, o Estado deverá promover programas sociais a fim de educar sobre a prevenção. Nas palavras do Arcebispo Jerónimo Hamer o Aborto (1974) Provocado é:
Isto, dizia-se, não violaria nenhuma consciência, pois deixaria todos livres para seguir sua própria opinião, impedindo qualquer um de impor seus próprios aos outros. O pluralismo ético é reivindicado como a consequência natural do pluralismo ideológico. Há, no entanto, uma grande diferença entre si, porque a ação afeta os interesses dos outros mais do que a mera opinião e por que nunca pode apelar para a liberdade de opinião para direitos dos outros, de maneira muito especial o direito à vida (HAMER, 1974).
	Em relação aos direitos e à dignidade da mulher esses questionamentos devem ser resolvidos sem que seja suprimida a vida dos bebês que ainda reside no ventre materno. A maternidade não é doença nem macula para a dignidade da mulher. A liberdade dela é valiosa, porém, a mesma está ligada a responsabilidade que lhe é devida. A gravidez inesperada pode ser prevenida com meios adequados - à educação e a informação-. E na falta de recurssos econômicos para criar os filhos deve ser tratada com serriedade e a mulher que se torna mãe tem o direito ao apoio da sociedade para encaminhar bem o filho na vida. Por isso, à injusta pobreza de muitos não pode ser argumento para eliminar o inocente e indefeso. As cifras de abortos clandestinos e os custos das complicações decorrentes devem ter uma solução que, honestamente, não podera ser a legalização do morticínio de bebês ainda no ventre de suas mães.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AQUINO, Tomás de. (1265 a 1273). Suma Teológica (p. 805).
[ADI 3.510, rel. min. Ayres Britto, P, j. 09-05-2008, DJE de 28-05-2010] Acessado no dia 02/05/2019. No site: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=ACHYPERLINK "http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=611723"&HYPERLINK "http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=611723"docID=611723
[ADPF 54, rel. min. Marco Aurélio, P, j. 12-04-2012, DJE de 30-04-2013] Acessado no dia 01/05/2019. No site: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticianoticiastf/anexo/adpf54.pdf.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da HYPERLINK "https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/188546065/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988"RepublicaHYPERLINK "https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/188546065/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988" Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Livia Céspedes e Juliana Nicoletti. – 47 ed. Atual. e ampl. – São Paulo : Saraiva 2017.
DECRETO DE LEI Nº 678/92, art. 1º. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 54/DF. Relator: ministro Marco Aurélio. Brasília, 12/4/2012. Publicada no DJe de 30/4/2013. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28ADPF+54+ANENC%C9FALOS%29HYPERLINK "http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28ADPF+54+ANENC%C9FALOS%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/mzz4obu"&HYPERLINK "http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28ADPF+54+ANENC%C9FALOS%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/mzz4obu"base=baseAcordaosHYPERLINK "http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28ADPF+54+ANENC%C9FALOS%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/mzz4obu"&HYPERLINK "http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28ADPF+54+ANENC%C9FALOS%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/mzz4obu"url=http://tinyurl.com/mzz4obu Acesso em 29/04/2019.
GALVÃO, Fernando. Direito Penal, Crimes contra a pessoa, 1º ed. – São Paulo : Saraiva, 2013. Disponível em : https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502181830/cfi/3!/4/4@0.00:59.7. Acesso em 06/06/2019.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. parte especial, volume II: introdução à teoria geral da parte especial: crimes contra a pessoa. 14. ed. Niterói, RJ: Impetus, 2017.
[HC 124.306, rel. min. Marco Aurélio, rel. p/ o ac. min. Roberto Barroso, 1ª T, j. 09-08-2016, DJE de 17-03-2017]. Acessado no dia 30/04/2019. No site: https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/HC124306LRB.pdf.
HAMER, G. (15 de fevereiro de 1974). Dichiarazione sull’aborto procurato – Quaestio de abortu. Disponível em La Santa Sede: No site: http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19980101_ratzinger-comm-divorced_en.html
MASSON, Cleber. Direito penal esquematizado. parte especial. vol. 2 7.ª ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015.
MATIELO, Fabrício Zamprogna. Aborto e Direito Penal. Porto Alegre: Sagra – DC Luzzatto, 1994, p.13.
MARTINS, Ives Gandra; MARTINS, Roberto Vidal da Silva; Martins, Ives Gandra da Silva Filho. A questão do aborto – aspectos jurídicos fundamentais. São Paulo: Ad. Quartier Latin, 2008, p.72.
MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais, teoria geral, comentários aos arts.1º a 5º da Constituição da Republica Federativa do Brasil, doutrina e jurispridência. 9º ed. – São Paulo : Atlas, 2011.
VICENTE, Luciano Rosa. A descriminalização do aborto no Brasil. Acessado no dia 06/06/2019. No Site: https://jus.com.br/artigos/59455/a-descriminalizacao-do-aborto-no-brasil.
2

Outros materiais