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I curso de na prática ClínicaRadiologia E - b o o kE - b o o k Princípios Básicos Da I curso de na prática ClínicaRadiologia Organizadores do Evento: Ana Elisa Vasconcelos Carolina Menezes Daniela Louise Fernandes Déborah Hyanna Ché Flávia Rosa Hortência Bastos Lorena Fagundes Carolina Menezes Lorena Fagundes Marconi Chaves Rodrigo Fagundes Autores: Orientadora Drª Lara Torres Designer de Arte: Maíra Santana Salvador - BA 2020 Maíra Santana Marconi Chaves Marina Viana Rodrigo Fagundes Stéphane Carvalho Thaiane Cirqueira Pedro Augusto Anjos I curso de na prática ClínicaRadiologia Este material foi inteiramente confeccionado por alunos do curso de Medicina. Todos membros da Liga Acadêmica de Radiologia da Bahia (LARB). Esperamos que apreciem a leitura! Mensagem da LARB: Olá! Bem-vindo (a) ao I Curso de Radiologia na Prática Clínica! A Radiologia ainda é um tema pouco seguro à maioria dos estudantes e profissionais da medicina, partindo dessa premissa surgiu nossa ideia para o curso. Esperamos que você faça bom proveito dele e que ao final, consiga compreender e entender os exames de imagem mais essenciais à prática clínica com clareza e segurança. Assim, estamos disponibilizando este material complementar que aborda um pouco da técnica dos principais exames de imagem (RX, US, TC, RNM), bem como ao final dele encontrará- páginas para anotações durante as aulas para que a sua experiência no nosso curso seja incrível! A Liga Acadêmica de Radiologia da Bahia agradece a preferência. 1. RADIOGRAFIA (RX) 1.1 O que é? A Radiografia foi descoberta em 1895 por Wilhelm Roentgen, sendo ela o primeiro exame de imagem desenvolvido no mundo e ainda assim tão amplamente utilizada e requisitada na radiologia, apesar dos novos métodos que surgiram e ainda surgem. Ela usa os raios-X (RX), energia radiante/luminosa que é capaz de penetrar substâncias opacas à luz, como forma de obter imagens do corpo humano. 1.2 Como é feita a técnica? O feixe de RX é produzido pelo bombardeio de uma placa de tungstênio por um feixe de elétrons no interior de um tubo de RX. Estes atravessam o corpo humano e são atenuados pela interação com os tecidos, seja por absorção ou dispersão, e produzem um padrão de imagem no filme que corresponde á anatomia humana. Na radiografia convencional, uma película é colocada dentro de um chassi radiográfico como detector de RX, de modo que após esses raios atravessarem o corpo, eles encontram uma tela coberta por partículas fluorescentes dentro do chassi radiográfico, causando uma interação fotoquímica, a qual emite radiação luminosa e sensibiliza o filme no interior do chassi. Assim, o filme é removido do chassi e revelado num processador químico, resultando numa imagem de RX da anatomia do paciente. Já na radiografia computadorizada (CR), as imagens radiográficas são digitais, utilizando placas de armazenamento de fósforo reutilizáveis ao invés do filme convencional. Assim, nessa técnica, essas placas são as responsáveis pela interação com RX, bem como são colocadas num dispositivo de leitura que escaneia a placa com um laser hélio-neon, o qual emite luz, que é capturada por um tubo fotomultiplicador e processada como imagem digital. Esta é transferida a um sistema de arquivamento e distribuição de imagem denominado PACS (picture archiving and communication system), que permite acesso instantâneo e simultâneo de profissionais da saúde em diversos locais. Note na imagem ao lado o diagrama de um tubo de RX, mostrando a radiação atravessando o corpo do paciente e sensibilizando o filme radiográfico. Por sua vez, a radiografia digital (DR), a qual substitui o chassi e a placa de fósforo por um detector eletrônico fixo ou sensor CCD (charge-coupled device), que produzem a imagem imediatamente. Outra técnica interessante é a fluoroscopia que usa uma tela fluorescente para captar o RX e permite a visualização radiográfica em tempo real de estruturas em movimento. Por conta disso que hoje temos o benefício da Angiografia Convencional, procedimento que envolve a opacificação dos vasos sanguíneos mediante a administração intravascular de meios de contraste iodados a fim de obter imagens do fluxo vascular. 1.3 Quais as incidências radiográficas? A maioria das incidências varia com a maneira que os raios-X atravessam o paciente, de modo que temos as seguintes: § anteroposterior (AP), que atravessa o paciente da frente para as costas; § posteroanterior (PA), que é justamente o inverso de AP; § oblíqua: pode ser anterior ou posterior e direita ou esquerda. Ela é obtida com o paciente em posição inclinada ou angulada na qual os planos sagital e coronal não estão perpendiculares ao filme/receptor da imagem; § lateral: pode ser direita ou esquerda e é obtida com o paciente lateralizado sobre o receptor da imagem; § tangencial: quando o RX atravessa uma curva ou superfície apenas em um ponto específico. § craniocaudal: os raios incidem do crânio para baixo do corpo. É utilizada principalmente para execução de mamografias. Além disso, é importante citar que esses nomes podem vir acompanhados da nomenclatura dada à posição do paciente. 1.4 Quais são as nomenclaturas? Tendo em vista a atenuação dos raios-X ao atravessarem o paciente durante o procedimento, durante a análise da imagem algumas nomenclaturas são fundamentais para a sua interpretação: Radiopaco: estruturas esbranquiçadas na imagem, como ossos, calcificações, metais, componentes com contraste. Radiotransparente/Hiperlucente: estruturas que se encontram em tons de cinza escuro ou preto, a exemplo de gases, água e gordura. Hipotransparente: estruturas com cinza claro, como tecidos moles. 1.5 Quais as vantagens? A Radiografia é um exame barato, altamente disponível e rápido, de modo que é o mais utilizado no mundo todo. E apesar de existirem métodos radiológicos mais sensíveis e específicos, na maioria dos casos é o principal exame de imagem que auxilia na maioria dos diagnósticos. Ademais, os raios-X não causam efeitos colaterais ao paciente, tendo em vista que a radiação é baixa e não permanece no organismo. 1.6 Quais as desvantagens? A Radiografia é um exame que não permite a análise minuciosa e nítida de tecidos moles, bem como a superposição de imagens em um único plano dificulta a interpretação e não pode ser usada em grávidas. 1.7 Em quais situações o RX é mais usado? O RX é amplamente usado como acompanhamento ou exame diagnóstico principalmente em casos suspeitos ou confirmados de: pneumopatia, cardiopatia, patologias osteoarticulares (inclusive fraturas e luxações) e em especial, nas crianças com abdome agudo. 2. ULTRASSONOGRAFIA (USG) 2.1 O que é? A Ultrassonografia é o método radiológico que permite a avaliação dos tecidos do paciente através da energia sonora. 2.2 Como é feita a técnica? Utilizamos um aparelho denominado de transdutor e um gel lubrificante para auxiliar no deslizamento do transdutor e impedir a interposição de ar entre o aparelho e a pele. Assim, aplicamos o gel sobre a região escolhida para avaliação radiológica e em seguida pressionamos o transdutor sobre a pele do paciente. Ocorre que o transdutor converte a energia elétrica é em sonora de alta frequência, a qual é emitida sobre a pele do paciente, de modo que o som encontra o tecido e reflete (eco) para o aparelho. Este analisa o intervalo de tempo de ida e volta do som, bem como a profundidade da interface do tecido refletor, considerando a velocidade média tecidual = 1.540 m/s. A imagem formada, portanto, é composta pela apuração dos tecidos no campo de visão compulsos múltiplos de energia sonora e intervalos próximos. 2.3 Quais as variações de imagem no US? A imagem também depende dos designs dos transdutores, que pode ser setorial ou linear. O setorial pode ser: convexo superficial, com ângulo = 60º e frequência = 3-6 MHz; convexo endocavitário, com ângulo = 120-150º e frequência = 5-11 MHz; anular, com frequência = 6-10 MHz. As frequências mais altas (10-17 MHz) possibilitam melhor resolução espacial, mas são limitadas pela penetração restrita, enquanto as mais baixas (1-3,5 MHz) fornecem maior penetração nos tecidos e menor resolução. Portanto, os de alta frequência servem para aplizações endoluminais, exames de estruturas superficiais (tireoide, mamas, testículos), em lactentes, crianças e adultos de estrutura pequena. Já os transdutores de baixa frequência são utilizados para aplicações abdominais, pélvicas e obstétricas. Além disso, é inerente á técnica ultrassonográfica reconhecermos os seus artefatos, na medida em que nos auxiliam na interpretação da imagem. Os mais usados são os seguintes: a) Atenuação das Ondas de Ultrassom: as ondas e os ecos refletidos são atenuados á medida que atravessam os tecidos. Portanto, asborção, reflexão e dispersão de onda são fatores que contribuem para as colorações da imagem no monitor. b) Sombra Acústica: observada distalmente a estruturas que produzem alta reflexão ou absorção do feixe de US, como fazem os gases, ossos, metais, cálculos. Observe na imagem abaixo a sombra acústica (de coloração escura; hipoecoica) projetada logo abaixo de um cálculo e que está sendo apontada pela senta vermelha. c) Reverberação: é causado pela repetição do reflexo entre fortes refletores acústicos. Ela pode ser externa, ou seja, o ar está entre a pele e o transdutor, ou interna, quando há gás na cavidade que está sendo analisada. Com isso, vemos na imagem várias linhas, sendo que a quantidade delas representa as superfícies refletoras. Ainda, é importante dizer que a reverberação varia com tamanho, natureza e número de superfícies encontradas. d) Imagem Espelho: encontrada quando uma grande estrutura refletora imita o órgão que está sendo observado, o que notavelmente ocorre em interfaces arredondadas com alta reflexão. O exemplo clássico deste artefato é a interface pulmão- diafragma, visto que o pulmão imita o fígado na cavidade torácica, podendo simular uma hérnia diafragmática ou outra alteração pulmonar. e) Realce Acústico: este artefato promove aumento de intensidade distalmente a estruturas de baixa atenuação, como cistos, bexiga com liquido, vesícula biliar e algumas massas sólidas. Observe abaixo as setas brancas apontando o realce acústico (de coloração esbranquiçada; hiperecoico) projetado por uma massa cística. 2.4 Quais são os principais termos utilizados na US? Ecogenicidade ® capacidade de diferentes estruturas em refletir as ondas de ultrassom, gerando eco. Anecoico ® é a ausência completa de ecos (ou transmissão de som), ou seja, a estrutura é totalmente atravessada pelas ondas, não gerando eco, portanto, a imagem aparece negra. Aspecto comum em estruturas líquidas. Hiperecoica ® quando a reflexão é intensa, logo, a imagem aparece branca e brilhante. Aspecto comum em gases e ossos. Hipoecoica ® quando a reflexão é parcial/intermediária das ondas de ultrassom, de modo que a imagem aparece em vários tons de cinza. Aspecto comum em tecidos moles. Isoecoico ® termo utilizado para estruturas que apresentam mesma ecogenicidade entre si quando comparadas. 2.5 Quais as vantagens da Ultrassonografia? ü Não requere uso de contraste ou radiação ü Não é invasivo ü É de baixo custo ü Pode ser usado como da atenção primária á terciária ü É rápido de ser feito ü Pode ser feito no leito do paciente 2.6 Quais as desvantagens da Ultrassonografia? ü Depende de profissional capacitado para interpretar as imagens ü Não tem boa qualidade em comparação ás demais técnicas radiológicas ü Possui muitos artefatos, aumentando a possibilidade de erros durante a visualização da imagem 2.7 Em quais situações a Ultrassonografia é mais requisitada? Em situações que o paciente apresenta ou é suspeito de: • Dor abdominal • Cálculos • Tumores • Gestação • Patologias tireoidianas • Hiperplasia Benigna Prostática • Patologias vasculares • Derrame Pleural • Patologias do trato urogenital • Patologia mamária 3. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA (TC) 3.1 O que é? A tomografia computadorizada (TC) se trata de um exame de imagem de rápida aquisição e que fornece imagens com grau elevado de detalhes quando compara à USG e RX, sendo por isso o exame mais solicitado nas emergências. 3.2 Como é feita? A TC utiliza um computador para reconstrução matemática de uma imagem axial do corpo humano, a partir de medições feitas pela transmissão de raios X através de finos cortes de tecido do paciente, ou seja, a TC utiliza a mesma técnica empregada nos exames de raio x, porém com um processamento de imagem diferente e de forma a permitir uma análise mais abrangente e ao mesmo tempo detalhada, de todo o corpo humano. Além disso, ao contrário do que ocorre nos exames de raio x, onde se vê sobreposição de estruturas, na TC os cortes são mostrados separadamente. O exame se inicia com o paciente devidamente posicionado em um tubo de raios x que gira a 360 graus, esse dispersa feixes de raios x sistematicamente e de forma repetida, que são atenuados por absorção a medida que o tubo gira ao redor do paciente, enquanto detectores sensíveis no lado oposto do paciente medem a transmissão de raios X através do corte. O processamento da imagem ocorre de forma que os valores de TC são atribuídos para cada pixel da imagem por meio de um algoritmo computacional, que usa como dados essas medic ̧ões dos raios X transmitidos. Os valores de pixel são proporcionais à diferenc ̧a na média entre a atenuac ̧ão dos raios X do tecido no voxel (volume formado pelo pixel e pela profundidade do corte) e a da água. A unidade empregada é o Hounsfield (H), em homenagem a Sir Godfrey Hounsfield, inventor da TC. A água tem valor de 0 H na escala Hounsfield, que vai de –1.024 H para o ar até +3.000 a 4.000 H para osso muito denso, embora as unidades Hounsfield não tenham valores absolutos e costumam variar a depender do sistema utilizado para o processamento de imagem. Observe a figura abaixo: o paciente (P) foi colocado sobre um leito de exame no interior da unidade de TC. Um tubo de raios X gira 360° em torno do corpo do paciente, produzindo pulsos de radiac ̧ão que o atravessam. Os raios X transmitidos são localizados por um banco circunferencial de detectores de radiac ̧ão. Os dados de transmissão dos raios X são enviados a um computador, que emprega um algoritmo específico, a fim de calcular a matriz de números de TC usada para produzir a imagem anatômica axial. Na técnica de TC helicoidal, o leito se move continuamente, expondo o paciente ao feixe de raios X que gira. Na TC com multidetectores, diversas imagens de cortes são obtidas simultaneamente à medida que o paciente é movido ao longo do escâner. Como em toda análise de imagem, a interpretac ̧ão de uma TC é baseada em uma abordagem organizada e abrangente. As imagens de TC são observadas em ordem anato ̂mica sequencial, examinando-se cada corte em relac ̧ão aos cortes de cima e de baixo. Essa análise da imagem é feita facilmente observando-se as imagens de TC em estac ̧ão PACS. O médico que faz a interpretac ̧ão dos resultados pode rolar os controles para cima e para baixo na pilha de cortes apresentada. O radiologista deve procurar desenvolver um conceito tridimensional da anatomia e da patologia apresentadas.Essa análise é incrementada pela disponibilidade de reconstruc ̧ões da imagem nos planos coronal, sagital e axial. O exame deve ser interpretado em associac ̧ão aos para ̂metros de varredura, espessura e espac ̧amento do corte, administrac ̧ão de contraste, intervalo de tempo em relac ̧ão ao contraste e à existe ̂ncia de artefatos. Imagens axiais são orientadas como se o observador olhasse o paciente de baixo para cima. O lado direito do paciente está no lado esquerdo da imagem. 3.3 Quais as nomenclaturas mais usadas na TC? Hipodenso/Hipoatenuante: a imagem apresenta-se escurecida no filme radiológico. Ex: ar, pulmão, etc. Isodenso/Isoatenuante: apresenta mesma atenuação do tecido vizinho comparado. Ex: nódulos hepáticos Hiperdenso/Hiperatenuante: apresenta-se na imagem de forma mais clara, esbranquiçada. Ex: ossos. Representação do comportamento de lesões de diferentes densidades tomográficas. Neste caso, observamos uma lesão hepática. Além disso, há as janelas que são recursos computacionais que permitem que após a obtenção das imagens a escala de cinzas possa ser estreitada, facilitando a diferenciação entre certas estruturas conforme a necessidade. Isto porque o olho humano tem a capacidade de diferenciar uma escala de cinzas de 10 a 60 tons (a maioria das pessoas distingue 20 diferentes tons), enquanto na tomografia no mínimo, como visto acima há 2000 tons. Entretanto, podem ser obtidos até 65536 tons – o que seria inútil se tivéssemos que apresentá-los ao mesmo tempo na imagem, já que não poderíamos distingui-los. A janela é na verdade uma forma de mostrar apenas uma faixa de tons de cinza que nos interessa, de forma a adaptar a nossa capacidade de visão aos dados obtidos pelo tomógrafo. Numa janela define-se a abertura da mesma, ou seja, qual será o número máximo de tons de cinza entre o valor numérico em HU (unidades de Hounsfield) do branco ( na TC utiliza-se o termo hiperdenso) e qual será o do preto (na TC utiliza-se o termo hipodenso). O nível é definido como o valor (em HU) da média da janela. O uso de diferentes janelas em tomografia permite por exemplo o estudo dos ossos com distinção entre a cortical e a medular óssea ou o estudo de partes moles com a distinção, por exemplo, no cérebro entre a substância branca e a cinzenta. A mesma imagem pode ser mostrada com diferentes ajustes da janela, de modo a mostrar diferentes estruturas de cada vez. Não é possível usar um só ajuste da janela para ver, por exemplo, detalhes ósseos e de tecido adiposo ao mesmo tempo. Densidade na TC: Exemplo das variações de densidade nos tecidos de acordo com as Unidades Hounsfield. 3.4 Quais as vantagens da TC? Quando falamos em TC a comparação que surge de imediato e que costuma trazer dúvidas quanto à solicitação de um exame ou outro é a ressonância magnética (RM). As vantagens da TC em relac ̧ão à RM, portanto, incluem rapidez na varredura, superioridade nos detalhes do tecido ósseo e apresentac ̧ão de calcificac ̧ões. Sendo geralmente o exame de escolha nas emergências bem como sendo de maior disponibilidade nos serviços de saúde em geral. 3.5 Quais as desvantagens da TC? A TC geralmente, limita-se ao plano axial; entretanto, as imagens podem ser reformatadas nos planos sagital, coronal ou oblíquo ou como imagens tridimensionais, o que acaba por não ser uma desvantagem absoluta. A principal desvantagem é alta dose de radiação para o paciente: de 50 a 100 vezes mais do que a exposição imposta pelas radiografias. 3.6 Quais os tipos de TC? TC Convencional A TC de corte único obtém dados de imagem referentes a um corte de cada vez. Com o paciente em apneia, é feita a aquisic ̧ão do corte; o paciente respira, a mesa se move, e a seque ̂ncia é repetida. Essa técnica leva pelo menos 2 a 3 vezes o tempo de varredura total da TC helicoidal para qualquer volume do paciente, tornando mais difícil a otimizac ̧ão da varredura durante o contraste máximo. Qualquer pequena alterac ̧ão no volume pulmonar a cada vez que o paciente prende a respirac ̧ão pode causar alterac ̧ões significativas na anatomia torácica ou abdominal examinada, resultando em áreas “saltadas”. Esca ̂neres convencionais mais modernos conseguem simular uma aquisic ̧ão helicoidal pela técnica do cluster. Varias varreduras sequenciais são feitas durante uma mesma apneia. TC Helicoidal Também chamada de TC espiral, é realizada pela movimentac ̧ão da mesa de exame a uma velocidade constante através, enquanto a varredura é feita de maneira contínua com um tubo de raios X girando em torno do paciente. É feita a aquisic ̧ão de um volume contínuo de dados de imagem durante um único período de apneia. Essa técnica melhora muito a velocidade de aquisic ̧ão da imagem, viabiliza a digitalizac ̧ão durante a melhor opacificac ̧ão do contraste e elimina erros e artefatos causados por registros incorretos ou por variac ̧ões na respirac ̧ão do paciente. O fígado inteiro pode ser escaneado em um único período de apneia; o abdome inteiro e a pelve em um ou dois períodos de apneia, todos com excelente timing para opacificac ̧ão do órgão após administrac ̧ão de contraste intravenoso (IV)- Para TC faz-se uso dos contrastes iodados, falaremos sobre abaixo-. As aquisic ̧ões de volume possibilitam a reconstruc ̧ão retrospectiva de múltiplos cortes sobrepostos, melhorando a visualizac ̧ão de pequenas lesões e tornando possível a angiotomografia tridimensional de alto detalhe. As aquisic ̧ões podem ser obtidas durante múltiplas fases de realce do órgão: arterial, venoso, parenquimatoso, tardio. TC helicoidal. Equipamento utilizado e representação do movimento de rotação a 360 graus. TC Helicoidal com Multidetectores (TCMD) Representa um importante avanço tecnológico, que utiliza os princípios de um escâner helicoidal, porém incorpora várias fileiras de anéis, aumentando a área de cobertura anatômica pelo feixe de raios X, em um tempo determinado. Os sistemas aumentaram rapidamente de 2 cortes para 64 cortes, o que possibilita a cobertura de 40 mm do paciente por segundo ou menos rotação do tubo. A principal vantagem da TCMD é a velocidade. Trata-se de uma técnica de 5 a 8 vezes mais rápida do que a TC helicoidal de corte único. A ampla área de cobertura possibilita uma angiotomografia bem detalhada e a colonoscopia e broncoscopia virtuais. Uma desvantagem importante da TCMD é a dose de radiac ̧ão que pode ser de 3 a 5 vezes mais alta do que com a TC de corte único. Aquisic ̧ões múltiplas e cortes finos aumentam a capacidade diagnóstica, mas ao custo de uma elevac ̧ão na dose de radiac ̧ão que o paciente recebe. TC com Fluoroscopia É outro avanço na tecnologia da TC que viabiliza a imagem em tempo real. Essa técnica aumenta tremendamente a capacidade de realizar intervenc ̧ões percuta ̂neas de maneira rápida e, em geral, com baixa dose de radiac ̧ão, em comparac ̧ão com a TC convencional. O operador aciona um pedal, enquanto move a mesa de TC ou observa o movimento do paciente. A rápida reconstruc ̧ão da imagem fornece imagens em tempo real de regiões anato ̂micas, lesões e introduc ̧ão de agulhas ou cateteres. Atualmente, a fluoroscopia por TC é rotineiramente empregada para guiar biopsias, drenagem e procedimentos intervencionistas em qualquer área do corpo humano. É particularmente útil para guiar a colocac ̧ão de uma agulha em uma área onde exista movimento fisiológico, como no tórax e abdome. TC de Dupla Energia Utiliza duas fontes de raios X e dois detectores para, simultaneamente, examinar os tecidos e determinar de que maneira cada tecido se comporta sob diferentes energias radioativas. Tal técnica adiciona informac ̧ões sobre a composic ̧ão dos tecidos. As diversidades na gordura, tecidos molese agentes de contraste em diferentes níveis de energia ampliam a nitidez e a caracterizac ̧ão de uma lesão. Os dados de imagem podem ser capturados na metade do tempo necessário para a TCMD convencional. Isso aumenta muito a capacidade de avaliar o corac ̧ão sem o uso de betabloqueadores, potencialmente perigosos para a freque ̂ncia cardíaca. A composic ̧ão química de cálculos renais pode ser determinada, possibilitando a escolha entre um tratamento clínico ou cirúrgico. A dose de radiac ̧ão pode ser reduzida com a eliminac ̧ão de determinadas aquisições. 3.7 Como ocorre a administração de contraste na TC? Os agentes de contraste utilizados na TC são os contrastes iodados, são administrados para realc ̧ar as diferenc ̧as de densidade entre as lesões e o pare ̂nquima adjacente, demonstrar anatomia vascular e a perviedade vascular e caracterizar lesões por meio de seus padrões de captação contraste. Para otimizar o uso dos contrastes IV, devem ser levadas em considerac ̧ão a anatomia, a fisiologia e a patologia do órgão de interesse. No cérebro, uma barreira hematencefálica saudável, com suas estreitas junc ̧ões endoteliais capilares, impede a entrada de contraste no espac ̧o neural extravascular. Defeitos na barreira hematencefálica associados a tumores, acidente vascular cerebral (AVC), infecc ̧ão e outras lesões causam acúmulo de contraste nos tecidos anormais, melhorando sua identificac ̧ão. Em tecidos não neurais, o endotélio capilar tem junc ̧ões menos estreitas, possibilitando o livre acesso do meio de contraste ao espac ̧o extravascular. A administrac ̧ão do contraste e o tempo da digitalizac ̧ão devem ser cuidadosamente planejados na TC, a fim de otimizar as diferenc ̧as nos padrões de realce entre lesões e tecidos saudáveis. Além da administração intravenosa pode ser feita administração de contraste oral ou retal em algumas situações de interesse como na TC abdominal e pélvica. Tempo de administração de contraste. Diferenças no contraste hepático. Contraste no abdômen. 4. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA (RM) 4.1 O que é? A Ressonância Magnética é uma técnica que produz imagens tomográficas por meio de campos magnéticos e ondas de rádio. Assim, são as diferentes densidades protônicas disponíveis nos tecidos que contribuem para que o sinal de RM consiga fazer a distinção entre um tecido e outro. Portanto, a RM se baseia na capacidade que um pequeno número de prótons do corpo tem de absorver e emitir ondas de rádio quando o corpo é colocado sob a influência de um forte campo magnético. 4.2 Como a técnica é feita? As RM são obtidas expondo o paciente a campos magnéticos de potências que variam entre 0,02 T e 3 T, dependendo do equipamento que está sendo utilizado na unidade em particular. Assim, solicita-se ao paciente que se deite em uma maca, a qual se moverá em direção ao interior do aparelho na hora do exame. O procedimento dura entre 15 a 90 minutos, variando com o tamanho da área que será abordada e do número de imagens necessárias para o estudo. Durante o exame, o paciente precisa manter-se imóvel para que as imagens não saiam tremidas ou desfocadas. Além disso, deve-se orientar ao paciente que não entre na máquina portando objeto metálico, tendo em vista que ele estará em um ímã extremamente potente. Uma vez que o procedimento se inicie, um pequeno número de prótons nos tecidos do paciente se alinha ao eixo do campo magnético principal e, subsequentemente, é desalinhado pela aplicação de gradientes de radiofrequência (RF). Assim, ao fim da emissão de RF, os prótons desalinhados tornam a alinhar-se com o campo magnético principal, liberando um pequeno pulso de energia, o qual é detectado, localizado e, depois, processado por um algoritmo computacional semelhante ao empregado na TC, produzindo uma imagem anatômica tomográfica transversal. As imagens podem ser obtidas em qualquer plano anatômico, ajustando-se os gradientes do campo magnético nos eixos X (sagital), Y (coronal) ou Z (axial). 4.3 Quais são as ponderações? As ponderações na Ressonância Magnética são importantes para distinguirmos os tecidos e são obtidas através das de diferenças significativas em seus tempos de relaxamento T1 e T2 específicos. Sabe-se que T1 mede a capacidade do próton de trocar energia com a matriz química adjacente, sendo uma medida da rapidez com que um tecido se torna magnetizado, enquanto T2 representa a rapidez com que determinado tecido perde sua magnetização. Assim, as sequências de pulsos spin-eco produzem imagens padrão T1WI (ponderada em T1), T2WI (ponderada em T2) e por densidade protônica. A T1WI enfatiza a diferença entre os tempos de relaxamento dos tecidos em T1 e minimiza as diferenças em T2. Portanto, as imagens em T1 curto são brilhantes (hiperintensas = alta intensidade de sinal), enquanto em T1 longo são escuras (hipointensas = baixa intensidade de sinal). Logo, imagens ponderadas em T1, geralmente, apresentam melhores detalhes anatômicos quanto á identificação de gordura, hemorragia subcutânea e líquidos ricos em proteína. Já a T2WI enfatiza as diferenças em tempos de relaxamento T2 nos tecidos e minimiza as diferenças em T1 – ou seja, exatamente o contrário do que vemos em T1WI. Assim, tecidos com tempos longos em T2 são relativamente hiperintensos, enquanto os com tempos curtos em T2 são relativamente hipointensos. Portanto, ponderações em T2 oferecem maior sensibilidade para edema e lesões patológicas. Abaixo observe as imagens A, que mostra T1WI, e B, apresentando T2WI. Por fim, as imagens ponderadas por densidade protônica acentuam as diferenças de densidade protônica entre os tecidos e são mais utilizadas na neuroimagem. Substância Exemplos Sinal da T1WI Sinal da T2WI Gás Ar nos pulmões, gás no intestino Ausente Ausente Tecido rico em mineral Osso cortical, cálculos Ausente Ausente Tecido colagenoso Ligamentos, tendões Baixo Baixo Gordura Tecido adiposo, medula óssea gordurosa Alto Intermediário a alto Tecido com alto teor de água ligada Fígado, pâncreas, músculo Baixo Baixo a intermediário Tecido com alto teor de água livre Rins, testículos, próstata, ovários, tireoide, bexiga Baixo Alto Líquido proteináceo Abcessos, líquido sinovial Intermediár io Alto 4.4 Quais são os tipos de sequências de pulsos spin-eco? I. Pulsos SE Múltiplos As sequências de pulsos spin-eco podem ser múltiplas, também conhecidas como trem de ecos, sequências RARE (rapid aquisition relaxation enhanced), spin-eco rápida (FSE, fast spin-echo) ou spin-eco turbo (TSE, turbo spin-echo). Nesse tipo de RM, os tempos de aquisição de imagens são significativamente menores. Além disso, a intensidade do sinal é menor do que com as sequências spin-eco convencionais e pode ocorrer borramento da imagem, bem como a gordura aparece hiperintensa em TSWI, comprometendo a identificação de uma anormalidade. Portanto, técnicas de supressão de gordura minimizam ou excluem esse efeito, como é feito nas sequências FLARE (fast low-angle aquisition with relaxation enhancement) e HASTE (half-Fourier acquisition single-shot turbo spin echo). Abaixo observe que em A temos imagem em T1WI com gradiente-eco em fase e B mostrando T2WI HASTE, ambas obtidas na mesma localização de corte mostram sinal escuro de água livre em T1WI e sinal brilhante de água livre em T2WI. Observe a melhora na nitidez da lesão cística (setas) no pâncreas em T2WI, quando comparada à T1WI. O líquido cefalorraquidiano (ponta de seta) no canal medular também mostra grande aumento no sinal em T2WI. II. Pulsos Inversão-RecuperaçãoAs sequências de pulsos inversão-recuperação são empregadas principalmente para enfatizar as diferenças nos tempos de relaxamento entre os tecidos em T1, de modo que um tempo de atraso (delay) em tempo de inversão (TI) é acrescentado. As sequências STIR (short TI inversion recovery) são as mais comumente utilizadas. Elas fornecem maior contraste em imagens ponderadas em T1, em T2 e por densidade protônica, aumentando a nitidez da lesão. Nelas, todos os tecidos com tempo de relaxamento T1 curto, incluindo gordura, são suprimidos, enquanto tecidos com grande conteúdo de água, como ocorre em muitas lesões, são realçados, emitindo um sinal mais brilhante em um fundo escuro de tecido anulado com T1 curto. Assim, as imagens STIR lembram aquelas fortemente ponderadas em T2. Na imagem que se segue abaixo vemos um exemplo de STIR no plano sagital do joelho. III. Sequências de Pulsos Gradiente-Eco (GRE) Elas são sequências rápidas, logo, minimizam os artefatos de movimento resultantes de respiração, batimentos cardíacos, pulsação vascular e peristaltismo. Nesse tipo de RM, há uma variação denominada T2*, a qual tem um tempo menor do que em T2, servindo assim para identificação de hemorragias, calcificação e deposição férrica nos tecidos. As sequências GRE incluem FLASH (fast low-angle shot), GRASS (gradient-recalled acquisition in steady state) e FISP (true fast imaging with steady state precession), FLASH snapshot, RAGE (rapid acquisition with gradient echo) e MPRAGE (magnetization prepared RAGE). 4.5 Quais são as nomenclaturas utilizadas na RM? Sinal Ausente: a estrutura não emite sinal devido á ausência (ou carência) de ions H+ Ex: cortical óssea Hipointenso: a estrutura de referência é mais escura que os tecidos circunvizinhos. Ex: liquor em T1. Isointenso: a estrutura de referência apresenta a mesma intensidade dos tecidos circunvizinhos. Hiperintenso: a estrutura de referência apresenta- se mais clara que os tecidos circunvizinhos. Ex: liquor em T2. 4.6 Quais as vantagens da RM? A RM não utiliza radiação ionizante (raio X), sendo, portanto, preferível à TC em crianças, grávidas e pacientes que necessitam de exames de imagem repetidamente. Até o momento não foram identificados efeitos colaterais ou danos à saúde pela exposição ao campo magnético e às ondas de rádio geradas pela RM. Além disso, ela tem uma gama muito maior de contrastes disponíveis para tecidos moles, retrata a anatomia com mais detalhes e é mais sensível e específico para anormalidades dentro do cérebro. Ainda, a RM é capaz de gerar imagens em mais planos e pode reconstruir órgãos e regiões anatômicas em 3D. 4.7 Quais as desvantagens da RM? Apesar de todos os seus benefícios, a RM é limitada em sua capacidade de mostrar detalhes de ossos densos ou calcificações; além disso, tem tempos de aquisição longos para diversas sequências de pulso, resolução espacial limitada, se comparada com TC, disponibilidade limitada em certas regiões geográficas e alto custo. Também, devido ao espaço físico confinado para o paciente no interior do aparelho, vários experimentam sintomas de claustrofobia e precisam ser sedados, ou são simplesmente incapazes de tolerar a RM. Aparelhos com design aberto auxiliam na RM de pacientes muito grandes ou claustrofóbicos, porém, esse tipo de equipamento, geralmente, tem campos de potência menor e não tem, portanto, a resolução dos magnetos em tubo com alta potência de campo. 4.8 Quando a RM é mais utilizada? A RM é preferível à TC quando a resolução de partes moles precisa ser alta e detalhada (p. ex., para avaliar alterações da coluna vertebral ou intracranianas ou para avaliar suspeita de tumores musculoesqueléticos, inflamação, trauma ou alterações articulares). A RM também ajuda a avaliar: Ø Imagem vascular – a angiorressonância (MRA) é usada para examinar as artérias com boa precisão diagnóstica e esse método é menos invasivo do que angiografia convencional. O agente de contraste gadolíneo é utilizado algumas vezes. A AMR pode ser utilizada para obter imagens da aorta torácica e abdominal e de artérias cerebrais, cervicais, de órgãos abdominais, rins e membros inferiores. A imagem venosa (venografia por ressonância magnética, ou VRM) oferece as melhores imagens das alterações venosas, como trombose e anomalias. Ø Anormalidades hepáticas e do trato biliar – a colangiopancreatografia por ressonância magnética (CPRM) é particularmente útil como um método de imagem não invasivo, altamente preciso de imagem dos sistemas biliares e ductos pancreáticos. Ø Massas nos órgãos reprodutivos femininos – a RM complementa a ultrassonografia para caracterizar massas anexiais e estadiar os tumores uterinos. Ø Fraturas –pode fornecer imagens precisas de fraturas de quadril em pacientes com osteopenia. Ø Infiltrado na medula óssea e metástases ósseas A RMN também pode substituir a TC com contraste em pacientes com alto risco de reação a meios de contraste iodados. 5. REFERÊNCIAS AYRES, A. S. et. al. Tratado de radiologia: volume 1: neurorradiologia : cabeça e pescoço. 1 ed. Barueri, SP: Manole, 2017. BRANT, W. E. Fundamentos de Radiologia: Diagnóstico por Imagem. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. PAUL & JUHL. Interpretação radiológica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. PRANDO, Adilson; MOREIRA, Fernando A. CBR- Fundamentos de Radiologia e Diagnóstico por Imagem. Elsevier Brasil, 2015. ROCHA, A. J. E., ROCHA J. J., MENDONÇA, L. V. R. A. Encéfalo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
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