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MEMÓRIA, HISTÓRIA E POLÍTICA A Doutora em História, Margarida de Souza Neves, neste primeiro encontro de História da Educação do estado do Rio de Janeiro, em sua dissertação, relaciona memória, história e política como um conjunto de informações sobre processos e fatos ocorridos no passado que contribuem para a compreensão do presente; de interesse público, numa dimensão histórica alusiva a educação. No artigo em avaliação, Margarida de Souza Neves apresenta instigações fundamentais para a discussão teórica da relação entre História, Memória e Educação, para o entendimento da apropriação de experiências passadas no presente e sua ativação dialética, dentro das razões históricas em que foram produzidas e para as quais estão sendo mantidas. O artigo objetiva pensar no estudo da memória como uma das fontes de expressão das relações sociais que possibilita o entendimento da educação; e é dentro dessa perspectiva que necessitamos estudar a memória como uma das instâncias para entendimento da história, no caso, da história da educação. Na perspectiva da autora, podemos entender que a questão da memória tem sido uma das grandes preocupações de grupos e classes sociais, assim como de governos e partidos políticos. O ato de tornar-se senhor da memória, seja ela própria ou alheia, é um ato político e que está diretamente ligado à formação e à conservação das identidades. O artigo nos alerta para os riscos do controle da memória coletiva, principalmente pelos governos e, assegura que documentos e monumentos, materiais de memória coletiva e da história, não são um conjunto do que existiu no passado, mas sim uma escolha efetuada pelas forças que operam no desenvolvimento temporal do mundo e da humanidade. Em sua exposição, a autora propõe três pressupostos de raciocínio: O primeiro é investigar os prolegômenos, como concepção de memória e a extensão política que se desenvolvem na alçada da história e da educação. O segundo é especificar e cotejar memória e história num sentido da educação nas variadas perspectivas de meditação intelectual para uma atuação política particular. O terceiro é se apropriar da verdadeira extensão política da conexão entre memória e história, imprescindível quanto à educação. Nessa perspectiva, em suas considerações, a autora alude os seus pensamentos em três peritos em memória com ênfase na política: Paul Ricoeur, que advoga que a memória individual e coletiva estão entrelaçadas, encontrando no testemunho o seu ponto de passagem. Ricoeur sustenta a tese que o jogo da memória em toda a sua radicalidade e profundidade joga-se paradoxalmente nas estruturas de alteridade e mediação constitutivas da individualidade de cada ser. É através da função narrativa que a memória é incorporada à constituição da identidade. E, o dever de memória coloca a história no sentido do futuro e assume-se verdadeiramente como uma tarefa ética. Uma pragmática da memória serve de base para a ação política. A ampliação do espaço público destinado à memória supera assim os clássicos lugares de memória, estendendo-se também aos tribunais, parlamentos, templos religiosos, bem como aos ambientes de sociabilidade virtual nos quais a memória é utilizada de maneira tão ampla quanto dissimulada. Já Pierre Nora, nos ensina que novos desafios impostos pela globalização, pelos meios de comunicação de massa e pelo multiculturalismo fizeram multiplicar, também, os “lugares de memória”, instituições que hoje são detentoras de coleções bibliográficas, fotografias, pinturas, desenhos, gravuras entre outras sejam pessoais ou institucionais que investem no simbolismo e na lembrança, garantindo assim, a interação história, patrimônio e memória. Gilberto Velho e sua perspectiva antropológica, enfatiza que um projeto imprime sentido duplo à vida de um indivíduo: dá-lhe direção e significado. Um projeto organiza o relato do narrador quando ele fala de si e do grupo a que pertence e representa. Para Gilberto Velho, há um feedback entre identidade e memória que leva às formas de expressões culturais, nas quais as artes de uma maneira geral servem como elemento de afirmação histórica. Margarida, em sua predica enfatiza que existem autores que destacam a atribuição da memória ao sofrimento, mostrando através de princípios humanistas a busca de um futuro melhor; e autores atuais que dedicam muito tempo pesquisando as relações entre memória e história com tendência saudosista, o momento histórico presente. Ela exerce uma crítica ao fato de história e memória estarem sendo utilizadas de forma arbitrária por alguns historiadores e, que são desnecessárias tantas disseminações como acontece atualmente. Margarida de Souza Neves encerra a sua predica exprimindo a narrativa mitológica citando Mnemosyne e Clio, numa personificação entre memória e história onde a linhagem mitológica estabelece a conexão e a diferenciação entre memória e história no campo da poesia. Jacques Le Goff, no artigo: “A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado, para servir o presente e o futuro1” nos apresenta uma ligação retórica entre memória e história, apontando as armadilhas expostas na dupla missão de resgatar o passado e ajustar o presente e o futuro, captar os andamentos que determinaram 1Jacques LE GOFF. Op. Cit. p. 47. o compasso da enigmática dança de Clio e Mnemosyne. Ela encerra seu discurso declarando que este encontro possa ser um momento de ingressar na dança de Clio e Mnemosyne, sem abandonar o enfoque político de luta. CONCLUSÃO Em sua análise, margarida de Souza Neves aborda a relação entre memória, história e política. Discorrendo sobre a definição de memória e sua representabilidade política no desenvolvimento da história da educação, Margarida busca identificar a associação entre memória e história no contexto historiográfico, sob um raciocínio direcionado à história da educação e seu exercício político. As relações entre história e memória trazem vestígios interessantes para um cenário criativo. Ao se imaginar que a história ensinada na sala de aula precisa ser um instrumental importante no conhecimento de crianças, jovens e adultos como sujeitos históricos, o potencial das questões pressupostas relativas à memória torna-se indispensável na criação de viabilidades pedagógicas. Por essa razão, suponho que ao considerarmos a memória compartilhada de maneira coletiva, entrelaçada à memória individual, como ponto de partida para o ato educativo, estaremos propondo uma categoria que privilegie as experiências e vivências, individuais e coletivas, na formação identitária. E, assim, ao privilegiarmos as questões relativas à memória e à história como fundamentais à construção do sujeito histórico, estamos reafirmando desde já o reconhecimento da memória como base teórica e metodológica da prática pedagógica relacionada ao ensino de história. Através do texto, pude constatar que é uma realidade que a construção da memória é parâmetro essencial das identidades e princípio e parâmetro para a criação de projetos de futuro, pois a memória é formada de nossas identidades, e portanto assume um papel de vital importância para o que somos, projetamos e fazemos, porque nela e nos trabalhos que incessantemente realiza, entrecruzam-se o passado e o presente. Portanto, na relação entre memória, história e política, concluo que é nesse compasso que a essência de educador se estabelece: aquele em que a memória e a história se agregam no sentido de encarar as adversidades da cidade-estado e da política, onde o local da geração de conhecimento e a construção de conhecedores, funções inerentes à instituição, se identificam na história, alcançando em meio a embates e confrontos dos agentes sociais no tempo e de ponderação e explanaçãosobre este mesmo seguimento.
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